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OS SONHADORES

Ao adentrar o salão a surpresa: uma tela, uma película emparedada de front,


no palco, que ofereceu a notória impressão de visualizar um filme no cinema,
propriamente, a fazer alusão ao conhecido filme, objeto de origem da peça. A tela faz a
função de uma quarta parede, enquadrando, inserindo o ambiente teatral numa
perspectiva diferenciada em relação a quem está na plateia, deixando clara a percepção
dos acontecimentos serem vistos de uma outra dimensão. O cenário é nu, ou seja, não
há mobílias. Toda a estrutura ali desenvolvida para a atuação das cenas é sedutoramente
bela, em recortes, luzes que geram inebriante quadro, a sensação de contemplar tudo o
que ocorre numa percepção distante e próxima dos fatos, concomitantemente. Agrada,
significativamente, a riqueza de sincronismo entre os três personagens oferecida pelos
atores logo no início da peça quando eles atuam em ‘Slow Motion’. É curiosa a atuação
tanto quanto plausível, numa desenvoltura dramática e contundente das cenas neste
molde. Outra surpresa, foi o simples fato de uma atriz fumar ao início da peça, o que
incomodou a plateia, a maioria reclamou consideravelmente.

A peça, adaptada do filme de mesmo título, traz a realidade de 1968, em


Paris, enquanto lá fora corria a solta espetáculos por avalanches de movimentos
políticos, questões ligadas a direitos sociais aliadas e, mais ainda, influenciadas pela
Revolução Francesa (1789 a 1799), e isso veio apresentado de forma marcante na peça
com projeções de frases de efeito e imagens de arquivo de manifestações bem como
protestos estudantis nas ruas; num cômodo, trancados, completamente alheios à
realidade externa, estavam três jovens – Theo, Isabelle (os irmãos gêmeos franceses) e o
americano Matthew - realizando um mundo particular e em comum com suas ideologias
e afinidades buscam um refúgio para suas fantasias de forma a mergulharem, quase que
inconscientemente nos próprios devaneios da liberdade, do prazer e da afeição sexual.

Os irmãos mantêm uma relação incestuosa repleta de jogos psicológicos e


por conta de um interesse em comum, o cinema, conhecem o americano Matthew,
recém-chegado a Paris em intercâmbio, e rapidamente estabelecem uma amizade, na
qual se forma um envolvente triangulo amoroso. Contudo, o que o trio quer é ver seus
filmes e por este motivo se recolhem num apartamento dos irmãos no qual acabam por
ficarem à vontades, enquanto os pais estão em viagem. Ali, propõem entre si desafios de
conhecimento cinematográficos e aventuras sexuais livres de tabus e moralismos.

Enquanto a história decorre, há momentos em que um dos atores sai da pele


do personagem para narrar fragmentos do filme, discorrendo sobre acontecimentos
consideráveis à guisa de serem associados, referenciados ao que se passa na
apresentação teatral.

FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Diogo Liberiano, a partir do romance “The Dreamers”, de Gilbert Adair;
Direção: Vinícius Arneiro;
Elenco: Bernardo Marinho, Igor Angelkorte e Juliana David;
Co-Dramaturgia: Dominique Arantes;
Diretoria Assistente: Morena Cattoni;
Direção Musical: Tato Taborda;
Cenário: Aurora dos Campos;
Direção de Imagens: Allan Ribeiro;
Figurino: Graziela Bastos;
Design: Radiográfico;
Produção Executiva: Camila Martins Ribeiro e Marcelo Cabanas / Bateia Cultura;
Coordenação Administrativa: Jéssica Araújo;
Direção de Produção: Liliana Mont Serrat;
Apoio Cultura: Oi;

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