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OBS: O STF declarou que tal dispositivo é “ainda constitucional”

(inconstitucionalidade progressiva), pelo menos até que todas as comarcas


sejam dotadas de Defensoria Pública.
Assim, nas Comarcas em que não houver Defensoria Pública e a Vítima for
pobre, poderá o MP recorrer pleiteando o aumento da indenização.
Seria possível admitir que não haveria interesse recursal nesses casos,
porquanto esse valor à indenização apenas mínimo e não definitivo.
c) Vítima
A vítima pode recorrer desta decisão? A doutrina diz que não teria interesse
recursal (pois valor é mínimo e decidido, aliás, incidenter tantum, não
fazendo coisa julgada, não sendo definitivo), devendo, portanto, se socorrer
da via cível através da liquidação para apurar o dano efetivamente sofrido.
4.14.4. Necessidade de pedido expresso
Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos
causados à vítima (art. 387, IV, do CP), é necessário que haja pedido
expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim de que seja
oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da
ampla defesa (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 08/10/2013).
4.14.5. Prova do prejuízo
O STJ já decidiu que o juiz somente poderá fixar este valor se existirem
provas nos autos que demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em
decorrência do crime. Dessa feita, é importante que o Ministério Público ou
eventual assistente de acusação junte comprovantes dos danos causados pela
infração para que o magistrado disponha de elementos para a fixação de que
trata o art. 387, IV do CPP. Vale ressaltar, ainda, que o réu tem direito de
se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor pleiteado
como indenização.
4.14.6. Falta de obrigatoriedade
O juiz pode deixar de fixar o valor mínimo em algumas situações, como, por
exemplo:
a) quando não houver prova do prejuízo;
b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação
probatória, o juízo criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo, que
deverá ser apurado em ação civil;
c) quando a vítima já tiver sido indenizada no juízo cível.
CS – PROCESSO PENAL III 68
O exemplo citado nesta letra “b” foi justamente o que ocorreu no julgamento
do “Mensalão”. O STF rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de
alegações finais, no sentido de que fosse fixado valor mínimo para reparação
dos danos causados pelas infrações penais, sob o argumento de que a
complexidade dos fatos e a imbricação de condutas tornaria inviável assentar
o montante mínimo. Assim, não haveria como identificar com precisão qual a
quantia devida por cada réu, o que só seria possível por meio de ação civil,
com dilação probatória para esclarecimento desse ponto (Plenário. AP 470/MG,
rel. Min. Joaquim Barbosa, 17/12/2012).
4.14.7. Danos morais
Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a
vítima por danos morais?
1ª corrente: SIM. Posição de Norberto Avena.
2ª corrente: NÃO. Defendida por Eugênio Pacelli.
4.14.8. Cumulação de instâncias
O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fez com
que o Brasil passasse a adotar a chamada “cumulação de instâncias” em
matéria de indenização pela prática de crimes?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de
indenização pela prática de crimes ocorre quando um mesmo juízo resolve a
lide penal (julga o crime) e também já decide, de forma exauriente, a
indenização devida à vítima do delito. Conforme explica Pacelli e Fischer,
“por esse sistema, o ajuizamento da demanda penal determina a unidade de
juízo para a apreciação da matéria cível” (Comentários ao Código de Processo
Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil, não
há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for
possível, definir um valor mínimo de indenização pelos danos sofridos sem,
contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda poderá ser examinado pelo
juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.
4.15. DECISÃO FUNDAMENTADA SOBRE MANUTENÇÃO OU IMPOSIÇÃO DE PRISÃO
PREVENTIVA OU OUTRA MEDIDA CAUTELAR
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:...
§ 1o O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição
de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação
que vier a ser interposta. (Incluído pela Lei nº 12.736, de 2012)
Tal orientação já era amplamente aceita, de forma a ser apenas formalizada,
atualizando o CPP. Modificação relevante trazida pela lei 12.736 é o que
veremos no tópico abaixo.
CS – PROCESSO PENAL III 69
4.16. ANTECIPAÇÃO DA DETRAÇÃO PARA A SENTENÇA CONDENATÓRIA: INCIDÊNCIA DA
LEI 12.736/12
A Lei n. 12.736/2012 acrescentou o § 2º ao art. 387 do CPP, com o objetivo
de que a detração seja considerada pelo juiz que proferir sentença
condenatória.
CPP Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
...
§ 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no
estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena
privativa de liberdade.
4.16.1. Lembrando o que é detração penal
A detração penal ocorre quando o juiz desconta da pena ou da medida de
segurança aplicada ao réu o tempo que ele ficou preso antes do trânsito em
julgado ou o tempo em que ficou internado.
Exemplo:
Eduardo foi preso em flagrante por roubo com emprego de arma em 02/01/2011.
Foi, então, denunciado pelo art. 157, § 2º, I, do CP, tendo respondido o
processo preso cautelarmente. Em 01/01/2012, foi sentenciado a 5 anos de
reclusão, tendo ocorrido o trânsito em julgado. Percebe-se, portanto, que
Eduardo ficou preso provisoriamente (antes do trânsito em julgado) durante 01
ano. Este período de prisão provisória (01 ano) deverá ser descontado, pelo
juiz, da pena imposta a Eduardo (5 anos). Assim, restará a Eduardo cumprir
ainda 4 anos de reclusão. O ato do juiz de descontar este período é chamado,
pela lei, de detração.
A detração está prevista no art. 42 do Código Penal:
Detração Art. 42. Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o
tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de
internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.
4.16.2. Qual é o juízo responsável por realizar a detração?
Antes da Lei n. 12.736/2012, a detração penal era realizada apenas no momento
da EXECUÇÃO da pena, pelo juízo das execuções penais. Nesse sentido, prevê o
art. 66, da Lei n. 7.210/84 (LEP):
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
(...)
III - decidir sobre:
(...)
c) detração e remição da pena;
Desse modo, após a condenação, a Secretaria da Vara expede um documento
chamado “guia de execução”, que contém diversas informações sobre o réu,
dentre elas o total da pena
CS – PROCESSO PENAL III 70
imposta ao condenado e o tempo em que ele ficou preso cautelarmente, ou seja,
antes do trânsito em julgado.
Essa guia de execução, juntamente com outros documentos, é encaminhada ao
juízo das execuções penais (geralmente outra vara) e lá é iniciado o processo
de execução, no qual o magistrado irá decidir sobre a situação jurídica do
reeducando, deliberando sobre progressão e regressão de regime, livramento
condicional, detração e remição da pena, dentre outros.
Assim, como já dito, era somente, neste momento, ou seja, na EXECUÇÃO penal,
que era examinado o eventual direito do réu à detração.
Em nosso exemplo acima, seria o juízo da execução quem iria reconhecer que
Eduardo tinha o direito à detração de 01 ano de sua pena.
4.16.3. O que a nova Lei trouxe sobre o tema?
A Lei n. 12.736/2012 estabeleceu que o exame da detração deve ser feito já
pelo juiz do processo de conhecimento, ou seja, pelo magistrado que condenar
o réu.
Dessa forma, foi imposto um novo dever ao juiz na sentença condenatória, qual
seja, o de analisar se o réu ficou preso provisoriamente, preso
administrativamente ou internado no curso do processo e, caso tenha ficado,
esse tempo deverá ser descontado, pelo magistrado, da pena imposta ao
condenado.
Voltando ao nosso exemplo:
Eduardo foi condenado a 05 anos de reclusão. Pela nova Lei, após fixar essa
pena, o juiz, na própria sentença, irá reconhecer que o réu ficou 01 ano
preso cautelarmente e, então, irá conferir-lhe a detração desse período,
afirmando, portanto, que sua pena passa a ser de 04 anos com o desconto. Em
outras palavras, o juiz que condena o réu já aplica a detração. Houve, então,
uma antecipação do momento em que deve ser reconhecida a detração: antes era
apenas na execução penal e, agora, passou a ser no momento da PROLAÇÃO da
sentença condenatória.
4.16.4. Qual a intenção da inovação legislativa?
O objetivo foi o de tornar mais célere a concessão dos benefícios da execução
penal ao condenado, em especial quanto ao regime de cumprimento de pena.
Exemplo: No caso de Eduardo, antes da Lei n. 12.736/2012, como ele foi
condenado a 05 anos de reclusão, o juiz, na sentença, iria lhe impor o regime
inicial semiaberto (art. 33, § 2º, b, do CP). Logo, Eduardo iria ser
encaminhado à colônia agrícola ou industrial para cumprimento da pena.
Somente passados alguns dias (ou até meses), o juízo da execução penal iria
ter condições de examinar o seu processo e reconhecer que ele tinha direito à
detração. Com o desconto da detração, o magistrado determinaria sua
transferência para o regime aberto. O certo é que Eduardo teria ficado um
tempo cumprindo pena no regime semiaberto de forma ilegal, tendo em vista que
já possuía o direito de ser transferido para o regime aberto.
Com a nova disposição da Lei n. 12.736/2012, o juiz que condenou Eduardo já
faria a detração na sentença e reconheceria que, descontado, o 01 ano de
prisão provisória, o condenado teria direito de já iniciar o cumprimento da
pena no regime aberto. Dessa feita, mesmo
CS – PROCESSO PENAL III 71
sem decisão do juízo das execuções penais, o condenado já iniciaria a pena no
regime aberto, considerando que a detração seria realizada na sentença
reduzindo, desde logo, a pena imposta.
4.16.5. O juízo das execuções penais ainda pode continuar fazendo detração?
SIM. A Lei n. 12.736/2012 impôs ao juízo da condenação que faça, já na
sentença, a detração devida. Entretanto, a nova Lei não revogou, expressa ou
tacitamente, o art. 66, III, c, da LEP. Assim, ainda é possível que o juízo
das execuções penais faça a detração penal sempre que o juízo da condenação
não tome essa providência ou, ainda, nas hipóteses em que algum período de
prisão ou internação não tenha sido considerado na sentença por equívoco ou
falta de informação.
4.16.6. Quadro comparativo ANTES da Lei n. 12.736/2012 DEPOIS da Lei n.
12.736/2012 A detração era realizada pelo juiz das execuções penais. A
detração é realizada pelo juiz do processo de conhecimento, no momento em que
proferir a sentença condenatória. Obs.: o juízo das execuções penais continua
tendo a possibilidade de fazer a detração, mas de forma subsidiária. Na prolação da
sentença, o juiz não examinava se o condenado possuía direito à detração. Na
prolação da sentença, o juiz tem o DEVER de fazer a detração. O regime
inicial de cumprimento da pena era fixado com base na pena total imposta (sem
considerar eventual direito à detração). Na fixação do regime inicial o juiz
deverá descontar, da pena imposta, o tempo de prisão provisória, de prisão
administrativa ou de internação do condenado. Em nosso exemplo, Eduardo
iniciaria o cumprimento da pena no regime semiaberto. Em nosso exemplo,
Eduardo iniciaria o cumprimento da pena no regime aberto.
4.16.7. Com essa nova previsão legal, pode-se dizer que foi inserida uma
nova fase no critério trifásico de dosimetria da pena?
NÃO. O critério trifásico de dosimetria da pena continua o mesmo (1-
circunstâncias judiciais; 2-agravantes e atenuantes; 3-causas de aumento e de
diminuição).
A detração realizada na sentença ocorre após ser concluída a dosimetria da
pena e antes da fixação do regime inicial de cumprimento. Esse é o momento da
detração na sentença.
CS – PROCESSO PENAL III 72
4.16.8. Para fins de prescrição pela pena em concreto (retroativa,
superveniente e executória), deverá ser considerado o total da reprimenda
fixada na dosimetria ou a pena reduzida pela detração?
Para analisar se houve a prescrição, deverá ser levado em conta o total da
pena fixada na dosimetria, não sendo considerado o desconto ocorrido pela
detração.
A Lei n. 12.736/2012 não alterou o critério para calcular a prescrição, que
continua previsto no art. 110, caput e § 1º do Código Penal, os quais
mencionam expressamente que a prescrição se regula pela PENA APLICADA, ou
seja, pela reprimenda fixada na dosimetria.
Assim, a detração realizada na sentença produz efeitos para fins de fixação
do regime inicial e NÃO para cálculo da prescrição.
Nesse sentido, a redação do novel § 2º do art. 387 do CPP procurou ser
explícita quanto à sua finalidade:
Art. 387. (...)
§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no
estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa
de liberdade.
4.16.9. Vacatio legis
A Lei n. 12.736/2012 não possui prazo de vacatio legis, de forma que já se
encontra em vigor. Logo, as sentenças que forem prolatadas atualmente já
devem observar essa inovação legislativa.
4.17. PROCEDIMENTOS: DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE COMUM ORDINÁRIO # COMUM
SUMÁRIO
PROCEDIMENTO
COMUM ORDINÁRIO
COMUM SUMÁRIO Cabimento (crimes apenados com...) Pena máxima igual ou
superior a 04 anos. Pena máxima inferior a 04 anos, mas superior a 02 anos.
Testemunhas
08
05 Prazo para a audiência 60 dias. 30 dias.
Requerimento de diligências
Sim.
Não. Não há previsão legal.
Obs.: princípio da busca pela verdade pelo juiz (pode mitigar a regra).
Substituição das alegações orais por memoriais Alegações orais  memoriais.
Não há previsão legal.
Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30
(trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das
testemunhas arroladas pela
CS – PROCESSO PENAL III 73
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 (precatória) deste
Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de
pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao
debate.
Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela
acusação e 5 (cinco) pela defesa.
Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste
Código.
Art. 400
§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§ 2o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.
Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à
acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez),
proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez)
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determinando
o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
[...]
Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal
encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento,
observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.
CS – PROCESSO PENAL III 74

II. TRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL


DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL
DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL
DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL DO JÚRITRIBUNAL
DO JÚRI.
1. ORIGEM DO TRIBUNAL DO JÚRI
Há quem diga que o júri já era conhecido desde a Grécia e Roma antigas. Em
sua visão moderna, no entanto, tem origem com a Magna Carta inglesa do Rei
João Sem Terra, de 1215, que previa em seu art. 38: “Ninguém poderá ser
detido preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdades, senão em
virtude de julgamento de seus pares”.
Posteriormente, com a Revolução Francesa, o Tribunal do Júri acaba se
expandindo para os demais países do mundo ocidental. Nessa época, o júri era
tido como uma forma de julgamento justo e imparcial, porquanto fugia da
decisão de magistrados corruptos comandados pelos interesses da Coroa.
No Brasil a instituição surgiu em 1822, via decreto do príncipe regente. Em
1824, é acrescentado à Constituição Imperial no capítulo pertinente ao poder
judiciário. Na CF/1891 passa ao rol dos direitos fundamentais. Na CF/34
voltou ao capítulo do poder judiciário. Na CF/37 é totalmente suprimida.
Retorna na CF/46 ao capítulo dos direitos fundamentais, panorama que se
seguiu nas CF de 1967, EC 1969 e CF/88.
2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL
O instituto do júri é previsto no art. 5º, XXXVIII da CF/88, in verbis:
Art. 5º , XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
Como já visto, a previsão do júri consta do rol de direitos e garantias
individuais da CF/88. Uma das explicações dada pela doutrina para a posição
topológica júri: formação de uma cláusula pétrea.
O Tribunal do Júri é órgão do poder judiciário?
Muitos constitucionalistas dizem não fazer parte do poder judiciário, por não
constar do rol do art. 92 da CF. Já os processualistas penais não têm dúvida
quanto a sua natureza de órgão judiciário.
O júri só existe na estrutura da Justiça Federal e da Justiça Estadual. São
os únicos casos onde há lei regulamentando. Lembrando que a regra é o
julgamento na JE, indo para JF apenas quando atingir interesses diretos da
Administração direta, autárquica ou fundacional da União.
CS – PROCESSO PENAL III 75
Exemplo: Crime doloso contra a vida cometido por ou contra funcionário
público federal em razão de suas funções; crime doloso contra a vida
praticado a bordo de navio ou aeronave.
3. COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI (art. 447 CPP)
O tribunal do júri é composto por um juiz presidente + 25 jurados, dos quais
07 irão compor o Conselho de Sentença. O MP atua perante o Tribunal do Júri,
mas não pode ser apontado como seu componente, até porque o MP não faz parte
do poder judiciário.
CPP Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25
(vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão
o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.
Motivos da alteração do número de jurados de 21 para 25:
• Evitar o adiamento do julgamento por falta de quórum (15 jurados);
• Evitar a separação dos processos no julgamento de corréus, que se dava com
as recusas peremptórias (ver abaixo).
4. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI (art. 5º, XXXVIII CF)
Art. 5º
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
4.1. PLENITUDE DE DEFESA
4.1.1. Plenitude X Ampla defesa
A plenitude é a AMPLA DEFESA num grau mais elevado. Vejamos alguns efeitos
extraídos dessa diferenciação:
No Tribunal do júri a defesa técnica, bem como a autodefesa não precisam se
limitar a uma argumentação exclusivamente jurídica, podendo se valer de
argumentos de ordem social, emocional e de política criminal.
Caso haja divergência de teses defensivas entre o advogado e o acusado, deve
o juiz presidente incluir, no questionário, quesito relativo à tese pessoal
do acusado, sob a pena de nulidade.
CS – PROCESSO PENAL III 76
O juiz pode nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso,
podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o
julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor (art. 497, V
CPP).
CPP Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras
expressamente referidas neste Código: ...
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso,
dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor;
Nesse sentido o STF HC 85.969, onde o julgamento foi anulado pelo fato de o
defensor ter sido nomeado com dois dias de antecedência para o júri,
prejudicando a defesa do réu.
DEFESA - GRAVIDADE DO CRIME. Quanto mais grave o crime, deve-se observar, com rigor,
as franquias constitucionais e legais, viabilizando-se o direito de defesa em plenitude.
PROCESSO PENAL - JÚRI - DEFESA. Constatado que a defesa do acusado não se
mostrou efetiva, impõe-se a declaração de nulidade dos atos praticados no processo,
proclamando-se insubsistente o veredicto dos jurados. JÚRI - CRIMES CONEXOS. Uma
vez afastada a valia do júri realizado, a alcançar os crimes conexos, cumpre a realização de
novo julgamento com a abrangência do primeiro.
Em sentido semelhante, o Informativo 706 do STF:
4.2. SIGILO DAS VOTAÇÕES
Na realidade, o que é sigiloso é o voto do jurado. O sigilo nas votações se
traduz na colocação do voto em urna indevassável, na existência de sala
especial, longe do público, onde o ato de votação é realizado, bem como na
garantia de incomunicabilidade dos jurados.
CS – PROCESSO PENAL III 77
Todos esses instrumentos de sigilo têm como fundamento garantir ao jurado a
livre formação de sua convicção.
4.2.1. Sala especial para as votações
Prevista no art. 485 do CPP, trata-se do recinto diverso do plenário onde
estarão presentes o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o
assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de
justiça. Ou seja, não estarão presentes o acusado e o público.
O §1º do referido artigo dispõe que na ausência de sala especial as pessoas
que não constam do caput devem ser RETIRADAS do plenário no momento da
votação.
CPP Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério
Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça
dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.
EXCEÇÃO: O acusado pode estar presente na sala secreta, quando estiver
advogando em causa própria.
§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire,
permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.
§ 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que
possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar
inconvenientemente.
A sala especial não violaria o PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE dos atos
processuais? Não. Conforme o art. 93, IX da CR a publicidade é mitigada em
benefício da imparcialidade dos jurados. Nesse sentido, também o art. 5º, LX,
que permite a relativização da publicidade quando em prol do interesse
social.
CPP Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público
à informação;
CF Art. 5º. LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;
CP Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em
segredo de justiça.
4.2.2. Incomunicabilidade dos jurados
CS – PROCESSO PENAL III 78
Do princípio do sigilo das votações deriva a regra da incomunicabilidade dos
jurados. Uma vez sorteados para compor o Conselho de Sentença, os jurados não
podem conversar entre si, com outras pessoas, tampouco manifestar sua opinião
sobre o processo.
OBS: essa garantia da incomunicabilidade não tem caráter absoluto, pois diz
respeito apenas a manifestações relativas ao processo (STF AO 1.046 e 1.047).
Nesse julgamento, o STF afastou, por maioria, a arguição de nulidade
decorrente da permissão dada aos jurados para que efetuassem, cada um, rápida
ligação a um familiar.
STF AO 1.047. Não se constitui em quebra da incomunicabilidade dos jurados o fato de que,
logo após terem sido escolhidos para o Conselho de Sentença, eles puderam usar telefone
celular, na presença de todos, para o fim de comunicar a terceiros que haviam sido sorteados,
sem qualquer alusão a dados do processo. Certidão de incomunicabilidade de jurados firmada
por oficial de justiça, que goza de presunção de veracidade. Desnecessidade da
incomunicabilidade absoluta. Precedentes. Nulidade inexistente.
4.2.3. Consequência da violação à incomunicabilidade
Nulidade absoluta.
Antes da Lei 11.689/08, existia uma possibilidade onde restava quebrado o
sigilo da votação. Ocorria na hipótese da votação unânime.
Com a nova Lei, isso não ocorre, pois quando são atingidos quatro votos num
mesmo sentido, a votação deve ser automaticamente encerrada (art. 483, §1º
do CPP).
Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos
incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos
I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
4.3. SOBERANIA DOS VEREDICTOS
Preconiza esse princípio que um Tribunal formado por juízes togados não pode
modificar o mérito da decisão dos jurados.
Essa garantia também guarda um caráter relativo. Vejamos duas exceções à
soberania:
a) Possibilidade de interposição de apelação contra a decisão do júri;
b) Possibilidade de revisão criminal contra a decisão do júri.
CS – PROCESSO PENAL III 79
OBS: Há quem coloque a possibilidade de absolvição sumária entre as exceções,
pois, de fato, o julgamento se dá por um juiz togado.
4.3.1. Possibilidade de interposição de apelação contra a decisão do júri
(art. 593, III do CPP).
1) Recurso de fundamentação vinculada
Trata-se de um recurso de fundamentação vinculada, ou seja, não é possível
devolver ao Tribunal TODA a matéria decidida no 1º grau (fato, direito e
prova), mas apenas aquilo que a lei delimita.
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
Nesse sentido, a súmula 713 do STF.
Súmula 713 STF - O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição.
2) Juízo Rescindente X Juízo Rescisório
No juízo rescindente, o Tribunal limita-se a desconstituir a decisão anterior
(erro in procedendo). No juízo rescisório (revisório – erro in iudicando), o
Tribunal substitui a decisão anterior por outra (ver Fredie).
3) Hipóteses de cabimento de apelação no júri
a) Nulidade posterior à pronúncia
Tanto a nulidade ABSOLUTA quanto a nulidade RELATIVA podem ensejar a
apelação. Entretanto, a nulidade relativa deve ser arguida no momento
oportuno, sob pena de preclusão.
Por que somente APÓS a pronúncia? Porque as nulidades relativas anteriores à
pronúncia já foram atacadas pela preclusão. Se a nulidade ocorreu antes da
pronúncia, deveria ter sido alegada no máximo até as alegações finais, sendo
apreciada pelo juiz quando da decisão pronúncia, cabendo contra tal o RESE.
Quando à nulidade absoluta, é claro, não há limitação temporal para a
alegação.
Nessa hipótese de apelação, o tribunal praticará APENAS o juízo rescindente
ou revidente (anulação do ato viciado).
b) Sentença do juiz presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados
CS – PROCESSO PENAL III 80
Aqui ocorre tanto o juízo rescindente quanto o rescisório, de forma a anular
a decisão do juiz e prolatar uma nova de acordo com o veredicto do Conselho
de Sentença.
Art. 593 § 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das
respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação (rescindente e
rescisório).
c) Erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena
Ocorrerá tanto o juízo rescindente quanto o juízo rescisório. Com a Lei
11.689/08, agravantes e atenuantes não são mais quesitadas aos jurados,
portanto como tal matéria é da competência do juiz presidente, nada impede
que o Tribunal afaste sua aplicação (não haverá violação à soberania do
veredicto).
Art. 593 § 2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad
quem, se lhe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança
(rescindente e rescisório).
d) Decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos
Se há duas versões, ambas amparadas por provas nos autos, tendo os jurados
optado por uma delas, não será cabível apelação.
OBS: Essa apelação só é cabível UMA VEZ, pouco importando quem tenha apelado,
vale dizer, o segundo veredicto é absoluto.
Aqui o tribunal faz apenas o juízo RESCINDENTE (anula a decisão e baixa os
autos para que novo júri seja formado).
Art. 593 § 3o Se a apelação se fundar no n. III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se
convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-
lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento (rescindente); não se admite, porém,
pelo mesmo motivo, segunda apelação.
4.3.2. Possibilidade de Revisão Criminal contra decisão do Júri
1) Possibilidade
Diz-se que é possível, uma vez que tanto a revisão criminal quanto a
soberania dos veredictos são garantias instituídas em prol da liberdade do
acusado, logo não há que se falar em incompatibilidade. Prevalece na
doutrina, que na revisão criminal o Tribunal faz tanto juízo rescindente
quanto o juízo rescisório, vale dizer, o veredicto é totalmente substituído
pela decisão dos magistrados.
2) Non reformatio in pejus x Tribunal do Júri

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