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Data/Local
1953/1954 - Rio de Janeiro RJ
Histórico
Segunda companhia patrocinada pelo Serviço Nacional de Teatro, a Companhia Dramática
Nacional dura apenas dois anos, monta sete espetáculos, todos de autores nacionais - entre
eles, a estréia de dois textos de Nelson Rodrigues - com direção de Sergio Cardoso, Bibi
Ferreira e José Maria Monteiro.
Na primeira temporada, em 1953, o diretor da companhia, Henrique Pongetti, idealiza um
repertório de três espetáculos, que são lançados no mesmo mês, a intervalo de uma semana,
com uma programação compacta no Theatro Municipal. Para cumprir o programa, o elenco
ensaia por três meses em tempo integral: de manhã, Sergio Cardoso dirige Canção Dentro
do Pão, de Raimundo Magalhães Júnior; à tarde, Bibi Ferreira ensaia A Raposa e As Uvas,
de Guilherme Figueiredo; à noite, os atores voltam a se reunir, sob o comando de José
Maria Monteiro em A Falecida, de Nelson Rodrigues. Alguns atores têm quatro ou cinco
funções de peso: Sergio Cardoso, por exemplo, estréia como diretor e desempenha papéis de
primeiro plano tanto na comédia que ele mesmo dirige quanto em A Falecida, além de
assumir o protagonista do segundo espetáculo.
Os espetáculos são bem recebidos - com ressalvas para o texto de Nelson Rodrigues. A
Raposa e As Uvas, literariamente sofisticado e filosoficamente ambicioso, versão livre de
alguns episódios da vida de Esopo, obtém tal êxito que passa a integrar, em todo o Brasil, o
repertório de muitas companhias amadoras e profissionais da época. O papel principal
oferece a Sergio Cardoso uma oportunidade de composição psicofísica que ele aproveita
com habilidade: mostrando virtuosismo, constrói um corcunda, aleijado das pernas, que
impressiona tanto pela aparência quanto pela voz opulenta.
Depois de uma curta temporada de viagens - Niterói, Juiz de Fora, Campinas e São Paulo - a
companhia, que estréia em junho, encerra suas atividades em outubro, só voltando à cena
em junho de 1954, com elenco reformulado, apresentando nomes menos consagrados. Entre
eles, Nathália Timberg, que estréia como Eduarda em Senhora dos Afogados, mais um
texto de Nelson Rodrigues. Novamente os ensaios são concentrados, desta vez não em três
mas em quatro espetáculos.
Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro
As Casadas Solteiras, única montagem que se utiliza de um texto clássico, é mal recebida
pela crítica, que aponta o erro na escolha de um dos textos mais fracos de Martins Pena. Os
elogios se dirigem ao trabalho de Nilson Penna, cenógrafo e figurinista, que constrói a cada
ambientação um quadro que "mais parece copiado de missal ou livro folheado por nossas
bisavós", 2 segundo escreve Paschoal Carlos Magno no Correio da Manhã.
Criada em uma época em que as companhias profissionais tendem a se fechar aos autores
nacionais, a CDN monta sete textos brasileiros, seis contemporâneos, a maioria de autores
jovens que, embora já tivessem se apresentado ao público e conquistado algum prestígio,
não estão vinculados ao sistema de produção comercial. Da mesma forma os atores e
diretores são recrutados entre artistas de comprovado talento mas ainda jovens, em plena
evolução e afirmação de sua carreira e não absorvidos pelo esquema de consumo. Na área da
cenografia e do figurino, a CDN agrega o consagrado Tomás Santa Rosa aos iniciantes
Nilson Penna e Anísio Medeiros, mostrando que já existia no Rio de Janeiro uma
mão-de-obra artística capaz de competir em igualdade de condições com os cenógrafos e
figurinistas italianos que ditavam as regras, nessa área, no Teatro Brasileiro de Comédia, o
TBC paulista. Em termos de linguagem e de repertório, a companhia oficial revela sua
contradição: quer atingir o moderno, mas teme o revolucionário, ou, em outras palavras,
mostra um impulso em direção à contemporaneidade e ao mesmo tempo apego à tradição.
No campo da organização e da produção, a CDN sofre os entraves que a burocratização
impõe às necessidades artísticas.
Notas
1. LIMA, Raul. Citado por MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro do Brasil: história e
polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. p. 95.
2. MAGNO, Paschoal Carlos. Citado por LIMA, Raul. Citado por MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as
companhias oficiais de teatro do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura,
1992. p. 98.
Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro
Data/Local
1953/1954 - Rio de Janeiro RJ
Fontes de Pesquisa
MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro
do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Arte e Cultura, 1992. 235 p.
NUNES, Mário. Senhora dos afogados. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4 jun. 1954.
PRADO, Décio de Almeida. Cia Dramática Nacional. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11
out. 1953.
Espetáculos