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Cinema

Material Teórico
Cinema e Produção Cinematográfica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. João Augusto Menoni Vieira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Cinema e Produção Cinematográfica

• Cinema – Indústria, Linguagem e Arte


• Produção Cinematográfica
• Direção
• Departamento de Arte
• Departamento de Fotografia
• Departamento de Som
• Gêneros Cinematográficos

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Entender o que é o Cinema e como ele se constitui – produção,
direção, profissionais e gêneros cinematográficos;
· Conhecer e valorizar a estrutura de uma produção cinematográfica;
· Capacitar o aluno a elaborar um projeto educacional sobre cinema
que englobe as etapas e profissionais necessários para a realização
de um filme.

ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, vamos conhecer de forma geral as etapas que envolvem uma
produção cinematográfica.

Leia o conteúdo que disponibilizamos para você, com calma e atenção, não
se esquecendo de aprofundar seus conhecimentos acessando o Material
Complementar indicado, a Vídeoaula e a Apresentação Narrada. Lembre-se
de que as dúvidas podem ser esclarecidas com o professor-tutor, que está à
sua disposição.

É importante também que você faça as atividades propostas. A Avaliação e a


Atividade Reflexiva, além de pontuarem, são fundamentais para memorização
e reflexão sobre o conhecimento que está à sua disposição.

Importante: respeite os prazos estabelecidos no cronograma.

Bom estudo!
UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Contextualização
O francês André Malraux escreveu em um ensaio, em 1946, que “Além de tudo, o
cinema é uma indústria”. O escritor resumiu todo o contexto que envolve a produção
cinematográfica. Até assistirmos a um filme um longo caminho é percorrido, sendo
necessárias muitas horas de trabalho, dedicação e profissionalismo durante as fases
de pré-produção, produção e pós-produção.

Muitos filmes têm como temática o próprio cinema e que podem e devem ser
utilizados para o estudo de seus conteúdos. Um exemplo é Saneamento Básico
(2007), de Jorge Furtado, que apresenta a história de um grupo de moradores
de uma pequena cidade da Serra do Rio Grande do Sul, que se reúne em busca
de soluções para o problema do tratamento do esgoto da sua comunidade. A
secretária da prefeitura sugere que façam um filme de ficção científica, já que há
uma verba disponível para cultura. Assim, eles começam a desenvolver um projeto
de vídeo. O filme é bastante interessante porque, além dos ótimos atores, Fernanda
Torres, Camila Pitanga, Wagner Moura, Lázaro Ramos, entre outros, que fazem a
trama bem divertida, a produção do vídeo se torna uma verdadeira aula sobre como
fazer cinema.

Você, como professor, pode apresentar o filme na íntegra para seu grupo de
alunos e, ao final, convidá-los a discutir sobre cada um dos elementos que aparecem
no filme como roteiro, cenário, figurino, direção, montagem... Além disso, é
possível propor aos alunos, que, em grupo, façam um pequeno vídeo, por meio
do qual vivenciarão as diversas etapas da produção de um filme. Essa experiência
pode ser prazerosa e bastante eficiente como ferramenta de ensino.

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Cinema – Indústria, Linguagem e Arte
Indústria
“De qualquer forma, o cinema é uma indústria”. (André Malraux, Esboço
de uma psicologia do cinema (ensaio), 1946)

O que é Cinema? A pergunta tem sido feita desde que ele foi criado, no final do
século XIX. Vários livros, ensaios e teses têm sido publicados e debates travados
em busca dessa resposta.

Em síntese, podemos entender que Cinema é a conjugação de técnica, cultura,


arte, divertimento e indústria. Como qualquer produto fabricado, depende de
recursos financeiros, tecnológicos e humanos para prover resultados satisfatórios,
assim como exigem os investimentos.

Hoje, são aplicadas vultosas quantias nas produções cinematográficas e exigido


retorno. Como qualquer indústria, produz um bem para vender e, também, para
vender os produtos de seus patrocinadores.

A indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa


surgem do processo de industrialização desenvolvido a partir da metade do século
XVIII, na Inglaterra.

Meio de comunicação de massa é um termo genérico que se refere a formas de


comunicação “um para muitos”, como TV, rádio, jornais, revistas, livros, folhetos,
cartazes, mídias sociais e até os telefones celulares. E, também, o Cinema.

No clássico do Cinema Tempos Modernos (1936), Charlie Chaplin critica as transfor-


Explor

mações causadas pela Revolução Industrial (Inglaterra, século XVIII) por meio de men-
sagens de cunho social. No filme, um operário de uma linha de montagem, que testou
uma máquina revolucionária para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela
monotonia do seu trabalho.

Figura 1 – Cena de Tempos Modernos (1936), de Charlie Chaplin


Fonte: Wikimedia Commons

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O cinema, originalmente, valorizava a arte da criação sem preocupação com a


inserção de propagandas de cunho comercial. Hoje, grande parte da fonte de ren-
da da indústria cinematográfica vem do merchandising editorial – utilizado inicial-
mente no Cinema – e de patrocínios que o filme recebe de empresas ou pessoas.

São discretas aparições do herói dirigindo um carro, do vilão saindo de um


Banco, do refrigerante servido no jantar, do shampoo utilizado no banho etc.

Na era moderna do Cinema, Bladerunner – O Caçador de Androides (1982),


de Ridley Scott (1937-), é um dos primeiros exemplos de inserção maciça de
merchandising; entretanto, cenas em Casablanca (Michael Curtiz, 1942), nas
quais Humphrey Bogart aparece fumando, já teriam sido patrocinadas.

Merchandising: Citação ou aparição de uma marca, produto ou serviço, sem as caracte-


Explor

rísticas explícitas de anúncio publicitário, em TV, Rádio, Teatro, Cinema etc.

O filme Náufrago (2000), de Robert Zemeckis (1951-), com Tom Hanks, indicado
a dois Oscar e ganhador do Globo de Ouro (2001), explora o merchandising de
forma criativa com o famoso personagem Wilson (uma bola de voleibol) e a grande
veiculação da marca Fedex.

Figura 2 – Bola de voleibol no filme Náufrago (2000), de Robert Zemeckis,


com Tom Hanks, virou um personagem imaginário
Fonte: Wikimedia Commons

No ranking dos produtores mundiais de filmes, Bollywood – palavra derivada


da união de Hollywood e Bombaim (oficialmente, Mumbai), nome da indústria
do cinema na Índia – está no topo com a produção de mais de 1,1 mil filmes
por ano. Mas, surpreendentemente, em segundo lugar está Nollywood, a indústria
cinematográfica da Nigéria, na África, com cerca de mil filmes/ano. Hollywood,
nos Estados Unidos, está em terceiro lugar, com a produção em torno de 700
filmes/ano.

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No Brasil, em 2014, foram lançados 114 filmes nacionais e, em 2013, 129
películas, conforme dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Ainda de
acordo com a agência, em 2014, as salas de cinema brasileiras tiveram alta de
público de 4,1% em relação ao ano anterior, o que representa, no total, cerca de
155 milhões de espectadores.

O professor e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas


(FIPE), José Pastore, elencou alguns dados que traduzem a importância da indústria
cinematográfica:
• Para se produzir um filme, gasta-se, em média, US$ 40 milhões na produção
e cerca de US$ 20 milhões na sua divulgação.
• Apenas 30% dos filmes produzidos no mundo geram lucros compensadores,
o que faz do cinema uma das atividades mais arriscadas no campo do
entretenimento (Harold L. Vogel, Entertainment Industry Economics, 1998).
• Nos Estados Unidos, as atividades culturais e de entretenimento empregam
17 milhões de pessoas. Só de artistas de cinema e TV, há cerca de 120 mil
pessoas trabalhando (30 mil em cinema).No caso do cinema, em torno de
cada artista trabalham cerca de 30 pessoas nas várias atividades de apoio na
criação de equipamentos, roteiros, figurinos e vários outros serviços que são
necessários na produção de um filme. A indústria cinematográfica nos Estados
Unidos, portanto, mantém cerca de 900 mil empregos diretos.
• Depois de pronto, um filme cria uma infinidade de postos de trabalho para ser
divulgado e assistido, incluindo-se atividades de marketing, transporte, casas
de exibição, restaurantes e outras. O cinema é um grande gerador de empre-
gos indiretos.
• Na área da cultura, por unidade de capital investido, o cinema é a segunda
maior fonte de emprego. A primeira é a televisão.
• No Brasil, as atividades culturais em geral empregam cerca de 500 mil pessoas
(José Álvaro Moisés e Roberto Chacon de Albuquerque, A Economia da
Cultura, 1998). Cerca de 3 mil pessoas estão ligadas às atividades do cinema.

Linguagem
Para estruturar sua linguagem única, o Cinema utiliza basicamente a câmera,
a iluminação, o som, a montagem e a edição. Dentro desse contexto, temos o
roteiro, os personagens, o cenário, o figurino, a maquiagem, a trilha sonora, as
trucagens e os efeitos visuais, entre outros elementos.

Conforme Graeme Turner, no livro Cinema como Prática Social (Summus, 1997):
O cinema é um complexo de sistemas significadores e seus significados
são o produto da combinação daqueles. A combinação pode ser realizada
com sistemas complementares ou conflitantes entre si, mas nenhum por
si só é responsável pelo efeito total do filme.

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Dessa forma, o sentido de uma história que está sendo contada em um filme
pode ser definido por vários fatores como, por exemplo, a velocidade com que
a câmera se movimenta, se ele é em preto e branco ou em cores, o ângulo de
filmagem, os planos – por exemplo, plano geral é uma imagem de grandes espaços,
primeiríssimo plano é o close, plano de detalhe é uma parte de um objeto ou
corpo, entre outros elementos.

Figura 3 – O imperador persa Xerxes (Rodrigo Santoro) diante


de seu exército, em 300 (2007), exemplo de plano geral
Fonte: cinemaemserie.com.br

Vemos, frequentemente, a utilização de imagens em preto e branco em filmes


coloridos para dar a impressão de lembranças do passado, ou de cores saturadas
para oferecerem uma percepção distorcida da realidade relacionada, muitas vezes,
a doenças mentais ou ao uso de drogas.

Alfred Hitchcock (1899-1980) foi mestre em contar histórias de suspense e


mistério. O diretor utilizou como ninguém a memória de imagens chamando a
atenção do espectador para objetos como um isqueiro, uma faca, uma luva...

Planos gerais são normalmente utilizados para a filmagem de batalhas ou cenas


de guerras como em 300 (2007), de Zack Snyder (1966-) ou Coração Valente
(1995), de Mel Gibson (1956-).

O ângulo de filmagem é outro elemento do sistema de significação do Cinema


muito interessante. Quando uma pessoa é filmada de cima para baixo (plongée), as
cenas dão a impressão de submissão, mas, se as tomadas forem realizadas de baixo
para cima (contraplongée) é acentuada sua posição de poder.

Em Matilda (1996), de Danny de Vito (1944-), as tomadas em câmera baixa da


rígida diretora da escola fazem com que ela pareça ainda maior e mais assustadora
diante da menina Matilda, filmada de cima para baixo, que parece indefesa.

Tomadas de perspectiva mostram o ponto de vista do personagem e os


movimentos de câmera – para cima e para baixo ou lateralmente, rotação, efeitos
de aproximação e distanciamento também constituem elementos da linguagem
cinematográfica, que buscam, em suma, oferecer a impressão de realidade.

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Figura 4 – Ângulo, um dos elementos do sistema de significação do Cinema
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

A iluminação também participa diretamente da estruturação da atmosfera do


filme, auxiliando o público a entender os elementos de uma cena por meio da
criação de noção de lugar, tempo, clima e estados mentais.

O Cinema nasceu mudo – embora sempre tivesse algum tipo de som acom-
panhando o filme: um piano, uma orquestra, um narrador..., mas logo percebeu
que imagem e som eram indissociáveis. Diálogos, som de fundo, narração, efei-
tos sonoros e a música constituem verdadeiro arsenal que auxiliam a contextua-
lização das cenas.

Quando termina a produção de um filme, inicia-se a pós-produção com o editor


colocando na ordem correta as imagens filmadas fora da sequência, dando, assim,
sentido narrativo. É o momento da montagem.

O cineasta russo Sergei Eisenstein (1898-1948), um dos precursores da


montagem, entendia que “a justaposição de dois planos isolados por meio de sua
união não parece a simples soma de um plano mais outro plano, mas o produto”.

Em O Encouraçado Potemkin (1925), Eisenstein supera o ritmo de muitos dos


atuais videoclipes com a sua montagem. Em poucos segundos intercala dezenas de
planos de um mesmo movimento dos atores, criando uma realidade mais densa e
profunda do que a produzida por câmeras fixas e montagens lineares.

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Figura 5 – Cena de O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein,


um dos grandes filmes do Cinema mudo e notável pelo uso da montagem
Fonte: Wikimedia Commons

A Sétima Arte
Quem ainda não se deparou com a expressão que o Cinema é a sétima arte? O
termo foi estabelecido pelo italiano Ricciotto Canudo, teórico e crítico de Cinema,
no Manifesto das Sete Artes, em 1912 (publicado postumamente apenas em 1923).
Canudo inscreve o Cinema no domínio das outras disciplinas artísticas, conferindo-
lhe um caráter estético e como linguagem, capaz de renovar, transformar e difundir
as outras Artes – Música, Artes Cênicas, Pintura, Arquitetura, Escultura e Literatura.
A curta vida do Cinema produziu incontáveis obras-primas a partir de seu meio
de expressão específico e autônomo, libertando-se, principalmente, do Teatro, ao
longo do tempo.
Literatura, Música, Fotografia e outras importantes formas de Arte são partes
da constituição do Cinema, que é capaz de condensar, assimilar, incorporar e de
se apropriar de uma pluralidade de influências.Trata-se, portanto, de um complexo
multidisciplinar composto de diferentes linguagens.
O Cinema vem em constante progresso, seja em nível técnico – som, cor, ilumina-
ção, mobilidade da câmara, efeitos especiais e, mais recentemente, com as tecnolo-
gias digitais de captação de imagens e montagem, seja em sua linguagem, enquadra-
mentos, escala de planos, montagem, montagem paralela, montagem rápida, elipse
etc., ou em relação à sua diversidade temática. O Cinema evolui. Constantemente.

Produção Cinematográfica
Quando sentamos em uma poltrona de Cinema, ou em frente à TV, computador,
tablet, ao ar livre, para ver um filme, não imaginamos o longo caminho que ele
percorreu até estar à nossa frente.

A produção cinematográfica ocorre em três etapas: pré-produção, produção e


pós-produção: “Com sorte, dinheiro em caixa, profissionais que cumprem prazos,

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catástrofes naturais ausentes e estrelas tranquilas e estáveis, essa trajetória leva de
18 a 24 meses”, afirma Ana Maria Bahiana, em seu livro Como ver um filme
(Nova Fronteira, 2012).

A equipe de filmagem pode ter a seguin-


te configuração: roteirista, produtor, dire-
tor, diretor de arte ou designer (desenhista)
de produção, diretor de fotografia, enge-
nheiro de som, continuísta, figurinista, ele-
tricista, microfonista, entre outros, sendo
que todas as áreas contam com superviso-
res, assistentes e técnicos. O tamanho da
equipe varia de acordo com o orçamento
do filme e o gênero.

O produtor se envolve em todo o proces-


so, desde o desenvolvimento até a finaliza-
ção de um filme. Ele coordena, supervisio-
na e controla a logística, o financiamento,
a contratação de pessoal, os equipamentos
etc. Para ele, além da qualidade fílmica, im-
portam o orçamento e o cronograma de
filmagem. Qualidade, custo, prazos, contri- Figura 6 – Saneamento Básico (2007),
buem para a decisão de qual diretor e ato- dirigido e roteirizado por Jorge Furtado
res contratar. Hoje, é comum produtores (1959-), é um exemplo de um filme
atuarem no mesmo projeto como diretores sobre como produzir um filme
e vice-versa. Fonte: Wikimedia Commons

A verdade é que para se chegar à pré-produção será necessário cumprir um


estágio não menos importante: definir o que será filmado – uma ideia nova, um
livro interessante, uma passagem histórica; o orçamento; o roteiro; o tipo de
diretor – reconhecido, emergente ou estreante; o provável elenco; as locações,
estúdios, se será filmado em película ou em meio digital etc. A redução de custos,
a otimização dos processos de produção, a facilidade de armazenamento e de
distribuição, entre outros fatores, inclusive o ambiental, estão “empurrando” o
Cinema para o mundo digital.

Confira alguns filmes sobre o mundo do cinema:


Explor

• Oito e Meio (Federico Fellini, 1963): mostra um diretor de Cinema que ainda não tem
ideia de como será o seu próximo filme;
• Ed Wood (Tim Burton, 1994): apresenta a vida de Edward Davis Wood Jr., considerado o
pior diretor de todos os tempos;
• Dirigindo no Escuro (Woody Allen, 2002): retrata um cineasta que sofre de cegueira
temporária, mas, mesmo assim, dirige o filme com a ajuda de amigos, sem que os
produtores percebam.

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Pré-Produção
Definidas todas as questões relacionadas ao desenvolvimento do filme, é che-
gada a hora de arregaçar as mangas e partir para a ação. O roteirista – ou rotei-
ristas, pois pode haver mais de um na equipe, é responsável pela transformação
da ideia em um roteiro, que é a descrição do filme, incluindo ambientação, diálo-
gos e ações dos personagens.

Dessa forma, o diretor e a sua equipe começam a imaginar e a contextualizar o


roteiro para ter uma boa noção sobre o produto final. Para definir o conceito visual
do filme, o diretor começa a trabalhar com o diretor de fotografia e o diretor de
arte/designer de produção.

As cenas são decupadas, ou seja, são descritas em storyboards com anotações


técnicas e cênicas para sua gravação. A produção fica encarregada de saber quem
tem de fazer o que e quando. Cabe a ela a tarefa de transformar o roteiro em um
plano de filmagem.

Storyboard: Ilustrações ou imagens produzidas pelo designer de produção ou um


Explor

profissional especialmente contratado para esse fim desenvolvidas em sequência com o


objetivo de pré-visualizar um filme ou animação. Não precisam ser artisticamente perfeitas,
mas devem conter as informações sobre a cena para a equipe de gravação, como os planos
principais, o enquadramento, os ângulos da câmera, o campo de visão e o movimento dos
atores em cena.

Figura 7 – Storyboard do filme Bladerunner – O caçador de androides (Ridley Scott, 1982)


Fonte: Ridley Scott, 1982

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Na pré-produção, a equipe do diretor de arte – figurinista, maquiador, cenógrafo,
entre outros, inicia a elaboração visual dos personagens e ambientes do filme. É a
etapa na qual, normalmente, são pré-selecionadas as locações (locais onde serão
realizadas filmagens) ou “criados” os locais previstos no roteiro com o auxílio de
artistas conceituais.

O lago gelado, cenário de uma das batalhas de Rei Arthur (Antoine Fuqua,
2004), por exemplo, foi criado inicialmente por artistas e, após, encontrado na
Nova Zelândia. Montanhas, geleiras e nuvens foram “agregadas” digitalmente.

Repare nas locações de O Último Imperador (1987), Bernardo Bertolucci (1940-), filme que
Explor

mostra a poética e dramática vida do último imperador da China, Pu Yi, nas claustrofóbicas
paredes, corredores e pátios da Cidade Proibida, em Pequim.

Figura 8 – A Cidade Proibida, na China, locação de


O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci
Fonte: iStock/Getty Images

Produção
Bem, chegou a hora de “rodar” o filme. Ficaram para trás todas as etapas de
pré-produção e, agora, com tudo pronto, ajustado e planejado é o momento de
iniciar a filmagem.

Cada equipe, fotografia, arte e som têm espaços pré-definidos no set (ambiente)
de filmagem e normalmente são gerenciados pelo produtor de set. O material
filmado diariamente passa pelo crivo do diretor e pelos produtores. O desempenho
de atores, da equipe técnica e do próprio diretor ainda pode ser corrigido e as
tomadas de cenas podem ser alteradas.

Entretanto, acontecimentos fora do padrão podem desestabilizar um set de


filmagem ou, em alguns casos, até contribuir.

Ana Maria Bahiana lembra que um tufão de grandes proporções destruiu os


cenários de Apocalipse Now (Francis Ford Coppola, 1979), nas Filipinas; na
véspera do início das filmagens de Chinatown (Roman Polanski, 1974), a atriz Ali

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McGraw se divorcia do produtor Robert Evans e é substituída por Faye Dunaway;


ou durante a filmagem de abertura de O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola,
1972), quando um gato vira-lata pula no colo de Marlon Brando – o gato foi
incorporado ao personagem.

Figura 9 – A presença do gato, de Don Corleone (Marlon Brando), em


O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola, não estava no roteiro
Fonte: imdb.com

Pós-Produção
É o momento no qual o filme se torna um produto audiovisual completo e
recebe a sua forma final por meio da montagem (editor), da sonorização e dos
efeitos visuais e sonoros. Se o montador não dispuser dos planos necessários, não
poderá fazer muita coisa. Filmes podem literalmente renascer na pós-produção.

Assim que o negativo do filme – se foi produzido em película – chega ao


laboratório, ele é revelado e “telecinado”, ou seja, escaneado para o computador.
É iniciada, então, a edição, quando são escolhidas as melhores cenas e planos.

Nessa fase, som e imagem são sincronizados e acrescentados os ruídos


ambientais. Caso alguma fala dos atores não tenha ficado boa, é realizada a
dublagem. A trilha sonora também é aplicada na pós-produção.

Depois de concluído, há as fases de divulgação, distribuição e exibição no circuito


comercial e o circuito alternativo de festivais, mostras e exibições cinematográficas,
sejam longas ou curtas-metragens, documentários e filmes experimentais. Há,
também, o mercado de vídeo, no qual, muitas vezes, filmes acabam gerando
grandes lucros.

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Importante! Importante!

Confira o making off de um filme – conteúdo extra ou especial que está incluído em


DVDs. É uma forma muito interessante de conhecer o que aconteceu nos bastidores
durante a filmagem.

Figura 10 – O ator Robert Downey Jr. aguarda enquanto os técnicos


preparam a armadura do Homem de Ferro, em Os Vingadores (2012)
Fonte: imdb.com

Existem inúmeros exemplos da importância da pós-produção no Cinema, etapa


que, literalmente, contribui para o sucesso de um filme.

Walter Murch (1943-), editor/montador, designer de som (termo cunhado por


ele), diretor e roteirista, é um bom exemplo.

Parceiro constante de diretores como George Lucas e Francis Ford Coppola,


editou o som em American Graffiti (1973) e em O Poderoso Chefão: Parte
II (1974), foi indicado pela primeira vez ao Oscar por A Conversação (1974),
ganhou seu primeiro Oscar com Apocalypse Now (1979) e é protagonista de um
fato sem precedente: ganhou dois Oscar para Melhor Som e Melhor Montagem
por seu trabalho em O Paciente Inglês (1996).

“A essa altura, você provavelmente nota que está vendo um filme, e não uma
imitação da vida real. Até mesmo os sonhos, em seu peculiar surrealismo, não são
assim. É isso que torna nosso trabalho tão especial e único.” A afirmação da Murch
se refere à fantástica sequência inicial de Apocalypse Now (Francis Ford Coppola)
na qual, ao som de The End, do The Doors, o capitão Willard (Martin Sheen)
aguarda, em um quarto em Saigon, sua próxima missão secreta no Vietnã.

Murch recebeu de Coppola 16 meses conturbados de filmagens, que poderiam


resultar em um tremendo caos, mas, em suas mãos, transformaram-se em ordem,
em um dos mais marcantes filmes do cinema mundial.

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Direção
Nas primeiras décadas do Cinema, final do século XIX e início do século XX, o
público praticamente desconhecia o diretor dos filmes e o seu trabalho. O chamariz
eram o tema e os astros.

Em meados dos anos 1950, jovens críticos da


revista francesa Cahiers Du Cinéma utilizaram a
expressão “teoria do autor” com o argumento de
que, apesar de coletivo, um filme sempre leva a
assinatura do diretor.

A partir de então, o diretor foi reconhecido


como o “criador” do filme. Hoje, grande parte do
público comenta sobre o último filme de Tarantino,
Spielberg... ou sobre grandes diretores do passado
como Bergman e Fellini. É o cinema de autor.

O diretor é essencial para a percepção de um


filme; é o responsável pelo resultado final das
imagens, supervisionando os aspectos criativos,
dirigindo atores e como eles devem se movimentar Figura 11 – A revista francesa
e interpretar suas falas em cada cena e decide Cahiers du Cinéma foi criada, em
também a movimentação da câmera com o objetivo 1951, por André Bazin, Jacques
de registrar de maneira eficaz cada ação e cada Doniol-Valcroze e
detalhe. Entretanto, o trabalho do diretor inicia Joseph-Marie LoDuca
muito antes de sua atuação no set de filmagem. Fonte: tudosobreseufilme.com.br

A preparação é fundamental para a execução de um bom filme. O roteiro


técnico, resultado de sua decupagem de direção (visualização do filme por meio dos
planos), a planta baixa do set com os planos e movimento dos atores e, também,
o storyboard, são capitais.

Decupagem de direção é um diagrama dos planos no qual o diretor define a sua


forma de filmagem do roteiro, incluindo movimentos de câmera e o ângulo. Cada
plano é utilizado para uma finalidade específica.

Os tipos de planos descrevem a distância da câmera em relação ao objeto/


personagem, variando de plano próximo (close-up) a plano geral, comunicando
mensagens para o espectador. Já a planta baixa do set é uma visão octogonal,
de cima, do set de filmagem. Nela, o diretor define o movimento dos atores, da
câmera, os planos e as lentes que utilizará.

A seleção do elenco do filme exige, por parte do diretor, total compreensão de


quem são as personagens e qual ator se adapta melhor. A aparência nem sempre é
importante, vez que maquiagem e figurino estão aí para fazer os ajustes necessários.

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Os primeiros ensaios geralmente são de leitura dramática do roteiro, quando
o elenco passa os diálogos em conjunto. Na próxima etapa, são introduzidas as
ações, quando são planejados os movimentos dos atores.

Figura 12 – Federico Fellini (1920-1993) é um dos diretores que fazem cinema de autor
Fonte: Wikimedia Commons

No set, as principais funções do diretor são: instruir a equipe técnica sobre


como filmar cada plano, monitorando o movimento dos atores em cena e as
suas atuações, com assessoria dos diretores de fotografia e de arte e, ainda,
administrar questões como pressões de diversas partes e se atualizar sobre o
orçamento do filme, entre tantas outras funções. O diretor também acompanha a
primeira cópia, resultado da primeira montagem – supervisionada por ele, e todo
o processo de finalização.

Em um sistema industrial de produção, não são todos os diretores que têm o


direito sobre a palavra final da edição do filme. O direito, normalmente, é reservado
aos produtores que, por meio de pesquisas ou de pré-apresentações, constatam o
que o público quer.

O diretor conta, dependendo do porte do filme, com uma equipe de profissionais


que o auxiliam na função de dar vida ao roteiro como, por exemplo:
• 1º assistente de direção: Assessora o diretor em suas tarefas criativas e
administrativas, fazendo a ligação com a equipe técnica; administra, no set de
filmagem, os recursos da produção e o cumprimento diário de filmagem; é o
elo entre a produção e a direção;
• 2º assistente de direção: Cuida para que os atores estejam no set nos
horários previstos, bate o texto com os atores quando necessário e substitui o
1º assistente de direção;
• Continuísta: Representa o montador/editor junto ao diretor, assessorando-o
na continuidade dos planos, movimentos dos atores, figurinos, cenografia etc.
Produz boletins diários de continuidade;
• Coreógrafo: Profissional responsável pela coreografia das danças dos artistas;

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• Diretor de dublês: Contrata e coordena o trabalho dos dublês. Pode dirigir as


cenas nas quais a atuação dos dublês constitui perigo para esses profissionais;
• Produtor de elenco: É o responsável pela escolha dos atores que serão levados
para a aprovação do diretor;
• Técnico de efeitos especiais: Assessora o diretor na execução de efeitos
mecânicos durante as filmagens como incêndios, tiros, bombas, armas etc.;
• Técnico de efeitos visuais: A presença desse profissional ganhou importância
com a sofisticação e a adoção cada vez maior dos efeitos visuais e digitais nos
filmes. Também, em alguns casos, pode assumir a direção da cena quando
atores contracenam com objetos, pessoas e animais que serão inseridos por
computação gráfica.

Você Sabia? Importante!

Os dublês são atores que substituem os artistas em cenas perigosas. São escolhidos
pela semelhança física e caracterizados de forma idêntica ao astro substituído nas
cenas. Jackie Chan (A Hora do Rush, 1998, e O Mestre Invencível, 1978) é famoso por
dispensar dublês.

Figura 13 – Jackie Chan em ação, sem dublês


Fonte: cinemaemcena.com.br

Departamento de Arte
Ligado diretamente ao diretor, o Departamento de Arte tem a tarefa de criar e
produzir a identidade visual do filme, de transmitir as ideias do roteiro ao ambiente
dos personagens, juntamente com o diretor e o diretor de fotografia.

O chefe do Departamento de Arte é o designer (desenhista) de produção – no


início do Cinema, essa função era desempenhada pelo diretor de arte. Hoje, em
grandes produções, o diretor de arte reporta-se ao designer de produção e cuida

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da realização dos cenários e preparação de locações. Em produções menores, o
diretor de arte acumula as duas funções.

Ao designer de produção/diretor de arte cabe encontrar a forma visual do filme


e como isso se expressa na realização de cenários, na escolha das locações e no
desenho dos figurinos, por exemplo. Também são funções desses profissionais
a adequação da linguagem visual aos diferentes momentos do filme e como os
ambientes se relacionam com os personagens e a narrativa. É o momento no qual
a imaginação se transforma em realidade.

Ao departamento de arte cabe auxiliar o diretor na escolha das locações e


adequá-las às demandas do projeto, conceber e supervisionar a construção de
cenários, definir com o diretor de fotografia a paleta de cores do filme, conceber,
desenhar e executar o aspecto visual dos personagens, entre outras funções.

Grandes diretores de cinema formaram duplas com diretores de arte que


se tornaram famosas como Fellini e Danilo Donati; Scorsese e Dante Ferretti;
Bergman e Marik Vos-Lundh; e os irmãos Joel/Ethan Coen e Dennis Gassner.

Em Onde os Fracos Não Têm Vez (Joel e Ethan Coen, 2007), os tons naturais do deserto – bege,
Explor

areia, ocre, azul – dominam a paleta de cores durante a primeira parte do filme. A partir do
momento em que o personagem de Javier Bardem assume o comando da história, as cores
dominantes passam a ser laranja e vermelho, acompanhando um mundo sangrento.

Figura 14 – Cena de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), de


Joel e Ethan Coen, mostra a paleta de cores do deserto
Fonte: revistamoviola.com

O Departamento de Arte geralmente conta com os seguintes profissionais:


• Cabeleireiro: Cuida dos penteados e perucas dos atores; trabalha em conjunto
com o maquiador;
• Cenógrafo: Responsável pela planta baixa do cenário criado pelo designer de
produção/diretor de arte; acompanha a execução do cenário pelo cenotécnico;
• Cenotécnico: Sua equipe constrói o cenário conforme as especificações
do cenógrafo;

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

• Contrarregra de cena: Auxilia a decoração do set de filmagem, sendo o


responsável pela guarda dos objetos que serão utilizados nas cenas;
• Designer de produção (desenhista de produção): Responsável, junto ao
diretor, pelo visual e ambientação do filme. Em uma primeira instância, cabe
a ele escolher as locações, a ambientação e as cores. É o responsável pela
criação do storyboard do filme quando solicitado pelo diretor, ou delega essa
função a um profissional de arte sob sua supervisão;
• Diretor de arte: Atua diretamente com o designer de produção, executando
suas instruções como o desenho e ambientação dos cenários e supervisão de
sua execução junto ao cenógrafo;
• Figurinista: Responsável pelo desenho das roupas usadas pelos atores,
seguindo orientação do designer de produção. É auxiliado pelo supervisor de
figurino, que gerencia o guarda-roupa, cuida e organiza os figurinos;
• Gerente de locações: Profissional encarregado de obter as locações sob a
supervisão do designer de produção, tratando as questões administrativas
relacionadas às contratações dos locais onde as cenas serão filmadas;
• Maquiador: Responsável pela maquiagem dos atores sob a supervisão do
designer de produção e do diretor de fotografia;
• Maquiador de efeitos: Atua quando as cenas exigem efeitos cênicos
de maquiagem como, por exemplo, sangue, envelhecimento dos atores,
machucados etc.

Departamento de Fotografia
Outro parceiro fundamental do diretor é o diretor de fotografia, responsável
por tudo o que se relaciona com a câmera – localização, movimento, lentes, filme,
foco etc.

O Departamento de Fotografia também tem sob sua responsabilidade a


iluminação do set de filmagem ou da locação. Cabe à área, após o Departamento
de Arte definir a atmosfera visual do filme e suas alterações, captar as imagens de
forma que contemplem as expectativas do diretor e do designer de produção.

Mas, como isso é feito?

A partir da escolha dos tipos de câmeras, filmes, lentes, filtros e se será captado
em meio digital ou película, entre outras decisões.

O Departamento de Fotografia tem, em sua composição, os seguintes profissionais:


• Cameraman (operador de câmera): Responsável, junto ao diretor de
fotografia, pelos enquadramentos e planos com movimentos de câmera. O
profissional também pode manusear o steadycam, equipamento utilizado
junto ao corpo, que permite movimentar a câmera de maneira estável, mesmo
em movimento;

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• Diretor de fotografia: Profissional responsável pela escolha dos ângulos,
movimentação e enquadramento da câmera e pela iluminação;
• Eletricista-chefe: Seleciona o equipamento de iluminação necessário,
direciona o foco de luz dos refletores para o ambiente a ser filmado e posiciona
os filtros nos refletores;
• Gaffer: Coordena o plano de iluminação de cada cena, tendo conhecimento
de onde cada ponto de luz deve estar e que intensidade deve ter, entre outras
funções; reporta-se diretamente ao diretor de fotografia;
• Maquinista-chefe: Seleciona o equipamento e disponibiliza os meios
necessários para o trabalho do eletricista e do câmera;
• Marcador de cena: Opera a claquete no início de cada tomada.

Claquete: Quando a gravação de uma tomada (take) é iniciada, uma pessoa segura a
Explor

claquete na frente da câmera e lê as informações que foram escritas na lousa da claquete,


como o número da cena e da tomada e, em seguida, bate a claquete. O som causado pela
batida da claquete possibilita sincronizar imagem e som, ficando mais fácil editar as cenas.
Hoje, existem as claquetes digitais.

Figura 15 – Claquete tradicional e claquete digital


Fonte: iStock/Getty Images

Departamento de Som
O som é um dos elementos fundamentais na composição de um filme, embora
ainda possamos produzir filmes mudos. Hoje, estamos tão acostumados a sons de
passos, portas rangendo, cascos de cavalo batendo no solo, gritos, freadas, carros
derrapando em alta velocidade que, muitas vezes, não os percebemos. Por sua vez,
a trilha sonora amplifica o estado emocional do espectador, fazendo com que as
emoções sejam reforçadas em determinadas cenas.

O engenheiro (ou técnico) de som é o chefe do Departamento de Som no


set, sendo responsável pela gravação de todos os sons durante a filmagem. O
profissional seleciona e combina diferentes tipos de microfones, opera dispositivos

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

de gravação e, algumas vezes, mixa sinais de áudio em tempo real. A função


ganhou, recentemente, a denominação de desenhista de som.

Complementam a equipe o técnico de captação de som, responsável pela


gravação no set dos diálogos, ruídos ambientais e playbacks – música gravada
anteriormente que serve de guia para canto e dança dos atores. E, por fim, o
microfonista, que posiciona o microfone, geralmente com uma vara chamada
boom, o mais próximo possível dos atores, para que o equipamento não interfira
no enquadramento da câmera, nem apareça na imagem.

Figura 16 – O som é um dos elementos fundamentais na composição de um filme


Fonte: iStock/Getty Images

Gêneros Cinematográficos
O conceito de gênero surgiu na era dos estúdios de Hollywood, nos anos 1930,
facilitando decisões de produção e de comercialização dos filmes, além de servir de
modelo a roteiristas.

Na época, os estúdios se especializaram em gêneros como, por exemplo,


Universal e Hammer com terror e Paramont e Ealing com comédia.

Alguns diretores também vincularam seus nomes aos gêneros como Alfred
Hitchcock, com seus filmes de suspense. Atualmente, existem gêneros, subgêneros,
tipos, uma infinidade não tão rígida de classificações e definições.

Genre (gênero, em francês) significa tipo. O termo traduz uma forma rápida
e prática de categorizar e identificar filmes que têm enredos, personagens,
ambientação e temas semelhantes. Muitos filmes misturam vários gêneros como
Bladerunner – O Caçador de Androides (Ridley Scott, 1982), com ficção científica
e suspense. Ao aderirem a uma série de convenções narrativas representativas dos
gêneros, os filmes facilitam o reconhecimento do público e a sua aceitação.

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Um gênero, conforme Ana Maria Bahiana (Como Ver um Filme, Nova
Fronteira, 2012), pode ser definido pela narrativa (tramas, premissas e estruturas
parecidas; obstáculos, conflitos e resoluções previsíveis), pela caracterização dos
personagens, temas básicos, ambiente, iconografia (uso de ícones semelhantes
como objetos, atores, cenários, linguagem), técnicas e estilo (iluminação, paleta
de cores, movimentação da câmera e enquadramento). Dessa forma, chegamos a
cinco gêneros cinematográficos: drama, comédia, ação/aventura, ficção científica/
fantasia e thriller – suspense e terror).
A classificação de Bahiana leva em consideração os princípios básicos de cada
gênero, possibilitando que um western, por exemplo, que muitos autores indicam
como gênero, encaixe-se em drama, comédia, ação/aventura.
Banzé no Oeste (1974), dirigido por Mel Brooks (1926-), é um dos representantes
da comédia caubói norte-americana e o western Rastros de Ódio (1956), de John
Ford (1894-1973), de um drama. Aliás, a grande maioria dos faroestes são dramas.

A mesma relação pode ser feita com


os musicais, que tanto podem ser dramas,
quanto comédias, filmes de terror, como
A Pequena Loja de Horrores (1986), de
Frank Oz (1944-), ou fantasia, como O
Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming
(1889-1949) e Pink Floyd – The Wall
(1982), de Alan Parker (1944-). A autora
também não inclui os filmes de animação
entre os gêneros que, segundo ela, “podem
ser absolutamente tudo”.
A partir desse conceito, podem ser
realizadas inúmeras associações para a
identificação de subgêneros ou estilos como
local, época, subtemas.
Dessa forma, um drama sobre conflito
armado pode tornar-se o subgênero drama
de guerra e assim por diante, tendo, cada Figura 17 – Pink Floyd – The Wall (1982),
um, seu próprio conjunto de normas e de Alan Parker: musical/fantasia
elementos-chave. Fonte: Wikimedia Commons

Drama – Questões Éticas e Morais


O drama é, certamente, o mais abrangente e difícil gênero para ser definido.
Nele, diversas obras se cruzam com os mais variados estilos. Por outro lado, é quase
impossível que um filme narrativo, de qualquer tipo, não possua algum conteúdo
dramático de maior ou menor densidade, em maior ou menor grau.

A seriedade dos fatos é uma das qualidades que o drama procura salientar, sendo
objeto o ser humano comum em situações quotidianas com implicações afetivas ou
em polêmicas sociais.

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Ao contrário da comédia, que sublinha as fragilidades ou vícios do ser humano,


o drama aborda consequências emocionais inusitadas e profundas.

Essa propensão ao realismo mostra os problemas da sociedade com suas normas


e valores, bem como o lugar do indivíduo nesse contexto. Assim, a tensão dramática
se apresenta sobre aqueles personagens que se confrontam com situações de
adversidade.

A prevalência do drama como gênero-mestre do cinema está relacionada


ao fato de que emocionar e chorar é universal, ultrapassa fronteiras, idiomas e
peculiaridades culturais, enquanto a comédia, por exemplo, é, em grande parte,
específica e cultural.

Uma comédia em um país pode ser recebida como ofensa em outro. Dessa
forma, o cinema tratou de codificar o gênero drama em torno de alguns temas-
chave como superação, heroísmo, destino (fatalidade, acaso, missão), descobertas
interiores e grandes questões morais (dilemas).

Podemos identificar, a partir do seu núcleo temático, subdivisões – que podem


ser quase inesgotáveis – relacionadas ao gênero drama:
• Drama social: Personagens em confronto com uma concepção do mundo na
qual eles têm dificuldade em encontrar o seu lugar e as suas referências, sendo
muitas vezes vítimas de contextos que negam ou agridem os seus direitos
elementares. Exemplos: Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie
Faris, 2006) e Clube de Compras Dallas (Jean-Marc Vallée, 2013);
• Drama de guerra: Circunstâncias de elevada violência, como são necessa-
riamente os cenários de guerra ou as suas consequências; perante o inimigo
e perante a morte, o indivíduo questiona ou descobre a sua plena e autêntica
humanidade (ou a sua ausência). Exemplos: O Resgate do Soldado Ryan
(Steven Spielberg, 1998) e Soldado Anônimo (Sam Mendes, 2005);
• Drama psicológico: O indivíduo está em confronto consigo mesmo, com os
seus medos ou incertezas, com a sua insegurança ou com as suas convicções.
Exemplos: Um Estranho no Ninho (Milos Forman, 1975) e Cisne Negro
(Darren Aronofsky, 2010);
• Drama romântico: Volta a atenção para as relações afetivas de maior intimi-
dade ou cumplicidade, com as suas dificuldades. Suscita grande envolvimento
do espectador. Exemplos: Romeu e Julieta (Franco Zeffirelli, 1968) e Titanic
(James Cameron, 1997);
• Drama familiar: Vai do filme independente, centrado frequentemente na de-
sagregação familiar, ao melodrama, com o conflito de gerações ou o precon-
ceito moral, passando pelo teen age movie, voltado às dificuldades de amadu-
recimento do indivíduo. Exemplos: Kramer versus Kramer (Robert Benton,
1979) e Álbum de Família (John Wells, 2013);

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• Drama político: Questiona ou promove paradigmas ou valores políticos
vigentes e as suas implicações, retratando épocas ou acontecimentos decisivos
na história das sociedades ou das nações. Exemplos: Todos os Homens do
Presidente (Alan J. Pakula, 1976) e Pra Frente Brasil (Roberto Farias, 1982);
• Drama histórico/biografias: Retrato de fatos históricos ou de personalidades
de elevada importância. Políticos, artistas, desportistas e personalidades
malditas ou proscritas, são os temas. Exemplos: Alexandre Nevsky (Sergei
Eisenstein, 1938) e Maria Antonieta (Sofia Coppola, 2006);
• Drama de crime/policial: Sua expressão se dá por meio da violência e
de emoções extremas em um mundo no qual as leis da normalidade não
vigoram e os valores podem ser revertidos com consequências fatais. No
final, geralmente, o bem supera o mal e o bandido é punido ou descoberto.
Exemplos: The Musketeers of Pig Alley (D. W. Griffith, 1912) e Scarface
(Brian de Palma, 1982).

Figura 18 – Cena de Scarface (1982), de Brian de Palma: drama de crime (policial)


Fonte:imdb.com

Comédia – Diversão Garantida


Rir de tudo, até mesmo rir do mal e da desgraça alheia (muitas vezes da própria
desgraça) é uma característica do ser humano, e a comédia, seja visual ou verbal,
é uma prova disso.

O gênero tende a ressaltar as fragilidades das pessoas como o vício, a


negligência, a pompa, a presunção ou a insensatez, por exemplo. A comédia não
exige protagonistas complexos ou nobres, ao contrário, eles podem ser simples,
inocentes e simpáticos, como Jerry Lewis, Buster Keaton, Três Patetas, Oscarito,
Grande Otelo, Gordo e o Magro, Inspetor Clouzot e, claro, Charlie Chaplin e o seu
sábio mendigo Carlitos.

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

A comédia no cinema recorre a diversos recursos como estratégia humorística.


Confira alguns delas:
• Absurdo: É o nonsense (substantivo em inglês, que significa sem sentido,
absurdo ou contrassenso), que tende a acentuar a vulnerabilidade da lógica
causal dos acontecimentos;
• Agravamento: Peripécias se sucedem em uma lógica desconcertante crescente;
• Descontextualização: Retira ideias ou fatos do contexto, para expor no-
vos significados;
• Equívoco: Divergência de interpretação entre os participantes ou interlocutores
em relação a um mesmo fato;
• Exagero: Fundamenta-se na lógica do excesso e tende a despertar no
espectador uma sensação de incredulidade;
• Imprevisto: Desilude ou contraria
todas as expectativas criadas para
uma dada situação;
• Insólito: Nega qualquer desfecho
vislumbrado ou previsível para uma
situação.

Desde a criação do Cinema, a comé-


dia apresenta longa relação com o espec-
tador com, por exemplo, Georges Méliès
(ilusionismo), Charlie Chaplin (mímica),
Buster Keaton (humor pela inexpressi-
vidade), e o ciclo de paródias (imitação
satírica de uma obra séria) que, desde os
anos 1970, acentuam cada vez mais o
seu tom de farsa e refinam sua ironia.

A comédia pode igualmente se desdo-


Figura 19 – Marinheiro por Descuido (1924),
brar em várias modalidades, dependendo
de Buster Keaton e Donald Crisp, foi eleito
do tom ou do propósito com que o hu- pelo American Film Institute como uma das 100
mor é utilizado. Vejamos algumas modali- melhores comédias de todos os tempos
dades de comédias: Fonte: Wikimedia Commons

• Sátira: Produz um discurso crítico altamente contundente, que pode mesmo


conduzir à humilhação;
• Ironia: Divergência do sentido literal e do sentido figurado, afirmando algo
para insinuar o seu contrário;
• Ridículo: Releva a insignificância de valores ou sublinha a hipocrisia de certas
convenções;
• Espirituoso: Utilização elegante do humor, aliando sabedoria, ironia, subtileza
e perspicácia.

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A comédia, como todos os gêneros, também tem as suas subdivisões, que alguns
autores consideram subgêneros:
• Comédia romântica: Tendo como tema principal o amor, apresenta,
basicamente, desencontros, entre um momento inicial de desprezo e eventual
ruptura do casal a um momento de aproximação e reconciliação no final.
Exemplos: Não me mandem Flores (Norman Jewison, 1964), com Doris Day
e Rock Hudson, e Quatro Casamentos e um Funeral (Mike Newell,1994);
• Comédia dramática: Concilia o tom da comédia com a gravidade da abordagem
do drama, criando uma alternância de registros discursivos que se apossa da
seriedade e da solenidade das situações e dos personagens para exibir o seu
reverso irônico. Exemplos: Bonequinha de Luxo (Blake Edwards, 1961), com
Audrey Hepburn, e Quem quer ser um Milionário? (Danny Boyle, 2009);
• Comédia negra/sinistra: Inverte os valores vigentes, exibindo o absurdo
da existência humana de forma contundente em situações extremas como
violência, morte e outros temas sombrios. O tom é quase sempre de farsa.
Exemplos: Arizona Nunca Mais (Joel e Ethan Coen, 1987) e Matadores de
Velhinhas (Joel e Ethan Coen, 2004);
• Comédia de costumes: É uma co-
média cerebral, na qual ideias, iro-
nias, sarcasmo e referências culturais
provocam o riso, sem necessidade
de situações ou gestos exagerados,
por meio de jogos de linguagem, tro-
cadilhos, insinuações e sentidos ocul-
tos. É fundamental a qualidade da es-
crita dos diálogos. Exemplos: Noivo
Neurótico, Noiva Nervosa (Woody
Allen, 1977) e Eu quero ser John
Malkovitch (Spike Jonze, 1999);
• Comédia slapstick (pastelão): Hu-
mor físico, sendo o corpo e a mímica
fundamentais. Representação exage-
rada da violência sem consequências,
acompanhada de sons irreais. Paste-
lão: nome decorrente da tradicional
cena da torta na cara. Exemplos: Figura 20 – Em O Sentido da Vida (1983), de Terry
Papagaiadas (Preston Black, 1936), Jones, o grupo de comédia britânico Monty Python
com os Três Patetas, e O Sentido apresenta vários esquetes (pequenas cenas) que
da Vida (Terry Jones, 1983), com o mostram os prazeres de comer até estourar
grupo britânico Monty Python. Fonte: imdb.com

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Ação e Aventura – A Jornada do Herói


O filme de ação é, basicamente, um drama no qual a narrativa são os feitos e os
atos – e não o diálogo. E o filme de aventura é um filme de ação que se passa em
um local exótico, imaginário ou em outra época.

O gênero é nitidamente voltado ao entretenimento, não objetivando discutir


temas controversos ou problematizar situações ambíguas. Sequências como Duro
de Matar e Máquina Mortífera são típicos filmes de ação e franquias como Indiana
Jones e Piratas do Caribe, aventuras. Ação e aventura podem ser mesclados com
drama, comédia ou ficção científica.

Os filmes do gênero costumam atrair grandes públicos a partir de uma fórmula


simples, convencional e facilmente reconhecível: tramas eletrizantes, proezas
físicas – herói musculoso de poucas palavras – e efeitos especiais como explosões,
perseguições e fugas intermináveis.

O ritmo trepidante da montagem serve ao desenvolvimento da ação e à


intensificação dos momentos dramáticos, assim como a utilização da música, que
salienta emocionalmente o tom de uma situação ou o estado de um personagem,
além do uso da fotografia, que está a serviço da fácil decodificação da narrativa.

O gênero versa sobre o herói e a sua


capacidade de superação de obstáculos
invocando o nosso herói interior – des-
perta recursos de coragem, resistência,
abnegação, engenho.

O herói está permanentemente exposto


a testes de virtudes como força de vontade,
persistência, inteligência, bravura e capaci-
dade de autossacrifício, entre outros.

Se ele tiver uma frase-chave ou um


bordão, melhor, como “Hasta la vista,
baby”, dita pela primeira vez por Arnold
Schwarzenegger, em O Exterminador do
Futuro 2: O Julgamento Final (James Ca-
meron,1991), ou “Bond, James Bond”, Figura 21 – O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento
em 007 Contra o Satânico Dr. No (Te- Final (1991), de James Cameron, apresentou efeitos
rence Young, 1963) e o nacional “Pede computadorizados inovadores e popularizou a
pra Sair”, frase do capitão Nascimento em clássica frase “Hasta la vista, baby”
Tropa de Elite (José Padilha, 2007). Fonte: imdb.com

O triunfo do bem contra o mal é uma das características dos filmes de ação
e aventura. Os heróis e os vilões são claramente caracterizados e contrapostos
com pouco espaço para uma caracterização densa, ambígua ou complexa
dos personagens.

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Alguns elementos são essenciais para uma boa ação nas telas como heróis
extraordinários, inimigo à altura, obstáculos igualmente extraordinários e violência,
muita violência.

No final dos anos 1960, Bonnie and Clyde (Arthur Penn, 1967) e Meu Ódio
será a tua Herança (Sam Peckinpah, 1969) marcam o gênero, especialmente pelo
uso da câmera lenta (slowmotion) e pelos esguichos de sangue na representação
da violência. Mas, foi na década de 1980 com Rambo – Programado para Matar
(Ted Kotcheff, 1982), com Sylvester Stallone, e Conan, o Bárbaro (John Milius,
1982), com Schwarzenegger, que o gênero decolou.

Mel Gibson e Bruce Willis engordam a lista de atores-destaque do gênero,


assim como Tom Cruise, Keanu Reeves, Uma Thurman, Jet Li e Lucy Liu. Clint
Eastwood e Charles Bronson, nos anos 1960 e 1970, não ficam para trás. A lista
parece interminável.

Ficção Científica e Fantasia – O Poder da Imaginação


Estamos prestes a nos aventurar por territórios além do plano físico, no qual a
imaginação e o inconsciente dominam as cenas, e as narrativas estão mais ligadas
a processos psicoanalíticos e filosóficos do que à dramaturgia.

É um mundo no qual o rigor do saber científico está intimamente ligado à


liberdade da imaginação. Ficção científica e fantasia tomam como premissas o
conhecimento científico vigente ou as expectativas de um determinado fato ou
fenômeno a partir de elementos comuns como a elaboração de questões atuais,
a resolução de problemas difíceis e o poder da imaginação. Mesmo que um filme
inicie com “em uma terra distante a milhares de anos luz”, invariavelmente algum
tema estará relacionado ao tempo de hoje como desumanização, superpopulação,
poluição, totalitarismo, epidemias ou a questão nuclear, entre outros.

Desde a sua origem, o Cinema demonstrou especial interesse na ficção científica


como, por exemplo, em Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès, no qual o
professor Barbenfouillis (interpretado pelo próprio Méliès) propõe uma viagem ao
satélite natural como forma de escapar da fumaça das fábricas que começavam a
se proliferar na Terra.

Em O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939) há uma clara distinção entre fantasia


e realidade com a vida de Dorothy (Judy Garland), no Kansas, apresentada em
sépia e a Terra de Oz em um colorido espetacular.

Não causa estranheza que, atualmente, em uma sociedade altamente tecnológica


a ficção científica e a fantasia mantenham grande interesse do público a partir de
temas como o ciberespaço e a exploração espacial.

A ficção científica busca projetar o futuro da Humanidade por meio de cenários


cibernéticos, metropolitanos, espaciais ou apocalípticos, de objetos (design
futurista?) e de personagens como aliens, robôs e androides.

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Várias dessas projeções realizadas pelo Cinema acabaram se tornando realidade,


como a própria viagem à lua.

As formas de organização social ou política também são temas recorrentes no


gênero, retratadas muitas vezes com visão pessimista. A ligação entre a ficção
científica e o fantástico nos leva a perceber a proximidade do gênero com o terror
e a ação.

Alien, o 8º Passageiro (Ridley Scott,


1979) é um bom exemplo. Mais do que
qualquer outro, o gênero, hoje, depende
muito de efeitos especiais. Guerra nas Es-
trelas (George Lucas), em 1977, iniciou
uma nova era no cinema com a utilização
de 40 segundos de imagens geradas por
computador. Já Matrix (1999), dos irmãos
Andy (1967-) e Larry Wachowski (1965-),
é totalmente dependente da ferramenta.

Na ficção científica, há noção de lógica


relacionada à teoria científica; na fantasia,
elementos do absurdo, sobrenatural e místico
são naturalmente aceitos, com o tempo e o
espaço flexíveis e a tecnologia desnecessária.

Na realidade, a fantasia está além de


qualquer conexão com a realidade. Asas do Figura 22 – Alien, o 8º Passageiro (1979), de
Desejo (Wim Wenders, 1988) e O Labirinto Ridley Scott, reúne ficção científica e terror
do Fauno (Guillermo del Toro, 2006) mos- Fonte: Wikimedia Commons

tram, de forma competente, outras vidas.


Também recorrente nos filmes de fantasia é a responsabilidade por meio das
escolhas e dos poderes. Exemplos: a trilogia Senhor dos Anéis (Peter Jackson,
2001, 2002 e 2003) e a série Harry Potter (diversos diretores, 2001-2011). Mas,
há alguns pontos nos quais essas duas vertentes se encontram: a lógica e o mundo
devem ser coerentes.

Thriller (Suspense e Terror) – O Exercício do Medo


No gênero thriller, cujas principais vertentes são o suspense e o terror/
horror, o espectador sofre de forma delegada, compartilhando as dificuldades dos
personagens, mas se eximindo de seus sofrimentos.

O thriller lida com estados emocionais básicos como medo, terror, repulsa,
choque, horror. Não são poucas as histórias de pessoas que, ao assistirem filmes
de suspense ou terror, desviam o olhar em algumas cenas, sentem náuseas, gritam,
suam compulsivamente ou abandonam a sala de cinema ou desligam sua TV, DVD
player ou computador.

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Em um bom thriller, os sofrimentos, reais ou psicológicos, dos personagens
despertam a nossa simpatia e a nossa revolta com os nossos medos emergindo na
pele do sofredor. Entretanto, em um filme que explora a dor e a violência sem fim
e sem propósitos como a tortura, o massacre e o barbarismo é apenas diversão.

São muitos os agentes do mal representados no gênero: lobisomens, vampiros,


zumbis, aliens, demônios, fantasmas, monstros e serial killers, entre tantos outros.
É o gênero no qual a perspicácia, a crença, a ingenuidade ou a afetividade do
espectador são mais postos à prova.

A incerteza e a dúvida têm no thriller um papel fundamental, principalmente,


nos filmes de suspense. O espectador precisa sentir dúvidas em relação ao destino
dos personagens, partilhando medo e vulnerabilidade, que lhe provocam ansiedade
e angústia. No thriller, sabemos muito desde o início e, no filme de suspense,
descobrimos tudo no final.

Vejamos algumas questões básicas que normalmente são abordadas em um thriller:


• O importante é como as histórias são contadas. É preciso ampliar as sensações
ao máximo, muitas vezes a partir de histórias comuns. Em O Bebê de Rosemary
(1968), Roman Polansky (1933-) mostra a história de um casal que quer ter
seu primeiro filho;
• Instalação e perpetuação constante da dúvida sobre o desfecho dos
acontecimentos e sobre o destino dos personagens. O constante questionamento
da dúvida faz com que o espectador reveja permanentemente suas hipóteses;
• Sugestão semelhante à verdade, mas enganosa, de expectativas. O espectador
é convidado a entrar em um jogo de permanente inquietação, incerteza,
ansiedade ou angústia;
• Intenção de criar no espectador grande excitação e nervosismo, como se,
nos momentos decisivos, tudo se tornasse urgente e perturbador. Se um filme
excita pelo medo é um thriller;
• O herói deve vencer o mal e destruir o seu antagonista. O sacrifício do herói é
aceito. O final não precisa ser feliz.

Figura 23 – O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polansky, com Mia Farrow,


é um dos mais importantes filmes de terror de todos os tempos
Fonte: imdb.com

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Alfred Hitchcock (1899-1980), o “mestre do suspense”, aperfeiçoou, em Intriga


Internacional (1959), a perseguição como um dos componentes básicos dessa
vertente de thriller.

Normalmente, o mistério costuma envolver espiões ou terroristas que perseguem


o protagonista (ou são perseguidos por ele), sempre na busca da solução de um
crime ou para evitar um desastre. Outro tema recorrente na obra de Hitchcock é o
da mulher em perigo como, por exemplo, em Psicose (1960).

A partir da década de 1970, come-


çaram a aparecer vários thrillers de sus-
pense tendo como base a conspiração,
como, A Trama (Alan Paluka, 1974); Jo-
gos Patrióticos (1992) e Perigo Real e
Imediato (1994), ambos de Phillip Noyce
(1950-), protagonizados por Harrison
Ford, como um agente da CIA; e A Iden-
tidade Bourne (2002), de Doug Liman
(1965-), entre outros.

Outras referências de thrillers são o


clássico Nosferatu, uma Sinfonia do
Horror, de F. W. Murnau (1888-1031),
realizado em 1922; A Noite dos Mortos-
-Vivos (George Romero, 1968), O Exor-
cista (William Friedkin, 1973), A Bruxa
de Blair (Eduardo Sánchez e Daniel Myri-
Figura 24 – A Bruxa de Blair (1999),
ck, 1999) e a franquia Jogos Mortais (di-
de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick:
versos diretores, 2004-2010).
orçamento baixo e faturamento alto
Fonte: Wikimedia Commons

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
300 Filmes para ver Antes de Morrer
MARON, Alexandre (ed.). 300 Filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro:
Globo, 2008.
Gramática do Cinema
BRISELANCE, M. F.; MORIN, J. C. Gramática do cinema. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.

Sites
Como Fazer o Seu Próprio Filme
Conheça os passos para uma produção simples.
https://goo.gl/wp03er

Filmes
Saneamento Básico, o Filme
Direção: Jorge Furtado. 2007, cor, 112 min, Brasil. A comédia mostra moradores
de uma pequena vila, na Serra gaúcha, que se reúnem para elaborar um filme barato,
contando a história de um monstro que vive nas obras de construção de uma fossa. Uma
pequena e engraçada aula sobre a produção de um filme. Com Fernanda Torres, Wagner
Moura e Camila Pitanga.

Visite
Cinédia Estúdios Cinematográficos
Rua Santa Cristina, nº 5, Santa Tereza, Rio de Janeiro. Contato: (21)2222.2430;
<cinedia@domain.com.br>.
www.cinedia.com.br

Universal Studios/Hollywood
Único parque temático situado no centro de um estúdio de cinema real em funcionamento.
Visitas aos bastidores.
http://www.universalstudioshollywood.com/

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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica

Referências
BAHIANA, A. M. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

BARNWELL, J. Fundamentos de produção cinematográfica. Porto Alegre:


BOOKMAN, 2013.

BERGAN, R. ...Ismos: para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010.

BERGAN, R. Guia ilustrado Zahar – Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

EISENSTEIN, S. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

RODRIGUES, C. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

TURNER, G. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997.

Sites consultados
OCA/Ancine. Disponível em: <http://oca.ancine.gov.br/filmes_bilheterias.htm>.
Acesso em: 23 nov. 2015.

CANALTECH. Computação gráfica. <http://canaltech.com.br/o-que-e/software/


O-que-e-CGI-e-computacao-grafica/>.

NOGUEIRA, L. Géneros cinematográficos – Manual de Cinema II. Universidade


da Beira Interior. Covilhã/Portugal: Labcom, 2010. Disponível em: <http://www.
livroslabcom.ubi.pt/pdfs/nogueira-manual_II_generos_cinematograficos.pdf>.
Acesso em: 2 dez 2015.

PASTORE, J. O Oscar, o cinema e os empregos. Disponível em: <http://www.


josepastore.com.br/artigos/ac/ac_099.htm>. Acesso em: 3 dez 2015.

PEREIRA, R. S.; AQUINO, K. A. da S. Pós-produção. Disponível em: <https://


www.ufpe.br/cap/images/quimica/katiaaquino/Quimicurta/pos-producao.pdf>.
Acesso em: 4 dez 2015.

SALLES, F. Manual Básico de Fotografia e Cinematografia. Disponível em:


<http://www.mnemocine.com.br/index.php/downloads/cat_view/52-parte-2-
manual-de-cinematografia>. Acesso em: 30 nov. 2015.

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