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CENTRO INTERESCOLAR DE CULTURA, ARTE, LINGUAGENS E

TECNOLOGIAS

CURSO TÉCNICO EM TEATRO

DISCIPLINA: Estudos Literários I

PROFESSOR: Anderson Ferreira

ALUNE: Fernanda de Oliveira Moura Rocha

ATIVIDADE: Análise Crítica escrita sobre as releituras do mito de Medeia

TÍTULO: Gota d’água, um espelho da realidade

“Gota d’água” surgiu de uma colaboração brilhante entre Chico Buarque e Paulo Pontes.
Essa peça é uma releitura da tragédia grega “Medeia”, ambientada na periferia do Rio de
Janeiro. Apesar de ter sido escrita em 1975, ela se mantém relevante pela forma profunda e
complexa que retrata temas como amor, traição, poder e opressão.

A peça gira em torno de Joana, uma mulher que dedicou 10 anos de sua vida para Jasão,
seu marido, e foi abandonada com seus dois filhos, após um samba que ele compôs fazer
sucesso. A partir desse ponto, é possível acompanhar uma ânsia por vingança e uma espécie
de loucura surgindo dentro de Joana, culminando em seu suicídio, juntamente com o
assassinato de seus filhos. É devastador pensar que toda a situação na peça retrata a realidade.
Com uma grande frequência mulheres e mães são abandonadas quando deixam de “servir”
para os homens e os traumas que esse abandono causa em suas mentes são indescritíveis. A
qualquer momento, qualquer uma pode se tornar Joana.

Jasão, o personagem masculino central, é fundamental para a tragédia da peça. Sua


habilidade de persuasão e seu carisma são evidentes. Contudo, ao desenrolar da história,
percebemos que Jasão também é egoísta e oportunista. Ele não hesita em abandonar Joana e
seus filhos para ficar com Alma, a filha de Creonte, visando uma vida melhor. Apesar disso,
não é possível culpá-lo completamente, de certa forma, ele também é vítima das
circunstâncias e de um sistema social injusto. Essa dualidade em Jasão é intrigante e desperta
sentimentos contraditórios, ao mesmo tempo em que ele é capaz de nos fazer sentir raiva,
também nos faz sentir pena.
A Vila do Meio-Dia serve como pano de fundo para a história e é o local onde a maioria
dos personagens moram. A Vila é um complexo habitacional que possuía um valor x para as
casas, mas que com o passar do tempo tem esse valor superfaturado, colocando os moradores
numa situação em que precisam escolher entre pagar a mensalidade ou comer. Isso causa um
acúmulo de dívidas e dificuldades financeiras. Podemos sentir a tensão e o desespero dessas
pessoas durante todo o livro.

Em contrapartida, temos Creonte, o dono da vila e pai da Alma. Enquanto nos moradores
vemos o desespero, nele observamos o poder da opressão. Ele é um homem rico e
manipulador que convence Jasão a fazer um trabalho para ele, mesmo que aquilo fosse contra
os princípios do sambista. Um momento impactante é quando os moradores estão se
recusando a pagar as mensalidades e Creonte promete mil melhorias para a vila e os convida
para o casamento de sua filha com Jasão (para trabalhar), fazendo-os se contentar com isso. É
uma demonstração perfeita de como o poder, a opressão e a exploração das classes baixas
funcionam.

É impossível negar que “Gota d’água” é uma obra prima que ultrapassa as barreiras do
tempo. Ela retrata muito bem as injustiças sociais e a complexidade da mente humana,
tocando nossas emoções mais profundas e nos fazendo refletir sobre nós mesmos e a
sociedade em que vivemos.

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