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Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro

Kusnet, Eugênio (1898 - 1975)


Outros Nomes: Eugênio Chamanski Kuznetsov, Evgenii Chamanski Kuznetsov

Biografia
Eugênio Chamanski Kuznetsov (Rússia 1898 - São Paulo SP 1975). Mais destacado ator de
formação stanislavskiana no teatro brasileiro, criador de papéis marcantes e emérito
professor de uma geração de atores nos anos 1960 e 1970.
Nascido na região dos Balcãs, emigra para Moscou onde se forma num dos Estúdios ligados
a Stanislavski. Trabalha posteriormente no teatro profissional dos chamados 'países
limítrofes bálticos'. Emigra para o Brasil em 1926, onde ocupa-se do comércio e aprende a
nova língua. O teatro brasileiro das décadas de 1930 e 1940 não lhe oferece condições de
atuação. Em 1951, atendendo um convite de Ziembinski integra o elenco de Paiol Velho, de
Abílio Pereira de Almeida, produção do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC. Neste
conjunto Kusnet pode empregar todo seu conhecimento e compartilhar do acabamento
artístico e rigor indispensáveis à plena criação de um papel em nível profissional.
Está nos elencos do TBC de 1951 em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi
Pirandello, direção de Adolfo Celi, e Convite ao Baile, de Jean Anouilh, dirigido por
Luciano Salce. Em 1952, dirige Maria Della Costa em Manequim, de Henrique Pongetti,
produção do Teatro Popular de Arte - TPA. Está em cena em Desejo, de Eugene O'Neill, em
1953 e, no ano seguinte, em O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh, montagem de Gianni
Ratto que inaugura o Teatro Maria Della Costa - TMDC, e se constitui num trunfo artístico
para toda a equipe. Em 1956, está de volta ao TBC, agora sob a condução de Maurice
Vaneau, diretor recém contratado pela companhia, em A Casa de Chá do Luar de Agosto, de
John Patrick. Seu último trabalho no conjunto é como ator em Os Interesses Criados, de
Jacinto Benavente, direção de Alberto D'Aversa, em 1957.
No ano seguinte, integra o conjunto artístico do Teatro de Arena, na produção de Eles Não
Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, destacando-se como o favelado líder operário
Otávio, sendo dirigido por José Renato. Ainda em 1958, figura novamente no TPA, em A
Alma Boa de Set-Suan, primeira encenação profissional de Bertolt Brecht no Brasil,
interpretando brilhantemente na técnica distanciada, sob a condução de Flaminio Bollini.
Em Gimba, novo texto de Guarnieri, volta a fazer um favelado, na encenação que revela o
talento do jovem diretor Flávio Rangel, em 1959.
Volta a chamar a atenção em A Visita da Velha Senhora, de Dürrenmatt, ao lado de Cacilda
Becker, em 1962. Ainda neste ano, passa a integrar o elenco do Teatro Oficina, nas várias
produções efetivadas e ministrando aulas, freqüentadas por atores da companhia e elevada
parcela da classe teatral paulistana.
No auge de sua carreira, parte para a Rússia para freqüentar cursos de formação de atores,
na Escola Estúdio do Teatro de Arte e na Escola Teatral de Stuchkin, anexa ao Teatro
Vakhtangov, ocasiões onde aperfeiçoa seu método de criação do papel e adquire novos
conhecimentos ligados aos desdobramentos do método de Stanislavski.
Nessa década, são marcantes seus desempenhos em Pequenos Burgueses, de 1963, vivendo
o velho Bessemenov; e em 1966, como o patriarca da família aristocrática flagrada em Os
Inimigos, 1966, dois textos realistas de Máximo Gorki, ambos encenados por José Celso
Martinez Corrêa. Em 1967, faz sua última aparição nos palcos, na vanguardista montagem
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de Marat-Sade, de Peter Weiss, encenação de Ademar Guerra onde encarna o aristocrata que
assiste o julgamento de Marat.
Kusnet lança-se, a partir de então, à pedagogia, escrevendo sucessivamente dois livros:
Iniciação à Arte Dramática e Introdução ao Método da Ação Inconsciente. No início dos
anos 1970 eles são fundidos e remodelados, com o título de Ator e Método, uma bem
lograda síntese de seus ensinamentos extraídos ao longo de anos de dedicação não apenas à
criação de papéis como à transmissão de seu método.
Perguntado sobre o que caracteriza uma boa interpretação, conclui: "A impressão de
absoluta verdade. Que não se confunde com a mera imitação da realidade. Porque há uma
eterna dualidade nas grandes interpretações: o ator tem de criar uma ilusão quase mágica e
ao mesmo tempo nunca perder de vista que está num palco. Há dois extremos a serem
evitados: o do ator que se entrega emocionalmente de forma absoluta mas realiza um
trabalho esteticamente inconvincente; e o do ator que se deixa levar por um excesso de
racionalidade, até extinguir totalmente a paixão em seu desempenho". 1
Ao apreciar sua trajetória, a crítica Mariangela Alves de Lima comenta: "suas intervenções,
como intérprete ou como teórico, foram sempre delicadas, civilizadíssimas, mas incisivas.
Tinha horror ao exagero e à gratuidade exibicionista no gesto ou na fala. As inúmeras
observações críticas que descrevem as suas qualidades de intérprete são muitas vezes
sinônimo de economia. A amplitude de seu ponto de partida, representar 'o rico e
complicado interior do homem', permitiu-lhe transitar do repertório europeizado do Teatro
Brasileiro de Comédia para os experimentos mais engajados do Teatro Popular de Arte e,
finalmente, para os grupos ideológicos que renovaram a cena paulistana e, por extensão,
brasileira". 2
Notas
1. KUSNET, Eugênio. O mestre. Veja, São Paulo, 14 maio 1975. Entrevista.

2. LIMA, Mariângela Alves de. Celebrando o centenário de Eugênio Kusnet. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 de dez. 1998. Caderno
2, p. D4.

Nascimento/Morte
1898 - Rússia - 29 de dezembro
1975 - São Paulo SP - 29 de agosto

Formação
Moscou (Rússia) - Curso no Estúdio do Teatro de Arte de Moscou
Moscou (Rússia) - Curso na Escola Teatral de Stuchukin - anexa ao Teatro Vakhtangov
Homenagens/Títulos/Prêmios
1964 - Porto Alegre RS - Globo de Ouro

Fontes de Pesquisa
DIONYSOS. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, n. 24, out. 1978. Número especial
sobre o Teatro de Arena.
GUZIK, Alberto. TBC: crônica de um sonho. São Paulo: Perspectiva, 1986. 233 p.
Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro

KUSNET, Eugênio. Iniciação à Arte Dramática. São Paulo, Editora Brasiliense, 1968.
KUSNET, Eugênio. Ator e Método. Rio de Janeiro, Editora MEC-SNT, 1975.
MAGALDI, Sábato; VARGAS, Maria Thereza. Cem anos de teatro em São Paulo:
1875-1974. São Paulo: Senac, 2000. [454] p.
SILVA, Armando Sérgio da. Oficina: do teatro ao te-ato. São Paulo: Perspectiva, 1981. 255
p.

Trabalhos Publicados
1968 - São Paulo SP - Iniciação à Arte Dramática, Editora Brasiliense
1975 - Rio de Janeiro RJ - Ator e Método, Editora MEC-SNT

Espetáculos

Adaptação
1962 - São Paulo SP - Quatro num Quarto

Direção
1952 - São Paulo SP - Manequim
1956 - São Paulo SP - O Sedutor
1956 - Lisboa (Portugal) - Manequim
1965 - São Paulo SP - Aconteceu em Irkutsk
1973 - São Paulo SP - Os Pequenos Burgueses

Direção (assistente)
1966 - São Paulo SP - Os Inimigos

Direção de atores
1972 - Rio de Janeiro RJ - Tango

Interpretação
1951 - São Paulo SP - Paiol Velho
1951 - São Paulo SP - Seis Personagens à Procura de um Autor
1951 - São Paulo SP - Convite ao Baile
1952 - Rio de Janeiro RJ - Manequim
1953 - São Paulo SP - Desejo
1954 - São Paulo SP - O Canto da Cotovia
1955 - São Paulo SP - Profundo Mar Azul
1955 - Rio de Janeiro RJ - Santa Marta Fabril S. A.
1956 - Lisboa (Portugal) - Manequim
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1956 - São Paulo SP - A Casa de Chá do Luar de Agosto


1957 - São Paulo SP - Os Interesses Criados
1957 - São Paulo SP - A Rainha e os Rebeldes
1958 - São Paulo SP - A Alma Boa de Set-Suan
1958 - São Paulo SP - Eles Não Usam Black-Tie
1959 - São Paulo SP - Desejo
1959 - São Paulo SP - Gimba
1960 - São Paulo SP - A Engrenagem
1960 - Salvador BA - A Ópera dos Três Tostões
1961 - São Paulo SP - A Vida Impressa em Dólar
1962 - São Paulo SP - Todo Anjo É Terrível
1962 - São Paulo SP - Quatro num Quarto
1962 - São Paulo SP - A Visita da Velha Senhora
1963 - São Paulo SP - Pequenos Burgueses
1964 - São Paulo SP - Andorra
1964 - Montevidéu (Uruguai) - Pequenos Burgueses
1964 - (Uruguai) - Andorra
1964 - São Paulo SP - Toda Donzela Tem Um Pai que É Uma Fera
1965 - Rio de Janeiro RJ - Pequenos Burgueses
1966 - São Paulo SP - Os Inimigos
1966 - São Paulo SP - A Vida Impressa em Dolar
1967 - São Paulo SP - Marat/Sade

Tradução
1951 - São Paulo SP - Ralé
1958 - Rio de Janeiro RJ - O Jubileu
1966 - São Paulo SP - Quatro num Quarto
1968 - Rio de Janeiro RJ - O Jardim das Cerejeiras
1975 - Rio de Janeiro RJ - O Jubileu

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