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O SOM NO ENTENDIMENTO DA IMAGEM

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O SOM NO ENTENDIMENTO DA IMAGEM

Pode uma obra estritamente musical relacionar-se com


uma visualidade?

Convido você a entender como o som e as imagens


em movimento atuam como conjunto de códigos
compartilhados criando uma linguagem audiovisual. Vamos
lá?

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2.1 Integração entre a imagem e o som na linguagem audiovisual

Ligar sons e imagens proporciona uma experiência distinta da mera soma das partes. Para Chion (2008), o som na cadeia
audiovisual unifica o fluxo de imagens ao reunir o sonoro à visualidade para extravasar temporal e espacialmente os planos
visuais, ou seja, um som costura os planos de imagens e cria uma história única vista pelos espectadores. Chion também
afirma que a música não “acompanha” o filme, mas co-irriga (cria uma energia) e co-estrutura o filme (dá um fluxo rítmico,
dramático e emocional a obra). Segundo André Baptista (2007, p. 29), mesmo nos momentos do filme onde não há fala, a
música tem o potencial de manter a continuidade da presença humana (a subjetividade dos personagens).

O desenho de som é como um campo em construção que está produzindo uma contribuição descritiva de suas características.
O desenho (ou design) de som reúne todos os produtos e sistemas de circulação em que o som (incluindo a música) possui,
principalmente, a função comunicacional que necessariamente produz significados; e, além disso, o som tem um forte
potencial para semantizar (definir ou dar significado a as palavras) e agir em diferentes situações (em imagens, cenas de
um filme, produtos, etc.).

São produtos do desenho de som, por exemplo, a música publicitária, a trilha sonora de um filme, o som que produz uma
chamada de atenção prévia a uma locução em um aeroporto, o desenho do timbre de voz de um personagem em um filme,
os sons dos botões virtuais de um site, o som ambiental de um espaço público (um centro comercial, um bar, etc.), a
chamada “música funcional”, a cortina de entrada de um programa de TV (abertura do programa) ou a sons e músicas de
um videogame, entre outros exemplos.

Na integração entre a imagem e o som, temos o cinema como uma máquina poderosa que produz sentidos e que usa
desenho de som para semantizar imagens e histórias, dando novos significados à música.

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Nem toda a música é arte. Uma música “enlatada”, pensada em termos de estruturas maciças de gosto
dos mercados, fabricada e distribuída em escala industrial e comercializada com a lógica de persuasão
de qualquer outro produto, está mais perto de um objeto de design de produtos do que arte.

O desenho de som é aquele que possui algum grau de utilidade prática evidente e reconhecível, tanto
na produção como na recepção (sons de alarme de dispositivos eletrônicos, telefones celulares, sons
de botões, avisos ou outras indicações em softwares). O desenho sonoro intervém na construção do
significado de um produto audiovisual (cinema, TV, etc.) e participa no uso prático de um produto.
Por exemplo, muitos jogos de videogames não podiam tocar sem o som, uma vez que as decisões
a serem feitas no jogo dependiam de informações sonoras; o mesmo pode ser aplicado ao uso de
telefones, pois o telefone só pode ser respondido porque o toque ou o tom projetado é ouvido.

O desenho de som é uma ação de projeto que combina aspectos estéticos, culturais, utilitários,
funcionais e semânticos de uma organização sonora.

Quando um compositor compõe para o cinema, está, antes de tudo, desenhando com sons, desenho
do qual a música é aplicada, permitindo seu aspecto mais referencial (ponto de vista que muda),
sua funcionalidade e seu poder comunicativo para se fundir e prevalecer no desenho de som.

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2.2 Identificando e utilizando as técnicas de criação, produção e inserção do sonoro fílmico

O cinema sonoro praticamente teve inicio na década de 20. Desde então, o som no cinema foi “modificado e adaptado de
acordo com as novas pesquisas e experimentações e com a evolução das possibilidades técnicas” (OPOLSKI, 2009, p. 17).

O som pode ser adaptado para pontuar as cenas. “No cinema mudo, a pontuação era múltipla: gestual, visual e rítmica”
(CHION, 2008, p. 44). Por exemplo, um relógio que soa numa imagem pode indicar a pontuação do fim da cena. É o
montador do som quem pontua a cena. Ele [o montador] irá se basear no ritmo do plano, na atuação dos atores e na cena
em geral para decidir onde a pontuação sonora será colocada.

A música pode desempenhar um forte papel de pontuação em uma sequência fílmica, pode ser um leitmotiv/leitmotif
(motivo condutor/orientador/principal), ou seja, um tema melódico ou harmônico que caracteriza um personagem (ou
uma situação, um estado de espírito) e que acompanha os seus múltiplos reaparecimentos ao longo de uma obra. O motivo
de cada personagem é tocado sempre que ele entra em cena.

Você Sabia?
O primeiro filme a utilizar o leitmotiv foi o filme expressionista alemão M - Eine Stadt sucht
einen Mörder (“M- o Vampiro de Düsseldorf”, 1931), do cineasta Fritz Lang. No filme, percebemos a presença
do assassino por causa do assovio I Dovregubbens hall (mais conhecido pelo título em inglês, In the Hall of the
Mountain King, ou “Na Gruta do Rei da Montanha”), de Edward Grieg.

https://www.youtube.com/watch?v=VCjc_OllHdE
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Em uma composição musical cinematográfica podemos ter três técnicas atuando: a técnica de leitmotiv, a técnica de
humor (modos, estado de espírito/ânimo de um indivíduo) e a técnica descritiva (ou sublinhado).

A técnica de leitmotiv na composição da música de uma obra audiovisual trabalha com motivos que conduzem a ação
cinematográfica (e também publicitária). A técnica de leitmotiv baseia-se nas composições de Richard Wagner (1813-1883)
e já foi usada na era do filme silencioso. Na técnica, uma pessoa ou uma situação recebe um motivo musical específico que
ocorre uma e outra vez no decorrer do filme. Para Wagner, havia dois tipos de leitmotiv, um simbolizava as ideias abstratas
(o tema da morte ou destino, o tema da vingança); o outro tinha a pretensão de representar objetos ou personagens
concretos (uma espada). Atualmente existem três tipos de leitmotiv:

• Citações inspiradoras (tema): o assunto vem à tona novamente e novamente sem alteração;

• Ideia fixa: o motivo se desenvolve com os protagonistas;

• Técnica de leitmotiv totalmente desenvolvida: frases musicalmente completas, principalmente, em composições


clássicas.

Representantes típicos da técnica de leitmotiv foram os compositores românticos tardios Erich Wolfgang Korngold (1897-
1957) e Max Steiner (1888-1971). Os dois exemplos contemporâneos mais conhecidos do uso de leitmotifs são os filmes da
série Star Wars, de John Williams, e a trilogia do filme The Lord of the Rings de Howard Shore.

Saiba mais!

Para uma interessante leitura sobre leitmotiv, veja o artigo “Da ópera wagneriana à estética
cinematográfica: aproximações possíveis” (2008), de Miguel Pereira. Disponível em: http:// 30
revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu_n17_Pereira.pdf

Veja também a tese de doutorado “O Leitmotiv: da ópera, ao cinema, à televisão” (2007), de Márcio da Silva
Pereira. Disponível em: www.unirio.br/ppgm/arquivos/teses/marcio-pereira/at_download/file
A técnica de humor tem suas origens na teoria das afeições do período barroco (ocorreu entre final do século XVI e meados
do século XVIII): as emoções e as paixões foram apresentadas ligadas aos instrumentos. Atualmente, a técnica de humor é
vista como um método dramatúrgico de classificar a música como uma imagem. A técnica pode ser dividida em dois tipos:
1) trilha sonora expressiva: expressão do humor dos protagonistas do filme (“O fabuloso mundo da Amélie”, 2001); e 2)
trilha sonora sensorial: expressão de certa atmosfera (“Psicose”, 1960). A técnica ilustra os impulsos psíquicos e as reações
dos personagens na tela e, dependendo do instrumento e do uso pode transmitir os seguintes sentimentos:

Instrumentos Intervalo de Faixa de tom Baixa faixa


tom alto médio de som
flauta brilhante e romântico, misterioso,
amigável sensível subliminar
fagote queixoso poderoso, dramático,
misterioso humorístico
corneta confiante, quente, urgente excitante e
poderoso intensa
trombeta heroico, melodioso, dramático,
afirmativo poderoso ansioso
trombone melodioso, forte, dramático escuro,
pesado melodramático
violinos brilhante, quente, escuro,
melodioso, romântico, dramático,
contido apaixonado estúpido

Já na técnica descritiva (ou sublinhado), a música funciona de forma sincrônica e parafraseando os eventos, movimentos e
sentimentos retratados no filme. Ao imitar ou desenhar ruídos, bem como elementos de movimento, o ato da imagem deve
ser sincronizado em forma musical. O sublinhado é usado para ressaltar os personagens, o tempo, a trama ou o humor e
desencadear emoções na audiência. Você pode encontrar uma forma extrema de sublinhado no desenho Mickey Mouse da 31
Disney.
A música no desenho do rato animado criado por Walt Disney (1901-1966), não é mais um suplemento, mas uma caracterização
dos movimentos. Mickey-mousing, para Eugênio Matos (2014, p. 55) é uma forma sonora exagerada de dar ênfase na ação
e gestos dos personagens.

Você já deve ter escutado um instrumento musical em um filme e o associou a um país. Isso já lhe aconteceu? É muito
normal, pois você acabou de perceber um clichê de som. Veja como certos clichês de som podem fazer referências a locais:

Clichê
Instrumentos (uma ideia previsível) Som e usabilidade

Acordeão Paris, porto (região à beira de


Clichê ligado ao acordeão
um oceano, mar, lago ou rio)

Melodias médias altas, som


Balalaica Rússia, folclore
entre banjo e bandolim

Melodias simples,
Gaita de fole Escócia
penetrantes e simples

Caça, floresta, diligência Médio alto a baixo,


Chifre (trompa francesa
(biga,carruagem) muito macio

Faz ritmo com


Castanhola Espanha
guitarra acústica

Som médio a alto,


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Gaita Água, vela, prisão, andarilhos
solo melódico
A técnica de sublinhado foi usada principalmente no cinema clássico de Hollywood (filmes
produzidos entre os anos 20 e os anos 60, nos Estados Unidos). Um representante típico da
técnica é o compositor americano Max Steiner, que fez as trilhas de King Kong (Direção de
Merian C. Cooper, 1933), Gone with the Wind (“E o Vento Levou”, Direção de Victor Fleming,
1939), Casablanca (Direção de Michael Curtiz, 1942), entre outras obras do cinema.

Eugênio de Matos (2014, p. 62) nos informa as principais funções da música no


audiovisual da seguinte forma:

1. Música com função física: ênfase na ação (acompanha e reforça os


movimentos observados na tela), Mickey-mousing (marca, de forma exagerada e
constante, os movimentos que se mostram na tela), referência espacial (fornece ao
espectador pistas sobre o local geográfico onde se dá a ação), referencia cronológica (fornece
ao espectador indícios sobre a época histórica em que se encontram os personagens);

2. Música com função psicológica: ambiente psicológico (estabelece a atmosfera


emocional geral do filme, envolvendo a localidade e todos os personagens do drama),
emoção subliminar (ajuda a realçar os sentimentos e pensamentos ocultos de um
personagem particular), comentário (propõe uma visão crítica acerca dos fatos ou valores
apresentados na estória ou em ocorrências individuais);

3. Música com função técnica: continuidade e coerência (ajuda a dissimular as


descontinuidades intrínsecas da arte cinematográfica, conferindo um caráter de unidade ao
filme).

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Um som sincrônico de uma obra audiovisual é algo usual, algo que é identificado com a realidade. Já o som assincrônico
provoca um efeito de estranhamento, quase como um efeito cômico. Para Débora Opolski (2013), quanto maior o nível de
sincronia, maior a percepção de certo realismo e talvez menor a sutileza e a carga poética do momento.

O desenho de som é um domínio em construção e sua delimitação disciplinar ainda é difusa hoje. Parte da complexidade
para estabelecer seu domínio é que você pode observar práticas denominadas de desenho de som divididas em diferentes
disciplinas, como a música, o cinema, a publicidade e outras. Os desenhistas do som também provêm de outras disciplinas
ou negócios e podem ser músicos, engenheiros acústicos, técnicos de som e gravação e produtores audiovisuais em
geral. Segundo Michel Chion (1992), os desenhistas de som tornaram-se uma classe recente e diversificada que, devido à
ambiguidade dos termos sonoros, tiveram que aprender a lidar com diferentes recursos criativos que o campo do som tende
a oferecer ao cinema.

O som escutado em um filme não foi gravado no ato em que tudo ocorre. Você sabia que boa parte do som é acrescentada
na última etapa de criação de um filme, no momento da pós-produção? Segundo Opolski (2009), sincronização de sons com
as imagens de um filme ocorre depois da montagem das imagens já ter sido finalizada. A pós-produção é o momento em
que nasce o desenho sonoro do filme, criando e adicionando novos sons à imagem: vozerio (walla), dublagens (ADR), sons
que provém de outros objetos (foley), e os efeitos sonoros.

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2.3 A trilha sonora e sua contribuição para a narrativa

Vimos que o desenho de som é o conjunto de trabalhos encaminhados a conceber, buscar, criar, transformar, situar, integrar
sonoramente uma obra audiovisual. O desenhista de som cria e realiza o espaço sonoro, o compositor compõe a música
original, o técnico de som monta o equipamento sonoro de acordo com o desenho de som e o manipula durante a apreensão
dos elementos sonorizados e os músicos interpretam a música criada pelo compositor. Parece simples, né? Porém, cada
um dos elementos tem que caminhar de acordo com o roteiro, as indicações do diretor e dos responsáveis por cada etapa
sonora.

Você sentiria a mesma emoção ao ver “E.T. - O Extraterrestre” (direção de Steven Spielberg, 1982), “Rocky: Um Lutador”
(direção de John G. Avildsen, 1977), a animação “A Bela e a Fera” (direção de Gary Trousdale e Kirk Wise, 1991) ou “Jurassic
Park: Parque dos Dinossauros” (direção de Steven Spielberg, 1993) sem som algum, sem nenhuma trilha sonora? Claro que
não! Atualmente, um bom filme não é concebido sem um bom roteiro, uma boa fotografia e uma boa trilha sonora. Trilha
sonora (do inglês soundtrack), tecnicamente representa todo o conjunto sonoro de um filme incluindo, além da música, os
efeitos sonoros e os diálogos.

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Um dos mais importantes elementos sonoros de um filme é a trilha. Para Tony Berchmans (2012, p. 16), “a música de
cinema carrega em si um mistério e um poder difícil de se descrever”. Uma trilha sonora é algo impalpável, invisível,
abstrato, pessoal e é a pura emoção. A música de um filme pode até passar despercebida, mas basta retirá-la [a trilha] para
se notar a sua real significância.

Existem muitas pessoas que pensam que a música no cinema começou com o aparecimento do som no cinema, lá em 1927.
No entanto, quando ainda era mudo, já existiam os acompanhamentos musicais às imagens que estavam acontecendo
na tela, seja através de uma pequena orquestra, piano/pianola ou gramofone. Porém, inicialmente, a música não foi
colocada para acompanhar a ação, mas para aliviar, na medida do possível, o ruído produzido pelos arcaicos projetores
cinematográficos.

Em pouco tempo, os cineastas começaram a considerar a escolha de temas musicais dependendo do que estava acontecendo
na tela e, assim, começaram a utilizar temas dos grandes mestres da música, como Chopin, Beethoven, entre outros. O
cinema, mesmo depois dos filmes sonorizados, ainda não havia criado músicas específicas para suas obras. Foi apenas em
1908 que se criou a primeira trilha sonora original da História do Cinema, uma trilha projetada para dar expressividade a
certos momentos do filme.

No início do século, compositores “clássicos”, como Camille Saint-Säens (1835-1921) e Mikhail Ippolitov-Ivanov (1859-
1935), criaram peças musicais especialmente para filmes, iniciando oficialmente a história paralela
da música no cinema.
Você Sabia?
Em 1908, na França, temos a criação da primeira trilha sonora para o filme L’Assassinat du duc
de Guise (“O Assassinato do Duque de Guise”, direção de Charles Le Bargy e André Calmettes),
composta pelo francês Saint-Säens.

Ouça a trilha no link: dispon~ivel em https://www.youtube.com/watch?v=_GiIYETy8zE


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Mikhail Ippolitov-Ivanov fez a trilha para o primeiro filme de ficção russo, Stenka Razin (Dir. Vladimir Romashkov,
1908). Veja o filme e ouça a trilha no link disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xuwdAmXRY28
Já na década de 1910, mais e mais filmes com fundo musical estavam sendo produzidos, mas foi em 1915
quando houve um ponto de viragem com a produção do filme “O nascimento de uma Nação” (direção de
D. W. Griffith), com música composta por Joseph Carl Breil (1870-1926). A partir de então, as composições
para filmes ganharam força e cada estudo cinematográfico passou a ter seus próprios compositores.

A importância que a música deveria ter no cinema foi vista no primeiro filme sonoro da história, The
Jazz Singer/ “O cantor de Jazz” (direção de Alan Crosland, 1927), e no ano seguinte, no filme Lights of
New York/ “Luzes de Nova Iorque” (direção de Bryan Foy, 1928), o som é gravado já na película em si,
passando do silêncio para ser um recurso totalmente narrativo.

Na década de 1930, houve uma maior profissionalização da música cinematográfica. A música deixou de
ser um acompanhamento constante para ter uma empregabilidade mais seletiva para enfatizar certos
momentos. A música passou, nos filmes dramáticos, a ser usada somente quando o roteiro exigia,
sempre que poderia ser necessária a presença de uma orquestra ou fonógrafo, algo que era indicado já
no roteiro. Foi ainda nos anos 1930 que os estúdios passaram a ter departamentos musicais, com uma
equipe de compositores, adaptadores, arranjadores e condutores de orquestra. No início, a música
não estava muito sincronizada com as imagens, mas em 1933, com o filme King Kong, Max Steiner
demonstrou o que podia ser feito com uma partitura original totalmente sincronizada com as imagens.

Na década de 1940, compositores de diferentes áreas começaram a criar música para o cinema. Eram
compositores que vieram de musicais da Broadway, de concertos e óperas e do rádio. Já na década de
1950, havia compositores de música de jazz e a chamada música leve (soft). Nesta década, o cinema
sonoro acontecia com muita força em Hollywood, levando alguns famosos atores-cantores-dançarinos
ao estrelato.
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Entre 1950 e 1960, o público começou a levar em conta a música dos filmes, fazendo com que os estúdios de cinema
começassem a tornar a música rentável, encorajando seus compositores a escrever temas, melodias e músicas vendáveis
que poderiam ser editados em um disco. A melhoria técnica dos sistemas de gravação de som também contribuiu para tudo
isso. Começou, então, a venda de discos com as trilhas sonoras dos filmes.

Na década de 1960, houve uma renovação dos compositores, alguns foram aposentados e veio uma nova leva. A música
ocidental se tornou moda com compositores, como o italiano Ennio Morricone (1928) e Leonard Bernstein (1918-1990).

A década de 1970 foi uma época de crise composicional, uma vez que a música instrumental foi muito negligenciada em
favor de múltiplas músicas que, na maioria das vezes, não tinham nada a ver com o filme, mas vendiam mais e, dessa
forma, os estúdios conseguiam economizar o dinheiro que seria pago a um compositor. Porém, dessa crise apareceu um
compositor que usava uma ótima orquestração e que fez (e ainda faz) verdadeiras obras sinfônicas − John Williams (1932).
A J. Williams devemos várias ótimas trilhas cinematográficas feitas nas últimas décadas. Na verdade, William tem trilhas
sonoras para filmes gravadas até 2020.

A década de 1980 revolucionou o mundo do cinema com o uso de música feita com sintetizadores, que, embora tenha sido
usado antes, é nessa década que atingiu seu ápice com compositores como o grego Vangelis (1943) e o francês Maurice-
Alexis Jarre (1924-2009). Ainda assim, a música de orquestra continuou a crescer com a liderança de Williams e Jerry
Goldsmith (1929-2004).

Foi na década de 1990 que tivemos uma recuperação de músicas não compostas exclusivamente para um filme. Houve o
começo de uma carreira comercial que não só serviu como promoção para o filme, mas também para aumentar a renda
do produtor. Algumas trilhas sonoras se tornaram, então, compilações de grandes músicas que eram ouvidas ao longo do
filme, que atingiam o topo das listas de sucessos das estações de rádios especializadas e que, em alguns casos, cobriam
uma produção cinematográfica medíocre. 38
A música original composta para um filme não se deteriora, pelo contrário, atualmente existem novos e bons compositores
que, juntamente com os já existentes, compõem verdadeiras maravilhas sonoras.
Curte aí!

Veja um despretensioso vídeo sobre as trilhas sonoras do cinema e como são feitas: Disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=naJ5cEQHoDQ

Veja também o vídeo “CINE FEDERAL - TRILHAS SONORAS - Parte 1 e Parte 2”:

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=do0nuqpAZR8

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PkGwz4i-UHc

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Vamos rever!

Estudante, você percebeu como som pode agir em conjunto com a imagem e, também, ter vida
própria em uma obra audiovisual? Um som pode costurar os planos de imagens e criar uma história
única vista pelos espectadores.

O desenho (ou design) de som reúne todos os produtos e sistemas de circulação em que o som
(incluindo a música) possui, principalmente, a função comunicacional que necessariamente produz significados. O
desenho de som é uma ação de projeto que combina aspectos estéticos, culturais, utilitários, funcionais e semânticos
de uma organização sonora.

O som pode ser adaptado para pontuar as cenas. A música pode desempenhar um forte papel de pontuação em uma
sequência fílmica, pode ser um leitmotiv/leitmotif (motivo condutor/orientador/principal), ou seja, um tema melódico
ou harmônico que caracteriza um personagem (ou uma situação, um estado de espírito).

A música no cinema tem três funções: física, psicológica e técnica. Cada função tem sua atuação em uma obra audiovisual.
O som pode ser sincrônico, sendo algo usual, algo que é identificado com a realidade. Já o som assincrônico provoca
um efeito de estranhamento, quase como um efeito cômico ligado as imagens. O desenho de som é um domínio em
construção e sua delimitação disciplinar ainda é difusa hoje.

O som escutado em um filme não foi gravado no ato em que tudo ocorre. Boa parte do som é acrescentada na última
etapa de criação de um filme, no momento da pós-produção.

Um dos mais importantes elementos sonoros de um filme é a trilha. Uma trilha sonora é algo impalpável, invisível,
abstrato, pessoal e é a pura emoção. A música de um filme pode até passar despercebida, mas basta retirá-la [a trilha]
para se notar a sua real significância. 40
Existem muitas pessoas que pensam que a música, no cinema, começou com o aparecimento do som no cinema, lá em
1927. No entanto, a história da música no cinema começa mesmo antes do som estar em sincronia com a imagem, lá no
cinema silencioso e segue, até hoje, sempre buscando novos elementos para o sonoro nas obras audiovisuais.
Em suma, hoje em dia ninguém pode conceber um filme sem trilha sonora, sem música que acompanhe e se adapte
às imagens que estamos vendo. E embora, ao longo da história, alguns diretores de cinema quase desprezassem o
elemento sonoro cinematográfico, muitos outros não hesitaram em usá-lo para proporcionar uma maior qualidade às
suas produções.

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GLOSSÁRIO

AAC: Advanced Audio Coding (AAC) é um esquema de codificação para compressão com perda de dados de som digital.
Projetado para ser o sucessor do formato MP3. AAC é o formato padrão para o iPhone, o iPod e o iTunes da Apple e o
PlayStation 3 da Sony, e é suportado pelo PlayStation Portable, pela a última geração de walkmans da Sony, telefones da
Sony Ericsson, Nokia e Android, o Wii e o DSi da Nintendo, e o padrão MPEG-4 de vídeo.

ADR: sigla para Automated dialogue replacement (“Substituição automatizada do diálogo”), não é nada mais que o processo
de “dobrar” o filme com as vozes. Nos casos onde o áudio tenha muito barulho, ou quando estiver inutilizável (voz ruim,
barulho que surge no áudio), o editor de diálogo pode separar a linha para ADR. Isso significa substituir essa linha ou linhas
de dialogo usando o processo automatizado de substituição de diálogo. Esse processo é executado no Estúdio de ADR,
um estúdio de gravação especializado onde o ator pode gravar as linhas em sincronia com a imagem. Uma vez que as
linhas substitutas foram gravadas, o editor de diálogo checará a sincronia com bastante cuidado, editando a tomada, se
necessário, para ajustar o áudio com o vídeo, e prepará-lo para o estúdio de mixagem. Esse processo é conhecido como
looping.

Branding: é a gestão de uma marca. Todo o trabalho realizado com o objetivo de tornar a sua marca mais conhecida, mais
desejada, mais positiva na mente e no coração dos seus consumidores. Envolve desde a concepção da marca até as ações 42
cotidianas de marketing da empresa.
Cue-sheet: ou folha de sugestões. É um arquivo de metadados (informações) que descreve como as faixas de um CD ou
DVD são apresentadas. As folhas Cue são armazenadas como arquivos de texto simples e geralmente possuem uma extensão
de nome de arquivo “.cue”.

Dolby Digital 5.1: chamado de Dolby Estéreo Digital até 1994, o sistema de som digital da Dolby Laboratórios apareceu pela
primeira vez no mercado em 1992, no filme Batman Returns (Direção: Tim Burton, 1992). O sistema faz uso de seis canais
de áudio independentes, sendo cinco de frequências normais e uma para o subwoofer (o chamado 5.1). Com isso, é possível
ao espectador ouvir sons inaudíveis nas versões anteriores do sistema. O Dolby Digital emprega a tecnologia de codificação
e compressão AC-3 da Dolby (ver AC-3).

Dolby Digital Surround EX: aumenta o realismo dos filmes, introduzindo um canal de áudio traseiro adicional para o
cinema para som de cinema de 6.1 canais.

Dolby Surround 7.1: acrescenta dois canais discretos de som para aumentar o realismo de todos os tipos de filmes. O Dolby
Surround 7.1 melhora a definição de áudio, de modo que os sons individuais são mais claros e distintos. Sistema comumente
usado em configurações de home theater.

Edição de diálogo: Production Dialogue Editing. Para que o áudio gravado no set ou na locação seja mixado de forma
adequada, um editor de diálogo precisa prepará-lo. Isso significa localizar a tomada adequada a partir das gravações,
checar a sincronização (verificar se funciona junto à imagem) e eliminar barulhos indesejados para que o mixer tenha um
diálogo limpo para trabalhar.

Efeitos sonoros: abreviado em inglês como sFX ou FX. São sons criados artificialmente ou aprimorados. Podem ser produzidos
digitalmente ou com auxílio de mixagem de som. 43
Cue-sheet: ou folha de sugestões. É um arquivo de metadados (informações) que descreve como as faixas de um CD ou DVD
são apresentadas. As folhas Cue são armazenadas como arquivos de texto simples e geralmente possuem uma extensão de
nome de arquivo “.cue”.
Foley/Foley Recording: é a gravação de efeitos de som humano em sincronia com a imagem. A palavra veio do nome de
Jack Donovan Foley (1891-1967), o desenvolvedor de muitas técnicas de efeitos de som usadas na realização de filmes. A
Foley é creditado o desenvolvimento de um método exclusivo para executar efeitos de som ao vivo e em sincronia com a
imagem durante a pós-produção de um filme. Os efeitos de Foley são sons criados pela gravação de movimentos humanos
em sincronia com a imagem. Diferente dos fundos ambientais e dos efeitos brutos que compreendem os efeitos sonoros
editados, os efeitos de Foley são sons como passos, o movimento de acessórios, farfalhar da roupa, entre outros. Os
Mixers Foley registram os sons, e os Walkers Foley, criam os sons. Após o registro dos efeitos de Foley, o Editor de Foley
irá fazer todos os ajustes de tempo necessários para assegurar que eles estejam exatamente em sincronia com a imagem
final. As decisões relacionadas ao timbre, escolha do material, interpretação e carga dramática atribuída aos sons são
responsabilidade do artista de Foley.

Jingles: [djingou] significa “tinido” em português. É um termo da língua inglesa que se refere a uma mensagem musical
publicitária, algo elaborado com um refrão simples e de curta duração, a fim de ser lembrado com facilidade. Diferentes
produtos foram “cantados” criativamente através de jingles no início da propaganda no rádio, os jingles dos produtos eram
feitos ao vivo, nos estúdios das rádios.

Mixagem: Os mixadores tem a responsabilidade de balancear os vários elementos de som, isto é, o diálogo, música, efeitos
de som e efeitos Foley, na mixagem final. O mixador de diálogos comanda o estágio de mixagem; seus parceiros na mixagem
são o mixador de efeitos e o de música. Em grandes empreendimentos cinematográficos, não é incomum ter mixadores
adicionais somente para os efeitos de foley. Em grandes filmes com prazos apertados, é possível que vários times estejam
trabalhando simultaneamente em vários estúdios para completar a mixagem na data.

Mixing: também chamado regravação.


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Ringtones: palavra inglesa para toque ou tons de chamada personalizáveis, podendo indicar uma chamada telefônica,
a chegada de uma mensagem SMS ou e-mail no telefone celular. Nos primeiros modelos de telefone celular os toques
eram monofônicos (melodias executadas por apenas um instrumento). Com o avanço da tecnologia, os telefones celulares
passaram a reproduzir toques polifônicos (formato MIDI, vários instrumentos executados simultaneamente). Atualmente os
aparelhos utilizam o recurso de truetone podendo executar faixas inteiras de um arquivo MP3.

SFX: efeitos sonoros

Sessão de Spotting: do inglês spotting session. Sessão dedicada a decidir em que pontos a música ou os outros recursos
especiais são necessários.

Streaming: transmissão em tempo real, no qual é possível transmitir ao vivo, ou programar um AutoDJ (robô que toca o
playlist). A tecnologia streaming é uma forma de transmissão instantânea de dados de áudio (som) e vídeo (imagem) por
meio de uma rede qualquer de computadores sem a necessidade de efetuar downloads do que está se vendo e/ou ouvindo,
o que torna mais rápido o acesso aos conteúdos online. Um exemplo do uso do streaming com funções on-demand é o
Netflix, que cobra uma assinatura mensal e disponibiliza filmes e séries que podem ser assistidos em diversos dispositivos
a qualquer hora. O streaming exige um servidor para que se conecte e começa a transmitir.

Subwoofer: tipo de transdutor usado para reproduzir um espectro audível denominado subgrave (sons graves), variam de
20Hz a 200Hz. Sua reprodução está abaixo da reprodução dos woofers (ver woofer).
Tone: ou tom. Som constante, gerado para auxiliar a definição dos níveis.

Truetone: também conhecido como mastertone ou realtone. É um ringtone que foi codificado em formato MP3, AAC ou
WMA. Esse tipo de toque permite uma maior fidelidade às canções originais, por tocar a música com a voz do cantor/da 45
cantora.
WMA: Windows Media Audio (WMA) é um formato produzido pela Microsoft que tem grande compatibilidade com o Windows
Media Player

Woofer: é um alto-falante usado para reproduzir frequências graves e médias. Utiliza uma frequência geralmente entre
50 a 4500 Hz.

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REFERÊNCIAS

BAPTISTA, André. Funções da música no cinema - Contribuições para a elaboração de


estratégias composicionais. Dissertação de Mestrado (Música e Tecnologia). Universidade Federal de Minas Gerais/ Escola
de Música, Belo Horizonte 2007.

BERCHMANS, Tony. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema. 4. ed. São Paulo:
Escrituras Editora, 2012.

CHION, Michel. A Audiovisão – Som e Imagem no Cinema. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2008.

CHION, Michel. El cine y sus oficios. Madrid: Cátedra, Signo e Imagen, 1992.

MATOS, Eugênio. A arte de compor música para o cinema. Brasília: Editora Senac- DF, 2014.

OPOLSKI, Débora Regina. Análise do design sonoro no longa-metragem Ensaio sobre a cegueira. 2009. 120 f. Dissertação
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47
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STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003.


SONNESCHEIN, David. Sound Design: The expressive Power of Music, Voice, and Sound
Effects in Cinema. Estados Unidos: McNaughton & Gunn, 2001.

THOM, Randy. Designing a movie for sound. 1999. Disponível em: < http://soundcart.com/CDIA/Designing%20A%20Movie%20
For%20Sound.pdf >. Acesso em: 23 fev. 2018.

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PROFESSORA AUTORA
VERÔNICA GUIMARÃES BRANDÃO DA SILVA

Doutora em Imagem, Som e Escrita no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília,
com tese defendida com o título de A Cultura Brasileira do Feio: por uma noção de beleza ampliada (2017). Com mestrado
realizado na Universidade de Brasília, com dissertação intitulada Estética da monstruosidade: o imaginário e a teratogonia
contemporânea (2013). Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Audiovisual pela Universidade Estadual
de Goiás (UEG, 2009). Fui tutora a distância pela Universidade Aberta do Brasil (UAB-UnB) em Artes Visuais e professora
online do curso de extensão Narrativas e Visualidades (NARRAVIS), pela Universidade do Vale do São Francisco, com o curso
Estética e Cinema. Com experiência em Estudos Culturais: Cinema, Estéticas, Artes, Imaginário, Cultura. Atualmente edito
os websites nabateia.jimdo.com (para informações de chamadas de artigos e congressos) e alacridadecultural.jimdo.com
(sobre cultura). Atuo como parecerista em artes visuais para o Fundo de Arte e Cultura de Goiás e parecerista em artes
integradas para a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe/Funcultura). Parecerista em
produção audiovisual para o Fundo Municipal da Cultura de Curitiba (FCC-FSA 2017). Também credenciada como Jurada em
Audiovisual pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Atuando como tutora para o curso Especialização em
Educação e Patrimônio Cultural e Artístico (UAB, CAPES, PPG-Arte-UnB) e professora autora das disciplinas Fundamentos
do Áudio e Desenho de Som no IFB. Também é professora de Produção Audiovisual e Ética da Comunicação na Faculdade
Araguaia (Goiânia).
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Endereço para o CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1992894269779970

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