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Falar sobre uma grande obra não é tarefa fácil.

A fórmula parece simples: a seca


nordestina como cenário, personagens sertanejos interpretados por ótimos atores, diálogos
inteligentes e um clássico da literatura nacional como enredo. O diretor Guel Arraes adaptou
em filme a peça teatral O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e obteve um sucesso
surpreendente.

A história gira em torno de dois personagens: Chicó (Selton Mello) e João Grilo
(Matheus Natchergaele). São duas figuras divertidas que levam a vida de pequenos trabalhos e
alguns golpes numa cidade do interior da Paraíba. Chicó é um contador de histórias de
pescador, por outro lado, João Grilo possui uma lábia e consegue enganar a todos. É sempre ele
quem elabora os planos e convence Chicó a participar. Durante todo o filme é impossível não
achar graça dessa dupla com atuação inquestionável.

Situações hilárias boladas por João Grilo fazem vítimas como, por exemplo, o
padeiro Eurico (Diogo Vilela) e sua esposa Dora (Denise Fraga) que, ao verem a cadela morta,
pedem à dupla de amigos para chamar o padre João (Rogério Cardoso) para benzer o animal e
fazer o rito de partida. O sacerdote se recusa, mudando de ideia apenas quando João Grilo
utiliza de astúcia, dizendo que o dono do animal é um poderoso fazendeiro, o Major Antônio
Moraes (Paulo Goulart).

A partir desse momento, é perceptível que a obra retrata o Brasil e suas classes: os
trabalhadores pobres (Chicó e João Grilo); a pequena burguesia (Dora e Eurico); a igreja (Padre
João); a classe política (Major). Durante o filme, pode-se ver claramente como cada uma dessas
figuras são retratadas, sintetizando a realidade brasileira, ou seja, a posição social decreta a
dificuldade de resolver problemas e sair deles.

Mesmo após críticas negativas sobre a maquiagem e o figurino do Diabo (Luís Melo)
e do cangaceiro Severino (Marco Nanini), houve destaque positivo, pois o trabalho dos atores
sublimou tais críticas.

Expressar em palavras a grandeza dessa obra é um grande desafio. Ao mesmo tempo


em que refletimos sobre a realidade da população brasileira, damos gargalhadas o tempo
inteiro. É abordado com precisão um país com muitas diferenças sociais, privilégios de poucos,
contrastados com o bom humor do brasileiro.
(Autora: Aline Bueno de Camargo da Silva, Professora de História.)

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