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Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro

Companhia Dramática Nacional (CDN)


Outros Nomes: Santa Rosa, SR, Thomas Santa Rosa, Tomás Santa Rosa, Tomás Santa Rosa Júnior, Anísio Araújo
de Medeiros, Anísio Medeiros, Natália Timberg, Nathália Thimberg, Nathália Timberg, Nathália Timberg, Sergio
Cardoso, Sérgio Cardoso, Sérgio da Fonseca Mattos Cardoso, Abigail Izquierdo Ferreira, Bibi Ferreira, Jose Maria
Monteiro, José Maria Monteiro, Henrique Pongetti, Henrique Pongetti, Nilson Goes Penna, Nilson Pena, Nilson
Penna

Data/Local
1953/1954 - Rio de Janeiro RJ

Histórico
Segunda companhia patrocinada pelo Serviço Nacional de Teatro, a Companhia Dramática
Nacional dura apenas dois anos, monta sete espetáculos, todos de autores nacionais - entre
eles, a estréia de dois textos de Nelson Rodrigues - com direção de Sergio Cardoso, Bibi
Ferreira e José Maria Monteiro.
Na primeira temporada, em 1953, o diretor da companhia, Henrique Pongetti, idealiza um
repertório de três espetáculos, que são lançados no mesmo mês, a intervalo de uma semana,
com uma programação compacta no Theatro Municipal. Para cumprir o programa, o elenco
ensaia por três meses em tempo integral: de manhã, Sergio Cardoso dirige Canção Dentro
do Pão, de Raimundo Magalhães Júnior; à tarde, Bibi Ferreira ensaia A Raposa e As Uvas,
de Guilherme Figueiredo; à noite, os atores voltam a se reunir, sob o comando de José
Maria Monteiro em A Falecida, de Nelson Rodrigues. Alguns atores têm quatro ou cinco
funções de peso: Sergio Cardoso, por exemplo, estréia como diretor e desempenha papéis de
primeiro plano tanto na comédia que ele mesmo dirige quanto em A Falecida, além de
assumir o protagonista do segundo espetáculo.

Os espetáculos são bem recebidos - com ressalvas para o texto de Nelson Rodrigues. A
Raposa e As Uvas, literariamente sofisticado e filosoficamente ambicioso, versão livre de
alguns episódios da vida de Esopo, obtém tal êxito que passa a integrar, em todo o Brasil, o
repertório de muitas companhias amadoras e profissionais da época. O papel principal
oferece a Sergio Cardoso uma oportunidade de composição psicofísica que ele aproveita
com habilidade: mostrando virtuosismo, constrói um corcunda, aleijado das pernas, que
impressiona tanto pela aparência quanto pela voz opulenta.

A direção da Companhia Dramática Nacional (CDN), procura estabelecer convênios com


empresas e temporadas com ingressos baratos, a fim de facilitar e incentivar o acesso das
classes que não estão acostumadas a freqüentar os teatros. No campo da preparação dos
espetáculos, há profissionais para a assessoria técnica dos atores: preparador corporal e
vocal, professor de dicção e instrutor de armas e lutas corporais.

Depois de uma curta temporada de viagens - Niterói, Juiz de Fora, Campinas e São Paulo - a
companhia, que estréia em junho, encerra suas atividades em outubro, só voltando à cena
em junho de 1954, com elenco reformulado, apresentando nomes menos consagrados. Entre
eles, Nathália Timberg, que estréia como Eduarda em Senhora dos Afogados, mais um
texto de Nelson Rodrigues. Novamente os ensaios são concentrados, desta vez não em três
mas em quatro espetáculos.
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O primeiro espetáculo encontra no público e na crítica forte rejeição ao texto. No Diário de


Notícias, o crítico escreve: "Mas é preciso contar-se ao público - que não foi nem irá ao
Municipal ver Senhora dos Afogados - o que fazem as personagens da nova tragédia de
Nelson Rodrigues, sempre falando em morte e sexo, partes do corpo e roupas íntimas". 1 O
crítico Mário Nunes - que se confessa já constrangido em criticar as produções do autor
"porque, provavelmente por deficiência nossa, não as sentimos nem as admitimos" -
descreve o caos em que se transforma a estréia, quando, no final da quinta cena do terceiro
ato, a platéia irrompe em vaia e um grupo de crentes pede a presença do autor no palco.

As Casadas Solteiras, única montagem que se utiliza de um texto clássico, é mal recebida
pela crítica, que aponta o erro na escolha de um dos textos mais fracos de Martins Pena. Os
elogios se dirigem ao trabalho de Nilson Penna, cenógrafo e figurinista, que constrói a cada
ambientação um quadro que "mais parece copiado de missal ou livro folheado por nossas
bisavós", 2 segundo escreve Paschoal Carlos Magno no Correio da Manhã.

A tragédia Cidade Assassinada, primeira obra de Antônio Callado como dramaturgo, é


prejudicada pela substituição do diretor às vésperas da estréia. Classificada pelo crítico do
Correio da Manhã como "peça religiosa" ou "teatro da poesia", emociona o público com
sua história moral, apesar da conturbada estréia. Em seguida a CDN estreia Lampião, da já
consagrada escritora Rachel de Queiroz, que realiza uma de suas raras incursões na
dramaturgia. Com duelos e tiroteios, a direção de Bibi Ferreira trabalha sobre o realismo da
ambientação. Com o repertório da nova temporada, a CDN inicia uma excursão por
Salvador e Recife, onde o elenco é surpreendido pela notícia da exoneração do Diretor do
Serviço Nacional de Teatro (SNT), Aldo Calvet, e a interrupção da excursão, por uma
ordem dada pelo seu substituto, Adonias Filho.

Criada em uma época em que as companhias profissionais tendem a se fechar aos autores
nacionais, a CDN monta sete textos brasileiros, seis contemporâneos, a maioria de autores
jovens que, embora já tivessem se apresentado ao público e conquistado algum prestígio,
não estão vinculados ao sistema de produção comercial. Da mesma forma os atores e
diretores são recrutados entre artistas de comprovado talento mas ainda jovens, em plena
evolução e afirmação de sua carreira e não absorvidos pelo esquema de consumo. Na área da
cenografia e do figurino, a CDN agrega o consagrado Tomás Santa Rosa aos iniciantes
Nilson Penna e Anísio Medeiros, mostrando que já existia no Rio de Janeiro uma
mão-de-obra artística capaz de competir em igualdade de condições com os cenógrafos e
figurinistas italianos que ditavam as regras, nessa área, no Teatro Brasileiro de Comédia, o
TBC paulista. Em termos de linguagem e de repertório, a companhia oficial revela sua
contradição: quer atingir o moderno, mas teme o revolucionário, ou, em outras palavras,
mostra um impulso em direção à contemporaneidade e ao mesmo tempo apego à tradição.
No campo da organização e da produção, a CDN sofre os entraves que a burocratização
impõe às necessidades artísticas.

Notas
1. LIMA, Raul. Citado por MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro do Brasil: história e
polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. p. 95.

2. MAGNO, Paschoal Carlos. Citado por LIMA, Raul. Citado por MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as
companhias oficiais de teatro do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura,
1992. p. 98.
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Data/Local
1953/1954 - Rio de Janeiro RJ

Fontes de Pesquisa
MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro
do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Arte e Cultura, 1992. 235 p.

NUNES, Mário. Senhora dos afogados. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4 jun. 1954.

PRADO, Décio de Almeida. Cia Dramática Nacional. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11
out. 1953.

Espetáculos

1953 - Rio de Janeiro RJ - A Raposa e as Uvas


1953 - Rio de Janeiro RJ - A Falecida
1953 - Rio de Janeiro RJ - Canção Dentro do Pão
1954 - Rio de Janeiro RJ - Senhora dos Afogados
1954 - Rio de Janeiro RJ - As Casadas Solteiras
1954 - Rio de Janeiro RJ - A Cidade Assassinada
1954 - Rio de Janeiro RJ - Lampião

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