Você está na página 1de 10

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS TEMPLÁRIOS – TOMAR

Curso de Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário


Turma B4

________________________________________________________________________________________________

SOCIEDADE, TECNOLOGIA E CIÊNCIA 7 – Sociedade, tecnologia e ciência – fundamentos

 Conteúdos – Processos através dos quais a ciência se integra e participa nas sociedades

Ficha de trabalho n.º 3

ATIVIDADE 1

Explore detalhadamente uma situação do seu quotidiano em que utilize conhecimentos


científicos.

ATIVIDADE 2

Leia as notícias que se seguem.

Notícia 1

Cidadãos contra a co-incineração

“Um Grupo de Cidadãos de Coimbra apresentou recurso para Tribunal


Central Administrativo-Norte (TCA) contra a co-incineração de resíduos
industriais perigosos na cimenteira de Souselas, Coimbra. Em causa está a
decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra que veio dar razão
ao Governo e à Cimpor.“

Jornal de Notícias n.º 153, 1 de Novembro de 2008

Notícia 2

Quercus manifesta-se contra co-incineração

A Quercus vai participar na concentração contra a co-incineração na


Arrábida (esta sexta-feira, às 16h00 no Largo da Misericórdia, em Setúbal)
que está a ser organizada pela Associação dos Cidadãos pela Arrábida e
Estuário do Sado.

Jornal de Notícias, 25 de Janeiro de 2008

Notícia 3

Segundo explica em comunicado, "vamos participar para mostrar o


nosso descontentamento em relação à escandalosa falta de isenção do
Governo neste processo, favorecendo sempre a co-incineração em
detrimento das soluções alternativas para tratamento de RIP – Resíduos
Industriais Perigosos".
Para a Quercus o mais importante neste processo, não é se vai haver
ou não co-incineração. Segundo revela o documento, o que é realmente
importante é "a total transparência no processo, o que não tem sido

1
possível devido à postura do Governo que tudo tem feito para que se co-
incinere mais resíduos do que os necessários, tornando o processo mais
perigoso para a saúde pública e para o ambiente.

diariodoambiente.blogs.sapo.pt/182839.html?mo...

Comente as notícias apresentadas tendo em consideração os pontos de vista do Governo, da


Quercus e da população.

ATIVIDADE 3

Leia os textos apresentados em anexo antes de responder às questões que se seguem.

3.1. A incineração de resíduos pode processar-se de duas formas: incineração ou co-incineração.


Distinga estes dois processos.

3.2. Diga, justificando, quais os resíduos que são e os que não são passíveis de incinerar.

3.3. Enumere duas vantagens e duas desvantagens da incineração.

3.4. Identifique as etapas da incineração.

3.5. Os efluentes gasosos provenientes do forno são normalmente depurados de poluentes por
passagem através de diferentes unidades de tratamento.
Indique essas unidades de tratamento.

3.6. Defina scrubber.

3.7. Explique em que consiste o clínquer.

3.8. O Decreto-Lei n.º 129/99 prevê a criação de acompanhamento local (CAL).


Enumere as competências que, neste âmbito, foram atribuídas às Câmaras Municipais.

3.9. O Decreto-Lei n.º 3/2004, de 3 de Janeiro, implementou uma solução alternativa para os
RIP, ao criar os CIRVER.

3.9.1. Explique em que consistem os CIRVER.

3.9.2. Explicite as funções dos CIRVER.

3.10. Apresente, de forma fundamentada, os argumentos de índole científica que estão na base
dos diferentes pontos de vista acerca da co-incineração.

2
Anexos

Anexo 1

À existência humana é inevitável associar-se a produção de


resíduos. O trabalho para remediar/minimizar os problemas de
contaminação tem de ser paralelo ao conceito de desenvolvimento
sustentável, de forma a adaptar os meios de satisfazer as nossas
necessidades actuais, sem causar alterações nem colocar em perigo as
próximas gerações.
Os resíduos sólidos urbanos, industriais, tóxicos e perigosos
necessitam de tratamento. Na maioria das actividades humanas há
consumo de recursos naturais e consequente produção de resíduos
(materiais que deixam de ter utilidade) e que se podem classificar em:
Industriais – resultam dos vários sectores da indústria extractiva
(minas e pedreiras), transformadora (têxtil, siderurgia), das centrais
produtoras de energia, da construção civil, dos transportes, dos automóveis
(sucatas, pneus, óleos), do sector agro-pecuário (aviários, suiniculturas),
de explorações florestais e empresas ligadas à madeira (fábricas de papel),
entre outras;
Tóxicos e perigosos – contêm substâncias causadoras de alterações
graves nos ecossistemas e na saúde pública, onde se incluem os resíduos
industriais tóxicos, os materiais radioactivos, os resíduos hospitalares
(pensos, ligaduras, reagentes de laboratório, medicamentos), as pilhas, as
tintas, as películas fotográficas, etc.
Sólidos urbanos – a quantidade produzida aumentou ao longo dos
anos, em parte devido ao crescimento demográfico, mas acima de tudo, à
mudança de hábitos de vida, destacando-se o aumento do uso de materiais
descartáveis e de embalagens. Desta categoria excluem-se os resíduos
líquidos.
De um modo geral, não prestamos muita atenção ao que deitamos
para o lixo, que inclui frequentemente substâncias perigosas mal
acondicionadas. Compete às autarquias recolher e eliminar os resíduos
sólidos urbanos. Até aos anos 70, a maior parte destes resíduos eram
despejados em lixeiras a céu aberto, onde eram queimados, de modo a
reduzir o seu volume e aumentar o tempo de utilização dessa lixeira.
Nuvens de fumo, odores desagradáveis e infestações de insectos e de ratos
eram acontecimentos normais.
A incineração é uma solução para a eliminação de resíduos sólidos
urbanos, através da combustão, a temperaturas da ordem dos 1100 °C.
Além de produzir electricidade apresenta a vantagem de reduzir bastante
o volume de resíduos destruindo microrganismos que causam doenças.
Os resíduos podem ser incinerados em estações próprias. A
incineração é geralmente um processo de eliminação de resíduos perigosos,
pelo que podem ser libertados vários gases tóxicos que se apresentam
contaminados com chumbo, mercúrio, dioxinas, etc. Os gases resultantes
da incineração têm de ser tratados posteriormente, uma vez que são
compostos por substâncias consideradas tóxicas (chumbo, cádmio,
mercúrio, crómio, arsénio, cobalto e outros metais pesados, ácido
clorídrico, óxidos de azoto e dióxido de enxofre, dioxinas e furanos,
clorobenzenos, clorofenóis). Sendo assim, as incineradoras devem cumprir
normas que as impeçam de se transformarem em locais privilegiados de
contaminação atmosférica.
A incineração de resíduos, permite a redução do volume de resíduos
sólidos urbanos e o aproveitamento da energia, no entanto como não há
reciclagem dos materiais torna-se assim numa perda no ciclo de renovação
dos recursos naturais, por estes motivos, a incineração, assim como o
aterro, surge no último lugar da hierarquia de gestão de resíduos.
Depois da queima, resta um material que pode ser encaminhado
para aterros sanitários ou mesmo reciclado.

3
Devemos procurar reutilizar de forma racional os materiais
queimados, para a confecção de borracha, cerâmica e artesanato.
A matéria orgânica, que constitui cerca de 36% dos resíduos sólidos
urbanos, devido ao seu elevado teor em água, possui um baixo poder
calorífico e como tal não é interessante incinerar sob o ponto de vista
energético.
Em determinadas situações, a queima de resíduos pode ser
efectuada nos fornos das cimenteiras, designando-se esse processo por co-
incineração. Para tal as cimenteiras necessitam de ser equipadas com filtros
específicos o que torna o processo mais caro. Em Portugal, o
aproveitamento dos fornos das cimenteiras e a construção de incineradoras
tem sido alvo de muita polémica, tendo até sido constituída uma Comissão
Cientifica Independente de Controlo e Fiscalização Ambiental da Co-
incineração.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Incinera%C3%A7%C3%A3o"
(adaptado e com supressões)

Anexo 2

A nossa sociedade é uma sociedade em constante evolução. Não se


pode ignorar todo o desenvolvimento dos últimos séculos que trouxeram
melhores condições de vida a toda a população, apesar das desigualdades
ainda existentes. Mas este desenvolvimento trouxe as suas contrapartidas
e é preciso encontrar soluções viáveis que permitam que o nosso planeta
continue a ser um local habitável em que a sociedade possa continuar a
florescer. A preocupação crescente com o ambiente é válida se
considerarmos todos os riscos inerentes ao crescimento da quantidade de
resíduos e das suas acções nefastas sobre o ambiente.
Antes da Revolução Industrial a maior parte dos resíduos eram
resíduos orgânicos que eram facilmente decompostos pela Natureza.
Resultavam das actividades domésticas. Mesmo os resíduos resultantes da
manufactura de determinados produtos, eram numa quantidade reduzida
e era possível colocá-los em locais que normalmente não causavam
grandes problemas à população devido à sua localização. No entanto
surgiam por vezes situações de epidemias, em especial devido ao
lançamento de resíduos orgânicos em recursos hídricos, mas na altura
eram desconhecidos os mecanismos de transmissão de doenças, que
muitas vezes eram atribuídos a “maldições” ou castigo de Deus.
Com o surgimento da Revolução Industrial começam a surgir as
grandes indústrias. Não havia qualquer cuidado com o tratamento dos
resíduos sólidos ou líquidos resultantes e estes eram lançados
indiscriminadamente com riscos óbvios para a saúde pública. Por outro lado
deu-se o fenómeno da migração para os grandes centros industriais, na
busca de melhores condições de vida, o que provocou um crescimento dos
centros urbanos e da população.
Com os novos desenvolvimentos na área da saúde, entre outros
factores, temos a explosão demográfica. Tudo isto contribuiu para um
aumento significativo da quantidade de resíduos quer estes fossem
industriais, quer domésticos.
O desconhecimento dos riscos e a mera incúria levaram a que em
pouco tempo começassem a surgir os problemas de saúde pública e a busca
de soluções.
A incineração já é utilizada há algum tempo e é uma solução que,
como qualquer outro método, tem as suas vantagens e desvantagens. É
importante ver a incineração como uma solução integrada numa estrutura
organizada de redução de resíduos, havendo mesmo situações em que não
há uma alternativa, e estamos a falar de resíduos hospitalares em que o
risco para a saúde pública é notório.
É necessário tomar medidas que possam reduzir o risco para o
ambiente e população. Passa em grande parte pela educação da população,
4
informar acerca da importância de defender o ambiente que no final de
contas é a nossa casa.
A incineração é uma forma de destruir resíduos que tem a vantagem
de reduzir o volume e peso dos resíduos, destruir microrganismos
patogénicos e pode ser uma fonte importante de energia.
Actualmente as novas tecnologias permitem o controlo dos gases
emitidos e com isso eliminar os riscos para a população, no entanto
possuem custo elevado de operação e manutenção, mão-de-obra
qualificada e problemas operacionais
A incineração juntamente com a educação ambiental e com a
sensibilização das entidades produtoras de resíduos é uma ferramenta
importante no controlo da quantidade de resíduos que todos os dias são
produzidos pela população.
Actualmente existem incineradores que utilizam o lixo doméstico
para a produção de vapor e posteriormente de energia eléctrica, porém
para que exista maior eficiência neste tipo de processo deverá existir uma
triagem dos resíduos que serão destinados à câmara de combustão, para
que se possa obter um melhor aproveitamento da energia no processo.

Podemos descrever as etapas da incineração em cinco fases


distintas, contudo poderá haver uma variação quanto ao tipo de
equipamento utilizado:
- Pré tratamento: moagem, secagem, compostagem, ensacamento;
- Alimentação: manual, esteira rolante, ou de rolante com
multigarra;
- Incineração: câmaras múltiplas, ar controlado, forno rotativo,
grelhas móveis;
- Condicionamento dos gases: resfriamento com água, mistura com
água, trocador de calor;
- Tratamento dos gases: precipitador electrostático, filtros de
manga, lavadores venturi.

Fonte: incineração.online.pt
(adaptado e com supressões)

Anexo 3

A co-incineração é um processo de tratamento de resíduos que


consiste na sua queima em fornos industriais, conjuntamente com os
combustíveis tradicionais. Aproveita os fornos das cimenteiras tirando
partido das suas altas temperaturas (entre 1450 e 2000 graus) para
queimar os resíduos perigosos, ao mesmo tempo que se produz cimento.
Consideram-se como resíduos perigosos uma gama variada de
substâncias na forma líquida, sólida ou pastosa tais como: solventes de
limpeza, solventes de indústria química, tinta e vernizes, óleos usados,
alcatrões, betumes, lamas de estações de tratamento de águas, etc. Estes
resíduos envolvem muitas vezes na sua constituição hidrocarbonetos e
compostos com cloro e flúor entre outros, e alguns deles possuem um
elevado poder calorífico.
O processo da co-incineração implica algumas adaptações nas
cimenteiras. Os resíduos perigosos industriais são encaminhados para uma
estação de pré-tratamento. Aí, os lixos com pouco poder calorífico (como é
o caso de lamas de estações de tratamento de águas residuais, por
exemplo) são transformados em fluidos, isto é, submetidos à trituração,
dispersão e separação dos materiais ferrosos; já os resíduos líquidos (desde
hidrocarbonetos a solventes, tintas e vernizes, entre outros) são
impregnados com serradura, podendo também sofrer uma centrifugação.
Somente após esta fase, os resíduos são enviados para as cimenteiras.
Se porventura ocorrer um acidente no transporte, os efeitos
ambientais serão inferiores à mesma situação antes desse pré-tratamento.
5
Os acidentes graves têm uma maior probabilidade de ocorrência no
transporte e processamento dos resíduos para e na estação de pré-
tratamento.
Chegados às cimenteiras, os resíduos são pulverizados para o forno,
aproveitando-se assim o seu poder calorífico, no caso dos combustíveis, ou
as suas características como matéria-prima substituta para a própria
produção de cimento. Embora não existam resíduos remanescentes deste
processo, uma vez que estes são incorporados no próprio cimento, e as
temperaturas e tempo de residência dos gases diminua a produção de gases
tóxicos, deverá existir um sistema de tratamento, isto é, deverão ser
aplicados filtros de mangas, de modo a reduzir ao máximo os efeitos de
uma eventual fuga de gases.

Fonte:
http://campus.fct.unl.pt/afr/ipa_9900/grupo0058_restoxicos/oquee.htm
(adaptado e com supressões)

Anexo 4

A gestão dos resíduos industriais perigosos (RIP) tem levantado


grande discussão em Portugal, nomeadamente a sua potencial co-
incineração. Mas afinal qual a melhor solução para estes resíduos?
Em matéria de gestão de resíduos, a linha de actuação deve estar
sempre centrada na política dos 3R: redução (prevenção da produção),
reutilização e reciclagem, de forma a garantir a protecção da saúde pública
e do ambiente.
Apesar de no Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais,
o principal objectivo seja o de reduzir a quantidade e perigosidade dos RI
e de ter sido elaborado o Plano Nacional de Prevenção de RI, tem-se
sentido, na prática, uma maior preocupação e actuação ao nível da gestão
dos resíduos produzidos do que na gestão da produção de resíduos.
Certamente que, para os RI cuja produção não se consiga evitar, será
necessário encontrar uma solução que assegure a protecção da saúde
humana e do ambiente; porém, isso não pode impedir uma aposta forte,
necessária e urgente, na gestão preventiva da produção de resíduos.
Há diferentes tipos de tecnologia aplicada na queima de resíduos
perigosos, sendo principalmente usado o forno rotativo, pela sua
maleabilidade e capacidade para tratar diferentes tipos de resíduos:
líquidos, sólidos, em contentores fechados e até munições. O sistema
consiste num forno cilíndrico rotativo, inclinado, seguido de uma câmara
de combustão final (para assegurar a combustão completa dos gases) e de
um sistema de tratamento dos gases. Os resíduos são carregados na
extremidade do forno no mesmo ponto em que podem ser utilizados
queimadores auxiliares para fornecerem a energia necessária ao processo.
Os produtos finais são gases de combustão, cinzas e água de lavagem dos
gases.
A queima nas incineradoras, embora eficaz, nunca é total. Além
disso, os elementos vestigiais presentes nos reagentes não são destruídos
e têm de sair com os efluentes. Também os produtos de combustão
completa nem sempre são substâncias inócuas, como os resultantes da
queima de enxofre, cloro e flúor, que são substâncias ácidas (SO 2, HCl e
HF).
Assim, da incineração resultam efluentes sólidos e gasosos que
contêm poluentes, nomeadamente compostos orgânicos resultantes da
queima incompleta ou sintetizados a partir de percursores, monóxido de
carbono, partículas de cinzas e fuligem, NOx, SO2, HCl e HF e elementos
vestigiais tóxicos como o mercúrio, chumbo e outros.
Uma parte das substâncias poluentes sai com as cinzas e resíduos
sólidos da combustão, pela base do forno. Estes resíduos podem estar
contaminados com concentrações importantes de metais, de compostos
6
orgânicos tóxicos, em particular dioxinas e furanos; pois têm de ser
considerados resíduos perigosos e tratados com as regras de segurança
específicas.
Os efluentes gasosos provenientes do forno são normalmente
depurados de poluentes por passagem através de diferentes unidades de
tratamento:
a) sistema de lavagem (scrubber): ocorre remoção de gases ácidos
(em alguns casos, este sistema pode também remover
partículas e metais voláteis); o scrubber consiste na injecção na
corrente gasosa de uma substância básica com a qual os
poluentes ácidos gasosos reagem, dando origem a produtos
neutros, na forma condensada, que são separados do efluente
gasoso;
b) sistema de remoção de poeiras (a jusante do scrubber): ocorre
remoção de partículas geradas durante a combustão ou
resultantes da lavagem dos gases;
c) sistema de remoção de compostos orgânicos: em geral, dioxinas
e metais voláteis (a jusante do sistema de remoção de poeiras),
por adsorção sobre solventes específicos ou por destruição por
um material catalisador.

É importante referir que muitas das incineradoras de resíduos


perigosos existentes na Europa e Estados Unidos não possuem, em
simultâneo, estas três unidades de tratamento.

Processo de produção de cimento

O cimento é um material existente na forma de um pó fino, que


resulta da mistura de clínquer com outras substâncias, como o gesso ou
escórias siliciosas, em quantidades que dependem do tipo de aplicação e
das características procuradas para o cimento. O cimento normal é formado
por aproximadamente 96% de clínquer e 4% de gesso.
O clínquer é uma rocha artificial obtida através da cozedura
(tratamento térmico), em forno rotativo, de matéria-prima (calcários e
argilas) misturada e finamente moída, em contacto com os gases quentes
produzidos no forno.
A matéria-prima alcança progressivamente temperaturas
superiores a 1450ºC. A temperatura dos gases na zona de combustão
(principalmente carvão mineral e coque de petróleo) é superior a 2000ºC.
Para evitar fugas de material e produtos de combustão ao longo do
sistema, toda a linha funciona em sob pressão.
Em Portugal, as cimenteiras funcionam com fornos por via seca para
a obtenção de clínquer, que se destacam dos fornos por via húmida por
não usarem água para moer a matéria-prima. Depois da cozedura, o
clínquer é arrefecido e moído, juntando-se o gesso e outros aditivos, de
forma a obter o cimento.

Os principais gases emitidos por um forno de cimento são


constituídos por: azoto (45-66%), dióxido de carbono (11-29%), água (10-
39%), oxigénio (3-10%) e em pequenas quantidades, poeiras, cloretos,
fluoretos, dióxido de enxofre, óxidos de azoto, monóxido de carbono e
menores quantidades de compostos orgânicos e metais pesados. A
formação de dioxinas nas cimenteiras ocorre por reacções em fase gasosa
a 300-450ºC.
Para serem queimados, os resíduos têm que chegar à unidade fabril
com uma composição conhecida e com uma uniformidade em composição
e granulometria especificada. Torna-se assim necessário que os resíduos
passem por uma instalação de pré-tratamento, onde são preparados
(inertizados) antes de serem transportados para a cimenteira, de forma a

7
serem injectados no forno de cimento, substituindo parte do combustível
primário.
Os resíduos que se podem eliminar por co-incineração num forno de
cimento são:
- Resíduos líquidos orgânicos: solventes de limpeza, solventes de
indústria química, tintas e vernizes, hidrocarbonetos de limpezas
de fundos de depósitos e óleos usados, águas contaminadas com
solventes e reveladores de fotografia usados;
- Resíduos orgânicos, sólidos ou pastosos: alcatrões, betumes,
resinas, lamas de estações de tratamento de águas ou
provenientes do fabrico de pasta de papel, resíduos industriais
de curtumes, plásticos, borrachas, resíduos de biomassa;
- Resíduos minerais sólidos ou pastosos: catalisadores usados,
areias de fundição e hidróxido de cálcio, algumas lamas de
hidróxidos metálicos, cinzas e escórias metalúrgicas.

Devido à quantidade elevada de matéria-prima existente no interior


dos fornos de cimento, estes têm uma inércia térmica superior ao de outras
instalações industriais a alta temperatura, isto é, as variações de
temperatura são lentas e mais facilmente controláveis. Esta característica
é vantajosa quando se queimam substâncias com composição e poder
calorífico variável como os resíduos industriais.
O local mais apropriado de injecção no forno para o material é o
queimador principal, junto à saída do clínquer, porque nestas condições, a
temperatura e o tempo de residência são maximizados. Substâncias
líquidas ou sólidos triturados são normalmente queimados neste ponto do
forno.
Os gases no forno de clínquer atingem temperaturas máximas de
2000ºC no queimador principal e permanecem a temperaturas entre
1200ºC e 1800ºC por períodos de 3 segundos. Por sua vez, o clínquer sai
do forno a temperaturas na ordem dos 1450ºC. Estas temperaturas e
tempos de residência dos gases a alta temperatura são dos mais elevados
aos conseguidos em processos de combustão alternativos, como a
incineração dedicada. Um forno de clínquer tem assim boas condições para
a queima ou destruição eficaz dos resíduos orgânicos que se possam
decompor por acção da temperatura, cumprindo a Directiva n.º
2000/76/CE.

A Comissão Científica Independente de Controlo e Fiscalização


Ambiental da Co-Incineração (CCI), criada através do DL n.º 120/99, de
16 de Abril, com a missão de definição, acompanhamento da montagem e
aferição dos aspectos relacionados com o sistema de monitorização
ambiental da actividade de co-incineração, emitiu em Maio de 2000 um
parecer relativo ao tratamento de RIP em Portugal, justificando a posição
tomada pelo governo. A CCI recomenda a queima de RIP por co-incineração
em Portugal em fornos de unidades cimenteiras. As melhores das unidades
cimenteiras são unidades que foram recentemente certificadas de acordo
com as normas ISO (Outão, Souselas e Alhandra), pois possuem um
controlo automático dos fornos com registo permanente de parâmetros de
operação, têm bom desempenho energético a nível europeu e participaram
nas novas definições a nível europeu.
Encontram-se em condições tecnológicas de rapidamente incorporar
os melhores procedimentos em curso a nível de cimenteiras europeias no
processo de co-incineração no nosso país.
Os RIP devem ser co-incinerados quando esta solução surge como
ecologicamente mais vantajosa que outras alternativas de gestão e não se
encontra em competição com modos mais ecológicos de exploração de
recursos.

8
O DL n.º 120/99 prevê ainda a criação de Comissões de
Acompanhamento Local (CAL), através das Câmaras Municipais, com as
seguintes competências:
- emitir parecer sobre as medidas adoptadas para reduzir a poluição
e as alterações no processo produtivo das unidades fabris que
resultem de adaptações necessárias à realização da co-
incineração;
- acompanhar e pronunciar-se sobre os procedimentos de
requalificação ambiental das unidades cimenteiras e das
povoações abrangidas;
- acompanhar a laboração das cimenteiras e o trabalho da CCI;
- promover o debate público sobre todas as questões que considere
relevantes.

As CAL incluem representantes da câmara municipal, junta de


freguesia, das organizações ambientalistas, das associações cívicas locais
interessadas e outras entidades locais com interesse em participar.
No entanto, em alguns casos, a melhor solução para os resíduos não
passa pela incineração, sendo assim, foram criados os CIRVER.
Com vista a implementar uma solução alternativa para os RIP,
foram criados os CIRVER, Centros Integrados de Recuperação, Valorização
e Eliminação de Resíduos Perigosos, através do D.L. n.º 3/2004, de 3 de
Janeiro. A instalação e a exploração de um CIRVER estão sujeitas a
licenciamento, a conceder pelo Ministério do Ambiente.
Os CIRVER pretendem ser unidades integradas que conjuguem as
melhores tecnologias disponíveis a custos comportáveis, permitindo
viabilizar uma solução específica para cada tipo de resíduo, de forma a
optimizar as condições de tratamento e a minimizar os custos do mesmo.
Um CIRVER inclui as seguintes unidades de recuperação,
valorização e eliminação de resíduos perigosos:
- Unidade de classificação (incluindo laboratório, triagem e
transferência);
- Unidade de estabilização (de cinzas volantes, lamas de tratamento
de efluentes gasosos e de águas residuais e resíduos da
valorização de solventes e óleos usados);
- Unidade de tratamento de resíduos orgânicos (como sais e
soluções contendo compostos orgânicos, resíduos contendo
hidrocarbonetos e solventes usados);
- Unidade de valorização de embalagens contaminadas (produtos
petrolíferos, tintas e vernizes);
- Unidade de descontaminação de solos;
- Unidade de tratamento físico-químico;
- Aterro de resíduos perigosos.

Os CIRVER conseguem intervir na maioria das tipologias dos RIP,


conduzindo à sua redução, valorização e à sua posterior utilização como
matéria-prima no mesmo processo ou em processo de fabrico diferente. Os
resíduos que não possam ser sujeitos a processos físico-químicos e
biológicos, na totalidade ou em parte, podem ser submetidos a operações
de estabilização ou inertização antes de serem depositados em aterro, para
redução significativa da sua quantidade e perigosidade. Os CIRVER estão
preparados para tratar mais de 90 % dos RIP e parte dos restantes poderá
ser exportada ou incinerada.
O D. L. n.º 3/2004 prevê ainda a criação do observatório nacional
dos CIRVER, com a participação de representantes da Administração
Pública e da sociedade civil, sendo-lhe atribuídas várias funções,
nomeadamente:
- Monitorização do funcionamento dos CIRVER;
- Disponibilização de informação resultante dessa monitorização à
população em geral;

9
- Emissão de recomendações às entidades licenciadas relativas à
gestão dos CIRVER e às entidades licenciadora e coordenadora
sobre a actividade licenciada;
- Alerta do governo e das autarquias locais para situações anómalas;
- Proposta de adopção de medidas de correcção.

Fonte: www.confagri.pt/.../Documentos/doc97.htm
(adaptado e com supressões)

10

Você também pode gostar