UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CAMPUS IV/JACOBINA
LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

Resenha crítica do filme: Narradores de Javé

Narradores de javé (2003) é um filme dirigido por Eliana Caffé, com participação de Luís
Alberto de Abreu no Roteiro. A obra retrata a vida dos moradores do Vale do Javé, uma
localidade pequena inserida no território baiano.
No contexto do filme os moradores de Javé se veem em um grande dilema, pois estão
prestes a ver a sua amada cidade ser invadida pelas águas de uma represa que está sendo
construída pelo governo do estado da Bahia. Para tentar salvar o local onde eles vivem só
existe uma solução, tornar Javé em um patrimônio histórico, deste modo a construtora não
poderia seguir com a construção da usina, para que este tombamento fosse feito era
necessário escrever um livro com as histórias de Javé, pois somente com a história escrita a
cidade poderia ser salva, no entanto, as pessoas que residiam em Javé são em sua grande
maioria analfabetos, onde poucas pessoas sabem ler, nenhuma delas sabe escrever, exceto o
senhor Antônio Biá, porém este indivíduo não possui uma boa relação com a comunidade,
pois, para salvar seu emprego na agência dos correios de Javé precisou escrever inverdades
sobre os cidadães que lá moravam. Mas para que a cidade fosse salva a comunidade deixa as
diferenças de lado, aceitando Antônio Biá como escritor das histórias; a população iniciou as
narrativas, no entanto, estas narrativas contadas divergiam umas das outras, Pois cada
morador explanava as ideias baseadas nas suas crenças, culturas e identidades sociais com
todas essas diferenças e usando seu charlatanismo, Antônio não registra nenhuma das
histórias contadas e Javé acaba sendo inundada pela represa.
A história de Narradores de Javé fez-me recordar a história de Canudos, outra cidade baiana
que também foi transformada em represa, é importante frisar que os contextos entre as
histórias de Javé e Canudos são diferentes, no entanto, a forma como o enredo foi se
desenvolvendo me fez lembrar Canudos, principalmente as questões religiosas e a
construção das usinas para apresentar determinado “Progresso”.
 O longa-metragem levanta questões importantes, das quais citaremos: a desvalorização da
mulher em cenários importantes, e destacar a categoria de lugar para a geografia, como
vamos destacar o lugar categoria geográfica visto que o lugar foi bastante retratado no filme.
Durante as narrativas uma das moradoras cita Maria Lina, a mulher que supostamente teria
cantado as fronteiras de Javé, porém a versão foi logo contestada e recontada, neste novo
conto Maria Lina era somente uma mulher louca. Mesmo que de maneira sutil e comediada,
fica evidente que não era atribuído às mulheres lugares de destaque, assim concordando com
Saffiote (1969) que afirma que:
[...] foi a mulher o elemento mais afastado das correntes de transformações
sociais e políticas, afastamento esse deliberadamente promovido pelos
homens numa atitude francamente hostil à participação da mulher em toda e
qualquer atividade, que extravasasse os limites da família.

Sempre as margens da sociedade, principalmente no período colonial não era raro que as
mulheres fossem desvalorizadas e colocadas apenas como reprodutoras e donas de casa. A
discussão com a categoria geográfica LUGAR foi bem ativa no filme, podemos conceituar o
lugar de maneira objetiva como parte do espaço geográfico onde existem as relações
afetivas, são sentimentos que marcam a relação entre meio e pessoas, que podem ser
negativas ou positivas, assim citamos SASAKI que afirma que:
o lugar não é um mero objeto, pois se constitui objeto para um sujeito; por
isso um é centro de significados, intenções ou valores sentidos ou
percebidos; um foco de ligação emocional ou sentimental; uma localidade
de significância sentida ou percebida (SASAKI, 2010, p.119).

Percebemos assim a categoria de lugar na obra cinematográfica, onde as pessoas se

recusavam a deixar suas casas, deixar a cidade, pois foi naquele lugar, naquele espaço que se
constituiu as relações sentimentais, os laços familiares e as memórias dos habitantes de javé.

Elaborada por: Joicimára Soares de Sena.