Você está na página 1de 3

30/07/2017 Clemente - Confundiam meu pai com o Lupicínio Rodrigues - gafieiras

Clemente PARTE 2/29

Confundiam meu pai


com o Lupicínio
Rodrigues

Tacioli – Qual era a profissão de seu pai?

Clemente – Meu pai teve loja, mas o lance dele era estar na rua; ele era comerciante. No começo

ele era o famoso ambulante, que nem o Silvio Santos. Depois abriu uma loja; teve umas duas lojas

grandes.

Tacioli – Loja do quê?

Clemente – Ah, de tudo, guarda-chuva, essas coisas.

Dafne – No bairro mesmo?

Clemente – Não, no Centrão (de São Paulo). Meu pai vivia no Centrão. Ele nunca parava na loja,

porque vivia atrás da mulherada, né? [ risos ] Meu pai era uma figura. Tinha carteira de imprensa

pra entrar de graça em tudo quanto era lugar. O cara cursou até o segundo ano primário, né? Aí ele

viajava de avião pra Porto Alegre, uma coisa assim, e os caras o confundiam com o Lupicínio

Rodrigues [ n.e. 1914-1974 | Cantor e compositor gaúcho autor de clássicos como “Nervos de aço”,

“Felicidade”, “Esses moços” e “Se acaso você chegasse” ]. Ele ficava quietinho. “Senhor, venha na

área vip!” “Humn? Sim!” Tinha um grupo regional em que tocava cavaquinho.

http://gafieiras.com.br/entrevistas/clemente/3/ 1/3
30/07/2017 Clemente - Confundiam meu pai com o Lupicínio Rodrigues - gafieiras

Dafne – Ele tocava cavaquinho?

Clemente – Tocava. Meu pai era uma figura, mas não parava em casa…

Dafne – Mas tocava choro?

Clemente – Ah, cara, nem sei o que ele tocava, porque eu não ia. Só vi as fotos dele com o

grupinho. Acho que tocava choro, samba, seresta. Nunca vi esse grupo, somente a foto. [ riso ] Eu

era o mais novo dos três (filhos).

Tacioli – Eram três filhos?

Clemente – É, naquela época, sim. Aí quando a gente mudou pro Limão, nasceram as duas mais

novas.

Tacioli – Somente você de homem, Clemente?

Clemente – Só eu de homem e do meio. Aí tem o meu primo que foi criado com a gente. Um dia,

com aquela coisa de baiano, o meu tio chegou na casa da minha mãe e falou: “Olha, eu vou pra

Bahia. Você pode ficar com ele só um pouco? Volto daqui uns dois, três meses”. Até hoje ele não

voltou. [ risos ] Ele chamava o meu pai de pai e o pai dele de tio-pai. E tenho dois meios-irmãos:

um menino que fui conhecer quando tinha 28 anos e uma menina, lá do Rio Grande do Sul, quando

meu pai ia pra lá disfarçado de Lupicínio Rodrigues. [ risos ] Meu pai era meio danado. Mas a

família era grande.

Tacioli – E que tipo de música você ouvia na sua casa?

Clemente – Cara, ouvia muita música black, ouvia muito samba, ouvia samba-rock pra caramba.

Aquela coisa no começo, minhas irmãs. Eu lembro até de um cara que namorava a minha irmã, a

Márcia. O nome do cara era Didi. O cara era um black e ficava ensinando samba-rock pra elas. E

eu lá, pivete, só olhando, o cara saindo de carro, todo de branco, aquele sapatão plataforma. A

garagem do carro era daquelas descidinhas, sabe? Imagina o cara, “Uuh!”, escorregou e levantou,

http://gafieiras.com.br/entrevistas/clemente/3/ 2/3
30/07/2017 Clemente - Confundiam meu pai com o Lupicínio Rodrigues - gafieiras

aquele bundão todo preto. [ risos ] Cara, eu rolava de rir. Mas o Didi era figura. Só ouvia isso aí.

Mas a gente vivia numa época, no começo da década de 70, em que todo mundo ouvia rock.

Ouvia-se muito Jackson 5. E a rádio tocava rock, tocava Black Sabbath, tocava Sweet, e a gente

ouvia isso. Acho que com 11 anos eu ganhei o meu primeiro disco do Focus. “Porra, Focus! Legal!”

Aí fui conhecer o Black Sabbath pelos amigos do bairro, Jimi Hendrix… E havia aquele programa

na TV Globo, o Sábado Som, que o Nelson Motta apresentava. E havia o programa do Big John, eu

não lembro o nome do programa dele, mas lembro até hoje ele mostrando o disco do Alice Cooper,

um importado, que vinha com a calcinha dentro, e ele tirando. “Ê, calcinha!” Era rock and roll. E na

escola todo mundo era rocker, não existia o pop propriamente dito. O rock era pop, mas não havia

essa diferença de uma Madonna para um Metallica; todo mundo era mais ou menos a mesma

coisa. Comecei a fazer rock por causa do Chuck Berry.

Tacioli – Isso com que idade?

Clemente – Eu tinha 11, 12 anos.

Tacioli – Mas a música já chamava sua atenção desse jeito?

Clemente – Ah, sim, né?! Havia os bailinhos e todo mundo ia dançar. “Nossa, que barulheira!”

http://gafieiras.com.br/entrevistas/clemente/3/ 3/3

Você também pode gostar