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Desastres Químicos

Histórico mundial

Há mais de quatro décadas, as indústrias


de processo têm desenvolvido uma
abordagem específica em relação às
possíveis falhas e perigos oriundos de suas
atividades, as quais possam causar perda
de vida e de propriedade.
De fato, as primeiras preocupações com a
saúde e segurança públicas começaram na
indústria alimentícia dos Estados Unidos,
já na década de 20. Além disso, desde o
início da década de 30, pesquisadores de
laboratórios de toxicologia, na indústria,
têm avaliado as propriedades tóxicas de
produtos potencialmente perigosos.

Em 1931, o pesquisador H. W. Heinrich efetuou uma pesquisa sobre os custos de um acidente em termos de Seguro
Social e introduziu, pela primeira vez, a filosofia de “acidentes com danos à propriedade”, ou seja, acidentes sem lesão,
em relação aos acidentes com lesão incapacitante.

Desde então, vários estudos sobre acidentes industriais com danos à propriedade se seguiram, com o objetivo de
estimar os custos derivados das perdas.

Em meados da década de 60, tornou-se significativamente evidente que haviam consideráveis diferenças na atuação
das empresas com relação à saúde ocupacional, riscos de lesões e de perdas. Nesta época, surgiram vários relatórios
sobre segurança nas plantas químicas, tais como “Safety and Management”, pela Association of British Chemical
Manufactures (ABCM), 1964 e “Safe and Sound”, pelo British Chemical Industry Safety Coucil (BCISCl), 1969, ambos
na Grã-Bretanha. Também, nos Estados Unidos, Frank Bird Jr. fundamentou sua teoria de “Controle de Danos” (1966),
a partir da análise de uma série de acidentes ocorridos numa empresa metalúrgica americana.

Além disso, nos anos sessenta ocorreu o começo de um desenvolvimento que resultou em grandes mudanças nas
indústrias químicas e petroquímicas, tais como alterações nas condições de pressão e temperatura, as quais se
tornaram mais críticas tendo como conseqüência um aumento na energia armazenada nos processos, representando,
portanto um perigo maior. Ao mesmo tempo, as instalações de processo começaram a crescer, quase dez vezes mais,
em tamanho. Também, começaram a operar em fluxo contínuo, aumentando o número de interligações com outras
plantas, para a troca de sub-produtos, tornando, dessa forma, os processos mais complexos.

Esses desenvolvimentos, no entanto, não ocorreram isoladamente. O contexto social também foi se transformando e
outros temas, tais como a poluição ambiental, começaram a se tornar motivo de preocupação para o público e para os
governos. Como conseqüência, a indústria foi obrigada a examinar os efeitos de suas operações sobre o público externo
e, em particular, a analisar mais cuidadosamente os possíveis perigos decorrentes de suas atividades.

Em 1970, no Canadá, John A. Fletcher, prosseguindo a obra iniciada por Bird, propôs o estabelecimento de programas
de “Controle Total de Perdas”, objetivando reduzir ou eliminar todos os acidentes que pudessem interferir ou paralisar
um sistema.

Em 1972, criou-se uma nova mentalidade baseada nos trabalhos desenvolvidos pelo engenheiro Willie Hammer,
especialista em Segurança de Sistemas, o qual empregou a experiência adquirida na Força Aérea e nos programas
espaciais norte-americanos, para desenvolver diversas técnicas a serem aplicadas na indústria, a fim de preservar os
recursos humanos e materiais dos sistemas de produção.
Em paralelo, a indústria nuclear começou a desenvolver suas atividades de consultoria na área de confiabilidade, e as
indústrias passaram a adotar técnicas desenvolvidas pelas autoridades de energia atômica na avaliação de riscos
maiores e na estimativa de taxas de falhas de instrumentos de proteção.

Em 1974, a explosão desastrosa em um reator de produção de caprolactama, em Flixborough (Inglaterra), tornou-se


um marco na questão da avaliação de riscos e prevenção de perdas na indústria química. O acidente levou ao
estabelecimento do Advisory Committee on Major Hazards (ACMH), na Inglaterra, que durou de 1975 a 1983 e
introduziu uma legislação para controle de riscos maiores nas indústrias.

Em 1976, outro grande acidente em um reator químico, com liberação de dioxina, em Seveso (Itália), gerou um
profundo impacto na Europa, tornando-se o estímulo para o desenvolvimento da Diretiva de Seveso – EC Directive on
Control of Industrial Major Accident Hazards, em 1982.

Outros acidentes de grande impacto se seguiram no mundo, podendo-se citar, entre eles: San Carlos (Espanha, 1978),
Bhopal (Índia, 1984), Cidade do Mexico (México, 1984), Chernobyl (Ucrânia, 1986) e Piper Alpha (Mar do Norte,
1988), os quais vieram a reforçar a necessidade de desenvolvimento na área de avaliação de riscos e prevenção de
perdas, bem como a necessidade de estabelecimento de diretrizes, regulamentos e legislações sobre o tema, com o
objetivo de reduzir ou evitar a ocorrência de acidentes industriais maiores.

Acidente na plataforma “Piper Contaminação decorrente de Bhopal


Alpha”, Mar do Norte - 1988 vazamento tóxico, Seveso 1976 Milhares de pessoas mortas devido
a vazamento tóxico, Ìndia, 1984
Histórico Estado de São Paulo

No Brasil, em particular no Estado de São Paulo, a preocupação com os acidentes de grande porte
ganhou ênfase em 1984, após o rompimento de um duto de gasolina seguido de incêndio em Cubatão,
causando cerca de 500 vítimas, das quais 93 fatais. Foi quando se iniciou em 1985 um processo de
conscientização sobre a vulnerabilidade da região do Pólo Petroquímico de Cubatão, devido ao grande
número de deslizamentos das encostas da Serra do Mar, capazes de ocasionar a liberação de produtos
tóxicos e inflamáveis, o que, por sua vez, poderia colocar novamente em risco a população local. Em
função disso, juntamente com o conhecimento da Diretiva de Seveso, aplicada na Europa, para a
prevenção de acidentes maiores, parte do grupo de técnicos da CETESB, que atuava no setor de
atendimento corretivo relacionado a acidentes com produtos químicos, demonstrou interesse pela
questão preventiva, dando início em 1985 à pesquisa em relação ao tema.

Explosão de caminhão-tanque Incêndio de grandes proporções


(Ilha de Barnabé - Santos) (Vila Socó - Cubatão)
Flixborough

Aproximadamente às 17 horas do dia 01/06/1974, ocorreu uma explosão na planta de produção de


caprolactama da fábrica Nypro Ltda., situada em Flixborough. A explosão ocorreu devido ao vazamento
de ciclohexano, causado pelo rompimento de uma tubulação temporária instalada como “by-pass”
devido à remoção de um reator para a realização de serviços de manutenção. O vazamento formou uma
nuvem de vapor inflamável que entrou em ignição resultando numa violenta explosão seguida de um
incêndio que destruiu a planta industrial.
A ruptura da tubulação de 20 polegadas foi atribuída a um projeto mal elaborado, uma vez que a
estrutura instalada para a sustentação do duto não suportou a sua movimentação, em função da
pressão e da vibração a que o tubo foi submetido durante a operação.
Estimou-se que cerca de 30 toneladas de ciclohexano vazaram, formando rapidamente uma nuvem de
vapor inflamável, a qual encontrou uma fonte de ignição entre 30 e 90 segundos após o início do
vazamento. Os efeitos da sobrepressão ocorrida foram estimados como sendo equivalentes à explosão
de uma massa variando entre 15 e 45 toneladas de TNT.
Ocorreram danos catastróficos nas edificações próximas, situadas ao redor de 25 metros do centro da
explosão. Além da destruição da planta, em função do incêndio ocorrido, 28 pessoas morreram e 36
foram gravemente feridas. Ocorreram ainda impactos nas vilas situadas nas proximidades da planta,
afetando 1.821 residências e 167 estabelecimentos comerciais.

Fonte: Loss Prevention in the Process Industries, Frank P.Less


Seveso

Por volta das 12h30 do dia 10/06/1976, numa planta industrial situada em Seveso, uma província de Milão,
ocorreu a ruptura do disco de segurança de um reator, que resultou na emissão para a atmosfera de uma
grande nuvem tóxica.
O reator fazia parte do processo de fabricação de TCP (triclorofenol) e a nuvem tóxica formada continha vários
componentes entre eles o próprio TCP, etilenoglicol e 2,3,7,8-tetraclorodibenzoparadioxina (TCDD). A nuvem se
espalhou numa grande área, contaminando pessoas, animais e o solo na vizinhança da unidade industrial.
A planta operava em regime de batelada e, no momento do acidente, encontrava-se paralisada para o final de
semana. No entanto, o reator continha material a uma elevada temperatura. Provavelmente, a presença de
etilenoglicol com hidróxido de sódio causou uma reação exotérmica descontrolada, fazendo com que a pressão
interna do vaso excedesse a pressão de ruptura do disco de segurança, causando a emissão. A reação ocorrida,
associada a uma temperatura entre 400 e 500 ºC, contribuiu para a formação do TCDD.
O reator não possuía um sistema automático de resfriamento e como a fábrica se encontrava com poucos
funcionários, já que paralisaria suas operações no final de semana, não foram desencadeadas ações de
resfriamento manual do reator para minimizar a reação ocorrida. Desta forma, a emissão ocorreu durante cerca
de 20 minutos, até que um operador conseguisse paralisar o vazamento.
Toda a vegetação nas proximidades da planta morreu de imediato devido ao contato com compostos clorados.
No total, 1.807 hectares foram afetados. A região denominada Zona A, com uma área de 108 hectares possuía
uma alta concentração da dioxina TCDD (240 µg/m²).
Foram evacuadas 736 pessoas da região, sendo que 511 retornaram para as suas casas no final de 1977, mas
as que moravam na Zona A perderam suas residências, em função do nível de contaminação ainda existente
nesta área, a qual permaneceu isolada por muitos anos. Toda a vegetação e solo contaminados foram
removidos e as edificações tiveram que ser descontaminadas. Os custos estimados na operação de evacuação
das pessoas e na remediação das áreas contaminadas foram da ordem de US$ 10 milhões.
Os efeitos imediatos à saúde das pessoas se limitaram ao surgimento de 193 casos de cloroacne (doença de
pele atribuída ao contato com a dioxina). Os efeitos à saúde de longo prazo ainda são monitorados.
Bhopal
Na madrugada de 03/12/1984, uma nuvem tóxica de isocianato de metila causou a morte de milhares de
pessoas na cidade de Bhopal, a capital de Madya-Pradesh, na Índia central. A emissão foi causada por uma
planta do complexo industrial da Union Carbide situada nos arredores da cidade, onde existiam vários bairros
marginais.
O isocianato de metila é um produto utilizado na síntese de produtos inseticidas, comercialmente conhecidos
como “Sevin” e “Temik”, da família dos carbamatos, utilizados como substitutos de praguicidas organoclorados,
como o DDT.
Em condições normais, o isocianato de metila é líquido à temperatura de 0º C e pressão de 2,4 bar. Na noite do
acidente, a pressão dos tanques de armazenamento se elevou mais de 14 bar e a temperatura dos
reservatórios se aproximou de 200º C. A causa provável do aumento da pressão e da temperatura foi atribuída
à entrada de água num dos tanques causando uma reação altamente exotérmica.
Os vapores emitidos deveriam ter sido neutralizados em torres de depuração; porém, como uma destas torres
se encontrava desativada, o sistema não funcionou possibilitando assim a liberação do produto para a
atmosfera.
Estima-se que ocorreram por volta de 4.000 mortes e cerca de 200.000 pessoas intoxicadas, caracterizando
assim a maior catástrofe da indústria química.
Cidade do México

Na manhã de 19/11/1984, por volta das 5h35 ocorreu a explosão de uma nuvem de vapor e uma série de
BLEVEs na base de armazenamento e distribuição de Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP) da empresa PEMEX,
localizada no bairro de San Juanico, Cidade do México.
A base recebia GLP de três refinarias diferentes por meio de gasoduto. A capacidade principal de
armazenamento da base era de 16.000 m³ (aproximadamente 8.960.000 kg) de GLP, distribuídos em: duas
esferas com capacidade individual de 2400 m³, quatro esferas menores de 1.600 m³ de capacidade individual e
48 cilindros horizontais (capacidades individuais variando de 36 m³ a 270 m³). No momento do acidente, a
PEMEX estava com o armazenamento em torno de 11.000 m³ de GLP.
A catástrofe iniciou-se com o vazamento de gás devido à ruptura de uma tubulação de 8 polegadas de diâmetro
que transportava o gás de uma das esferas para os reservatórios cilíndricos. A sala de controle da PEMEX
registrou por volta das 5h30 uma queda de pressão em suas instalações e também em um duto localizado a 40
km de distância, porém, a sala de controle não conseguiu identificar a causa desta queda de pressão. A
liberação aconteceu por 5-10 minutos, formando uma imensa nuvem de gás inflamável, a qual foi levada por
um vento de destino sudoeste, ajudado pela inclinação do terreno, até encontrar a fonte de ignição e explodir.
Neste caso, a fonte de ignição direta foi o “flare” instalado inadequadamente ao nível do solo pois, no
entendimento da empresa, dado a força dos ventos no local, a instalação do “flare” a uma altura mais elevada
comprometeria a sua eficiência.
A explosão da nuvem atingiu cerca de 10 residências e iniciou o incêndio nas instalações da base. A vizinhança
pensou tratar-se de um terremoto devido ao forte barulho da explosão. Por volta das 5h45 da manhã ocorreu o
primeiro BLEVE, após um minuto outro BLEVE aconteceu, sendo o mais violento desta catástrofe, gerando uma
bola de fogo com mais de 300 m de diâmetro. Ocorreram mais de 15 explosões, BLEVE nas quatro esferas
menores e em muitos dos reservatórios cilíndricos, explosões dos caminhões-tanque e botijões, chuva de
gotículas de GLP, transformando tudo que atingiam em chamas; alguns reservatórios e pedaços das esferas
transformaram-se em verdadeiros projéteis atingindo edificações e pessoas.
Os trabalhos de extinção do fogo e prevenção de novas explosões terminaram às 23 horas. As conseqüências
deste acidente foram trágicas: morte de 650 pessoas, mais de 6.000 feridos e destruição total da base.

Fonte: Loss Prevention in the Process Industries

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