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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE- SES -SP

COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS-CRH


GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS-GDRH
CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS
“Dr. Antonio Guilherme de Souza”
SECRETARIA DE ESTADO DA GESTÃO PÚBLICA
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL - PAP

Letícia de Paula

PSICANÁLISE INFANTIL:
UMA INTERSECÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

SÃO PAULO
2017
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE- SES -SP
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS-CRH
GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS-GDRH
CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS
“Dr. Antonio Guilherme de Souza”
SECRETARIA DE ESTADO DA GESTÃO PÚBLICA
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL - PAP

Letícia de Paula

PSICANÁLISE INFANTIL:
UMA INTERSECÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

Monografia apresentada ao Programa de


Aprimoramento Profissional - SES-SP,
elaborada no Instituto de Assistência Médica
ao Servidor Público Estadual – IAMSPE.
Área: Psicologia Hospitalar

SÃO PAULO
2017
Aos pacientes atendidos durante esta
caminhada, que me proporcionaram
reflexões pessoais e profissionais.
AGRADECIMENTO

Aos meus pais, Jair e Valéria, pelos exemplos e por acreditarem no meu potencial,
sempre incentivando a dar continuidade aos estudos.

À minha irmã Larisse, por existir, ser minha companheira e amiga de todas as horas,
pelo incentivo constante, apoio, carinho, acolhimento, apesar da distância e das
minhas ausências.

À todos os familiares, tios, tias, primas e primos que torceram, incentivaram, se


preocuparam, mas acreditaram na conclusão deste curso e entenderam as minhas
ausências.

Às minhas amigas do Aprimoramento, Camila e Lígia, pela troca constante de


conhecimento, atrelado a momentos de cumplicidade, diversões, risos e alegrias, sem
esquecer é claro, de me auxiliarem na adaptação a cidade de São Paulo.

À minha orientadora Mariangela, pela orientação a este trabalho e por tudo o que me
ensinou em cada atendimento supervisionado.

Às supervisoras: Kátia, Luciana, Marcella e Maria Tereza por compartilharem sua


experiência e conhecimento, contribuindo imensamente para a minha formação.

Aos colegas de aprimoramento, pela troca de conhecimento e experiência.

À todos que contribuíram direta ou indiretamente para isso.


“Quando vejo uma criança, ela inspira-me
dois sentimentos: ternura, pelo que é, e
respeito pelo que pode vir a ser.”
Louis Pasteur
PAULA, LETÍCIA DE. Psicanálise Infantil: uma intersecção entre a teoria e a
prática. Monografia. f. 40 – Programa de Aprimoramento Profissional em Psicologia
Hospitalar, Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual – Hospital do
Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira, São Paulo, 2016.

RESUMO

O presente trabalho tem como premissa a noção de que o brincar é um facilitador da


expressão da realidade psíquica da criança, ou seja, o brincar como instrumento
terapêutico e técnico, denominado Ludoterapia, neste caso, sustentado pelo aporte
teórico da Psicanálise. Para Klein, as brincadeiras e jogos são formas de expressão
das crianças, ou ainda, uma via de projeção das fantasias. A interação da criança com
o jogo é passível de interpretação, semelhante a associação livre no adulto, já que o
jogo é equiparado a linguagem, portanto, é o acesso da expressão do mundo interno
da criança. Pelo jogo, a criança demonstra suas fantasias inconscientes, e, ao fazer
isso, integra seus conflitos, facilitando a elaboração das situações traumáticas. No
presente trabalho foram realizadas reflexões sobre a aplicação e análise da técnica
de Ludoterapia, com viés psicanalítico, a partir do atendimento clínico de uma criança
no Ambulatório de Psicologia do HSPE-FMO. Este trabalho tem como objetivo
reafirmar a importância do lúdico terapêutico, ilustrar que o brincar tem um significado,
que é através dele que podemos acessar o inconsciente infantil, ajudando a criança a
elaborar suas angústias, sintomas e dificuldades familiares, propiciando o
conhecimento da realidade psíquica infantil.

Palavras-chave: Ludoterapia. Psicanálise. Brincar.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 07
OBJETIVO ............................................................................................................... 08
METODOLOGIA ...................................................................................................... 09
1. BRINCAR ............................................................................................................. 10
2. PSICANÁLISE INFANTIL ..................................................................................... 14
2.1. Breve Histórico ............................................................................................. 14
3. A TÉCNICA DO BRINCAR DE MELAINE KLEIN ................................................ 18
3.1. O papel do analista: a interpretação ........................................................... 21
4. APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO .............................................................. 24
5. ANÁLISE .............................................................................................................. 30
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 33
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA.............................................................................. 34
ANEXO I ................................................................................................................... 36
ANEXO II .................................................................................................................. 38
7

INTRODUÇÃO

A realização deste trabalho se deu a partir dos atendimentos realizados no


Ambulatório de Psicologia do Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato
de Oliveira (HSPE – FMO), durante o Programa de Aprimoramento Profissional em
Psicologia Hospitalar.
Neste trabalho apresentarei o caso do Mário, um menino de oito anos que foi
encaminhado para o atendimento psicológico pela equipe de Fisioterapia, que
entendeu que sua recuperação física estava sendo afetada por questões emocionais.
Mário sofreu um acidente de trânsito com vítima, que o lesionou, prejudicando a sua
locomoção. Além do acidente, o paciente passou por outro “acidente”: a separação
dos pais. Na época, o paciente enfrentava dificuldades para compreender a separação
parental, bem como a nova dinâmica familiar.
Foi através deste atendimento, que despertou o interesse pelo atendimento
infantil e pela técnica, utilizando o brincar como instrumento terapêutico e técnico,
sustentado pelo viés da Psicanálise.
No presente trabalho foram realizadas reflexões teóricas sobre a importância
do lúdico terapêutico.
A fundamentação teórica tem como premissa que o brincar é um facilitador da
expressão da realidade psíquica da criança, pois é pelo jogo que a criança demonstra
suas fantasias inconscientes e, ao fazer isso, integra seus conflitos, facilitando a
elaboração das situações traumáticas. A interação da criança com o jogo é passível
de interpretação, semelhante a associação livre no adulto, já que o jogo é equiparado
a linguagem e portanto, é o acesso para o mundo interno da criança.
Portanto, buscarei fazer a intersecção entre essa teoria aqui apresentada e
prática clínica.
8

OBJETIVO

O presente trabalho tem por objetivo reafirmar a importância do lúdico


terapêutico, ilustrar que o brincar tem um significado e que através dele podemos
acessar o inconsciente infantil, auxiliando a criança na elaboração de suas angústias,
sintomas e dificuldades familiares, propiciando o conhecimento da realidade psíquica
infantil.
9

METODOLOGIA

A elaboração do presente trabalho aconteceu a partir da prática clínica no


Ambulatório de Psicologia do HSPE-FMO, sustentado pelo aporte teórico da
Psicanálise.
Freud sempre se preocupou com a cientificidade da prática psicanalítica. Em
seu texto Dois verbetes de enciclopédia de 1922, afirmou que a psicanálise de
constitui como método de investigação, forma de tratamento e teoria, ambos
inseparáveis.
Para Safra (1993), o princípio da pesquisa em Psicanálise deve ser norteado
pela relação permanente entre a teoria e a prática clínica.
Sauret (2003) considera a Psicanálise como um método de investigação de
processos psíquicos, realizada através da associação livre, da escuta flutuante, das
transferências, entre outros aspectos.
Este trabalho tem como premissa o método de investigação psicanalítico, que
se constitui de modo singular e qualitativo.
O material clínico é fundamental para o encontro entre a experiência
psicanalítica e a elaboração teórica, pois é através dele que se terá acesso ao caso e
a tudo que suscitar.
Conforme aponta Safra (1993), o relato do material clínico não é preciso, pois
é impossível a reprodução exata de tudo o que ocorrer na sessão. Assim, utilizaremos
um recorte do que realmente aconteceu, limitado por um determinado ponto de vista
e pelo elemento investigado em questão.
Além disso, a privacidade e a identidade dos envolvidos neste trabalho serão
mantidos em sigilo, conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo (2014). Para
isso, será relatado somente dados necessários para a compreensão do caso, além da
utilização de nomes fictícios.
Considerando o exposto acima, neste trabalho foram utilizados recortes do
atendimento clínico de uma criança no Ambulatório de Psicologia do HSPE-FMO. Os
relatos de clínicos completos encontram-se, devidamente, arquivados na Seção de
Psicologia.
10

1. O BRINCAR

“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo [...]”.


(ANDRADE, C. D.)

Os jogos e o brincar sempre tiveram um papel muito importante na vida das


crianças, dos adolescentes como também dos adultos e estão presentes na história
da humanidade, na construção cultural e social de um povo, desde as mais remotas
civilizações.
Figueró (2012) aponta que o brincar torna a criança mais ativa, criativa,
contribuindo ainda para se relacionar com os outros. Permite desenvolver suas
potencialidades; ela compara, analisa, classifica, cria, compõe, favorece o equilíbrio
físico e emocional, além da capacidade de concentração, criatividade e inteligência.
Sua sociabilidade é desenvolvida, pois favorece a interação com as pessoas.
“Brincando a criança está buscando um sentido para sua vida. Sua saúde física,
emocional, intelectual, mental e social depende, em grande parte, dessa atividade
lúdica” (Figueró, 2012, p. 26).
Nessa perspectiva, brincar consiste em uma atividade de crucial importância
para o desenvolvimento humano, na medida em que a criança pode transformar e
produzir novos significados. Mesmo nas crianças muito pequenas é possível observar
essa subordinação do objeto em si ao novo significado que lhe é atribuído, o que
expressa o caráter ativo da criança no curso do seu próprio desenvolvimento.
Vygotsky (2011), um dos representantes mais importantes da Psicologia, partiu
do princípio de que o sujeito se constitui nas relações com os outros. Nesta
perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do
processo de constituição do sujeito; rompendo com a visão tradicional de que ela é
atividade natural de satisfação de instintos infantis. O autor apresenta o brincar como
uma atividade em que, tanto os significados social e historicamente produzidos são
construídos, quanto novos podem ali emergir. A brincadeira e o jogo de faz-de-conta
seriam considerados como espaços de construção de conhecimentos pelas crianças.
A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na
medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados.
11

A importância dos brinquedos para o desenvolvimento humano reside no fato


de que estes não determinam a ação da criança, pois os objetos perdem sua força
determinadora. Na brincadeira

“...a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que


vê. Assim, é alcançada uma condição em que começa a agir
independentemente daquilo que vê” (Vygotski, 2011, p.27).

O objeto brinquedo pode, portanto, adquirir para a criança outros sentidos, ou


seja, a partir de sua própria ação e imaginação em jogo. Portanto, é possível observar
que rompe com a relação de subordinação ao objeto, atribuindo-lhe um novo
significado, o que expressa seu caráter ativo, no curso de seu próprio
desenvolvimento.
As crianças usam objetos para representar coisas diferentes do que realmente
são: pedrinhas de vários tamanhos podem ser alimentos diversos na brincadeira de
casinha, pedaços de madeira de tamanhos variados podem representar diferentes
veículos na estrada. Na brincadeira, os significados e as ações relacionadas aos
objetos convencionalmente podem ser libertados.
Vygotsky (2011), estudando o papel psicológico que o jogo exerce no
desenvolvimento da criança, nos chama à atenção para a investigação das
necessidades das crianças, suas motivações e tendências que se manifestam e como
elas se satisfazem ao jogar.
Para o autor, o brincar da criança é a imaginação em ação, destacando o
momento imaginário, sendo este um dos elementos fundamentais das brincadeiras e
dos jogos. Em outras palavras, a criança quando joga/brinca percorre um mundo
imaginário, que tem a conotação de mundo real, revelando suas vontades, emoções
e atitudes.
Portanto, o autor considera que o brinquedo exerce na criança uma grande
influência em seu desenvolvimento.
Outro importante autor da Psicologia e da teoria do desenvolvimento, Jean
Piaget (1990) diz que as manifestações lúdicas estão intimamente ligadas à sequência
12

dos estágios1 divididos por ele e acompanham o desenvolvimento da inteligência do


indivíduo.
Para o autor, o jogo tem significado fundamental para o ser humano, e suas
manifestações surgem, à medida que o indivíduo vai amadurecendo e se tornando
adulto. Piaget identifica três grandes tipos de estruturas mentais que surgem na
evolução do brincar: o exercício, o símbolo e a regra.
Destacarei aqui, o jogo simbólico, que se instala quando a criança repete uma
cena que se passou, ou relembra, por meio de gestos e ações, situações do seu
cotidiano. O jogo simbólico não só é apenas assimilação do real ao eu, como o jogo
em geral, mas uma assimilação assegurada por uma linguagem simbólica, construída
pelo eu e modificável conforme as necessidades. Segundo Piaget (1990) são,
sobretudo os conflitos afetivos que reaparecem no jogo simbólico. Assim, uma cena
ocorrida durante uma situação pode ser reproduzida horas depois num brinquedo.
É uma forma da criança de expressar seus sentimentos com a repetição de
uma determinada situação que foi vivenciada, ou seja, uma auto-expressão. Quando
a fala torna-se inapropriada para a criança, ela se utiliza do jogo simbólico para se
expressar.
Affonso (2012) entende que cada objeto pode apresentar uma significação
completamente adversa do que se espera que ele signifique. Isso implica numa
cuidadosa observação do comportamento e contexto da criança, para que sejam
interpretadas.
O estudo sobre o brincar tem sido um tema que tem despertado interesse em
várias áreas do conhecimento. Assim podemos observar que esses autores também
contribuíram para a disseminação da importância do brincar.
Desta forma, para essa leitura lúdico profissional temos séculos de estudos e
investigações, realizadas por grandes teóricos, inclusive da teoria psicanalítica.
Assim, é importante considerar a significação e representação da perspectiva do
brincar no contexto terapêutico.

1 Piaget considera quatro períodos no processo evolutivo, de acordo com as faixas etárias de
desenvolvimento, sendo elas: 1º período - Sensório-motor (0 a 2 anos), 2º período - Pré-operatório (2
a 7 anos), 3º período - Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) e 4º período - Operações formais (11
ou 12 anos em diante).
13

“conversar com crianças; dispor de materiais para conversar; compreender


as dificuldades de uma criança a partir da sua expressão por meio de
brinquedos são exemplos de atitudes que pressupõem um diálogo entre um
adulto – no caso clínico, o terapeuta – e uma criança, quando ela mediada
pelos brinquedos, tenta dizer quais são suas preocupações, suas dificuldades
[...] trata-se de um diálogo em que pressupomos um tipo de linguagem”
(AFFONSO, 2012, p. 38).

Posto isto, ressalto que os autores da teoria do desenvolvimento humano,


convergem que o brincar é o meio mais importante de comunicação da criança, e isso
veremos também na Psicanálise.
O jogo tem um amplo espectro para ser compreendido, pode revelar para nós
uma diversidade de mundos. A informação que dele poderemos obter dependerá do
olhar e da área de pesquisa que a ele se destine. Podemos ver a evolução
psicomotora de uma criança, detectar habilidades, permitir que se reconheça o estado
de sua motricidade fina, avaliar a maturidade neurológica, conferir se corresponde ao
esperado no momento evolutivo, detectar o desenvolvimento cognitivo, avaliar a
criatividade, ter referências em relação ao uso do traço e das cores, assim como
pesquisar a capacidade simbólica.
Todas estas funções são formas de avaliação dos elementos egóicos. Mas o
jogo, para o psicanalista, tem uma especificidade que permite detectar os enigmas
que se inscrevem no inconsciente, aproximar da sexualidade infantil, adentrar nas
defesas, nos sintomas, nos conflitos e nas dinâmicas psíquicas que percorrem a
subjetividade num momento preciso. Assim pensado, o jogo adquire outro sentido.
Assim, no próximo capítulo, assumiremos o viés psicanalítico e
estabeleceremos uma relação entre a Psicanálise e a aplicação da técnica do brincar
com criança.
14

2. A PSICANÁLISE INFANTIL

2.1 Breve Histórico

“A Psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do


gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime
que o próprio criminoso ignora” (QUINTANA, 1997).

Ao se falar sobre as produções teóricas da psicanálise infantil2, pensa-se logo


em nomes como Anna Freud e Melaine Klein, que se destacaram no movimento
psicanalítico na década de 20, protagonizando uma rivalidade imensa. Cada uma a
seu modo, propondo novas práticas para a clínica com crianças e permitiram a
formação de duas escolas de pensamento para a análise de crianças.
Contudo, foi Freud quem deu os primeiros passos para o alicerce da técnica,
apesar de no início de sua obra afirmar ser necessário ter maturidade para submeter
a análise, o que inviabilizaria a aplicação em crianças.
A teoria psicanalítica iniciou-se a partir de métodos focados no adulto e
posteriormente, foi se desenvolvendo no campo da análise de criança. A partir dos
atendimentos de adultos Freud observou que as causas de transtornos se localizavam
na infância. (ABERASTURY, 1982).
Entretanto, foi no ano de 1909 que tivemos, na teoria freudiana, o primeiro ato
fundador da psicanálise com criança, a publicação do caso de Herbert Graf,
denominado Pequeno Hans – Análise de uma fobia em um menino de cinco anos
(FREUD, 1909/1980).
O caso do pequeno Hans se tornou célebre na teoria freudiana ao inaugurar o
tratamento de uma criança em psicanálise. Mas a intenção maior de Freud com esse
caso não era elaborar uma técnica de atendimento infantil. Seu objetivo era confirmar
na infância a causa das neuroses e fundamentar sua tese acerca da sexualidade
infantil – exposta em 1905 nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (FREUD,
1905/1980).

2 Como psicanalista de crianças, Hermine Von Hug-Hellmuth é a autora dos primeiros escritos sobre
a clínica com crianças, mas quem são realmente reconhecidas como primeiras psicanalistas de
crianças são Anna Freud e Melanie Klein.
15

Freud, nesse caso, buscou o significado do conteúdo inconsciente e latente da


criança que era manifestado através de seu comportamento e suas brincadeiras,
objetivando reverter os sintomas fóbicos do menino.
O caso foi intermediado pelo pai do menino, que descrevia suas brincadeiras e
comportamento. Freud e Hans se encontraram somente uma vez. O pai da psicanálise
enfrentou problemas para analisar o caso, já que a expressão verbal de uma criança
é diferente do adulto, dificultando a associação livre. Desta forma, teve que buscar
outros meios para acessar o inconsciente (ABERASTURY, 1982).
Na história de Hans, muitas das interpretações referem-se a brincadeiras,
sonhos e fantasias. Freud descreveu a essência do brinquedo como forma de colocar
em movimento situações de angústia e vivências traumáticas. A criança não brinca
apenas com aquilo que é prazeroso, mas também como uma estratégia para repetição
de situações que são consideradas dolorosas (ABERASTURY, 1982).
Foi a partir desse caso que observou as possibilidades e potencialidades da
psicanálise infantil, possibilitou confirmar sua teoria da sexualidade infantil e a
aplicabilidade da análise às crianças. Além disso, ficou evidente a preocupação de
que os eventos traumáticos na infância pudessem gerar problemas emocionais
futuros.
Posteriormente, em “Além do princípio do prazer”, Freud (1920) descreveu uma
brincadeira de um de seus netos. O jogo consistia em um carretel amarrado a um
barbante; nela o carretel surgia e desaparecia do campo de visão da criança. Nesse
contexto, Freud interpretou a brincadeira, como sendo a elaboração simbolicamente
da angústia de separação da mãe.
Contudo, foi somente em 1933, nas “Novas Conferências” em que Freud
escreveu sobre a psicanálise infantil e a sua aplicação, defendendo-a, e propondo a
adaptação da técnica utilizada com adulto, em função da diferença do mundo interno
de cada um deles.
Desta forma, fica evidente que a partir de Freud surgiram outras publicações
teóricas, como a de Hermine Von Hug-Hellmuth, Anna Freud, Melaine Klein, entre
outros, que deram continuidade ao desenvolvimento e aplicação da técnica.
Segundo Aberastury (1982), Von Hug-Hellmuth foi uma das primeiras a tentar
superar as dificuldades nos atendimentos com criança. Além de observar o jogo,
também brincava com seus pacientes, mas não deixou sistematizado seu método.
16

Anna Freud e Melaine Klein publicaram os primeiros livros sobre a psicanálise


infantil. Ambas, assumiram posturas diferentes em suas técnicas, principalmente na
forma de abordar a transferência e também apresentam diferentes conceitos teóricos
sobre a formação do ego e do superego, o complexo de Édipo e a relação de objeto,
portanto duas correntes em psicanálise de criança.
Segundo Aberatury (1982), em sua obra Anna Freud relatou sobre dez
atendimentos de crianças, na faixa etária entre seis e doze anos, com neurose graves,
enfocando os limites e alcances da psicanálise.
Em seu estudo, concluiu que a situação analítica do adulto e da criança é
diferente, já que a criança não tem consciência de sua enfermidade, nem desejo de
cura, não se analisa por livre decisão delas e o mais importante: não são capazes de
fazer associações verbais. Anna Freud, utilizava a interpretação de sonhos e
desenhos, restringindo a utilização de jogos (ABERATURY, 1982).
Zimermam (2004) apontou que Anna Freud, no decorrer dos atendimentos
infantis foi aprimorando uma orientação essencialmente pedagógica, voltada para o
ego consciente mais do que para as profundezas do inconsciente, desta forma,
reeducava a criança para uma adaptação à realidade, visando um convívio melhor em
família.
Em síntese, Anna Freud postulou que a capacidade de transferência (já
definida por Freud como sendo “reedições, reproduções das moções e fantasias que,
durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornarem-se conscientes, mas com
a característica de substituir a pessoa anterior pela pessoa do médico”) não é
espontânea na criança; e embora evidencie reações transferências positivas e
negativas, não faz uma verdadeira neurose de transferência, em parte pelas
condições inerentes à criança e em parte porque estas condições obrigam o analista
a realizar um trabalho educativo; o analista deve ser educador, porque o superego do
paciente ainda depende dos objetos exteriores que o originaram e não está maduro;
a transferência negativa não deve ser interpretada, mas dissolvida por meios não
analíticos; somente com transferência positiva pode ser realizado um trabalho útil com
a criança.
Diferente de Anna Freud, Klein baseia-se na utilização do jogo e continua as
investigações de Freud, a fim de construir um arcabouço teórico, a partir da
observação de bebês e dos atendimentos com crianças. Introduziu de forma
consciente e sistemática o uso de brinquedos, desenhos e jogos na técnica, o que lhe
17

permitiu descrever e interpretar a situação analítica para a criança. A criança, ao


brincar, vence realidades dolorosas e domina medos instintivos, projetando-os ao
exterior por meio dos brinquedos, isso porque tem a capacidade de simbolizar
(ABERATURY, 1982).
Postulou que a capacidade de transferência é espontânea na criança e que
deve ser interpretada, tanto a positiva como a negativa, desde o primeiro momento,
não devendo o analista tomar o papel de educador. Além disso, atribui a transferência
como sendo um instrumento principal para conhecer o que acontece na mente da
criança e também para descobrir e reconstruir sua história inicial. A criança expressa
suas fantasias, seus desejos, e suas experiências reais de um modo simbólico,
através de brincadeiras e jogos, e na medida em que as figuras aparecem no jogo da
criança através do mecanismo de simbolização e personificação, podemos
compreender a formação de seu superego e amortecer sua severidade.
Neste trabalho empregaremos, nos próximos capítulos, a teoria kleiniana.
18

3. A TÉCNICA DO BRINCAR DE MELAINE KLEIN

Considerando a amplitude de autores psicanalíticos no campo infantil, elegerei


a técnica de Melanie Klein, que fez sua contribuição para o movimento psicanalítico
sob a perspectiva analítica do tratamento com crianças, sobretudo porque utiliza os
conceitos fundamentais da psicanálise freudiana como fundamento de sua prática.
No decorrer dos seus atendimentos com crianças, percebeu a inibição de
alguns de seus pacientes, e após realizar várias análises com crianças através do
método de associação verbal, não obteve os resultados esperados. A partir disso,
incluiu o lúdico, inseriu brinquedos para favorecer a comunicação, e então
desenvolveu sua teoria. Observou que “quando brinca, a criança mais age do que
fala. Ela coloca atos – que originalmente ocuparam o lugar de pensamentos – no lugar
de palavras [...]” (KLEIN, 1997, p. 29).
Assim, podemos dizer que Klein foi uma pioneira ao inserir uma criança em
análise e utilizar o brinquedo como instrumento terapêutico.
Em sua teoria, no ano de 1926, no texto Princípios Psicológicos da Análise
Infantil, Klein destacou a diferença entre a vida mental das crianças e dos adultos,
propondo a partir disso um procedimento técnico analítico adaptado a essa situação,
e encontrou isso através do brincar.

“A natureza mais primitiva da mente da criança torna


necessário encontrar uma técnica analítica especialmente
adaptada a ela, e isso nós encontramos na análise através
do brincar. Por meio da análise do brincar, ganhamos acesso
às fixações e experiências mais profundamente reprimidas da
criança e tornamo-nos assim capazes de exercer uma influência
radical sobre o seu desenvolvimento [...] A análise através do
brincar leva os mesmos resultados que a técnica de adultos,
com uma única diferença, a saber, que o procedimento
técnico é adaptado à mente da criança.3” (KLEIN, 1997, p.35).

Acrescenta ainda que se o analista utilizar com a criança a técnica do adulto,


não será possível acessar o inconsciente, prejudicando o proposto na análise. Por
outro lado, se a técnica for utilizada corretamente em crianças, por meio do brincar,
afirma que a análise será tão profunda quanto do adulto, já que na criança o

3 Grifo nosso.
19

inconsciente ainda está mais próximo do consciente e seus impulsos encontram-se


lado a lado com os processos mentais (KLEIN, 1997).
Em sua descoberta, apontou ainda uma equivalência entre o brincar e a
associação livre na análise de adultos. A interação da criança com o jogo é passível
de interpretação, semelhante a associação livre no adulto, já que o jogo é equiparado
a linguagem, portanto, é o acesso da expressão do mundo interno da criança.

“A criança expressa suas fantasias, seus desejos, e suas


experiências reais de um modo simbólico, através de
brincadeiras e jogos. Ao fazer isso, ela emprega o mesmo modo
de expressão arcaico e filogeneticamente adquirido, a mesma
linguagem, por assim dizer, com que estamos familiarizados nos
sonhos; e só poderemos compreendê-la plenamente se
abordarmos da forma como Freud nos ensinou a abordar a
linguagem dos sonhos. O simbolismo é apenas uma parte dela.
Se desejarmos compreender o brincar da criança corretamente
em relação ao seu comportamento como um todo durante a
sessão analítica, não devemos nos contentar em pinçar o
significado dos símbolos isoladamente na brincadeira, por
impressionantes que sejam tão frequentemente, mas devemos
considerar todos os mecanismos e métodos de representação
empregados pelo trabalho do sonho, sem nunca perder de vista
a relação de cada fator com a situação como um todo” (KLEIN,
1997, p. 27).

Afirma ainda que a criança produz associações com os diferentes aspectos de


seus jogos da mesma forma que fazem os adultos com os elementos de seus sonhos
e de suas associações verbais.
Portanto, para Klein, as brincadeiras e jogos são formas de expressão das
crianças, ou ainda, uma via de projeção das fantasias.

“Com muita frequência as crianças expressam na brincadeira as


mesmas coisas que estiveram há pouco nos contando através
de um sonho ou produzem associações a um sonho na
brincadeira que o sucedi. Pois o brincar é o meio mais importante
de expressão da criança. Se utilizarmos a técnica do brincar,
logo descobriremos que a criança traz tantas associações aos
elementos separados da sua brincadeira quanto aos adultos
com os elementos separados de seus sonhos” (KLEIN, 1997, p.
28).

Ao brincar, a criança projeta para o exterior - no jogo - seus medos, angústias


e problemas internos e domina-os por meio da ação, ou seja, passa do lugar passivo
para o ativo, de objeto para sujeito. No brincar, a criança pode vivenciar papéis e
20

situações que seriam proibidas na vida real e pode também repetir situações
prazerosas.
O jogo, como os sonhos, são atividades plenas de sentido. A função do jogo é
elaborar as situações excessivas para o ego - traumáticas -, cumprindo uma função
catártica e de assimilação por meio da repetição dos fatos cotidianos e das trocas de
papeis, por exemplo, fazendo ativo o que foi sofrido passivamente.
O jogo não suprime, mas canaliza tendências. Por isso a criança que brinca
reprime menos que a que tem dificuldades na simbolização e dramatização dos
conflitos através desta atividade.
Pelo jogo, a criança demonstra suas fantasias inconscientes, e, ao fazer isso,
integra seus conflitos, facilitando a elaboração das situações traumáticas. A função do
jogo é ressignificar suas vivências.
A criança expressa suas fantasias, desejos e experiências de um modo
simbólico por meio de seus brinquedos e jogos. Ao fazê-lo, utiliza os mesmos meios
de expressão arcaico-filogenéticos, a mesma linguagem que nos é familiar em
sonhos. Para compreender completamente esta linguagem temos que nos aproximar
a ela como Freud nos ensinou a aproximar-nos a linguagem dos sonhos. O simbolismo
é só uma parte desta linguagem. Se desejamos compreender corretamente o jogo de
crianças em relação a sua conduta total durante a hora de análise, devemos não só
decifrar o significado de cada símbolo por separado, embora possam ser claros, mas
também ter em consideração os mecanismos e formas de representar usados pelo
trabalho onírico, sem perder de vista jamais a relação de cada fator com a situação
total (ABERASTURY, 1982).
Klein (1997) ao descrever sobre seus métodos analíticos mencionou que os
brinquedos colocados à disposição da criança são importantes para a técnica da
análise lúdica, pois permite que a criança possa expressar suas fantasias de maneira
ampla.

“Seu tamanho reduzido, seu número e sua grande variedade,


deixam o campo livre para os jogos mais variados, ao passo que
sua simplicidade permite uma infinidade de usos diferentes. Tais
brinquedos, portanto, prestam-se muito bem a que a criança
exprima amplamente, por meio deles, suas fantasias e
experiências com grandes detalhes. Os diversos “temas lúdicos”
e os afetos a eles associados (que deduzimos, em parte pelo
conteúdo de seus jogos e em parte pela observação direta) são
representados lado a lado e dentro de um espaço reduzido, de
sorte que podemos ter uma visão das conexões gerais e da
21

dinâmica dos processos mentais que estão sendo


apresentados” (KLEIN, 1997, p. 40).

Atualmente, na técnica psicanalítica, utilizamos uma caixa de lúdica exclusiva


da criança, que simboliza o lugar ocupado por suas fantasias, conflitos, traumas e
mecanismos de defesa. A caixa tem a finalidade de guardar os materiais/brinquedos,
que são específicos para lidar com os conflitos da criança; nela deve conter materiais
estruturados ou não, a fim de favorecer a projeção.
Desta forma, evidenciamos que o brincar é uma técnica eleita pela clínica
kleiniana para a compreensão do funcionamento psíquico da criança. Contudo, vale
ressaltar que a teoria kleiniana é uma interpretação possível de Freud, mantendo
inclusive todos os fundamentos do método psicanalítico proposto.

“A diferença entre este método de análise e o método da análise


de adulto é, contudo, exclusivamente uma diferença de técnica
e não de princípio. A análise da situação transferencial e da
resistência a remoção da amnésia infantil arcaica e dos efeitos
da repressão, bem como o desvelamento da cena primária –
tudo isso a técnica de brincar faz. Pode-se ver que todos os
critérios do método psicanalítico se aplicam também a esta
técnica” (KLEIN, 1997, p. 35).

O brincar tem um significado, é através dele que podemos acessar o


inconsciente infantil, ajudando a criança a elaborar suas angústias, sintomas e
dificuldades familiares, propiciando o conhecimento da realidade psíquica infantil.
Durante o tratamento de crianças, observa-se continuamente que um mesmo
brinquedo ou jogo adquire diferentes significados de acordo com a situação total. E
por isso que somente se compreende e se interpreta um jogo quando se tem em
consideração a situação analítica global na qual se produz.

3.1 O papel do analista: a interpretação

O analista tem o papel de interpretar, dando lugar a outras coisas. Na análise


lúdica, os elementos do jogo e suas associações levam a descoberta do conteúdo
latente, assim como na técnica com os adultos, quando descrevem os sonhos.
A capacidade de transferência é espontânea na criança e que deve ser
interpretada, tanto a positiva como a negativa, desde o primeiro momento, não
devendo o analista tomar o papel de educador (ABERASTURY, 1982).
22

Pensa que a ansiedade da criança é muito intensa e que é a pressão dessas


ansiedades primarias que põe em funcionamento a compulsão a repetição,
mecanismo estudado por Freud na dinâmica da transferência e no impulso a brincar.
Conduzem-no a simbolizações e personificações, nas quais reedita suas primeiras
relações de objeto, a formação do superego e a adaptação a realidade, que se
expressam em seus jogos e podem ser interpretados.
Assim, a intervenção interpretativa proposta por Klein (1997, p. 49) “dever ser
conduzida a uma profundidade suficiente para atingir a camada psíquica”. Desta
forma, a autora assegura que a partir do momento em que o paciente deixa
transparecer seus complexos por meio dos jogos, desenhos ou fantasias, a
interpretação pode e deve ter início.
Isto porque, segundo Klein (1997) a transferência no setting analítico infantil se
efetua imediatamente. Contudo, qualquer sinal de transferência negativa, a
interpretação deve ser feita o mais rápido possível, a fim de reduzi-la, permitindo que
esses afetos negativos desloquem-se à situação e objetos originais. Dando a criança
a possibilidade de liberar e elaborar a situação original na fantasia.
Posto isto, Klein (1997), pg faz uma ressalva “eu nunca tentaria fazer uma
interpretação simbólica tão crua dos jogos infantis”;

“Se quisermos compreender corretamente o brinquedo da


criança em relação a todo o seu comportamento durante a hora
de análise, não devemos contentar-nos em desvendar o
significado de símbolos isolados” (KLEIN, 1997, p. 31).

Ainda sobre a interpretação a autora destaca que o analista deve atentar para
que a interpretação do material clínico seja feita no momento oportuno, numa
apreciação justa e rápida do sentido desse material, que nos fornecerá informações
acerca do estado afetivo atual do paciente. Deverá ainda ter como objetivo
contextualizar o brincar da criança em um todo específico da brincadeira.
O analista não deve temer fazer interpretação, já que o material tornará a surgir
mais tarde para a devida elaboração.
A interpretação tem a função de modificar o caráter dos jogos da criança e fazer
com que a representação desse material se torne mais clara, abrindo a porta do
inconsciente e diminuindo a angústia suscitada, preparando assim, o caminho para o
trabalho analítico.
23

Segundo Klein (1997, p. 28) a criança aceita a interpretação muito fácil que o
adulto, “frequentemente a interpretação tem efeitos rápidos”; a explicação para isso é
porque “em certas camadas de suas mentes, a comunicação entre o consciente e
inconsciente é ainda comparativamente fácil”.
É por meio das interpretações que o vínculo terapêutico se constitui e se
mantem, pois, o paciente sente-se aliviado e compreendido pelo terapeuta.

“O terapeuta tem que saber esperar, tem que suportar o paradoxo e permitir
que o jogo se transforme em verdadeira expressão daquilo que o paciente
quer manifestar e daquilo que o terapeuta deseja saber.
É no encontro entre terapeuta e criança que a hora de ludo adquire verdadeiro
sentido de diagnóstico, de diagnóstico aberto, de expressão do inconsciente.
A hora de ludo ganha dimensão e se oferece a nós como ferramenta principal
para saber da subjetividade de uma criança em pleno potencial e
desenvolvimento” (SIGAL, 2011).
24

4. APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO

Neste capítulo será apresentado o caso atendido no Ambulatório de Psicologia


do HSPE-FMO e, em seguida, a intersecção destas experiências com a reflexão
teórica apresentada.

Paciente: Mário4

O paciente Mário, 8 anos, foi atendido no ambulatório de Psicologia no período


compreendido de 12 de abril a 23 de agosto. Inicialmente foram realizadas entrevistas
preliminares, com o paciente e com a mãe, e posteriormente foi proposto o processo
de Ludoterapia breve, com 12 sessões.
O encaminhamento para o atendimento psicológico foi realizado pela equipe
de Fisioterapia, a qual entendeu que sua recuperação física estava sendo afetada por
questões emocionais. Mário realizava sessões de Fisioterapia 2 (duas) vezes por
semana, pois sofreu um acidente de trânsito com vítima, que o lesionou, prejudicando
a sua locomoção.
Foi realizada a primeira entrevista preliminar na presença de sua mãe, Marina.
Nela, o paciente foi pouco receptivo ao atendimento, inclusive com dificuldade de
manter contato visual com a psicóloga.
Marina verbalizou que Mário sofreu um acidente de trânsito no dia 01 de janeiro
deste ano. O veículo era conduzido por seu pai, e nele estavam presentes o paciente
e seus dois irmãos. Estavam a caminho de sua casa para pegar as malas da viagem
que fariam, quando outro veículo ultrapassou o sinal vermelho e colidiu no lado
esquerdo, justamente onde Mário estava. O paciente ficou preso nas ferragens do
automóvel, sendo necessário que a Equipe de Corpo de Bombeiro utilizasse
ferramentas para serrar as ferragens e conseguir retirar o paciente. Situação esta,
geradora de muito medo e choro no paciente. Os demais passageiros não sofreram
lesões graves, exceto o Mário.
A criança foi encaminhada para o HSPE, sendo necessário a realização de
procedimento cirúrgico, já que os membros inferiores foram comprometidos,

4 Os nomes, deste trabalho, são fictícios conforme Código de Ética Profissional do Psicólogo, 2016.
25

permanecendo na enfermaria por aproximadamente 20 (vinte) dias. Após a alta


hospitalar, foi acompanhado por Neurologistas e Fisiatras para investigação da perda
de esfíncteres, tendo como hipótese, a relação dos fatores emocionais. Além disso,
recomendou-se sessões de fisioterapia, já que a locomoção foi prejudicada.
A mãe relatou que o paciente pouco verbalizava sobre o acidente.
Além do acidente, o paciente passou por outro “acidente” a saber: a separação
dos pais, que ocorreu em 16 de dezembro de 2015. Portanto, os eventos aconteceram
em um período de 15 (quinze) dias. Segundo relatou a genitora, Mário enfrentava
dificuldades para compreender a separação parental, bem como a nova dinâmica
familiar.
Mário não estava frequentando a escola, pois não tinha acessibilidade para
recebê-lo, já que estava se locomovendo de cadeira de rodas.
O pai foi convocado para as entrevistas preliminares, mas não compareceu.
Após 3 (três) entrevistas preliminares, o Ambulatório de Psicologia propôs o
processo ludoterápico.
Na primeira sessão, Mário já explorava a caixa lúdica, manuseando os
brinquedos. Por meio de uma atividade lúdica com os carrinhos, verbalizou sobre um
homem que adorava corrida, e tinha o sonho de correr a prova de 500 milhas de
Indianápolis, mas que demorou para realizar esse sonho.
Com os carrinhos, diferenciava-os em carrinho de corrida e os comuns, no
decorrer da brincadeira, apontei para o paciente que ele não era um carrinho comum,
e sim um carrinho de corrida. Na brincadeira, constrói algumas pistas de corrida, e
nela há uma disputa, os carrinhos enfrentam inúmeros obstáculos para chegar até a
linha de chegada.
Pontuei que assim como os carrinhos de corrida superaram os obstáculos
acreditava que ele também poderia se recuperar, pois já havia superado a cadeira de
rodas, a muleta e agora estava de bengalas, mas que isso era um processo. Na
sequência, paciente verbalizou “gostaria de correr, na próxima vez acho que já venho
sem a bengala”.
Na segunda sessão, paciente verbalizou que gostaria de brincar de exército,
mas que para isso seria necessário construir uma fortaleza5. Retirou todos os objetos
da caixa lúdica, distribui igualmente as peças, tanto para ele quanto para a terapeuta.

5Para padronizar o relato desta sessão, utilizarei somente o termo fortaleza, já que o paciente, ora
verbalizava fortaleza, ora castelo.
26

O paciente construiu a fortaleza inúmeras vezes, pois não conseguia equilibrar


as peças, desmontando a fortaleza. No decorrer do jogo pediu para trocar as peças
com a terapeuta, contudo o insucesso continuava.
Apontei para o paciente que apesar de sua fortaleza estar destruída, ainda era
possível ser consertada, que os guerreiros poderiam ajudá-lo na reconstrução.
Num determinado momento do jogo, tentou fazer a fortaleza igual da terapeuta,
mas foi apontado para ele que poderiam ser diferentes, assim como as pessoas são.
Mário demonstrou irritação, pois não conseguia sustentar a fortaleza, “ele tá
fraco, a base tem que ser mais forte”, nesse momento, solicitou a ajuda da terapeuta.
Após outras tentativas, a fortaleza permaneceu firme e em pé. Pontuei para o
paciente que foi possível construir uma fortaleza firme e forte, assim como ele
desejava, mas que para isso foi necessário enfrentar várias dificuldades. Não desistiu
em nenhum momento, se esforçou, assim como estava fazendo com sua recuperação
física e emocional.
Sustentar a fortaleza, foi um processo, que durou a sessão toda, não foi rápido
e nem fácil, assim como sua recuperação.
Na terceira sessão, o paciente construiu a fortaleza rapidamente. A base
chamou a atenção da terapeuta, sendo inclusive assinalado para Mário. Os objetos
da caixa lúdica, como carros e animais foram denominados de guerreiros pelo
paciente, os quais tinham como função defender a fortaleza da guerra.
No jogo, os guerreiros foram feridos e encaminhados para o hospital para
serem cuidados pela equipe, ou como dizia o paciente “consertados”, e após a
recuperação, retornavam ao jogo. Demonstrando a confiança que Mário tinha na
equipe que cuidava dele.
Para a sessão seguinte, Mário quer brincar de futebol de botão. Os times
disponíveis na caixa lúdica são Corinthians e Palmeiras6. Para iniciar o jogo, paciente
escolheu a terapeuta para dirigir o Palmeiras, portanto ele utilizaria o Corinthians. No
transcorrer do jogo, paciente preocupa-se em proteger o seu gol, inclusive reforçando-
o com outras peças mais próximas de seu gol, além disso, seu goleiro defendia todas
as bolas. Foi assinalado isso para ele, que verbalizava, ora que precisava se defender,
ora que precisava defender o gol.

6 Times de sua mãe e seu pai, respectivamente.


27

Apontei que nos últimos atendimentos havia brincado de guerra, e que


acreditava que a guerra da recuperação ele estava superando muito bem.
O jogo continuava. Em outra oportunidade, pontuei para ele que futebol é uma
disputa, que os times eram grandes rivais, e que seu pai torcia para o Palmeiras e sua
mãe para o Corinthians, então que a separação estava sendo muito difícil.
Mário narrou que se sentia dividido, pois ora estava com o pai, ora com a mãe.
Em outra sessão, o jogo foi de ping-pong, para isso o próprio paciente criou a
mesa e a rede, com os brinquedos contidos na caixa lúdica. No decorrer, apontei para
ele que acreditava que ele se sentia como a bola do jogo, num ir e vir, de um lado para
o outro, sem um lugar próprio, numa constante disputa, em que um ganha e o outro
perde.
Foi justamente nesta sessão que verbalizou sobre as constantes brigas do
casal parental, bem como, a difícil adaptação a essa nova situação: a separação,
atrelado as mudanças em sua rotina.
Para a sessão seguinte, validei o comprometimento e determinação dele em
cumprir seus objetivos, inclusive com a recuperação. Apontei que as brigas dos pais
não estavam relacionadas a ele, e que ele próprio havia percebido que nada poderia
fazer em relação a isso.
Enquanto isso, voltou a brincar com os carrinhos, diferenciando-os novamente
entre os de corrida e os normais. Utilizou um adesivo numérico como placa de
velocidade. No jogo, os carros normais ultrapassavam a velocidade permitida e eram
parados pela polícia. Os carrinhos de corrida também, mas a polícia não conseguia
alcançá-los, pois eram muito ágeis.
Assinalei para ele, que a placa de velocidade era a cirurgia (prevista para
retirada de uma contenção no joelho) e após o procedimento ninguém mais o
alcançaria, até porque ele se recuperava muito rápido, e ninguém mais o impediria de
correr. Na sequência, mostrou o joelho e disse “depois da cirurgia vou ficar melhor”.
Em outra sessão, o primeiro jogo foi com as bolas, fazendo malabarismo com
elas. Pontuei que ele aprendeu a fazer malabarismo, a lidar com situações difíceis,
pois passou por muitas delas nos últimos meses.
Na sequência, brincou como se fosse boliche, mirava a bola nas peças com o
objetivo de derrubá-las, e fez isso com êxito em todas as suas tentativas, inclusive
ajudando a terapeuta melhorar sua performace. Apontei que o paciente tinha uma
excelente mira, e que seu alvo era sua recuperação.
28

Resolveu brincar de futebol de botão, e disse “vamos guardar as peças para


não ficar tudo bagunçado”. Interpretei para ele, que assim como as peças estavam
bagunçadas, ele também estava se sentindo assim, nessa relação com os pais. E
após um tempo em silêncio, verbalizou “tá tudo bagunçado mesmo”.
Validei para o paciente que ele tem muita clareza de toda a situação, que o que
estava bagunçado era problema de seus pais, nada relacionado a ele e que ele estava
muito bem, já que é o mestre em recuperação, superando muitos obstáculos difíceis.
Na décima sessão, elegeu como jogo o futebol de botão. Ao arrumar as peças
para o jogo, uma das peças do Corinthians estava perdendo o adesivo do time, e o
paciente reconhece como sendo diferente das demais, dizendo “essa peça é diferente
das outras”.
Apontei para ele que apesar da peça não ter mais o símbolo, ela continuava
sendo parte do time, só estava diferente, isso não o impedia de jogar. Assim como
ele, sua limitação física não o impedia de brincar, de fazer outras coisas, talvez fizesse
de uma forma diferente. Em seguida, reuniu todas as peças e disse “fizeram uma
reunião e ele continuará jogando”.
Próximo ao término do jogo, paciente ajudou a terapeuta a empatar a partida
dizendo que não precisava ter um vencedor, portanto desejava o empate. Pontuei que
era isso que ele desejava dos pais, não precisava ter briga, pois poderiam viver bem
com o empate, sem um vencedor, já que ele não estava em disputa.
O jogo foi encerrado com o placar empatado.
Na décima primeira sessão, iniciou o atendimento falando sobre o aplicativo de
celular Pokémon Go, explicando que os pokémons precisavam evoluir para realizar
outras funções. Assinalei que assim como o Pokémon, ele também havia evoluído
muito. Uma criança com muitos recursos para continuar evoluindo, e apesar de
estarmos encerrando, ele continuaria evoluindo muito bem.
Paciente verbalizou que queria continuar evoluindo “os humanos evoluem de
bebê para criança, para adolescente, adulto, pai, mãe e idoso”, e na sequência, pediu
para construir uma fortaleza.
Para iniciar o jogo, paciente e terapeuta selecionaram suas peças e seus
guerreiros. A fortaleza foi construída com muita facilidade por Mário. Na batalha,
chamou a atenção o fato de que os guerreiros não morriam, quando feridos eram
afastados por um tempo, e retornavam assim que estivessem recuperados. Pontuei
29

que ele, assim como os guerreiros, teve um tempo para se recuperar e retornar as
suas atividades.
No jogo, Mário destruiu a fortaleza da terapeuta, portanto venceu o jogo, mas
logo em seguida, também destruiu a sua. Perguntei ao paciente o por que ele destruiu
sua própria fortaleza, Mário respondeu que aquela não era sua fortaleza, pois sua
fortaleza estava dentro dele.
Em seguida, pegou todas as peças, das duas fortalezas destruídas e construiu
sua própria fortaleza “essa é minha fortaleza”, e complementou perguntado se na
semana seguinte seria o último atendimento, sendo respondido que sim. Ao finalizar
a sessão, verbalizou que faria uma outra fortaleza, muito maior que esta.
No último atendimento, Mário construiu três fortalezas, todas com base muito
forte e resistente, e disse novamente que a sua verdadeira fortaleza estava dentro
dele.
Em outro jogo, montou um labirinto, e em sua brincadeira, o carrinho de corrida
conseguia encontrar uma chave que permitia a sua saída.
Retomei com o paciente a dificuldade que ele teve para construir sua fortaleza.
No início dos atendimentos sentia-se perdido, mas encontrou a chave dentro dele,
portanto estávamos encerrando o trabalho com ele muito mais fortalecido, apto para
seguir em frente, já que conseguiu superar muitos obstáculos.
30

5. ANÁLISE

O material clínico apresentado acima ilustra o benefício que o lúdico terapêutico


representou na elaboração dos conflitos psíquicos de Mário.
É possível compreender que os atendimentos com Mário foram subdivididos
em duas partes: primeiramente, o acidente e a recuperação física e posteriormente, a
separação do casal parental.
Como vimos na descrição do caso clínico, nas primeiras sessões o paciente,
simbolizou, por meio da atividade lúdica, suas limitações físicas, ao diferenciar os
carrinhos, evidenciando o desejo de voltar a correr, mas para isso precisaria enfrentar
vários obstáculos na recuperação.
No jogo, a fortaleza não se sustentava porque sua base estava fraca, fazendo-
me raciocinar clinicamente com a hipótese relacionada a instabilidade de suas pernas,
que também não se sustentavam. Desta forma, o pedido para que eu o ajudasse a
construir a fortaleza reflete a manifestação de cura, bem como denota a transferência
positiva comigo, acreditando que, por meu intermédio, poderia reaver o que há pouco
estava destruído: o equilíbrio emocional para enfrentar a recuperação física e os
tratamentos médicos/físicos necessários para o resgate de sua saúde.
Posteriormente, vimos que o paciente conseguiu construir sua fortaleza
sozinho. Utilizou outros objetos da caixa lúdica para auxiliá-lo na proteção da fortaleza,
estes objetos foram denominados guerreiros pelo paciente, que simbolizam a
confiança do paciente na equipe de saúde que ajudavam em sua recuperação.
Tais compreensões foram sendo abordadas com Mário, que demostrava
entendimento. Observou-se que a partir do momento em que as consequências físicas
oriundas do acidente foram compreendidas pelo paciente, certificou-se que sua
recuperação aconteceria.
A evolução clínica do paciente era boa, já não utilizava mais cadeira de roda,
andador e bengala, locomovendo-se sozinho, sem o auxílio de auxiliares para sua
locomoção.
Diante disso, percebeu-se que a elaboração da angústia referente a sua saúde
cedeu espaço para que outras questões pudessem ocupar o setting. Instituindo-se o
segundo momento do trabalho terapêutico: a separação dos pais.
31

Nas sessões seguintes, Mário passou a brincar de jogos que envolviam disputa,
como futebol de botão e ping-pong (que criou com os demais objetos da caixa lúdica).
No futebol, os pais foram simbolizados pelos times Corinthians e Palmeiras,
demonstrando a intensa rivalidade entre o casal parental após a separação,
alimentando o sentimento de ameaça e insegurança de Mário, inclusive, desejando
que o jogo terminasse empatado. E a partir dos apontamentos, Mário teve clareza de
que esse conflito nada estava relacionado a ele e sim aos pais.
O ping-pong, especificamente a bolinha do jogo, conota sua dificuldade de se
adaptar a sua nova rotina familiar, já que ora estava na casa mãe, ora na casa do pai,
o que causava muito estranhamento e ainda, tinha as constantes consultas médicas,
influenciando diretamente em sua rotina diária.
Em outro jogo, utiliza as bolas para realizar malabarismo que sugere a
capacidade dele de se equilibrar nas situações difíceis, como em sua recuperação
física e em sua dinâmica familiar.
A simbologia do Pokémon Go reitera a capacidade de evolução do paciente
frente aos momentos difíceis em sua vida, já que os bichos do jogo evoluem após
enfrentarem inúmeras batalhas.
Desta forma, a última sessão mostrou que com os atendimentos o paciente
pode se fortalecer, possibilitando sair do labirinto que se encontrava.
A compreensão dos atendimentos mostra que Mário tem um bom potencial
criativo e imaginativo, seguido de condições de simbolizar. Observa-se também
recursos de enfrentamento frente à situação difíceis vivenciadas por ele.
Portanto, evidenciamos que Mário utilizou o jogo para demonstrar suas
fantasias inconscientes, e, ao fazer isso, integrou seus conflitos, facilitando a
elaboração das situações traumáticas. Por meio da interpretação dos jogos, sua
representatividade tornou-se mais clara, abrindo a porta do inconsciente e diminuindo
a angústia.
O material clínico demonstrou mudanças no jogo assim que a ansiedade maior
foi elaborada. Mário passou a brincar de futebol de botão, simbolizando conflito na
relação com os pais, somente após a angústia advinda do acidente e recuperação
física ter sido elaborada.
Ao longo do processo, paciente teve um ótimo aproveitamento dos
atendimentos, mostrando-se muito comprometido com o seu processo de
32

recuperação. Há muitos recursos psíquicos de enfrentamento e um excelente


processo de elaboração.
33

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das revisões teóricas e da análise do caso clínico pode-se constatar


que o brinquedo é um elemento importante no desenvolvimento da criança, pois
funciona como forma de expressão de seu mundo interno.
Ao brincar, a criança projeta para o exterior - no jogo - seus medos, angústias
e problemas internos e domina-os por meio da ação, ou seja, passa do lugar passivo
para o ativo, de objeto para sujeito; vivencia papéis e situações que seriam proibidas
na vida real e pode também repetir situações prazerosas.
O brinquedo no setting terapêutico tem reconhecida importância por ser um
valioso instrumento, pois permite a possibilidade da criança expressar seus
sentimentos e desejos, e consequentemente, permite ao terapeuta o reconhecimento
de formas de auxílio à criança.
Constatou-se que a interação da criança com o jogo é passível de
interpretação, semelhante a associação livre no adulto, já que o jogo é equiparado a
linguagem.
Por fim, foi possível reafirmar a importância do lúdico terapêutico, ilustrando
que o brincar tem um significado e que através dele podemos acessar o inconsciente
infantil, auxiliando a criança na elaboração de suas angústias, sintomas e dificuldades
familiares, propiciando o conhecimento da realidade psíquica infantil.
34

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________. Análise da fobia de um menino de cinco anos. In: Obras psicológicas


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PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem


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QUINTANA, M. Antologia Poética. Porto Alegre: L&PM, 1997.

SAFRA, G. O uso de material clínico na pesquisa psicanalítica. In: SILVA, M. E. L.


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SAURET, J. M. A pesquisa clínica em psicanálise. Psicologia USP, 2003.


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35

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diagnóstica na infância. Disponível em:
<http://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/index.php?apg=b_visor&pub=1
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VYGOTSKY, L. S. A Formação Social de Mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes,


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WANDERLEY, K. O lúdico no contexto hospitalar: quando o brincar no contexto


hospitalar é recreação e quando é ludoterapia. In: AFFONSO, L. R.. (Org.)
Ludodiagnóstico: Investigação clínica através do brinquedo. São Paulo: Artmed, 2012.

ZIMERMAN, D. E. Manual de Técnica Psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre:


Artmed, 2004.
36

ANEXO I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da pesquisa: PSICANÁLISE INFANTIL: UMA INTERSECÇÃO ENTRE A TEORIA E


A PRÁTICA

A Seção de Psicologia tem como objetivo atender aos usuários e funcionários


do hospital, bem como aprimorar os conhecimentos dos psicólogos e desenvolver
projetos de pesquisa.
Os atendimentos e as supervisões do material clínico são regidos pelo Código
de Ética do Psicólogo.
As informações do prontuário quando autorizadas pelo paciente, podem ser
utilizadas em pesquisa científica, sendo respeitadas a identidade e a privacidade do
paciente.
No caso de pacientes menores de idade, o termo de Consentimento Livre e
Esclarecido será assinado pelo seu responsável.
A participação da pesquisa é voluntária, podendo o responsável pelo menor
____________________________________________________, retirar o seu
consentimento a qualquer momento.
A pesquisa será realizada pela pesquisadora Psicóloga Letícia de Paula, com
orientação da Profa. Ms. Mariangela Bento, Preceptora e Psicóloga do Serviço do
Ambulatório de Psicologia.
A pesquisa será realizada no ambulatório de psicologia do Hospital do Servidor
Público Estadual. Leia cuidadosamente o que se segue, após a sua leitura será
explicado também verbalmente os procedimentos e objetivos envolvidos na pesquisa.
Pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você possa ter. Após
o esclarecimento sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, assinar ao final esse documento, que está em duas vias, uma permanecerá
com o Sra. e o outra ficará com a pesquisadora responsável. Em caso de recusa não
haverá qualquer tipo de penalização.
37

A pesquisa tem como objetivo reafirmar a importância do lúdico terapêutico,


ilustrar que o brincar tem um significado e que através dele podemos acessar o
inconsciente infantil, auxiliando a criança na elaboração de suas angústias, sintomas
e dificuldades familiares. O procedimento será realizado através de atendimento
psicológico dos participantes da pesquisa em psicoterapia breve com duração de doze
atendimentos.
A história particular e os dados do participante serão preservados, o processo
oferece risco mínimo ao participante da pesquisa. Os riscos possíveis são aqueles
intrínsecos ao ambiente. A participação está isenta de despesas para o responsável,
assim como o pagamento para a participação da pesquisa. A Sra. (o) pode retirar o
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, nem sofrer qualquer dano
ou prejuízo ou mesmo perda de benefícios que possa ter adquirido ou no
acompanhamento, assistência e tratamento neste serviço.
Após conversa com a pesquisadora responsável e leitura desse termo, declaro
que ficaram claras as razões para o estudo e o procedimento durante a coleta de
dados. Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o consentimento livre e
esclarecido da participação neste estudo.

São Paulo, _______ de _________________________ de 2016

Nome da Pesquisadora: Letícia de Paula


Telefone para contato: (19) 99680-2096 ou (11) 4573-8632
Endereço Institucional: Avenida Borges Lagoa, 1635 – Vila Clementino Telefone do
Comitê de Ética em Pesquisa do IAMSPE: Rua Pedro de Toledo, 1800 – 14 andar,
sala 01, Ala Central, 4573-8175

_______________________________________________________________
Assinatura da Participante/Responsável
RG_________________________

_______________________________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
Letícia de Paula
CRP 06/121507
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ANEXO II

INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA
MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL
- IAMSPE

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA


Título da Pesquisa: PSICANÁLISE INFANTIL: UMA INTERSECÇÃO ENTRE A
TEORIA E A PRÁTICA
Pesquisador: LETICIA DE PAULA
Área Temática:
Versão: 2
CAAE: 62356916.9.0000.5463
Instituição Proponente: Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
- IAMSPE
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER
Número do Parecer: 1.888.566

Apresentação do Projeto:
PSICANÁLISE INFANTIL: UMA INTERSECÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

Objetivo da Pesquisa:
O presente trabalho tem por objetivo reafirmar a importância do lúdico terapêutico,
ilustrar que o brincar tem um significado e que através dele podemos acessar o
inconsciente infantil, auxiliando a criança na elaboração de suas angústias, sintomas
e dificuldades familiares, propiciando o conhecimento da realidade psíquica infantil.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:


Riscos: A pesquisa oferece risco minimo ao participante da pesquisa.
Benefícios: O brincar/ludoterapia consiste em uma atividade de crucial importância
para o desenvolvimento humano, na medida em que a criança pode transformar e
produzir novos significados. O brincar tem um significado, é através dele que podemos
ajudar a criança a elaborar suas angústias,sintomas e dificuldades familiares,
propiciando o conhecimento da realidade psíquica infantil.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:


Não há.
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Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:


Foram apresentados os Termos obrigatórios.

Recomendações:
Enviar relatório final antes da publicação.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:


Aprovado sem pendências.

Considerações Finais a critério do CEP:

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:


Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação
Informações Básicas PB_INFORMAÇÕES_BÁSICA 22/12/2016 Aceito
do Projeto S_DO_P ROJETO_823074.pdf 11:48:25
Projeto Detalhado / TCC_3.pdf 22/12/2016 LETICIA DE Aceito
Brochura 11:26:33 PAULA
Investigador
Cronograma Cronograma_de_Pesquisa_3.d 22/12/2016 LETICIA DE Aceito
ocx 11:24:10 PAULA
TCLE / Termos de TCLE_3.doc 22/12/2016 LETICIA DE Aceito
Assentimento / 11:22:24 PAULA
Justificativa de
Ausência
Outros Autorizacao_Pesquisa.JPG 24/11/2016 LETICIA DE Aceito
11:16:44 PAULA
Folha de Rosto FOLHA.pdf 12/11/2016 LETICIA DE Aceito
08:27:12 PAULA
Situação do Parecer:
Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:


Não

SAO PAULO, 10 de Janeiro de 2017.

Assinado por:
Pedro Rizzi de Oliveira
(Coordenador)

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