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A robótica, a biotecnologia e a
nanotecnologia. O redesenho da forma
humana e das formas da vida. Entrevista
especial com Luiz Alberto Oliveira
11 Dezembro 2007
“No limite, o próprio trabalho humano se tornaria dispensável (ou
inconveniente). Enfim, realizar-se-ia o sonho utópico da libertação do fardo do
trabalho, mas com uma peculiaridade: a transferência da espécie portadora da
força produtiva, dos organismos humanos para os robossistemas. O impacto
deste asteróide econômico nos converteria em dinossauros mamíferos,
irremediavelmente obsoletos, aguardando a extinção auto-produzida.” Esta é
uma das conclusões da entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, com o
professor Luiz Alberto Oliveira.
Nesta conversa, o físico fala sobre questões relacionadas a seu artigo “Sobre o
caos e novos paradigmas”. Por isso, ele reflete sobre como a Teoria do Caos
mudou nossos conceitos de mundo, sobre uma possível hibridização entre
homens e máquinas a partir das tecnociências e sobre a partir de quais
paradigmas podemos pensar as sociedades futuras. Para ele, “o que se engendra
em nossa pós-modernidade impelida pela aceleração tecnológica é a
artificialização generalizada, que, ao diluir as fronteiras tradicionais entre
natureza e cultura, sujeito e objeto, interioridade e exterioridade, começa a nos
converter em híbridos de humano e inumano”.
Confira a entrevista.
que nosso devir, nosso futuro, seja nos tornarmos borgues, híbridos de células e
chips. Essas conexões estão ainda em estágio muito rudimentar, neurônios
inteiros postos em contato com condutores metálicos, mas brevemente será
possível penetrar em um nível subneuronal, associando subestruturas dos
neurônios a componentes eletrônicos. Nesse momento que não está longe
veremos o nascimento de autênticos híbridos biotrônicos, veremos o nascimento
de centauros cognitivos, e logo esses centauros seremos nós.
Luiz Alberto Oliveira - Nossa espécie sempre foi hábil em produzir próteses
de movimento, extensões das capacidades físicas não muito notáveis de nosso
corpo que ampliaram em muito seu alcance de ação - tacapes, rodas, foguetes. A
seguir, produzimos um extraordinário conjunto de próteses sensórias - como os
instrumentos de medida -, que estenderam nossos sentidos até a atual
onipresença telemática. Mas ainda mais recentes - e espantosas - são as próteses
de cognição, os recursos para controlar informação que principiamos a infundir
em um sem-número de objetos. Com efeito, a capacidade de antecipar os
desenvolvimentos futuros dos acontecimentos e de escolher diretrizes de ação
com base nessas antecipações seria a característica principal da faculdade que
denominamos de inteligência. Durante muito tempo, pensou-se que a posse do
domínio simbólico necessário para exercer essa faculdade era exclusiva dos seres
humanos (ou, pelo menos, que neles se manifestava de modo qualitativamente
diferente dos demais animais superiores). Hoje, reconhecemos que o fator
essencial das operações inteligentes é a habilidade de processar grandes
quantidades de informação, e principiamos a elaborar dispositivos que
incorporam funções de processamento altamente sofisticadas. Estima-se que,
em vinte e cinco anos, os chips de computadores serão milhões de vezes mais
poderosos que os atuais, tornando-se comparáveis em eficiência a setores do
córtex humano. Assim, delineia-se no horizonte próximo a produção de artefatos
dotados de autêntica Inteligência Artificial fato que está confrontando os
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dotados de autêntica Inteligência Artificial, fato que está confrontando os
pesquisadores atuais com uma série de indagações sumamente intrigantes -
acerca da natureza do pensamento, do grau de inteligência de outros seres vivos
e de nossas próprias capacidades cognitivas. A pergunta decisiva é: o que é esta
matéria (este corpo biológico, este dispositivo artificial) pensante?!
Uma especulação servirá para dar o tom dos problemas que teremos pela frente:
com o desenvolvimento da Inteligência Artificial, a Robótica mudaria de
enfoque, da automação para a autonomia. A simples automatização mecânica
derivaria rumo à elaboração de sistemas industriais cada vez mais
independentes e auto-suficientes, com capacidades abrangendo desde a
aquisição de insumos até a distribuição dos produtos acabados. Robofábricas
deste tipo poderão se revelar indispensáveis, por exemplo, no desbravamento de
outros planetas. É difícil imaginar o grau de eficiência que uma tal entidade -
auto-provedora, auto-reparadora e mesmo auto-reprodutora - poderia alcançar,
mas parece certo que nenhuma indústria calcada nos `velhos` moldes poderia
competir com um sistema assim. No limite, o próprio trabalho humano se
tornaria dispensável (ou inconveniente). Enfim, realizar-se-ia o sonho utópico
da libertação do fardo do trabalho, mas com uma peculiaridade: a transferência
da espécie portadora da força produtiva, dos organismos humanos para os
robossistemas. O impacto deste asteróide econômico nos converteria em
dinossauros mamíferos, irremediavelmente obsoletos, aguardando a extinção
auto-produzida. Seria esse o triunfo supremo do capital?!
Notas:
[1] Thomas Samuel Kuhn foi um físico estadunidense cujo trabalho incidiu
sobre história e filosofia da ciência, tornando-se um marco importante no estudo
do processo que leva ao desenvolvimento científico. Thomas S. Kuhn ocupou-se
principalmente do estudo da história da ciência, no qual mostra um contraste
entre duas concepções da ciência: Por um lado, a ciência é entendida como uma
atividade completamente racional e controlada. Em outro lado, a ciência é
entendida como uma atividade concreta que se dá ao longo do tempo e que em
cada época histórica apresenta peculiaridades e características proprias. Este
contraste emerge na obra A estrutura das revoluções científicas, e
ocasionou o chamado giro histórico-sociológico da ciência, uma revolução na
reflexão acerca da ciência ao considerar próprios da ciência os aspectos
históricos e sociológicos que rodeiam a atividade científica, e não só os lógicos e
empíricos, como defendia o modelo formalista, o qual estava a ser desafiado pelo
enfoque historicista de Kuhn.
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