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CONTRATOS PÚBLICOS,

RESPONSABILIDADE E
TRIBUNAL DE CONTAS

PEDRO MELO
Partilhamos a Experiência.
Inovamos nas Soluções.
Lisboa, 13 de Março de 2014
O TRIBUNAL DE CONTAS – ENQUADRAMENTO

O Tribunal de Contas na Constituição:



O órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas públicas e de julgamento das contas que a lei
manda submeter- lhe (cfr. o art. 214º da CRP → Lei n.º 98/97)
+
Fiscalização do Orçamento de Estado (cfr. o art. 107º da CRP)

A doutrina diverge sobre a sua qualificação jurídica:


 O TdC é um “órgão constitucional judicial” ;
 O TdC é um órgão da Adm. Púb.;
 O TdC é um Tribunal Financeiro.

Tribunal peculiar em face da natureza dos seus poderes / funções.

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O TRIBUNAL DE CONTAS – ENQUADRAMENTO

Competências do TdC (cfr. a Lei n.º 98/97):

1. Competências Decisórias (funções de “jurisdictio”):

 Fiscalização prévia da legalidade e do cabimento orçamental de actos e contratos geradores de


despesa pública
(“controlo financeiro”);

 Verificação de contas de diversas entidades;

 Apreciação da legalidade, da economia, eficácia e eficiência da


gestão financeira de várias entidades;

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O TRIBUNAL DE CONTAS – ENQUADRAMENTO

 Efectivação de responsabilidades financeiras das entidades que utilizam dinheiros públicos (“poder
sancionatório”).

2. Competências Inspectivas:

 Realização de auditorias.

3. Competências Consultivas:

 Emissão de parecer sobre a Conta Geral do Estado e das RAs.;

 Emissão de pareceres sobre projectos legislativos em matéria Financeira, por solicitação da AR ou do


Governo.

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS

1. Finalidade do “visto prévio”:

 Verificar, inter alia, se os contratos respeitam as leis em vigor e se os respectivos encargos têm
cabimento orçamental.

2. Fundamentos de recusa:

 Desrespeito das leis em vigor que implique (i). nulidade; (ii). encargos sem cabimento orçamental;
(iii). violação directa de normas financeiras e (iv). ilegalidade que altere ou possa alterar o
correspectivo resultado financeiro.

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS

3. Dispensa de fiscalização prévia (cfr. o art. 48º da Lei do TdC).

 Contratos até ao valor de € 350k (cfr. o art. 144º da LOE).

Nota: há diversos casos de “isenção de fiscalização prévia”


(cfr. o art. 47º da Lei do TdC).

4. Efeitos do visto prévio (cfr. o art. 45º da Lei do TdC):

 Enquanto os contratos aguardam o resultado da fisc. prévia, podem ser executados e produzir efeitos
jurídicos → eficácia jurídica plena dos contratos.

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS

 Não podem, contudo, nessa fase, produzir efeitos financeiros (não há eficácia financeira “stricto
sensu”).

 Após a recusa de visto, deixa de existir eficácia jurídica contratual → os contratos não podem (mais)
ser executados.

 Entre a celebração do contrato e a notificação da recusa de visto, os trabalhos executados podem ser
liquidados, sob pena de enriquecimento sem causa, desde que estejam em linha com a programação
contratual / cronograma financeiro.

Nota: norma imperativa → regime legal inderrogável.



cláusula contratual que a viole é, por isso, ilegal.

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS

Nota: uma forma de acautelar este problema (i.e., incerteza da concessão de visto prévio) → condição
suspensiva.

Nota: actualmente (7ª alteração à Lei do TdC, de 2011), os contratos de valor superior a 950k não gozam de
eficácia jurídica, nem, a fortiori, de eficácia financeira → acto integrativo de efic./

5. Recusa de visto → Que tipo de responsabilidade?

Responsabi./ pré-contratual, extracontratual ou tertium genus ? (“mista”: responsabilidade extracontratual


por facto ilícito e responsabilidade pré-contratual – v.g., Acórdãos do STA, de 18.10.2011 e de 31.10.2006).

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS
5.1. A recusa de visto, em definitivo → ineficácia jurídica do contrato, logo, caducidade do contrato com
efeitos “ex nunc”.

6. Interesse Contratual Negativo e/ou Positivo?



Qual a medida do dever de indemnizar?

 Pagamento do preço dos trabalhos até à notificação de recusa de visto, se estiverem em linha com o
respectivo cronograma (não se trata aqui de uma indemnização hoc sensu, mas de uma
contraprestação que impende sobre a Entidade Adjudicante / Contraente Público).
+
 Dano negativo / dano de confiança ou int./ cont./ negativo:
(danos que não se teriam se não se tivesse celebrado o contrato, não se incluindo na medida do dano
ressarcível o lucro esperado com o cumprimento do contrato)

Gastos c/ a preparação da proposta e c/ a celebração do contrato

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A FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TRIBUNAL DE CONTAS

Nota: cfr. o art. 227º, n.º 1 do CC (instituto geral da culpa in contrahendo).

Nota: poderá existir “concurso de culpas” entre Entidade Adjudicante e Adjudicatário,

neste caso, é preciso apurar o exacto grau de culpa da Entidade Adjudicante e do Adjudicatário.

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RECURSO OU RECURSOS DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS

7. Recursos (cfr. o art. 96º da Lei do TdC)

7.1. Legitimidade p/ recorrer da recusa de visto?


(da 1ª Secção, em subsecção, para o Plenário da 1ª Secção)

 M.P.;
 O “Autor do Acto”;

Nota: Se o “acto” for bilateral (contrato), temos “partes”.



Interpretação conforme com o art. 20º da CRP (reg./ do art. 18º).

Interpretação conforme com o art. 268º, n.º 4 da CRP

Interpretação conforme com o art. 8º da DUDH.

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RECURSO OU RECURSOS DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS

Nota: O TdC tem notificado os particulares das decisões de recusa de visto → indicia a legitimidade
activa dos mesmos.

7.2. Tribunais Administrativos?

A doutrina diverge…

Caso se entenda que a decisão sobre o visto prévio configura um acto materialmente administrativo, a
resposta é afirmativa.

Nota: mas não será, então, um recurso alternativo (para os TA e para o Plenário da 1ª Secção do TdC).

Ao invés, caso se entenda que se trata de um acto jurisdicional do TdC, só poderá recorrer-se para o
Plenário da 1ª Secção do TdC.

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RECURSO OU RECURSOS DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS

7.3. Tribunal Constitucional?

Mesmo quem entende que as decisões do TdC s/ recusa de visto, consubstanciam actos jurisdicionais,
defende-o, em face de interpretações inconstitucionais do quadro normativo aplicável.

7.4. Caso Julgado?

Sim → demais Tribunais estão inibidos de voltar a conhecer dessa matéria.

Nota: atenção aos “limites objectivos do caso julgado”.

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Contactos

PEDRO MELO
Sócio
Coordenador da Área de Prática de
Direito Público de PLMJ
pedro.melo@plmj.com
T. (+351) 21 3197484

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