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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS

Disciplina: Encenação Teatral I – Turma A


Aluno: Alexandre Barata de Assis – 19/0023520

Apreciação Visual (3) – “Contra o Amor”

Brasília, DF.
2019.
Com dramaturgia de Esteve Soler, o espetáculo “Contra o Amor” foi apresentado pelo
Teatro do Instante nos dias 31 de outubro a 2 de novembro no Teatro Sesc Garagem
na 913 sul. A obra trata-se do segundo texto da trilogia En Contra, escrito por Esteve
Soler, no qual o autor reflete sobre as contradições dos tempos contemporâneos. A
obra é composta por sete cenas curtas pararelas que contam histórias de amor e de
relacionamentos dramáticos e mal resolvidos, transitando entre o humor e a crítica de
várias questões políticas e sociais.
Ao abrirem as portas do teatro, toca-se uma música do Roberto Carlos, estamos em um
ambiente de boate/Karokê e os personagens nos recebem na porta até todos os
espectadores estarem sentados. A primeira cena começa com um personagem falando
no microfone, se dirigindo ao público do Karaokê, contando sua história como ator
pornô e suas questões amorosas. A próxima cena se desenrola com um casal em uma
festa e em um determinado momento há um estouro, a mulher desaparece, aparecem
duas faxineiras e começam a suscitar um possível assassinato e o homem se desespera,
saindo de cena. A terceira cena se passa em um contexto medieval, onde a personagem
é filha do rei e um pretendente quer conquista-la. Ela diz que somente se casará com o
rapaz, se ele trouxer o coração de sua mãe. O rapaz fraqueja e não consegue cumprir o
desejo da princesa e ela debocha de sua infelicidade e sai de cena.

As trocas de cena são marcadas por um feixe de luz específico nos cantos do palco que
marcam a entrada das personagens. Há uma interação com um projetor, que projeta os
casais que estão sendo apresentados em cena, discutindo coisas que eles não gostam
um do outro. Esta interação com os projetores são característicos da inter-relação do
avanço da tecnologia para a concepção do espetáculo. As falas nas cenas projetadas
são todas iniciadas por “Eu não gosto”, isto causa uma repetição exaustiva das falas ao
longo da peça. Esta interação com os projetores se dão até o final do espetáculo e
transita entre cenas, conforme novas histórias e novos personagens são apresentados.
Ademais, entre as cenas, ora projetava-se os casais reclamando um do outro, ora os
personagens cantavam uma música popular brasileira enquanto outros atores serviam
drinks de whisky, vodka, entre outros destilados e amendoins para os espectadores.

Tal interação entre as personagens e o público aproximava-os, sendo esta relação


necessária para a composição e o próprio desenrolar do espetáculo. Há uma cena, já no
final da peça onde estão à mesa os pais e o filho, comemorando o aniversário do filho
de 30 anos. Minutos antes de começar esta cena, são distribuídos para a plateia balões
para todos no teatro cantarem parabéns. O intuito da cena é os pais assassinarem o
filho, por ele ser um “coito interrompido” e um filho “inútil”. Os pais apontam para a
plateia, dizendo que haviam convidados para o aniversário, todos cantamos parabéns
até um estouro de balão e o pai mata o filho. Este contato próximo rompe com as
estéticas tradicionais do Palco Italiano e trás a tona o extensivo trabalho de vários
encenadores do século XX em romper com as tradições do público meramente como
observador e torna o espectador como participante e um componente fundamental para
a concepção da cena. Jean Jacques Roubine comenta uma fala de Brecht em seu livro
“A Linguagem da Encenação Teatral” no terceiro capítulo, que suscita esse fenômeno.
“Brecht aponta a transformação do espaço cênico em área de representação, com
supressão das barreiras que separavam o público do espetáculo. ‘A revolução do teatro
deve começar pela transformação do palco! (..) Não queremos um público, mas uma
comunidade, num espaço unificado” Isto se aplica na imersão dos espectadores como
participantes dos ambientes nas diversas cenas propostas.
Ademais, o espetáculo utiliza das ideias naturalistas e os objetos de cena são
verdadeiros. As bebidas alcóolicas que os personagens bebem, os drinks que servem
ao público, as comidas em cena, a arma branca utilizada são todas reais.
Sobre a cenografia, eram algumas mesas colocadas nos dois cantos do palco, nelas
haviam bebidas alcoólicas e algumas comidas. No centro do palco havia um microfone
em pedestal que ora era tirado e ora colocado, dependendo da cena. As mesas eram
colocadas em cena pelos próprios atores e a construção do cenário era feito com
alguma música de fundo, de forma que os atores se movimentavam de maneira bem
despojada. As excessivas interseções com música me incomodaram e todos os
personagens cantavam, causando um estranhamento e uma desconexão, ora são atores,
ora personagens, isto me deixou confuso.
Por fim, a iluminação era composta essencialmente por três refletores com cores azul,
vermelha e rosa, havia dois feixes de luz específicos no canto do palco, luz geral e
uma luz de corredor, que foi utilizada apenas uma vez.
Ao final do espetáculo, com a cena do assassinato do filho pelos pais, todos os
personagens começaram a cantar e entregaram microfones a plateia, pedindo que
cantassem, enquanto alguns atores entregavam bebidas, tornando o teatro em festa.
Bibliografia.
Roubine, Jean Jacques. “A Linguagem da Encenação Teatral”. Ed Zahar, RJ, 1982.

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