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Curso de Direito

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS:

A POLÊMICA DISCUSSÃO SOBRE OS RISCOS E

BENEFÍCIOS

Vanessa Montebelo Begliomini


RA: 441373/8
Turma: 3109-E
Tel: 5566-2582
E-mail: vanessamb@uol.com.br

2004
São Paulo
Curso de Direito

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS:

A POLÊMICA DISCUSSÃO SOBRE OS RISCOS E

BENEFÍCIOS

Monografia apresentada ao Curso de


Direito da Uni-FMU, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Direito, sob a orientação
da Prof °. Renato Seixas.

2004
Banca examinadora:

Professor-Orientador :

Professor-Argüidor:

Professor-Argüidor:
Aos meus queridos pais Edson

e Guiomar, fontes de motivação

e inspiração constantes em

minha vida.
Agradeço a todos aqueles, que

contribuíram de uma forma ou

de outra, para a realização e a

concretização deste trabalho.


RESUMO

Devemos tratar com equilíbrio os dados e as informações, partam de que

'lado' seja deste tema tão polarizado, para que se possa construir uma

política consistente e que atenda, efetivamente, aos anseios da sociedade.

Entre discussões e pressões e, a sociedade se divide. Os riscos para a saúde,

destruição da biodiversidade, escape de genes ou desenvolvimento de

resistências estão servindo de escudo para outros interesses. Na verdade, a

alegação de que a entrada de um produto transgênico levará ao monopólio

e à dependência de uma única empresa no mercado é discutível. O eventual

monopólio do mercado de semente não ocorrerá necessariamente, como

vem sendo afirmado inconseqüentemente. Ainda é uma questão de escolha.

Os que têm produtos melhores sempre dominaram o mercado, mas

ninguém é obrigado a usá-los.Os produtores da agricultura orgânica estão

conquistando seu espaço no mercado. Espaço equivalente deve existir para

alternativas, numa sociedade democrática que respeita o direito de escolha.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................10

2. INTRODUÇÃO DOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL........................13

3. PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR BRASILEIRO. ...............................16

3.1.Identificação pelo Consumidor ...................................................18

4. PROTOCOLO DE CARTAGENA SOBRE BIOSSEGURANÇA ........22

5.ESTUDOS SOBRE OS TRANSGÊNICOS ............................................23

5.1.Estudos favoráveis aos produtos transgênicos............................24

5.2.Estudos desfavoráveis aos produtos transgênicos.......................25

5.3.Posição mundial sobre os produtos transgênicos........................29

6. ASPECTOS LEGAIS..............................................................................33

6.1 Dispositivos Constitucionais.......................................................33

6.2 Lei de Biossegurança ..................................................................34

6.3 Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003 ....................................36

6.4 Estudo de Impacto Ambiental, Licenciamento Ambiental e

OGM’s...............................................................................................37

6.5 Outros atos normativos federais..................................................38

7. POSIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL E DA SOCIEDADE CIVIL....40


8. A SOJA TRANSGÊNICA NO BRASIL, A LEI Nº 10.688, DE 13 DE

JUNHO DE 2003, E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 131, DE 25 DE

SETEMBRO DE 2003. ...............................................................................44

9. EXIGÊNCIA DE ESTUDOS NACIONAIS ..........................................55

10. ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO E DA COMISSÃO

TÉCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA.....................................57

11. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS NO ÂMBITO

INTERNACIONAL ....................................................................................62

11.1 Países que cultivam ou comercializam OGM’s ........................62

11.2 Regulamentação: União Européia e Estados Unidos................63

11.2.1 União Européia.......................................................................63

11.2.2 Estados Unidos.......................................................................68

12. CONCLUSÃO.......................................................................................69

13.BIBLIOGRAFIA....................................................................................73

14.ANEXOS................................................................................................76
ABREVIATURAS

OGM – Organismo Geneticamente Modificado


DNA - Ácido DesoxirriboNucléico
CTNBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
ONG – Organização Não Governamental
CDC – Código de Defesa do Consumidor
EU – União Européia
IPPC - International Plant Protection Convention
EUA – Estados Unidos da América
USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
FARSUL - Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
BMA - British Medical Association
MP - Medida Provisória
EIA/RIMA – Relatório de Impacto do Meio Ambiente
CTA - Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos
PFC - Proposta de Fiscalização e Controle
EPA - Environmental Protection Agency
NIH - National Institute of Healt
USDA - United States Department of Agriculture
FDA - Food and Drug Administration
1. INTRODUÇÃO

“Os conceitos éticos estão vinculados aos costumes da

sociedade, aos modos, às tradições e às instituições,

todos eles estruturam e formam as maneiras pelas qual

um membro desta sociedade lida com o mundo”.1

Os alimentos transgênicos são aqueles cujas sementes foram

alteradas com o DNA (material genético localizado no interior das células)

de outro ser vivo (como uma bactéria ou fungo) para funcionarem como

inseticidas naturais ou resistirem a um determinado tipo de herbicida.

Surgiram no início dos anos 80, quando cientistas conseguiram transferir

genes específicos de um ser vivo para outro.

A comercialização de transgênicos ainda é polêmica. Empresas,

produtores e cientistas que defendem a nova tecnologia dizem que ela vai

aumentar a produtividade e baratear o preço do produto, além de permitir a

redução dos agrotóxicos utilizados. Os que a atacam, como os

ambientalistas e outra parcela de pesquisadores afirmam que o produto é

perigoso: ainda não se conhece nem os seus efeitos sobre a saúde humana

nem o impacto que pode causar ao meio ambiente.

1
(Warnock M. A Question of life. Oxford: Blackwell, 1985:XI.)
Eles podem estar chegando a partir da importação de alimentos e

matérias-primas de países como a Argentina e os Estados Unidos, que já

cultivam e comercializam os transgênicos há alguns anos.

A introdução dessa e de outras tecnologias, sem que se tenha

absoluta segurança do que poderá ocorrer, podem resultar, as seguintes

experiências de resultados calamitosos:

• Em El Salvador, na América Central, mais de 35 mil

agricultores, foram “literalmente castrados” por causa dos efeitos sobre eles

de, um fumegante utilizado nos bananais chamado Negamon, produzido

pela Dow Chemical.

• Defensores do meio ambiente nos Estados Unidos estão

preocupadas com a perspectiva de que salmões transgênicos, que crescem

duas vezes mais rápido do que o normal, escape do cativeiro em que foram

desenvolvidos e são criados para comercialização e caiam no ambiente

natural, destruindo alimentos e outros peixes; seria uma catástrofe.

• Pior ainda é o caso da Delta & Pine, que requereu patente

mundial de um gene assustador conhecido como terminator. O objetivo é

incorporá-lo às sementes, de modo a que os grãos gerados pelas plantas

oriundas delas, sejam estéreis. Assim, o agricultor será sempre obrigado a

comprar sementes de um único fornecedor, a própria Delta & Pine.


A questão dos alimentos transgênicos vem de encontro a

questões da ética, do Código de defesa do consumidor que não pode ficar

sujeito a situações de grandes interesses comerciais.


2. INTRODUÇÃO DOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL

“Uma sociedade é caracterizada por uma visão moral

compartilhada, sem ela não seria uma sociedade”. 2

O Brasil começou a discutir a temática envolvendo os alimentos

transgênicos em 1995, quando entrou em vigor a Lei de Biossegurança,

sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquela

oportunidade, o então presidente vetou os artigos da Lei que previam a

criação de um órgão responsável pela avaliação dos transgênicos e por

emitir pareceres recomendando ou não sua liberação no país. Um ano

depois, entretanto, através de um decreto, criou no Ministério da Ciência e

Tecnologia a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança.

Destarte a visão do pesquisador do Departamento de Alimentos e

Nutrição da USP Flávio Finardi Filho, onde considera a lei de

biossegurança em tramitação no Congresso tão ou mais completa que a de

outros países, mas acredita que o excesso de rigor possa comprometer o

avanço das pesquisas no Brasil. O governo não tem condições de

implementar as normas de fiscalização e controle propostas, e será

2
Warnock M. A Question of life. Oxford: Blackwell, 1985:XI.
impossível conciliar, através da lei, interesses tão antagônicos quanto o de

ruralistas e ambientalistas.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, já autorizou

centenas de experimentos com espécies transgênicas no meio ambiente,

além de ter permitido, em 1998, a produção e comercialização da soja

modificada Roundup Ready da Monsanto, uma semente resistente ao

herbicida da própria empresa. A comercialização das sementes Roundup

Ready foi suspensa em primeira e segunda instância por uma liminar

decorrente de Ação Cautelar impetrada por duas das ONGs que compõem a

Campanha "Por um Brasil Livre de Transgênicos": o Instituto de Defesa do

Consumidor e a Associação Civil Greenpeace. O juiz considerou que, antes

da liberação comercial, seria necessário o Estudo Prévio de Impacto

Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente, conforme prevê a

Constituição Federal no artigo 225.

Logo em seguida à Ação Cautelar que barrava a comercialização

da soja Roundup Ready, as duas ONGs impetraram uma Ação Civil

Pública que tentava barrar todas as liberações comerciais envolvendo

produtos transgênicos no Brasil. Em julgamento ocorrido em primeira

instância, em 1998, as ONGs obtiveram vitória, com a exigência do juiz de

que qualquer liberação de transgênicos no Brasil precisa ser precedida de

Estudo Prévio de Impacto Ambiental, avaliação de riscos à saúde humana e


rotulagem plena dos produtos contendo transgênicos e derivados, de acordo

com o Código de Defesa do Consumidor.

Porém, o Tribunal Regional Federal, que julga a segunda

instância do processo, já declarou um dos três votos a favor da

comercialização das sementes geneticamente modificadas. Em um

pronunciamento que levou mais de oito horas, a juíza relatora Selene Maria

de Almeida afirmou que a CTNBio, quando liberou o plantio e a

comercialização da soja transgênica, baseou-se em estudos que provaram

que o produto não traz riscos à saúde. Entretanto, a discussão continua. No

Estado do Paraná, o Governador Roberto Requião sancionou a lei estadual

14.162/2003 que proíbe o cultivo de organismos geneticamente

modificados. E o Governo Federal criou a Medida Provisória 113, que veio

a liberar a comercialização da soja transgênica até 30 de março de 2004.


3. PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR BRASILEIRO.

A Lei 8078, de 11 de setembro de 1990, representando uma

inovação no ordenamento jurídico brasileiro, uma verdadeira mudança na

ação protetora do direito do consumidor. O Código de Defesa do

Consumidor, garante em seu art. 6º o direito à proteção, à saúde e à

segurança, o direito à proteção dos interesses econômicos, o direito à

reparação dos prejuízos, o direito à informação e à educação e o direito à

representação.

O art. 6º do Código de Defesa do Consumidor está diretamente

relacionado aos direitos dos consumidores aprovados pela Resolução

39/248/85 Assembléia Geral das Nações Unidas. Nas Diretrizes para a

proteção do consumidor, indica como direitos básicos em especial os itens:

a) a proteção dos consumidores frente aos riscos para sua saúde e sua

segurança;

b) a promoção e a proteção dos interesses econômicos dos consumidores;

c) o acesso dos consumidores a uma informação adequada que os permita

fazer eleições bem fundadas conforme os desejos e necessidades de cada

qual.
Neste sentido temos Carlos Alberto Bittar3 onde conclui:

“Assim, direitos fundamentais são assentados: normas

de proteção à saúde, à segurança, à personalidade a ao

patrimônio do consumidor são traçadas; mecanismos

administrativos e judiciais de prevenção e de repressão

a violações são enunciados de um verdadeiro sistema

próprio de tutela jurídica aos interesses dos

economicamente mais fracos.”

Ao Estado coube, com a promulgação do Código Brasileiro de

Defesa e Direitos do Consumidor, intervir nas relações de consumo,

reduzindo o espaço para autonomia de vontade, impondo normas

imperativas de maneira a restabelecer o equilíbrio e a igualdade de forças

nas relações entre consumidores e fornecedores. Com a evolução do

consumo, tornou-se imprescindível proteger o consumidor contra abusos e

lesões ao seu patrimônio. O poder econômico passou a constituir a regra e

deve ser exercido segundo uma função social, de serviço à coletividade.

Por outro lado, as inovações biotecnológicas interferem

diretamente no microssistema jurídico de proteção do consumidor

3
Carlos Alberto Bittar foi professor na Faculdade de Direito da USP e conselheiro do Instituto dos Advogados de
São Paulo.
brasileiro, cuja legislação específica é tecnologia jurídica das mais

avançadas. Assim os alimentos transgênicos para serem comercializados no

Brasil terão de enfrentar dois níveis de exigência. Um deles, de caráter

cautelar, decorre da responsabilidade estatal de controlar, fiscalizar e

garantir a segurança geral da população consumidora destas novas

variedades alimentícias. Assim, só mesmo após toda uma série, cautelosa e

exaustiva, de análises e pesquisas que assegurem, razoavelmente, aquele

pressuposto elementar da segurança ao consumidor é que estas novas

tecnologias podem alcançar o mercado consumidor.

3.1.Identificação pelo Consumidor

O outro nível de exigência para a regular comercialização dos

transgênicos no Brasil, é o respeito ao direito básico do consumidor à

informação ampla, eficaz e veraz, direito este tanto mais necessário quanto

maior o grau de novidade e risco do produto em questão. A normatização

contida no Código de Defesa do Consumidor retrata no artigo III que "a

informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com

especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade

e preço, bem como sobre os riscos que apresentem". Evidencia-se ainda

que o princípio da transparência que rege a o direito da informação

adequada por uma publicidade com ampla veracidade em nome do respeito


à boa-fé e em reconhecimento da situação de vulnerabilidade do

consumidor no mercado (art. 4o., III, fine, CDC).

Como se vê, a ampla informação vai da informação rotulativa à

abertura total e suficiente da informação útil e eficaz ao consumidor,

quanto à segurança, economicidade, desempenho, composição e

precauções, informação esta promovida por meio de publicidade, manuais,

serviço direto e gratuito de informações telefônicas e sempre ao alcance do

mais simples consumidores.

A responsabilidade em face deste básico direito à informação do

hipossuficiente na cadeia econômica, é o Estado, enquanto agente

regulador e fiscal, e o próprio fornecedor, no exercício de seus deveres de

fornecedor. Enfim, qualquer deficiência na concepção, na execução do

dever de informar redundará em responsabilidade civil objetiva do

fabricante, do produtor (agrícola), do importador (art.12, CDC) e do

comerciante quanto à responsabilidade subsidiária dos fornecedores

listados no art.12 (art.13, CDC). Como se vê, em princípio o risco (art. 8.

riscos normais de produtos e serviços e art.9, riscos potenciais) corre por

conta do fornecedor, jamais do consumidor.

Portanto, os consumidores não estão cientes dos riscos e não têm

como se prevenir, mesmo se informados, pois é impossível se distinguir os

produtos que contêm transgênicos dos outros se não houver a rotulagem.

Apesar de o Código do Consumidor exigir a informação plena ao


consumidor, até o momento não foi elaborada a norma definidora da

rotulagem dos transgênicos. Na hipótese de ser liberado algum produto

transgênico sem a devida informação no rótulo, o direito dos consumidores

de saberem e escolherem o que vão comer será violado. As empresas lutam

contra esta exigência e pressionam o governo brasileiro que, por meio de

alguns ministérios, tem hesitado em instituir um regulamento de rotulagem

obrigatória e plena dos transgênicos.

A partir de 26 de fevereiro de 2004, todos os produtos com mais de

1% de organismos geneticamente modificados (OGMs) em sua composição

terão que exibir na embalagem um selo triangular com um aviso aos

consumidores. A princípio, a identificação deverá ser feita apenas para a

soja brasileira ou produtos que a incluam entre seus ingredientes, já que

uma decisão judicial proíbe a venda de outros transgênicos no país, mas no

futuro valerá também para qualquer alimento com OGMs.

A nova rotulagem substitui uma anterior, adotada em 2001, que

determinava a identificação apenas de produtos para consumo humano com

mais de 4% de transgênicos em sua composição. A antiga norma não

determinava o uso do selo, apenas a identificação da composição dos

produtos. Nunca chegou, contudo, a ser aplicada, pois a venda de

transgênicos já estava proibida pela Justiça - o que ocorreu em 1998, numa

ação patrocinada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).


De acordo com a portaria do Ministério da Justiça, publicada no

Diário Oficial em 27 de dezembro e com prazo de 60 dias para entrar em

vigor, o selo valerá tanto para alimentos destinados ao consumo humano

como de animais com pelo menos 1% de transgênicos. Todos deverão ter

impresso na embalagem um selo triangular com a letra "T". Para facilitar a

visualização, nas embalagens coloridas o símbolo será amarelo com a

borda e a letra "T" pretas. Nas embalagens em preto e branco, o fundo pode

ser branco.
4. PROTOCOLO DE CARTAGENA SOBRE BIOSSEGURANÇA

O Protocolo de Biossegurança foi assinado em 28 de janeiro de

2000 e é o único tratado internacional que trata do movimento

transfronteiriço de transgênicos. O Protocolo foi uma grande vitória do

movimento ambientalista e dos consumidores, pois estabelece um marco

legal e internacional amplo de proteção do meio ambiente e da saúde

humana em relação aos danos que possam advir dos transgênicos. A

assinatura do Protocolo significa reconhecer que a engenharia genética

pode trazer danos ao meio ambiente e à saúde humana e necessita,

portanto, ser controlada. O Protocolo exige que as partes adotem

procedimentos que elas mesmas deveriam querer adotar.

O núcleo de provisão do Protocolo estabelece que o exportador

(notificador) forneça informações ao país importador em relação às

características e à avaliação de risco do organismo geneticamente

modificado (OGM). É fundamental que o país importador saiba quais são

os OGM’s que está comprando. Além disso, estes OGM’s devem passar

por uma avaliação dos riscos e problemas que a sua introdução no país

importador pode causar. De acordo com o Protocolo, a avaliação destes

riscos deve ser custeada e apresentada pelo exportador, se a parte

importadora assim o exigir.


Para todos os produtos, nenhuma importação é permitida até que

a parte importadora a tenha aprovado. As exigências do Protocolo são

semelhantes às que a União Européia (EU) exige para a introdução de um

OGM em seus territórios.

O Protocolo é o único instrumento internacional legal

reconhecido para regulamentar o transporte de OGM’s, pois a

"International Plant Protection Convention (IPPC)" não lista todos os riscos

potenciais ao meio ambiente e à saúde humana causados pelos OGM’s. Por

exemplo,o s OGM’s irão afetar potencialmente a biodiversidade mexicana,

como demonstra o caso recente de ameaça de contaminação de plantações

de milho por transgênicos no país. O Brasil é um centro de diversidade de

milho, por isso pode sofrer danos semelhantes . O Protocolo reconhece que

o conhecimento científico sobre OGM’s é incompleto e permite que os

países tomem medidas para prevenir danos ambientais na ausência de

certeza científica sobre o dano. Isso é essencial no caso dos OGM’s -

enquanto os cientistas concordam que a contaminação de plantações de

milho por transgênicos pode ser um grande dano potencial, há alguns

documentos atuais sobre a natureza desses danos. O Protocolo permite que

as partes tomem a decisão de "evitar ou minimizar tais efeitos potenciais

adversos." O Brasil deve portanto, ratificar o Protocolo de Cartagena.

5.ESTUDOS SOBRE OS TRANSGÊNICOS


5.1.Estudos favoráveis aos produtos transgênicos.

Devemos expor que o relator da Medida Provisória 131 que

liberou o plantio da soja transgênica na safra 2003/2004 no Brasil,

deputado federal Paulo Pimenta 4defende os transgênicos, pois,

"em matéria de biotecnologia, a questão não é ser

contra ou a favor. É criar regras para a pesquisa, pois

o País não pode viver sem pesquisa."

Como relator elaborou e aprovou um texto que autoriza o

registro, para fins de pesquisa, das 42 variedades de soja transgênicas.

Destarte ainda a posição de Flávio Finardi Filho5, se existe segurança na

comercialização dos transgênicos .E afirma que por enquanto não existe

nenhum país trabalhando de forma insegura. Os EUA colocaram no

mercado há alguns anos um tomate transgênico menos saboroso, porém tão

seguro quanto o convencional. A canola produzida pelo Canadá é segura

tanto para consumo humano quanto animal.

4
Transformado em Norma Jurídica Autor: Poder Executivo
Ementa: Estabelece normas para o plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004, e dá outras
providências. NOVA EMENTA: Estabelece normas para o plantio e comercialização da produção de soja
geneticamente modificada da safra de 2004, e dá ouras providências. Explicação: Utilizando a soja transgênica
(organismo geneticamente modificado).
Despacho: Publique-se. Submeta-se ao Plenário
5
“Vale lembrar que os riscos desses produtos para a saúde não são maiores do que os apresentados por um novo
alimento convencional”, afirma Flávio Finardi Filho, Ph.D. em Ciência dos Alimentos pela USP.
E a Assessoria Especial do Ministro, Simone Scholze6, afirma

que o uso de organismos transgênicos tem o potencial de oferecer

benefícios reais na agricultura, na qualidade da alimentação e na saúde,

entre outros setores. Há, é verdade, incertezas acerca de diversos aspectos

do uso de OGM’s. Porém, a pesquisa contínua e a ampla divulgação de

seus resultados são essenciais para o adequado tratamento dessas

incertezas, para que os riscos sejam devidamente avaliados e controlados e

a fim de que o potencial das novas tecnologias torne-se claro e acessível

para a sociedade.

5.2.Estudos desfavoráveis aos produtos transgênicos

A ministra do Meio Ambiente Marina Silva7 se manifestou

contrária ao plantio de produtos transgênicos e propriamente da Medida

6
Simone Scholze explica que há exceções à proibição. ''Em casos autorizados e acompanhados pela CTNBio a
manipulação é permitida'', afirma. A assessora explica que a preocupação do MCT é evitar a comercialização de
embriões. ''A venda decélulas-tronco é proibida também pelo Código Penal'', acrescenta. Jornal do Brasil.
T er ça-
f ei r a, 2 7 de N ovem br o de 2 0 0 1

7
O Brasil ratificou a Convenção da Biodiversidade, e estamos alinhados ao princípio da precaução. E não temos
certeza com relação aos problemas que poderão advir dos organismos geneticamente modificados em relação à nossa
biodiversidade de modo que estamos apenas fazendo aquilo que qualquer pessoa ou qualquer pessoa faria, sendo
cautelosos. Estamos trabalhando pelo licenciamento ambiental. Mas para se ter o licenciamento ambiental para
transgênicos tem um longo dever de casa a ser feito que é o macrozoneamento, por exemplo. É no macrozoneamento
que você vai definir as áreas passíveis de restrição e as áreas que não são passíveis de restrição. Você vai definir os
parâmetros para fazer os estudos de impacto ambiental e a partir daí que você vai poder estar falando, bem, agora nós
já sabemos que do ponto de vista técnico não temos problemas ao meio ambiente, vamos ver agora do ponto de vista
da saúde, vamos verificar agora do ponto de vista dos nossos interesses estratégicos, dos nossos interesses de
mercado. Essa avaliação ela é feita por todos os países. Os países desenvolvidos fazem isso o tempo todo , os países
em desenvolvimento estão aprendendo a fazer. O que convém aos nossos interesses estratégicos? E é isso que o
Brasil está fazendo. Em fevereiro de 2003, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu um adiamento do prazo
da votação dos outros dois juízes, Antônio Ezequiel e João Batista Moreira, para que o governo tenha tempo de rever
sua posição. Se o governo for fiel ao seu próprio programa de governo, deverá ser contra o uso comercial dos
transgênicos sem estudos preliminares. Nesse caso, a AGU poderia até desistir da apelação apresentada pela União -
o que não implicaria, porém, nem suspensão nem extinção do processo, já que a outra parte interessada também
apresentou suas razões de recurso e elas também estão sendo examinadas. "Politicamente, entretanto, é muito
importante que o governo se retire do recurso" Entrevista com a Ministra em 19/02/2004 para NOVAE
www.novae.inf.br
Provisória. De acordo com o jornal Gazeta Mercantil, que publicou o

resultado de um estudo conduzido pelo professor Luiz Carlos Balcewicz8,

da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e de uma comissão técnica

da Federação da Agricultura do Estado do Paraná , "se optarem pelo cultivo

de soja transgênica, os produtores brasileiros perderão mercado

internacional e renda".

Outro argumento desfavorável aos produtos transgênicos é do


9
coordenador Carlos Tautz da campanha "Por um Brasil Livre de

Transgênicos" que afirma: Estados Unidos, principalmente, têm interesse

de que o Brasil torne-se um país produtor exclusivamente de organismos

modificados. "Ganhando o nosso mercado, não vai haver mais nenhum

grande produtor de não-transgênico. O Brasil é a principal peça geopolítica

desse tabuleiro, já que somos o grande produtor e exportador de sementes

8
jornal Valor Econômico
“A matéria ‘País deve se preparar para produzir transgênicos’ publicada no Valor de 9/12 à pág. A3 mostra claro
apoio à liberação de produtos transgênicos em nosso país, sem no entanto informar as possíveis conseqüências em
termos de perdas de mercado internacional do ‘complexo soja’ e no segmento de carnes. Os nossos grandes
importadores não aceitam transgênicos nem como ração animal, o que prejudicará os interesses de centenas de
milhares de produtores rurais. A UE e China por exemplo, rejeitam os transgênicos. A ‘segregação’ proposta só irá
aumentar custos e reduzirá a excelente competitividade de nossos produtos.·Pode ser coincidência, mas este estudo
corrobora as ‘boas’ intenções do governo americano em defender a ‘ajuda’, para o programa ‘Fome Zero’, em troca
da liberação do plantio e comércio de transgênicos no país. Prosperando essa barganha, os americanos estarão
matando, no mínimo, ‘três coelhos com uma paulada só’. O Brasil perderá a vantagem comparativa do ‘complexo
soja’”, que possui em relação aos EUA e Argentina; pagará royalties eternos às empresas detentoras de patentes
transgênicas; e de quebra, deixará os países importadores sem opção de compra de soja convencional, o que
possibilitará o aumento das exportações norte americanas de soja.Por último, o que se espera do governo Lula é o
cumprimento das propostas defendidas em campanha e que não se deixe levar pelo ‘canto da sereia’ dos oligopólios
internacionais. Os EUA e suas multinacionais são os maiores interessados, pois ganharão sempre, independente do
que acontecer aos mercados de nossos produtos, que vão muito bem (obrigado) e crescido de forma fantástica, o que
pode ser facilmente confirmado pelos resultados obtidos com o setor de agronegócio em nossa balança
comercial.”·Luiz Carlos Balcewicz”,
Diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná
Valor Econômico, 11/12/02.
9
Jornalista da Revista UpDate e ambientalista.
não-transgênicas. Se escolhermos adotá-las, a China, a Europa e o Japão

não terão mais onde comprar".

Destarte a posição do Greenpeace sobre o assunto onde publicou

o relatório "As vantagens da soja e do milho não-transgênicos para o

mercado brasileiro". Este estudo revela que "o milho dos EUA e a canola

canadense sofreram grandes perdas no mercado, atribuídas ao fato de

plantarem culturas transgênicas". Fato: enquanto em 1996 as exportações

de milho dos EUA para a União Européia eram de US$ 305 milhões, em

2001 caíram drasticamente para apenas US$ 2 milhões em 2001, de acordo

com Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

O Brasil, ao contrário, aumentou de 24% para 36% sua

participação no mercado internacional do produto nas duas últimas safras.

O Greenpeace, acrescenta: "A exportação brasileira deverá aumentar ainda.

Recentemente foram aprovadas normas mais restritas na UE sobre a

rotulagem da ração animal. Sabendo que 80% da soja européia importada é

usada para ração, a demanda pelo grão não-transgênico certamente vai

aumentar. E o Brasil é o único que não produz transgênicos, portanto é o

único capaz de atender essa procura."

O professor Rubens Nodari10, da UFSC veio recentemente em

expor sobre os problemas do cultivo dos transgênicos: "Não é possível ter

10
Doutorado em Genética - University of California, Davis/USA, 1992. Mestrado em Agronomia -
UFRGS/RS, 1980. Graduação em Agronomia - Universidade de Passo Fundo/RS, 1977
os dois tipos de plantação no mesmo lugar, mesmo em plantas de

autofecundação, como a soja". "Veja o caso do México, que não planta

transgênicos, mas já tem variedades de milho contaminadas pelos EUA.

Pense até mesmo em como é feito o transporte: caminhões que viajam com

grãos debaixo de uma lona. Sempre escapam sementes, fazendo nascer

plantas em todo lugar. Claro, não será no primeiro ano que ocorrerá a

contaminação, mas depois de dez anos transportando a produção de dez

milhões de hectares, aquele agricultor que quer produzir orgânico não

poderá mais. Com o tempo, tudo será contaminado." "E há outro aspecto: o

custo para garantir que o produto é orgânico será pago por quem? Liberar o

transgênico gera um custo indireto para quem não quer usar."

A Faculdade de Agronomia da Universidade da República do

Uruguai, a instâncias de seu Decano, produz um informe científico

desaconselhando a introdução do milho transgênico sem a prévia realização

dos estudos científicos de impacto em nível nacional. Assinala, além disso,

que a variedade autorizada contem uma proteína inseticida que ataca a uma

praga que não existe no país, desconhecendo-se os efeitos que pudesse ter

sobre outros insetos benéficos, sobre a alimentação animal, sobre a saúde

humana. Sublinha que não se tem avaliado de nenhuma maneira as

possibilidades de contaminação dos cultivos de milho natural e que no se

tem realizado experiências no âmbito local que permitam determinar se são


eficazes ou não com relação às pragas que sim afetam os cultivos

domésticos.

E os transgênicos poderiam ser uma solução para amenizar a

fome mundial. O diretor da ActionAid11, Matthew Lockwood, afirma que

os transgênicos não são a solução para a fome. "O que as pessoas pobres

realmente precisam é acesso a terra, água, rodovias para levar suas

colheitas ao mercado, educação e planos de crédito". O estudo também

indica que a nova tecnologia pode levar os agricultores a adquirirem

dívidas, tornando-os mais dependentes de sementes e produtos químicos

caros. Por outro lado, um relatório produzido pela Federação da

Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), pelo Serviço Nacional de

Aprendizagem Rural (SENAR) e pela Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS), logo na introdução há a seguinte afirmação: "A

tecnologia convencional sozinha não permitirá que a produção de alimentos

seja aumentada o suficiente para alimentar uma população de 9,37 bilhões

de pessoas, estimada para o ano 2050". Os transgênicos, afirmam, seriam

umas das soluções.

5.3.Posição mundial sobre os produtos transgênicos.

11
A ActionAid foi fundada na Inglaterra, em 1972, como uma organização não-governamental, sem fins lucrativos e
sem filiação partidária ou religiosa. No início, existiam apenas 88 doadores ingleses para projetos que começavam a
se desenvolver na Índia e no Quênia. Nosso foco era então o de oferecer serviços essenciais às populações pobres,
como educação, por exemplo
Em importante estudo publicado pela Associação Portuguesa de

Direito do Consumo, o presidente Mario Frota12 expôs que “Os

transgênicos desde 1997 que se acham submetidos ao regulamento Novel

Food , in Jornal Oficial da Comunidade Européia, L 13 de 27 de Janeiro de

1997. Segundo tal instrumento, nenhum alimento emergente de uma planta

transgênica terá sido ainda autorizado. Conquanto os conselhos científicos

europeus hajam já dado o seu acordo de princípio para a comercialização

da endiva vermelha e da alface-romana tais legumes não foram ainda

objeto de autorização legal de comercialização”.

Bem como o tomate transgênico (tomate que amadurece mais

lentamente), que também não obteve autorização de comercialização no

mercado europeu. De momento só a soja transgênica de Monsanto e o

milho transgênico da Novartis se acham autorizados no mercado europeu

(Jornal Oficial L 159 de 3 de Junho de 1998). A British Medical

Association13 (BMA), diz que "o princípio de precaução deve ser aplicado

12
Professor da Faculdade de Direito da UNIVERSIDADE LUSÍADA - Porto
Professor Convidado da Universidade de Paris XII - Paris
Professor Associado da Escola Superior do Ministério Público do Estado do Pará - Belém - Brasil
Presidente da Associação Internacional de Direito do Consumo (1988/1997)
Presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo - Coimbra
Diretor do Centro de Estudos de Direito do Consumo - Coimbra
Diretor do Instituto Lusíada de Direito do Consumo - Porto
Vice-Presidente da Association Européenne de Droit et Economie Pharmaceutiques - Paris (1990/1996)
Secretário - Geral Adjunto da Association Européenne de Droit et Economie Pharmaceutiques - Paris
Diretor Coordenador do Guia do Consumidor - Lisboa
Diretor da Revista do Consumidor - Coimbra
Diretor da Revista Portuguesa de Direito do Consumo - Coimbra
Colaborador Permanente da RTP/Canal 1 (Porto)
Colaborador de 40 Estações de Radiodifusão (Direitos dos Consumidores)
Colaborador de 50 Periódicos Portugueses (Direitos dos Consumidores)
13
A preocupação com a Saúde Pública pode ser observada no relatório da British Medical Association (1999),
quando afirma que a introdução de alimentos transgênicos na Inglaterra é prematura, devido a falta de dados
suficientes que evidenciem a segurança do processo de produção. O G-8 (as sete nações mais ricas e a Rússia)
no desenvolvimento de alimentos geneticamente modificados, já que não

podemos saber se existe algum risco sério ao meio ambiente ou à saúde

humana, na produção ou consumo de produtos geneticamente

modificados".

Devemos expor que em estudo do analista de mercado do

Greenpeace, Lindsay Keenan veio a afirmar que o milho dos Estados

Unidos e a canola do Canadá sofreram grandes perdas no mercado, pelo

fato de cultivarem culturas transgênicas. "Esta perda de mercado para as

exportações de milho dos Estados Unidos é freqüentemente atribuída pelos

analistas da industria diretamente ao uso de variedades de milho

transgênico nos EUA, que não são aprovados na Europa, e à rejeição geral

de alimentos transgênicos no/pelo mercado europeu. Esta perda de mercado

para a canola canadense é muito freqüentemente atribuída pelos analistas

da industria, diretamente à rejeição geral do mercado europeu aos

alimentos transgênicos. Muitas empresas do setor de alimentação na

Europa substituíram diretamente o óleo de canola transgênico importado,

por óleo de canola não transgênico produzido na Europa. "

Desde 1998, um grupo de países, encabeçado pela França,

bloqueou as aprovações de venda de produtos transgênicos feitos por

companhias como a Monsanto e DuPont, devido ao temor de possíveis

determinou uma investigação das implicações globais dos Alimentos Geneticamente Modificados (AGM), ficando a
OECD (Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica) incumbida de apresentar os estudos na
próxima reunião em Tóquio (BBC-News, 21/06/99).
riscos para a saúde. Em junho de 1999, cinco países europeus levantaram

uma moratória contra a importação de produtos geneticamente

modificados, os OGM’s. Dois anos depois, dois outros países se juntaram

aos cinco, a Áustria e a Bélgica, o que deu maior embasamento à moratória

de fato da União Européia contra os produtos transgênicos. Inúmeros países

entraram com uma ação na Organização Mundial do Comércio contra a

União Européia, tendo, à frente, os Estados Unidos.

Posteriormente, a Comissão Européia adotou um pacote

legislativo sobre organismos geneticamente modificados OGM’s. O pacote

consiste numa proposta de rastreabilidade e rotulagem14 de transgênicos e

de produtos produzidos a partir de organismos geneticamente modificados

e uma proposta sobre a regulamentação de rações e alimentos transgênicos.

O pacote exigirá a rastreabilidade de transgênicos durante todo o processo

da plantação até o produto para consumo e irá proporcionar aos

consumidores informações através da rotulagem de todos os alimentos e

rações que consistam, contenham ou sejam produzidos a partir de um

produto transgênico.

14
Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Julho de 2001, relativo a alimentos
geneticamente modificados para a alimentação humana e animal - Jornal Oficial C 304 E, de 30.10.2001]. Diretiva
90/219/CEE do Conselho, de 23 de Abril de 1990, relativa à utilização confinada de microrganismos geneticamente
modificados .Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho sobre os movimentos transfronteiriços
dos organismos geneticamente modificados .
No Japão, desde 1º de abril de 2002 o Governo implementou a

rotulagem obrigatória de alimentos derivados de transgênicos para

alimentos selecionados. Como reação a esta política, muitos fabricantes de

produtos alimentícios deixaram de usar grãos de soja transgênica importada

dos EUA, o que fizeram no ano de 2000, e passaram a importar estes grãos

de soja não-transgênicos de outros países, como o Canadá e o Brasil, que se

autopromoveram como exportadores deste produto. A Austrália e a Nova

Zelândia adotaram um regime de rotulagem obrigatória para todos os

alimentos geneticamente modificados que contêm DNA estranho e/ou

proteína estranha ou que possuem características alteradas. É permitida a

presença acidental de alimentos transgênicos de até 1% por ingrediente. O

regime entrou em vigor em sete de dezembro de 2001.

6. ASPECTOS LEGAIS

Principais normas que regulamentam a questão no âmbito federal:

6.1 Dispositivos Constitucionais

O marco inicial da regulamentação dos organismos

geneticamente modificados foi estabelecido pela Constituição Federal (CF)

de 1988.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao poder público e à coletividade o dever defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País

e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,

métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de

vida e o meio ambiente;

A maioria dos Estados brasileiros inseriu a matéria em suas

Constituições. Apesar de não haver necessidade de repetir o já estabelecido

na CF, o fato de terem abordado o tema – “manipulação de material

genético” – demonstra a importância conferida à matéria.

6.2 Lei de Biossegurança


A Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995 (Lei de Biossegurança)15

– alterada pela Medida Provisória (MP) nº 2.191-9, de 23 de agosto de

2001 (nº 2.137, de 28 de dezembro de 2000, na edição original) –,

estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e a

liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados5.

Destacamos os seguintes aspectos:

– o estabelecimento de mecanismos de fiscalização das atividades que

utilizam técnicas de engenharia genética;

– a abrangência de atividades: construção, cultivo, manipulação, transporte,

comercialização, consumo, liberação e descarte de OGM’s;

– a atribuição de competências específicas aos órgãos de fiscalização dos

Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento;

– o estabelecimento das vedações referentes às atividades relacionadas a

OGM’s, das infrações e dos crimes decorrentes da inobservância dos

preceitos fixados, bem como a previsão de penalidades aplicáveis a cada

caso;

– a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e o

estabelecimento de suas competências e composição.

15
1 . Klett, Manfred.O Homem Vem a Ser o que Come? O significado da Agricultura Biodinâmica para a
alimentação do ser humano. Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica. 1999 e Anais da IV Conferência
Brasileira de Agricultura Biodinâmica, Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, 2001.
A Medida Provisória (MP) nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001,

em essência, cria a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e

estabelece sua composição e competências.

Recordemos que, na realidade, a Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança – CTNBio, foi preliminarmente criada por meio do Decreto

nº 1.752, de 20 de dezembro de 1995, que regulamenta a Lei de

Biossegurança, o que gerou uma série de conflitos16 e trouxe sérios

questionamentos quanto à sua existência e competência, inclusive de

natureza judicial, conforme reconheceu o próprio Poder Executivo ao editar

a referida MP.

6.3 Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003

Esse decreto dispõe sobre rotulagem de alimentos geneticamente

modificados17. Pela norma, os alimentos destinados ao consumo humano

16
O relator da Lei de Biossegurança, que regulamenta a pesquisa e a comercialização de transgênicos, deputado Aldo
Rebelo (PC do B-SP), vai retirar do projeto a proibição para o armazenamento de embriões humanos nos laboratórios
de pesquisa, sendo mantido apenas o veto à alteração de seu código genético. Outra alteração do texto original é que
os representantes da sociedade civil na CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) terão que ter
doutorado em atividades ligadas à ciência. Essa é uma vitória da comunidade científica, que reclamava da
interferência política e de leigos no assunto. Em seu relatório, Rebelo está dando tratamento diferenciado entre
pesquisa e comercialização de OGM’s (Organismos Geneticamente Modificados), o que não acontece no projeto
original do governo. No ano passado o deputado já havia adiantado que, em seu relatório, a CTNBio vai ter parecer
conclusivo no licenciamento de pesquisas com transgênicos. Somente a liberação para a comercialização de OGM’s
terá que passar pelos ministérios. Nesse caso, o parecer da CTNBio só é conclusivo se for negativo. Folha de
S.Paulo, em Brasília. 20/01/2004
17
Face aos debates no Congresso Nacional e à Ação Judicial sobre a rotulagem da soja transgênica aprovada pela
CTNBio, esse assunto também vem sendo discutido pelo grupo interministerial encarregado da elaboração da Portaria
do Ministério da Justiça sobre Rotulagem da Soja Geneticamente Modificada, do qual a CTNBio faz parte como
representante do Ministério da Ciência e Tecnologia. De qualquer forma, o consumidor deverá ter clareza de que se o
produto for disponibilizado para comercialização é porque é seguro. A comercialização de produtos alergênicos ou
tóxicos requer tratamento especial, sejam eles transgênicos ou convencionais. O direito de escolha informada do
consumidor é questão fundamental a ser respeitada.Em dezembro de 1999, foi aberta à consulta pública a proposta de
Portaria Interministerial de Rotulagem de Alimentos Geneticamente Modificados, elaborada por um grupo
interministerial integrado por representantes dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, Agricultura, Saúde e Justiça,
sob coordenação deste último. O prazo de 90 dias foi prorrogado pelo Ministério da Justiça. A proposta de rotulagem
foi baseada na legislação em vigor na União Européia em 1999, com fundamento na presença do DNA ou da proteína
expressa. 0 grupo interministerial volta a se reunir esta semana para examinar as quase 200 proposições resultantes da
consulta pública. Uma vez que se trata de norma especifica com disposições referentes a alimentos ou ingredientes
ou animal que sejam produzidos a partir de OGM’s ou contenham tais

organismos em teor acima do limite de 1% estão obrigados a apresentar

essa informação no rótulo. A exigência aplica-se a todos os alimentos

(embalados, a granel e in natura), inclusive os produzidos a partir de

animais alimentados com transgênicos.

6.4 Estudo de Impacto Ambiental, Licenciamento Ambiental e OGM’s.

A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Lei de Política

Nacional do Meio Ambiente), estabelece a obrigatoriedade do

licenciamento ambiental para as obras e atividades consideradas capazes,

sob qualquer forma, de causar degradação ambiental.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), por sua vez, é

instrumento previsto no texto constitucional para as atividades

potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente

(art. 225, § 1º, IV) e requisito prévio para os procedimentos de

licenciamento ambiental nos casos de atividades de impacto ambiental

significativo.

que sejam ou contenham OGM’S, além do próprio Código de Defesa do Consumidor, a Portaria Interministerial será
complementar às Portarias 371/97 do Ministério da Agricultura e 42/98 do Ministério da Saúde, que regulamentam a
rotulagem de alimentos embalados.
A Resolução nº 305, de 12 de junho de 2002, do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (Conama), respaldada pelo art. 8º, inciso I, da

Lei nº 6.938, de 1981, disciplina os critérios e os procedimentos a serem

observados pelo órgão competente para o licenciamento ambiental de

atividades e empreendimentos que façam uso de OGM’s e derivados e,

quando for o caso, para a elaboração do RELATÓRIO DE IMPACTO AO MEIO


18
AMBIENTE - EIA/RIMA (art. 1º). Pela norma, é atribuição do órgão

ambiental competente exigir o RELATÓRIO DE IMPACTO AO MEIO

AMBIENTE -EIA/RIMA, conforme previsto no art. 225 da Constituição

Federal e nos termos da Lei nº 6.938, de 1981.

Em resumo, consoante as normas vigentes, todas as atividades

que envolvam OGM’s devem ser obrigatoriamente licenciadas pelos órgãos

ambientais competentes. E o poder discricionário para exigir ou não o

RELATÓRIO DE IMPACTO AO MEIO AMBIENTE -EIA/RIMA é do órgão

ambiental licenciador, e não, da Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança (CTNBio), como defendido por muitos de seus integrantes.

6.5 Outros atos normativos federais

18
a) contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização confrontando-as com a hipótese de não execução
do projeto, b) identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e
operação da atividade, (c) definir as Áreas Direta e Indiretamente afetadas pelos impactos, e (d) considerar os Planos
e Programas de Governo com jurisdição sobre a área onde será implementada a atividade impactante.Desde modo,
considerando as abrangências das Áreas Direta e Indiretamente a serem afetas, o estudo de impacto ambiental deverá
no mínimo contemplar as seguintes atividades técnicas: (a) o diagnóstico ambiental, (b) o prognóstico das condições
ambientais com a execução do projeto, (c) as medidas ambientais mitigadoras e potencializadoras a serem adotadas e
(d) o programa de acompanhamento e monitoramento ambiental.
A partir do dia 26/02/2004, os alimentos industrializados que

contenham mais de 1% de ingredientes provenientes de modificação

genética (transgênicos) na sua composição final, atestado por laboratórios

nacionais, oficiais e credenciados, passarão a ter um símbolo em sua

rotulagem, em cumprimento à Portaria MJ n°2.658/03 e Código de Defesa

do Consumidor. O símbolo definido é formado por um triangulo, com uma

letra “T” maiúscula, como demonstra o modelo abaixo:

T
O arcabouço legal relativo a OGM’s compreende, ainda,

instruções normativas da CTNBio, resoluções, portarias e outros atos

normativos infralegais dos demais ministérios comprometidos com o

controle e a fiscalização das atividades envolvendo OGM’s e já

mencionados anteriormente.
7. POSIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL E DA SOCIEDADE

CIVIL

O que se tem observado nas diversas esferas do atual governo

federal, a partir de recentes declarações veiculadas pela mídia, é que não há

consenso sobre a matéria – aliás, conflitos da mesma natureza marcaram a

administração passada. Os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente,

por exemplo, continuam a divergir frontalmente a respeito da pertinência

da produção e do consumo de alimentos geneticamente modificados. Para o

ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, seria

interessante a coexistência dos dois tipos de grão, o que diversificaria a


pauta de exportações19. Muitas entidades públicas brasileiras de pesquisa e

ensino têm, inclusive exercido, forte oposição a uma moratória dos cultivos

transgênicos, uma vez que necessitam de recursos privados para sua

manutenção.

A ministra do Meio Ambiente continua a defender a aplicação do

Princípio da Precaução20 e considera essencial a realização de estudos de

impacto ambiental antes de se decidir pela liberação das lavouras

geneticamente modificadas.

Além dos aspectos ambientais e de saúde humana, há questões

sobre estratégias econômicas e de exportação que também requerem do

governo federal atenção especial, uma vez que mercados importadores

tradicionais, como os países da União Européia, não aceitam grãos

geneticamente modificados. As exportações brasileiras de soja vêm,

progressivamente, ganhando mercado ao longo dos últimos cinco anos e,

pela primeira vez, o país exportará volume superior ao dos Estados Unidos.

De acordo com o Ministro Roberto Rodrigues, o país exportará US$ 7,5

bilhões neste ano e os norte-americanos menos de US$ 7 bilhões. Em 2001,

19
Especialistas, no entanto, argumentam que o País não tem condições técnicas para garantir a segregação, o
armazenamento e a comercialização das duas variedades de grão, sem riscos de contaminação da soja convencional
pela transgênica.
20
O Princípio da Precaução (Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992), consolidado na legislação
ambiental brasileira e nos acordos internacionais sobre Diversidade Biológica e Biossegurança, reza que: “De modo a
proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados (...) Quando
houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como
razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Em resumo,
na dúvida, adotam-se medidas preventivas para evitar possíveis danos.
as exportações de soja brasileira foram de US$ 6,1 bilhões, contra US$ 7,1

bilhões dos EUA21.

Igualmente notória, e também de longa data, é a divergência de

opiniões verificada entre organizações ambientalistas e de defesa do

consumidor, institutos de pesquisa, associações de classe, comunidade

científica, sindicatos rurais, agricultores, cooperativas agropecuárias e

empresas de biotecnologia.

As organizações integrantes do movimento “Por um Brasil Livre

de Transgênicos” 22, por exemplo, já se mobilizam uma vez mais para pedi

a moratória do cultivo, comercialização e consumo de transgênicos — até

que se tenha um volume de estudos mais consistentes a respeito dos seus

efeitos, no longo prazo, sobre a saúde pública e o meio ambiente.

O Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do

Consumidor, que congrega vinte organizações em todo o País e é presidido

pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), encaminhou ao

Presidente da República, no início de março, documento no qual solicitava

que a soja transgênica plantada ilegalmente não fosse comercializada no

21
Jornal Folha de S. Paulo, 28/02/03.
22
Desse movimento fazem parte as ONGs: AS-PTA, Actionaid Brasil, Esplar, Inesc, Greenpeace, CT-IPÊ e Fase.
mercado interno e defende uma moratória, até que haja uma sólida

regulamentação técnica23.

Por sua vez, a Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag),

entidade da qual já foi presidente o atual ministro da Agricultura,

promoveu recentemente um encontro de diversos segmentos do

agronegócio brasileiro24, com a finalidade de elaborar documento de apoio

à liberação do plantio e da comercialização de culturas transgênicas,

conforme noticiou, o jornal Folha de S. Paulo em 11 de março do

concorrente ano.

As empresas de biotecnologia, em sua maioria multinacionais,

apoiadas por diversas entidades de classe e empresários ligados ao setor

agrário são francamente favoráveis à liberação dos cultivos transgênicos e à

inexistência de quaisquer restrições, inclusive a rotulagem, para a

comercialização desses produtos.

23
Fonte: http://www.idec.org.br/paginas
8. A SOJA TRANSGÊNICA NO BRASIL, A LEI Nº 10.688,

DE 13 DE JUNHO DE 2003, E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº

131, DE 25 DE SETEMBRO DE 2003.

A Monsanto do Brasil Ltda. requereu à Comissão Técnica

Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 15 de junho de 1998, permissão

para o cultivo comercial da soja transgênica Roundup Ready (RR)25. Em 24

de setembro do mesmo ano, por meio do Comunicado nº 5426, a CTNBio

autorizou o registro e o conseqüente plantio comercial da cultivar

geneticamente modificada. A Comissão concluiu que não haveria risco

para o meio ambiente, nem para a saúde do consumidor.

24
Dentre as entidades convidadas destacam-se a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), a
Associação Brasileira de Produtores de Sementes (Abrasem), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
25
Processo nº 01200.002402/98-60.
Essa soja recebeu, por meio de técnicas de engenharia genética, o

gene de uma bactéria, Agrobacterium sp., resistente ao glifosato, princípio

ativo do herbicida Roundup, produzido pela própria Monsanto. Assim, a

soja RR contém um gene modificado que a torna tolerante ao herbicida em

questão.

A autorização da CTNBio está sendo contestada na Justiça, uma

vez que prescindiu de estudos nacionais, inclusive de impacto ambiental27.

Os existentes referiam-se à eficiência agronômica e ao manejo das pragas

da lavoura. Apesar da afirmação corrente de que a soja RR não representa

riscos ao meio ambiente, tal assertiva somente poderia ser feita após a

realização de pesquisas conduzidas nas condições ambientais brasileiras.

No caso em análise, a Comissão limitou-se a citar aprovações concedidas

por outros países28.

Houve, de fato, a nosso ver, inegável açodamento da CTNBio

em autorizar a liberação do produto29 – à revelia, inclusive, de argumentos

técnicos de cientistas da própria Comissão, cujo parecer expõe a

insuficiência de estudos nacionais, sobretudo relacionados com a interação

26
Íntegra do Comunicado está disponível na página da CTNBio (http://www.ctnbio.gov.br/ctnbio/legis/).
27
A CTNBio emitiu parecer favorável à liberação da soja RR, dispensando a Monsanto do Brasil Ltda. de realizar o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), em desacordo com o que determina a Constituição Federal e a legislação
ambiental vigente.
28
Diga-se, de passagem, que grande parte da documentação do Processo nº 01200.002402/98-60
encontra-se em inglês. Constam, ainda, dos autos do processo pareceres de várias instituições, de
entidades de classe e de organizações não-governamentais que questionam os procedimentos da CTNBio,
bem como a falta de transparência e de informações relevantes para a tomada de decisão.
29
O parecer, emitido em 14 de julho de 1998, é assinado pelos membros da Comissão Setorial Específica Ambiental
da CTNBio, Eliana M. G. Fontes (pesquisadora da Embrapa) e Evaldo F. Vilela (págs. 357e 358 do Processo).
planta/ambiente, para respaldar o processo decisório30. A Comissão estaria,

assim, agindo de forma política, comprometendo sua credibilidade técnica.

Não obstante a liberação pela CTNBio, o plantio em escala

comercial da soja transgênica foi proibido no Brasil por determinação

judicial31, fato que levou o atual governo a editar as Medidas Provisórias nº

113 e nº 131, respectivamente, em março e em setembro deste ano (a serem

oportunamente comentadas).

Embora a Comissão haja liberado a soja RR em 1998, sentença

judicial proferida em junho de 2000, em decorrência de ação civil pública

impetrada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e pela

associação civil Greenpeace, determina que a CTNBio:

1. exija a realização prévia de Estudo de Impacto Ambiental

(EIA/RIMA), não só pela Monsanto, para o caso específico da soja RR,

mas para todos os outros pedidos de liberação de transgênicos submetidos

àquela Comissão, conforme previsto na legislação vigente; e

2. elabore normas relativas à rotulagem dos alimentos

geneticamente modificados, em obediência às determinações do Código de

Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990).

30
há qualquer vedação em relação a pesquisa e experimentos de campo.
31
Não
A União e a Monsanto recorreram da decisão. No início de

fevereiro próximo passado, o Ministério do Meio Ambiente solicitou à

Advocacia Geral da União (AGU) que requeresse, temporariamente, a

suspensão do julgamento do recurso interposto. O pleito foi acatado pelo

Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. No último dia 8 de

setembro, a 5ª Turma do TRF cassou – por dois votos contra um – liminar

favorável ao recurso da Monsanto e da União, a qual fora concedido, em

agosto, pela juíza Selene Maria de Almeida, do próprio TRF. O caso não

está encerrado, pelo menos até que a mesma 5ª Turma julgue o mérito do

recurso.

Não há, portanto, na legislação federal, qualquer vedação quanto

ao cultivo de produtos agrícolas geneticamente modificados, desde que

devidamente autorizado pelos órgãos competentes. É o que determina a Lei

nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995 (Lei de Biossegurança), que estabelece

normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação, no meio

ambiente, de organismos geneticamente modificados (OGM’s). Tanto não

há proibição, que se encontram sob exame desta Casa os Projetos de Lei do

Senado nº 216, de 1999, e nº 271, de 2000, já discutidos no tópico 5 deste

estudo.

No entanto, em flagrante descumprimento da decisão judiciais

que veda o cultivo de transgênicos, vários agricultores plantaram a cultivar

geneticamente modificada, no que contaram com a complacência das


autoridades governamentais e a omissão e a inoperância dos órgãos de

fiscalização.

Reconhecendo a existência de plantio ilegal da soja RR,

sobretudo no Rio Grande do Sul, o governo brasileiro editou a Medida

Provisória nº 113, de 26 de março de 2003, convertida na Lei nº 10.688, de

13 de junho de 2003, que estabelece normas para a comercialização da

produção de soja transgênica da safra de 2003. A lei autoriza que a safra

seja comercializada até março de 2004, inclusive no mercado interno. É

impossível não perceber aspectos contraditórios nessa decisão.

Só a safra de 2003 seria segura dos pontos de vista ambiental e de

saúde pública? E as próximas, não?

Com a edição da norma, o governo reconheceu oficialmente o

plantio ilegal da soja RR, o que poderá levar a Monsanto a pleitear a

cobrança de royalties sobre a “soja clandestina” que contenha o transgene

da empresa.

A companhia já estaria, inclusive, discutindo com o governo

brasileiro os direitos de propriedade intelectual sobre o cultivo de sementes

transgênicas no País – uma das propostas seria cobrar royalties do

exportador, que repassaria o custo ao agricultor. Recentemente, o

secretário-executivo do Ministério da Agricultura declarou que: “A

Monsanto tem colaborado muito com o governo e já abriu mão de receber


royalties da safra 2002/03. O Brasil é signatário da legislação internacional

de patentes e não pode permitir ilegalidades” 32.

É indiscutível que o Brasil deva cumprir as normas legais

relativas a patentes, mas, uma vez mais, é, no mínimo, ambígua a posição

das autoridades governamentais: excepciona-se a venda da safra

2002/2003, mantém-se a vedação de novos plantios e negocia-se a

cobrança de royalties sobre o cultivo transgênico ainda não autorizado.

Na realidade, essa decisão “aparentemente contraditória” ficou

bastante clara com a edição da MP nº 131, de 25 de setembro, que liberou,

para a safra de 2004, o cultivo de soja transgênica – que seguia proibido,

até então, por decisão da Justiça – e eximiu os agricultores do cumprimento

das formalidades legais relativas às atividades que envolvem o uso de

espécies geneticamente modificadas.

A edição da Medida Provisória nº 131 fundamentou-se na mesma

lógica da Medida Provisória nº 113, de março de 2003 (Lei nº 10.668, de

13 de junho de 2003), que permitiu a comercialização da soja transgênica

da safra de 2003, cultivada ilegalmente no País: a do fato consumado. Da

mesma forma que a anterior, a MP nº 131, que agora autoriza também o

plantio para a próxima safra, é casuísta e premia aqueles que agiram de

forma ilegal.

32
Jornal “Valor Econômico”, de 9 de maio de 2003.
Uma das razões alegadas pelas autoridades governamentais para

a adoção da MP nº 131 é a de que, como os agricultores reservaram parte

das sementes modificadas da safra atual para o plantio da safra de 2004, o

governo não teria outra forma de contornar a situação, sob pena de

agravamento da crise social nas regiões onde o fato ocorreu33. Aliás, a

mesma justificativa foi invocada para legalizar a comercialização da soja

transgênica da safra de 2003, plantada em flagrante desobediência a uma

proibição judicial.

Uma leitura mais atenta da Lei nº 10.688, de 2003, é suficiente,

no entanto, para contestar esse argumento. O disposto no art. 5º, que ora

não se aplica à safra de 2004, por força da MP nº 131, explicitava que, para

o plantio da soja da safra de 2004 e posteriores, deveriam ser observados os

termos da legislação vigente. Os sojicultores estavam cientes, portanto,

desde o último mês de março, que o plantio de novas safras de soja

transgênica estaria condicionado às obrigações previstas nas normas

ambientais pertinentes.

Em síntese, a MP nº 131, de 2003, determina que os grãos da

safra transgênica reservados pelos agricultores para uso próprio só poderão

ser plantados até 31 de dezembro de 2003. Veda a comercialização do grão

como semente, o cultivo em propriedade situada em Estado distinto

33
Exposição de Motivos nº 38, de 25 de setembro de 2003, da Casa Civil da Presidência da República.
daquele em que foi produzido e a compra de novas sementes da categoria

para o plantio34.

Tal como anteriormente previsto na Lei nº 10.668, de 2003, essa

MP proíbe o cultivo de soja geneticamente modificada para as próximas

safras, até que se cumpram os preceitos legais vigentes. Resta saber se

essas restrições serão respeitadas pelos sojicultores e exigidas pelo

Governo.

A MP nº 131, de 2003, deixa dúvidas ainda em relação à

fiscalização do plantio, do destino e da rotulagem dos produtos derivados

da soja geneticamente modificada da safra de 2004. O Ministério da

Agricultura, responsável por fiscalizar as plantações, reconhece não dispor

de fiscais em número suficiente para a tarefa e avalia que será muito difícil

proibir o plantio e a comercialização da cultivar transgênica a partir do

próximo ano. Aliás, até o momento não foram adotadas quaisquer medidas

concretas relativas à fiscalização e à rotulagem dos produtos derivados da

soja transgênica da safra de 2003, cuja comercialização foi autorizada pela

Lei nº 10.688, de 2003.

A propósito, entidades de classe ligadas ao setor do agronegócio

já estão se mobilizando para alterar a MP, em particular, no que tange ao

Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta

34
Outro estudo elaborado por esta Consultora analisa de forma mais aprofundada o alcance e as implicações da
Medida Provisória nº 131, de 25 de setembro de 2003.
(TAC), a ser obrigatoriamente firmado pelos agricultores que plantarem

seus estoques de grãos geneticamente modificados.

A insatisfação dos sojicultores com a decisão governamental em

liberar parcialmente e com ressalvas o cultivo da soja transgênica e a

disposição de burlar, uma vez mais, as normas legais ficam evidentes a

partir da posição assumida pelo Presidente da Associação Brasileira dos

Produtores de Sementes (Abrasem). Conforme publicado pela Folha de S.

Paulo em 20 de outubro, o produtor, ao criticar o texto da medida

provisória, afirmou que “a soja transgênica será plantada em todos os

Estados que produzem a cultura” e que “15 milhões das 60 milhões de

toneladas de soja estimadas para a safra 2003/2004 serão transgênicas”. A

matéria veiculada sob o título de “MP intensifica comércio de sementes

transgênicas” relata que sementeiros dos municípios gaúchos de Carazinho,

Panambi e Cruz Alta estão fornecendo sementes transgênicas para

produtores de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e

Paraná.

O embate deve acirrar-se com a decisão tomada pelo Governo do

Estado do Paraná de transformar seu território em área livre de cultivos

transgênicos, de modo a garantir, para a sua soja convencional, os

mercados internacionais já conquistados. Nesse sentido, foi aprovada, em

outubro deste ano, lei estadual que proíbe, até 31 de dezembro de 2006, o
cultivo, a comercialização e a importação de transgênicos. A lei veda,

inclusive, o trânsito dessa categoria de produto pelo porto de Paranaguá.

Relativamente à forma como o Governo Federal vem

posicionando-se frente ao tema, não nos parece que as recentes decisões

tenham sido pautadas por critérios exclusivamente técnicos e científicos.

Aliás, ainda não foi enviado ao Congresso Nacional o projeto de lei

prometido à época da edição da MP nº 113, em março deste ano, com a

finalidade de estabelecer um novo regime jurídico para as atividades

relacionadas a organismos geneticamente modificados.

Já se passaram oito meses e seu encaminhamento, adiado mais

uma vez.

A edição da MP nº 131, de 2003, após conflitos e sérias

divergências que evidenciaram a divisão do governo em relação à matéria,

vem provocando também forte reação contrária de diversos segmentos da

sociedade, inclusive por parte de associações de classe de juízes e membros

do Ministério Público.

Apesar de o Governo Federal estar convicto da plena juridicidade

da medida provisória, ela está sendo questionada no Supremo Tribunal

Federal (STF). Até o momento, o Partido Verde, a Confederação Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Procurador-Geral da

República já ajuizaram Ações Diretas de Inconstitucionalidade, com pedido


de liminar, para suspender os efeitos da MP nº 131, de 2003 (ADINs 3011,

3014 e 3017, respectivamente).

Por fim, outra recente controvérsia relaciona-se ao uso do

glifosato, na modalidade de aplicação pós-emergência, na cultura de soja

transgênica Roundup Ready – cuja característica é exatamente ser tolerante,

após sua eclosão, a esse tipo de herbicida. O pedido de autorização, feito

em caráter emergencial pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento ao Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos

(CTA) – composto por representantes dos Ministérios do Meio Ambiente,

da Saúde e da Agricultura –, foi indeferido em reunião realizada no último

dia 9 de outubro. O CTA avaliou que, para essa modalidade de aplicação

do agrotóxico, não existem dados suficientes, relativos ao limite máximo

de resíduo do herbicida aceitável nos grãos, que garanta a segurança dos

consumidores.

Enquanto não for concedida essa autorização, o agricultor que

usar o herbicida na pós-emergência da soja estará sujeito às sanções

previstas na Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que normatiza, entre

outros aspectos, o registro, a classificação, a utilização e a fiscalização de

agrotóxicos.
9. EXIGÊNCIA DE ESTUDOS NACIONAIS .

Por ser o Brasil rico em biodiversidade, o impacto do uso de

sementes transgênicas não pode ser avaliado apenas com base em estudos

internacionais – feitos principalmente nos Estados Unidos (EUA) e

Canadá, onde há baixa diversidade biológica –, como tem sido a tônica até

o momento.

É imprescindível, portanto, realizar estudos locais, sobretudo no

que se refere aos riscos para o meio ambiente. Estudos e pesquisas feitos

nos EUA não se aplicam necessariamente a outros países, com

características ambientais e socioeconômicas diversas. Não há como

sustentar o argumento comumente empregado de que “se os Estados


Unidos já aprovaram (....)”. As condições ambientais existentes no Brasil –

país tropical – são totalmente diferentes daquelas observadas em países de

clima temperado, como é o caso dos EUA. Não é possível, portanto, aceitar

como verdade absoluta, para a realidade brasileira, estudos conduzidos

naquele país.

A esse respeito, bastante oportuna é a declaração do atual

Presidente da Embrapa, veiculada pela Folha de S. Paulo no último dia 12

de outubro, que vem ao encontro da tese acima defendida. Segundo o

pesquisador, “há muitos dados, inclusive do exterior. São nesses dados que

os pesquisadores da Embrapa têm se baseado para se posicionar” e

“precisamos de informações mais direcionadas às nossas condições, até

porque o país é extremamente heterogêneo e tem uma diversidade muito

grande em termos de recursos naturais” 35.

São necessários não só estudos relativos aos impactos da

tecnologia sobre o meio ambiente e a saúde humana, mas também sobre: a

questão de mercado; os aspectos relacionados à redução, ou não, do uso de

agrotóxicos nos cultivos modificados; os impactos socioeconômicos, como,

por exemplo, a situação dos pequenos agricultores em face dessa nova

tecnologia, a dependência em relação aos insumos (pacote semente-

35
A Embrapa, órgão subordinado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mantém acordos, desde
1997, com a Monsanto, e nos últimos anos desenvolveu soja transgênica a partir de genes cujos direitos de patente
pertencem à multinacional.
herbicida) e o monopólio das empresas sementeiras; a pressão para o

patenteamento dos seres vivos; o acesso e uso dos recursos genéticos, dada

a imensa e cobiçada biodiversidade brasileira. São pontos que requerem

uma reflexão mais aprofundada.

10. ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO E DA

COMISSÃO TÉCNICA NACIONAL DE

BIOSSEGURANÇA

É notória a reduzida capacidade operacional dos órgãos de

fiscalização dos Ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento – que detêm competência legal para garantir a

segurança necessária à liberação de OGM’s no meio ambiente e à

comercialização de alimentos transgênicos.

Não obstante a plantação e a comercialização da soja transgênica

terem sido proibidas por imposição da Justiça há muito tempo denúncias já

vinham apontando o cultivo ilegal do grão modificado, sobretudo no Rio


Grande do Sul, sem que os órgãos de fiscalização competentes tivessem

tomado qualquer providência. Conforme declarou o ministro da Agricultura

ao jornal O Estado de São Paulo, edição de 19 de fevereiro de 2003, apesar

de inexistir estatística oficial a respeito do volume de soja plantada

ilegalmente, estima-se que cerca de 8% do total da safra nacional deste ano

seja da variedade transgênica, o que equivaleria a uma receita de mais de

R$ 1 bilhão. Esse fato levou o governo federal a editar a Medida Provisória

nº 113, de 26 de março de 2003, posteriormente convertida na Lei nº

10.688, de 13 de junho de 2003, e a MP nº 131, de 25 de setembro de 2003,

às quais fizemos referência em tópico anterior.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e a organização

não-governamental Greenpeace denunciaram, por diversas vezes, a

presença, nas prateleiras dos supermercados, de produtos, nacionais e

importados, nos quais teriam sido identificados componentes transgênicos

(soja ou milho). Mais uma vez a fiscalização, a cargo do Ministério da

Saúde, foi muito tímida.

Existem deficiências, portanto, em todos os órgãos de

fiscalização. Há carência de recursos humanos e de estrutura até mesmo

para o acompanhamento e a fiscalização dos plantios experimentais já

autorizados pela CTNBio, conforme reconhecem os próprios técnicos do

Ministério da Agricultura. A propósito, desde sua implantação, a Comissão

já autorizou aproximadamente mil liberações controladas, envolvendo soja,


milho, arroz, algodão, cana-de-açúcar, fumo e batata – implantadas em

diversas áreas do País.

É justo reconhecer que esse campo de ação exige infra-estrutura

de alta tecnologia e recursos humanos especializados – que não têm sido

efetivamente assegurados pelas autoridades competentes – para que se

possa garantir a liberação dos cultivos geneticamente modificados e a

comercialização de alimentos transgênicos, sem colocar em risco a saúde

do consumidor e a integridade do meio ambiente.

No que se refere à atuação e à credibilidade da CTNBio, outro

ponto, questionado de longa data, além daqueles já discutidos no tópico 7

deste estudo, diz respeito à sua composição. Um dos aspectos observados é

que a Comissão deveria contar, entre seus membros, de notório saber, com

cientistas de várias áreas de conhecimento, e não somente “biotecnólogos”.

Como alertam muitos especialistas, a biossegurança não deve ser

examinada só pelo ângulo da biotecnologia, e a excessiva concentração de

cientistas ligados a essa área poderia levar a uma situação indesejável – a

troca de favores entre as partes envolvidas: avaliadores e interessados no

pleito.

Aliás, é no mínimo estranho que a CTNBio tenha autorizado

experimentos de campo com área de sessenta hectares e mais, como

ocorrido. E que esses ensaios autorizados o tenham sido para a Monsanto,

enquanto que “as áreas experimentais para as demais empresas e para as


instituições públicas são significativamente menores, dentro dos padrões

aceitáveis pelo bom senso e, salvo melhor juízo, pela práxis científica” 36.

Não há “razões científicas que amparem a necessidade de áreas de tal

dimensão para a condução de ensaios experimentais”. Essas conclusões

constam do relatório final apresentado pelo Deputado Federal Ronaldo

Vasconcellos à Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) nº 34, de 2000

(que “propõe que a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e

Minorias fiscalize os procedimentos adotados pelo Poder Executivo para

autorizar a liberação de plantas agrícolas transgênicas no País”), aprovado

em 7 de maio de 2003.

Consoante o mencionado relatório, “não se afasta possibilidade

de que referidos ensaios fizessem parte da estratégia da empresa

(Monsanto) de implantar campos de multiplicação de sementes

‘disfarçados’ de ensaios”. Ainda, esses campos “estariam, assim, atendendo

à necessidade de obter rapidamente um estoque de sementes suficiente para

alavancar os plantios comerciais, após a liberação oficial de cultivar. Mas

podem estar, também, na raiz da disseminação de sementes transgênicas

nas lavouras clandestinas nos campos brasileiros”.

O documento aponta, além disso, que a CTNBio concedeu à

Monsanto autorização para o plantio de 110 ha de soja transgênica

(Comunicado nº 43, de 30 de junho de 1998), na qual está explícito “que se

36
Observe-se que os ensaios referidos foram autorizados antes da liberação comercial, pela CTNBio, da soja
tratava de campo com o objetivo de ‘produção de sementes de cultivares e

linhagens de soja Roundup Ready’ (...) sendo, posteriormente, destinadas

às áreas de produção” 37 e que “grosso modo, esses 110 ha autorizados terão

produzido algo como 200 toneladas de sementes”. Conclui o relatório: “Já

era ‘carta marcada’, em junho (1998), que a soja seria liberada (como o foi,

em outubro [1998])?”.

Outro aspecto polêmico refere-se ao fato de que a CTNBio

autorizou, sem qualquer amparo legal, a implantação de lavouras

demonstrativas de soja e milho transgênicos em campos experimentais, em

exposições agropecuárias e em propriedades particulares, com a finalidade

de “mostrar aos produtores a nova tecnologia” 38. Registre-se que muitas

dessas autorizações foram emitidas antes da aprovação para plantio

comercial da soja RR, e que até hoje não houve qualquer deliberação por

parte da Comissão quanto ao cultivo comercial do milho geneticamente

modificado. Mais uma vez, cabe indagar: essas lavouras não seriam

campos de multiplicação de sementes? Ou, ainda, uma forma de pressão: a

teoria do fato consumado? Esse procedimento, contudo, já não estaria

transgênica.
37
Recorde-se que à época a cultivar ainda não havia sido liberada pela CTNBio.

38
Estudo elaborado em 1999 por José Cordeiro de Araújo, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados –
“Produtos Transgênicos na Agricultura” – mostrava que até 18 de março de 1999, a CTNBio autorizou a implantação
de 432 lavouras demonstrativas de milho.
sendo mais adotado, desde fevereiro de 1999, conforme comunicado da

própria CTNBio 39.

11. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

NO ÂMBITO INTERNACIONAL

11.1 Países que cultivam ou comercializam OGM’s

Os Estados Unidos comercializam alimentos transgênicos desde

a década de 1990. O primeiro produto que chegou aos supermercados

americanos foi o tomate longa vida (tomate FLAVR-SAVR). O Canadá é

outro país que liberou, produz e defende a liberação de OGM’s.

A Argentina também liberou, há cerca de sete anos, a produção e

a comercialização dos transgênicos. A Argentina, os EUA e o Canadá são

os maiores produtores de soja transgênica.

Dados do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de

Agrobiotecnologia (International Service for the Acquisition of Agribiotech

Applications – ISSAA), ligado às indústrias norte-americanas, indicam que,

39
Relatório final relativo à PFC nº 34, de 2000, da Câmara dos Deputados.
em 2002, a área mundial cultivada com transgênicos estaria ao redor de 58

milhões de hectares. Os quatro principais plantadores – responsáveis por

99% da área global de lavouras transgênicas – seriam os EUA, com 66% da

área total, seguidos pela Argentina (23%), Canadá (6%) e China (4%).

Os principais cultivos seriam, por ordem decrescente, a soja, o

milho, o algodão e a canola 40.

Ainda segundo a mesma fonte, outros países também já estariam

plantando transgênicos e seriam os responsáveis pelo 1% restante dos

cultivos geneticamente modificados: Austrália, África do Sul, Índia,

Romênia, México e Uruguai, entre outros.

Destacamos que a relação dos países que cultivam e

comercializam produtos transgênicos, aqui apresentada, teve por objetivo

traçar, de forma exemplificativa, um panorama do comércio mundial das

culturas geneticamente modificadas. Não se pretendeu realizar um

levantamento exaustivo a respeito da questão.

11.2 Regulamentação: União Européia e Estados Unidos

11.2.1 União Européia

Ao mesmo tempo em que muitos países vêm liberando

comercialmente os cultivos transgênicos, a União Européia apresenta

restrições e atitude de cautela em relação ao plantio e ao consumo desses

40
JAMES, C. Global Review of Commercialized Transgene Crops. 2002 (www. issaa.org)
produtos, priorizando a compra de grãos convencionais, em detrimento dos

geneticamente alterados.

A legislação comunitária vem estabelecendo, desde o início da

década de 1990, normas rígidas relativas à regulação de organismos

geneticamente modificados (OGM’s), permanentemente atualizadas ao

longo dos últimos anos.

No presente, o principal instrumento legislativo é a Diretiva

2001/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho da União Européia, de

12 de março de 2001, relativa à liberação deliberada41 de OGM’s no meio

ambiente. A norma aperfeiçoou e revogou a Diretiva 90/220/CEE do

Conselho, de 23 de abril de 1990, e tem efeito a partir de 17 de outubro de

2002.

Em conformidade com o princípio da precaução, a mencionada

diretriz tem por objetivo a proteção do ambiente e da saúde humana, como

também a aproximação das disposições legislativas, regulamentares e

administrativas dos Estados-Membros – os quais teriam prazo até outubro

de 2002 para incorporar às respectivas normas nacionais as obrigações

instituídas pela Diretiva 2001/18/CE.

A diretiva em tela estabelece os critérios e procedimentos a

serem observados para a liberação de OGM’s – seja com propósito

41
Liberação deliberada no ambiente inclui experimentos de campo e comercialização.
comercial seja com outras finalidades42, inclusive de pesquisa – e cobre

todos os tipos de organismos geneticamente modificados: plantas, animais

e microorganismos.

Destacamos algumas das principais obrigações impostas pela

Diretiva 2001/18/CE:

– avaliação caso a caso dos possíveis riscos ambientais e à saúde humana,

preliminarmente à liberação de OGM’s;

– estabelecimento de procedimentos e critérios harmonizados para a

avaliação caso a caso dos riscos potenciais resultantes da liberação;

– realização prévia de experimentos de campo, nas fases de investigação e

desenvolvimento, em ecossistemas que possam ser afetados pela utilização

de OGM’s;

– respeito aos requisitos do Protocolo de Cartagena43 relativo à segurança

biológica, anexado à Convenção sobre Diversidade Biológica;

– garantia da rastreabilidade dos produtos que contenham ou sejam

constituídos por OGM’s, em todas as fases da sua colocação no mercado;

– rotulagem obrigatória para os produtos geneticamente modificados

comercializados no âmbito da Comunidade Européia;

42
Experimentos de campo, uso de microorganismos geneticamente modificados para processos de biorremediação
(tecnologia de utilização de microorganismos na recuperação de áreas contaminadas).

43
O Protocolo de Cartagena (ou Protocolo de Biossegurança), assinado sob a égide da Convenção sobre Diversidade
Biológica, regula o movimento transfronteiriço de OGM’s.
– adoção de plano de monitoramento com a finalidade de detectar e

identificar efeitos imprevistos sobre a saúde humana e o ambiente,

resultantes da liberação de produtos que contenham ou sejam constituídos

por OGM’s.

Com base na Diretiva 90/220/CEE, a União Européia concedeu

dezoito autorizações relativas à liberação deliberada de OGM’s, as quais

deverão ser revistas à luz das novas exigências introduzidas pela Diretiva

2001/18/CE.

Não obstante as autorizações concedidas, os consumidores

europeus se recusaram a aceitar alimentos geneticamente modificados – e

continuam opondo-se a eles –, o que levou vários Estados-Membros a

invocar o artigo 16 da Diretiva 90/220/CEE, que permite limitar ou

interditar, temporariamente, a colocação no mercado de produtos

geneticamente modificados. Essa atitude tem funcionado, na prática, como

uma “moratória”, dado que nenhum outro alimento que contenha ou seja

constituído por OGM’s foi autorizado, pela União Européia, após outubro

de 1998. Entre os países que invocaram a cláusula de salvaguarda estão a

França, a Alemanha e o Reino Unido.

A União Européia também reconhece o direito do consumidor à

informação, com a rotulagem permitindo ao cidadão, devidamente

informado, escolher se deseja ou não consumir produtos geneticamente

modificados.
Apesar desse entendimento, muitos dos produtos geneticamente

modificados não se enquadram, atualmente, nas normas específicas de

rotulagem existentes (Regulamentos CE 258/97, art. 8º, CE 1.139/98, CE

49/2000, e CE 50/2000)44. Essa situação deverá, em breve, ser alterada,

uma vez que exigências suplementares, relativas à rotulagem e à

rastreabilidade de alimentos geneticamente modificados, estão sendo

discutidas pelo Conselho da União Européia.

Nos termos da legislação vigente, a rotulagem é obrigatória para

os produtos que contenham, no mínimo, 1% de ingredientes transgênicos,

percentagem que está sendo revista. A rotulagem não se aplica, no entanto,

aos alimentos produzidos a partir de OGM’s, mas que não apresentem

traços de DNA (ácido desoxirribonucléico45) ou de proteínas derivadas de

OGM – como é o caso, por exemplo, do óleo de soja ou de milho altamente

refinado e obtido a partir de soja e milho geneticamente modificados.

Pela nova proposta legislativa em exame, será obrigatória a

rotulagem para todos os gêneros alimentícios produzidos a partir de

OGM’s, independentemente de o produto final conter ou não DNA ou

proteínas derivadas de organismo geneticamente modificado. Não só os

mencionados óleos de soja e milho seriam etiquetados, como também, por

44
A íntegra das diretivas citadas neste estudo está disponível na página da União Européia
(http://www.europa.eu.int/comm/food/fs/gmo/gmo_legi). Acesso em maio de 2003.
45
ADN (DNA, na sigla em inglês) é a substância química constituinte dos genes – material hereditário.
exemplo, biscoitos fabricados com óleo de milho produzido com milho

transgênico.

Outra inovação diz respeito à exigência da rotulagem de todos os

alimentos geneticamente modificados destinados à alimentação animal.

Em resumo, a Diretiva 2001/18/CE, associada a uma

regulamentação mais severa a respeito de rotulagem e rastreabilidade de

alimentos transgênicos, pretende reverter o quadro de repúdio ao consumo

de alimentos geneticamente modificados – hoje presente em grande parte

dos países europeus – e conquistar a confiança dos consumidores nos

produtos autorizados, tarefa que não será de todo fácil.

11.2.2 Estados Unidos

Nos Estados Unidos (EUA), a segurança dos produtos

geneticamente modificados é avaliada, a partir de um conjunto de normas,

critérios e procedimentos específicos, por diversas instituições: a

Administração de Alimentos e Drogas (Food and Drug Administration –

FDA); o Departamento de Agricultura46 (United States Department of

Agriculture – USDA); a Agência de Proteção ao Meio Ambiente

(Environmental Protection Agency – EPA); e o Instituto Nacional de Saúde

(National Institute of Health – NIH). Nem todas as entidades manifestam-

se sobre todos os tipos de OGM. Por exemplo, organismos geneticamente

modificados não relacionados a doenças de plantas, ainda que vinculados


ao setor agrícola, não são avaliados pela USDA. No caso da soja americana

geneticamente modificada, a autorização coube à FDA.

Os alimentos transgênicos liberados no mercado norte-americano

foram autorizados com base no princípio da “equivalência substancial” 47.

No caso da soja, a FDA considerou o produto transgênico “equivalente” ao

convencional, no que diz respeito à cor, textura, composição nutricional e

teor de óleo, entre outras características, e aprovou sua comercialização.

As normas americanas não exigem a segregação e a rotulagem de

produtos alimentícios geneticamente modificados, uma vez que a FDA

adota o critério da “equivalência substancial” entre o alimento

geneticamente modificado e o convencional.

A rotulagem dos alimentos geneticamente modificados começa,

no entanto, a ser questionada pelos consumidores norte-americanos.

Pesquisas de opinião em curso nos EUA vêm indicando que grande parte

da população americana quer que esses alimentos sejam etiquetados.

12. CONCLUSÃO

46
Órgão equivalente ao Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária do Brasil.
47
Esse conceito tem sido alvo de críticas. Para muitos especialistas, seria um critério útil à indústria, mas inaceitável
do ponto de vista do consumidor e da saúde pública. A rigor, em termos de genoma (conjunto de genes) a variedade
modificada não é igual nem equivalente à convencional. Na verdade, um novo gene (transgene) foi introduzido, com
implicações que não seriam ainda de todo conhecidas.
Devemos expor que os três maiores países produtores de soja,

Estados Unidos, Brasil e Argentina, respectivamente, são responsáveis por

80% da produção mundial e 90% do comércio de sementes. Enquanto o

Brasil é o único entre estes que tem plantações, de acordo com dados

oficiais, somente de não-transgênicos, os Estados Unidos produzem cerca

de 70% de soja Geneticamente Modificada e a Argentina,

aproximadamente, 90%.

Se existe uma grande resistência mundial sobre os transgênicos,

não entendemos o motivo real do Governo do Partido dos Trabalhadores

em editar a Medida Provisória 131 que liberou o plantio e comercialização

da produção de soja transgênica da safra de 2004. Pois, além da

necessidade de uma grande estrutura logística de produção, transporte e

armazenagem para separar a soja transgênica da convencional, o nosso

Governo deveria analisar que os maiores beneficiários com a sua decisão

são apenas os Estados Unidos que poderão ditar o mercado internacional

dos produtos transgênicos.

Portanto, somente resta ao nosso Poder Judiciário, com a sua

total independência analisar a questão e a aplicação efetiva da lei e o

respeito à Constituição, principalmente contra a Medida Provisória 131 que

liberou o plantio de organismos geneticamente modificados sem o estudo

prévio de impacto ambiental para proteger a coletividade e o meio


ambiente, conforme prevê o artigo 225 da Constituição Federal. E

finalmente, para fazer valer o direito do consumidor brasileiro de proteção

frente aos riscos para sua saúde e sua segurança, para a proteção dos

interesses econômicos e ao acesso de uma informação adequada sobre a

utilização e o consumo dos produtos transgênicos.

13. BIBLIOGRAFIA
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23/11/03

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GÖRGEN, Frei Sergio Antonio, ofm; et. al. Risco dos Transgênicos. -

Petrópolis: Vozes, 2000.

GREENPEACE on GMOs. Disponível em :

<http://www.greenpeace.org/. Acesso em 20 jan. 2004.


http://www1.jus.com.br.

http://www.pt-rs.org.br.

Jornal Folha de São Paulo.

Jornal Gazeta Mercantil.

KLETT, Manfred.O Homem Vem a Ser o que Come? O significado da

Agricultura Biodinâmica para a alimentação do ser humano.

Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica. 1999 e Anais

da IV Conferência Brasileira de Agricultura Biodinâmica,

Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, 2001.

LAJOLO, Franco Maria; NUTT, Marília Regini. Transgênicos: Bases

Científicas da sua Segurança. - São Paulo: SBAN, 2003.

Processo Administrativo n.° 01200.002995/99-54 – pedido de liberação do

milho transgênico da Empresa Monsanto.

RODRIGUES, Maria Rafaela Junqueira Bruno. Biodireito: Alimentos

Transgênicos. – São Paulo: Lemos e Cruz, 2002

Revista Consultor Jurídico, 22 de novembro de 2003.

TENNER, Edward. Tradução: Ronaldo Sérgio de Biasi. A vingança da

tecnologia. As irônicas consequências das inovações mecânicas, químicas,

biológicas e medicas. Rio de Janeiro : Campus, 1997.


14. ANEXOS
Anexo 1:

Decreto nº 4.680, de 24.04.2003


Regulamenta o direito à informação, assegurado
pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
quanto aos alimentos e ingredientes alimentares
destinados ao consumo humano ou animal que
contenham ou sejam produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, sem
prejuízo do cumprimento das demais normas
aplicáveis.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que
lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o Este Decreto regulamenta o direito à informação,
assegurado pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao
consumo humano ou animal que contenham ou sejam
produzidos a partir de organismos geneticamente modificados,
sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis.
Art. 2o Na comercialização de alimentos e ingredientes
alimentares destinados ao consumo humano ou animal que
contenham ou sejam produzidos a partir de organismos
geneticamente modificados, com presença acima do limite de
um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado
da natureza transgênica desse produto.
§ 1o Tanto nos produtos embalados como nos vendidos a
granel ou in natura, o rótulo da embalagem ou do recipiente
em que estão contidos deverá constar, em destaque, no painel
principal e em conjunto com o símbolo a ser definido
mediante ato do Ministério da Justiça, uma das seguintes
expressões, dependendo do caso: "(nome do produto)
transgênico", "contém (nome do ingrediente ou ingredientes)
transgênico(s)" ou "produto produzido a partir de (nome do
produto) transgênico".
§ 2o O consumidor deverá ser informado sobre a espécie
doadora do gene no local reservado para a identificação dos
ingredientes.
§ 3o A informação determinada no § 1o deste artigo também
deverá constar do documento fiscal, de modo que essa
informação acompanhe o produto ou ingrediente em todas as
etapas da cadeia produtiva.
§ 4o O percentual referido no caput poderá ser reduzido por
decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança -
CTNBio.
Art. 3o Os alimentos e ingredientes produzidos a partir de
animais alimentados com ração contendo ingredientes
transgênicos deverão trazer no painel principal, em tamanho e
destaque previstos no art. 2o, a seguinte expressão: "(nome do
animal) alimentado com ração contendo ingrediente
transgênico" ou "(nome do ingrediente) produzido a partir de
animal alimentado com ração contendo ingrediente
transgênico".
Art. 4o Aos alimentos e ingredientes alimentares que não
contenham nem sejam produzidos a partir de organismos
geneticamente modificados será facultada a rotulagem "(nome
do produto ou ingrediente) livre de transgênicos", desde que
tenham similares transgênicos no mercado brasileiro.
Art. 5o As disposições dos §§ 1o, 2o e 3o do art. 2o e do art. 3o
deste Decreto não se aplicam à comercialização de alimentos
destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou
tenham sido produzidos a partir de soja da safra colhida em
2003.
§ 1o As expressões "pode conter soja transgênica" e "pode
conter ingrediente produzido a partir de soja transgênica"
deverão, conforme o caso, constar do rótulo, bem como da
documentação fiscal, dos produtos a que se refere o caput,
independentemente do percentual da presença de soja
transgênica, exceto se:
I - a soja ou o ingrediente a partir dela produzido seja oriundo
de região excluída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento do regime de que trata a Medida Provisória no
113, de 26 de março de 2003, de conformidade com o
disposto no § 5o do seu art. 1o; ou
II - a soja ou o ingrediente a partir dela produzido seja oriundo
de produtores que obtenham o certificado de que trata o art. 4o
da Medida Provisória no 113, de 2003, devendo, nesse caso,
ser aplicadas as disposições do art. 4o deste Decreto.
§ 2o A informação referida no § 1o pode ser inserida por meio
de adesivos ou qualquer forma de impressão.
§ 3o Os alimentos a que se refere o caput poderão ser
comercializados após 31 de janeiro de 2004, desde que a soja a
partir da qual foram produzidos tenha sido alienada pelo
produtor até essa data.
Art. 6o À infração ao disposto neste Decreto aplica-se as
penalidades previstas no Código de Defesa do Consumidor e
demais normas aplicáveis.
Art. 7o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 8o Revoga-se o Decreto no 3.871, de 18 de julho de
2001.
Brasília, 24 de abril de 2003; 182o da Independência e 115o da
República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Márcio Thomaz Bastos
José Amauri Dimarzio
Humberto Sérgio Costa Lima
Luiz Fernando Furlan
Roberto Átila Amaral Vieira
Maria Silva
Miguel Soldatelli Rossetto
José Dirceu de Oliveira e Silva
José Graziano da Silva
Publicado no D.O.U. de 25.04.2003, Seção I, pág. 2.
Republicado no D.O.U. de 28.04.2003, Seção I, pág. 1.

Anexo 2:

L i vr es de t r an s gên i cos P odem con t er t r an s gên i cos

AL I ME N T O I N F AN T I L
Colheita es pecial
Ar i s co Amido de milho Ger ber ( N ovar t i s )
papinha
B ar at ei r o Amido de milho Qu aker Mingau de milho
B ig Amido de milho
Mingau de milho
Car r ef ou r Amido de milho
Cr em ogem a
Mingau tr adicional
( U n i l ever )
Milho ver de
E xt r a Amido de milho
Jos apar S upr a s oy (todos os tipos )
Mai z en a
Amido de milho
( U n i l ever )
Ar r ozina mingau
N es t l é S opinhas c/ pedaços
Papinhas c/ pedaços
Papinhas cr emos as
S opinhas cr emos as
Cer eal par a alimentação
infantil
Ninho cr es cimento
Nes togeno
Nan
P ão de
Amido de milho
Açú car
S u ppor t Aptamil (todos os tipos )
F AR I N H AS E GR ÃOS
Mãe T er r a
Mai s Vi t a
pr odu t os S oj a em gr ãos Ex tr ato de s oj a
pr odu t os n at u r ai s
n at u r ai s
Ex tr ato de s oj a Pr oteína tex tur izada
Pr oteína tex tur izada de s oj a S oj a em gr ãos
S algadinho de s oj a Fibr a de s oj a
Flocos de milho D af ap' s Far inha de milho
Far inha de s oj a Fubá
Ar o ( Makr o) Far inha de milho Far ofa pr onta
B ar at ei r o Far inha de milho H i kar i Far ofa pr onta
Canj ica Milho de pipoca
Milho de pipoca Fubá
Far ofa pr onta S êmola de milho
B ig Canj ica Far inha de milho
Mis tur a p/ pão de
Far inha de milho
queij o
Milho de pipoca Qu aker Milhar ina
Polenta ins tantânea Polentina
Car r ef ou r Milho de pipoca
Fubá
Flocos de milho pr é- cozidos
Ch am pi on Milho de pipoca
E xt r a Far inha de milho
Canj ica
Milho de pipoca
Far ofa pr onta
Y oki Polenta pr onta
K imilho
K ipolenta
S êmola de milho
Far inha de milho
Fubá
Far ofa pr onta
Canj ica
Mis tur a p/ bolo
Cur au de milho
Mis tur a p/ pão de queij o
ÓL E OS
Ar o ( Makr o) Óleo de s oj a Cam pes t r e Óleo de s oj a
B ar at ei r o Óleo de s oj a L i z a ( Car gi l l) Óleo de s oj a
B ig Óleo de s oj a Óleo de milho
Car r ef ou r Óleo de s oj a S al ada ( B u n ge) Óleo de milho
Óleo de milho S oya ( B u n ge) Óleo de s oj a
Ch am pi on Óleo de s oj a
Óleo de milho
E xt r a Óleo de s oj a
L eve
Óleo de s oj a
( I MCOP A)
Maz ol a
Óleo de milho
( U n i l ever )
S adi a Óleo de s oj a
E N L AT AD OS
An gl o ( B F ) Almôndegas ao molho
Car ne bovina em cons er va
Fiambr e de car ne bovina
Patês (todos os s abor es )
S als ichas
B ar at ei r o Milho ver de
B on du el l e B r oto de s oj a
B or don ( B F ) Almôndegas ao molho
Car ne bovina em cons er va
Fiambr e de car ne bovina
S als ichas
E xt r a Milho ver de
S u per bom Car ne vegetal
B ife vegetal
S als icha vegetal
S w if t ( B F ) Almôndegas ao molho
K ibife de boi
Viandada car ne cozida
Patê de galinha/car ne/fígado
S als ichas
MOL H OS E CON D I ME N T OS
Ar i s co S azon (todos os
T ar antella molho Aj i n om ot o
( U n i l ever ) s abor es )
Molho pr onto (todos os
Hondas hi temper o
s abor es )
Maiones e Caldo de car ne/galinha
Molho de tomate (todos
Mos tar da Ci r i o
os tipos )
T emper o es pecial E t t i ( P ar m al at ) S als ar etti molho
Caldo de galinha/car ne Mos tar da
Molho de tomate (todos os
Ar o ( Makr o) Molho de s oj a
tipos )
Mos tar da H i kar i Molho de s oj a
Molho de s oj a Mos tar da
L i n gu an ot t o
Molho inglês Pas ta p/ tor r adas
( E F F E M)
Maiones e Óleo de alho
Molho de tomate (todos
B ar at ei r o Molho inglês P ar m al at
os tipos )
Molho de s oj a Molhos pr ontos
Caldo de car ne/ Molho de tomate (todos
P ei x e ( Ci r i o)
galinha/bacon/legumes os tipos )
Molho de tomate (todos os
Molho inglês
tipos )
B ig Maiones e Mos tar da
Molho de tomate (todos os
S an t i s t a ( B u n ge) Maionegg´ s
tipos )
U n cl e B en ' s Molho pr onto (todos os
Molho de s oj a
( E F F E M) s abor es )
Molho de pimenta Molho par a s alada
Molho de tomate (todos os
Car r ef ou r Vi gor Maiones e
tipos )
Maiones e
Molho de s oj a
T emper o completo
Caldo de car ne/
galinha/bacon/legumes
Cer ej a Molho de s oj a
Mis s o mas s a de s oj a
Molho de tomate (todos os
Ch am pi on
tipos )
Maiones e
Molho de s oj a
T emper o completo
Caldo de car ne/
galinha/bacon/legumes
CI CA
Pomar ola molho
( U n i l ever )
Maiones e
Mos tar da
Molho de tomate (todos os
tipos )
E xt r a Molho inglês
Molho de s oj a
Caldo de car ne/
bacon/legumes /galinha
Molho de tomate (todos os
tipos )
Goodl i gh t Molho italiano
H el l m an ' s
Maiones e (todos os s abor es )
( U n i l ever )
Mos tar da
Molho p/ s alada
K n or r Molho de tomate (todos os
( U n i l ever ) tipos )
Molho pr onto (todos os
s abor es )
B r as ileir inho temper o
Refoga temper o
Caldo de car ne/ galinha/peix e
Caldo de bacon/legumes
Mãe T er r a
pr odu t os Mis s o mas s a de s oj a
n at u r ai s
Molho de s oj a
Maggi
Delícias de fr ango
( N es t l é)
Gr ill temper o
Fondor
S abor e temper o
Caldo de
bacon/legumes /camar ão
Caldo de car ne/galinha
T omagic temper o
Molho em pó (todos os
s abor es )
S aku r a Mis s o mas s a de s oj a

Molho de s oj a

S OP AS E P R AT OS P R ON T OS
Ar i s co
S opas H em m er Cr emes
( U n i l ever )
Lámen macar r ão ins tantâneo S opas
Canj ão
S opão
B ig Canj ão
S opão
Cam i l qu as e
Ar r oz Caipir a
pr on t o
Ci r i o Ris oto Pr imaver a
S opas
Caldos
Goodl i gh t Caldos
S opas
Gr eat Val u e S opa Ex pr es s
K n or r
S opão
( U n i l ever )
Canj ão
S opas
Vir ado de feij ão
Rizi s abor es
B r as ileir inho feij ão
T r attor ia pas tas
Maggi
S opão
( N es t l é)
Canj ão
Canj a de galinha
S opas
Rango feij ão
Pr atos r is otos e pas tas
Lámen macar r ão ins tantâneo
Hot Pot - macar r ão
ins tantâneo
Nis s in Cupnoodles
Macar r ão ins tantâneo
Macar r onada ins tantânea
S paghetti ins tantâneo
Qu al i m ax S opa Ex pr es s
S aku r a Mis s os hir o
S an avi t a S opas
S OB R E ME S AS
Ar o ( Makr o) Mis tur a p/ pudim Oet ker Mis tur a p/ pudim/flan
Mis tur a p/ cur au de milho Mis tur a p/ mous s e
B ig Mis tur a p/bolo Mis tur a p/ s or vete
D u côco Mis tur a p/ s obr emes a Mis tur a p/ chantilly
Goodl i gh t Mis tur a p/ bolo Mis tur a p/ bolo
Mis tur a p/pudim H i kar i Mis tur a p/ bolo
K ar o
Cober tur a Qu aker Mis tur a p/ bolo
( U n i l ever )
Mai z en a
Mis tur a p/ bolo R oyal ( K r af t ) Mis tur a p/ pudim
( U n i l ever )
N es t l é Mis tur a p/ pudim S ol ( S an t i s t a) Mis tur a p/ bolo
MAT I N AI S E CE R E AI S
Ar i s co
Mágico achocolatado B r i s t ol e Meyer s Pr o S obee
( U n i l ever )
Ar o ( Makr o) Achocolatado em pó S us tagem
Cer eal matinal (todos
B ar at ei r o Achocolatado K el l og' s
os tipos )
Capuccinos Mococa Nutr iton mingau
Cer eal matinal (todos os
Moc achocolatado
tipos )
Cer eal matinal (todos os
B ig N u t r i f oods Cer ealon mingau
tipos )
Car r ef ou r Cor nflakes Cor n flakes
D u côco Achocolatado em pó N u t r i l at i n a Diet s hake
Ovom al t i n e
E xt r a Achocolatado Achocolatado
( N ovar t i s )
Capuccinos Qu aker T oddy achocolatado
Cer eal matinal (todos os Choco Milk
tipos ) achocolatado
Cer eal matinal (todos os
U n i t ed Mi l l s Chocolate em pó
tipos )
Fitnes s & Diet bar r a de
cer eais
T r io B ar r a de cer eais
Fibr a total light bar r a de
cer eais
N es t l é Nes quik achocolatado
Nes cau achocolatado
Mucilon de milho
Nes ton bar r a de cer eias
Cer eal matinal (todos os
tipos )
Nutr en
N u t r i m en t al Nutr i bar r a de cer eais
Ol vebr a Cer eal Diet S hake
S oy Milke
P ão de
Capuccinos
Açú car
CH OCOL AT E S E B AL AS
Gar ot o
B ombons (todos os tipos ) Ar cor B utter toffes
( N es t l é)
Chocolates (todos os
Chocolates (todos os tipos )
tipos )
Chocolates (todos os
N es t l é B ombons (todos os tipos ) Cadbu r y
tipos )
Chocolates (todos os tipos ) EFFEM T wix chocolate
T offes M&M chocolate
P an Chocolates (todos os tipos ) S nicker s chocolate
Chocolate (todos os
L act a ( K r af t )
tipos )
B I S COI T OS E S AL GAD I N H OS
B is coitos (todos os
Ar o ( Makr o) B is coitos r echeados Adr i a
tipos )
B is coitos (todos os
B is coito água e s al B au du cco
tipos )
B is coito maizena T or r adas
B ar at ei r o Wafer B is kui
B is coito champagne EFFEM Mr Nut's
B is coito r echeado B is coito Rar is
S algadinhos (todos os
S equilho E l m a Ch i ps
tipos )
B is coito de polvilho B atata fr ita
Car r ef ou r B atata lis a Gl i co Glico s algadinho
B atata ondulada Ebicen s algadinho
B is coitos (todos os
B atata palha F i r en z e
tipos )
Ch am pi on B atata lis a L i n gu an ot t o S oj a fr ita
B is coitos (todos os
B atata ondulada L u ( D an on e)
tipos )
B atata palha Gr an dia bis coitos
E xt r a Wafer T r iunfo bis coitos
B is coito champagne Aymor é bis coitos
B is coito r echeado Mar i l an B is coitos (todos os
tipos )
B is coitos (todos os
S equilho N abi s co ( K r af t )
tipos )
S algadinhos (todos os
B is coito de polvilho
tipos )
F i br ax B is coito de fibr as natur al Oet ker Amendoim
B is coito de fibr as mel Cas tanha de caj u
B is coitos (todos os
B is coito de fibr as s algado P ar m al at
tipos )
B is coito de fibr as chocolate K idlat bolinho
B is coitos (todos os
U n i t ed Mi l l s B iits cookies candies P i r aqu ê
tipos )
S algadinhos (todos os
Mabel B is coitos (todos os tipos )
tipos )
B is coitos (todos os
S kinny s algadinho Z abet
tipos )
N es t l é B is coitos (todos os tipos ) T or r adas
P an co B is coitos (todos os tipos ) Vi s con t i T or r adas
S algadinhos (todos os tipos )
Pão de mel
P ão de
B is coito champagne
Açu car
T os t i n es
B is coitos (todos os tipos )
( N es t l é)
Y oki Yokitos
Pipoca pr onta
Amendoim
Amendoim doce
Ovinhos de amendoim
W i ckbol d T or r adas
P ÃE S E B OL OS
Ar o ( Makr o) Pão de hambur guer B au du cco T or r ada
Pão de hot dog Panettone
P an co B is naguinha B olo
Pão Egg s ponge B olinho kids
Pão côco/milho T or ta limão
Pão hot dog F i r en z e Pão de s oj a/7gr ãos
B ebezinho Pão de for ma
B olo B is naguinha
Pão de for ma B olo inglês
T ica - Pão de for ma Panettone
P u l l m an
W i ckbol d T or r adas B is naguinha
( S an t i s t a)
Pão de for ma
Jack bolinho
tr adicional
Pão de for ma Pão mix fibr a
B is naguinha Ana Mar ia
Pão integr al (todos os tipos ) Rocambole
Muffis
B olo
Vi s con t i Chocotone
B olo
B E B I D AS
Ades
Alimento à bas e de s oj a D an on e B ebida láctea
( U n i l ever )
N es t l é B ebida láctea Qu aker T oddyinho
Al l day
Alimento à bas e de s oj a
( S an t i s t a/ B u n ge)
Y aku l t T onyu
F R I OS , L AT I CÍ N I OS E MAR GAR I N AS
Dany pudim de
Ar i s co Cr emutcho D an on e
chocolate
Ar o ( Makr o) Mar gar ina Dannete
Requeipizza Cor pus light iogur te
Fatiados s abor ches ter Danoninho choc
Pr es unto P ar m al at Des s er t s obr emes a
S als ichas Pudim de chocolate
B ar at ei r o Mar gar ina Flan
S als ichas P au l i s t a ( D an on e) Glut bebida láctea
B at avo S als ichas (tods os tipos ) Dupli
Mor tadela (todos os tipos ) Manj ar
Patês (todos os s abor es ) Flan/pudim
Cr eamy bebida láctea com
S an t i s t a ( B u n ge) Allday mar gar ina
iogur te
Car r ef ou r Mar gar ina Pr imor gor dur a vegetal
Mila mar gar ina de
Cr eme vegetal
milho
Gor dur a vegetal Delícia mar gar ina
S als ichas S oya mar gar ina
Ch am pi on S als ichas Vi gor Flan
E xt r a Mar gar ina Gor dur a vegetal
S als ichas Mar gar ina
Goodl i gh t Mar gar ina
Mar ba Mor tadela
Mar binha
Embutido
S als ichas
N es t l é Chandelle
Flan
Chamy bebida láctea
Molico iogur te
Mous s e de Chocolate
Pudim de chocolate
P au l i céi a Mor tadela
Embutido
P er di gão S als ichas (todos os tipos )
Apr es untado
Peito cozido de per u
Ches ter ella
Mor tadela
Pr es unto de ches ter
S als ichão
Lanche ches ter
Patês (todos os s abor es )
R ez en de Apr es untado
Pr es unto cozido
S als ichas
Mor tadela de fr ango
S adi a Apr es untado
Mor tadela (todos os tipos )
S als ichas (todos os tipos )
S als ichão
Patê (todos os s abor es )
B lanquet de per u light
Pr es unto de per u light
Qualy mar gar ina
S ear a Mor tadela
Lanche
S als ichas
Apr es untado
T ubelle de fr ango
U n i l ever Claybon mar gar ina
Dor iana mar gar ina
B ecel mar gar ina
S aúde gor dur a vegetal
W i l s on S als ichas
MAS S AS F R E S CAS
F r es car i n i
B ig Capeletti Capeletti
( P i l l s bu r y)
Es paguete Ravioli
Las anha Pas tel r echeado
Mas s a de pas tel Mas s a de pizza
Pas tel r echeado Mas s a de pas tel
Pizza P avi ol i Ravioli de car ne
Ravioli Capeletti de legumes
Ch am pi on Pas tel de fr ango Mas s a de pas tel
Capeletti de fr ango Pas tel r echeado
Ravioli de fr ango P as t i t ex Capeletti car ne/fr ango
Car r ef ou r Pas tel de fr ango Ravioli car ne/fr ango
Capeletti de fr ango Nhoque
Ravioli de fr ango Mas s a de pizza
Pas tel r echeado
Mas s al eve Ravioli de car ne/fr ango
Capeletti de
car ne/fr ango
Pas tel r echeado
Nhoque
Mez z an i Ravioli de car ne
Capeletti de car ne
Mas s a de pas tel
Pas tel r echeado
Nhoque
F i r en z e Mas s a de pizza
Mas s a de pas tel
S an t a B r an ca Capeletti
Ravioli
Pizza
Pas tel r echeado
Mas s a de pas tel
CON GE L AD OS
Ar o ( Makr o) Cox inha de fr ango Ar os a Mas s a par a tor ta
Hambúr guer D a gr an j a Chickenitos
Es petinhos temper ados Hambúr guer
B ar at ei r o Hambúr guer T op line empanados
K ibe K ibe
Almôndegas Almôndegas
Chickenitos F or n o de Mi n as Pão de queij o
( P i l l s bu r y)
Milho congelado Folhado
Pizzas Pão de batata
T or ta mous s e K i l o Cer t o Hambúr guer
B at avo Empanados Almôndega
Chicken nuggets Chickenitos
S teak de fr ango Pizzas
Hambúr guer (todos os tipos )
Las anha
B ig B is coito de queij o
Hambúr guer
Las anha
Pão de queij o
Car r ef ou r Hambúr guer bovino/fr ango
K ibe
Almôndega bovino/fr ango
Empanados de
fr ango/legumes
Cox inha/cr oquete/empadinha
B olinha de queij o
T or ta de
fr ango/palmito/legumes
B atata pr é- fr ita
Milho ver de
Ch am pi on Hambúr guer bovino/fr ango
K ibe
Almôndega bovina/fr ango
Cox inha de fr ango
Empanados de
fr ango/legumes
Cr oquete/Empadinha/B olinha
T or ta de
legumes /fr ango/palmito
B atata pr é- fr ita
Milho ver de
L a B as qu e S or vetes
N es t l é S or vetes
T oque de S abor pr atos
P er di gão
pr ontos
Feij oada
S tr ogonoff
S algadinhos
Recheados (todos os s abor es )
Empanados (todos os tipos )
B ig/Mini chicken
Hambúr guer
K ibe
Almôndegas
Pizza
R ez en de Hambúr guer bovino/fr ango
Chicken bits
Empanados (todos os tipos )
S adi a Hambúr guer (todos os tipos )
Roule de per u light
Empanados (todos os tipos )
Nuggets de fr ango/batata
Cr oquete/Cox inha
Peito de fr ango à milanes a
Almôndega de fr ango
Feij oada
Fr ango x adr ez
T or tas s algadas
Pizzas
Pr atos pr ontos
Mis s Dais y (s obr emes as )
S ear a Hambúr guer
Almondega
K ibe
S teak de fr ango
S nacks de fr ango
Filezinho de fr ango
Mini pizza
S u per bom Gr ains B ur ger
Gr ains Almôndega
Gr ains K ibe
Gr ains Nug's empanados
Gr ain Hot dog
K i bon
S or vetes
( U n i l ever )
R AÇÕE S AN I MAI S
Ar o ( Makr o) Ração par a cachor r os EFFEM Champ
P ur ina
B onzo Fr olic
( N es t l é)
Dog menu Pedigr ee
Deli dog Whis kas
K anina K itekat
Cat chow Gu abi Far o
Gats y T op cat
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T odos os dir eitos r es er vados . All r ights r es er ved.

Anexo 3:
Direito do Consumidor
Rotulagem de Alimentos Transgênicos
Por Sérgio P. Marçal e Maximiliano Paschoal
I - Das relações de consumo e do dever de informação do fornecedor
As relações de consumo são reguladas no Brasil prioritariamente pela Lei 8078, de 11 de setembro de
1990, mais conhecido como Código de Defesa do Consumidor ("CDC"). Relações de consumo, segundo
o artigo 3º do dispositivo legal citado, compreendem aquelas relacionadas à atividades de produção,
transformação, montagem, criação, construção, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de bens e prestação de serviços, inclusive de natureza bancária, desenvolvidas por entidades públicas ou
privadas. Ou seja, todas aquelas relações referentes à produção e à colocação no mercado de bens e de
serviços com a sua posterior aquisição e utilização pela coletividade.
As relações submetidas ao regime do CDC são necessariamente compostas pelos adquirentes e usuários
finais (pessoas físicas, coletividade de pessoas físicas e pessoas jurídicas), bem como, de outro lado, pelos
fornecedores de bens ou de serviços para consumo.
Nos termos do inciso III do artigo 6º do CDC, é direito básico do consumidor "a informação adequada e
clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem".
O artigo 31 do CDC estabelece as regras que a oferta e a apresentação de quaisquer produtos ou serviços
devem atender, prevendo a necessidade das mesmas "assegurarem informações corretas, claras, precisas,
ostensivas e em língua portuguesa, sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,
garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à
saúde e segurança dos consumidores".
O que a legislação brasileira de consumo visa amparar com o direito de informação é a possibilidade do
consumidor fazer uma escolha consciente sobre o produto que está adquirindo. Ou seja, o consumidor
deve ser abastecido com informações relevantes que lhe permita saber claramente o que ele irá consumir.
A doutrina fala que o rol apresentado é meramente enumerativo.
Entretanto, apesar dessas normas gerais, não existe na legislação que regula as relações de consumo, até a
presente data, qualquer determinação específica no sentido de obrigar a informação ao consumidor no
caso de produtos geneticamente modificados. Fato é que o tema pode ser considerado novo em nosso
país, havendo pouca doutrina e experiência prática sobre o assunto.
II - Organismos geneticamente modificados (OGM's) e a informação ao consumidor
(1) Âmbito internacional
A necessidade ou não de informar e advertir ao consumidor quanto a existência de produtos ou
componentes contendo modificações genéticas vem sendo discutida mundialmente, sem que se tenha
chegado a um consenso sobre o assunto até o momento.
Um dos principais fóruns de debate sobre o assunto é a Comissão Codex Alimentarius (Codex
Alimentarius Commission) (CODEX), que foi criada em 1962 por iniciativa de duas organizações
internacionais das Nações Unidas, a saber: FAO (Food and Agricultural Organization) e WHO (World
Health Organization).
O CODEX é responsável por fazer propostas e aconselhar os órgãos internacionais em todos os assuntos
pertinentes à implementação de padrões mundiais relacionados a alimentos. Entre as suas finalidades está
a proteção da saúde dos consumidores, fortalecendo práticas comuns no mercado de alimentos, bem como
a coordenação de todas as regras comerciais relacionadas ao referido mercado.
O CODEX é dividido internamente em subcomissões, as quais são chamadas de comitês. Entre os seus
comitês especializados em assuntos diversos relacionados ao mercado mundial de alimentos (World Wide
General Subject Codex Committees), existe aquele responsável pela fixação de regras e padrões quanto a
rotulagem de produtos, denominado CCFL (Codex Committe on Food Labelling).
Após cinco anos de discussão sobre a obrigatoriedade ou não de constar dos rótulos a indicação de que o
produto é geneticamente modificado, onde vinha sendo analisada uma minuta de recomendações
preparada pela Secretaria do CODEX (CODEX Secretariat), o CCFL ainda não chegou a um consenso
sobre o tema.
Existem três principais posições quanto a necessidade de rotulagem dos produtos geneticamente
modificados, ou produtos compostos por tais organismos. São elas: 1) rotulagem mínima: alguns países,
liderados pelos Estados Unidos da América, entre eles o Brasil, defendem a "rotulagem mínima", ou seja,
apenas as informações essenciais deveriam constar do rótulo. A delegação americana defende tal posição
com base na "Doutrina da Equivalência Substancial", que se comentará a seguir; 2) rotulagem
moderada: para tal corrente, todo o alimento que é ou contém organismos geneticamente modificados
deve ser rotulado se após uma adequada análise restar demonstrado que ele difere em algum aspecto
daquele alimento convencional equivalente; 3) rotulagem obrigatória: defende a rotulagem obrigatória
de todos os produtos com organismos geneticamente modificados, independentemente de sua
equivalência substancial e testes.
(3) Âmbito nacional
No Brasil a discussão sobre os organismos geneticamente modificados passou a ganhar uma certa
relevância após a promulgação da Lei de Biossegurança (Lei 8.974/95), regulamentada pelo Decreto 1752
do mesmo ano, bem como com a instalação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio),
que foi criada para resguardar a segurança da população e do ambiente frente aos trabalhos de
manipulação dos organismos geneticamente modificados (OGM'S).
A sociedade civil começa a se envolver no processo de discussão dessa questão, havendo expressiva
cobertura da imprensa sobre o assunto. Começam a aparecer manifestações, como projetos de lei na
Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
III - Da doutrina da equivalência substancial
O conceito de equivalência substancial surgiu e tem sido primordialmente discutido pela comunidade
internacional dentro do contexto da avaliação de segurança de novos alimentos. Essa doutrina também é
utilizada para a questão da rotulagem de alimentos, na medida em que avalia a extensão da alteração na
composição, valor nutricional e uso desejado de alimentos.
Assim, levando-se em consideração essa teoria, se determinado produto modificado geneticamente
mantiver as mesmas características, composição, valores nutricionais e utilidade de um outro, não hão
motivos para segregá-lo dos demais chamados convencionais tão-somente em razão da utilização de
técnica de biotecnologia. Isto porque serão os mesmos produtos, apenas obtidos por diferentes métodos
de produção.
De acordo com a doutrina da equivalência substancial, um alimento somente pode deixar de ser
considerado equivalente a um outro quando uma avaliação científica descobre uma característica como
composição, valor nutricional, efeito nutricional ou utilidade que diferencia o produto de um alimento
correspondente já existente.
De acordo com os padrões internacionais, a rotulagem adicional somente se justifica para identificar a
presença de risco à saúde ou à segurança do consumidor. Em sua minuta de comentários apresentada
perante o CCFL, a delegação americana, ao defender a desnecessidade de rotulagem a respeito de OGM's,
enfatiza que essa rotulagem não pode ser vista como uma forma de garantir a segurança do consumidor,
como defendem alguns. A rotulagem não pode substituir uma segura avaliação dos produtos, pois os
alimentos não devem estar à disposição do consumidor se não estiverem aptos ao consumo. Os rótulos
apenas devem dar ao consumidor informações ou precaução, mas a segurança é pré-requisito
inerente em qualquer caso.
Em síntese, os países que se valem da "doutrina da equivalência substancial" normalmente defendem a
obrigatoriedade de rotulagem de alimentos obtidos por meio da biotecnologia ou convencionais, desde
que não correspondam substancialmente ao equivalente já existente. Não sustentam, todavia, a
obrigatoriedade de divulgar-se o método pelo qual o alimento foi obtido.
IV - Rotulagem de transgênicos no Brasil
Conforme acima já comentado, diante da legislação brasileira não há como contestar que o consumidor
tem o direito de ter a exata informação sobre as características, composição e origem do produto.
Entretanto, se faz necessárias algumas ponderações sobre a necessidade ou não de rotulagem de alimentos
transgênicos em nosso país.
O Decreto que regulamentou a Lei de Biossegurança (Dec. nº 1752/95) estabelece em seu artigo 2, inciso
XII, que a CTNBio emitirá "parecer técnico prévio e conclusivo sobre registro, uso, transporte,
armazenamento, comercialização, consumo, liberação e descarte de produtos contendo OGM ou
derivados, encaminhando-o ao órgão de fiscalização competente".
Verifica-se, com isso, que a CTNBio tem entre suas atribuições o dever de concluir a respeito da
comercialização e consumo de produtos que contenham OGM. Com isso, uma vez que haja manifestação
oficial quanto a segurança dos alimentos geneticamente modificados, é razoável supor que tais alimentos
não precisariam de um aviso especial em seus rótulos se o processo genético manteve suas características.
O que se faz necessário é o controle rigoroso da segurança dos produtos e, só a partir da constatação
irrestrita desta, autorizar a comercialização do alimento, tendo-se em mente que não se pode substituir
segurança por rotulagem. Não adianta ter um rótulo no produto se o mesmo não for seguro. O que o
consumidor espera é que aquele produto seja seguro, com ou sem rótulo específico.
É exatamente esta a função - avaliação de segurança - que se espera da CTNBio na emissão de seu
parecer conclusivo. Vale ressaltar que a CTNBio tem entre seus componentes um representante de órgão
legalmente constituído de defesa do consumidor.
Parece-nos muito mais adequado uma mobilização para se exigir o desenvolvimento dos sistemas de
segurança alimentar. A mera exigência de rotulagem pode funcionar contra os consumidores e contra a
tecnologia, pois pode ocasionar um descaso com a segurança ou transmitir aos consumidores a idéia de
que os órgãos oficiais não se definiram conclusivamente a respeito dos efeitos sobre a saúde humana. Se
não houver essa definição a respeito da segurança, o produto simplesmente não deve ser comercializado,
sendo irrelevante a rotulagem.
O fato é que o anseio dos consumidores por informação é legítimo e deve ser atendido dentro de certos
parâmetros científicos e legais. Caberá aos participantes da relação de consumo - consumidores e
fornecedores - definir a efetivação dessa rotulagem, alterando-se, se for o caso, as regras legais hoje
existentes. Também os fornecedores devem avaliar a possibilidade de ocorrer a rotulagem espontânea, a
favor do que já começam a se pronunciar grandes empresas dessa área.
Há que se tomar precauções, entretanto, para que o mero desconhecimento não crie uma barreira
comercial intransponível e a condenação de uma tecnologia recém surgida. A questão deve ser analisada
despida de preconceitos.
Revista Consultor Jurídico, 23 de setembro de 1999.

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