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Trabalho de Gestão de Risco –

Acidentes Mundiais com


Produtos Químicos

Nome: Bruna Christofoletti.


Série: 1° Ano do Ensino Superior AMS - Tecnólogo em Química
Matéria: Gestão de Risco
Professor: Reinaldo Gomes da Silva
Interpretação de Texto
Histórico Mundial de Acidentes de Processo
O estudo dos históricos de casos de acidentes de processos, sem dúvida são uma fonte
inestimável de informações para os engenheiros químicos dedicados à segurança de processos.
Essas informações servem como base para a melhoria contínua de procedimentos e práticas,
visando a prevenção de acidentes semelhantes no futuro.
De fato, certos acidentes foram tão devastadores que resultaram na implementação de
novas leis e normas regulamentadoras, buscando mitigar tais riscos e introduzir técnicas
específicas para o controle dessas situações.
No cenário industrial mundial, alguns desses acidentes se destacam não apenas pelos
danos causados, mas também pelos impactos duradouros que deixaram para trás. Abaixo,
destaco alguns dos maiores acidentes industriais ocorridos ao longo dos anos:
Bhopal – Índia (1984)
O acidente ocorrido na manhã de 03 de dezembro de 1984 na Union Carbide Ltda. em
Bhopal, Índia, permanece como um dos mais trágicos episódios da história industrial. Uma válvula
defeituosa em um reservatório que continha 26 toneladas de isocianato de metila (MIC), uma
substância altamente tóxica, resultou em um vazamento que desencadeou uma nuvem mortal
sobre a cidade, lar de aproximadamente 800.000 pessoas na época.
As consequências foram devastadoras, resultando entre 2.500 a 4.000 mortos e mais de
18.000 feridos. O MIC, conhecido por suas propriedades físicas perigosas, é duas vezes mais
pesado que o ar, o que permite que o vapor permaneça próximo ao solo em caso de vazamento,
além de reagir violentamente em contato com a água. No caso da Union Carbide, os tanques de
armazenamento operavam sob altas pressões e temperaturas (2,72 bar a 121°C), contando com
sistemas de segurança precários. Havia disponíveis sistemas de controle de temperatura com
alarmes de alta temperatura, indicadores e controladores de pressão, bem como um indicador de
nível com alarme de alto e baixo, no entanto, uma série de vazamentos e alertas de auditores,
anteriores ao acidente, sobre deficiências nesses sistemas de segurança não foram devidamente
tratados.
Na fatídica noite, a pressão no tanque 610 aumentou rapidamente, sinalizando um iminente
desastre. Verificou-se que a cobertura do tanque estava danificada devido à alta temperatura e
pressão, resultando na liberação de cerca de 25 toneladas de MIC. O sistema de lavagem foi
claramente insuficiente e foram utilizados canhões de água para abater a saída dos gases,
intenção essa, que não foi alcançada. A nuvem tóxica se espalhou pela cidade, especialmente na
área de Railway Colony, onde centenas de pessoas morreram em poucos minutos, muitas
incapazes de escapar.
Investigações posteriores revelaram que as possíveis causas incluíam um lote de MIC de
baixa qualidade (com 15% de clorofórmio, quando o máximo permitido era de 0,5%) e falhas nos
sistemas de refrigeração iniciando lentamente uma reação de decomposição do MIC. Além disso,
as análises dos compostos encontrados após o acidente revelaram a presença de água no interior
do tanque 610, desencadeando uma reação entre o clorofórmio e a água, formando ácido
clorídrico, que por sua vez atuou como catalisador na polimerização do MIC. A água pode ter tido
origem do sistema de lavagem das tubulações, assim como é possível que tenha sido inserida
deliberadamente, uma vez que a quantidade necessária foi estimada entre 500 a 1.000 Kg.
Os impactos sociais, ambientais e econômicos foram imensuráveis. A cidade de Bhopal, e
de fato toda a Índia, foi profundamente afetada. A responsabilidade recaiu sobre a Union Carbide
e, mesmo após a aquisição pela The Dow Chemical Company, as repercussões legais e
financeiras persistiram.
San Juanico Ixhuatepec – México (1984)
Na manhã do dia 19 de novembro de 1984, San Juanico, México, foi palco de uma tragédia
sem precedentes no terminal de armazenamento da Petróleos Mexicanos (PEMEX). Uma série
de explosões e incêndios resultou em centenas de mortos, feridos e a quase completa destruição
da instalação.
A unidade da PEMEX em San Juanico era responsável pelo armazenamento de Gases
Liquefeitos de Petróleo (GLP), principalmente propano e butano, recebidos de três refinarias por
meio de gasodutos. Nas proximidades, uma comunidade residencial simples abrigava famílias,
localizada a apenas 100 a 300 metros da área industrial.
O desastre teve início com a ruptura de um duto de 8 polegadas que transportava o GLP
das refinarias para a planta da PEMEX. Provavelmente, o excesso de carga em um tanque causou
um aumento de pressão na linha, levando ao rompimento. O vazamento do GLP durou de 5 a 10
minutos, formando uma grande nuvem inflamável de aproximadamente 200 x 150 metros, que
sofreu ignição a cerca de 100 metros do ponto de vazamento, possivelmente devido a uma fonte
de ignição no solo.
A explosão sucedeu-se de maneira tão intensa que foi possível ser registrada pelo
sismógrafo da Universidade da Cidade do México, a 30 quilômetros de distância. A explosão de
vapor não confinado (UVCE) resultou em um incêndio massivo que inicialmente atingiu 10 casas
e após 12 minutos, explodiu uma esfera de armazenamento, criando uma bola de fogo de cerca
de 300 metros de diâmetro.
O impacto foi catastrófico, com danos severos às edificações próximas e explosões dentro
das casas, resultando na morte de mais de 500 pessoas e deixando outras 7.000 feridas. A ruptura
do duto de 8 polegadas foi identificada como a causa principal desse trágico evento. O relatório
oficial estimou que os danos provocados pelas ondas de pressão produzidas pelo primeiro BLEVE
e pela UVCE não foram muito graves, porém o segundo BLEVE foi a causa principal dos danos
mais severos que foram provocados pelos incêndios. Além disso, as consequências foram
agravadas pela proximidade inadequada da comunidade à unidade da PEMEX, estabelecida sem
controle ou planejamento adequado.
Tacoa – Venezuela (1982)
Os transbordamentos de líquidos combustíveis são eventos conhecidos por sua capacidade
devastadora em incêndios, muitas vezes resultando em grandes tragédias com perdas de vidas
significativas, seja dos profissionais que respondem diretamente ao cenário emergencial ou dos
habitantes próximos a região.
Existem três mecanismos principais relacionados com o transbordamento de líquidos
combustíveis: 1) Boilover (Transbordamento por ebulição), 2) Slopover (Transbordamento
Superficial) e 3) Frothover (Transbordamento Espumoso). Entre esses, o Boilover é considerado
o mais perigoso devido a intensidade que o mesmo pode adotar.
No caso do Boilover, todo incêndio envolvendo um tanque de armazenamento de
combustível, em que o teto é comprometido por uma explosão inicial, as camadas de líquidos
leves começam a se evaporar devido à combustão do produto. Isso é visível pelas chamas em
tons de vermelho e laranja, acompanhadas por enormes colunas de fumaça escura. Enquanto
isso, as frações mais pesadas e quentes (entre 200 a 300 Cº) formam uma onda de calor que se
move para baixo, criando um processo convectivo com as camadas mais frias do líquido.
Quando essa onda de calor convectiva atinge a água acumulada no fundo do tanque, um
grande volume de vapor superaquecido é gerado instantaneamente (na proporção de 1:1700/2000
vezes), resultando no transbordamento violento de todo o conteúdo do tanque, com o combustível
sendo lançado para fora em uma explosão ascendente. Essa coluna de fogo pode atingir alturas
superiores a 30 metros, propagando-se sobre as estruturas ao redor e destruindo tudo em seu
caminho, com temperaturas alcançando até 1200°C.
Um exemplo desse desastre ocorreu na Empresa de Eletricidade de Caracas, onde três
operadores realizavam a descarga de combustível para o tanque número 8 do Complexo de
Geração de Energia em Tacoa na Venezuela. Enquanto dois operadores inspecionavam o tanque,
um permaneceu no veículo. Em um momento crítico, uma explosão arremessou os operadores
que estavam no tanque, resultando na morte de todos, exceto o que permaneceu no veículo.
Equipes de bombeiros locais e unidades de emergência foram imediatamente acionadas
para conter o incêndio. No entanto, o calor excessivo gerado pelo incêndio no tanque número 8
desencadeou um boilover no tanque vizinho, o número 9. A explosão resultante assemelhava-se
a um vulcão em erupção, espalhando combustível em todas as direções, não dando chance as
equipes de bombeiros que estavam desenvolvendo o trabalho de resfriamento dos tanques de se
salvar.
O fogo destruiu aproximadamente 500 casas próximas e todos os veículos de bombeiros
inclusive um helicóptero, foram totalmente queimados. Infelizmente, mais de 160 pessoas foram
oficialmente declaradas mortas, seus corpos carbonizados encontrados nos escombros. Outras
vítimas sucumbiram em hospitais devido às graves queimaduras. Mais de uma centena de
pessoas foram declaradas desaparecidas e nunca encontradas, além de que muitos bombeiros e
profissionais de emergência perderam suas vidas neste dia.
Vila Socó – Brasil (1984)
Em 24 de fevereiro de 1984, residentes da Vila Socó em Cubatão-SP detectaram um
vazamento de gasolina em um dos oleodutos da Petrobrás conectando a Refinaria Presidente
Bernardes ao Terminal de Alemoa. Um operador, ao realizar uma transferência inadequada para
uma tubulação que se encontrava fechada, gerou uma sob pressão que levou à sua ruptura,
resultando no derramamento de cerca de 700.000 litros de gasolina pelo mangue, onde uma vila
construída sobre palafitas estava situada.
Muitos moradores, buscando lucrar, coletaram e armazenaram parte do combustível em
suas casas, entretanto, com a mudança das marés, o líquido se espalhou, resultando em um
incêndio que devastou a área, consumindo as palafitas e levando à perda oficial de 93 vidas,
embora fontes sugiram que o número real possa ter sido superior a 500 (baseado no número de
alunos que deixou de frequentar à escola e a morte de famílias inteiras sem que ninguém
reclamasse os corpos), com dezenas de feridos e a destruição completa da vila.
Plataforma P-36 – Brasil (2001)
Em 15 de março de 2001, os trabalhadores da Plataforma P-36 da Petrobrás, localizada no
Campo do Roncador, na Bacia de Campos, Rio de Janeiro foram surpreendidos por uma explosão
que resultou no afundamento completo da plataforma. Após a primeira explosão às 0h20, as
operações foram interrompidas e a brigada de emergência agiu. Contudo, uma segunda explosão
ocorreu cerca de meia hora depois, às 0h50 agravando a situação.
As medidas de evacuação foram rapidamente iniciadas, com cerca de 175 pessoas sendo
removidas da plataforma. Dentre elas, 151 foram transportadas para a plataforma Petrobrás 47
situada a 12 quilômetros de distância. Apesar dos esforços, a P-36 acabou afundando ao longo
de cinco dias, resultando na perda de 9 dos 11 membros da equipe de emergência que
bravamente tentaram conter as chamas das explosões, as quais danificaram uma das quatro
colunas de sustentação.
Este trágico acidente ganhou repercussão mundial e aproximadamente três meses após o
ocorrido, em 19 de junho de 2001, a Petrobrás realizou uma coletiva de imprensa para divulgar os
resultados da sindicância conduzida. As conclusões apontaram para um excesso de
pressurização no tanque de drenagem de emergência, resultando no rompimento da estrutura e
na liberação de água, óleo e gás pelo ambiente do quarto andar da coluna. Após 17 minutos, o
gás disperso em contato com uma fonte de ignição inflamou-se, desencadeando a primeira
explosão.
Este evento levou a Petrobrás a adotar medidas para melhorar sua eficiência, reduzir o
tempo de resposta a emergências e minimizar os riscos ambientais. Em 2002, a empresa foi a
única do setor petrolífero mundial a ter todas as suas unidades certificadas com a ISO 14.001 para
Gestão Ambiental e Segurança, assim como o BS8800 para Gestão e Segurança do Trabalho.
Seveso – Itália (1976)
Em meados de 1976, houve o rompimento de um disco de ruptura em um reator da unidade
da Icmesa Chemical Company em Seveso, Itália, liberando substâncias tóxicas, incluindo o TCDD
(C12H4Cl4O2), uma substância altamente perigosa. Uma reação exotérmica descontrolada, devido
à falta de refrigeração e agitação adequadas por um longo período, resultou no aumento de
pressão e no rompimento do disco de ruptura.
Como consequência, aproximadamente 3,0 Kg de TCDD foram emitidos, cobrindo uma
área de cerca de 1.800 hectares com uma nuvem tóxica. Isso causou danos severos às
propriedades, às pessoas e ao meio ambiente na região. A localização da unidade industrial em
relação à comunidade exacerbou as consequências do vazamento, afetando rapidamente muitas
pessoas.
O relatório do acidente enfatizou que a reação exotérmica descontrolada no reator,
possivelmente devido à falta de refrigeração e agitação por um longo período, foi a principal causa
do evento, juntamente com a falta de conhecimento e controle das reações exotérmicas no reator.
Além disso, a falta de um sistema eficiente de comunicação direta com as autoridades
resultou em um atraso significativo no início das medidas com a população, tendo sido tomadas
apenas quatro dias após o acidente.
As consequências diretas, como a contaminação dos solos, impactos na agricultura,
pecuária, comércio, entre outros, continuam a ser sentidas na região até os dias atuais e a Icmesa
Chemical Company permanece pagando indenizações pelos danos causados.
Flixborough – Reino Unido (1974)
Em junho de 1974, a unidade de Flixborough Works Nypro Ltda foi devastada por uma
grande explosão, resultando na trágica perda de 28 funcionários e deixando outros 36 gravemente
feridos. A gravidade do acidente poderia ter sido ainda maior se a explosão tivesse ocorrido
durante o horário de trabalho nos escritórios.
O acidente de Flixborough ocorreu na área de reação de produção de caprolactama
(C6H11NO), que é produzida a partir da oxidação do cicloexano. O processo de produção envolvia
uma série de reatores, nos quais ocorria a oxidação do cicloexano para cicloexanona e
cicloexanol. Uma mudança necessária para a manutenção em um dos reatores da série resultou
na instalação de um trecho de tubulação provisório com especificações diferentes do padrão
determinado para as condições de processamento. Infelizmente, o acidente ocorreu devido ao
rompimento na linha provisória entre os reatores, resultando no vazamento de 40 toneladas de
cicloexano, criando uma nuvem inflamável que desencadeou uma Explosão de Vapores Não
Confinados (UVCE).
O acidente de Flixborough destacou a importância crítica de um sistema de gerenciamento
de mudanças eficaz e a necessidade de um projeto de alteração, por mais simples que ela possa
parecer. A tragédia também ressaltou a importância da avaliação do posicionamento de prédios
ocupados próximos às instalações de processo com riscos de explosão, considerando que muitas
pessoas fora da unidade de processo foram afetadas.
Conclusão
A crescente importância da indústria química no cenário nacional desde a segunda metade
do século passado, trouxe consigo um aumento significativo no número e gravidade dos acidentes
envolvendo o manuseio e produção de insumos químicos no Brasil. Dados da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) indicam que, de 1945 a 1991, o Brasil apresentou uma média de 62,7 óbitos por
acidente com vazamento de substâncias químicas, colocando-o em segundo lugar no mundo em
média de vítimas de acidentes químicos, atrás apenas da Índia com uma média de 246,1.

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