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CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO

1) Considerações gerais:

O termo “constituição” pode ser (e é) usado em diversos


sentidos. Pode-se dizer que todo homem, objeto, estabelecimento, associação
tem uma “constituição”. Isso porque “constituição”, segundo o léxico, é, antes
de mais nada, “ato de constituir, de estabelecer, de firmar”, ou, ainda, o “modo
pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas;
organização, formação” (Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa).

Cumpre, no entanto, destacar, no âmbito jurídico, o sentido de


Constituição, que está associado à Constituição do Estado.

2) Conceito material de Constituição:

Pode-se dizer que, do ponto de vista material, o termo


Constituição, em ciência jurídica, designa um conjunto de normas que, vigendo
num determinado ordenamento jurídico, disciplina a criação do Estado, sua
estrutura básica, as atribuições dos órgãos de que é composto, os limites do
poder que ele exerce, os direitos dos indivíduos, dos grupos, da sociedade.

Em outras palavras, a Constituição deve ser entendida como “a


lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à
estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e
aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos,
garantias e deveres dos cidadãos” (MORAES, Alexandre de. Direito
constitucional, p. 6).

Segundo Canotilho, existiria um “conceito ideal” de


Constituição, em sentido jurídico, imposto a partir do constitucionalismo
moderno. Esse conceito reconhece como elementos de uma Constituição os
seguintes elementos materiais: a) a constituição deve consagrar um sistema de
garantias da liberdade; b) a constituição contém o princípio da divisão de
poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes
estatais; c) a constituição deve ser escrita.

Em figuração próxima a esse ideal, afirma Luís Roberto


Barroso que a Constituição, em sentido material, “organiza o exercício do poder
político, define os direitos fundamentais, consagra valores e indica fins públicos
a serem realizados” (Curso de direito constitucional contemporâneo, p. 74).

3) Conceito formal de Constituição:

Ainda no âmbito jurídico, pode-se conceituar formalmente a


Constituição como um texto (normalmente, um documento único) – resultado
de manifestação do Poder Constituinte Originário –, que ocupa posição
privilegiada no sistema de fontes do direito positivo, apenas podendo sofrer
modificação formal nos exatos limites por ele próprio estabelecidos.

Consoante Luís Roberto Barroso, a Constituição, em sentido


formal, “é a norma fundamental e superior, que regula o modo de produção das
demais normas do ordenamento jurídico e limita o seu conteúdo” (op. cit., p.
74).

É nesse sentido (e apenas nesse) que se pode afirmar que


toda e qualquer prescrição contida nesse texto serão consideradas normas
constitucionais. Cria-se, assim, uma “aparência” de constitucionalidade, como
afirma Paulo Bonavides:

“As Constituições não raro inserem matéria de aparência


constitucional. Assim se designa exclusivamente por haver sido
introduzida na Constituição, enxertada no seu corpo normativo
e não porque se refira aos elementos básicos ou institucionais
da organização política” (Curso de direito constitucional, p. 81).
Essas matérias, assim, embora não sejam materialmente
constitucionais, passam a gozar da garantia e do valor superior que lhe confere
o texto constitucional.

No texto da CF/88, podem ser citadas, como exemplo de


norma apenas formalmente constitucional, a regulação dos prazos para o
divórcio (art. 226, § 6º) e a que mantém na órbita federal o Colégio Pedro II
(art. 242, § 2º).

CONCEPÇÕES ACERCA DA CONSTITUIÇÃO

Há formas diversas de abordar o fenômeno da criação e da


vigência/eficácia da Constituição. Tais abordagens são, em geral, agrupadas
em três categorias:

a) visão sociológica da Constituição (ou sociologismo


constitucional): a estrutura de organização política da sociedade resultaria da
soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade. Assim, o conjunto
de forças políticas, econômicas e sociais, atuando dialeticamente, estabelece
uma realidade, um sistema de poder. Seria esta a Constituição real do Estado.
A Constituição jurídica seria, nessa perspectiva, mera “folha de papel”,
limitando-se a converter esses fatores reais de poder em instituições jurídicas.
Essa concepção é associada ao alemão Ferdinand Lassalle;

b) visão política da Constituição (ou concepção decisionista): a


Constituição se traduziria simplesmente na descoberta da decisão política
fundamental de uma comunidade, ou seja, no conjunto de princípio e regras
estabelecidos para minimamente ordenar o exercício do poder político. Essa
concepção é associada a Carl Schmitt;

c) visão jurídica da Constituição (ou concepção positivista): a


Constituição é, antes de tudo, norma jurídica, componente de um determinado
sistema jurídico, concebido como estrutura formal. A ordem jurídica é um
sistema escalonado de normas, em cujo topo está a Constituição, fundamento
de validade de todas as demais normas que o integram. Para Hans Kelsen
(principal teórico do positivismo jurídico do Século XX), há uma norma
hipotético-fundamental que serve de fundamento de validade da Constituição.

CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Por certo que muitos são os critérios possíveis para se


proceder à classificação das Constituições. A partir desses traços distintivos,
elaboram-se categorias, em que pode ser enquadrado este ou aquele
documento constitucional. Uma forma de classificar as Constituições seria
aquela proposta por Luís Roberto Barros, que as distingue:

1) Quanto à forma (ou seja, quanto à forma de veiculação das


normas constitucionais):

a) escritas: quando sistematizadas em um texto único, de que é


exemplo pioneiro a Constituição americana; ou
b) não escritas: quando contidas em textos esparsos e/ou em costumes
e convenções sedimentados ao longo da história, como é o caso,
praticamente isolado, da Constiutição inglesa*;

* alguns autores se referem a categorias aproximadas, mas não


idênticas a essas, como, por exemplo, Constiutições codificadas
(positivadas em um documento único) e legais (quando suas normas
escritas estejam dispersas em mais de um documento, como ocorre com
a parte escrita da Constituição inglesa).

2) Quanto à origem (isto é, tomando por base a legitimidade


democrática subjacente ao exercício do Poder Constituinte):

a) promulgadas ou democráticas: quando contam com a participação


popular na sua elaboração, normalmente por meio da eleição de
representantes; ou
b) outorgadas: nos casos em que não há manifestação popular na sua
feitura, sendo impostas pelo agente que detém o poder político de
fato.

3) Quanto à estabilidade do texto (ou seja, quanto ao procedimento


adotado para a modificação do texto constitucional):

a) rígidas: quando o procedimento de modificação da Constituição é


mais complexo do que aquele estipulado para a criação de legislação
infraconstituiconal;
b) flexíveis: hipótese em que a Constituição pode ser modificada pela
atuação do legislador ordinário seguindo o procedimento adotado
para a edição de legislação infraconstitucional; ou
c) semi-rígidas: quando parte da Constituição só pode ser alterada
mediante um procedimento mais dificultoso, ao passo que o restante
pode ser modificado pelo legislador, segundo o processo previsto
para a edição de legislação infraconstitucional.

4) Quanto ao conteúdo (ou melhor, quanto ao grau de minúcia


empregado no texto constitucional e à abrangência das matérias nele
disciplinadas):

a) sintéticas: quando se limitam a traçar as diretrizes gerais da


organização de funcionamento do Estado e de sua relação com
os cidadãos, em geral com o uso de uma linguagem mais
aberta, marcadamente principiológica;
b) b) analíticas: quando desenvolvem em maior extensão o
conteúdo dos princípios que adotam, resultando em um
aumento do seu texto e em uma redução do espaço de
conformação dos Poderes constituídos.

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