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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012

FEUP, 24-26 de outubro de 2012

Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na


concepção e no custo da estrutura

Carlos Alves1 António Costa2

RESUMO

A NP EN 1998-1:2010 vem introduzir novas metodologias de dimensionamento e verificação da


segurança para as estruturas de edifícios. Com o presente trabalho pretende-se analisar as
consequências que essas metodologias apresentam no projecto de edifícios de betão armado sujeitas à
acção sísmica em Portugal. Procedeu-se à análise de um caso de estudo relativo a um mesmo edifício
corrente localizado em diferentes zonas sísmicas e dimensionado para duas classes de ductilidade:
média e alta. Analisaram-se as consequências da implementação do Eurocódigo 8 (EC8) na concepção
e dimensionamento da estrutura, bem como nas quantidades totais dos materiais.

Palavras-chave: Edifício; Betão armado; Ductilidade; Eurocódigo 8; Custos.

1. INTRODUÇÃO

Brevemente Portugal vai viver um período de transição regulamentar relativamente ao projecto de


estruturas de betão armado sujeitas à acção sísmica. Nessa fase caberá ao projectista optar por qual a
regulamentação a seguir para garantir a segurança estrutural: a presente regulamentação portuguesa
(Regulamento de segurança e acções – RSA e Regulamento de estruturas de betão armado e pré-
esforçado – REBAP) ou a nova regulamentação Europeia (Eurocódigo 8 – EC8). Todavia, importa
referir que o EC8 vem impor níveis de exigência para o comportamento estrutural superiores aos
definidos na regulamentação actual pelo que será pouco sustentável a continuação da utilização desta
regulamentação. As principais diferenças entre os dois regulamentos residem na definição da acção
sísmica e na exploração da ductilidade das estruturas. O EC8 considera três níveis de ductilidade
(baixa, média e alta) ao invés do RSA que define apenas dois (normal e melhorada). Os níveis de
ductilidade baixa e média do EC8 correspondem, ainda que de forma aproximada, à ductilidade
definida no REBAP como normal e melhorada, respectivamente. O nível de ductilidade alta não tem
equivalência na actual regulamentação portuguesa. As estruturas de edifícios de betão armado
projectadas para os níveis de ductilidade média (DCM) e alta (DCH) devem respeitar um conjunto
específico de regras, condições e parâmetros de dimensionamento dos seus elementos, nomeadamente,
paredes estruturais, pilares, vigas e fundações (elementos primários). Pretende-se com a utilização

1
Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal. cm_alves1986@hotmail.com
2
Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal. acosta@civil.ist.utl.pt
Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na concepção e no custo da estrutura

destes critérios garantir a ductilidade local necessária nas respectivas zonas críticas destes elementos,
evitando que se formem mecanismos de rotura frágil indesejáveis, e garantir a ductilidade global da
estrutura, evitando a formação de mecanismos de cedência parciais. A satisfação destes critérios tem
por objectivo garantir um nível de ductilidade para a estrutura compatível com o valor do coeficiente
de comportamento adoptado para o seu dimensionamento o qual é função do tipo de sistema estrutural.
Às estruturas DCH correspondem valores de coeficiente de comportamento maiores que às estruturas
DCM e consequentemente critérios de dimensionamento mais restritivos. A questão que se formulou
sobre esta vertente do EC8 consiste em avaliar até que ponto o possível aumento do valor do
coeficiente de comportamento, que reduz as forças sísmicas que actuam sobre os elementos primários,
proporciona uma diminuição das quantidades totais de cada material, dado que implicam critérios de
dimensionamento mais restritivos a cumprir para os vários elementos estruturais. Neste contexto
desenvolveu-se um caso de estudo relativo a um mesmo edifício localizado em diferentes zonas
sísmicas e dimensionado para duas classes de ductilidade: média e alta

2. A ACÇÃO SÍSMICA E A ABORDAGEM DO EUROCÓDIGO 8

A aplicação do EC8 ao projecto de estruturas sujeitas à acção sísmica tem como finalidade assegurar
três objectivos: salvaguardar as vidas humanas; limitar os danos provocados no edifício; garantir a
operacionalidade de estruturas importantes para a protecção civil. Neste contexto é necessário que as
estruturas sejam projectadas para a não ocorrência de colapso local ou global para um nível de acção
sísmica com pequena probabilidade de ocorrência, designada por acção sísmica de cálculo, bem como
seja controlado o nível de danos provocados na mesma para uma acção sísmica de menor intensidade
com maior probabilidade de ocorrência que a acção sísmica de cálculo. Os danos provocados não
devem corresponder a custos desproporcionalmente elevados quando comparados com os da própria
estrutura. O cumprimento destes dois requisitos traduz-se regulamentarmente na verificação de dois
estados limites: estados limites últimos e estados de limitação de danos [1]. No EC8 são definidos dois
tipos de acção sísmica para o território nacional tal como acontece no RSA. A acção sísmica tipo 1
apresenta um cenário de geração interplacas continentais caracterizando-se por baixas frequências,
elevada magnitude e longa duração. A acção sísmica tipo 2 apresenta um cenário de geração
intraplacas continentais caracterizando-se pela sua elevada frequência, magnitude moderada e curta
duração. A acção sísmica é definida no EC8 por um único parâmetro: o valor de referência da
aceleração máxima na base em rocha, a gR.

Figura 1. Zonas Sísmicas e correspondentes acelerações para o território de Portugal Continental.

A Fig. 1 apresenta o zonamento sísmico do território de Portugal Continental para os dois tipos de
acção bem como os correspondentes valores de referência da aceleração máxima (a gR). Para efeitos do
dimensionamento da estrutura a acção a considerar é a acção sísmica de cálculo (ag) obtida pelo
produto da aceleração de referência pelo coeficiente de importância .
. (1)
No Quadro 1 apresentam-se quatro classes de importância distintas para classificação dos edifícios
com base nos seguintes parâmetros: perda de vidas humanas; a importância do edifício para a
segurança pública e para a protecção civil logo após o sismo; consequências sociais e económicas
associadas ao seu colapso.

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Carlos Alves e António Costa

Quadro 1. Classe de importância dos edifícios de acordo com EC8.


Classe de Importância Edifícios
I Edifício de importância menor para a segurança pública.
II Edifícios correntes, não pertencentes a outras categorias.
Edifício cuja resistência sísmica é importante tendo em vista as
III
consequências associadas ao colapso.
Edifício cuja integridade em caso e sismo é de importância vital
IV
para a protecção civil.

A cada classe de importância corresponde um coeficiente de importância cujo valor é unitário para
um edifício de classe II sujeito a uma acção sísmica com período de retorno de referência. O Anexo
Nacional do EC8 define os valores de apresentados no Quadro 2.

Quadro 2. Valor do coeficiente de importância em função da classe de importância do edifício


para os dois níveis de acção sísmica.
Classe de Importância Acção Sísmica Tipo 1 Acção Sísmica Tipo 2
Continente Açores
I 0,65 0,75 0,85
II 1,00 1,00 1,00
III 1,45 1,25 1,15
IV 1,95 1,5 1,35

O EC8 considera como representação de referência da acção sísmica o espectro de resposta elástica da
aceleração à superfície do terreno (S a,T). Contrariamente às restantes acções, na definição da acção
sísmica, além de considerar unicamente o “efeito directo” traduzido pela aceleração ao nível do solo, é
necessário considerar a capacidade da estrutura em resistir aos sismos no domínio não linear da
resposta. Esta capacidade resulta sobretudo do comportamento dúctil dos seus elementos estruturais e
outros mecanismos de dissipação que possam ser adoptados [2]. A exploração da ductilidade é
considerada no EC8 através dos espectros de resposta de cálculo (Sd,T) os quais são obtidos a partir
dos aspectos elásticos afectando-os do coeficiente de comportamento “q”. O espectro de cálculo
define-se no EC8 pelas Eqs (2) a (5).

(2)
(3)

(4)

(5)

T período de vibração
ag valor de cálculo da aceleração à superfície para um solo do tipo A e uma determinada classe
de importância do edifício;
TB limite inferior do período no patamar de aceleração espectral constante;
TC limite superior do período no patamar de aceleração espectral constante;
TD valor que define no espectro o início do ramo de deslocamento constante;
Sd (T) espectro de cálculo;
q coeficiente de comportamento;
coeficiente correspondente ao limite inferior do espectro de cálculo horizontal. O valor
adoptado no anexo nacional é 0,2;
S coeficiente de solo.

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Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na concepção e no custo da estrutura

Para efeitos da definição do coeficiente de comportamento há necessidade de classificar o sistema


estrutural e definir a sua regularidade em planta e altura. A não regularidade em altura da estrutura
implica uma redução de 20% dos valores de referência do coeficiente de comportamento. Os edifícios
de betão armado classificam-se em vários tipos de sistemas estruturais, conforme o Quadro 3.

Quadro 3. Tipos de sistemas estruturais.


Sistema Sistema
Sistema Sistema
Sistema Misto Misto Sistema de
Torsionalmente Pêndulo
Porticado Equivalente Equivalente Paredes
Flexível Invertido
Porticado Parede
>65% 50 a 65% 50 a 65% >65% Sistema misto ou 50% massa
Resistência às Resistência Resistência Resistência de paredes que não encontra-se no
acções laterais às acções às acções às acções apresenta rigidez de terço superior
por pórticos. laterais por laterais por laterais por torção mínima. da estrutura.
pórticos. paredes. paredes.

O valor do coeficiente de comportamento q é definido através da Eq. (6).


(6)
q0 valor base do coeficiente de comportamento;
Kw factor que reflecte o modo de rotura predominante nos sistemas estruturais de paredes.

A cada sistema estrutural correspondem valores de “q0” para os vários níveis de ductilidade, Quadro 4.

Quadro 4. Valores básicos do coeficiente de comportamento.


Ductilidade Ductilidade Ductilidade
Tipo Estrutural
Baixa Média Alta
Sistema Porticado, Sistema Misto, 3,0
1,5
Sistema de Paredes Acopladas
Sistema de Paredes não Acopladas 1,5 3,0 4,0
Sistemas Torsionalmente Flexível 1,5 2,0 3,0
Sistema de Pêndulo Invertido 1,5 1,5 2,0

Na verificação da segurança aos ELU ao valor de cálculo dos esforços devem ser acrescentados os
efeitos de segunda ordem. Estes podem ser desprezados se em todos os pisos é cumprida a Eq. (7).
(7)
coeficiente de sensibilidade ao deslocamento relativo entre pisos;
Ptot carga gravítica total acima do piso;
Vtot esforço transverso sísmico total no piso;
h altura entre pisos;
dr valor de cálculo do deslocamento relativo entre pisos, definido como a diferença entre
deslocamentos ds no topo e na base do piso considerado. ds corresponde ao deslocamento
elástico obtido da análise para a situação sísmica de projecto amplificado pelo valor do
coeficiente de comportamento nessa direcção.

Para valores de compreendidos entre 0,1 e 0,2 os esforços da análise de 1ºordem devem ser
amplificados por 1/(1- ) . Para valores entre 0,2 e 0,3 deve realizar-se uma análise explícita de 2ª
ordem.

Para assegurar a ductilidade local e global da estrutura o EC8 considera as seguintes regras de cálculo
por capacidade real: 1- Deve impedir-se a formação de mecanismos de rotura frágil ou de mecanismos
indesejáveis, como por exemplo rotura por esforço transverso dos elementos resistentes ou

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Carlos Alves e António Costa

concentração de rótulas plásticas em pilares na existência de um só piso. Para o efeito, os esforços de


cálculo devem ser obtidos por condições de equilíbrio considerando os valores resistentes das secções
adjacentes e um factor de sobrerresistência cujo valor varia de elemento para elemento e a classe
de ductilidade da estrutura; 2- Deve ser verificada a Eq. (8) em todos os nós entre vigas primárias ou
secundárias e pilares primários para sistemas estruturais porticados ou equivalentes a pórticos com
dois ou mais pisos. A condição deve ser verificada em dois planos ortogonais de flexão para os dois
sentidos da acção; 3 – Para cálculo dos momentos flectores resistentes das vigas , deve ser
considerada a armadura de laje paralela às vigas e localizada na largura eficaz do banzo.
(8)
soma dos valores de cálculo dos momentos resistentes dos pilares ligados ao nó.
soma dos valores de cálculo dos momentos resistentes das vigas ligados ao nó.
Para garantir a ductilidade local é necessário cumprir as condições apresentadas na Quadro 5.

Quadro 5. A- Largura mínima (mm); B- Zona Critica (m); C- % Mínima de armadura longitudinal;
D- % Máxima de armadura longitudinal; E- Armadura longitudinal mínima (cm2); F- mínimo e
espaçamento máximo armadura transversal nas zonas críticas (mm); G- Armadura confinamento;
H- Esforço axial reduzido máximo.

Vigas Pilares Paredes Estruturais


DCM DCH DCM DCH DCM DCH

A se
se

mas,
B

Pilares fictícios
C
Na alma

D
Pilares fictícios

E _ _
Zonas Críticas
Zonas Críticas
F

Pilares fictícios

G _ _
, para DCM , para DCM
, para DCH , para DCH

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Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na concepção e no custo da estrutura

H _ _

A verificação do estado limite de utilização consiste na limitação dos deslocamentos relativos entre
pisos quando a estrutura é sujeita a uma acção sísmica com probabilidade de ocorrência superior à
acção sísmica de cálculo. Os deslocamentos relativos entre pisos obtidos da análise para a acção
sísmica de cálculo são reduzidos pelo coeficiente ν para ter em conta o menor nível da acção e
posteriormente comparados com os valores limite impostos no EC8 que são função do material
utilizado nos elementos não estruturais. Estes valores limites apresentam-se no Quadro 6.

Quadro 6. Deslocamento relativo máximo entre pisos em função do material não estrutural. ν é o
coeficiente de redução cujo valor é 0,4 e 0,55 para acção sísmica tipo I e II respectivamente.
Elementos não estruturais com Elementos não estruturais Ausência ou fixação de elementos
materiais frágeis fixos à estrutura dúcteis não estruturais à estrutura

3. CASO DE ESTUDO

A planta do piso tipo do edifício e os dados necessários para realizar a análise apresentam-se na Fig. 2.

Nº Pisos: 2 Caves + 8 Pisos elevados (h=2,80m)

Materiais Estruturais:
- A500NR SD
- C30/37

Materiais não Estruturais:


- Alvenaria de Tijolo (Material frágil)

Solo do tipo C

Classe de importância do edifício: II


Figura 2. Caracterização do edifício

Para posterior comparação de resultados projectou-se o edifício para três zonas sísmicas distintas e
dois níveis de ductilidade: zona sísmica 1.5/2.4, 1.3/2.3 e 1.2/2.3 e níveis de ductilidade média e alta.
Iniciou-se o estudo efectuando um pré-dimensionamento dos elementos estruturais para as cargas
verticais. Na modelação da estrutura considerou-se que as propriedades de rigidez elástica de flexão e
de esforço transverso dos elementos primários correspondem apenas a 50% da rigidez de elementos
não fendilhados para ter conta o efeito da fendilhação. Para a análise sísmica do edifício considerou-se
um modelo de cálculo tridimensional de elementos finitos de barra, admitindo um comportamento
elástico linear para os materiais. Para a situação de projecto sísmica há necessidade de definir a
dimensão/rigidez dos elementos sismo-resistentes em função do valor da acção sísmica correspondente
a cada zona sísmica para que sejam cumpridas as verificações relativas aos estados limites último e de
utilização. Trata-se portanto de um processo iterativo até que em cada zona sísmica se obtenha a
definição estrutural final. Após o pré-dimensionamento para cargas verticais e modelação da estrutura
executou-se uma primeira análise da mesma suposta localizada na zona sísmica 1.5/2.4 com
ductilidade DCM, constatando-se que os valores obtidos para eram superiores a 0,20 o que obrigaria
a realizar-se uma análise explícita de segunda ordem. Não seguindo esta alternativa, otpou-se por
aumentar a rigidez da estrutura com o acréscimo da dimensão dos elementos até que para o piso mais
susceptível aos efeitos de segunda ordem se obteve valores de iguais a 0,20. A estrutura obtida (Fig.
3) corresponde a um sistema porticado (q=3,9) nas duas direcções cuja dimensão dos elementos é
mínima. Com o aumento da aceleração, corresponde à zona sísmica 1.3/2.3DCM, não houve

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Carlos Alves e António Costa

necessidade de aumentar a dimensão dos elementos, pois a sensibilidade da estrutura aos efeitos de
segunda ordem manteve-se e apesar do aumento dos deslocamentos relativos entre pisos o estado
limite de utilização também foi verificado. Com o posterior aumento da acção sísmica, correspondente
à zona 1.2/2.3DCM, constatou-se que os deslocamentos relativos entre pisos eram superiores ao valor
limite ( ) que garante a verificação do estado limite de utilização existindo a
necessidade de aumentar a rigidez da estrutura. A solução estrutural final para esta zona sísmica
consiste na utilização de paredes estruturais nas duas direcções reajustando a dimensão dos restantes
elementos. Na maior direcção do edifício os pilares do alinhamento central dos pórticos exteriores
foram substituídos por paredes de 2 metros enquanto que na menor direcção substituíram-se os
pórticos centrais por paredes de aproximadamente 3,4 metros. O sistema estrutural em cada direcção
corresponde a um sistema de paredes não acopladas (q=3) como se observa na Fig.3.

Figura 3. Disposição em planta dos vários elementos estruturais para as zonas sísmicas 1.5/2.4,
1.3/2.3 (à esquerda) e 1.2/2.3 (à direita), nível de ductilidade médio.

Para análise e obtenção dos esforços sísmicos de dimensionamento da estrutura recorreu-se aos
espectros de cálculo apresentados na Fig. 4.

Figura 4. Espectro(s) de cálculo correspondente(s) aos dois tipos de acção sísmica, nível de
ductilidade médio: zonas sísmicas 1.5/2.4 (à esquerda), 1.3/2.3 (ao centro) e 1.2/2.3 (à direita).

No que às estruturas DCH diz respeito, para a zona sísmica 1.5/2.4DCH, considerou-se numa primeira
análise a estrutura porticada preconizada para as zonas 1.5/2.4DCM e 1.3/2.3DCM. Comparando os
valores de referentes aos dois níveis de ductilidade verificou-se que os valores associados às
estruturas DCH eram superiores em 50%, atingindo para alguns pisos valores próximos de . Para
um qualquer sistema linear com um grau de liberdade sujeito a uma aceleração na base, e que por
aproximação o quociente é constante, a relação entre os valores de para os dois níveis de
ductilidade é dada pela Eq. (9).

(9)

Perante valores de coeficiente de comportamento iguais a 3,90 e 5,85 associados a estruturas


porticadas DCM e DCH, respectivamente, está justificado o porquê do aumento do valor de em
50%. Por conseguinte havia necessidade de aumentar a rigidez da estrutura. Nesse sentido alongaram-
se os pilares até ao limite, tendo sempre em consideração o projecto de arquitectura. No entanto, não
foi possível obter valores de inferiores a 0,20. Como alternativa, considerou-se uma solução idêntica

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Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na concepção e no custo da estrutura

à adoptada para a zona 1.2/2.3DCM (tomando q=4,0) como se observa na Fig.5. As dimensões dos
pilares foram reduzidas dada a menor intensidade da acção sísmica. Com o aumento da aceleração,
referente à zona 1.3/2.3DCH, verificou-se não ser possível garantir a segurança das paredes estruturais
quanto à rotura por compressão diagonal da alma devido ao esforço transverso. O EC8 considera que o
valor de Vrd,máx definido no Eurocódigo 2 deve ser reduzido em 60% para a zona crítica de paredes.
Refere também que o valor de esforço obtido do na análise deve ser amplificado por um coeficiente
que considera o possível aumento do esforço transverso na eminência de existir a plastificação na base
da parede. Estes dois factores conjugados restringem fortemente esta verificação. Uma das soluções
para este problema passaria pelo aumento da secção transversal, nomeadamente da maior dimensão.
Na maior direcção do edifício esta solução é viável, já na menor direcção não o é por razões
arquitectónicas. Assim, ao invés de se caminhar numa solução mais robusta alterou-se o tipo de alguns
elementos estruturais existentes bem como a disposição em planta de outros a fim de obter uma
configuração que corresponda a um sistema estrutural com maior capacidade de dissipação de energia
nas duas direcções, consequentemente coeficientes de comportamento superiores que se traduzem por
forças sísmicas menores (Fig.5). Na maior direcção optou-se por um sistema estrutural de paredes
acopladas (q=5,4) ao contrário de unicamente uma parede centrada em cada fachada lateral. Na menor
direcção por razões estruturais e também arquitectónicas, optou-se por um sistema estrutural porticado
(q=5,85). Realce-se o facto de este sistema estrutural porticado apresentar dimensões (comprimento e
largura) dos pilares e vigas maiores comparativamente ao apresentado para as zonas sísmicas
1.5/2.4DCM e 1.3/2.3 DCM o que engrandece a rigidez do conjunto. Só assim foi possível obter
valores de ligeiramente inferiores a 0,20. Com o novo aumento da aceleração, referente à zona
1.2/2.3DCH, constatou-se o mesmo tipo de situação para as paredes acopladas existentes na maior
direcção. Tal como na zona sísmica anterior, optou-se por uma solução com maior capacidade de
dissipação ao invés de aumentar a secção das paredes estruturais. As dimensões (comprimento e
largura) dos pilares e vigas foram aumentadas no sentido de superar os valores de superiores a 0,20.
De realçar a existência de critérios de dimensionamento dos nós viga-pilar para estruturas DCH a fim
de ser garantida a capacidade resistente destas zonas.

Figura 5. Disposição em planta dos vários elementos estruturais para as zonas sísmicas 1.5/2.4
(à esquerda), 1.3/2.3 (ao centro) e 1.2/2.3 (à direita), nível de ductilidade alta.

Para análise e obtenção de esforços sísmicos de dimensionamento da estrutura recorreu-se aos


espectros de cálculo apresentados na Fig. 6.

Figura 6. Espectro(s) de cálculo correspondente(s) aos dois tipos de acção sísmica, nível de
ductilidade alta: zonas sísmicas 1.5/2.4 (à esquerda), 1.3/2.3(ao centro) e 1.2/2.3 (à direita).

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Carlos Alves e António Costa

No Quadro 7 apresenta-se as quantidades necessárias de cada material bem como uma estimativa do
valor global da estrutura em função da sua localização e do nível de ductilidade pretendido
considerando os seguintes custos unitários: aço – 0,95€/Kg; betão - 100€/Kg; cofragem - 12€/m2.

Quadro 7. Quantidade total de cada material para zonas sísmicas e níveis de ductilidade distintos.
ESTRUTURAS DCM ESTRUTURAS DCH
ZONA SÍSMICA 1.5/2.4 1.3/2.3 1.2/2.3 1.5/2.4 1.3/2.3 1.2/2.3
Vigas 7631 12713 14436 7389 9476 15226
A500NR
Pilares 20574 26960 21662 17143 21840 36363
(Kg)
Paredes Estruturais 0 0 15678 10800 11690 0
Vigas 57,31 57,31 64,40 66,20 70,16 102,22
C30/37
Pilares 84,22 84,22 73,77 63,56 77,48 112,92
(m3)
Paredes Estruturais 0,00 0,00 74,76 74,76 80,64 0,00
Vigas 679,8 679,8 652,1 670,5 694,7 968,8
Cofragem
2 Pilares 1073,0 1073,0 799,0 723,4 850,1 1188,3
(m )
Paredes Estruturais 0,00 0,00 651,3 631,5 689,9 0,00
Custo total 257.188€ 268.083€ 290.916€ 273.529€ 285.707€ 291.616€

Os resultados apresentados para o custo global de cada estrutura resultam do somatório do custo
variável associado às vigas, pilares e paredes estruturais com o custo fixo associado às lajes, fundações
e paredes de contenção. Analisando os resultados constata-se que a quantidade total de betão e
cofragem é a mesma para as zonas 1.5/2.4DCM e 1.3/2.3DCM pois considerou-se a mesma estrutura.
A diferença entre ambas reside na quantidade total de armadura necessária dado o aumento dos
esforços sísmicos resultantes do acréscimo da acção. Comparando as zonas 1.3/2.3DCM e
1.2/2.3DCM, verifica-se que apesar da diminuição do número de elementos estruturais, a quantidade
total de betão e cofragem necessária incrementou. Relativamente às armaduras, a quantidade
respeitante às vigas aumentou tal como verificado na comparação anterior. Para os pilares denotou-se
um decréscimo da quantidade de armadura necessária pois o sistema estrutural de paredes não
acopladas, em oposição ao sistema porticado, não exige que se verifique a Eq.(8), o que conduz a
esforços de cálculo inferiores, passíveis de serem retirados directamente do modelo. Quanto às paredes
estruturais, o reduzido espaçamento entre cintas exigido para garantir o adequado nível do
confinamento nas zonas críticas, conjugado com o nível de esforço transverso a que estas estão
sujeitas conduz a quantidades de armadura longitudinal e transversal semelhantes. Comparando as
quantidades totais necessárias de cada material para estruturas DCH localizadas em diferentes zonas
sísmicas, constatou-se que as quantidades de cofragem e betão aumentaram com o acréscimo da acção
sísmica. Relativamente à armadura, apesar do aumento dos valores dos coeficientes de
comportamento, o acréscimo da acção justifica o aumento das quantidades.

Comparando os valores obtidos para o custo total das estruturas DCM e DCH sujeitas a igual acção
constatou-se que para a zona 1.5/2.4 as quantidades totais mínimas de cada material são maiores para
estruturas DCH. Apesar do coeficiente de comportamento ser praticamente igual nos dois casos, a
maior rigidez da estrutura e as exigências associadas ao nível de ductilidade local proporcionam um
acréscimo considerável das quantidades necessárias. Quanto à zona 1.3/2.3 a quantidade total
necessária de armadura é maior para estruturas DCH dadas as maiores exigências associadas ao
confinamento nas zonas críticas. Relativamente à zona 1.2/2.3 a quantidade de armadura é semelhante
para os dois níveis de ductilidade apesar de se registar a maior diferença entre os valores dos
coeficientes de comportamento adoptados. Este facto realça a importância que o dimensionamento dos
nós viga-pilar traduz na quantidade necessária total de armadura em estruturas DCH porticadas.

Na Fig. 7 apresentam-se as percentagens associadas ao aumento relativo do custo da estrutura para


cada zona sísmica e nível de ductilidade. O valor obtido para cada uma das seis percentagens
apresentadas na Fig. 7 resulta da aplicação da Eq. (10).
(10)

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Aplicação do Eurocódigo 8 ao projecto de edifícios – influência na concepção e no custo da estrutura

Arel CEzona e ductilidade em estudo Aumento relativo do custo total da estrutura associada à zona e
ductilidade em estudo.
CE zona e ductilidade em estudo Custo total da estrutura associado à zona e ductilidade em estudo.
CE mín/máx Custo total mínimo/máximo da estrutura, considerando todos os
valores refentes ao custo total da estrutura para cada uma das seis
zonas sísmicas, Quadro 7.

Zona Sísmica
1.2/2.3 100,0%
98,0%

1.3/2.3 82,8%
31,7% Estruturas DCH
Estruturas DCM
1.5/2.4 47,5%
0,0%

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%


Aumento relativo do Custo Total da Estrutura (%)
Figura 7. Percentagens associadas ao aumento relativo do custo da estrutura.

Como se consta pela Fig.7, para estruturas DCM o valor da diferença entre percentagens associadas a
duas zonas sísmicas distintas aumenta com o aumento da aceleração que lhes corresponde. Por sua
vez, para estruturas DCH existe um decréscimo do valor da diferença entre percentagens com o
aumento da aceleração. Este facto está associado às maiores exigências inerentes às estruturas DCH
que se apresentam muito conservativas para zonas de baixa aceleração.

CONCLUSÕES

Em função dos resultados apresentados no Quadro 7 atesta-se que o custo total da estrutura cresce com
o aumento do nível da acção sísmica e com o nível de ductilidade. Da comparação de resultados entre
os dois níveis de ductilidade conclui-se que optar por nível de ductilidade alta apenas poderá ser
vantajoso para zonas sísmicas às quais corresponde uma aceleração elevada. O aumento geral dos
valores do coeficiente de comportamento traduz-se numa consequente diminuição das forças sísmicas,
porém ao contrário do que seria de esperar pode não se traduzir em menores quantidades totais de cada
material. A grande redução do valor resistente de esforço transverso máximo na zona crítica de
paredes, juntamente com a grande amplificação do valor de esforço transverso obtido na análise, pode
exigir que o projectista recorra a paredes de grandes dimensões de difícil compatibilização com a
arquitectura. A redução do afastamento máximo entre cintas de 1/2 para 1/3 da largura do núcleo de
betão confinado e o aumento do comprimento da zona crítica em pilares e paredes originam um
aumento significativo da quantidade de armadura de confinamento necessária.

REFERÊNCIAS

[1] NP EN 1998-1: 2010; “Eurocódigo 8: Projecto de estruturas para resistência aos sismos – Parte 1:
Regras gerais, acções sísmicas e regras para edifícios”, IPQ.
[2] Lopes, M. – “Sismos e Edifícios”, edições Orion, 2008.
[3] NP EN 1990: 2009: “Euródigo 0 – Bases para o projecto de estruturas”, IPQ.
[4] NP EN 1991-1-1: 2009; “Euródigo 1 – Acções em estruturas – Parte1-1: Acções gerais – Pesos
volúmicos, pesos próprios, sobrecargas em edifícios”, IPQ.
[5] NP EN 1992-1-1: 2010; “Eurocódigo 2: Projecto de estruturas de betão – Parte 1-1: Regras gerais e
regras para edifícios”, IPQ.

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