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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

DIREITO

BHOPAL

ANA PAULA BARBOSA DOS SANTOS RA 125111362095

CELIA REGINA LOMBARDI DA COSTA RA 125111365650

LUIZ CARLOS GOMES JUNIOR RA 125111371425

TATIANE DA COSTA SANTANA FRANCISCO RA 125111366454

WEVERTON DA SILVA PRATES RA 1252229013

5ºsemestre

São Paulo

2022
Sumário
Introdução .................................................................................................................................................... 3
Negligência .................................................................................................................................................. 4
Brasil ............................................................................................................................................................. 5
Herdeiros do Isocianato de Metila ......................................................................................................... 6
Vidas contaminadas.......................................................................................................................... 6
Irreversível ........................................................................................................................................... 7
Responsabilidade e Aquisição empresarial ....................................................................................... 7
Justiça para Bhopal .................................................................................................................................. 9
Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 10

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Introdução

Na madrugada entre dois e três de dezembro de 1984, 40 toneladas de gases


letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal,
Índia. Foi o maior desastre químico da história. Gases tóxicos como o isocianato de
metila e o hidrocianeto escaparam de um tanque durante operações de rotina. Os
precários dispositivos de segurança que deveriam evitar desastres como esse
apresentavam problemas ou estavam desligados.

Alguns estudos apontam, que o desastre foi iniciado devido ao entupimento de


algumas linhas com sujeira, a partir do momento que um operador iniciou o
procedimento de liberar água de limpeza nestas linhas. A água, após ser impedida de
escoar no sentido original, devido à sujeira acumulada, retornou no sentido inverso, e
começou a se espalhar por toda a tubulação conectada da fábrica. Em um certo
momento, essa água chegou até o interior de um dos tanques de armazenamento,
com 42 toneladas de MIC que ficavam enterrados.

Na década de 70 e começo da década de 80 a Índia enfrentava o desafio de


fornecer alimento à uma população que crescia em ritmo acelerado, a um preço
competitivo e justo de acordo com os padrões econômicos dos consumidores. Uma
das alternativas encontradas pelo governo foi incentivar a instalação de empresas que
poderiam produzir especialidades químicas capazes de aumentar a produção de
alimentos e ainda ofertariam uma grande quantidade de empregos. Com esta
premissa, a Union Carbide Corporation (UCC), empresa norte-americana, instalou sua
fábrica com a parceria do governo indiano e a subsidiária Union Carbide Índia Limited
(UCIL), além de investidores privados.

A operação base da UCIL era produzir Sevin, um pesticida largamente utilizado


por fazendeiros na Índia, tendo como matéria prima principal o gás metil isocianato
(MIC).

O isocianato tem a capacidade de dissolver algumas enzimas do organismo,


principalmente a colinesterase, substância importante no processo de contração
muscular. Sem essa substância, ocorrem convulsões involuntárias, torpor, confusão
mental e a vítima entra em coma.

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Negligência

O que pode se dizer com o processo de globalização econômica é uma acirrada


competição entre os países em desenvolvimento no intuito de atrair empresas
multinacionais com seus investimentos de capitais produtivos, sendo que nesse
processo o que se observa é a total falta de instrumentos governamentais de
regulamentação que assegurem à população segurança e saúde.
Nos países em desenvolvimento a mão-de-obra é mais barata, possui baixo
custo da terra, o que facilita acesso a mercados propiciando custos operacionais mais
baixos em relação aos países desenvolvidos. Assim, uma vez instaladas as plantas
industriais, as firmas tem pouco incentivo para minimizar riscos ambientais e
humanos, criando desta forma negligência ambiental assim como, em regulamentos
e equipamentos de segurança. O panorama geral sobre situais em que ocorrem
acidentes fatais que envolvem mortes e sequelas, destruição do meio ambiente,
envolvem por outro lado, custos econômicos e no econômicos, além dos privados
existem os sociais e financeiros.
Todos os sistemas e equipamentos de segurança da fábrica falharam ou foram
desligados dias antes de acontecer a tragédia, por exemplo: os indicadores de
pressão do tanques na sala de controle não estavam apontando o valor real, o sistema
de refrigeração dos tanques havia sido desligado semanas antes para reparo e a
fábrica continuou a operar e o purificador de gases projetado para filtrar possíveis
gases tóxicos ao ambiente também estava fora de funcionamento, além do fato de
que, mesmo que estivesse operando, não suportaria a quantidade de gás que vazou.
O recorte de classe é determinante no processo que levou ao crime impune de
Bhopal. A instalação de uma fábrica de agrotóxicos, em uma região que já era
densamente povoada, não foi acompanhada de medidas de segurança, nem mesmo
de informação à população pobre do entorno sobre os perigos a que estava exposta.
Tampouco um plano de evacuação. Em seu artigo “Revisitando o desastre de Bhopal:
os tempos da violência e as latitudes da memória”, o pesquisador do Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC), Bruno Sena Martins chama
atenção também para as falhas envolvendo a tecnologia empregada na fabricação de
carbaril em Bhopal, que não levava em consideração especificidades locais, como
solo e clima. Ele sugere que tenha sido adotado um método de produção que, por ser

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mais barato, trazia riscos acrescidos. Um “generalizado improviso e facilitismo”
levaram ao uso de tecnologia obsoleta, separada por um abismo das tecnologias e
padrões da Union Carbide nos Estados Unidos.
Como no acontecimento de grandes acidentes, denominados por acidentes
Maiores, em indústrias químicas ocorrem muitas vítimas diretas e indiretamente ñ
pessoas fora do perímetro da fábrica ñ, muitos autores, como por exemplo:
CHRISTOU & PORTER, Jai P. GUPTA, C. IOANNIDIS, Faisal I. KHAN, Tahir Husain,
S.A. ABBASI; Christian KIRCHSTEIGER se preocuparam em estudar esses acidentes
e sugerir soluções, não só as empresas, mas também área governamental, fazendo
com que no futuro, prováveis acidentes sejam minimizados ao extremo ou não
venham a ocorrer, se os responsáveis ñ firmas e governo ñ levarem em considera-o
as diretrizes estabelecidas pelos estudiosos.
A aplicabilidade de métodos e técnicas sobre análise de risco faz com que as
empresas devam se preocupar com suas instalações industriais, com o meio
ambiente, e, com as populares adjacentes a elas. De igual modo, as autoridades
governamentais devem possuir um corpo técnico especializado nessas tecnologias
para traçarem as políticas públicas ambientais.

Brasil

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida se soma às


reivindicações dos sobreviventes indianos. Somente em 2019, o governo brasileiro
autorizou a liberação de 467 novos agrotóxicos. Destes, 18 são fabricados pela Dow
Chemical -- dona da Union Carbide. "O governo abre as portas não só para a Dow
Chemical que se fundiu com a DuPont (EUA), mas outras transnacionais como
Bayer/Monsanto (Alemanha), Syngenta/Chemchina (Suíça/China), e BASF
(Alemanha) para que possam comercializar livremente seus produtos no Brasil. A
população é exposta a cada vez mais venenos e suas misturas, numa dimensão em
que a ciência ainda não tem capacidade de sequer de dimensionar os danos à saúde
e ao meio ambiente", diz o texto. "Neste 3 de dezembro, nos colocamos ombro a
ombro com Bhopal, e assumimos o compromisso diante da sociedade brasileira de
não permitir que uma nova tragédia aconteça em nosso país", completa.

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Herdeiros do Isocianato de Metila

- Contaminação da 3ª geração desde 1984.


- Mulheres que inalaram o gás tóxico possuem 9% de chances de conceber
filho(a)s com alguma deformidade genética.
- A empresa Union Carbide Corporation indenizou o valor semelhante a
R$2.500,00 por indivíduo e aproximadamente R$10.000,00 para as famílias de
vítimas fatais.

A Campanha Internacional por Justiça em Bhopal estima que o total de mortes em


decorrência do vazamento seja superior a 25 mil e alerta que o número de atingidos
aumenta dia após dia, se aproximando da casa dos 600 mil, afetando filhos e netos
de sobreviventes. A última estatística oficial do governo indiano é de 2006 e reconhece
558 mil vítimas.

Uma pesquisa realizada pelo Comitê Consultivo Científico do Conselho de


Pesquisa Médica da Índia em 2017 mostrou que mulheres que inalaram o gás tóxico
em 1984 têm 9% de chances de dar à luz a bebês com má formação genética. A
incidência de distúrbios é quase seis vezes menor entre os filhos de mães não
expostas ao isocianato de metila.

Vidas contaminadas

Jyoti Vishu Karma tinha cinco anos na época do desastre e cresceu vendo os
pais e os dois irmãos enfrentarem os impactos da contaminação. A filha dela, Yashi,
tem 13 anos e convive com um distúrbio neurológico congênito que compromete a
locomoção, retarda o aprendizado e a impede de formular frases complexas. A
multinacional pagou como indenização, em média, o equivalente a R$ 2,5 mil por
atingido, sem considerar os danos às gerações seguintes. As famílias de vítimas fatais
receberam cerca de R$ 10 mil cada. “Nossa vida nunca foi a mesma depois daquele
desastre. Todo o meu entorno foi afetado pelo gás. Uma das minhas sobrinhas teve o
mesmo diagnóstico da Yashi. Então, só na nossa família, foram duas crianças
afetadas”, afirma Jyoti, enfatizando que o valor da indenização é irrisório se
comparado ao dano.

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Irreversível

“O que as pessoas vivem hoje são os impactos que aquele vazamento provoca
no sistema neurológico”, assegura o doutor Raghuram, que atende na clínica
Sambhavna, localizada em uma das comunidades mais atingidas. “Quando atinge o
nível neurológico, quer dizer que passa a impactar no material genético. Aí, não tem
jeito. Crianças estão nascendo com Síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo...
E a quarta e a quinta geração também sentirão esses efeitos, porque não há como
impedir que eles sejam passados adiante”, explica o médico.

Em 2016, a divisão de pesquisa da clínica Sambhavna constatou que a


incidência de câncer entre a população atingida pelo gás é dez vezes maior que em
outras regiões. Raghuram acrescenta que, para além dos distúrbios e tumores, os
adultos de Bhopal convivem com sintomas peculiares e muito semelhantes entre si,
evidenciando que o vazamento de gás é a causa comum desses efeitos. “Quase 90%
dos pacientes relatam que sentem vertigem, tontura, dormência em alguns membros.
Pessoas não diabéticas, sem nenhuma causa aparente, sofrem de incontinência
urinária, e isso tudo é muito alarmante”, relata o médico. “Se a gente traçar uma linha
entre todos esses casos, o que há em comum é a exposição ao gás na infância”.

A clínica Sambhavna só se dedica a tratar os sintomas que os pacientes


relatam. Outras formas de prevenção ou redução de danos das gerações futuras estão
descartadas no momento, porque dependem de pesquisas específicas. Para isso,
seria preciso saber exatamente quais materiais vazaram em 1984 e em quais
quantidades. A Union Carbide nunca forneceu essas informações. “Há muitas
controvérsias nesse sentido. Se houvesse vazado apenas isocianato de metila, talvez
o desastre não produzisse todos esses sintomas. Nós suspeitamos que também
vazaram outras substâncias”, afirma Raghuram.

Responsabilidade e Aquisição empresarial

A Union Carbide foi adquirida pela multinacional Dow Química, sediada nos
Estados Unidos, em 2001. Com a compra da Union Carbide por um total de US$ 9,3
bilhões, a Dow se tornou a maior indústria química do mundo. A Dow comprou não

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apenas os bens da empresa, mas também a responsabilidade pelo desastre de
Bhopal. Mesmo assim, a empresa se recusa a aceitar a responsabilidade moral pelo
passivo ambiental adquirido. Ao mesmo tempo em que a responsabilidade legal da
Dow está sendo julgada pela justiça norte-americana, os moradores de Bhopal
continuam a sofrer os impactos do desastre.

De acordo com a Dow, com a fusão das duas empresas, a receita anual passou
a ser superior a US$ 24 bilhões, e seus ativos estão avaliados em mais de US$ 30
bilhões. Em novembro de 2000, o novo presidente eleito da Dow, Michael D. Parker,
demonstrou preocupação com as questões referentes à Union Carbide em Bhopal em
seu primeiro informe oficial à imprensa: “É claro que temos consciência do incidente
em Bhopal e de sua associação ao nome da Union Carbide, mas é importante
ressaltar que [a Union Carbide] fez o que foi preciso para adotar os programas
adequados para meio ambiente, saúde e segurança”.

Assim como no caso dos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados


Unidos, a morte de inocentes civis em Bhopal também chocou o mundo e provocou
mudanças no comportamento da indústria. Depois desse desastre, a legislação
ambiental e de segurança química em muitos países ricos ficou mais rigorosa.

Nos Estados Unidos, foi criada a legislação de Direito à Informação, e a


indústria química desenvolveu códigos de conduta, como a Atuação Responsável
(Responsible Care). De acordo com Sam Smolik, vice-presidente da Dow para
questões de meio ambiente, saúde e segurança, em um discurso feito recentemente,
“(...) em 1984, a terrível tragédia que ocorreu em Bhopal, na Índia, serviu para
despertar a indústria química como um todo...”. No entanto, as mudanças ocorridas
no setor químico não foram suficientes e trouxeram poucos benefícios aos indivíduos
mais afetados pelo acidente, cujos pedidos de indenização justa e de
descontaminação da área continuam sendo ignorados.

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Justiça para Bhopal

A Union Carbide foi intimada a indenizar aqueles que, com o desastre,


perderam sua capacidade de trabalhar. Em fevereiro de 1989, depois de cinco anos
de disputa legal, o governo indiano e a empresa chegaram a um acordo, fixando a
indenização em US$ 470 milhões. Essa quantia deveria ser capaz de pôr fim a toda
responsabilidade da indústria perante à sociedade. A indenização média, de US$ 370
a US$ 533 por pessoa, era suficiente apenas para cobrir despesas médicas por cinco
anos.

Indenização de R$ 2.500, 00 por indivíduo e aproximadamente R$ 10,000,00


para famílias de vítimas fatais, além de pena de prisão de 2 anos e uma multa de R$
2.000,00 dólares cada, punição máxima permitida pela lei indiana por causar mortes
por negligência. Mas essas reparações e punições não foram suficientes, se formos
comparar todos os enormes danos causados as vítimas em decorrência do acidente
de Bhopal. Até hoje as causas e sintomas provocados pelo acidente, causaram nas
pessoas impactos que o vazamento transmitiu no sistema neurológico, segundo as
pesquisas comentadas pelos médicos. Os crimes são reparados pelo direito penal,
direito civil, direito do consumidor, direito administrativo e direito ambiental para
reparar, restringir e trazer as medias de perdas e danos.

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Referências Bibliográficas

STÉDILE, João Pedro. O poder político das empresas de agrotóxicos. Poder 360,
Brasília, 02 de mar. de 2020. Disponível em: <h
<https://www.poder360.com.br/opiniao/o-poder-politico-das-empresas-de-
agrotoxicos-por-joao-pedro-stedile>. Acesso em: 20 de set. de 2022.

Justiça para Bhopal. Contra os agrotóxicos, São Paulo, 03 de dez. de 2019.


Disponível em: < https://contraosagrotoxicos.org/justica-para-bhopal>. Acesso em: 20
de set. de 2022.

Gas-hit more prone to cancer, says study. The times of India, Mumbai, 04 de set. de
2016. Disponível em: < https://timesofindia.indiatimes.com/city/bhopal/gas-hit-more-
prone-to-cancer-says-study/articleshow/54002570.cms>. Acesso em: 20 de set. de
2022.

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