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Presidência da República Federativa do Brasil


Ministro da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Este material foi produzido pela Direção de Educação a Distância do Instituto Federal de Brasília – IFB

Reitor
Wilson Conciani

Pró-Reitor de Ensino - PREN


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Diretora de Educação a Distância - DEaD


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Coordenador Adjunto Ensino


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Orientador de Ensino e Aprendizagem


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Coordenadora de Curso
Patrícia Barcelos
Equipe de Elaboração

Coordenadora de Produção de Material Didático


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Conteudista
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Revisora de conteúdo
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Ilustrador e Produtor de vídeos animados


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Diagramadora
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Apoio
Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação - PRPI

Catalogação na fonte pela Biblioteca do instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Brasília

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição
NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Sumário

UNIDADE 1- O DESENHO DO SOM.. ........................................................................ 7


1.1. O que é desenho do som?........................................................................ 9
1.2. Relações narrativas e dramáticas do som e dos efeitos sonoro............................ 18
1.3. O desenho do som na produção audiovisual.................................................. 22

UNIDADE 2 - O SOM NO ENTENDIMENTO DA IMAGEM.................................................. 26


2.1. Integração entre a imagem e o som na linguagem audiovisual............................ 28
2.2. Identificando e utilizando as técnicas de criação, produção e inserção do sonoro
fílmico................................................................................................... 30
2.3. A construção da trilha sonora e sua contribuição para a narrativa.. ...................... 36

Unidade 3 - DESENHO DO SOM E A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E ACESSIBILIDADE . ............... 54


3.1. Fontes sonoras incorporadas em uma produção audiovisual ou multimídia.............. 56
3.2. A inserção de recursos de acessibilidade audiovisual influenciando no desenho do
som....................................................................................................... 60

Unidade 4 - OS PROFISSIONAIS DE SOUND DESIGNER E A LEGISLAÇÃO DO USO DE ELEMENTOS


SONOROS . ................................................................................................. 70
4.1. Funções do sound designer e profissionais que atuam no desenho do som fílmico..... 71
4.2. Orientações do uso de elementos sonoros de acordo com a legislação vigente......... 77

GLOSSÁRIO................................................................................................. 43
REFERÊNCIAS............................................................................................... 48 4
APRESENTAÇÃO
A proposta da disciplina “Desenho do Som” é a de contribuir para a construção de uma perspec¬tiva crítica sobre os
conceitos do desenho do som, a construção e a atuação do sonoro, a produção de conteúdo com acessibilidade sonora, a
criação de trilhas sonoras, os desenhistas e suas atuações em uma produção sonora para audiovisual e a legislação do uso de
elementos sonoros. Aqui, buscamos desenvolver o conhecimento sobre o desenho do elemento sonoro de modo a permitir
uma práxis emancipadora no que se refere ao exercício de uma efetiva cultura sonora.

Iremos pensar sobre o que é o desenho do som e qual seu objetivo? Quais são as falácias sobre o mundo sonoro em um
produto audiovisual? Pode uma obra estritamente musical relacionar-se com uma visualidade? O que é uma trilha sonora e
qual a sua contribuição para a narrativa audiovisual?

Para tanto iremos tratar de algumas abordagens conceituais de forma a elu¬cidar experiências práticas que fortaleçam
o domínio do desenho do som, mas que também favoreçam o desenvolvimento da capacidade sonora.

Teremos quatro unidades de aprendizagem sobre o desenho sonoro. A cada semana será estudada uma unidade e seus
elementos complementares (links de vídeos indicados). Teremos três fóruns que dialogarão com as unidades 1, 2 e 3. Na
unidade 4, teremos um texto avaliativo sobre o conteúdo dado.

Importa lembrar que um objetivo central do módulo é o de elucidar como a relação entre imagem e som pode contribuir
para o desenvolvimento de um produto audiovisual e para a formação do profissional de audiovisual.
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Esta disciplina está estruturada em 4 unidades temáticas com seções específicas:

Na Unidade 01 abordaremos a existência do desenho do som e suas atuações, as relações narrativas e dramáticas
do som e dos efeitos sonoros e como atua o desenho do som na produção audiovisual de modo a evitar a utilização de
concepções equivocadas sobre o desenho sonoro em meio ao mundo das imagens.

Na Unidade 02 iremos focar na atuação do som no entendimento para nosso entendimento da imagem, percebendo
como se dá a integração entre a imagem e o som na linguagem audiovisual, identificando e utilizando as técnicas de
criação, produção e inserção do sonoro fílmico, tendo noção de como atua uma trilha sonora e como se dá sua contribuição
para a narrativa.

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O DESENHO DO SOM
O DESENHO DO SOM

Olá, estudante! Vamos começar nossa jornada pelo maravilhoso mundo do desenho do
sonoro?

Os desenhistas ou designers de som trabalham dentro de um enorme contexto, dentro


de uma paisagem incrivelmente rica, englobando física, matemática, psicologia e cultura.
A história do design de som remonta a antes dos gregos e romanos. Você já notou que os
primeiros instrumentos musicais foram dispositivos de ruído, feitos por nossos antepassados
primitivos para espantar espíritos malignos?

Não iremos nos concentrar nos instrumentos ou escalas musicais, mas na forma como podemos
colocar um som certo, no lugar certo e no momento exato para criar a arte do desenho do
som. Vamos lá?

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1.1 O que é desenho do som?

O desenho do som é a especialidade de desenho responsável pela especificação teórica, aquisição e manipulação dos
elementos sonoros de uma determinada produção audiovisual. O termo foi criado pelo compositor estadunidense
Walter Murch e seguido pelo sonoplasta e editor de vídeo estadunidense, Ben Burt, e vários outros logo em
seguida.

Para falar sobre desenho do som, precisamos começar com a produção radiofônica da primeira metade do
século XX, em que vários criadores desenvolveram uma linguagem sonora complexa, dando profundidade,
narratividade e ambientação para o rádio. Por esse motivo, além da gravação e edição de sons, o desenho do
som é um elemento fundamental para que uma obra audiovisual faça sentido e crie uma atmosfera envolvente.
Um filme, por exemplo, precisa do som para enriquecer a história e convencer o público de diferentes gêneros
cinematográficos. A música no desenho de som incorpora um infinito de elementos quem geram significados
(como o ritmo, a melodia, a harmonia, o tom, o timbre, etc.).

Figura 1 Donald Manson, 1906.


Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_radio
No artigo Designing a movie for sound (“Desenhando o filme para o som”, 1999), Randy Thom, diz que o trabalho
de um desenhista de som não é somente criar boa sonoridade; ao contrário, um bom profissional desenvolve certa
criação narrativa e dramática, não apenas sonora. Thom afirma que uma maneira de fazer um bom uso do som
no filme é desenhá-lo, ou escrever o roteiro com o som em mente, para permitir que este exerça influência nas
decisões criativas dos outros setores relacionados, desde o início da concepção da ideia fílmica. O desenhista
sonoro experimenta e joga com o som, e não só com efeitos sonoros, mas, também, com a música e os diálogos.
Diretores como Francis Coppola e George Lucas, ao trabalharem com Walter Murch e Ben Burtt nas etapas de
produção e pós-produção, descobriram que o som começava a dar forma à imagem na mesma medida que a
imagem dava forma ao som. O som, a música e outros artifícios sonoros possuem valor quando são parte de um
continuum (série de acontecimentos sequenciais), quando mudam ao longo do tempo, têm dinâmica e ressoa com
outros sons e outras experiências sensoriais. O som conta uma história tanto quanto as imagens de um filme.

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Figura 2 Walter Murch Fonte: http://www.imdb.com/name/nm0004555/


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O desenho do som na música não é feito por um compositor, mas por um criador sonoro, uma pessoa que sabe o
lugar de cada som em uma criação musical e que pode criar um som ao vivo ou em estúdio para auxiliar a música
de alguém.

No cinema, vemos muito a expressão sound design para indicar o desenho do som, indicando a arte e a prática de
criar faixas de som para uma variedade de necessidades de imagens. O designer de som, ou desenhista do som,
no cinema, é a pessoa encarregada de garantir um “som” consistente, com um estilo global (todos entendem),
ao longo do filme e, também, é encarregado de criar e fabricar certos sons especiais (efeitos sonoros) que não
são fáceis de obter. Você sabia que qualquer membro da equipe técnica de som de um filme influencia o som do
filme? Sim, pois deve ser um trabalho em conjunto para que não haja falhas no produto final. Veja como seria
uma equipe de som de um filme:

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Glossário

ADR: sigla para Automated dialogue replacement (“Substituição automatizada do


diálogo”), não é nada mais que o processo de “dobrar” o filme com as vozes.

Foley/Foley Recording: é a gravação de efeitos de som humano em sincronia com a


imagem.

Você já se perguntou como foram feitos os sons da respiração do Darth Vader ou as sequências do desastre com o navio
do filme Titanic? Na Edição dos efeitos de som, os editores de efeitos sonoros e designers de som são os responsáveis. O
processo de adicionar efeitos de sons de fundo (vento, rios ou pássaros) e efeitos de sons duros (tiros, portas ou queda de
um corpo) tem sido domínio dos editores de efeitos. Desenhistas de som usam tecnologias analógicas e digitais para criar
efeitos de som nunca ouvidos antes, ou para criar “humores” sonoros específicos para complementar a visão do diretor.

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Figura 3 cena do filme Titanic Fonte: https://www.merdeka.com/dunia/temuan-


bukti-baru-titanic-bukan-tenggelam-karena-tabrak-gunung-es.html
Você Sabia?
Você sabe como se dá a composição de uma música para filmes/TV?

Temos três grupos diferentes para a composição musical: Partitura, Fonte e Canções. O compositor é o indivíduo
contratado com a responsabilidade de preparar essas linhas dramáticas. Música fonte é a música que ouvimos vindo da
tela ou de algum dispositivo oculto de qualquer tipo; alguns exemplos são músicas de rádios, gravações fonográficas,
temas de programas de TV e muitas outras variações. Música fonte pode ser original ou licenciada de várias bibliotecas
especializadas na criação de música “genérica”. Canções podem ocupar essa função, dependendo da intenção
dramática do diretor. Vamos usar o filme “Pulp Fiction” (1995) como exemplo: o diretor Quentin Tarantino contratou
uma Supervisora de Música, Karyn Rachtman, para preencher a imagem com músicas dos anos 70, algo que ela fez com
maestria. Muitos filmes contemporâneos usam uma combinação de partituras e músicas fonte.

É o Editor de Música quem ajuda o Compositor na preparação da linha dramática. O Editor frequentemente trabalha,
também, com o Supervisor de Música. O Editor terá horários com o Compositor para que possa achar as locações
específicas do filme no qual música fonte ou partituras irão pontuar a narrativa. Uma vez que as linhas foram gravadas e
a música fonte foi obtida, o Editor de Música será normalmente a pessoa que irá editar ou supervisionar a sincronização
final de todos os elementos musicais.

Vimos que o desenhista de som precisa ter conhecimentos técnicos, dotes artísticos, ser meticuloso, saber lidar com o
tempo e ter um bom ouvido analítico-cognitivo-afetivo (atento-racional-emocional) para os sons
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Para uma excelente criação de desenho do som, é necessário ler o roteiro, agrupar as vozes, fazer mapas visuais,
participar de reunião com o diretor, fazer o primeiro rascunho do mapa sonoro, consultar as gravações de imagens,
colaborar na edição, fazer o segundo rascunho do mapa sonoro e sessão de spotting (sessão dedicada a decidir em que
pontos a música ou os outros recursos especiais são necessários), atualizar informações com o compositor, experimentar
sons durante a edição, eleger o sistema de multicanal (Dolby Digital 5.1, Surround Ex ou sistema 7.1, veja cada um no
glossário final), fazer o mapa sonoro definitivo (cue-sheet) e fazer as pré-misturas e misturas de sons para o produto
final.

Figura 4: Sistemas Dolby Digital 5.1 e Dolby Digital Surround EX.


Fonte: http://www.eadhome.nl/oplossingen/woning/surround/dolby_guide.html (2018).

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Figura 5: Sistema Dolby Surround 7.1.


Fonte: https://digitalmediaservices.wordpress.com/tag/dolby-surround-7-1/ (2018).
Ao ler o roteiro, é importante que se faça uma leitura sugestiva, pensando qual som será melhor para cada frase,
qual será o ambiente e sublinhar as palavras-chave do ponto de vista sonoro (relógio, respiração, grito, coração,
carros, animais). Para sons concretos usar letra MAIÚSCULA e verbos de ação (GRITAR) e para emoções usar adjetivos
e advérbios. Por exemplo, veja como é um mapa sonoro de um primeiro rascunho em uma reunião com o diretor, após
leitura do roteiro:

Tabela 1: Mapa sonoro de 1º rascunho


Sequência 23: Escritório
Vozes Sons explícitos Sons musicais Música
Gritos agressivos Chamadas telefônicas Chamadas telefônicas
Passos apressados Passos apressados

Durante a edição de um filme, são feitas as experimentações sonoras para criar sons que não existem. Você já assistiu
ao filme “Psicose” (1960) de Alfred Hitchcock? Você se lembra daquela famosa cena do chuveiro? Sabia que o som que se
ouve no momento do esfaqueamento no chuveiro foi conseguido esfaqueando um melão? Outro exemplo é a criação da
voz do personagem Chewbacca dos filmes Star Wars, criada pelo designer de som Ben Burtt. A linguagem de Chewbacca
foi feita por Burtt ao usar sons que havia gravado de animais como ursos, texugos e morsas. Burtt pegou pedaços de
cada gravação, classificou pela emoção e os juntou para fazer a voz do amigo de Han Solo.

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Fique Ligado!
Para ver um exemplo de como criar o som de um sabre de luz usado em Star Wars, veja o vídeo How
to make the laser blaster sound from Star Wars - Part 1 (“Como fazer o som do laser blaster de Star Wars - Parte 1”):

https://www.youtube.com/watch?v=HtUGYKjG09g.

O vídeo está em inglês, mas veja a partir de dois minutos e trinta segundos (2:30) para ter uma noção de como é a
criação de sons de explosões e do barulho dos sabres de luz dos Jedi e de Lorde Vader.

1.2 Relações narrativas e dramáticas do som e dos efeitos sonoros

A função narrativa da música tem séculos de história se a gente pensar nos menestréis e nos trovadores, se
analisarmos a ópera, o canto lírico ou o teatro musical. No entanto, além das letras, a música em si é uma
acumulação de significados à medida que novos ritmos, sons e silêncios são adicionados à composição. Usamos
a sonoridade em contextos específicos (para dançar, relaxar, meditar, etc.). Uma música tem a capacidade de
nos fazer interagir com um fenômeno visual, algo que Michel Chion (1994) definiu como “síncrese” (sincronia
e síntese entre imagem e som), podemos então começar a entender a complexidade do uso de músicas e sons
no audiovisual. Para Michel Chion (1994), o amálgama som e imagem é espontâneo e irresistível, produzindo
um fenômeno auditivo e um fenômeno visual simultaneamente. É essa fusão que torna possível a dublagem, a
pós-sincronização e os efeitos sonoros. Chion fala do termo trompe-l’oreille (enganar o ouvido), uma analogia
à pintura trompe-l’oeil (engana o olho), para caracterizar um equivalente auditivo alcançado por instrumentos 18
que imitam sons naturais como uma ilusão auditiva fornecida pelo meio, por exemplo, instrumentos musicais
que imitam os sons de alguns pássaros. A imagem pode absorver o som de maneira que vai além da imitação:
uma imagem de um trem com o som de uma máquina de escrever será ainda percebido como o som de um trem.
É uma forma de despistar a presença do óbvio.
Para Chion, a imagem é contida no espaço e o som não. Segundo Robert Stam (2003, p. 239), o som penetra e
ocupa um espaço, “provoca uma sensação de presença aumentada” e assistir um filme sem som, nos dá uma
sensação de achatamento. Os socos na vida real geralmente não fazem barulho, mas no audiovisual o som de
um soco é obrigatório. O som pode ser mediado, construído e codificado pelas diversas técnicas existentes na
atualidade. O sonoro tem a função de dar profundidade à cena, nos dando alegria, tristeza, drama ou medo. O
som pode trazer realismo e, ao mesmo tempo, emoção em uma cena.

Você Sabia?
Trompe-l’oeil é uma técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão ótica
que faz com que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões. Para o psicanalista francês
Jacques Lacan (1901-1981), algumas obras de arte podem tentar um trompe-l’œil, um engano do olhar, mas
todas aspiram a um dompte-regard, a uma domesticação do olhar.

Para o pesquisador Rick Altman (1992), existem quatro falácias (enganos) no que diz respeito ao som: 1) falácia
histórica: historicamente o som veio depois da imagem e seria menos importante (secundário); 2) falácia
ontológica: os teóricos a favor de um cinema mudo entendiam o cinema como uma arte fundada apenas nas
imagens e o som era mero subordinado; 3) falácia reprodutiva: a imagem é criativamente infiel, ao passo que o
som é mecanicamente fiel. Claro que o som é tão importante quanto à imagem e, mesmo que o cinema tenha
privilegiado as imagens, o som não é mero subordinado, mas um parceiro importante do visual. O sonoro é tão 19
criativo quando o imagético, pois pode ser registrado, captado, manipulado e reelaborado.
Dentro de uma obra audiovisual podemos enxergar o som da seguinte forma:

“on screen” (dentro da tela): ouvimos e vemos um personagem. Enxergamos a fonte sonora.

“off screen” (fora da tela): para quando ouvimos a voz de um personagem, mas não o vemos
apesar dele estar fisicamente presente na cena. Por exemplo, alguém que fala na sala ao lado
ou que fala enquanto a câmara mostra outro personagem.

Som diegético: qualquer voz, passagem musical ou efeito sonoro apresentado como fonte de
origem no filme é diegético. O som diegético (ou real) é o som que o personagem (pessoa
fictícia que está na tela, não o ator) presente na cena pode ouvir (sons de carro, multidão,
pássaros, música tocando ao fundo em um bar). Diegesis é uma palavra grega para “história
relatada”. A diegesis do filme é o mundo total da ação da história, é o mundo fictício. Um som
diegético pode variar entre síncrono (som gravado ao mesmo tempo em que a cena ocorre) e
assíncrono (som que não corresponde à imagem, é o som introduzido na edição). Mesmo no
caso da dublagem, com a edição do som, em que se retira a voz dos atores e introduz a voz
do dublador, ainda temos um som diegético síncrono, pois o som ambiente gravado na hora em
que a cena foi filmada permanece, mesmo o diálogo sendo colocado depois. Em resumo, o som
diegético síncrono é o que o personagem ouve, gravado enquanto a cena acontece e sem efeitos.
Um exemplo de som diegético assíncrono é quando você vê uma cena na qual dois personagens
conversam em um restaurante, mas no set de filmagem impera o silêncio; não há o som de
garçons, pessoas falando, talheres, entre outros sons. Tudo é colocado depois. Em resumo, som
diegético assíncrono é o que o personagem ouve, porém na hora da gravação esse som não esta
lá, é colocado depois.
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pontos a música ou os outros recursos especiais são necessários), atualizar informações com o compositor, experimentar

Som não diegético: é o som que se origina fora do filme (como a maioria das músicas de fundo), é o som de comentário.
São as músicas, locuções, trilhas sonoras que os personagens não podem ouvir, mas que são inseridas na pós-produção para
trazer uma profundidade maior para a cena. Você se lembra da cena de Tubarão (Jaws, Direção de Steven Spielberg, 1975)?
Nós ouvimos a trilha que toca quando o tubarão se aproxima, mas os personagens não.

Som meta diegético: é o som que vem do imaginário, algo que não é real para o personagem. O personagem pode ouvir o
som, mas é um som distorcido ou com efeitos não reais. O som meta diegético aparece muito em flashbacks e em sonhos.

Som sincrônico: é o som combinado temporariamente com os movimentos que ocorrem nas imagens, como quando o
diálogo corresponde aos movimentos dos lábios. A norma para os filmes de Hollywood é sincronizar o som e a imagem no
momento da filmagem. O som não sincrônico é quando a imagem não está unida ao som.

Som direto: a música, o ruído e a fala de um evento, no momento da filmagem, são gravados no filme. Sistemas de
estúdio usam vários microfones para gravar o som diretamente e com a máxima clareza. Quando uma pessoa está perto
de nós, ouvimos um som essencialmente direto, incluindo a respiração de baixa frequência. À medida que a pessoa se
afasta, ouvimos mais o som refletido. O som refletido é produzido pelo som direto que encontra obstáculos físicos, como
as paredes.

Sobre a música no audiovisual, Stam (2003) informa que a música pode ser polissêmica, sugestiva, aberta a infinitas
associações. A música mobiliza a alma elevando o pensamento, fazendo com que a imagem e o som sustentem um ao outro.
Em um filme, a música “direciona nossas respostas emocionais, regula nossas simpatias, recolhe nossas lágrimas, excita
nossas glândulas, acalma nossos pulsos e deflagra nossos medos, geralmente em estreita conjunção com a imagem” (STAM,
2003, p. 245).
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São as trilhas descritivas, aquelas que andam junto com a imagem, que desenham através do som toda a ação do filme,
seguindo a linguagem e a emoção que se deseja passar através do áudio.
1.3 O desenho do som na produção audiovisual

Em uma obra audiovisual, o som trabalha em união com a imagem, pois os dois são de
extrema importância para o desenvolvimento das narrativas. Todos os sons (e silêncios) de
uma obra audiovisual formam a sua trilha sonora que é composta por diálogos (se eles existem),
música (ou não) e efeitos diversos. Tais elementos fazem parte do desenho do som e ajudam na
criação do universo sonoro de uma obra, seguindo o roteiro e os direcionamentos do diretor. O
descuido ou falta de qualidade técnica e/ou artística na trilha sonora da obra pode estragar uma produção
audiovisual inteira. O poder do som é enorme e mesmo com a tela preta, sem imagens, o som pode ser uma
poderosa ferramenta para contar histórias.

A intenção do desenho de som é entender, explorar, criar e expandir o conhecimento das técnicas sonoras para
que o projeto audiovisual se torne uma obra de arte. Para Randy Thom (1999), a música, os diálogos e os efeitos
de som podem fazer com que os projetos audiovisuais insinuem um estado de ânimo, evoquem um sentimento.
Segundo Thom, o desenho do som pode ter as seguintes funções utilitárias: determinar um lugar (ruas, hospitais,
escritórios); indicar um cenário geográfico (um país, uma floresta); indicar um período histórico (uma década
com um estilo musical, guerras); esclarecer a trama (revela um assassino pelo assovio); definir um personagem
(uma risada característica); conectar ideias, personagens, lugares, imagens ou momentos que de outra maneira
estariam desconectados; realçar ou atenuar o realismo; realçar ou atenuar a ambiguidade; colocar ou tirar a
atenção ao detalhe; indicar mudanças de tempo; suavizar mudanças de tomadas ou cenas que de outra maneira
seriam abruptas; enfatizar uma transição para um efeito dramático; descrever um espaço acústico; assustar ou
tranquilizar; e exagerar ou atenuar a ação. O som, em qualquer momento dentro de um filme,
está agindo de várias formas ao mesmo tempo. A construção de um som em um produto audiovisual
implica aspectos narrativos (o som como suporte do texto), expressivos (provocam uma projeção
22
sentimental no espectador) e construtivos (relação entre som e imagem para construção da obra).
A imagem e o som se unem para sintetizar informações e criar um novo idioma − a linguagem
audiovisual. O cinema atual não se baseia apenas na linguagem da imagem, mas na linguagem
audiovisual (imagem e som).
O som é tão importante quanto a imagem e um descuido ou falta de aproximação entre ambos, na atualidade, será tão
imperdoável quanto o descuido ou a improvisação na fotografia.

Segundo Chion (1994), somos “vococêntricos” (centrados na voz) ou, mais sutil do que isso, “verbocêntricos” (centrados
na palavra falada). Sentimo-nos atraídos quando ouvimos outra voz. Somos ligados aos diálogos, às dinâmicas vocais
(como a voz off: quando a voz de um personagem não está na imagem), a personalidade vocal (quando uma voz ou gestos
vocais coincidem ou não com a indivíduo que os emite), e a voz interna/interior (quando ouvimos os pensamentos de um
personagem). Além da voz, temos os sons incidentais que reforçam uma ação ou situação. Sons incidentais (ou som de
fundo) são os passos, os gestos, os veículos, entre outros sons que compõem o ambiente para uma cena.

Por fim, temos os motivos sonoros-musicais como aqueles sons ou fragmentos musicais que permitem identificar momentos
cinematográficos associados a personagens ou situações específicas. Você sabia que existem motivos sonoros-musicais que
adquirem identidade própria e transcendem a experiência do filme, por isso são citados constantemente em situações
cotidianas para expressar emoções ou situações concretas? Estou falando daqueles momentos sonoros que existem em
um filme e você vê e jamais esquece. Basta alguém cantarolar o trecho e você imediatamente se lembra de qual obra
audiovisual é.

Curte aí!

Para explorar os motivos sonoros-musicais, indico um jogo sonoro bem bacana. Você clica na
seta, escuta a música e tenta adivinhar o nome do filme. Vamos jogar?
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http://flashpops.com.br/cinema/musicas-de-filmes-i/
Vamos rever!

Estudante, você viu que desenho do som é um elemento fundamental para que uma obra audiovisual
faça sentido e crie uma atmosfera envolvente. Desenhar um som de um filme é, inicialmente,
escrever o roteiro com o som em mente para permitir que o sonoro exerça influência nas decisões
criativas dos outros setores relacionados. O som conta uma história tanto quanto as imagens de um filme.

Um desenhista do som é um profissional que desenvolve certa criação narrativa e dramática, não apenas sonora.

O som penetra e ocupa um espaço, “provoca uma sensação de presença aumentada”, e assistir a um filme sem som, nos
dá uma sensação de achatamento. O som pode ser mediado, construído e codificado pelas diversas técnicas existentes
na atualidade. O sonoro tem a função de dar profundidade a cena, nos dando alegria, tristeza, drama ou medo.

Temos os sons criados do nada, os sons já existentes que são modificados, o som ambiente e o som do silêncio. O som
pode trazer realismo e, ao mesmo tempo, emoção em uma cena. O sonoro é tão criativo quando o imagético, pois pode
ser registrado, captado, manipulado e reelaborado.

O sonoro pode ser gravado junto com as imagens (som ambiente) ou colocado depois. Todos os sons (e silêncios) de uma
obra audiovisual formam a sua trilha sonora, que é composta por diálogos (se eles existem), música (ou não) e efeitos
diversos.

O som, em qualquer momento dentro de um filme, está agindo de várias formas ao mesmo tempo. Somos fascinados
pelo mundo sonoro, pelas vozes. Além da voz, percebemos os sons incidentais que reforçam uma ação ou situação. Sons
incidentais (ou som de fundo) são os passos, os gestos, os veículos, entre outros sons, que compõem o ambiente para
uma cena.

Aqui, na Unidade 1, você viu o exemplo de obras que são lembradas pela sonoridade/musicalidade: Psicose/Psycho
24
(Hitchcock, 1960), Star Wars (Lucas, 1977) e Tubarão/Jaws (Spielberg, 1975). Adicionamos fragmentos sonoros de
videogames, animações, filmes e programas de televisão que acumulamos desde a nossa infância em nossa memória.
Construímos uma linguagem sonora em nossas mentes devido ao que ouvimos na comunicação audiovisual.

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