1. Engenheiro Agronomo, Ph.D., Professor do Departamento de Fitotecnia
da UFRRJ, 2. Eng. Agrôn. M.Sc. em Fitotecnia, Professor do Instituto Federal Goiano
2. Submetido e aceito a revista Campo & Negócios, v.106, pg.46-48, 2011.
Ao escrever mais um artigo para está importante revista Brasileira de
divulgação, mais uma vez iniciamos de forma conservadora. O tema proposto, Aplicação Foliar de Molibdênio (Mo) em Soja, por si só, além de importante é intrigante. Importante porque não resta dúvida da importância do Mo para a cultura de soja, especialmente no Brasil onde se planta esta cultura em solos com baixa reserva deste elemento. Intrigante porque os produtores rurais e técnicos das mais diferentes regiões relatam frequentemente o efeito benéfico do uso de Mo na cultura. Entretanto, o resultado das pesquisas científicas sobre as respostas positivas da aplicação de Mo em soja nem sempre são afirmativos na produtividade, veja o quadro abaixo adaptado de Eloir et al.,(2005), onde “C” significa plantas inoculadas com rizóbio e “S” sem inoculação.
Neste presente artigo, como pesquisadores, procuraremos discutir a
razões desta controvérsia. O molibdênio é um elemento essencial, porque faz parte de várias enzimas importantes das plantas, embora sem duvida, as enzimas nitrato redutase e nitrogenase são as mais importantes. Estas enzimas estão envolvidas diretamente com a disponibilidade de nitrogênio para as culturas e são especialmente importantes no processo de fixação biológica de nitrogênio. Hoje, no Brasil, todo nitrogênio necessário ao desenvolvimento da soja é obtido através da fixação biológica de nitrogênio atmosférico e esse fato mostra a importância do correto suprimento de molibdênio às culturas. Não entraremos em detalhe sobre a importância do Mo e Co, porque já foi publicado no final de 2010 um artigo nesta revista discutindo estes elementos.
Existem quatro formas de se aplicar Mo em soja: A) Junto a sementes -
é a mais usada, a aplicação de uma fonte que contenha este elemento, como trióxido de Mo, molibdato de sódio e de amônio, ácido molíbdico e adubos compostos que contenha Mo como FTE (fritted trace elements), colocado junto com as sementes, no momento do plantio. A dose utilizada é muito variável, variando de 30 a 100 gramas de Mo por hectare. O Mo é colocado juntamente com outros produtos que também são adicionados no momento do plantio com o inoculante, pequenas doses de calcário e defensivo sendo o mais comum os fungicidas. Neste modo de aplicação o técnico ou agricultor deve tomar cuidado com a fonte de Mo a ser usada. Existem controvérsias sobre as fontes de adubo a ser utilizado, embora, vários trabalhos científicos têm mostrado que o molibdato de sódio em contato direto com as bactérias do inoculante pode matá-las, prejudicando assim a fixação biológica de nitrogênio atmosférico. Então esta fonte deve ser evitada. B) Aplicação direta ao solo utilizando a plantadeira, para distribuição na área. Este método pode ser complicado pela dificuldade de se aplicar doses baixas em gramas por hectare, de forma uniforme e bem distribuída. Nas formas de aplicação relatadas em A e B o Mo é aplicado no plantio. C) Aplicação Foliar - outra forma de aplicação de Mo é a realizada via foliar que é muito eficiente, neste caso o adubo é colocado nas folhas através de pulverizações, geralmente é aplicada uma dosagem que varia de 40 a 200 gramas de Mo por hectare, diluído em água, no pulverizador. D) Sementes com concentração adequada de Mo. Este item D, é a causa a nosso ver, das controvérsias existentes entre as pesquisas sobre a aplicação de Mo em soja. A razão é facilmente compreendida; as quantidades de molibdênio necessário ao desenvolvimento das plantas são tão pequenas que se as sementes que foram usadas para o plantio destes experimentos já continham a concentração ideal deste elemento, os mesmos não mostram resposta à aplicação de Mo. O nível crítico de Mo nas sementes de soja necessário para ela ser auto-suficiente foi estabelecido em 1997, pelo primeiro autor desde trabalho, em colaboração com outros pesquisadores como sendo de entorno de 3,5 µg de Mo semente-1. O trabalho foi publicado no Congresso Internacional de Fixação Biológica de Nitrogênio realizado em Paris – França. Diante deste fato, muitos dos experimentos onde a planta de soja não respondeu ao Mo aplicado seja diretamente nas sementes, solo, ou via foliar, pode ter sido devido que a concentração de Mo das sementes utilizadas no experimento já estarem com o nível crítico acima do necessário para a futura planta se desenvolver, sem adubação complementar. A reserva natural de Mo no solo interagem logicamente com estas respostas. A este respeito é preciso tecer alguns comentários. Os solos brasileiros de maneira geral não contem em sua matriz níveis elevados de Mo. Entretanto, com aumento do pH, entorno de 6.0, necessário para um bom cultivo de soja, ocorre liberação considerável desde Mo adsorvido aos colóides do solo para as plantas. Por isso, no começo da década de 70, especialmente na região de cerrado, se dizia que não era necessário adubar a cultura da soja com Mo devido ao aumento de seu conteúdo após a calagem. Isto era parcialmente verdade. Nos primeiros anos de cultivo, não ocorria resposta da planta ao Mo devido ao aumento do pH, entretanto, em cultivos posteriores na mesma área ocorreria deficiência. O molibdênio é extraído do campo pelos grãos. Cerca de 80% da quantidade absorvida pela planta é translocado através dos mesmos para fora da área de cultivo, tornando a adubação necessária anualmente, como adubação de manutenção. Por estas razões é sempre mais seguro realizar as adubações com Mo. Só não é recomendada se antes do plantio, for comprovada que a concentração de Mo nas sementes está acima do nível crítico.
Uma questão importante relacionada ao método de aplicação foliar é o
estabelecimento do melhor estágio de crescimento da planta para a aplicação foliar. Estudos realizados no Laboratório de Fitotecnia da UFRRJ na década de oitenta, procurou determinar a melhor época da aplicação foliar de Mo em soja, visando dois objetivos: aumento da produtividade da cultura e o aumento da concentração desde elemento na semente. Os resultados encontrados mais uma vez mostraram o grau de dificuldade de se trabalhar com este elemento. Para cada cultivar testada houve uma época ideal de se aplicar Mo. Por exemplo, a cultivar Doko respondeu melhor a adubação foliar quando o Mo foi aplicado 42 após o plantio. Já a cultivar UFV-1 respondeu melhor com aplicação no início do enchimento dos grãos. Ocorreu interação significativa entre cultivares, tipo de solo e época de aplicação. Então, é necessário mais pesquisas para estabelecer qual é o melhor estágio de se aplicar Mo, visto que, os resultados obtidos não foram conclusivos a respeito do mais adequado estágio fenológico da planta para se aplicar Mo. É interessante observar que para o feijoeiro são encontrados mais trabalhos científicos conclusivos do que para soja, a despeito da importância desta cultura. Embora nestes últimos 30 anos muitos trabalhos tenham sido realizados com soja, a maioria são trabalhos de campo, sem analises nos tecidos da planta. Em 1981/82 nos realizamos um ensaio nas dependências da então Escola Agrotécnica Federal de Rio Verde, hoje Instituto Federal Goiano, testando os principais adubos foliares comerciais que continham Mo em sua formulação. Já neste ensaio ficaram claras as dificuldades de se obter respostas conclusivas. Todos os resultados relatados até aqui dificultam que seja realizada uma analise simplista da adubação com Mo. Mais complicado fica se considerarmos que a análise analítica deste elemento no tecido da planta é muito trabalhosa, difícil de ser realizada, especialmente quando ele se encontra em baixas concentrações. São necessários equipamentos sofisticados como o aparelho de absorção atômica (AA) com forno de grafite ou Plasma (ICP) de boa qualidade. Analises utilizando metodologias colorimétricas também podem ser realizadas, embora, sem duvida, mais trabalhosas. Para finalizarmos, diante de grandes indefinições tecnológicas e da importância deste elemento para a planta de soja fixando nitrogênio atmosférico, não resta duvida que as adubações com este elemento devam ser incentivadas. Especialmente as foliares, que podem ser realizadas junto com aplicações de defensivos como inseticidas e fungicidas sem prejudicar a planta nem onerar os custos de produção. O aparecimento de toxidez de Mo devido à aplicação via foliar é improvável de ocorrer; são raros os casos relatados onde isso foi encontrado. Corroborando com este fechamento é preciso lembrar que a nossa agricultura vive hoje momento completamente diferente, comparado ao da década de setenta e oitenta. Os dados de pesquisa obtidos até então, foram baseados em uma única colheita realizada na área por ano, hoje, podemos ter no mesmo local duas ou até três coletas de grãos, saindo do sistema, retirando mais Mo. Isto só reforça que as adubações sejam realizadas frequentemente. Os custos de produção não serão aumentados se um manejo adequado for realizado, pelo contrário, sementes obtidas de adubações foliares superiores a 400 gramas por hectare de Mo, poderão até ser vendidas como sementes com concentração adequada do elemento.
O caminho a ser seguido, daqui para frente, vai na direção do
fornecimento de sementes ‘’totalmente’’ tratadas. Estas sementes virão com todos os tratamentos convencionais e ainda com a adição de Mo. Isso reduziria o trabalho do produtor rural, pois dispensaria a mistura, que hoje é feita na propriedade, nem sempre da forma e nas doses adequadas. Acreditamos, sem dúvida, que a produção de sementes que já contenham o total de Mo necessário ao desenvolvimento da planta é, o processo mais promissor. Além de ser mais eficiente, pois o nutriente está totalmente disponível, dentro da semente, não sendo sujeito aos processos de perdas para o ambiente, como nas demais formas de fornecimento.