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Direitos Humanos

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Sistemas de Proteção de Direitos Humanos .......................................................... 2
1.1 Sistema Universal da ONU ................................................................................ 2
1.2 Sistemas Regionais ............................................................................................ 4
1.2.1 Sistema Europeu............................................................................................. 4
1.2.2 Sistema Africano ............................................................................................. 5
1.2.3 Sistema Americano (ou Interamericano) ....................................................... 6
1.2.3.1 Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica) d ................................................................................................................... 8
1.2.3.2 Comissão Interamericana de Direitos Humanos .................................... 8
1.2.3.3 Corte Interamericana de Direitos Humanos........................................... 9
2. Tribunal Penal Internacional (TPI) ............................................................................ 10
2.1 Antecedentes históricos...................................................................................... 10
2.2 Criação do TPI...................................................................................................... 11
2.3 Crimes da competência do TPI (arts. 5º a 8º do Estatuto de Roma) .................. 11
2.4 Competência do TPI ............................................................................................ 13
2.5 Decisão do TPI ..................................................................................................... 13
2.6 Estrutura do TPI................................................................................................... 14
2.7 No Brasil .............................................................................................................. 14

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1. Sistemas de Proteção de Direitos Humanos


1.1 Sistema Universal da ONU
Tem como base normativa a Carta Internacional de Direitos Humanos. Lembrando
que essa carta não é um único documento, mas sim o conjunto de três documentos
normativos: a Declaração Universal de Direitos Humanos, Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos e Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Observação: A Declaração Universal de Direitos Humanos não é um tratado
internacional, mas uma resolução da Assembleia-Geral da ONU. Apesar disso, ela tem um
valor jurídico próprio. Já Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais são tratados internacionais
propriamente ditos.
Além da Carta Internacional de Direitos Humanos, há outras normas no âmbito da
ONU. Existem outros tratados internacionais temáticos, como, por exemplo, a Convenção
Internacional sobre o Direito das Crianças e a Convenção Internacional sobre o Direito das
Pessoas com Deficiência.
Estrutura/Organização da ONU
A ONU é composta por diversos órgãos, mas numa visão geral, observam-se:
 Órgãos Principais (são seis).
 Fundos (ex.: UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância).
 Programas (ex.: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
 Agências/Organismos Especializados (ex.: OIT - Organização Internacional do
Trabalho).
Órgãos Principais da ONU
 Assembleia-Geral
É composta pela totalidade dos Estados-Membros da ONU (193 Estados). Ela
funciona como uma espécie de grande conferência diplomática internacional. Dentre as sua
atribuições esta a de editar resolução. Inclusive, como visto, a própria Declaração Universal
de Direitos Humanos foi por ele editada. Pode, ainda, expedir recomendações. Note-se que
a Assemblei-Geral não é um órgão exclusivo de direitos humanos. Mas ligado a ela existe um
órgão chamado Conselho de Direitos Humanos. Por sua vez, esse Conselho não é composto
por todos os Estados-Membros da ONU (47 Estados) - é feito um rodízio para se determinar
quais Estados vão compor o Conselho. Entre as suas funções, o Conselho pode estabelecer
diretrizes relacionadas a direitos humanos, acompanhar/monitorar o desenvolvimento dos
direitos humanos, propor a elaboração de tratados internacionais de direitos humanos etc.

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Em suma, ele exerce uma função equivalente a da Assembleia-Geral, mas específica de


direitos humanos.
 Conselho de Segurança
É um órgão destinado basicamente à manutenção ou conquista da paz. Ele é
composto por cinco membros permanentes, que têm poder de veto. Assim, todas as
decisões do Conselho devem ser por unanimidade. O Conselho não existe especificamente
para os direitos humanos, mas é óbvio que na busca da paz, sua atuação acaba repercutindo
de forma muito importante nos direitos humanos. Será visto adiante que o Conselho de
Segurança já criou Tribunais para o julgamento criminosos de guerra ou de indivíduos que
tenham praticado crime contra a humanidade, como é o caso do Tribunal de Ruanda e do
Tribunal para a Antiga Iugoslávia.
 Conselho Econômico e Social
Em termos de tamanho físico, este é o maior órgão da ONU, consumindo mais da
metade dos recursos econômicos da ONU. Trata-se de um órgão de ação, exerce uma
espécie de função executiva. Ligado a ele, existia a Comissão de Direitos Humanos, que foi
extinta e substituída pelo Conselho de Direitos Humanos.
 Tribunal Internacional de Justiça
É o único órgão da ONU que não está sediado em Nova Iorque, estando sediando em
Haia, Holanda. Por isso ele também é chamado de Corte/Tribunal Internacional de Haia. Sua
principal função é julgar Estados por violações ao Direito Internacional.
Observação: Não confundir com o Tribunal Penal Internacional (TPI) que também
tem sede em Haia.
 Conselho de Tutela
Hoje está inativo. Sua função era tutelar territórios que visavam se tornar Estados
soberanos. Sua última atuação foi relacionada ao hoje Estado Palau.
 Secretaria
É um órgão administrativo. É nela que está o Secretário-Geral da ONU (mais alta
autoridade da ONU, sendo o representante desta). Sua função é prestar serviço aos demais
órgãos, principalmente à Assembleia-Geral. Ligado à Secretaria, há o Alto Comissário das
Nações Unidas para Direitos Humanos (mais alta autoridade da ONU para direitos humanos,
apenas estando abaixo do Secretário-Geral).
Além desses seis órgãos, existem órgãos temáticos, criados em razão de tratados
específicos; por exemplo, em razão da Convenção sobre os Direitos das Crianças, foi criado
um órgão específico chamado Comitê de Direito das Crianças. A função dos comitês é

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monitorar, fiscalizar e, até mesmo, investigar violações de direitos humanos. Boa parte
desses comitês permite que um indivíduo que tenha sido vítima de violação de direitos
humanos possa comunicar essa violação diretamente a eles.
Isso leva a doutrina a fazer a seguinte classificação:
 Mecanismos Convencionais - órgãos criados por tratados específicos ou em
função deles.
 Mecanismos Extraconvencionais - órgãos que existem para os direitos
humanos, mas não em função de tratados específicos.
Observação1: O próprio Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos tem um
Comitê de Direitos Humanos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais tem um Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Observação2: À exceção do Comitê de Direitos Humanos, os demais comitês guardam
o mesmo nome do Pacto ou Convenção a que estão relacionados.
Observação3: Atenção à nomenclatura para não confundir Conselho de Direitos
Humanos, Comissão de Direitos Humanos e Comitê de Direitos Humanos.

1.2 Sistemas Regionais


1.2.1 Sistema Europeu
Foi criado pela Convenção Europeia de Direitos Humanos (1950), que trata,
basicamente, dos direitos civis e políticos; ou seja, direitos de 1ª geração. Por isso,
posteriormente, foi criada a Carta Social Europeia (1961), tratando dos direitos sociais.
Mecanismo de Proteção: Tribunal Europeu de Direitos Humanos (Tribunal de
Estrasburgo). Em outras palavras, este Tribunal é o órgão de proteção dos direitos humanos
no âmbito do Sistema Europeu.
Originalmente, havia dois órgãos: a Comissão Europeia de Direitos Humanos e o
Tribunal Europeu de Direitos Humanos. A Comissão foi extinta e o Tribunal foi reformulado,
ampliado e fortalecido pelo Protocolo nº 11 (à Convenção Europeia de Direitos Humanos).
Isso torna o Tribunal um órgão permanente, fortalece a sua judicialidade e, principalmente,
permite a petição individual perante o Tribunal.
Observação1: Além da Convenção Europeia de Direitos Humanos e da Carta Social
Europeia, existem outro instrumentos jurídicos que compõem o Sistema.
Observação2: Não confundir o Sistema Europeu de Direitos Humanos com a União
Europeia. São dois fenômenos jurídicos, políticos distintos. A União Europeia é uma entidade
supranacional que tem seus tratados constitutivos próprios, seus próprios órgãos e, dentro

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dela, há o Tribunal de Justiça da União Europeia. Já o Sistema Europeu outro tratado


constitutivo (a Convenção Europeia de Direitos Humanos) e o seu Tribunal próprio (Tribunal
Europeu de Direitos Humanos). Óbvio que vários países integram os dois Sistemas, sendo
natural, portanto, que haja influências entre eles.

1.2.2 Sistema Africano


Foi estabelecido pela Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos, também
chamada de Carta de Banjul (1981).
Essa Carta é um tratado internacional, que, além de trazer os direitos individuais, traz
os direitos sociais de forma mais específica que os outros Modelos/Sistemas, trazendo ainda
os deveres fundamentais e direitos coletivos (como a nomenclatura “direitos dos povos”).
Assim, essa Carta aparece como a mais abrangente no seu escopo.
Isso porque, no Sistema Africano, os direitos coletivos visam garantir a proteção e a
sobrevivência de certos grupos. Havendo, desta forma, previsões específicas para a
realidade de conflitos étnicos lá existentes.
Exemplo: A vedação ao deslocamento forçado de pessoas. O que impede que uma
etnia force a mudança geográfica de outra, o que, por vezes, vai gerar, a longo prazo, o
extermínio ou diminuição desse grupo deslocado.
Em suma, a grande novidade do Sistema Africano é o conteúdo da Carta Africana,
diante das características daqueles povos.
Mecanismo de Proteção: Originalmente, a Carta previu apenas a Comissão Africana
de Direitos Humanos e dos Povos. Posteriormente, um protocolo adicional criou a Corte
Africana de Direitos Humanos e dos Povos.
Importante mencionar que o Sistema Africano foi criado no âmbito da Organização
da Unidade Africana (OUA), que foi transformada na União Africana (UA).
Observação1: Diferentemente com o que ocorre com o Sistema Europeu e a União
Europeia, que não se confundem, o Sistema Africano foi criado dentro da União Africana.
A União Africana tem o Tribunal de Justiça Africano, que se funde com o Tribunal
Africano dos Direitos do Homem e dos Povos, formando o Tribunal Africano de Justiça e
Direitos Humanos.
*O Sistema Europeu e o Africano, quando cobrado em prova, é de forma muito
básica.
Observação2: Quando se fala em Sistema Regional, está se pensando que existem
tratados internacionais regionais e órgãos de proteção dos direitos humanos. Mas, além

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desses, existem, em outras regiões, declarações de direitos humanos regionalizadas, que


não compõem um sistema porque não são tratados e porque não existem órgãos (ex.: a
Declaração Islâmica Universal de Direitos Humanos).

1.2.3 Sistema Americano (ou Interamericano)


A evolução do Sistema:
 Em 1948 - foi elaborada a Declaração Americana de Direitos e Deveres do
Homem (Declaração de Bogotá), no âmbito da Organização dos Estados
Americanos (OEA).
Da mesma forma que a Declaração Universal de Direitos Humanos não é um tratado
internacional, tendo seu valor, até por ser um marco divisor no âmbito internacional, a
Declaração Americana também não é um tratado, mas tem um valor próprio no âmbito do
continente americano. Sendo aquela elaborada no âmbito da ONU e esta no âmbito da OEA.
Além disso, ambas são de 1948, sendo a Declaração Americana anterior por questão de
meses.
 Em 1959 - é criada a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
É um órgão que existe no âmbito da OEA criado com a finalidade de promover e
proteger os Direitos Humanos previstos na Declaração Americana.
 Em 1969 - é criada a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de
São José da Costa Rica)
O Pacto prevê como órgãos de proteção dos direitos humanos nele previstos a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
Observação1: Como a Comissão foi criada no âmbito da OEA, que esta situada em
Washington, EUA, esta também é a sede da Comissão, já a sede da Corte fica em São José,
Costa Rica.
Observação2: Existem três situações importantes em relação aos Estados:
1) Considere um Estado que é membro da OEA (ou seja, a Declaração Americana se
aplica a ele), mas esse Estado não é signatário do Pacto de São José da Costa Rica.
 Neste caso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pode atuar em relação a
esse Estado?
R: Sim, pois a Comissão Interamericana deve promover e proteger os direitos
humanos previstos não só no Pacto de São José da Costa Rica, mas também os previstos na
Declaração Americana. Além disso, deve ser ter claro que se o Estado não é signatário do

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Pacto, a Corte Interamericana não tem atuação sobre esse Estado, uma vez que esta existe
só em função do Pacto.
2) Considere um Estado que é membro da OEA e signatário do Pacto de São José da
Costa Rica, mas não admitiu a Corte.
Observação3: É possível que um Estado seja signatário do Pacto de São José
(Convenção Americana), mas não se submeter à jurisdição da Corte Interamericana. Isso se
em razão da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória (cláusula Raul Fernandes). Essa
“cláusula facultativa” refere-se à adesão à Corte. Assim, para um Estado aderir a Corte,
deverá fazê-lo de forma expressa. Em contrapartida, a “jurisdição obrigatória” se refere à
obrigatoriedade de os Estados que aderirem à Corte se submeterem as suas decisões. Ou
seja, tendo o Estado aderido à Corte, esta passa a exercer jurisdição obrigatória sobre ele.
 Neste caso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pode atuar em relação a
esse Estado?
R: Sim. Tanto em relação à Declaração Americana, porque o Estado é membro da
OEA, quanto em relação ao Pacto, porque o Estado aderiu a este (mas a Corte não terá
jurisdição porque o Estado não aderiu a ela).
3) Considere um Estado que é membro da OEA, signatário do Pacto e aderiu à Corte.
 Neste caso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pode atuar em relação a
esse Estado?
R: Sim. Aqui há uma situação plena. Tanto a Comissão, quanto a Corte poderão atuar
nesse Estado.
Observação4: A um Estado é possível aderir ao Pacto, num primeiro momento, e só
futuramente aderir à Corte. Este é o caso do Brasil, que aderiu ao Pacto em 1992, mas só
aceitou a jurisdição da Corte em 1998.
Observação5: A adesão (que é facultativa) à Corte pode ser condicionada ou
incondicionada à reciprocidade. Quando um país adere à Corte de forma condicionada (à
reciprocidade) significa dizer que ele só admite a jurisdição da Corte quando o Estado que o
denuncia também estiver sujeito à jurisdição da Corte. Já na adesão incondicionada, não há
essa exigência.
Exemplo: Como o Brasil aderiu à Corte de forma condicionada e os EUA não são
sujeitos à Corte, pois sequer são signatários do Pacto de São José da Costa Rica (são apenas
membros da OEA), o Brasil jamais aceitaria a jurisdição da Corte se a denúncia partisse dos
EUA.

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1.2.3.1 Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica) de 1969.
No seu conteúdo, trata basicamente de direitos individuais; ou seja, direitos civis e
políticos, direitos de 1ª geração, e, de forma genérica e abstrata, sobre direitos sociais.
Sendo a sua principal influência, o principal documento que o influenciou foi o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos da ONU (1966).
Da mesma forma que na ONU existem, além dos documentos básicos, outros
complementares, aqui a lógica é parecida. O do Pacto de São José da Costa Rica é o
documento base, existindo outros tratados específicos, bem como protocolos adicionais ao
Pacto, sendo o mais importa o Protocolo de São Salvador (1988), que versa sobre direitos
econômicos, sociais e culturais (exatamente aqueles direitos que o Pacto não detalha).
*próximo à prova, vale uma lida nos tratados mais comentados nessa aula.

1.2.3.2 Comissão Interamericana de Direitos Humanos


Atuação da Comissão: promoção, monitoramento e proteção dos direitos humanos.
Assim, dentre outras atividades, ela pode:
 Expedir recomendações (como não é um órgão judicial, não condena);
 Solicitar a adoção de medidas cautelares;
 Realizar investigações, inclusive in loco (pode ir até o país investigar);
 Promover a conciliação entre o Estado infrator e a vítima ou sua família;
 Elaborar relatórios (gerais ou temáticos).
Legitimidade ativa perante a Comissão
Além da atuação regular da Comissão, ela pode ser provocada por:
 Indivíduo;
 Grupos de indivíduos;
 Organizações não governamentais, reconhecidas em pelo menos 1 Estado
membro da OEA;
 Estado membro.
Pressupostos para se provocar a Comissão
1. Esgotamento da jurisdição doméstica - primeiro deve-se pleitear o direito no
Estado do qual faz parte, esgotadas as vias internas é que será possível recorrer à Comissão.
Mas essa necessidade de exaurimento pode ser mitigada quando houver uma demora
injustificada na prestação da jurisdição doméstica ou se for demonstrada a falta de vontade
política ou de condições efetivas de proteger os direitos humanos;

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2. Prazo prescricional de 6 meses, contado do esgotamento da via interna;


3. Ausência de litispendência internacional - verificar, no âmbito internacional, que
não haja nenhum outro órgão atuando no mesmo problema;
4. Que a violação seja referente a algum direito humano reconhecido pelo Sistema
Interamericano.
Procedimento (quando a Comissão é provocada)
1. Recebida a provocação, a Comissão comunica o Estado para que este preste
informações;
2. Com ou sem as informações, realiza um juízo de admissibilidade;
3. Há uma fase de investigação,
4. Tentativa de conciliação entre o Estado e a vítima ou sua família;
5. Se não houve conciliação, a Comissão elabora um relatório e expede as
recomendações que entender necessárias (Ex.: que o Estado indenize a vítima) - é apenas
uma recomendação, não há obrigatoriedade de cumprimento pelo Estado (a Comissão não
tem poder condenatório);
6. Se o Estado não cumprir, a Comissão poderá levar o caso à Corte.

1.2.3.3 Corte Interamericana de Direitos Humanos


A Corte exerce duas importantes funções:
 Função Consultiva
Ela é consultada a respeito da interpretação e aplicabilidade das normas
internacionais de direitos humanos. Feita a consulta, a Corte elabora uma Opinião Consultiva
(OC).
 Função Contenciosa/Jurisdicional
Neste caso, há efetivamente uma situação de violação de direitos humanos. Nessa
função, a Corte, diferentemente da Comissão, tem poder decisório, podendo condenar os
Estados. As decisões da Corte são obrigatórias e inapeláveis.
No Brasil, normalmente, a decisão já é cumprida espontaneamente pelo Executivo
Federal. Não sendo cumprida, a decisão vale como título executivo.
Condenações que podem ser impostas pela Corte
A Corte pode:
 Restabelecer o status quo ante, se possível;
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 Determinar a adoção de medidas específicas;


 Determinar a reparação do dano (indenização às vítimas ou as suas famílias);
 Expedir Medidas Provisórias, antes da decisão final (como se fosse uma
cautelar), que são determinações que a Corte impõe ao país para solucionar
provisoriamente o problema.
Observação1: as Medidas Provisórias da Corte não se confundem com as medidas
cautelares da Comissão, apesar de terem a mesma lógica.
Observação2: A Corte pode expedir Medidas Provisórias durante o curso do processo,
bem como pode expedi-las antes mesmo que haja um procedimento em curso nela, Corte.
Mas, neste último caso, isso só será possível a pedido da Comissão.
Legitimidade ativa perante a Corte
Podem provocar a Corte:
 A Comissão;
 Um Estado.

2. Tribunal Penal Internacional (TPI)


2.1 Antecedentes históricos
Situações anteriores que se somaram para a formação do TPI:
 Tribunais de Nuremberg e Tóquio
Ambos posteriores a segunda guerra mundial, criados para julgar os criminosos de
guerra. São tribunais internacionais e julgam pessoas. Ou seja, já tinham uma função que
hoje tem o TPI.
Crítica a esses tribunais:
São criados post factum e para uma situação específica (ad hoc). Portanto, se
caracterizam como tribunais de exceção. Além disso, a composição desses tribunais se deu
pelos vencedores, que julgaram os vencidos, colocando em risco o princípio da
imparcialidade.
Contribuição:
Apesar das críticas, como esses tribunais existiram de fato, deve ser retirado da
existência deles o que eles têm de contribuição. Nessa linha, a grande contribuição deixada
por eles é a possibilidade de responsabilização internacional dos indivíduos, tornando-os
sujeitos de direitos e de deveres no plano internacional.

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Por outro lado, a grande importância das críticas foi que elas fomentaram o debate
para a criação de um tribunal penal internacional permanente. O que resolve o problema
das críticas. Esse debate é levado a ONU.
 ONU - Debates (até 1951)
 Guerra Fria - Paralisação dos debates
 Tribunais para Antiga Iugoslávia (1993) e Ruanda (1994)
Esses tribunais também foram criados com a finalidade levar os criminosos de guerra
a julgamento.
Crítica a esses tribunais:
São criados post factum e para uma situação específica (ad hoc). Além disso, foram
criados pelo Conselho de Segurança da ONU, que não é um órgão jurisdicional. Ou seja, um
órgão criou outros outorgando poderes que ele próprio não tem.
Em que pese as críticas, eles atuaram. Assim, mais uma vez, deve ser retirado da
existência deles o que eles têm de contribuição, que é reforçar a mesma contribuição trazida
pelos Tribunais de Nuremberg e Tóquio: a responsabilidade internacional dos indivíduos.
Frise-se que, com o fim da Guerra Fria, os debates relativos à criação de um tribunal
penal internacional permanente tinham sido retomados, e a criação dos Tribunais para
Antiga Iugoslávia e Ruanda fomentaram ainda mais esse debate.

2.2 Criação do TPI


Em 1998, é elaborado o Estatuto de Roma (Estatuto do TPI), que é um Tratado
Internacional.
Em 2002, esse Estatuto entra em vigor (havia a previsão no sentido de que o Estatuto
só entraria em vigor quando atingido o número mínimo de 60 ratificações).
Observação: Sete Estados votaram contra o TPI, dentre eles, os mais significativos
são EUA, China, Israel e Turquia.

2.3 Crimes da competência do TPI (arts. 5º a 8º do Estatuto de Roma)


 Genocídio
É o ataque destinado a exterminação total ou parcial de um determinado grupo
nacional, racial, étnico ou religioso.
Exemplo: ataque aos judeus na segunda guerra mundial.
Atos que caracterizam o genocídio (art. 6º):
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a) Homicídio de membros do grupo;


b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua
destruição física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

 Crimes contra a humanidade


É o ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, não contra
um grupo específico.
Atos que caracterizam os crimes contra a humanidade (art. 7º):
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas
fundamentais de direito internacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada,
esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de
gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos
políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido
no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como
inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste
parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande
sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.

Observação: A nomenclatura “crimes contra a humanidade” também pode ser


utilizada de modo genérico, englobando todas as quatro espécies de crimes julgados pelo
TPI.
 Crimes de guerra
São atos de violação aos direitos humanos praticados em situações de conflitos
armados.
O TPI deverá, necessariamente, observar as Convenções de Haia e as Convenções de
Genebra, que estabelecem regras de conduta em períodos de hostilidade.

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Observação: As quatro Convenções de Genebra formam o Direito Internacional


Humanitário, cujo principal órgão é a Cruz Vermelha. Esse Direito visa à adoção de medidas
de socorro e atendimento a pessoas em situações de conflitos armados.
Os atos de considerados como crime de guerra estão previstos no art. 8º do Estatuto
de Roma.
Exemplos: Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências
biológicas; o ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à
integridade física ou à saúde; Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas
nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades.
 Crime de agressão
Foi previsto em 1998 pelo Estatuto de Roma, mas não foi tipificado. Só o sendo em
2010, como o ato de ataque à soberania de um Estado.
Exemplo: um Estado bloquear os portos ou o espaço aéreo de outro.

2.4 Competência do TPI


A competência é ratione temporis. Ou seja, o TPI só pode processar e julgar os crimes
praticados após a sua entrada em vigor. Assim, por exemplo, se um Estado só aderiu ao TPI
em 2010, é só a partir dessa data que o TPI poderá exercer sua jurisdição em relação a ele,
salvo se o Estado expressamente admitir a retroatividade (até 01/07/2002, quando o
Estatuto de Roma entrou em vigor).
Outro ponto importante é necessidade de esgotamento da jurisdição doméstica.
Aqui, aplica-se o mesmo raciocínio do que ocorre com a Comissão Interamericana. Nessa
linha de raciocínio, se a jurisdição doméstica atuou, proferindo decisão, o TPI deverá
respeitar a coisa julgada interna, podendo afastá-la, todavia, se ficar comprovado que a
atuação da jurisdição doméstica foi fraudulenta.
No TPI, a maioridade é 18 anos.
Pouco importa qual era o cargo oficial de quem é levado a julgamento no TPI, não
havendo qualquer tipo de foro privilegiado.

2.5 Decisão do TPI


 Prisão perpétua;
 Reclusão até 30 anos;
 Multa;
 Confisco de bens auferidos pela prática criminosa.

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Observação: O local para cumprimento de pena é feito por acordo (acordo de sede).

2.6 Estrutura do TPI


 Presidência (Presidente + 2 Vices);
 Divisões Judiciais:
a) Sessão de Instrução - faz toda a parte da instrução processual, de dilação
probatória, referindo-se tanto ao inquérito, quanto a produção de provas na ação;
b) Sessão de Julgamento;
c) Sessão de Recurso.
 Gabinete do Procurador - é quem faz toda a função de Ministério Público,
Parquet, tanto pré-processual quanto processual;
 Secretaria - órgão administrativo.
Observação: A denúncia ao Procurador pode ser feita por um Estado ou pelo
Conselho de Segurança da ONU, sendo possível, ainda, que o Procurador, de modo próprio,
instaure o inquérito.
No caso de o inquérito ser instaurado por denúncia de um Estado ou, de modo
próprio, pelo Procurador, este inquérito só poderá ser realizado em relação a um indivíduo
que é nacional de um país que seja parte do TPI ou que tenha praticado um crime em um
Estado que faça parte do TPI. Em contrapartida, se a denúncia for feita pelo Conselho de
Segurança da ONU, o inquérito poderá ser instaurado em relação a qualquer indivíduo.

2.7 No Brasil
Problemas:
 Prisão perpétua;
 Imprescritibilidade (todos os crimes do TPI são imprescritíveis).
Para a doutrina majoritária, como a jurisdição do TPI não é doméstica, mas sim
internacional, não se aplicariam as regras da Constituição. Logo, o Brasil poderia entregar
um nacional, inclusive brasileiro nato, para ser julgado no TPI, mesmo havendo a
possibilidade de prisão perpétua e mesmo em relação a crimes já prescritos.
Observação: Não se falar em extradição para o TPI, mas em entrega.

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