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Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro

Carvalho, Joel de (1930 - 1974)


Outros Nomes: Joel de Carvalho

Biografia
Joel de Carvalho (Niterói RJ 1930 - Rio de Janeiro RJ 1974). Cenógrafo e figurinista. Cria
espaço para espetáculos dos inovadores encenadores da época - José Celso Martinez Corrêa,
Paulo Afonso Grisolli, Amir Haddad, Augusto Boal - propondo a dissolução da divisão
entre palco e platéia e, em vez de ambientar a cena segundo os dados fornecidos pelo autor,
constrói estruturas a serem manipuladas, a exemplo das idéias de Adolphe Appia.
Forma-se na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, em 1953.
Realiza curso de extensão em artes na Escolinha de Arte do Brasil e é aluno da primeira
turma de interpretação da Academia de Teatro da Fundação Brasileira de Teatro, FBT,
organizada por Dulcina de Moraes - que é freqüentada por Rubens Corrêa, Yan Michalski,
Jacqueline Laurence, Ivan de Albuquerque e João das Neves, entre outros. Vincula-se à
companhia O Tablado no início dos anos 50 e, a partir de 1956, trabalha em montagens de
Maria Clara Machado. Em 1959 viaja para a Europa e inicia estudo de alemão. No ano
seguinte recebe bolsa de estudo do Itamaraty para fazer especialização em desenho
industrial na Suécia. Durante quatro anos, trabalha como arquiteto na França. Retorna para
o Brasil e inicia sua carreira como cenógrafo profissional.
De 1967 a 1974, ano da sua morte, Joel dedica-se ao teatro e realiza mais de sessenta
trabalhos. Colmar Diniz e Maurício Sette trabalham como seus assistentes. Recebe diversos
prêmios - Molière; Associação Paulista de Críticos de Artes, APCA; Comissão Estadual de
Teatro do Rio de Janeiro e Ibeu. Assina o cenário - e às vezes o figurino - de alguns dos
espetáculos mais importantes do período: Arena Conta Tiradentes, de Augusto Boal e
Gianfrancesco Guarnieri, pelo Teatro de Arena, 1967; A Parábola da Megera Indomável,
texto e direção de Paulo Afonso Grisolli, 1968; Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, com
direção de José Celso Martinez Corrêa, pelo Teatro Oficina, 1968; A Construção, de
Altimar Pimentel, com o grupo A Comunidade, sob a direção de Amir Haddad, 1969; A
Mãe, de Stanislaw Witkiewicz, pela companhia de Tereza Raquel, de 1971; Missa Leiga, de
Chico de Assis, dirigido por Ademar Guerra e produzido por Ruth Escobar, 1972; Um Grito
Parado no Ar, de Guarnieri, pela Othon Bastos Produções Artísticas e com o diretor
Fernando Peixoto, 1973; SOMMA, criação coletiva sob a coordenação de Amir Haddad,
1974.
Cria a partir da observação dos ensaios, colaborando para a linguagem da encenação, para a
expressão corporal e a interpretação do ator. Segundo o diretor Ademar Guerra, ele não
segue as indicações verbais do diretor, e sim o que interpreta como a necessidade do
espetáculo ou como desejo oculto da direção. "Ele sabia limpar, tirar a névoa do trabalho da
gente, localizar aquilo que exatamente a gente queria, no fundo". 1
Concebe cenários para serem manipulados e interferirem na corporalidade dos atores. Em Agamêmnon
Agamêmnon, de Ésquilo, 1970, com o grupo A Comunidade, constrói uma enorme estrutura
de madeira, composta por vários fragmentos utilizáveis - rampas, alçapões, suportes para os
atores se pendurarem - na qual todos os lugares são áreas de interpretação e, ao mesmo
tempo, de assistência. Em Depois do Corpo, de Almir Amorim, também de 1970, cria um
tablado redondo, de borracha, cuja instabilidade não permite a posição estática do corpo do
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ator. Em Por Mares Nunca Dantes Navegados, de Paulo Afonso Grisolli e Tite de Lemos,
1972, ele constrói outro tablado que, ao ser destravado pelos atores, faz o movimento de
uma gangorra, dando ao público a impressão de que todo o teatro oscila. Utiliza a estrutura
do prédio para confundir o cenário com a arquitetura do teatro. Ganha Prêmio Molière de
melhor cenário e figurino por essa realização. Em 1973, ganha Prêmio Associação Paulista
de Críticos de Artes, APCA, de melhor figurinista por Godspell, de Stephen Schwartz e
John-Michael Tebelak, com direção de Altair Lima.
Numa síntese do trabalho de Joel, a crítica e professora Tania Brandão decupa os elementos
que o compõem: "Um espaço de invenção em movimento, distante da ambientação
utilitária, da decoração e da arquitetura enquanto mero artifício para ocupação racional do
espaço - talvez esta fosse uma forma eficiente para definir a cenografia de Joel de Carvalho.
Prolongando a lição moderna, poética, deSanta Rosa, inspirando-se nas revoluções
decisivas propostas por Flávio Império, Joel de Carvalho foi um cenógrafo do teatro
moderno preso ao tema do esgotamento da modernidade. Assim, o seu trabalho rompeu
com a idéia de uma composição da cena como quadro ou moldura, explorou as
possibilidades de diluição dos limites do palco, pesquisou a estrutura e a realidade objetiva
dos objetos e dos materiais usados em cena, propondo uma cenografia que era efetivamente
arte da cena, ruptura com todas as facilidades convencionais".2
Notas
1. GUERRA, Ademar. Depoimento a Tânia Brandão, São Paulo, 1981, inédito. In: CARVALHO, Joel de. Rio de Janeiro: CEDOC /
Funarte. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.

2. BRANDÃO, Tania. Depoimento concedido pela crítica por e-mail para a pesquisadora Johana Albuquerque no dia 23.10.2001.

Nascimento/Morte

1930 - Niterói RJ - 5 de janeiro


1974 - Rio de Janeiro RJ - 7 de setembro

Formação

1953 - Rio de Janeiro RJ - Cursa a Faculdade Nacional de Arquitetura, Universidade do


Brasil
1960 - Suécia - Especializa-se em desenho industrial, com bolsa de estudo do Itamaraty

Fontes de Pesquisa

BRANDÃO, Tânia. Levantamento das atividades de Joel de Carvalho. Rio de Janeiro:


Cenacen, 1981. Trabalho inédito.

MICHALSKI, Yan. Teatro sob pressão: uma frente de resistência. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1985.
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Espetáculos

Cenografia
1958 - Rio de Janeiro RJ - O Jubileu
1958 - Rio de Janeiro RJ - O Matrimônio
1958 - Rio de Janeiro RJ - Escurial
1959 - Rio de Janeiro RJ - Living-room
1959 - Rio de Janeiro RJ - Do Mundo Nada Se Leva
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Inspetor Geral
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Pastelão e a Torta
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Bravo Soldado Schweik
1968 - Rio de Janeiro RJ - A Parábola da Megera Indomável
1968 - São Paulo SP - Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã
1968 - São Paulo SP - O Burguês Fidalgo
1968 - São Paulo SP - Galileu Galilei
1969 - Rio de Janeiro RJ - A Construção
1970 - São Paulo SP - O Beijo no Asfalto
1970 - Rio de Janeiro RJ - O Marido Vai à Caça
1970 - Rio de Janeiro RJ - Agamêmnon
1970 - Rio de Janeiro RJ - Depois do Corpo
1970 - Rio de Janeiro RJ - Fim de Jogo
1970 - Rio de Janeiro RJ - A Dama do Camarote
1970 - São Paulo SP - O Bravo Soldado Schweik
1971 - Rio de Janeiro RJ - Computa, Computador, Computa
1971 - Rio de Janeiro RJ - A Mãe
1971 - Rio de Janeiro RJ - Tribobó City
1972 - Rio de Janeiro RJ - A Menina e o Vento
1972 - Rio de Janeiro RJ - Um Tango Argentino
1972 - São Paulo SP - Missa Leiga
1972 - Rio de Janeiro RJ - Tango
1972 - Rio de Janeiro RJ - A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato
1972 - São Paulo SP - Tango
1972 - Rio de Janeiro RJ - Por Mares Nunca Dantes Navegados
1972 - São Paulo SP - A Menina e o Vento
1972 - Tango
1973 - Luanda (Angola) - Missa Leiga
1973 - Rio de Janeiro RJ - Festa de Aniversário
1973 - São Paulo SP - Um Grito Parado no Ar
1973 - São Paulo SP - Godspell
1973 - Rio de Janeiro RJ - O Embarque de Noé
1973 - Rio de Janeiro RJ - O Trágico Fim de Maria Goiabada
1974 - Rio de Janeiro RJ - Vassa Geleznova
1974 - Rio de Janeiro RJ - SOMMA
1978 - Rio de Janeiro RJ - O Doente Imaginário
1988 - Rio de Janeiro RJ - Tribobó City
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Interpretação
1957 - Rio de Janeiro RJ - O Embarque de Noé
1958 - Rio de Janeiro RJ - À Luz de Uma Fogueira

Figurino
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Bravo Soldado Schweik
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Pastelão e a Torta
1967 - Rio de Janeiro RJ - O Inspetor Geral
1968 - São Paulo SP - Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã
1968 - Rio de Janeiro RJ - O Apocalipse ou O Capeta de Caruaru
1968 - São Paulo SP - O Burguês Fidalgo
1968 - São Paulo SP - Galileu Galilei
1968 - Rio de Janeiro RJ - A Parábola da Megera Indomável
1970 - Rio de Janeiro RJ - Depois do Corpo
1970 - Rio de Janeiro RJ - Agamêmnon
1970 - Rio de Janeiro RJ - Fim de Jogo
1970 - São Paulo SP - O Beijo no Asfalto
1970 - Rio de Janeiro RJ - O Marido Vai à Caça
1970 - Rio de Janeiro RJ - A Dama do Camarote
1971 - Rio de Janeiro RJ - Tribobó City
1971 - Rio de Janeiro RJ - A Mãe
1971 - Rio de Janeiro RJ - Computa, Computador, Computa
1972 - São Paulo SP - Tango
1972 - Rio de Janeiro RJ - Por Mares Nunca Dantes Navegados
1972 - Rio de Janeiro RJ - Um Tango Argentino
1972 - São Paulo SP - Missa Leiga
1972 - Rio de Janeiro RJ - Tango
1972 - Rio de Janeiro RJ - A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato
1972 - Tango
1973 - São Paulo SP - Godspell
1973 - Rio de Janeiro RJ - O Trágico Fim de Maria Goiabada
1973 - Luanda (Angola) - Missa Leiga
1973 - Rio de Janeiro RJ - Festa de Aniversário
1973 - São Paulo SP - Um Grito Parado no Ar
1974 - Rio de Janeiro RJ - SOMMA
1978 - Rio de Janeiro RJ - O Doente Imaginário
1988 - Rio de Janeiro RJ - Tribobó City

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