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TECNOLOGIAS
“Gota d’água” surgiu de uma colaboração brilhante entre Chico Buarque e Paulo Pontes.
Essa peça é uma releitura da tragédia grega “Medeia”, ambientada na periferia do Rio de
Janeiro. Apesar de ter sido escrita em 1975, ela se mantém relevante pela forma profunda e
complexa que retrata temas como amor, traição, poder e opressão.
A peça gira em torno de Joana, uma mulher que dedicou 10 anos de sua vida para Jasão,
seu marido, e foi abandonada com seus dois filhos, após um samba que ele compôs fazer
sucesso. A partir desse ponto, é possível acompanhar uma ânsia por vingança e uma espécie
de loucura surgindo dentro de Joana, culminando em seu suicídio, juntamente com o
assassinato de seus filhos. É devastador pensar que toda a situação na peça retrata a realidade.
Com uma grande frequência mulheres e mães são abandonadas quando deixam de “servir”
para os homens e os traumas que esse abandono causa em suas mentes são indescritíveis. A
qualquer momento, qualquer uma pode se tornar Joana.
Em contrapartida, temos Creonte, o dono da vila e pai da Alma. Enquanto nos moradores
vemos o desespero, nele observamos o poder da opressão. Ele é um homem rico e
manipulador que convence Jasão a fazer um trabalho para ele, mesmo que aquilo fosse contra
os princípios do sambista. Um momento impactante é quando os moradores estão se
recusando a pagar as mensalidades e Creonte promete mil melhorias para a vila e os convida
para o casamento de sua filha com Jasão (para trabalhar), fazendo-os se contentar com isso. É
uma demonstração perfeita de como o poder, a opressão e a exploração das classes baixas
funcionam.
É impossível negar que “Gota d’água” é uma obra prima que ultrapassa as barreiras do
tempo. Ela retrata muito bem as injustiças sociais e a complexidade da mente humana,
tocando nossas emoções mais profundas e nos fazendo refletir sobre nós mesmos e a
sociedade em que vivemos.