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PODERES
OU O LIVRO QUE DIVINIZA
UNIVERSALISMO
ÍNDICE
Que esta obra, querido leitor, se consuma como ínfimo holocausto no altar da
humanidade e por amora Ela!
Todo homem busca a felicidade e, nas aras de sua ventura, sacrifica o irmão, o
filho e a esposa; mas, uma vez feito o sacrifício, vê que a felicidade se
desvaneceu como fumaça.
Muitas são as respostas, mas para nós, não há mais que uma só e é a
seguinte: A felicidade é o cumprimento das Leis Fundamentais da Natureza e a
verdade é o absoluto conhecimento dessas Leis.
O objetivo da religião, das escolas e da ciência é chegar ao conhecimento da
verdade para gozar a felicidade; mas, desgraçadamente, os homens
fabricaram várias roupagens para a religião e para a verdade e se converteram
em admiradores e adoradores dos coloridos dessas roupagens sem prestar
atenção alguma à verdade oculta nas suas vestes.
Desde que o grande Mestre disse: “Buscai o reino de Deus e sua Justiça”, os
homens trataram de materializar esse reino e limitá-lo em religiões, ciências e
escolas filosóficas.
A terceira, cujo número é muito limitado, trata de seguir o que disse Buda a
seus discípulos: “Não creiais em nada que não esteja de conformidade com a
razão, nem negueis nada sem examiná-lo bem, por mais contrário que vos
pareça”.
Para esta minoria está escrito este livro, mas não para os crentes fanáticos,
nem para os cientistas que pretendem tudo saber; tampouco está dirigida
àqueles falsos mestres de escolas e ordens intituladas herméticas que
pretendem vender poderes a seus discípulos que os compram a dinheiro.
A obra Poderes ou O Livro que Diviniza está editada para os irmãos que
desejam alcançar a Verdade, despida de todo o véu, verdade que ilumina o
homem desde o centro de seu ser, desde o Sol íntimo.
Os poderes divinos não se compram nem são vendidos: são como a luz do sol
que está sempre no espaço; depende somente de que o homem saia para
recebê-los ou viva nas trevas da ignorância.
Pode ser que o autor da obra Poderes não tenha dito tudo que deveria dizer,
nem como se deve dizer, porém pelo pouco que tenha dito, disse o que
disseram os poucos e verdadeiros Mestres, e à maneira do rouxinol, que canta
porque sente necessidade de cantar.
1.º – O autor não crê que sua obra seja digna de sair à luz.
2.º – Que ele não deve contribuir para aglomerar mais cadáveres literários nas
livrarias e bibliotecas.
3.º – Que ele não se considera um mestre para dar normas aos demais.
4.º – Está satisfeito em levar uma vida oculta e ignorada por todos e não quer
que seu nome seja divulgado como autor e literato.
Então, os mais chegados amigos seus (dentre eles, este que escreve este
prólogo) trataram de convencê-lo, fazendo-lhe várias perguntas que, com as
respostas, publicamos neste prólogo, porque têm interesse espiritual e
manifestam o caráter do autor.
Falamos:
– Está aí neste ponto minha desgraça, meu caro, e estriba-se em crer que
pratico o que digo; por isso lhe disse, desde o princípio, que o único ser que
pode e deve dar normas aos demais é o mestre que pratica seus próprios
conselhos.
– O Mestre é aquele ser que vive o Amor e o Sacrifício, e seu exemplo cria
uma religião e uma escola para os homens.
– Não posso responder porque não sei, mas posso dizer que todos os
conhecidos que se dizem mestres não o são, porque o verdadeiro mestre está
em toda a parte e seu nome é ainda desconhecido.
– Acha o amigo que nesta obra não existam sequer dez frases que mereçam
ser lidas?
– A tanto não chega a minha humildade; sim, pode haver até mais.
Uma vez realizado o nosso anelo, toca a vós, queridos leitores, dar-nos a
opinião que tivestes acerca da presente obra.
António J. Chedick
Sua primeira edição portuguesa, dada à luz há mais de 20 anos, época em que
o Dr. Adoum ainda estava no plano físico e honrava nossa Fraternidade com
suas instruções pessoais, desde longa data acha-se esgotada.
Aos leitores que travam contato com os ensinamentos do Mestre pela primeira
vez, solicitamos muita meditação em suas palavras, pois encerram sempre
verdades veladas que só o íntimo pode ajudar-nos a desvelar.
DEUS-HOMEM
Hermes disse:
“O que está em cima é como o que está embaixo e o está embaixo é como o
que está em cima”.
A Escritura afirma:
E eu digo:
Quando o Poder Divino quis derramar seu Amor sobre um ser amado, emanou
uma substância de sua essência, fê-la adquirir uma forma, dessa forma fez
brotar a vida, a vida engendrou a sensibilidade, a sensibilidade criou o coração
e o coração formou o homem. Nesse ponto deteve-se o Poder porque sentiu
que o coração o envolvia nas chamas do Amor. Sua língua, então, disse: Eu
Sou Ele.
Deus é a vida, o homem movimento. Assim como não pode existir movimento
sem vida, tampouco pode haver vida sem movimento.
Eu não posso existir sem Deus e Deus também não pode existir sem mim
porque sem mim Ele seria incompleto, seria imperfeito, sendo imperfeito, não
poderia ser Absoluto.
Não posso definir a mim mesmo. Ele tampouco pode fazê-lo. Portanto, somos
ambos indefiníveis e como não podem existir dois Deuses indefiníveis, Eu devo
ser Ele e Ele deve ser Eu.
Ele, sem mim, não pode manifestar-se e Eu, sem Ele, não posso Ser. Ele é a
semente que encerra em si a árvore e o fruto, Eu Sou o fruto que encerra, em
latência, a semente e a árvore. Eu e Ele somos uma só Verdade e nos
manifestamos pela aparência.
É minha imaginação que criou todos os mundos visíveis que jaziam invisíveis
na essência de Deus: Deus é a razão que determina aos mundos por meio de
minha imaginação.
Quando o Ser quis ver, infundiu o desejo em minha imaginação e esta criou
olhos.
Só existe uma Lei e ela é a seguinte: Toda forma visível é a expressão (de ex =
fora e pressão = pressionar) do invisível. Em outras palavras: Eu Sou visível
por Aquele invisível que está em Mim. Eu Sou Ele e Ele é Eu.
Minha imaginação é a ponte entre Deus e os sentidos. Dirigida para fora cria,
guiada para dentro sabe.
Crer que Deus é algo sobrenatural a mim é ofender a Deus e investir contra a
minha natureza. Como Deus pode ser sobrenatural, sendo Ele mesmo minha
natureza? Quem não for capaz de adorar Deus em si mesmo não encontrará
outro Deus para adorar.
Deus é Espírito, mas minha imaginação O fez carne. Deus é a Realidade, mas
minha imaginação o transforma em Atualidade.
Deus não pede que O adorem mas exige cooperação. Rezar a Deus é negá-
Lo, ao passo que trabalhar com Ele é conhecê-Lo.
O objetivo das religiões não é rezar mas trabalhar para vencer a ilusão dos
sentidos. Rezar significa ficar escravo de forças enquanto trabalhar equivale a
dominá-las. Se uma religião me ensina a amar a Deus é uma religião falsa
porque o Amor supõe a existência do amante e do amado e como Eu Sou Ele e
Ele é Eu, como posso amar a mim mesmo? Deus, que é o próprio Amor, não
precisa amar a si mesmo; exige docilidade para que Seu Amor seja expresso
na Natureza. Admitir que Deus me criou é afirmar que eu criei Deus.
Eu Sou Ele e Ele é Eu. Ele é a raiz e Eu Sou a árvore. Ele é o Sol e Eu Sou
seus raios.
A CHAVE DO PODER
“Nenhum olho humano viu, nem ouvido humano escutou jamais o que Deus
preparou para os Seus eleitos”. O que equivale a: Sentir-se Deus e dominar os
espíritos invisíveis.
NATUREZA-MULHER
NATUREZA-MULHER
DEUS-NATUREZA = HOMEM-MULHER
Quem adora Deus na mulher não precisa ir a nenhum templo. Para descobrir
os mistérios da Divindade é preciso penetrar no coração da mulher porque
quando Deus emanou de Si a Natureza habitou em seu coração.
Aquele que não mistura seu elemento com o da mulher nada pode criar de bom
para si nem para os demais.
O homem é mente que pensa; a mulher, intuição que inspira. Pensar é ter
cérebro, intuir é ter coração; o cérebro trabalha, o coração adivinha.
O homem é o Fogo Divino, a mulher é quem mantém e manterá nele esse fogo
sagrado.
Ele ordena, ela suplica. Ele é o tirano, ela o freio que lhe modera os impulsos.
O erro do homem é suavizado pelo pranto da mulher. Não há furor que se não
atenue ante a lágrima da mulher amada.
As gotas de orvalho dão nova vida às pétalas murchas das rosas; as lágrimas
da mulher ressuscitam as qualidades mortas no coração do homem.
O cérebro do homem pode dar origem ao gênio mas este não poderá voar, a
não ser com as asas do anjo-mulher.
A mulher é a divina arte que nada imita mas explica a Divindade com símbolos.
A mulher é o mais formoso pensamento do Absoluto que deve ser captado pela
inteligência e não pelos olhos.
Ninguém se atreve a divulgar este segredo porque dele emana a morte. Muitas
vezes, porém, a ignorância é pior que a morte.
A CHAVE DO PODER
Até hoje o homem só provou os frutos letais e vive como morto. De hoje em
diante deverá provar os frutos da Sabedoria, a fim de ressuscitar no Reino do
Amor.
HUMANIDADE-AMOR
Não existe Amor sem beleza nem beleza sem Amor. O Amor sem beleza é
desejo.
A beleza sem amor é inércia. Vida, Beleza e Amor são as três pessoas do
Deus-Homem.
Deus ama sem desejo e o homem deseja sem amor. Essa é a única diferença
entre ambos. Deus, por amor, fez-se homem e o homem, por amor, faz-se
Deus.
O amor tem três fases: receber sem dar, dar e receber e, finalmente, dar sem
receber. A primeira denomina-se paixão e é sexual; a segunda, desejo e é
humana; a terceira é amor, sendo Divina.
Quem irradia amor atrai amor. Quem irradia desejos colhe tribulações. O Amor
é a chave de todos os mistérios e de todos os arcanos.
O Amor abriga a alma com raios que emanam dos olhos e oferece a taça da
verdade com a palavra que emana dos lábios.
A felicidade é a sombra do amor que desce com os raios do sol e entra nos
pulmões com a canção das brisas, transportando o homem nas asas luminosas
da felicidade.
O amor deve ser absoluto para que possa existir e o amor absoluto é a própria
Eternidade experimentada pelo homem.
A maior das desgraças é não poder amar sem desejo pois quem não pode
amar vive desejando e seu desejo será seu próprio inferno.
Nem o próprio Deus pode aumentar algo à felicidade do amante porque o amor
é o centro da ventura e a circunferência da plenitude.
O amor acende a coragem mas a paixão a apaga. O amor ressuscita mas a
paixão mata. O amor enaltece mas o desejo envilece. O amor é beleza mas a
paixão é a fealdade. Um é luz, o outro é fumaça.
O amor é a foice que poda, sem compaixão, os galhos secos do desejo, a fim
de cuidar da vida da árvore.
O amor derrama o sangue do coração para com ele lavar as manchas que
aderiram à carne. A chama do amor clama sempre por holocaustos e seu único
alimento é o coração.
A CHAVE DO PODER
A pergunta comporta fácil resposta, mas difícil aplicação prática. Este livro, no
entanto, foi escrito para os valentes e para os valentes tudo é possível.
Uma mulher formosa cativa-me com sua beleza e excita-me? Imagino-a, então,
como minha mãe, como minha irmã ou minha filha! Nada mais! Meu desejo,
assim, transformar-se-á em amor.
Uma pedra preciosa no dedo de meu próximo fascina-me? Faço de conta que
está no dedo de minha filha.
O REI DA CRIAÇÃO
Tudo aquilo que gera o Espírito sai pelos sentidos. Toda criação sensorial é um
reflexo da vontade criadora.
O Espírito é a luz interna que difunde seus raios para o exterior por meio dos
sentidos. Se os invólucros dos sentidos são grosseiros e densos, a luz interna
não pode chegar com nitidez ao mundo, ainda que continue brilhando no
interior.
Os sentidos são o instrumento da vontade, sem ela não teriam razão de ser. A
matéria se espiritualiza, o Espírito se materializa para e por meio dos sentidos;
tal espiritualização e materialização são realizadas pela vontade: os efeitos são
o prazer e a dor sentidos pela alma.
A vontade é a máquina que debulha a espiga dos sentidos até revelar a nudez
do grão.
O desejo vai sufocando, dia a dia, a vontade até chegar à razão, obrigando
então o cérebro a cumprir seus objetivos.
O homem é homem pela virtude de sua vontade e não pela virtude de sua
inteligência.
Como ELE pode criar, porque o que é de Deus é Deus e tudo que valha à pena
criar deve ser bom.
Tudo que se relaciona aos sentidos causa repulsão e dor; porém a dor que
tortura a alma firma a vontade e a vontade ispira à extinção da dor.
A vontade deve subjugar a vida para vencer a morte, sabendo que não há
nascimento nem morte e que só se vive no eterno.
É a chama da vida, que, uma vez acesa, inflama tudo quanto caia dentro de
sua circunferência.
Desde que a chispa do Espírito existiu passou a existir a chama ativa nas
coisas e toda ação da vontade há de efetuar-se nas coisas e por meio delas.
A Vontade é o gérmen na semente, o vigor na árvore, o aroma na flor, o sabor
no fruto e o todo no homem.
A CHAVE DO PODER
O corpo físico ou elemento terra é dominado pelo alimento puro e pelo jejum
para manifestar a vontade da Trindade.
O objetivo desta chave é obter a saúde e a vida; ter domínio sobre a saúde e
vida dos demais. Praticar esta chave é compreender o mistério da cruz.
A RELIGIÃO
A RELIGIÃO
Imaginar é ver, falar é criar. A Religião deve ser imaginação, a oração deve ser
criação.
Religião (de re-ligare) é tornar a unir-se a Deus, a juntar o que foi separado por
meio da imaginação, assimiladora das imagens, que reflete o espírito no
homem.
O erro da Humanidade consiste em criar, por meio dos sentidos, uma religião
para os próprios sentidos.
Toda imaginação pode criar sua própria Religião e ser a sacerdotisa imaculada
do Espírito, de modo a não lançar suas pérolas aos porcos, nem o divino aos
sentidos.
A Beleza é a Religião do sábio. O cientista que dita leis para a Beleza está
querendo mudar o curso das estrelas.
A obra do homem é sua Religião. Quem pretende adorar longe de sua obra
está tentando construir sua casa sem material e sem ferramentas.
Deus fala um só idioma que é o Amor. Não pode entender outras palavras ocas
e vazias diferentes do Amor.
Ele tampouco pode escutar outros sons senão os do Amor. Que são, nesse
caso, os ruídos e os pedidos pessoais?
A Religião não deve ser a flor dos sentidos mas a raiz da liberdade.
Quem suplica por meio do Verbo nada receberá porque a finalidade do Verbo
não é implorar com humilhação, mas dirigir através do Poder.
Quem suplica para si mesmo nada receberá, porém, a quem intercede tudo lhe
será dado.
Em verdade, em verdade vos digo: Quem não adora ao Supremo Ser dentro do
próprio coração não O encontrará em nenhum outro templo.
“Em verdade, em verdade vos digo: Chegarão tempos em que não se adorará
o Pai nem nesta montanha, nem neste Templo de Jerusalém, mas em Espírito
e Verdade”.
A língua deve ser a harpa do Espírito, na qual entoe a Religião sua melodia.
Não deve ser, porém, a Religião harpa da língua, de onde brote a confusão
babilônica.
Em toda Religião há bons e maus, porque a Religião é, a um tempo, boa e má.
A Religião da Verdade, porém, que é sinônimo de Lei, não tem bons, nem
maus, mas apenas sacerdotes verdadeiros e sacerdotisas da Beleza e do
Amor.
Toda religião que premia com Céus e castiga com Infernos é falsa e conduz à
adoração do Nada, ainda que tenham sido necessárias até hoje.
A única Religião do homem deve ser o Amor. Toda religião que disputa não é
uma Religião de Amor e, por conseguinte, é errônea.
Todas as aves do bosque cantam e cada canto, ainda que diferente, é tão
formoso como o outro. Assim deve ser a Religião do coração: cada ser, sem
disputa, nem briga, deve entoar o melhor hino interno ao Amor que une.
Toda Religião deve ser bela; não sendo bela não pode ser amorosa, não sendo
amorosa não pode ser verdadeira.
A CHAVE DO PODER
O BEM E O MAL
Não existe nem Bem nem Mal. Há somente a Lei dentro da qual, no entanto,
podemos distinguir o Bem e o Mal.
O Mal é tão necessário para a Lei como o Bem. Que realidade não possui a
sua sombra?
Deus em si não é nem bem nem mal, é a Lei Infinita. Só os homens Lhe
atribuem o Bem e o Mal. O covarde inventa um Deus covarde e tirano. O fraco
forja um Deus forte e vingativo e, desse modo, cada defeito do homem dá
origem a um novo Deus e um novo santo; seus fiéis ensinaram-no a ser bom e
mau à vontade: aspectos impossíveis de serem encontrados a não ser em
deuses inventados.
Quem ama a Lei sem o temor do castigo, sem a ambição da recompensa não
morrerá jamais porque bebeu a água da imortalidade.
Deus é a Lei mas nessa Lei encontra-se o Bem e o Mal porque sendo Ele a
Causa Suprema, assim deve ser; se em Deus não se sintetizassem,
igualmente, o Bem e o Mal, deixaria de ser universal.
O homem em si não pode fazer o Bem nem o Mal, ao passo que quem o faz é
o espírito interno que opera o Bem ou o Mal mediante o organismo do Homem
ou seus sentidos.
O sol encerra em si o Bem e o Mal: seu calor vivifica e mata. Seus raios tanto
derretem a neve quanto queimam.
No entanto, em que consiste o Bem e o Mal? Existem essas duas faces da Lei
em Deus?
A mente humana forma ela mesma, a seu modo, o próprio paraíso ou o próprio
inferno, embora esses dois estados não existam em realidade.
Sem a sombra a luz não se manifesta. Sem a mentira a verdade não se torna
patente.
Enquanto o coração sentir ódio pelo demônio não poderá sentir amor por Deus
porque dentro do coração não podem caber ódio e amor ao mesmo tempo.
Quem governa a própria vida segundo a Lei não precisa saber do bem nem do
mal.
Descobrir o gérmen do bem é chegar a conhecer que não há nem bem nem
mal, mas apenas uma diferença de condições.
A CHAVE DO PODER
Procurar sempre ver, ouvir, sentir a fragrância, saborear e apalpar tudo que for
formoso, belo, seleto, bonito ou agradável. Em suma: que a Beleza seja o único
guia.
TRIUNFO OU LIBERTAÇÃO
A mente vive correndo de uma ideia para outra, do prazer para a dor, da
saciedade para a fome, da elevação para a queda, de um sofrimento para outro
e do triunfo para o fracasso.
O coração jaz no mar tormentoso das visões pretendendo roubar aos deuses
os segredos do porvir e apagar os sofrimentos do passado.
Sua fantasia é sempre uma terra virgem: cada vez que recebe as primeiras
chuvas do desejo, nela brota tudo que dormia em suas entranhas. No entanto,
tão logo o que brotou vê o sol da verdade, fica reduzido a cinzas.
Ele ama e seu amor vive entre as tempestades da carne e do sangue. Deseja,
mas seu desejo acha-se associado à falsa honra.
Deseja a libertação, mas sua mente, ao tentar escalar os raios solares, verifica
que cada ato é o princípio de um outro e que o princípio de uma coisa é o fim
de outra: nada tem princípio, nada tem fim. Não existe princípio nem fim para o
homem que sabe equilibrar-se entre os dias e as noites.
Até que haja libertação e triunfo. Mas... libertação de quê e triunfo sobre o quê?
Não existe libertação sem sofrimento e não existe triunfo sem morte.
Todos os seres sofrem para libertar-se. A rocha sofre para ser transformada
nas pedras da futura construção, a árvore também sofre para dar frutos.
Libertação é não pensar nem na vida nem na morte; triunfo é não desejar a
terra nem os céus.
É preciso lutar contra esse anjo tal como fez Jacó a fim de vencê-lo e, em
seguida, apoderar-se da espada flamejante.
Antes da vitória sobre o anjo não existirá libertação e antes de obter a espada
não haverá triunfo.
Todos os pensamentos devem manifestar-se em obras e toda a oposição
deverá ser enfrentada pela força.
Libertação é não desejar nada porque já se tem tudo. É também não fugir da
dor porque esse é o caminho da salvação.
A CHAVE DO PODER
A JUSTIÇA
A Justiça é uma arte cuja finalidade é libertar o homem dos grilhões das leis. O
homem, no entanto, é um mau artista que consegue traduzir o poder da Justiça
mediante leis que o aprisionam.
A lei dos homens é um artesão que fabrica pesados grilhões para o pescoço
dos fracos.
A lei é a maior inimiga do faminto que rouba um pão mas é a melhor amiga do
ladrão que rouba milhões.
A lei deveria ser a sombra da Justiça porém apenas quando o sol atinge o seu
zênite.
O homem não procura a sombra da lei senão quando o sol está no crepúsculo,
quando ela é maior, para traçar a sua justiça sobre a Terra.
Quem, com a própria mão, promulga uma lei injusta, fá-lo sobre o próprio
coração e não poderá apagar essa marca a não ser quando a fogueira o
reduza a cinzas.
A justiça surda é a que quer transformar o tirano num eco do Poder e o rico
ignorante numa cópia do sábio.
A justiça muda é a que, sem falar, põe o polegar para baixo a fim de mandar
matar os que caíram e extinguir os fracos.
Há, por último, a justiça sem tato que aprisiona o mundo moderno com as leis
do mundo antigo.
O homem que repousa na luz negra não pode enxergar a justiça sentada na
escuridão luminosa.
Aquele que não suspira junto com o aflito não poderá ouvir o grito de suas
entranhas.
Aquele que não chora junto com o infeliz não poderá lavar suas feridas com as
próprias lágrimas.
A justiça não consiste em eliminar aquele que errou: sua função é apagar o
nosso erro da mente da vítima.
Os erros desprendidos de nosso ser tomam por alvo a mente de nosso EU.
O justo não é idólatra para degolar sua própria consciência diante de um ídolo
a que ele chama Deus.
Mais ainda, deve ser como o sol que ilumina a flor e o esterco, brilhando sobre
o rio e sobre o charco.
– Por que motivo sujas teus raios dourados com as imun dícies da terra?
E o sol respondeu:
E a águia subiu a tamanha altura que já não via a Terra senão como um
pequeno grão de lentilha e disse isso ao sol.
Este respondeu:
– Tola, ainda estás na atmosfera da Terra e dizes que não a vês. Que
importam a mim as imundícies de que falas se me encontro tão longe delas?
A CHAVE DO PODER
Ser justo em todos os atos é ser reflexo de Deus na Terra e aqui realizar Sua
autoridade.
Aquele que procede com justiça em todos os seus atos tem o poder e o direito
de dominar a Alma do Mundo por alguns chamada de Luz Astral e de Pedra
Filosofal pelos alquimistas.
Aquele que afirma em si a ideia da Justiça não terá nenhum inimigo nesta vida.
Será um Hierofante e o que desatar na terra será desatado no céu e o que atar
na terra será atado no céu. Por meio da Alma do Mundo ele unirá, à vontade, o
céu à terra.
A SABEDORIA
A SABEDORIA
A sabedoria é a nostalgia que não pode ser aliviada pelas glórias humanas
nem sufocada pela fama da vida.
Durante o dia, a sabedoria chama o homem com insistência, mas este não a
ouve porque está empenhado em duplicar seus lucros. Durante a noite, ela
grita aos ouvidos da alma, mas esta não o escuta porque está sonhando com o
fruto do trabalho.
Ninguém pode emprestar os próprios olhos para que outro veja a luz do sol.
Ninguém pode emprestar seus próprios ouvidos para que outros ouçam a
música das esferas.
Todo coração é o livro que encerra os mistérios dos dias e os arcanos das
noites. Os olhos, porém, não podem nem sabem ler seus hieróglifos.
Há palavras silenciosas e sentidas que não podem ser lidas pelos olhos
vidrados que contemplam, deslumbrados, a luz solar.
Cada sábio busca um caminho que lhe é próprio para chegar à verdade, mas
as crianças não podem seguir por esse caminho.
A sabedoria é a prática da dor para que a verdade possa ser demonstrada pela
razão e esta pela evidência.
A sabedoria é a dor que impõe silêncio aos apetites e faz sofrer privações do
que é apetitoso.
Há, na vida, uma sábia força que une os adversários e une os corações com
férrea ligadura. Por isso, vemos os grandes corações unidos aos menores. O
santo que priva de alimentos seu corpo e o pecador que priva de alimentos sua
alma devem unir-se: a causa dessa união é a própria fome.
Todo sábio deve estar ligado a um ambiente adverso e martirizado por ele.
Todo profeta deve ser abatido em sua própria pátria e por seus compatriotas.
A CHAVE DO PODER
O MATRIMÔNIO OU O SEXO
“Os dois não serão senão uma só carne”, afirmou-se antes do Pecado Original.
É o sexo o que está em Deus, assim como o Filho está no Pai.
O sexo é o fruto da árvore da vida que está “no meio” do Jardim do Éden. Ao
comê-lo, o homem se faz Deus. “E o homem se fez como um de nós”, afirma a
Bíblia. No entanto, apesar de o fruto pertencer à árvore da vida, o homem
morreu.
Cada vez que um homem e uma mulher se unem algo se cria e esse algo
criado não pode ser destruído, continuará evoluindo até atingir seus fins.
Portanto, a união sexual é ato de criação e tudo que valha a pena ser criado
deve ser útil e bom.
Como pode encontrar pureza quem foge do sexo ou quem procura Deus
temendo Suas manifestações?
Em que ajuda à Natureza, que é obra de Deus, o que extingue a força criadora
em si mesmo?
A Natureza é sexo e, por meio dessa força, ela procura perpetuar a raça.
Que objetivo teria o homem que foge do sexo ou o que busca o prazer nele?
O prazer sexual é incompleto quando longe da pureza sexual. A pureza sexual
não pode existir, igualmente distante do prazer natural. Ambos se completam
pela união e ambos se extinguem pela separação.
Quem é Jeová, o Deus dos judeus e dos cristãos? É o lod ou falo unido a Eva e
ambos formam o Poder Criador das antigas religiões.
O homem sem a mulher e a mulher sem o homem são Deus pela metade. Na
união das duas metades forma-se Jeová, o Deus da Bíblia.
Deve, assim, existir no casamento um espaço, tal como existe entre duas
árvores.
O sexo precisa ser amor, mas o amor não precisa necessariamente ser sexual.
Porque há sexualidade carnal e sexualidade espiritual. A carnal é o nascimento
e a morte, enquanto a espiritual é a ressurreição eterna.
Ele passa a ser o número imortal e transcende no homem “Aquele que é”, “Eu
sou Ele”, Jeová, “assim me chamarás”, disse o Senhor.
É preciso contemplar a árvore cujo fruto é bom para comer, belo à vista e
formoso para os olhos, sem comê-lo. Nesse dia, teus olhos serão abertos.
A FORÇA
O Criador deu à serpente tentadora toda a força e sábio é o que rouba a força
de sua tentação.
Toda força que opera no mundo moral e físico é produto da tentação criadora.
Todo ser que se converte em joguete de suas tentações é fraco e escravo dos
outros.
Muitas vezes o medo da tentação é uma força que cria o que se teme. O
desejo e o temor comunicam à imaginação os seus resultados.
A força é uma parábola nos olhos velados, nos ouvidos perscrutadores e nos
dedos inflamados pelo fogo da ânsia imortal. Do gérmen do pranto ela extrai a
alegria, da inércia da morte faz pulsar a vida perpétua.
Quem desejar a força tem de conhecer suas leis. É preciso experimentá-la para
gozar dela. F. preciso desfrutá-la para amá-la. É preciso amá-la para obtê-la.
Nem a dedução nem a indução podem dar-nos a força mas sim a tentação
dominada.
Tanto nos homens quanto nos planetas vigora a lei de atração a que
chamamos de bom e de repulsão a que chamamos de mau. Nem toda atração,
no entanto, é boa e nem toda repulsão é má. Assim como toda atração é
movimentada por uma repulsão, assim também a atração da força é a repulsão
dos efeitos do desejo.
A força não pode ser encontrada na virtude egoísta nem no temor covarde das
consequências do vício. A força repousa na luta e cada vez que a vontade sai
vitoriosa de uma tentação, um desejo fica estendido e morto no campo de
batalha, vítima da desintegração.
A CHAVE DO PODER
Quem não pode fazer isto deve seguir orando com os demais: “Não nos deixeis
cair em tentação” e continuará escravo da tentação.
O SACRIFÍCIO
Dar do que é nosso para obter um bem maior é sofrer uma perda pessoal. Dar
de si mesmo é estender o Poder Divino sobre a família, uma cidade ou a terra
inteira.
Dar do que é nosso é ganhar as mentes dos homens; dar-se é ganhar seus
corações.
O amor limitado pede a posse mas o sacrifício não pede mais do que a si
mesmo.
O amor bebe o oceano da vida ao passo que o sacrifício se banha nele. Tudo
se sacrifica pelo homem mas este sacrifica ao Todo para si.
O aroma da rosa não existe para narizes entupidos nem a luz do sol pode ser
percebida pelos olhos do cego. Da mesma forma, Deus não existe para quem
não percebe Sua existência por meio do sacrifício.
Aquele que não saboreia a amargura do sacrifício não pode apreciar a doçura
da vida.
O amor pode ser um fantasma movido pelas ondas do desejo no mar das
ambições; o sacrifício é a única fortuna que não pede para ser aumentada e
que prescinde do supérfluo.
Aquele que se sacrifica por um dia será dono do tempo e dominará todos os
animais que habitam em si mesmo.
A esperança diz: Eu Sou a raiz que se enterra no coração e abro caminho rumo
à seiva, em busca de alimento.
Diz a caridade: Eu Sou o tronco que une o céu à terra; Eu Sou a escada da
Divindade que sobe e da Divindade que desce.
Diz a Arte: Eu Sou a flor que aromatiza e embriaga o mundo com minha
fragrância, Eu Sou o futuro fruto.
Por fim, Deus diz: Eu Sou o fruto, Eu Sou a flor, Eu Sou a folha, Eu Sou o
ramo, Eu Sou o tronco, Eu Sou a raiz e Eu Sou a semente.
A CHAVE DO PODER
A MORTE
A vida é nossa mãe e a morte nossa irmã. Quem aborrecer a irmã será
aborrecido pela mãe.
Aquele que ama a morte será o predileto da vida; esta repudia quem tem medo
da morte.
Sábio é aquele que sabe que, algum dia, há de morrer, mas não acredita na
morte.
Para saborear o prazer de estar vivo é preciso morrer em vida e para gozar da
doçura da morte é preciso senti-la e vivê-la.
Quando o Espírito se embriaga pelo amor o corpo morre e sua morte nada
mais é do que a própria embriaguez pela vida.
Viver é começar uma obra e morrer é terminá-la. Só o tolo começa pelo fim ou
não pensa em terminá-la como o covarde e o ocioso.
O Útero da Natureza é a Porta Universal: sair por essa Porta é vir para a
limitação do tempo; entrar por ela é voltar à Eternidade.
Ainda que ilumine, não deslumbra; embora escura, não estorva; embora doce,
não enjoa.
Quem não mata o desejo de viver vive no desejo de matar e quem não mata o
medo da morte vive temendo a vida.
Eu não viveria se pudesse crer que iria perecer junto com meu corpo. Isto me
demonstra que vivi e que hei de viver outras vezes mais.
Para morrer o homem precisa ter nascido e para nascer é preciso ter existido,
assim como para existir é preciso ter sido transformado muitas vezes pela
morte; para transformar-se é preciso ter vivido muitas vidas.
É preciso haver vivido de uma forma nobre para que se morra nobremente.
Uma morte nobre é muito melhor do que uma vida indigna.
Quem não está pronto para morrer pelos demais não é digno de viver com
eles.
Que seria do mundo se a vida terrena do homem fosse eterna? O inferno não
seria um paraíso em comparação com ela?
O néscio teme a morte como mortal e aferra-se à vida como imortal. O sábio
ama a morte porque sente que é imortal e continua trilhando o caminho reto da
vida até o fim, como mortal.
O raio brota do sol e a ele deve voltar. A árvore brota da terra e à terra
regressará. O Espírito brota do Espírito e a Ele retornará.
O sábio pode morrer à vontade a fim de banhar-se nas águas da morte e delas
sair rejuvenescido. Ele pratica, na vida, a morte voluntária e, então, sabe que a
morte não é o fim da vida nem o começo da imortalidade, mas o movimento
perpétuo da Eternidade.
O MOVIMENTO OU A REALIZAÇÃO
O segredo oculto dos dias e das noites dentro do coração humano precisa
brotar e correr no rumo do Oceano da Atualidade e da Realização.
O homem existe porque tem um ideal que deve realizar. Um ser sem ideal é
inconcebível.
Chegada a aurora, a flor abre seus lábios para beijar a luz. Vem a noite e a flor
recolhe suas pétalas e dorme beijando seu ideal: a vida da flor é experiência e
realização.
O espírito nasce num invólucro e viaja, qual nuvem, por sobre as montanhas do
desejo e os vales de lágrimas até terminar sua ronda, voltando, então, ao ponto
de partida, que é o Oceano do Espírito Universal. A vida do Espírito é
realização e perfeição.
Assim como o jasmim absorve sua vida e fragrância do solo, a alma absorve da
matéria a força realizadora e a sabedoria criadora.
Todo desejo é realização que cria formas, cuja luta pela existência as obriga a
arraigar-se à vitalidade do Criador.
Toda palavra cria sua forma e a forma, para nós, é o que nossa intenção faz
ser.
Ninguém pode ver a beleza se ela não existe em sua alma. Acreditar-se feliz é
ser feliz. Acreditar-se infeliz é ser infeliz. Desgraça, felicidade, formosura e
fealdade não nos chegam de fora, mas brotam de dentro.
O homem que sabe e não realiza é semelhante ao tesouro do avaro que não é
útil a seu dono nem aos demais.
O homem que realiza é um degrau entre o céu e a terra; é uma árvore cujas
raízes estão presas à Divindade e cujos frutos estão à disposição dos corações
famintos. É a nuvem carregada de água que sacia a sede das flores no campo
seco da vida. É o canal que conduz a água da vida aos mortais.
O Filho deve realizar a vontade do Pai e a vontade do Pai vivifica o amor pela
dor, semeando espinhos nos caminhos da vida.
O Filho amado padece pelo amor a seus irmãos e prepara o caminho tortuoso
para os que seguem Seus passos.
O Filho que realiza as obras do Pai não olha senão para a luz da obra, não se
detendo para contemplar sua sombra.
Espera com paciência, como Deus, o fruto da realização, mas não lhe apetece
saboreá-lo.
O sol gira em torno de um eixo e o sistema gira em torno do sol. O Espírito gira
em torno do Eixo-Deus e o sistema corporal gira em torno do Espírito. Cada
qual realiza sua obra pelo amor à obra.
Todo órgão, no corpo, trabalha para o Todo e o Todo trabalha para os órgãos.
Esta é a verdadeira sabedoria que a mente humana não pôde compreender até
hoje.
A vibração do Espírito gera a força nos átomos. A vida é luta contra a inação.
Toda mente inativa morre na noite da fraqueza e não pode gozar da aurora do
vigor.
Todo saber se manifesta na obra e toda obra se imortaliza pelo amor à obra.
O DESTINO
Existe destino?
O que é destino?
Aquilo que o homem sente forma o mundo em que ele vive. Sua atualidade é
realidade. O homem hipnotiza-se por meio de seus pensamentos e acredita em
suas ilusões.
Pensa que está separado do Espírito Criador e vive num mundo influenciado
por um demônio que maneja o seu destino em oposição à Vontade Divina.
Quando crê em tudo isto, isto será para ele como crê.
“Não vos enganeis. Ninguém consegue enganar a Deus pois o que quer que o
homem semeie, isso ele colherá” (Gálatas, VI, 7). “Não se pode colher figo do
abrolho”.
Cada força opera em seu próprio plano e reage segundo a proporção de sua
intensidade, sobretudo no que cai sob seu domínio.
O destino é o duro juiz que não pode ser subornado e a sorte é carinhosa
companheira que elabora as roupas com que nos enfeitaremos no futuro.
O destino é o pai que aplica o castigo merecido pela falta. A sorte é a mãe que
recompensa pelo acerto.
Quem maldiz o destino será amaldiçoado pela sorte e quem bendiz o pai será
abençoado pela mãe.
Nem Deus intervém no destino do homem nem o demônio fatal arma ciladas
em seu caminho.
Ninguém, tampouco, pode subornar a Deus com orações que visem a aliviar os
efeitos do destino. Tudo o que Deus pode outorgar é Seu amor através do
destino, a fim de que o homem O imite e procure a libertação em si e de si
mesmo.
Daquilo que ele foi deriva o que ele é e o que será, sendo que aquilo que ele
agora é poderá apagar o que ele foi ou viria a ser.
Assim, todo o homem pode ser dono de seu futuro apesar dos obstáculos que
tem de enfrentar no presente como consequência do passado.
O homem nasce de acordo com seus desejos e morre de acordo com suas
ações.
Todo desapego é sabedoria; toda sabedoria é um bem, todo bem é fruto doce
pendente da árvore da sorte.
A CHAVE DO PODER
Para ser dono do destino é preciso aprender as causas do sofrimento, pois elas
são a árvore da ambição enraizada no coração. Aquele que sabe arrancá-la
pode morrer porque já não necessita da vida.
A chave consiste em trabalhar pelo amor à obra e não pelo desejo de ver
nascer. E preciso semear, no seio da Mãe-Natureza, as sementes, deixando a
Ela o resto da obra.
Tal prática dota o homem de vista interna, bem como da possibilidade de ler no
coração e na mente dos demais, adquirindo a recordação das vidas passadas
e a premonição das futuras.
A QUEDA
A QUEDA
Para cair é preciso haver subido e para subir é preciso haver-se erguido de
uma queda. A queda é um triunfo mascarado. O pranto é o manjar da alegria. A
dor é o princípio da saúde.
O pão que alimenta o homem é filho do forno do padeiro. A água que sacia a
sede é o conjunto das lágrimas choradas pelo céu.
Não existe nem fracasso nem triunfo, assim como não há nem bem nem mal.
O homem busca o êxito por vários caminhos e bate em muitas portas durante
essa busca; o único caminho e a única porta que conduzem ao êxito é o
fracasso.
Os homens são irmãos na queda e inimigos na sorte. Quando estão felizes têm
muitos deuses e quando dois se reúnem em nome do fracasso a compreensão
é imediata e o Deus verdadeiro está com eles.
O êxito alimenta os corações com desejos, enche os seus dias com hipócritas
virtudes e suas noites com vícios desnudos. Na infelicidade, eles se libertam de
seus vícios e oferecem suas virtudes sem qualquer preço.
Seus pés serão alimento de seu cérebro, seu cérebro alimento de seus pés;
come-se a si mesmo sem sentir, como aquele gato que lambia uma lima e
absorvia o sangue de sua própria língua, crendo que se alimentava do aço da
lima.
Cada queda nos incita a tirar do caminho a pedra de tropeço, a fim de preparar
o caminho para os demais.
O ouro da alma não se purifica a não ser pelo fogo das vicissitudes.
Só é capaz de aliviar a tristeza aquele que a padeceu. O sábio deve ser uma
balança entre o fracasso e o êxito. Quando os pratos de sua balança se
encontram cheios de ambos, estabelece-se o equilíbrio.
A CHAVE DO PODER
Cada fracasso deve ser um motivo para rendermos graças porque ele é uma
lição do Mestre que, embora dura, é proveitosa.
Aquele que sabe beber do cálice de seu próprio fracasso com conformismo,
estudando detidamente os motivos dele, será Mestre nos Mistérios da Natureza
e esta levantará, obedientemente, o seu véu diante dele.
VERDADE E MENTIRA
VERDADE E MENTIRA
O homem é uma lâmpada cujo azeite é a verdade. Aquele que alimentar essa
lâmpada com a mentira não poderá dissipar as trevas do mal.
A flor de lótus brota do seio das águas em direção ao sol sem importar-se com
as dificuldades. A língua do homem deveria ser como a espada que atravessa
os véus da mentira.
Aquele que confia na verdade não se extravia ainda que não veja o caminho
pelo qual está sendo conduzido.
O mentiroso não pode ser iniciado em qualquer ciência ou em qualquer arte
porque a verdadeira ciência e a verdadeira arte são filhas da verdade.
O covarde teme o grito da solidão e, então, canta para dissipar seu medo. O
mentiroso teme a discórdia silenciosa de seu coração e fala.
Quem conserva a verdade no coração não pode revelá-la apenas com uma
palavra, antes grava-a com seu olhar no coração dos demais.
Uma alma negra cobre-se com o véu da palavra, enquanto a alma luminosa
despoja-se de todos os véus para mostrar sua nudez.
A verdade nunca fere e estará mentindo quem disser o contrário. O que fere é
o dardo venenoso da língua mentirosa que se esconde sob o manto da
verdade, tal como a víbora sob as folhas.
A verdade é nua, porém bela. Ela não pode gerar repugnância. Ela é doce e
suave, nunca pode ferir. A mentira, quando nua como a verdade, é repugnante.
Quando a palavra sai da boca faz vibrar a atmosfera até o infinito e faz
estremecer os próprios deuses, de forma que o impulso da palavra vocalizada
impressiona a todos os seres e coisas que existem no Universo.
– Por que o homem mentiu?
O coração do homem qual chama, faísca na mente e a língua de fogo sai pela
boca luminosa e cálida, e descendo sobre o homem, como aconteceu durante
o Pentecostes, outorgando-lhe o dom das línguas.
É bom criar, mas é preciso criar o bom. É bom falar, mas é preciso viver a
palavra falada. Viver a palavra proferida é fazer viver a felicidade própria e
alheia.
“Dou minha palavra” é uma afirmação que equivale a dizer “Dou a meu Deus
como refém”.
O discípulo, muitas vezes, consagra uma vida inteira para tornar-se digno de
aprender a Palavra Perdida. Nós, no entanto, a daremos a cada aspirante, a
fim de praticá-la por toda a vida. Ei-la: DESEJAR É PODER, PENSAR É
SABER, FALAR É CRIAR.
Bastará dizer ao doente: fique bom, ele ficará curado; ao desgraçado: fique
feliz, ele ficará; ao viciado: fique perfeito, ele ficará perfeito; ao morto ou à
morta: kumi ou kum e despertarão.
VOLUPTUOSIDADE E TEMPERANÇA
O sábio não busca o gozo porque sabe que este o espera no caminho. O
ignorante busca a voluptuosidade como guia no caminho do viver.
Se os olhos são as sentinelas do homem, por que razão ele não sabe distinguir
entre o bom e o mau, entre o normal e anormal?
As más forças no homem são ídolos e, por isso, ele sempre tende a adorá-los.
É bom comer, porém é melhor assimilar. É bom possuir coisas boas, porém é
melhor conhecer sua utilidade.
A FELICIDADE
Obedecer à Lei e servir são as duas asas mediante as quais o ser se eleva.
Quem busca a felicidade para gozá-la tropeça na dor para que a sofra porque é
mais difícil gozar a felicidade do que viver sem ela.
A maior felicidade consiste em não procurá-la porque com ela o homem tem
dez deveres a cumprir de uma só vez e o mais formoso desses deveres é mais
doloroso do que dez infelicidades juntas, ao passo que sem ela não
necessitará de outra coisa senão de conformação.
Ninguém quer aceitar que a felicidade é uma flor que cresce entre espinhos.
Para colhê-la, no entanto, é preciso rasgar as vestes, a pele e sangrar.
A felicidade é uma abelha que defende seu mel com um ferrão envenenado,
embora o mel da felicidade também seja o remédio universal para toda a dor.
O homem não deve pedir nada à felicidade porque ela nada tem para dar.
– Que me falta, senhor, para que não seja? Semeio agora e Deus amanhã me
dará a colheita. Termino meu trabalho hoje e, à noite, minha mulher e meus
filhos me esperam, a fim de lavar-me os pés e dar-me de comer. Não será esta
a verda deira felicidade?
O rei pulou de satisfação por ter encontrado o homem que procurava. Juntou,
então, as mãos em atitude de súplica e, com a voz entrecortada de ânsias,
pediu:
É uma felicidade ser homem para depositar a própria força aos pés de uma
mulher. É uma felicidade ser mulher para adornar o homem com a ternura da
própria sensibilidade. É uma felicidade ser rico pra repartir o pão com os
pobres. É uma felicidade ser pobre para recompensar com a bênção a mão
que ofereceu o alimento.
É felicidade ser filho e derramar uma lágrima de ternura filial que recompense o
sofrimento do pai.
Por que o homem é infeliz? – Porque vive no passado ou tem medo do futuro,
descuidando-se do presente.
A vida é a felicidade em si: onde quer que exista um rouxinol a cantar, onde
quer que exista uma flor a desprender perfume, onde quer que exista uma
árvore que frutifique a felicidade existe. No entanto, o homem aprisiona o
rouxinol para ouvir seu canto, colhe a flor para cheirar e depois a joga fora e
colhe o fruto para comê-lo; é o rei de todos, mas vive infeliz. E vive infeliz
porque não aprendeu a dar mas só a colher.
A felicidade nada pode dar porque nada tem para dar ou não pode separar-se
de seus dons. A felicidade se entrega por completo à criatura que nada lhe
pede.
A CHAVE DO PODER
A felicidade é a própria Lei Natural: consiste em dar aos outros mais do que a
si mesmo.
É preciso consagrar, todos os dias, um pouco de tempo para fazer com que
outros sintam a felicidade. Os métodos para isso são inumeráveis. Uma só
caridade equivale a um ano de orações.
O homem que trabalha pela felicidade dos outros é dono de si mesmo, dono
dos homens, dono da natureza e de seus espíritos.
Não existe outro caminho nem outro método e mentirá quem disser o contrário.
RESSURREIÇÃO OU RENASCIMENTO
A tenaz árvore, após dar seus frutos, entrega suas folhas amarelecidas ao
vento, para que este as disperse. O homem verdadeiro, que existe por si
mesmo, quando termina sua tarefa diária entrega a roupa à mãe para lavá-la.
Nascer é vestir-se com roupas limpas, viver é trabalhar e suar; morrer é despir-
se, ressuscitar é banhar-se na fonte cristalina da pureza.
A morte física não supõe ganância alguma, É a árvore que morre antes de
poder dar o que possui. A morte mística é o procedimento que elimina o inútil.
O verdadeiro ser do homem não morre para ressuscitar. Ele apenas joga fora
sua veste imperfeita para usar outra que seja limpa e nova.
Essa é a verdade sobre a morte e a ressurreição. Morre o imperfeito para dar
lugar ao perfeito. Rompe-se a casca da semente e esta brota em direção ao
infinito. Semeia-se um corpo terreno e ressuscita um corpo luminoso.
Por isso o corpo de Cristo morreu na cruz para ressuscitar no terceiro dia.
“Quem não nascer outra vez não poderá ver o Reino de Deus”, disse Jesus.
Morre o homem velho para seus erros, paixões e vícios e ressuscita o homem
novo no reino do saber e da virtude.
A CHAVE DO PODER
A alma é o campo de batalha onde o instinto luta contra a razão, porém, nem
um nem outro são donos do campo porque ambos são intrusos. São duas
nuvens de polaridades opostas no céu que, ao se chocarem, produzem o
relâmpago, o trovão e o raio. O raio, porém, não é nem o relâmpago, nem o
trovão, mas a voz silenciosa que ilumina e queima.
“Deves conciliar teu demônio com teu Deus e atar ambos ao teu próprio
veículo: sê firme apenas no modo de manter as rédeas”.
“Se um espinho tirar sangue de teus pés durante o caminho, rega-o com teu
próprio sangue e ele se converterá numa rosa. Se a baleia da morte te devora,
depois de três dias ela te lançará na orla da vida”.
“Derrama o fogo do Amor sobre a cabeça do teu demônio e ele te guiará rumo
ao Centro”.
“Faz com que o teu mal seja um bem e teu bem se envergonhará diante de teu
mal”.
“Quando teu corpo for perseguido pelas ondas da paixão, afirma: já estou perto
da margem, preciso ancorar para não encalhar”.
“Quando o desejo de teu ventre bater à porta de tua mente, ordena ao coração
que abra a porta”.
“Brinca com o teu desejo assim como o pai brinca com o filho, porém não te
deixes montar pelo desejo como o filho faz nos ombros do pai”.
“Arranca de teu coração a planta das idades porque suas raízes absorvem toda
a seiva”.
“Queima as histórias dos heróis sanguinários e lança suas cinzas nos olhos
dos historiadores”.
“Aquele que tem o poder de matar também tem o poder de ressuscitar. Ontem
mataste o teu DEUS, ressuscita-O agora”.
“Quando orares, repete as preces ditadas pelo Íntimo mas não balbucies
aquelas que os preguiçosos usam para distrair-se”.
“Quando quiseres falar, que o sangue de teu coração matize tuas palavras”.
“Que tua palavra seja um raio destruidor e que aquele que temer a destruição
guarneça o próprio crânio com pára-raios”.
“Monta nas asas das tempestades diurnas, a fim de que possas romper as
asas das tempestades noturnas”.
“Faze do sangue de teu coração uma tinta luminosa, de tua língua uma espada
e grava teu ideal em tua testa”.
“Toda palavra não escrita com a tinta do sangue é apenas um traço na areia do
mar”.
“Antes, porém, de falar escuta o fragor da voz das sete forças que jazem na
consciência do Universo”.
“E antes de que tua língua lance a bala mortífera, certifica-te de que não és o
alvo”.
“Teu coração é o juiz, tua mente a executora da sentença e teu desejo é o que
vai ser executado”.
A CHAVE DO PODER
Esta voz é chamada instinto, impulso natural, sentimento interior, nos animais,
e intuição no homem. Essa voz silenciosa é muito perceptível no coração e não
espera que a consultem porque sempre antecipa os fatos e, se não é ouvida,
muitas vezes é porque a voz do desejo do homem a suplanta.
A PERFEIÇÃO
A forma nasceu da energia vibratória da vida, tal como o alento nasce dos
pulmões do ser e a ideia da mente.
Copulados esses dois elementos divinos pela força do amor, nasceu a vontade
que a ambos equilibra.
Esta prova de crucificação entre o bem e o mal tem por objetivo o triunfo.
A corrente não pode retornar além de sua nascente nem os efeitos podem ser
maiores do que suas causas; portanto, não há outra causa externa à perfeição.
A CHAVE DO PODER
Não sou eu quem a confere, senão aquele que disse “Sede perfeitos como
vosso Pai é Perfeito”.
“Vestir-se-á com roupas brancas e seu nome será declarado diante do Pai e de
seus anjos”.
Se esta obra te agradar ou te for útil, eu sentirei o teu amor, assim como terás
sentido o meu.