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MARROCOS, UMA EXTENSÃO DA EUROPA?

Você está planejando aquela sonhada trip para a Europa sozinho ou com os amigos? Não faz o
tipo turista convencional que traz fotos segurando a torre de Pisa ou miniaturas da Torre Eiffel
para os familiares? Quer descobrir lugares exóticos e sem gastar muito, ter contato com culturas
e voltar com aquela sensação de cidadão do mundo? Então, não hesite em incluir em seu roteiro
uma travessia do Estreito de Gibraltar para descobrir esse rico país!

Confesso que não cheguei ao Marrocos atravessando o Estreito à partir de Algeciras na Espanha
ou mesmo o território britânico de Gibraltar e, sim, voei à partir de onde eu residia à época que
era a Inglaterra. Consequentemente, atravessei o mar que divide os continentes e cheguei à
Espanha pois era de onde partiria meu voo de retorno ao Brasil.

Assim, em uma busca por destinos para passar o Réveillon, lembro que minha namorada e eu já
perdíamos as esperanças de virar o ano na histórica Berlim ou darmos um mergulho no Mar
Adriático, pois aos 48 do segundo tempo não encontrávamos nenhum ticket à preços
convidativos.

Então, como um pênalti que surge à favor no apagar das luzes, nos aparece à tela: Tunísia e
Marrocos!

A primeira opção foi brilho aos olhos se não fossem os conflitos civis que se iniciavam e
resultariam na derrubada do presidente e o estopim para a Primavera Árabe que ecoou por todo
o Magreb. Assim, o destino escolhido foi mesmo o Marrocos e seus labirintos e desertos.

O VOO E O DESEMBARQUE

Para lá chegar, voamos a partir de Manchester com a cia aérea britânica Thomson Air com
destino à Agadir no Marrocos. O ticket custou £34,00 e o voo levou em torno de 3h40min. Assim
como qualquer low-fare (e agora até a GOL, no Brasil) o consumo de alimentos e bebidas abordo
é cobrado e não é nada barato (Água £3/ Refrigerante £5), contudo, há uma certa qualidade no
serviço e conforto no avião.

O desembarque no Aeroporto Internacional de Agadir se deu durante o dia e, após deixar o frio
do norte europeu foi um certo choque ver sol e temperaturas tropicais novamente. Contudo, a
temperatura e quantidade de roupas de inverno eram o menor dos empecilhos. Logo viria a fila
de imigração e o desconhecimento geográfico do funcionário: ao mostrar os passaportes ele
estranhou que não eram europeus e nos consumiu algum tempo e explicações em Francês lero-
lero até entenderem que o Brasil não faz parte da União Europeia e que não precisaríamos de
visto. Agora era descobrir o câmbio e quanto de dinheiro local teríamos.

A moeda local se chama Dirham e é do tipo desvalorizada: sua cotação sempre fica em torno de
10 pra 1 com Euros ( US$8 por 1 ou R$3,70 pra 1). E, certamente, Euro é a moeda referência
para o câmbio no país, uma vez que há uma proximidade (e vínculos culturais) com o continente
europeu.

AGADIR

Mesmo já estando em território africano, as ligações com o continente europeu se fazem


demasiadamente presentes e facilmente notáveis, desde a saída do aeroporto ao qual os taxistas
tentam te “conquistar” em diversos idiomas à herança portuguesa presente no Casbah da cidade
ou, como era anteriormente conhecida Agadir, Fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué.

( Foto1)
(Foto2) [Esta é a única foto que não é minha!]

A cidade de Agadir fica ao sul do país, bem próximo do Sahara Ocidental e das ilhas Canárias. Se
trata de uma referencia litorânea para os ingleses que buscam escapar do frio do inverno nos
meses de Dezembro e Janeiro sendo assim, comum o viajante encontrar famílias e jovens se
comunicando em inglês enquanto curtem as imensas praias da cidade. Praias estas que se
destacam por terem um bom comércio local, cafés, restaurantes – até uma MC Donald’s e,
nenhum deles venderem bebidas alcoólicas.

A cidade é conhecida por seu clima ameno durante o ano e por ter recebido generosos
financiamentos do rei para sua reconstrução após sofrer um terremoto e, consequentemente
modernização, ganhando amplas avenidas, calçadão à beira-mar e uma marina que atrai turistas
com iates e lanchas.

O viajante que deseja conhecer um pouco mais profundamente a cultura local, majoritariamente
Berber, pode descobrir temperos e vestimentas no souk da cidade que tem mais de 6 mil lojas –
cuidado apenas para não acabar comprando Keffiyehs made in china que são facilmente
confundíveis.

(Foto3)
(Foto 4)

Eventualmente, a cidade propicia a pratica de esportes como Surfe e Futebol – sendo no final
deste ano uma das cidades-sede do Mundial de clubes da FIFA onde a equipe brasileira do
Atlético Mineiro será um dos competidores juntamente com representantes de todos os
continentes.

Após alguns dias por Agadir, decidimos seguir sentido norte rumo ao Estreito de Gibraltar. Então
compramos passagens para Marrakesh pela viação Supratours, que tem sua agência no centro
de Agadir (10 rue des Orangiers (tel. 0528/841207) e o bilhete custa em torno de Dh$100,00 por
uma viagem de 5 horas em ônibus novos e confortáveis (brasileiros inclusive!).

A viagem para Marrakesh é um “momento” à parte, pois apresenta todo o visual do semiárido
com vegetação rasteira e ao fundo o Atlas com sua superfície nevada.

(Foto 5)

MARRAKESH

Para se chegar a mais conhecida cidade marroquina não demanda muito esforço pois “todos os
destinos levam à Marrakesh” ou seja, se trata do grande centro comercial e cultural do país, com
um importante festival de cinema, onde pode-se dizer o Ocidente encontra o Oriente ou, o
passado se mistura com o moderno. Foi em Marrakesh que o famoso estilista Yves St. Laurent
escolheu para morar e, juntamente com seu companheiro Pierre Bergé, restaurou um dos
principais jardins botânicos da cidade, hoje importante atrativo turístico: Jardins Majorelle.
A cidade emana agitação e é o contrário de Agadir: nada de descanso e tranquilidade. À começar
pela Medina e seus labirintos que qualquer pessoa corre sério risco de se perder e ter que
recorrer aos locais para te guiarem até a saída. E por falar nestes labirintos, apresentados à nós
pela novela O Clone (que quando lá estávamos era reprisada na tv local), não vá pensando em
encontrar apenas pedestres e comerciantes, há uma imagem em que a tv “esqueceu” de mostrar
que é a das motocicletas que circulam por todas as vielas o que pode assustar o viajante dando
uma certa dor de cabeça ao caminhar pela Medina.
(Foto6)
(Foto7)

(Foto8)

Outra bela atração da cidade é a influência do islã na arquitetura local em imensas mesquitas,
palácios, riads e, principalmente o hotel Mamounia que fica dentro de um parque local e mistura
azulejos e colunas, detalhes esses que atravessaram o Estreito e constituem até hoje a
arquitetura de Espanha e Portugal.

Quando na cidade, ficamos hospedados em um albergue com quarto privativo dentro da Medina,
se trata de uma opção para quem não exige muito e procura conhecer de perto a praça Jemaa El-
Fnaa à noite com seus encantadores de serpentes e comidas típicas. Contudo, para quem
demanda um certo conforto há diversas outras opções do lado de fora da Medina à preços
acessíveis.

(Foto9)
(Foto10)
(Foto11)

Por fim, deixamos a cidade após um par de dias rumo ao norte do país. Tanger era o nosso
próximo destino e, final, pois se trata do porto que liga os continentes africano ao europeu e seu
intenso trafego comercial.

Para chegar ao Mediterrâneo, decidimos ir de trem e durante o dia para poder apreciar mais da
paisagem do país que tanto nos fascinou. A passagem pode ser comprada na estação central de
Marrakesh por Dh$160,00. A viagem leva em torno de 9 horas e percorre 572 km o que é aliviado
pela qualidade do trem e pelo intervalo em Casablanca para a troca de trens. Sem esquecer que a
mesma viagem pode também ser feita noturna e com leito.

Atenção no intervalo em Casablanca para a troca de trens e na chegada em Tanger pois as


informações são em francês e as vezes não são muito claras como por exemplo, que há duas
estações “finais” em Tangier, ou seja, uma é para quem, como nós iriamos em direção ao porto e,
a outra, a que descemos por engano e distante do porto, é mais central.

Para chegar ao porto, conseguimos uma barganha com um taxista em seu petit taxi do qual
dividimos os custos com um terceiro passageiro que também ia em direção ao porto de Tanger
Med que, por causa do equívoco de estações estava então distante. Recentemente foi
disponibilizado um serviço de shuttle entre os dois portos de Tanger e que te deixará próximo à
estação Gare Ksar Sghir, que fica há apenas 2km de Tanger Med.
Nunca imaginei que cruzar o Mediterrâneo fosse mais simples e que 2 continentes estivessem tão
próximos apesar da distância cultural. O Ferry parte de Tangier-Med em direção à Algeciras na
Espanha e leva exatas 1h30min (lembrar de ajustar o fuso-horário de 1 hora de diferença)
custando € 23,50 e pode ser feito em diversos horários ao longo do dia e, em diferentes
empresas. Se quiser esticar, há opções de ferries para Barcelona e até Genova na Itália. Isso é o
que chamo de engenharia que conecta continentes e culturas!!

Por fim, já na Espanha é inevitável o pensamento de que em uma viagem como esta as distâncias
físicas são menores que as subjetivas e, são estas as que nos move a viajar cada vez mais e
descobrir povos e culturas que um Estreito não consegue dividir e sim multiplicar.

Cias. Aéreas

Passagens referentes ao mês de dezembro, realizadas no dia 01/08/13

Ryan Air – Madri  Marrakesh / Tanger à partir de €37


Easy Jet – Paris  Agadir/ Marrakesh à partir de €56
Royal Air Maroc – Madri  Marrakesh à partir de € 168

SITES

www.directferries.pt

www.andalucia.com

www.frs.es

www.ctm.co.ma

www.oncf.ma

www.royalairmaroc.com

visiting-morocco.blogspot.com.br/2012/08/transportation-from-Tanger -med-to.html

Glossário:

Casbah = cidadela ou forte tradicional dos países do Norte da África


Maghreb = Porção Muçulmana ao norte da África que engloba Marrocos, Argélia,
Tunísia, Líbia e Egito.
Keffyieh = lenço xadrez famoso por ser utilizado na cabeça por palestinos e que
é encontrado em diversos países muçulmanos.
Souks = Mercados populares
Berber = etnia de povos do norte africano que possuem língua e hábitos
próprios.
Riads = Tradicionais casas marroquinas conhecidas por seus jardins interiores.
Low-fare = companhias aéreas com tarifas de baixo custo
Shuttle = serviço de transporte geralmente ofertado entre aeroportos, portos,
estações, terminais ou hotéis.
Petit taxi = taxi comum, individual, encontrado nos portos e aeroportos do
Marrocos.

(Foto 12)

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