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Licenciamento de usinas nucleares

O Licenciamento Ambiental, instrumento legal instituído pela Lei nº 6938 de agosto de


1981, tem por finalidade efetuar o controle prévio das etapas de construção, instalação e
funcionamento de empreendimentos e atividades que se utilizam dos recursos fornecidos
pelo meio ambiente.
Tais atividades são consideradas potencialmente danosas. De forma que o seu
exercício, se feito sem a devida tutela, certamente imputará em incomensurável degradação
das diversas esferas existentes na sociedade.
Complementarmente, o licenciamento ambiental é regulamentado no Brasil também
pela Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986, cujo a função é nortear,
especificar e estabelecer diretrizes gerais quando da elaboração dos estudos e relatórios
necessários e pela a Resolução CONAMA nº 237, de 18 de dezembro de 1997, intuída de
estabelecer critérios e demais procedimentos, prezando pela efetivação da descentralização
dos princípios instituídos pela Política Nacional de Meio Ambiente e Constituição Federal
de 1988.
O processo de licenciamento realiza-se de forma sistemática, trazendo a resolução
CONAMA 237 em seu Anexo 1, um rol demonstrativo de empreendimentos e atividades
que devem se submeter ao procedimento. Dentre elas, encontram-se os de geração e
transmissão de energias, que, conforme estabelece o inciso IV do art. 4º da resolução
supramencionada, deve ser realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, órgão executor do SISNAMA, mediante parecer
e fiscalização da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN.
Ocorre que, para os empreendimentos mencionados no inciso retro, necessário
se faz, além do licenciamento ambiental convencional, a instauração de um processo de
licenciamento nuclear junto à CNEN para que haja a certeza de que a instalação licenciada
não incidirá em riscos aos colaboradores da obra, população e tampouco ao meio ambiente.
O licenciamento nuclear caracteriza-se por sua continuidade, iniciando-se com os
2 Capítulo 1. Licenciamento de usinas nucleares

estudos primários e concluindo-se apenas após um eventual encerramento da atividade.


Por fim, objetiva-se pelo presente, tendo como base o licenciamento ambiental e
nuclear de uma Central Nuclear no Brasil, demonstrar, de forma didática, as etapas e
requisitos para sua concretização, confrontando-o com os eventuais impactos ambientais à
todas as esferas do meio ambiente.
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Lixo atômico

O lixo nuclear, lixo radioativo ou lixo atômico é aquele produzido sobretudo pelas usinas
nucleares. Elas produzem energia elétrica através de materiais radioativos, donde o
principal elemento é o urânio.
No entanto, os elementos radioativos são também utilizados nas áreas da medicina,
agricultura, engenharia, dentre outros.
O contato com esses resíduos pode levar o surgimento de diversas doenças, o câncer
por exemplo, e no pior dos casos levar à morte.
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Sistemas de segurança e proteção de
usinas nucleares

De todas as atividades industriais, a geração nuclear é uma das que oferece menos risco.
Em 30 anos de operação das usinas de Angra, nunca houve um acidente ou evento que
pusesse em risco os trabalhadores das usinas, a população ou o meio ambiente da região.
A segurança é um compromisso que está cristalizado na Política de Gestão Integrada
da Eletrobras Eletronuclear. Ela é prioritária e precede a produtividade e a economia, não
devendo nunca ser comprometida por qualquer razão.
Por lidar com uma forma de energia muito potente, a segurança das instalações
nucleares vai muito além das grossas paredes de aço e concreto que cercam nossos reatores.
Segurança nuclear é um processo contínuo que não envolve apenas componentes e estruturas,
mas também pessoas e organizações.
As usinas nucleares contam com sistemas de segurança passivos, que entram
automaticamente em ação para impedir acidentes e, também, desligar e resfriar o reator
em situações de emergência. As usinas contam ainda com duas barreiras protetoras
que protegem fisicamente o reator: uma externa, de concreto, e outra interna, de aço.
Essas paredes de contenção protegem as usinas contra fatores externos, como terremotos,
maremotos, inundações e explosões, e também o aumento de pressão no interior da usina.
A Eletronuclear tem na segurança um dos pontos mais relevantes de sua cultura
organizacional, norteando todas as atividades da empresa, mesmo as que, aparentemente,
nada tem a ver com a questão. Um dos principais conceitos empregados é o de defesa
em profundidade, ou seja, barreiras em série, como em uma corrida de obstáculos. Elas
funcionam através dos sistemas operacionais, de segurança e de instrumentação e controle
de uma usina. O risco não é eliminado totalmente, mas reduzido a níveis baixíssimos.
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Desastres em usinas nucleares

A energia nuclear corresponde hoje a 17% da geração de energia elétrica mundial. Apesar de
não gerar os gases do efeito estufa, o perigo se encontra nos resíduos de alta radioatividade
e na possibilidade de acidente nas usinas, que podem ser devastadores. Confira uma lista
com os principais casos de desastres da história:

4.1 Chernobyl (1986)


O maior desastre nuclear da história ocorreu em Chernobyl, na região da Ucrânia, em 26
de abril de 1986, quando um reator da usina apresentou problemas técnicos, liberando
uma nuvem radioativa, com 70 toneladas de urânio e 900 de grafite, na atmosfera. O
acidente é responsável pela morte de mais de 2,4 milhões de pessoas nas proximidades e
atingiu o nível 7, o mais grave da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES).
Após a explosão do reator, vários trabalhadores foram enviados ao local, para
combater as chamas. Sem equipamento adequado, eles morreram em combate e ficaram
conhecidos como “liquidadores”. A solução foi construir uma estrutura de concreto, aço e
chumbo, para cobrir a área da explosão.
No entanto, a construção foi feita com urgência e apresenta fissuras, tanto que o
local até hoje é nocivo, pela radiação. Para se ter uma idéia da magnitude do acidente, o
volume de partículas radioativas em Chernobyl foi 400 vezes maior do que o emitido pela
bomba atômica de Hiroshima, lançada no Japão, após a Segunda Guerra.
Prypiat, cidade elaborada para ser moradia dos trabalhadores da usina, teve seus
habitantes mortos ou evacuados. Animais, rios e florestas também foram contaminados
e diversas anomalias genéticas se deram na região, que engloba antigos países do bloco
soviético, como Bielorrúsia, Ucrânia e Rússia. Hoje, 26 anos após a catástrofe, foi iniciada
a construção de uma nova estrutura, para reduzir a ameaça de radioatividade no local.
Atualmente a cidade de Prypiat é desabitada.
6 Capítulo 4. Desastres em usinas nucleares

4.2 Three Mile Island (1979)


A central nuclear de Three Mile Island foi cenário de um acidente que atingiu o nível 5 na
Escala Internacional de Eventos Nucleares, em 28 de março de 1979. Localizada próxima a
Harrisburg, capital da Pensilvânia, a usina sofreu superaquecimento devido a um problema
mecânico, mas não chegou a explodir, pois os técnicos optaram pela liberação de vapor e
gases.
Apesar de não haver casos de mortes em razão da radiação, cerca de 25 mil pessoas
entraram em contato com os gases, que foram liberados para evitar a explosão. No mesmo
ano, uma comissão presidencial e a Comissão Nuclear Reguladora chegaram a seguinte
conclusão: “ou não haverá casos de câncer ou o número será tão pequeno que nunca será
possível detectá-los.”

4.3 Kyshtym (Ozyorsk - 1957)


Criada em 1957, como fruto da corrida nuclear da União Soviética, a usina de Mayak sofreu
uma falha no sistema de refrigeração do compartimento de armazenamento de resíduos
nucleares. O erro causou uma explosão em um tanque com 80 toneladas de material
radioativo.
A nuvem de gás contaminou a região em um raio de 800 km. Como a cidade de
Ozyorsk, onde aconteceu o acidente, não estava no mapa soviético, o fato ficou marcado
como “o desastre de Kyshtym”. Cerca de dez mil pessoas foram evacuadas, sem explicação
do governo. Foram registradas pelo menos 200 mortes por causa da exposição à radiação.

4.4 Césio – 137 (1987)


O acidente radioativo de nível 5 segundo a INES aconteceu em Goiânia, em 1987, quando
dois catadores de papel encontraram um aparelho de radioterapia e o levaram para um
ferro-velho. Após desmontarem o aparelho, os homens encontraram uma cápsula de
chumbo, com cloreto de césio em seu interior.
A coloração brilhante do cloreto de césio no escuro impressionou Devair Ferreira, o
dono do ferro-velho, que levou o “pó branco” consigo e distribuiu o material para familiares
e vizinhos. Após o contato com o césio, náuseas, vômitos e diarréia atacaram (a sobrinha
de Devair foi a primeira a falecer, seis dias após ingerir o material). Ao todo, onze pessoas
morreram e mais de 600 foram contaminadas. A exposição à radiação atingiu 100 mil
pessoas.
4.5. Tokaimura (1999) 7

O ferro-velho onde abriram a cápsula foi demolido, o comércio fechou e muitas


pessoas se mudaram. As autoridades sanitárias construíram um depósito em Abadia de
Goiânia, cidade próxima, para armazenar as mais de 13 mil toneladas de lixo atômico,
resultantes do processo de descontaminação da região.

4.5 Tokaimura (1999)


A 100 km de Tóquio, a cidade sede da indústria nuclear japonesa foi palco de um acidente
que expôs mais de 600 pessoas à alta radiação, em 1999. Funcionários de uma empresa
de reprocessamento de urânio exageraram na dose do metal radioativo em um reator
desativado há um ano, que sofreu uma reação descontrolada, vazando a radiação.

4.6 Seversk (1993)


A cidade de Seversk, na região da Sibéria, abriga reatores nucleares e indústrias químicas
para a separação e processamento de urânio e plutônio. A União Soviética não permitia
que a cidade aparecesse no mapa, fato que mudou em 1992, após um decreto de Boris
Yeltsin. Logo após, em 1993, a usina Tomsk-7 sofreu um acidente, em que um tanque com
substâncias radioativas explodiu. Uma nuvem radioativa se formou na região, que hoje é
fechada e só pode ser visitada a convite. O número de vítimas é desconhecido.

4.7 Yucca Flat (1970)


A região de intensos testes nucleares fica em Nevada, a 65 km de Las Vegas. Em dezembro
de 1970, um dispositivo de alta potência foi detonado no subsolo, mas provocou rachaduras,
que resultaram em detritos radioativos na atmosfera. Cerca de 86 trabalhadores foram
expostos à radiação. Não se sabe o que ocorreu com os funcionários. Atualmente desativada,
a região recebeu seu último teste em 1992.

4.8 Windscale (1957)


Durante o período que sucedeu a Segunda Guerra, a Inglaterra também buscava desenvolver
armas nucleares. A pressa em fazer uma bomba atômica em Windscale levou ao incêndio
no reator, vazando material radioativo para a atmosfera. Para manter uma boa imagem
sobre seu programa nuclear, o governo do país tentou ocultar as negligências que levaram
8 Capítulo 4. Desastres em usinas nucleares

ao acidente, que – supostamente – ocasionou mais de duas centenas de casos de câncer


entre as comunidades vizinhas.

4.9 Bohunice (1977)


O acidente na usina de Bohunice, na Tchecoslováquia de 1977 (hoje dividida em República
Checa e a Eslováquia) ocorreu após uma mudança de combustível. Os absorventes de
umidade que cobriam as barras de combustível não foram removidos da forma correta.
Como conseqüência, o combustível sofreu superaquecimento, levando à corrosão do reator.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, não há estimativas adequadas
sobre feridos ou mortos porque, na ocasião, o acidente teria sido encoberto pelo governo
soviético. O que se sabe é que os gases radioativos se espalharam por toda a usina.

4.10 Fukushima (2011)


Localizada a cerca de 250 km ao norte de Tóquio, a usina nuclear Daiichi, em Fukushima,
sofreu danos em três de seus seis reatores, em 11 de março de 2011, depois de um terremoto
de 9 graus na escala Richter ter atingido o país. Autoridades japonesas afirmaram que os
níveis de radiação liberada foram altos, quase preocupantes. O desastre foi classificado
com grau 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES).
Após o ocorrido, cientistas japoneses pretendem realizar uma mini-fusão nuclear, a
fim de entender melhor o acidente de 2011 e se preparar de forma adequada em caso de
novas catástrofes.
Referências

LIXO Nuclear - Toda Matéria. <https://www.todamateria.com.br/lixo-nuclear/>.


(Accessed on 10/07/2020).

MAIORES acidentes nucleares da história | Educação. <http://educacao.globo.com/


artigo/maiores-acidentes-nucleares-da-historia.html>. (Accessed on 10/07/2020).

O licenciamento ambiental dos centros nucleares no Brasil e os eventuais


impactos do exercício da atividade de geração e exploração de energia
ao meio ambiente. <https://rsadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/210814634/
o-licenciamento-ambiental-dos-centros-nucleares-no-brasil-e-os-eventuais-impactos-do-exercicio-da-ati
(Accessed on 10/07/2020).

SEGURANçA Nuclear. <https://www.eletronuclear.gov.br/Seguranca/Paginas/


Seguranca-Nuclear.aspx>. (Accessed on 10/07/2020).

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