Você está na página 1de 10

Lixo Nuclear

Débora Cristina Eloy Trindade da Silva

Universidade Federal da Paraíba – UFPB


Graduanda em Engenharia de Materiais

É considerado lixo nuclear todos resíduos provenientes da utilização ou do


contato de substâncias radioativas. Cada lixo tem características próprias,
por causa da quantidade de radioatividade distribuída por cada partícula
(podendo ser: alfa, beta ou gama) em um tempo próprio para cada. Grande
parte do lixo nuclear produzido, no mundo vem de armas nucleares e das
usinas nucleares, mas outros setores como materiais hospitalares (raio-x),
indústrias também fazem parte dessa vasta quantidade de lixo nuclear
mundial. Esses tipos de lixos não podem ser descartados como lixo comum,
eles são verificados para avaliar o grau de intensidade de radiação presente,
os lixos com menor intensidade é reciclado na Índia, Japão e Grã-Bretanha,
onde são os únicos que tem permissão para tal. Os com intensidades acima,
são colocados em recipientes metálicos, que são confinados em blocos de
concretos altamente resistentes para não haver vazamento. Tempos atrás,
esses blocos eram jogados no mar, porém com o receio que a corrosão
marinha visse a danificar os blocos, fez com que os resíduos nucleares
fossem depositados em poços com profundidades que variam de acordo
com a intensidade do material, onde espera algo ser feito para seu destino.
O maior exemplo de lixo nuclear é a cidade de Chernobyl, onde toda a
cidade teve que ser abandonada por causa da explosão em um reator
nuclear em uma das usinas elétricas da região, causando a evacuação de
135.000 pessoas.

Palavras-chave: Lixo nuclear. Radioatividade.

1
INTRODUÇÃO

É considerado lixo nuclear todo os resíduos formados por rejeitos radioativos


provenientes de hospitais (exames clínicos tais como raio x que fazem uso de produtos
radioativos), usinas nucleares (onde ocorrem atividades com elementos radioativos tais
como Urânio que se torna lixo nuclear após a fissão nuclear), centros de pesquisa, entre
outras, sendo assim os compostos que perderam a sua utilidade de uso. Esse material é
resultado da atividade com elementos radioativos que emitem energia nuclear.
É necessário que o lixo nuclear seja transportado, tratado, armazenado e isolado
com o máximo de cuidado, seguindo rigorosamente as normas de segurança
internacionais com o intuito de diminuir ao máximo o risco de qualquer contaminação
ou exposição. Faz-se imprescindível então a não reutilização deste produto, bem como a
sua eliminação deve ocorrer de forma correta para que não haja riscos de contato com o
ser humano, o que pode ter como consequência o desenvolvimento de doenças como
câncer, bem como a morte imediata.
O lixo nuclear representa perigo porque quando os isótopos de Urânio passam
pelo processo da fissão nuclear, se desintegram e passam a emitir radiações gama. Estes
são extremamente nocivos à saúde porque possuem um grande poder de penetração,
eles invadem as células do organismo, as destruindo com o calor ou consiste numa
ionização e fragmentação das células. A exposição de partículas radioativas pode deixar
a pele totalmente destruída, pois as células não resistem ao calor emitido pela reação.
O lixo deve então passar por um tratamento adequado, ser embalado e
armazenado em locais específicos, por um tempo determinado até o momento em que
não oferecer mais riscos a sociedade. Tempo este variável de acordo com o seu nível
radioativo.
Para que o descarte seja feita de forma correta é necessário ser posto num
recipiente especial e depositado em locais com revestimento de concreto, devendo
permanecer neste local por um período que varia de 50 a 300 anos. As cavernas
utilizadas para o descarte são utilizadas em caso de alta atividade nuclear, que
necessitam estar completamente isolados, tais como combustíveis de reatores.
Cavernas como estas, especificas para o descarte de lixo nuclear possuem 800 metros de
profundidade.
O grau de nocividade do resíduo do lixo do reator nuclear pode ser classificado
em três categorias: Resíduo de alto nível (HLW, high level waste); resíduo de nível

2
intermediário (ILW, intermediate level waste); resíduo de baixo nível (LLW, low level
waste). De acordo com esta classificação internacional, o nível HLW é o nível mais nocivo
de todos, logo, merece atenção especial para com o seu manuseio.
O processo de seleção da coleta do lixo nuclear se dá a partir de: 1) Alto poder de
contaminação. 2) Esse lixo nuclear chamado RAA pode conter radiação por um tempo
consideravelmente longo e é armazenado nas próprias usinas, num produto responsável
por resfriar e segurar a radiação mais nociva. 3) Todo o equipamento utilizado é
contaminado num grau considerado médio, posteriormente sendo descartado num
barril metálico depois de solidificado em concreto. 4) As roupas de proteção também
são consideradas contaminadas e descartadas num barril metálico também. 5) Todos os
barris utilizados para o armazenamento do lixo nuclear são selados e postos num
deposito. Para a vedação é utilizado resina isolante e concreto. 6) Após isso, o lixo
nuclear devem ser ir para os depósitos geológicos capazes de armazena-los sem risco de
acidentes por anos.
O lixo nuclear não é totalmente descartado, parte dele pode ser reciclado. O urânio
utilizado nos reatores nas usinas pode ser reutilizado no meio tecnológico, porém o que
ocorre é a mistura com outras substâncias gerando plutônio e urânio. Ambos com alto
teor radioativo. Atualmente, semente 1% pode ser reaproveitado enquanto 95% precisa
ser enriquecido. O problema da reciclagem do urânio é o seu alto valor de custo. É mais
rentável produzir do que reaproveitar, criando assim ainda mais volume no lixo nuclear.
Somente três unidades estão capacitadas para reciclar combustível radioativo. O
transporte é feito com o máximo de cuidado, sendo transportado por navios que se
assemelham no esquema de segurança com os navios petroleiros. Os países que fazem a
reciclagem de urânio combustível são India, Japão e Grã Betanha e os que fazem teste
para iniciar o processo são Rússia e França.
O símbolo de lixo nuclear é o trifólio, nome dado ao trevo de três folhas. O desenho
foi rabiscado pela primeira vez em 1946, na Universidade da Califórnia pelo grupo de
cientistas do laboratório nuclear. Foi dito pelo chefe de departamento do laboratório,
que o símbolo representa os três diferentes tipos de energia nuclear: a alfa, beta e
gama. O símbolo tem com preto e amarelo, preto a parte das três folhas e amarelo a
parte o fundo. Hoje, em qualquer lugar do mundo, toda substância que emita ou tem
risco de emitir radiação tem esse símbolo por perto.

3
Acidentes

- Chernobyl, 26 de abril de 1986

No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia,


realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o
comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia.
Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que
quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis.
Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a
circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso,
mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de
superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma
imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Césio-137, elemento
químico de grande poder radioativo.
Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material
radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos
comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente
quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de
Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de
material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat.
Para alguns especialistas, as dimensões catastróficas do acidente nuclear de
Chernobyl poderiam ser menores caso esse modelo de usina contasse com cúpulas de
aço e cimento que protegessem o lugar. Não por acaso, logo após as primeiras ações de
reparo, foi construído um “sarcófago” que isolou as ruínas do reator 4. Enquanto isso,
uma assustadora quantidade de óbitos e anomalias indicava os efeitos da tragédia
nuclear.
Buscando sanar definitivamente o problema da contaminação, uma equipe de
projetistas hoje trabalha na construção do Novo Confinamento de Segurança. O projeto
consiste no desenvolvimento de uma gigantesca estrutura móvel que isolará
definitivamente a usina nuclear de Chernobyl. Dessa forma, a área do solo contaminado
será parcialmente isolada e a estrutura do sarcófago descartada.

4
Apesar de todos esses esforços, estudos científicos revelam que a população
atingida pelos altos níveis de radiação sofre uma série de enfermidades. Além disso, os
descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas
congênitos e anomalias genéticas. Por meio dessas informações, vários ambientalistas
se colocam radicalmente contra a construção de outras usinas nucleares.

- Goiânia, 13 de setembro de 1987

No dia 13 de setembro de 1987, ocorreu em Goiânia o maior acidente radioativo


em área urbana; a população mundial ainda não havia se recuperado do acidente
radioativo que ocorreu na usina nuclear de Chernobyl, em razão da explosão de um dos
reatores, no ano de 1986. Nessa época já havia em Goiânia a radioterapia, que tem
como principal ferramenta as radiações ionizantes.
As radiações ionizantes, dentro do serviço de radioterapia, são altamente
energizadas, pois possuem pequeno comprimento de onda e alta frequência, e essas
podem ser obtidas através do acelerador linear ou de elementos radioativos.
Em 1987, o IGR (Instituto Goiano de Radiologia) estava fechado e no local havia
um aparelho abandonado utilizado para fazer radioterapia, em seu interior havia o
isótopo césio 137 dentro de uma cápsula, que até então era blindada. O césio 137 é um
isótopo do césio por possuir mesmo número de prótons e diferente número de
nêutrons, e é um radioisótopo por ser emissor de radiação.
Catadores de papel, em busca de sucatas que pudessem ser vendidas a um ferro
velho, invadiram o antigo IGR e levaram para casa a cápsula que continha o césio 137. O
problema surgiu quando eles violaram a cápsula e tiveram acesso ao elemento
radioativo que lá estava. Após a violação da cápsula, pessoas, animais, superfícies e
quase tudo o que estava nas adjacências sofreram irradiação (receberam incidência de
radiação) e foram contaminadas (presença de elemento radioativo em qualquer
superfície que cause risco potencial de saúde) pelo césio 137.
A radiação emitida por esse isótopo é ionizante, ou seja, possui a capacidade de
remover elétrons da eletrosfera e essa remoção em seres vivos ocasiona alterações
genéticas que podem resultar em câncer, síndrome de down, albinismo, anemia, dentre
outras.

5
Esse acidente gerou cerca de 13,4 toneladas de rejeitos radioativos, várias
pessoas com problemas de saúde e uma ferida incicatrizável na população goiana em
razão da irresponsabilidade de poucos.

- Japão, 16 de março de 2011.

O Japão iniciou suas atividades com Energia Atômica em 1954, quando reservou
de seu orçamento 230 milhões de ienes para a energia nuclear. Por lei, suas atividades
foram limitadas para propósitos pacíficos. Desde então, os avanços na energia nuclear
tiveram investimentos de empresas, institutos de pesquisa japoneses, e grandes
usuários de energia nuclear.
Pelas décadas de 1908 e 1990 continuaram as construções de novas usinas, até
que em meados de 1990 houve vários acidentes nucleares, ocasionando protestos e
resistência à construção de novas usinas.
Dentre os mais graves, podemos citar o acidente nuclear de Tokaimura, o
de Chernobyl, a explosão de vapor de Mihama, além de outros. Por conta de tais
acontecimentos, a segurança da indústria nuclear japonesa passou a sofrer grande
pressão. Foram, pois, canceladas as usinas de Hōhoku em 1994, de Kushima em 1997,
de Ashihama em 2000, de Maki em 2003 e de Suzu em 2003
Em busca de retomar a credibilidade, em abril de 2007, o Japão assinou, junto
com os EUA, o Plano de Ação de Energia Nuclear Estados Unidos - Japão. Segundo este
documento, cada país iria conduzir as pesquisas em tecnologias de ciclo de combustível,
modelação e simulação computacional avançada, reatores pequenos e médios,
segurança e proteção física e gerenciamento de resíduo nuclear.
Há uma preocupação quanto aos riscos de construção de usinas nucleares no
Japão devido à sua história de terremotos e atividades sísmicas, que frequentemente
resultam em tsunamis e que podem vir a atingir alguma destas usinas causando assim
algum acidente nuclear. O acidente mais sério dos últimos anos foi o de Fukushima I,
que aconteceu após a tsunami de Tohoku em 2011.
Segundo pesquisadores e especialistas no assunto, o Japão seria um local
arriscado para a construção de usinas nucleares, podendo ser a causa de uma catástrofe
para o país e para o mundo. Enquanto ativistas do movimento anti nuclear alertam
sobre a possibilidade de danos que poderiam ser causados às usinas em eventos

6
naturais como terremotos ou tsunamis, os responsáveis pelas usinas afirmam que elas
são planejadas de forma que esta seria uma hipótese improvável ou até impossível.
Contudo, a própria AIEA (Agência Internacional de Energia Nuclear) se mostrou
preocupada após os últimos acidentes nucleares noticiados, chegando a advertir que um
grande terremoto com magnitude de mais de 7,0 na escala Richter poderia causar sérios
problemas para as estações nucleares do Japão.
Depois da publicação do novo guia sísmico de 2006, a Comissão de Segurança
Nuclear exigiu que o design de todas as usinas nucleares fosse reavaliado. Em
contrapartida, os estudos geológicos do Japão vem causando a preocupação de alguns
profissionais como o geólogo do Taku Komatsubara que alegou em 2008 a presença de
falhas geológicas que eram ignoradas quando os novos lugares para usinas nucleares
eram avaliados. Assim também um sismólogo do Instituto de Tecnologia de Hiroshima,
Takashi Nakata, compartilhando da mesma opinião, sugeriu que poderiam haver
conflitos de interesses entre a indústria nuclear japonesa e os regulamentadores das
usinas.

7
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme as informações citadas acima, podemos considerar que mesmo os


materiais nucleares sejam de grande eficiência e utilidade, o seu descarte é uma
preocupação de muito tempo e que precisa de uma solução urgente. A grande
quantidade de resíduos não prejudica apenas o ser humano, mas também o solo, os
animais e ar atmosférico em si.
Por isso, cientistas nucleares se preocupam não só com qual seria o melhor
cemitério para o lixo nuclear, mas também com a necessidade de ser ele mantido sob
controle constante. A solução mais aceitável nos tempos de hoje, é esse tipo de lixo ser
colocado em minas de sal desativadas, pois o sal é muito impermeável e com isso fica
mais difícil entrar na terra e afetar o solo.

8
REFERÊNCIAS

FELTRE, R. Química. 6. Ed. São Paulo, Moderna, 2004.

ALMEIDA, F. B. O Acidente Radioativo em Goiânia. Brasil Escola. Disponível


em: <http://www.brasilescola.com/fisica/o-acidente-radioativo-
goiania.htm>. Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

ALVES, L. Lixo Nuclear: Perigo! Brasil Escola. Disponível em:


<http://www.brasilescola.com/quimica/lixo-nuclear-perigo.htm>. Acesso
em: 16 de Fevereiro de 2015.

ARAÚJO, A. P. Energia Nuclear no Japão. Info Escola: Navegando e


Aprendendo. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/fisica-nuclear/energia-nuclear-no-japao/>.
Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

LIXO nuclear. Sua Pesquisa.com. Disponível em:


<http://www.suapesquisa.com/o_que_e/lixo_nuclear.htm>. Acesso em: 16
de Fevereiro de 2015.

PARA onde vai o lixo nuclear? Cultura Mix.com. Disponível em:


<http://meioambiente.culturamix.com/lixo/para-onde-vai-o-lixo-nuclear>.
Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

SOUSA, R. Acidente de Chernobyl. Brasil Escola. Disponível em:


<http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm>.
Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

SOUZA, L. A . Lixo Nuclear no Lugar Certo. Mundo Educação. Disponível em:


<http://www.mundoeducacao.com/quimica/lixo-nuclear-no-lugar-
certo.htm>. Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

SOUZA, L. A. Classificação do Lixo Nuclear. Mundo Educação. Disponível em:


<http://www.mundoeducacao.com/quimica/classificacao-lixo-nuclear.htm>.
Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

SOUZA, L. A. Efeitos da Radiação no Corpo Humano. Mundo Educação.


Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/quimica/efeitos-
radiacao-no-corpo-humano.htm>. Acesso em: 16 de Fevereiro de 2015.

OLIVEIRA, L. H. Um cemitério para o lixo atômico. Super Interessante.


Disponível em: <http://super.abril.com.br/ecologia/cemiterio-lixo-atomico-
439590.shtml>. Acesso em: 19 de Fevereiro de 2015.

PIOVEZAN, P. Entenda o símbolo associado à radiação nuclear. NUCLEAR:


CINHECER PARA DEBATER. Disponível em:
<http://conhecerparadebater.blogspot.com.br/2011/07/entenda-os-
simbolos-associados-radiacao.html>. Acesso em: 19 de Fevereiro de 2015.

9
10

Você também pode gostar