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29/06/2023, 08:26 Lixo eletrônico: descarte e impactos ambientais | Portal Jurídico Investidura - Direito

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ISSN 2318-1664

Lixo eletrônico: descarte e impactos ambientais


Lucas Vinicius Santos Silva[1]

Resumo: O avanço da tecnologia aliado aos novos padrões de consumo são fatos marcantes do século
XXI. Mas esse desenvolvimento trouxe consigo práticas, como a obsolescência programada, aliada a
esses fatos, geram a produção cada vez maior de lixo eletrônico, e o descarte desse lixo de maneira
inapropriada gera danos consideráveis ao meio ambiente. O estudo faz uma análise sobre o lixo
eletrônico, para produzir uma reflexão sobre ações de preservação ambiental, com base no princípio do
desenvolvimento sustentável de modo a proteger o direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado que está previsto na Carta Magna de 1988.

Palavras-chave: Meio ambiente. Lixo eletrônico. Desenvolvimento sustentável.

Abstract: The advancement of technology combined with the new consumption patterns are striking facts
of the XXI century. But this development has brought with practices such as planned obsolescence,
combined with these facts, generate production increasing e-waste, and disposal of this waste improperly
generates considerable damage to the environment. The study is an analysis of e-waste to produce a
reflection on environmental preservation actions, based on the principle of sustainable development in
order to protect the fundamental right to an ecologically balanced environment that is provided for in the
1988 Constitution.

Keywords: Environment. Junk. Sustainable development.

INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos e o consumismo intensificado de produtos caracterizam a vivência humana no


século XXI. Ocorre que, paralelamente ao desenvolvimento, existem práticas que são prejudiciais ao
meio ambiente, como a obsolescência programada e o descarte do lixo eletrônico, que reduz
prematuramente a vida útil de produtos para que esses sejam rapidamente substituídos, seguindo a
lógica de mercado. Diante disso, o presente estudo visa analisar quais são os impactos ambientais
decorrentes do fenômeno da obsolescência programada, do descarte inadequado de resíduos e quais
são as alternativas para a redução da produção de lixo eletrônico, a fim de evitar a degradação do meio
ambiente, tendo em vista o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
assegurado pela Constituição Federal de 1988.

Nos dias de hoje vivemos em um período histórico marcado pelo consumismo exacerbado, decorrente
dos avanços tecnológicos, e pela consequente degradação ambiental. O surgimento de novos
dispositivos eletrônicos de forma constante incentiva o consumo desenfreado, o que é proporcionado

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pela chamada obsolescência programada, que consiste na redução da durabilidade dos produtos em
curto período de tempo para que sejam substituídos, fomentando o lucro das empresas.

Em sociedades modernas, o consumo elevado e o ritmo rápido da inovação e da obsolescência


programada fazem com que os equipamentos eletrônicos se transformem em sucata tecnológica em
menores espaços de tempo. No Brasil, com o crescimento da economia, o poder aquisitivo da população
teve um aumento significativo, o que vem acarretar no maior consumo destes produtos. Nesta premissa,
um grande problema está se agravando que é a quantidade de resíduos eletrônicos gerado pelo descarte
destes produtos, onde normalmente não são encaminhados para um local correto para sua deposição.

Os resíduos sólidos estão cada vez mais chamando atenção da sociedade como um todo, devido
principalmente na enorme quantidade gerada diariamente e seus malefícios ao meio ambiente e porque
não ao próprio homem. O mundo será obrigado a se desenvolver de forma sustentável, ou seja, que
preserve o meio ambiente, e as empresas deverão fazer o mesmo, por iniciativa própria ou por exigência
legal (SHRIVASTAVA e HART, 1998).

Na jurisprudência utilizada, o Agravo de Instrumento em Ação Civil Pública, n. 2011.053360-6, Relator:


Des. Pedro Manoel Abreu, em Florianópolis, no estado de Santa Catarina , observa-se que a ação civil
pública, que é o típico e mais importante meio processual de defesa ambiental, visa garantir a proteção
dos direitos difusos e coletivos, trouxe a denúncia de um depósito de lixo eletrônico e outros dejetos de
natureza industrial, sem a devida licença ambiental, tendo em vista que, no mais das vezes, são
confeccionados com uso de metais pesados altamente tóxicos, caracterizando, por si só um risco
inerente. O julgado versa sobre um aterro sanitário abandonado pela municipalidade, que acabou por se
tornar um depósito de resíduos sólidos, de origem industrial e resíduo eletrônico, sem licença ambiental,
no qual os materiais são destruídos mediante o emprego de queimada, em vista dos riscos ao meio
ambiente.

Para a fluidez da compreensão, o artigo foi dividido em quatro capítulos, sendo que no primeiro será
exposta a temática dos resíduos resultantes do descarte inadequado de eletrônicos, no qual serão
enfrentadas as consequências desse fenômeno. Em um segundo momento, serão analisados os
impactos ambientais decorrentes do lixo eletrônico produzido pelo descarte desses produtos e quais são
as alternativas, no sentido de evitar a degradação ambiental e a violação do direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. No terceiro capítulo, temos uma abordagem dos três R’s do
consumo ecoeficiente, que se constitui como uma recuperação para o ambiente, e por fim, no quarto
capítulo uma visão acerca da legislação ambiental acerca do descarte de pilhas e baterias.

1. RESÍDUOS RESULTANTES DO DESCARTE INADEQUADO DE ELETRÔNICOS

A fabricação de produtos eletrônicos figura como um dos ramos industriais que possui maior crescimento
na atualidade. As inovações tecnológicas e o modelo de consumo do mundo contemporâneo são fatores
que impulsionam esse fenômeno. Esse aumento da produção traz consigo o crescimento diretamente
proporcional dos resíduos provenientes desses aparelhos (Schwarzer e col., 2005).

A vida útil dos produtos eletrônicos é cada vez menor, e com menor a durabilidade desses produtos, o
descarte aumenta em larga escala gerando essa maior produção de lixo. Os REEE (Resíduos de
Equipamento Eletroeletrônicos) são considerados todos os produtos que utilizam energia elétrica ou de
acumuladores como fonte de alimentação e se tornam obsoleto, portanto, são considerados lixo.

O lixo eletrônico foi elencado como resíduo sólido especial de coleta obrigatória (BRASIL, 2010) e
representa uma grave ameaça ao meio ambiente e à saúde pública, pois esses produtos eletrônicos
contém em sua composição substâncias não biodegradáveis. É fundamental, que se sejam empregadas
formas adequadas de tratamento e eliminação, de modo a salvaguardar a saúde e a segurança das

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pessoas, e a dispersão destas substâncias para o ambiente de um alto grau tóxico. E esse problema se
dá desde sua produção até o seu descarte.

Os aparelhos advindos da tecnologia da informação, tendo destaque os telefones móveis e


computadores, são os resíduos que sofrem mais descarte atualmente. Isso é decorrente do fato de que o
ser humano na contemporaneidade passou a ter novas formas de comunicação e relacionamentos, e
esses produtos já passaram a fazer parte do cotidiano comum de toda a sociedade.

Esses tipos de materiais podem ser constituídos de uma mistura entre plásticos e metais, visto que, isso
eleva o prazo de decomposição na natureza e sendo altamente prejudiciais de forem incinerados sem o
devido cuidado.

Dentre os metais pesados que constituíram a composição desses aparelhos, podemos destacar alguns,
como o chumbo, comumente utilizado em soldagem de placas de circuitos internos, solda e vidro das
lâmpadas elétricas e fluorescentes, e também vidro dos tubos de raios catódicos, é de grande
periculosidade. Ele se acumula no meio ambiente e gera efeitos tóxicos nas plantas bem como nos
animais. Também é de grande risco para a saúde humana, podendo causar danos nos sistemas central e
periféricos, sendo prejudicial ainda ao sistema endócrino e ao sistema circulatório. Uma das principais
preocupações com o chumbo é que ele possa vazar dos equipamentos e contaminar os sistemas
hídricos de agua potável.

O mercúrio, em altas quantidades, também é uma substância bastante danosa, visto que, se em contato
com o mar ele se acumula nas suas profundezas e passa a integrar a cadeia alimentar dos respectivos
seres vivos. Ingerir ou respirar vapores de mercúrio pode prejudicar o cérebro, o fígado, o
desenvolvimento de fetos, e causar vários distúrbios neuropsiquiátricos. Segundo a Associação de
Combate a Poluentes (ACP, 2009), os principais problemas causados à saúde são: intoxicação aguda,
tendo efeitos corrosivos violentos na pele e nas membranas da mucosa, náuseas violentas, vômito, dor
abdominal, danos aos rins e morte em um período aproximado de 10 dias.

O cádmio, geralmente encontrado em pilhas e baterias, tem grau de lesividade alto, devido a sua
propriedade de bioacumulação nos seres vivos bem como no meio ambiente, assim, o facto de se manter
intacto por mais tempo evidencia o seu potencial destruidor. É considerado altamente tóxico, pois gera
riscos de difícil reversão para a saúde do homem. Ele se acumula no corpo do ser humano,
especificamente nos rins. A contaminação pode-se dar pelo consumo de alimentos, gerando sintomas de
envenenamento e também é possível sua absorção pela respiração. O cádmio é, comprovadamente, um
agente cancerígeno e pode causar danos ao sistema reprodutivo. Nas plantas o cádmio causa
interferência no crescimento, podendo levar à morte dependendo da espécie do vegetal (OLIVEIRA et al.,
2001).

Esses metais pesados estão vão continuar em constante produção para compor os equipamentos
eletrônicos, pois os mesmos são altamente o principal objeto da indústria, se não houver uma efetiva
adoção de medidas, tanto das empresas e dos consumidores, para evitar que o meio ambiente continue
sendo degradado.

Esses resíduos ao serem destinados para os grandes lixões a céu aberto, podem causar danos à saúde,
tanto animal quanto humana. Conforme ressalta Moreira (2007), as contaminações destes resíduos
podem ser por contato direto, como no caso da manipulação das placas eletrônicas e seus componentes,
como pode também ocorrer de forma acidental, como é o caso dos aparelhos que vão para os aterros
sanitários, existindo assim, uma grande possibilidade de que os componentes tóxicos contaminem o solo
chegando aos lençóis freáticos e consequentemente, afetando a água, que tem seus diversos fins, como
a irrigação do próprio solo, dos alimentos, e do próprio consumo humano.

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Diante do exposto, verificamos que uma série de fatores contribuem decisivamente para o aumento do
lixo eletrônico, como consumo exacerbado, pouca durabilidade dos produtos, descarte irregular. Esse
aumento traz consigo uma gama de substâncias que são altamente tóxicas e contam com longo prazo de
deterioração na natureza, gerando um grande impacto ambiental.

2. OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO LIXO ELETRÔNICO E A IMPORTÂNCIA DO


CONSUMO SUSTENTÁVEL

Os avanços tecnológicos e a redução do ciclo de vida útil dos aparelhos eletrônicos geram um
crescimento exponencial de resíduos eletrônicos, que ao não obterem destinação adequada podem
causar sérios danos à saúde e ao meio ambiente. Nesse sentido, destaca Bauman (2008, p. 45):

Novas necessidades exigem novas mercadorias, que por sua vez exigem novas
necessidades e desejos; o advento do consumismo inaugura uma era de
‘obsolescência embutida’ dos bens oferecidos no mercado e assinala um
aumento espetacular na indústria da remoção do lixo.

Têm-se, por consequência, uma sociedade de consumo insustentável, pois “a capacidade de


regeneração da Terra não acompanha a procura: o homem transforma os seus recursos em lixo mais
rapidamente do que a natureza pode transformar lixo em novos recursos” (LATOUCHE, 2012, p. 38).
Essa produção de lixo em grande escala vai na contramão do ideal de meio ambiente ecologicamente
equilibrado, em prejuízo da natureza, da sociobiodiversidade e da população.

Ancorada na Carta de Estocolmo, o artigo 225 da Constituição Federal de 1988[2] assegurou o direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tal direito configura-se como condição
primordial para o desenvolvimento da vida humana, porquanto essencial para a concretização do
princípio maior do ordenamento jurídico, qual seja a dignidade da pessoa humana. Dessa forma, embora
não elencado no rol Dos Direitos e Garantias Fundamentais do art. 5° da Carta Constitucional de 1988, o
direito ao meio ambiente integra necessariamente tal campo constitucional, conforme afirma Sarlet (1998,
p. 123):

Apesar de o direito ao meio ambiente equilibrado não se incluir no catálogo dos


direitos fundamentais do art. 5° da Constituição Federal de 1988, trata-se de um
direito fundamental, definido como típico direito difuso, inobstante também tenha
por objetivo o resguardo de uma existência digna do ser humano, na sua
dimensão individual e social.

Pesquisas recentes estimam que cada bateria ou pilha depositada de forma inadequada no meio
ambiente contamine uma área de um metro quadrado. Entretanto, o dano ambiental pode ser maior se a
quantidade desses equipamentos jogados em lixões for muito alta. Da mesma forma que a poluição
torna-se mais agressiva caso esses resíduos sejam queimados, gerando uma fumaça contaminada por
componentes tóxicos. (RECICLAVEIS.COM.BR)[3]

A dissolução de metais pesados depositados em aterros sanitários impróprios pode contaminar lençóis
freáticos e o ambiente local. Em aterros, a dissolução dos metais é mais fácil devido à acidez da área.
Isso facilita a acumulação de metais pesados na cadeia alimentar através da contaminação de animais e
vegetais, que podem causar a intoxicação de seres humanos que venham a consumir esses alimentos
afetados. Metais pesados como chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos podem provocar graves
doenças neurológicas, além de afetar a condição motora.

Um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) colocou o Brasil no topo do ranking de produção
per capita de lixo eletrônico oriundo de computadores dentre os onze países emergentes e em
desenvolvimento. Esse índice revela a necessidade de que o país busque alternativas sustentáveis para

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a destinação de resíduos, o que impõe uma mudança comportamental da sociedade, conforme alerta
Spínola (2001, p. 2010):

O modelo de progresso difundido atualmente, que estimula um consumo


exagerado e que mercantiliza os recursos naturais é insustentável e precisa ser
revisto. Esse modelo de desenvolvimento excessivamente consumista é
altamente impactante tanto do ponto de vista social como ambiental. É por isso
que a grande questão que se coloca hoje em dia é a busca de um novo modelo
de desenvolvimento e de consumo que não cause tantos impactos no meio
ambiente, que seja ecologicamente sustentável e que promova uma melhor
distribuição da riqueza no mundo. Para adotar a ética da vida sustentável, os
consumidores deverão reexaminar seus valores e alterar seu comportamento. A
sociedade deverá estimular os valores que apóiem esta ética e desencorajar
aqueles incompatíveis com um modo de vida sustentável.

Nesse panorama, pertinente a consideração de Porto Gonçalves (2006, p. 69), que alerta que os riscos
que a sociedade contemporânea corre, em grande parte, derivam da própria intervenção da sociedade
humana no planeta, como é o caso do lixo eletrônico. É necessário, portanto, que sejam colocados
limites ao crescimento em prol do meio ambiente.

Na tentativa de frear a produção em massa de lixo, foi aprovada no Brasil no dia 05 de agosto de 2010 a
Lei Federal nº 12.305, referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), com o escopo
de promover a gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

Nesse cenário, o desafio é “pensar o futuro a partir de uma percepção socioambiental, que aponte para a
conciliação da proteção da biodiversidade e desenvolvimento” (ARAÚJO, 2013, p. 289), impondo-se,
assim, uma mudança paradigmática para que se evite a destruição da natureza e a perda de
biodiversidade.

3. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO ACERCA DO DESCARTE DE PILHAS E BATERIAS

A compatibilização entre Direito e Sustentabilidade é de extrema importância, porquanto as regras são


necessárias para se concretizar a proteção socioambiental. Nessa inter-relação, a função do Direito é
sistematizar e regular as questões que envolvem consumo e meio ambiente, utilizando-se de
instrumentos jurídicos de prevenção, reparação, informação, monitoramento e participação (MACHADO,
2007, p. 127).

O Brasil é o único país da América do Sul que regulamenta a fabricação, venda e destinação final de
pilhas e baterias. Com a entrada em vigor da Resolução 257, do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), que dispõe considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descarte
inadequado de pilhas e baterias usadas e a necessidade de se disciplinar o descarte e o gerenciamento
ambientalmente adequado, no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição
sobre estes resíduos.

Considerados tóxicos o lançamento desses resíduos em lixões, nas margens das estradas ou em
terrenos baldios, compromete a qualidade ambiental e de vida da população. Os resíduos pesados,
quando aterrados, migram para partes mais profundas do solo. Com isso podem atingir o lençol freático,
contaminando a flora e a fauna das regiões próximas e ainda causar doenças que variam de lesões
cerebrais a disfunções renais e pulmonares passando por distúrbios visuais e anemia. Segundo a
Resolução 257, os fabricantes e importadores são os responsáveis pelo recolhimento do material e sua
destinação final, o que deve ser fiscalizado pelos órgãos públicos ambientais.

A Resolução estabelece ainda que as pilhas e baterias, após o seu esgotamento energético, devem ser
entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica
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autorizada pelas respectivas indústrias. Estas, por sua vez, devem repassá-las aos fabricantes e
importadores, para que passem por procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição
final ambientalmente adequada. No artigo 13° está previsto que as pilhas e baterias, que atenderem aos
limites previstos no artigo 6°, podem ser dispostas juntamente com os resíduos domiciliares, em aterros
sanitários licenciados. Mas, por falta de aterros licenciados, a maior parte das baterias e pilhas usadas,
continuam tendo os lixões irregulares como destino, significando um risco para o meio ambiente e para
as pessoas.

Acerca desse assunto, uma informação importante é que dependendo do material de que são
constituídas, pilhas e baterias podem ser jogadas em lixo doméstico. As pilhas secas, composta por
zinco-manganês e alcalina-manganês, as mais consumidas para uso doméstico, têm, em sua maioria,
operado nos limites estabelecidos pelo artigo 6° da Resolução 257. As baterias de telefone sem fio, de
filmadoras, de celular, ou outros tipos, normalmente recarregáveis, devem ser devolvidas às lojas. A
legislação brasileira, por meio da Resolução 257 do Conama, determina que os fabricantes devem inserir
no rótulo informações sobre o perigo do descarte incorreto.

Conforme a legislação correspondente, as empresas que desobedecerem à norma de recolhimento dos


produtos poderão ser enquadradas na Lei de Crimes Ambientais. Já os consumidores têm papel
fundamental no processo de recolhimento de baterias, principalmente as usadas em celulares, o que só
poderá ser efetivado por meio da conscientização da população.

Os dados informativos acerca do tema mostram que uma única pilha contamina o solo durante 50 anos,
e circulam anualmente 10 milhões de baterias de celular, 12 milhões de baterias automotivas e 200 mil
baterias industriais. Do total de pilhas e baterias consumidas no Brasil, quase 70% são constituídas
principalmente por zinco e cádmio, aproximadamente 30% por amônia e manganês. O país produz cerca
de 800 milhões de pilhas comuns por ano, e ao se desfazer de pilhas e baterias usadas em local
inadequado, pode-se contaminar o solo, a água e o ar, e esse produto chega aos seres humanos, com a
possibilidade de causar riscos à saúde, sendo considerados bioacumulativos – visto que se acumulam no
organismo ao longo do tempo. (RECICLAVEIS.COM.BR)

Devido a estas características o lixo eletrônico com grande potencial de contaminação ambiental,
necessita de sistemas de gestão e controle da disposição final. Além disso, a PNRS (Política Nacional de
Resíduos Sólidos), sancionada em agosto de 2010, estabelece o incentivo à chamada logística reversa,
que constitui em incentivos para que as empresas, governo e os consumidores sejam comprometidos em
viabilizar a coleta.

A logística reversa e a reciclagem dos componentes pode ser a solução mais adequada. As atividades da
logística reversa consistem em coletar os materiais utilizados, danificados ou até mesmo rejeitados,
produtos fora de validade, a embalagem e transporte do ponto do consumidor final até o revendedor
(ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999).

Segundo Gonçalves (2007), existe um paradoxo que tem que ser resolvido a curto prazo: como resolver
a questão de uma produção cada vez mais crescente e um mercado que oferece equipamentos high tech
cada vez mais acessíveis, com o tremendo desperdício de recursos naturais e a contaminação do meio
ambiente causados pelo próprio processo de produção destes equipamentos e pelo rápido e crescente
descarte dos mesmos? Seja pela sua rápida obsolescência ou por estarem danificados, esses materiais
são descartados em aterros sanitários ou outros locais inapropriados. E quando há reciclagem desses
materiais, essas iniciativas são as mais rudimentares e precárias. Somado a isso, não podemos dizer
que há uma política de regularização destes detritos. No máximo, se há algo, é apenas um tímido
conjunto de dispositivos legais que não atendem minimamente as reais necessidades de preservação
ambiental, causando danos já devidamente constatados à própria saúde humana, inclusive nos países
considerados desenvolvidos (GONÇALVES, 2007).

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A crítica do autor reforça a percepção de que a legislação deixa a desejar no cumprimento de seu papel,
o que evidencia-se pela dificuldade na fiscalização, pela falta de meios aptos a efetivarem o que está
disciplinado nos artigos da Resolução 257[4]. Portanto, o que podemos inferir é que a disposição legal é
regulamentada, no entanto a sua aplicação prática sofre com a falta de meio suficientes para a
fiscalização, e posterior cumprimento das medidas diante da infração.

4. OS TRÊS R’S DO CONSUMO ECOEFICIENTE E A CONSCIENTIZAÇÃO DO DESCARTE


ADEQUADO

O conceito dos 3 R’s da sustentabilidade, que surgiu no começo do século XXI, visa estabelecer regras a
diminuir o impacto que acontece no custo de vida, seja para ter acesso, consumir ou fazer descarte de
resíduos. As taxas populacionais no mundo aumentam junto com os níveis de poluições, conforme
aponta grande parte dos especialistas. Planos do gênero possuem importância vital para educar as
grandes multidões que consomem ao redor do mundo. Parte dos consumidores possui o costume de
consumir de forma quase incontrolável, ao comprar bens que não se usa por necessidade ou de forma
constante no lazer. Na prática o mundo precisa de espírito menos consumista por parte dos povos e se
estabelecer melhor em termos ambientais.

Os 3R´s para controle do lixo são Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Reduzindo e reutilizando se evitará que
maiores quantidades de produtos se transformem em lixo. Reciclando se prolonga a utilidade de recursos
naturais, além de reduzir o volume de lixo (BONELLI, 2005).

A reciclagem é um processo industrial que consiste na conversão do lixo descartado (matéria-prima


secundária) em produto semelhante ao inicial ou outro. Reciclar é economizar energia, poupar recursos
naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que é jogado fora. Para compreendermos a reciclagem, é
importante "reciclarmos" o conceito que temos de lixo, deixando de enxergá-lo como algo sujo e inútil em
sua totalidade. A noção difundida por muito tempo de que “na natureza nada se perde”, representa
justamente a ideia central da reciclagem, que é um termo originalmente utilizado para indicar o
reaproveitamento (ou a reutilização) de um polímero, por exemplo, no mesmo processo em que, por
alguma razão foi rejeitado.

A reutilização também é uma forma de redução, pois os produtos permanecem mais tempo em uso antes
de serem descartados. Consiste no aproveitamento de produtos sem que estes sofram quaisquer tipos
de alterações ou processamento complexos (só passam, por exemplo, por limpeza). Ao reutilizar, você
estará ampliando a vida útil do produto, além de economizar na extração de matérias-primas virgens.

Ao reduzir focamos em consumir menos produtos, dando preferência aos que tenham maior durabilidade.
Uma forma de reduzir é: adquirir refis de produtos; escolher produtos que tenham menos embalagens ou
embalagens econômicas; dar prioridade às embalagens retornáveis; adquirir produtos a granel; ter
sempre sua sacola de compras e não utilizar as sacolinhas de plástico; utilizar pilhas recarregáveis e não
as pilhas alcalinas; utilizar lâmpadas econômicas. Com essas ações é possível que se alcancem
resultados satisfatórios para a redução do consumo desenfreado, típico da sociedade atual.

Com o uso dos 3R’s por uma população mais consciente do ambiente em que vivemos, observamos que
a redução do descarte incorreto de pilhas, baterias e outros resíduos eletrônicos também é um reflexo da
informação e do processo de conscientização que é idealizado por todos que difundem essa ideia. De
modo a impulsionar esse movimento, são necessárias campanhas educativas que permitam à população
conhecer melhor os riscos à saúde de todos que o descarte inadequado pode provocar.

CONCLUSÃO

O momento em que a sociedade se encontra deve ser objeto de profunda reflexão, pois o consumo
elevado, proporcionado pelas inovações tecnológicas, a obsolescência programada e o descarte irregular
do lixo eletrônico, resulta numa severa lesão ao meio ambiente.
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O presente estudo expôs que os resíduos provenientes dos aparelhos eletrônicos possuem alto grau de
lesividade tanto para o meio ambiente, quanto para a saúde humana. A responsabilidade deve ser
compartilhada entre o setor industrial, que pretende sempre inovar e atrair o consumidor, e o próprio
consumidor ao pleitear novos produtos, essa relação de consumo que tem por objeto a produção e a
destinação final dos produtos precisa estar em consonância com a preservação ambiental, de modo que
seja evitado o consumo desenfreado, que é uma marca do mundo atual nas sociedades.

Conforme foi visto, os 3R´s são um conjunto de medidas que visam essa proteção ao meio ambiente, por
meio de uma conscientização da sociedade acerca da poluição e com o incentivo de ações com a
finalidade de diminuir os impactos na natureza. O problema do lixo eletrônico é uma realidade atual, por
meio da legislação existente vemos que timidamente existem infrações que são punidas e chegam aos
tribunais, como no caso da jurisprudência em questão, no entanto milhares de outros casos acontecem
diariamente, e para que seja, pelo menos, suavizada tal problemática se faz necessária uma efetiva
solução, esta que se consolidará quando o ser humano tomar medidas eficazes para proteger o bem
jurídico em questão, que é um direito fundamental da coletividade atual e das futuras gerações, que é o
meio ambiente.

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211.

[1] Estudante do curso de Direito da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

[2] Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).
[3] Disponível em: http://www.reciclaveis.com.br/. Acesso em Setembro, 2016.

[4] A Resolução 257 do CONAMA foi revogada pela Resolução 401 que versa sobre mesma matéria,
contudo, a sua aplicação prática ainda carece de eficácia.

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SILVA, Lucas Vinicius Santos. Lixo eletrônico: descarte e impactos ambientais. Portal Jurídico
Investidura, Florianópolis/SC, 21 Mai. 2019. Disponível em: investidura.com.br/biblioteca-
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em: 27 Jun. 2023

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