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Material Teórico
Elementos da Linguagem Cinematográfica I
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Elementos da Linguagem
Cinematográfica I
• Introdução
• Argumento, Roteiro e Storyboard
• Personagens
• Cenografia e cenário
• Figurino
• Maquiagem e caracterização
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer o cinema como linguagem e seus elementos constituintes.
· Desenvolver e realizar pesquisas sobre o cinema como linguagem.
· Valorizar a pesquisa sobre o cinema como linguagem e seus elemen-
tos constituintes para autoformação.
· Valorizar a linguagem cinematográfica por sua complexidade estru-
tural e simbólica.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, vamos conhecer elementos da linguagem cinematográfica.
Leia o conteúdo que disponibilizamos para você, com calma e atenção, não
se esquecendo de aprofundar seus conhecimentos acessando o Material
Complementar indicado, a Videoaula e a Apresentação Narrada. Lembre-
se que as dúvidas podem ser esclarecidas com o professor-tutor, que está à
sua disposição.
Bom estudo!
UNIDADE Elementos da Linguagem Cinematográfica I
Contextualização
O cinema, para contar as suas histórias, se utiliza de diversas ferramentas, muitas,
utilizadas por outras artes como o teatro, especialmente. Assim, temos a iluminação,
o figurino, a maquiagem, entretanto, como a finalidade é diferente, uma vez que
o cinema trabalha com imagens em movimento, uma série de características são
inerentes à produção cinematográfica.
Não custa nada reforçar a ideia propagada nos últimos anos que vivemos na era
da imagem. Pura verdade. Com a proliferação das câmeras em telefones celulares
ficou muito mais fácil captar imagens. Portanto, não perca nenhuma oportunidade
de registrar momentos interessantes com a sua câmera. Quem sabe, em breve,
você poderá editar essas imagens e produzir um pequeno filme?
Vamos tentar?
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Introdução
A função do poeta não é relatar o que aconteceu, mas o que pode
acontecer, de acordo com as leis da probabilidade e da necessidade.
(Aristóteles, Poética, 335 a.C.)
Até chegar às telas, um filme cumpre uma série de etapas fundamentais que, de
maior ou menor graus, contribuem para um resultado positivo da criação da obra
cinematográfica:
• Assim, temos, inicialmente, a fase de desenvolvimento do filme, na qual
são definidos: o argumento/tratamento, roteiro, o diretor, elenco, estúdios,
locações, entre outras questões, bem como a viabilidade do projeto é analisada.
• Segue-se a pré-produção com a definição do storyboard – Ilustrações ou
imagens desenvolvidas em sequência com o objetivo de pré-visualizar um filme
–, atuação do produtor executivo, criação dos personagens e cenários, etc.
• Na produção, iniciam-se as filmagens e, na pós-produção, a montagem
(edição), a sonorização e a aplicação de efeitos visuais e sonoros. Na sequência,
testes do filme com públicos específicos, implantação do plano de marketing e,
finalmente, a sua distribuição.
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UNIDADE Elementos da Linguagem Cinematográfica I
O filme deve ter um tema, uma premissa, uma trama e um (ou mais) gênero(s).
Tema não é a história, traço dos personagens ou aquilo que acontece com eles,
mas a ideia fundamental. Premissa é a forma que o tema assume, é a proposta do
filme. A trama é a história do filme, o desenvolvimento da premissa, é o resumo e
os detalhes da história, como ela começa e desenvolvem-se os problemas, vitórias,
derrotas... E o gênero é a forma com que a premissa e a trama contam a história
como drama, comédia, suspense, aventura. Sabemos que uma mesma história
pode assumir características de gêneros diferentes.
Onde os fracos não têm vez (Joel Quem quer ser um milionário? O discurso do rei
Filme
e Ethan Coen, 2007) (Danny Boyle, 2008) (Tom Hooper, 2010)
Responsabilidade; o Esperança e conquista em
Coragem e capacidade de enfrentar
Tema peso e as consequências condições adversas de vida e a
o medo e os desafios da vida.
de escolhas e ações. busca por um futuro melhor.
Impacto que uma maleta Convicção de que é possível
Capacidade de substituir alguém
Premissa cheia de dinheiro tem na vencer as dificuldades apesar
e a falta de eloquência.
vida de uma pessoa. da pobreza extrema.
Um assassino psicótico sem
Jamal, oriundo das favelas de
senso de humor e piedade é História do rei Jorge VI, que
Mumbai, na Índia, participa de um
Trama enviado ao encalço de um homem
programa de TV e levanta suspeitas
contrata um fonoaudiólogo, para
que encontrou uma grande ajudá-lo a superar a gagueira.
sobre sua inteligência.
quantia de dinheiro.
Gênero Suspense Comédia Drama
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No entanto, qual o primeiro passo? É escrever o argumento (ou tratamento) do
filme, um resumo dos eventos-chave da história e dos personagens. É a narrativa
do filme, mas sem a indicação de cenas e diálogos. O texto deve ter, em média,
duas páginas para um curta-metragem e entre cinco e doze páginas para um
longa-metragem.
Roteiro
O roteiro de um longa-metragem, curta-metragem, documentário, videoclipe
ou publicitário é uma iniciativa gerada por uma ideia, um motivo. Detalhes
psicológicos, ambiente das locações, peripécias realizadas pelos personagens,
diversidade dramática das cenas, são artifícios que fortalecem a ideia central. Assim,
o roteirista deve buscar sempre a melhor forma de contar essa história com cenas,
ações e diálogos detalhados. A função do roteirista varia de acordo com o tipo de
filme produzido: ele pode desenvolver uma ideia inédita, adaptar um livro ou uma
novela, uma peça de teatro ou escrever um musical.
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Estruturas narrativas
A partir do estabelecimento desses elementos básicos, o roteirista deverá definir
qual o tipo de narrativa que ele dará à sua trama, qual a mais adequada para enfatizar
o tema e a mais coerente com sua premissa. Os principais tipos de narrativas são
a direta, a inversa, a episódica e a fracionada/não linear.
• Direta – História em ordem cronológica que pode conter no meio alguns
flashbacks – onde a ação do filme é interrompida momentaneamente para
mostrar uma situação do passado – ou flashforwards – interrupção de uma
sequência cronológica narrativa pela interposição de eventos ocorridos
posteriormente.
• Inversa – História apresentada inteiramente em flashback. Normalmente, as
primeiras imagens do filme são as derradeiras como nas histórias que contam
a trajetória de alguma pessoa, sejam narradas pelo biografado ou por algum
observador. Forrest Gump, o Contador de Histórias (Robert Zemeckis, 1994)
e Cães de Aluguel (Quentin Tarantino, 1992) são bons exemplos.
• Episódica – Histórias diversas, cada uma com a sua própria trama, mas, em
geral, ligadas a um tema comum. Exemplo: Sin City (Robert Rodriguez e
Frank Miller, 2005).
• Fracionada/Não linear – Uma ou várias histórias (ligadas entre si) contadas
em segmentos não cronológicos, que se encontram em momentos-chave,
por meio de personagens, situações ou símbolos. Exemplo: Cidade de Deus
(Fernando Meirelles, 2002).
A base para um bom filme é um roteiro bem estruturado, repleto de elementos
que possam estimular, intrigar, provocar e emocionar o espectador. O roteirista
deve apresentar profundo conhecimento de seus personagens e um controle
completo sobre o que eles fazem e o que acontece com eles. Na mente do autor, o
personagem ganha uma biografia, uma maneira de ser mostrada ao público a partir
de três focos: pessoal (família, amigos, colegas), profissional (tipo de atividade,
reconhecimento) e o íntimo (relacionamentos, hábitos, reações). Alguns roteiristas
preferem construir toda a vida pregressa do personagem para depois acompanhar
suas reações dentro da história. Outros preferem descobrir o personagem dentro
da ação, com sua imprevisibilidade.
O sistema mais comum de estrutura narrativa está dividido em três atos, início,
meio e fim, que pode ser seguido ou sofrer variações por parte do roteirista.
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Na ficção há, basicamente, dois caminhos para a condução da narrativa: pela
ação ou pelos personagens. Na narrativa pela ação, os acontecimentos conduzem a
trama com os personagens reagindo a eles. Na narrativa conduzida pelos persona-
gens, não é o que acontece aos personagens que importa, mas quem eles são, quais
as motivações interiores, os seus relacionamentos com o mundo e com as pessoas.
Arquétipos: É a imitação de um original, modelo pelo qual se faz uma obra material ou
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UNIDADE Elementos da Linguagem Cinematográfica I
relações entre esses fatos, revelar conflitos e o estado emocional dos personagens,
além de comentar a ação. Jovens falam como jovens, bem como velhos falam
como velhos.
Um bom roteiro é aquele que diz coisas que não estão escritas, porque as
imagens mostram e as situações falam por si. Os diálogos existem para mover a
história adiante. Entretanto, dizer muito, escrevendo menos é o grande desafio que
se coloca ao roteirista. Um bom roteiro também deixa espaço para que os demais
profissionais façam o seu trabalho. Contar a história e deixar, por exemplo, que o
diretor resolva como transformá-la em imagens é fundamental.
Forma de um roteiro
Conforme Syd Field – considerado um dos gurus dos roteiristas de cinema e
de televisão –, há poucas regras para se escrever um roteiro. Vamos conferir a
sugestão dele para o formato de um roteiro:
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Vejamos como o autor descreve o roteiro exemplificado:
• Linha 1 – Chamada de CABEÇALHO é o local geral ou específico. Estamos
do lado de fora, EXT., em algum lugar do DESERTO DO ARIZONA; o tempo
é DIA.
• Linha 2 – Dê um espaço duplo e depois descreva pessoas, lugares ou ação em
espaço 1, de margem a margem. Descrições de personagens ou lugares não
devem ultrapassar poucas linhas.
• Linha 3 – Dê um espaço duplo; o termo geral “EM MOVIMENTO” especifica
uma mudança no foco da câmera. (Não é uma instrução para a câmera.
É uma “sugestão”.)
• Linha 4 – Espaço duplo; há uma mudança do lado de fora do jipe para o lado
de dentro. Estamos focalizando o personagem, Joe Chaco.
• Linha 5 – Novos personagens são sempre grafados em maiúsculas.
• Linha 6 – O personagem que fala sempre vem em maiúsculas e centralizado
na página.
• Linha 7 – Indicações de direção para o autor são escritas entre parênteses
embaixo do nome do personagem que fala. Sempre em espaço 1. Não abuse
disso, use apenas quando necessário.
• Linha 8 – O diálogo é escrito no centro da página, de maneira que a fala do per-
sonagem forma um bloco no meio da página cercado pelas descrições de mar-
gem a margem. Em uma ou várias linhas, os diálogos são sempre em espaço 1.
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Storyboard
Os storyboards são ilustrações ou imagens do roteiro, plano a plano, em
ordem cronológica, produzidas pelo designer de produção ou por um profissional
contratado. São utilizados para o planejamento visual das cenas a serem filmadas.
Não precisam ser artisticamente perfeitas, mas devem conter as informações sobre
a cena para a equipe de gravação, como os planos principais, o enquadramento,
os ângulos da câmera, o campo de visão e o movimento dos atores em cena.
O desenho pode variar de altamente profissional com grandes detalhes ou
desenhos de bonecos-palitos. O importante é que eles comuniquem efetivamente
as informações relevantes referentes a cada plano para toda a equipe.
Eles consistem em uma sequência de quadros, nos quais são desenhadas as cenas
da forma como imaginadas pelo diretor. Os desenhos podem ser acompanhados
de anotações sobre a cena, como a descrição da ação, do movimento, o som que
a acompanhará, ou qualquer outra informação. É uma etapa intermediária entre o
roteiro do filme e sua realização na prática. Os storyboards também economizam
tempo e dinheiro, uma vez que, quanto mais preparada estiver a equipe durante a
pré-produção, melhor.
Fig. 3 – Storyboard do filme Os vingadores (Joss Whedon, 2012). Cena entre o Homem de Ferro e Thor
Fonte: Bryan Andrews
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O diálogo entre o diretor, o diretor de fotografia e o designer de produção é
extremamente facilitado com o storyboard. As ideias sobre a aparência e o estilo do
filme são definidas nessa etapa. O diretor conversa sobre cada marcação da câmera,
iluminação, lentes e maquinaria (trilhos, gruas, etc.) com o diretor de fotografia.
O storyboard é uma referência durante a etapa de produção, funcionando como um
mapa de toda essa trajetória. Não há necessidade de se ficar limitado às dimensões
dos quadros nas folhas, uma vez que, em cenas mais complexas, há necessidade de
mais espaço e quadros maiores. Quando ele estiver pronto, é prudente encaderná-
lo para preservar a sequência das cenas.
Página
STORYBOARD
Ação
Ação
Personagens
O desempenho dos atores no cinema tem pouca relação com o que se vê no
teatro. No palco, o ator pode ser levado a “forçar” seu desempenho e a “estilizá-lo”,
em uma perspectiva de que não depende do natural. No cinema, em geral, a
câmera evidencia a expressão gestual e verbal dos atores, principalmente em
primeiro plano e sob ângulos adequados. A comunicação verbal é manifestada
e assimilada pelo público por meio da oralidade dos atores e, o não verbal, é
percebido no cenário, figurino, na sonoplastia, iluminação, nos acessórios e até
mesmo na expressão corporal dos personagens.
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limitação de ordem física ou psicológica ou ainda uma força da natureza como no
filme O impossível (Juan Antonio Bayona, 2012), no qual uma família sobrevive
a um tsunami de proporções devastadoras na costa da Tailândia. Tubarão (Steven
Spielberg, 1975) é outro exemplo. No caso de O náufrago (Robert Zemeckis,
2000), o inimigo é a própria ilha.
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Confira algumas cenas engraçadas com erros não percebidas pelo público (talvez nem pelo
Explor
Cenografia e cenário
A cenografia, nascida na Grécia antiga, era a forma de representação dos locais
das encenações por meio de pinturas. Durante a primeira metade do século XX,
quase todos os filmes foram rodados em estúdios e palcos sonoros. Era muito
caro filmar em locações (externas). O conceito de cenografia foi ampliado e, hoje,
resulta em um conjunto de manifestações visuais que se correlacionam de forma
organizada em um determinado espaço cênico por meio de cenários, objetos,
estruturas arquitetônicas, mobiliário, pinturas, etc. O cenógrafo contemporâneo
atua, em grande parte, em todo o processo, desde a concepção do projeto até a
instalação do cenário, auxiliado, muitas vezes, pelo cenotécnico.
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No cinema, o conceito de cenário compreende tanto as paisagens naturais,
quanto as construções realizadas pelo homem. Os cenários, sejam interiores ou
exteriores, podem ser reais, ou seja, já existirem, ou construídos em estúdio (no
interior do estúdio ou ao ar livre em suas dependências) ou ainda de forma virtual em
imagens geradas por computador. Muitas vezes, é mais econômico reconstruir em
estúdio um local do que filmar no local original. Cenários também são construídos
para acentuar o simbolismo, a estilização e a significação como em O mágico de Oz
(Victor Fleming, 1939) e Dogville (Lars von Trier, 2003), realizados integralmente
em estúdio.
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Figs. 7 e 8 – Dogville (2003), de Lars von Trier (1956-), foi rodado em um único
cenário, com muitos jogos de luz e sombras em quase três horas de duração
Fonte: http://zip.net/bbsQVR
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Figs. 9 e 10 – Cenas do filme O gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920),
nas quais são facilmente percebidas características do cenário expressionista
Fonte: imdb.com
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Cenários no mundo digital
Os computadores tiveram um enorme impacto sobre a forma de as pessoas
fazerem filmes, particularmente no mundo dos efeitos especiais. Nos últimos
30 anos, os cineastas passaram a conviver com uma nova realidade que foi se
instalando na produção cinematográfica e, hoje, é irreversível: imagens geradas
por computador. Assim, a pintura de cenários é um processo inteiramente digital,
criando mundos muito convincentes.
de Orodruin) em O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (Peter Jackson, 2001) com o olho
flamejante de Sauron flutuando por cima, são digitais. Orodruin foi representado por dois
vulcões ativos na Nova Zelândia.
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Muitos pintores digitais são graduados com bacharelado em artes. Eles aprendem
os fundamentos do desenho, da escultura e da pintura em meios tradicionais,
como óleo e aquarela, além de conceitos sobre composição, seleção de cores e
perspectiva, muito úteis no mundo digital.
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Figs. 12 e 13 – Cenário digital de Avatar (James Cameron, 2009), Fig. 12,
foi inspirado no Zhangjiajie Grand Canyon, na China, Fig. 13
Fonte: imdb.com
Locações
Ao realizar uma locação real é importante realizar uma visita técnica prévia
ao local com o objetivo de verificar, por exemplo, as condições de luz natural nas
várias fases do dia (e da noite, se for o caso) e também o período do ano (chove
muito?). Também é fundamental verificar os pontos de energia elétrica acessíveis
para os equipamentos, ruídos como trânsito intenso, aviões e até como podem ser
controlados o público, que, certamente, terá curiosidade no momento da filmagem.
Será preciso, ainda, obter-se autorização antecipada do proprietário (particular ou
público) para a utilização do espaço.
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Alguns passos básicos para uma locação segura:
• Visitar a locação no mesmo horário do dia da filmagem.
• Localizar o fornecimento de energia.
• Conversar com as pessoas do local.
• Considerar as fontes de ruído.
• Autorizações para filmagem no local.
• Prever a logística de transporte, estacionamento, sanitários e alimentação da equipe.
• Tirar fotos da locação.
Figurino
O figurino, juntamente com a iluminação, o som, os diálogos e, é claro, a
imagem, compõe os meios de expressão de um filme. O personagem, o próprio
filme ou o gênero podem ser definidos pelo figurino. Como os demais elementos
visuais de um filme, o figurino compõe uma determinada comunicação, auxiliando
no entendimento de um contexto. Um mendigo, por exemplo, usa roupas sujas
e rasgadas e, um milionário, trajes impecáveis. É o conjunto de indumentária e
de acessórios, criado ou produzido pelo figurinista ou por um estilista para ser
utilizado pelos atores. Ele deve ser relevante na formação do personagem, versátil
e normalmente durável para que se mantenha em condições ideais e resista à
temporada de filmagem.
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Fig. 14 – O estilista francês Givenchy deu uma nova cara para o “pretinho básico”, no início
dos anos 1960, modelo eternizado por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (1961)
Fonte: imdb.com
O figurinista trabalha diretamente com o diretor de arte, uma vez que ambiente e
figurinos devem estar integrados. Por exemplo, se o filme tem uma paleta de cores
específica, figurino e ambientes deverão seguir essa paleta. A pesquisa é fundamental
para que o figurino literalmente vista o personagem conforme sua personalidade e
situação financeira. Será preciso identificar em quais cenas o personagem aparece,
verificar quantas mudanças ou ajustes de figuro serão necessários.
Erro de continuidade? Descuido? Foi proposital? O certo é que o aparecimento de um par de tênis
botinha da marca norte-americana All Star no filme Maria Antonieta (Sofia Coppola, 2006) gerou
muita polêmica, afinal, a história se passa no final do século XVIII. “Nós decidimos deixar o tênis em
cena só, você sabe, para ter um elemento de brincadeira… É um universo adolescente… e, bem, por
diversão… porque eu pude”, disse a diretora. Polêmicas à parte, o figurino do filme se constituem em
um trabalho fantástico que rendeu o Oscar da categoria para Milena Canonero, cujo currículo inclui
figurinos de Laranja Mecânica (1971) e O Poderoso Chefão III (1990).
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Fig. 15 – O “famoso” All Star no guarda-roupa de Maria Antonieta
Fonte: http://zip.net/btsSLF
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Figs. 16 e 17 – Cenas de A Troca (Clint Eastwood, 2008), ambientado em Los Angeles
(Estados Unidos), em 1928, com figurino de Deborah Hopper. Exemplo de figurino realista
Fonte: imdb.com
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Figs. 18 e 19 – Piratas do Caribe 4: Navegando em Águas Misteriosas
(Rob Marshall, 2011) tem figurino de Penny Rose
Fonte: imdb.com
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Figs. 20 e 21 – Jornada nas estrelas, o filme (Robert Wise, 1979) foi o primeiro da sequência
para o cinema (20). Na TV (21), a primeira série foi veiculada em 1966. O figurino mudou
Fonte: imdb.com
Maquiagem e caracterização
Quando um ator entra em cena, ele é parte de um sistema visual, cujo propósito
é contar uma história. É como se ele não fosse dono do seu rosto, que passa a ser
um suporte para que os traços de um personagem ganhem vida. Agindo como uma
“máscara”, a maquiagem ou caracterização, oferece uma identidade aos aspectos
do personagem por meio da composição de cores, traços e formas. A maquiagem
para cinema está inserida em um contexto estético narrativo, cujo objetivo é criar
e contextualizar personagens em uma trama.
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Fig. 22 – Maquiagem de Alice no País das Maravilhas (Tim Burton, 2010)
é, sem dúvida, um dos destaques do filme
Fonte: imdb.com
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Vamos conferir algumas maquiagens e caracterizações que marcaram a
sétima arte:
• Frankenstein (James Whale, 1931) – Caracterizações em filmes antigos
eram ainda mais complicadas, as técnicas eram rudimentares e muitas vinham
do teatro. A cabeça do homem-monstro, interpretado por Boris Karloff, era
feita com algodão e goma. Uma tinta verde era aplicada nas mãos e no rosto
para dar o aspecto pálido à criatura.
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Fig. 26 – O fauno foi interpretado por Doug Jones, famoso por realizar
captura de movimentos e usar fantasias em outras produções
Fonte: imdb.com
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Maquiadoras do cinema nacional
• Anna Van Steen – Profissional experiente, foi responsável pela maquiagem
do filme Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002), no qual os personagens
passaram por várias décadas, sendo necessárias muitas transformações
orgânicas com perucas, barbas e bigodes falsos. Ana também trabalhou na
produção do longa Xingu (Cao Hamburger, 2011), ambientado no Brasil
da década de 1940. A maquiadora caracterizou os três irmãos Villas-Bôas,
que envelheceram na selva, com pinturas corporais indígenas, maquiagem de
época e com efeitos especiais.
• Marlene Moura – Em 1969, aos 19 anos, iniciou sua carreira como assistente
de maquiagem na extinta TV Tupi, no Rio de Janeiro. A maquiadora foi
reconhecida pela Academia Brasileira de Cinema pelo seu trabalho nos filmes
O palhaço (Selton Mello, 2011) e Olga (Jayme Monjardim, 2004). Atualmente,
Marlene mora em Los Angeles e vem ao Brasil a convite de diretores de
cinema e de TV. Para se aperfeiçoar e atualizar, ela ainda frequenta a Cinema
Makeup School, em Los Angeles.
Fig. 28 – Paulo José e Selton Mello maquiados por Marlene Moura, em O Palhaço
Fonte: http://zip.net/bnsSrj
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• Siva Rama Terra – O trabalho da maquiadora pode ser conferido nos longas
O cheiro do ralo (Heitor Dhalia, 2007), Os desafinados (Walter Lima Jr.,
2008) e Sudoeste (Eduardo Nunes, 2012), este último do gênero realismo
fantástico realizado em preto e branco. As unhas dos atores tiveram que ser
pintadas de verde para aparentarem uma cor normal ao serem exibidas em
gamas de cinza.
Fig. 29 – Dira Paes em Sudoeste, filmado em preto e branco, mais um desafio para a maquiadora Siva Terra
Fonte: http://zip.net/bksSgV
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
The Film Foundation
A fundação é conduzida por um grupo renomado de cineastas conduzidos por Martin
Scorsese. A organização já ajudou a salvar 700 filmes, trabalhando em parceria com
arquivos e estúdios.
http://www.film-foundation.org/
Livros
Guia 300 Filmes para ver antes de morrer
MARON, A. (ed.). Guia 300 filmes para ver antes de morrer. Coleção Mente
Aberta. São Paulo: Editora Globo, s/d.
Lições de roteiristas – Roteiristas falam sobre seus filmes mais importantes
SCOTT, K. C. Lições de roteiristas – Roteiristas falam sobre seus filmes mais
importantes. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Hitchcock/Truffaut – Entrevistas
TRUFFAUT, F. Hitchcock/Truffaut – Entrevistas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.
Vídeos
Avatar – Making of (parte 1)
https://goo.gl/ePZ32o
Avatar – Making of (parte 2)
https://goo.gl/LeXlTE
Filmes
O Curioso Caso de Benjamin Button
Direção: David Fincher. 2009, cor, 166 min, Estados Unidos. Uma verdadeira aula
de maquiagem e efeitos especiais. É a história de um homem que nasce velho e vai
ficando mais jovem ao longo dos anos.
Cinema Paradiso
Direção: Giuseppe Tornatore. 1998, cor, 155 min, Itália. Nos anos que antecederam
a chegada da televisão em uma pequena cidade da Sicília, o garoto Toto (Salvatore
Cascio) ficou hipnotizado pelo cinema local e iniciou uma amizade com o projecionista
Alfredo (Philippe Noiret).
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Referências
BAHIANA, A. M. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
Sites consultados
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMATOGRAFIA. Storyboard. Disponível
em: <http://www.abcine.org.br/>. Acesso em: 02 fev 2016.
GISELE DOS SANTOS. Figurino para o cinema – Maria Antonieta. Disponível em:
<http://pt.slideshare.net/gibanes/aula-07-figurino-de-maria-antonieta-de-sofia-
coppola>. Acesso em: 08 fev 2016.
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