Você está na página 1de 9

UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

STEPHANIE SOUSA LODRON

PADRÕES GLOBAIS DE SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA TÊXTIL

CATAGUASES - MG
2022
UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
STEPHANIE SOUSA LODRON

PADRÕES GLOBAIS DE SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA TÊXTIL

Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido


Mendes - UCAM, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Engenharia
Ambiental.

CATAGUASES - MG
2022
1

PADRÕES GLOBAIS DE SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA TÊXTIL

Stephanie Sousa Lodron1

RESUMO

A indústria têxtil é uma das mais antigas e importantes para mundo, de acordo com a Associação
Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), o Brasil, é a segunda maior empregadora da indústria de
transformação. Entretanto, a sua produção pode causar impactos ambientais irreparáveis. Ao se
observar as novas características demandadas pelos mercados consumidores e as organizações não
governamentais, verificamos uma mudança de comportamento que exigem que a cadeia têxtil torne-
se cada vez mais sustentável. Mas em um mundo globalizado onde cada país possui uma legislação
diferente, fez com que padrões globais de sustentabilidade fossem criados de forma a medir o quão
sustentável é o seu produto ou empresa. Este artigo tem como objetivo analisar os impactos
causados pela indústria têxtil bem como apresentar as principais ferramentas de sustentabilidade.
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as principais definições e em seguida fez-se um
estudo para compreender as melhores ferramentas de certificações. Concluiu-se que os padrões
globais garantem que é possível produzir sem agredir o meio ambiente.

Palavras-chave: Indústria Têxtil. Padrões de Sustentabilidade Global.

Introdução

O presente trabalho tem como tema os padrões globais de sustentabilidade


na indústria Têxtil.
Dentro deste contexto, pode-se citar como objetivos da pesquisa:
• Qual impacto ambiental causado pelas atividades da indústria da
moda?
• Quais ferramentas de sustentabilidade são mais utilizadas na
indústria têxtil?
Os artefatos têxteis existem a milhares de anos e eram produzidos por
artesãos em pequenas quantidades. O acúmulo de capital, a revolução comercial e
as novas máquinas que substituíam a mão de obra humana deram origem à
Revolução Industrial, cuja indústria têxtil foi precursora (Lodron, 2011).

Com o avanço da tecnologia ao longo dos anos possibilitou a indústria da


moda a produzir mais produtos com menor custo. O que permitiu que lojistas

1
Engenheira Industrial Têxtil pelo SENAI/CETIQT. Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho
pela Universidade Cândido Mendes.
2

pudessem vender peças similares a da alta costura, porém com menor qualidade,
criando-se assim o conceito fast fashion, coleções rápidas com peças praticamente
descartáveis. Com o ciclo de vida reduzido e o crescimento acelerado desse modelo
de negocio, ocorre o descarte precoce dessas peças que em sua maioria vão para
aterros sanitários e lixões (LEGNAIOLI, 2022).

De acordo com BBC (2017), a indústria têxtil é a segunda maior poluidora,


atrás apenas do setor de petróleo. Pode-se citar como impactos ambientais a
poluição do solo e dos corpos hídricos, emissão de poluentes e esgotamento de
recursos. Além dos supracitados também existem os sociais, como por exemplo, os
abusos de direitos humanos, insegurança alimentar, entre outros.
Com estes dados alarmantes, em 2011 o Greenpeace iniciou uma
campanha que ficou conhecida como Detox, onde divulgou ter encontrado produtos
tóxicos nocivos à saúde em roupas infantis de marcas renomadas como a Nike, a
Adidas, a Burberry, a Disney, entre outras. Seis marcas assumiram compromissos
públicos com o Greenpeace onde se comprometeram com o descarte zero de
produtos químicos perigosos até 2020. Entretanto, essas ações individuais não
foram efetivas. Surgindo assim os padrões globais e certificações em
sustentabilidade (LUSA, 2014).

Desenvolvimento

A indústria têxtil responsável por produzir materiais têxteis ou nãotêxteis.


Possui como matéria prima as fibras que podem ser de origem natural: vegetal, tais
como caules, folhas, frutos e sementes; mineral como o amianto; ou animal, através
de pelos grossos ou finos e filamentos (LUCIDO, 2010).

Além das fibras naturais existem as artificiais e sintéticas. Essas são obtidas
através de polímeros que são macromoléculas e que possuem unidades repetidas
regularmente ao longo da cadeia, denominadas meros. Quando se utiliza um
polímero natural, que tem origem vegetal ou animal, se denomina de fibra artificial;
quando este polímero é sintetizado, ou seja, processado em laboratórios são
chamados de sintéticos.
3

O algodão é a fibra mais consumida industrialmente no mundo, o Brasil é o


quinto maior produtor e o segundo maior exportador (LAMAS, 2020).
Considerando a cadeia produtiva do tecido plano de algodão, inicia-se com o
cultivo deste vegetal, que utilizam defensivos agrícolas, como herbicidas para o
controle de plantas invasoras e inseticidas para eliminação de insetos indesejáveis.
Seguindo o fluxo para o processo de fabricação, a primeira etapa industrial é
denominada como fiação. Este setor pode ser definido como um conjunto de várias
operações para a transformação de materiais fibrosos (seja de origem natural,
artificial ou sintética) em fio, cujas operações fundamentais são: abertura, limpeza,
estiragem e aplicação de torção.
A partir do fio formado, este poderá seguir para o processo de
beneficiamento para obtenção do fio tinto ou para a preparação a tecelagem, que
como o próprio nome já diz, tem objetivo de preparar os fios para se transformar em
tecido. Após a preparação essa matéria prima segue para a tecelagem onde através
do cruzamento dos fios nos teares, forma-se o tecido.
O último processo que é conhecido como beneficiamento é o setor que mais
agrega valor ao artigo têxtil. É responsável pela eliminação de impurezas como
óleos e gorduras, branqueamento do material, modificação físico-química do
substrato têxtil e acabamentos especiais, que alteram o toque e adiciona algumas
características ao material, tais como retardante de chama, produtos
antimicrobianos, estampas, etc.
Dentro deste contexto, a fabricação de um tecido pode causar diversos
impactos ambientais: contaminação do solo e da água; descarte incorreto do
efluente; emissão de gases tóxicos; entre outros.
De acordo com Ferreira (2020), derivado do latim, a palavra sustentabilidade
significa sustentar, apoiar e conservar. O conceito de sustentabilidade teve sua
origem, na Suécia, na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente em 1972. A partir de então tiveram diversas conferências que fizeram com
que a sustentabilidade passasse a ser compreendida como o equilíbrio de todos os
elementos que afetam e são afetados reciprocamente pela ação humana no
ambiente (SANTIAGO, 2011).
Portanto, a sustentabilidade está relacionada às escolhas sobre as formas
de produção, consumo, habitação, comunicação, alimentação, transporte e os
4

relacionamentos entre as pessoas e delas com o ambiente, considerando os valores


éticos, solidários e democráticos.
Ao longo dos anos, diversos padrões globais de sustentabilidade foram
desenvolvidos com objetivo de estabelecem critérios mínimos para que as empresas
realizem o controle de seus impactos ambientais e sociais. Apesar de não serem
obrigatórios, são referências que são utilizados por grandes empresas para ter
acesso a vários mercados (ABIT, 2022)
Dentre os padrões globais de sustentabilidade o mais conhecido é a ISO
(International Standards Organization) 14000 que é constituído por uma série de
normas que determinas os padrões e garantem que as empresas vão além dos
aspectos legais. Dentre as subnormas, a mais conhecida é a ISO 14001, que
estabelece os requisitos para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SANTIAGO, 2011).

Existem diversas certificações de sustentabilidade específicas para indústria


têxtil e da moda, e estão divididas em padrões globais e padrões privados.
Dentre as mais difundidas de padrões globais estão a BCI e a ZDHC. Com
relação aos padrões privados pode-se citar Higg Index, OEkO-TEX e a GOTS.
A Better Cotton Initiative (BCI) é um padrão de sustentabilidade específico
para a produção de algodão. Foi criado através de diversas entidades como
produtores, industriários, confeccionadores, varejistas, bancos, entre outros, com
objetivo de se obter um algodão sustentável. Para tal, estabeleceram critérios como:
programa de manejo de pragas que garantam a não contaminação de solos e águas
além da saúde dos trabalhadores; práticas agrícolas para uso da água; conservação
do habitat natural de forma a aumentar a biodiversidade do local; qualidade da
matéria prima e a garantia de relações de trabalho justas (ABRAPA, 2017).
O programa ZDHC (Zero Discharge of Hazardous Chemicals) foi criado em
2015 após a fundação de mesmo nome, identificar que cada país possui uma
legislação ambiental e que em muitos não possui diretrizes para o gerenciamento de
químicos perigosos. Com objetivo de que as empresa têxteis zerem a utilização de
substâncias perigosas. Para isso, a ZDHC criou uma lista conhecida como MRSL
(Manufacturing Restricted Substances List) que relaciona as substâncias perigosas
que não podem ser utilizadas e descartadas para o meio ambiente durante
5

processos produtivos e também não podem estar presentes nos produtos acabados
(vestuário e calçados) (ZDHC, 2022).

Com o objetivo de avaliar o índice de sustentabilidade da indústria de


roupas e calçados, criou-se o Higg Index. Dentro do aplicativo, existe um conjunto
de ferramentas para que a empresa realize uma autoavaliação do seu desempenho
ambiental. O módulo ambiental conhecido como FEM (Facility Environmental
Module) avalia as questões relacionadas ao sistema de gestão, energia e emissão
de gases de efeito estufa, água, efluentes líquidos, emissões atmosféricas, gestão
de químicos e gestão de resíduos. Após o preenchimento é possível realizar uma
verificação, através de uma empresa qualificada, para garantir que as informações
preenchidas são verídicas. Seu preenchimento é anual e faz com que as
organizações busquem o desenvolvimento sustentável promovendo a melhoria
contínua .

O CITEVE Centro Tecnológico localizado em Portugal possui uma série de


certificações OEKO-TEX voltado para a industrial têxtil. O STANDARD 100 é o mais
conhecido, e assegura que o tecido testado não possui substâncias nocivas a saúde
humana. Já o DETOX TO ZERO é uma auditoria de conformidade do efluente
industrial, garantindo que não possui nenhuma substância da lista MRSL (CITEVE,
2022).

O Global Organic Textile Standard (GOTS) é a certificação que comprova,


desde o plantio do algodão ao produto final, que o tecido orgânico atende os critérios
ambientais e de responsabilidade social. Esse exige que pelo menos 70% do
produto acabado seja de fibras orgânicas certificadas.

Conclusão

Dentro deste contexto, é perceptível os impactos ambientais que uma


indústria têxtil e da moda pode produzir. Além dessas agressões que podem ocorrer
do plantio a fabricação do tecido, possui também os impactos causados pelo
descarte incorreto das roupas após o uso, principalmente com o advento do fast
fashion.
6

Ao longo dos anos observou-se uma corrente de civis e órgãos que exigem
melhores práticas sustentáveis e que empresas diminuam os agravos causados por
essa cadeia de fornecimento.
Concluiu-se que os padrões globais de sustentabilidade garantem que as
empresas se destacam comprovando que é possível produzir sem agredir o meio
ambiente, com relações de trabalho justas e preservando a vida futura.

REFERÊNCIAS

ABIT, Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção. Perfil do Setor 2022.


Disponível em: <https://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor>. Acesso em: 21 abr.
2022.

ABRAPA, Associação Brasileira dos Produtores de Algodão. Better Cotton Initiative


(BCI). Disponível em: < https://www.abrapa.com.br/Paginas/sustentabilidade/better-
cotton-initiative.aspx>. Acesso em: 29 abr. 2022.

BBC. Qual é a indústria que mais polui o meio ambiente depois do setor do
petróleo? BBC NEWS [online]. São Paulo, 17 mar. 2017. Disponível em: <
https://www.bbc.com/portuguese/geral-39253994 >. Acesso em: 21 abr. 2022.

CITEVE. Centro Tecnológico CITEVE. OEKO-TEX. Disponível em:


<https://www.citeve.pt/artigo/oeko_tex>. Acesso em: 29 abr. 2022.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Míni Aurélio: o dicionário da língua


portuguesa. 8 ed. Rio de Janeiro: Maralto, 2020.

FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & sustentabilidade: Design para mudança.
São Paulo: SENAC, 2019.

LAMAS, Fernando Mendes. O mercado global do algodão - efeitos da pandemia


decorrente do novo coronavírus. Gestão Estratégica Produção vegetal Mercado de
Cultivares e Sementes, São Paulo, 27 abr. 2020. Disponível em:
<https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/51799538/artigoAcesso em: 21
abr. 2022.

LEGNAIOLI, Stella. Fast-fashion: o que é, impactos e alternativas. Disponível em:


<https://www.ecycle.com.br/fast-fashion/>. Acesso em: 21 abr. 2022.

LODRON, Stephanie Sousa. Análise do consumo de energia elétrica de um


processo de beneficiamento têxtil em uma malha de algodão. 2011. 90 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Engenharia Têxtil, SENAI/CETIQT, Rio de Janeiro,
2011.
7

LUCIDO, Gil Leonardo Aliprandi. Avaliação de metodologia para controle e medição


de cor em efluentes têxteis. 2010. 135 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Engenharia Ambiental, UERJ, Rio de Janeiro, 2010.

LUSA, Agência. Greenpeace quer eliminação total de químicos tóxicos no setor


têxtil. FASHION NETWORK [Online]. São Paulo, 15 jan. 2014. Disponível em: <
https://br.fashionnetwork.com/news/greenpeace-quer-eliminacao-total-de-quimicos-
toxicos-no-setor-textil,380113.html>. Acesso em: 22 abr. 2022.

SANTIAGO, Rejane Saraiva de. Gestão Ambiental na Indústria Têxtil: estudo de


casos do Ceará, 2011 Dissertação de Mestrado Universidade Federal da Paraíba.

ZDHC. Foundation Oudezijs Voorburgwal. ZDHC. Disponível em: <


https://www.roadmaptozero.com/>. Acesso em: 21 abr. 2022.

Você também pode gostar