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A propensão a consumir

O volume de emprego é determinado pelo ponto de interseção da função de


oferta agregada com a função de demanda agregada. A função da oferta agregada será
tratada com mais detalhes a partir do capítulo 20. Já a função da demanda agregada é
aquela que relaciona determinado volume de emprego com o produto das vendas que
se espera realizar. Esse produto das vendas forma-se pela soma de duas quantidades:
a soma que será despendida em consumo quando o emprego está em certo nível e a
soma que se destinará ao investimento. Produto das vendas = C+ I
Inicialmente analisaremos quais os fatores que determinam a soma que se
gastará em consumo. Considerando que aqui nos interessa a determinação do
consumo quando o emprego está em certo nível devemos tratar da função que liga o
montante de consumo ao nível de N, para isso relacionaremos o consumo medido em
unidades de salário (Cω) e a renda medida em unidades de salário (Yω), dado um nível
de emprego. Em certos casos poderia ser necessário dar uma atenção ao Yω, mas em
geral é uma boa aproximação considerar Yω como determinado por N de maneira
unívoca. A propensão a consumir é a relação entre rendimento e consumo.

Cω=X(Yω)

A variação do consumo tem o mesmo sinal que o da renda. Relação positiva,


mas menor que 1.
O montante que a comunidade gasta em consumo depende, evidentemente: (i)
em parte, do montante da sua renda; (ii) em parte, de outras circunstâncias objetivas
que o acompanham; e (iii), em parte, das necessidades subjetivas, propensões
psicológicas e hábitos dos indivíduos que o compõem

Fatores objetivos
1) Uma variação na unidade de salário : O consumo é uma função muito mais da
renda real do que da renda nominal. A renda real de um indivíduo sobe e desce
com a quantidade de unidades de trabalho de que pode dispor, isto é, com o
montante da sua renda medida em unidades de salário. Podemos, portanto,
admitir razoavelmente, como primeira aproximação, que, se a unidade de
salário varia, o gasto em consumo correspondente a certo nível de emprego
variará assim como os preços, na mesma proporção.

2) Uma variação na diferença entre renda e renda líquida: É a renda líquida que o
indivíduo tem em mente quando decide a escala de consumo. Em determinada
situação pode existir uma função que relaciona de maneira biunívoca a renda e
a renda líquida, mas se isso não ocorrer, a parte da variação da renda que não
afeta a renda líquida deve ser desconsiderada, pois não influi no consumo, e de
forma semelhante, deve-se considerar a variação da renda líquida que não
reflita na renda. (Fator pouco provável).

3) Variações imprevistas nos valores de capital não considerados no cálculo da


renda líquida: Estas variações têm importância muito maior para modificar a
propensão a consumir por não guardarem nenhuma relação estável ou regular
com o montante da renda. O consumo das classes proprietárias de riqueza
pode ser extremamente suscetível às variações imprevistas no valor nominal de
seus bens. Este fator deve ser considerado entre os mais importantes daqueles
capazes de ocasionar variações de curto prazo na propensão a consumir.

4) Variações na taxa intertemporal de desconto, isto é, na relação de troca entre


os bens presentes e os bens futuros: Não se trata aqui da mesma coisa que a
taxa de juros, já que esta leva em conta as variações futuras no poder aquisitivo
do dinheiro, à medida que são previstas. Deve-se considerar também toda a
sorte de riscos, tais como a probabilidade de não viver bastante para usufruir
dos bens futuros ou de uma tributação confiscatória. A título de aproximação,
contudo, podemos identificar isto com a taxa de juros.

5) Variações na política fiscal: Se o incentivo do indivíduo para poupar depender


dos futuros rendimentos que espera, ele evidentemente dependerá não só da
taxa de juros como também da política fiscal do Governo. Os impostos sobre a
renda, particularmente quando gravam a renda “não ganha”, os impostos
sobre lucros de capital, sobre heranças etc., são tão importantes quanto a taxa
de juros, sendo mesmo possível que as modificações eventuais da política fiscal
tenham, pelo menos nas expectativas, maior influência que a própria taxa de
juros. Se a política fiscal for usada como um instrumento deliberado para
conseguir maior igualdade na distribuição das rendas, seu efeito sobre o
aumento da propensão a consumir será, naturalmente, tanto maior.

6) Modificações das expectativas acerca da relação entre os níveis presentes e


futuros da renda: Devemos incluir este fator para que a enumeração seja
completa. Mas, embora ele possa afetar consideravelmente a propensão a
consumir de um indivíduo, é provável que, quando se trata da comunidade
como um todo, seus efeitos tendam a compensar-se. Ademais, trata-se de uma
questão que suscita, em geral, muita incerteza para poder exercer influência
importante.
Chegamos, pois, à conclusão de que, em determinada situação, a propensão a
consumir pode ser considerada uma função relativamente estável desde que
tenhamos eliminado as variações na unidade de salário em termos de moeda. As
flutuações imprevistas nos valores de capital podem modificar a propensão a
consumir, bem como poderão afetá-la variações substanciais na taxa de juros e na
política fiscal; porém, não é provável que os outros fatores objetivos capazes de atuar
sobre ela, conquanto não devam ser desprezados, tenham importância em
circunstâncias comuns.
A renda agregada medida em unidades de salário é a principal variável de que
depende o componente consumo.
Assim os homens estão dispostos, de modo geral e em média, a aumentar o seu
consumo à medida que a sua renda cresce, embora não em quantia igual ao aumento
de sua renda. Isto quer dizer que, se Cω é o montante do consumo e Yω o da renda
(ambos medidos em unidades de salário), ∆Cω tem o mesmo sinal que ∆Yω, porém é
de grandeza menor, isto é, dCω/dYω é positivo e inferior à unidade.
Outro aspecto que vale destacar é o alargamento da brecha entre renda e
consumo. O que isso quer dizer que os motivos para se poupar (poupa-se mais)
quando já se tem determinado nível de conforto (tem-se maior renda). Isso faz com
que, então, uma proporção maior seja poupada com aumento da renda.

Além disso, uma queda no emprego não ocasionara uma queda no consumo
corresponde. Isso porque as pessoas podem não só gastar suas economias de tempos
melhores quanto o governo também auxilia com injeção e renda (em caso contrário, o
desemprego e a queda da renda chegaria a níveis muito mais profundos). Assim,
reitera-se a ideia de o emprego só pode aumentar com um aumento do investimento;
a não ser que ocorra mudanças na propensão a consumir.

Fatores subjetivos

Há, em geral, oito fatores subjetivos dos os quais os indivíduos abstêm de gastar
sua renda:

1) Precaução (construir uma reserva para fazer face a contingências imprevistas);


2) Previdência;
3) Cálculo (para beneficiar-se do juro e da valorização);
4) Melhoria (desfrutar de um gasto progressivamente constante de modo a
melhorar o modo de vida gradualmente);
5) Independência (desfrutar de uma sensação de independência ou poder de
fazer algo);
6) Iniciativa (garantir a possibilidade para realizar projetos especulativos ou
econômicos);
7) Orgulho (legar uma fortuna);
8) Avareza (satisfazer a pura avareza);

Poderíamos também formular um elenco de motivações para consumir: tais como:


prazer, imprevidência, generosidade, irreflexão, ostentação, extravagância.
Além das poupanças acumuladas pelos indivíduos, há também uma grande
proporção de rendimentos que é retida pelos governos e pelas empresas

1) Motivo empresa (conseguir recursos para realizar um novo investimento de


capital, sem contrair dívida ou recorrer ao capital de mercado);
2) Motivo liquidez (garantir recursos líquidos para enfrentar as emergências,
dificuldades e crises);
3) Motivo de melhoria (assegurar um aumento gradual da renda; aumento de
eficiência);
4) Motivo de prudência financeira (reserva financeira que supere os custos).

A propensão marginal a consumir e o efeito multiplicador

Keynes começa retomando a ideia de que só pode haver aumento no emprego


se houver aumento do investimento, a não ser que haja uma mudança na propensão a
consumir. Assim, é possível estabelecer uma relação entre renda e investimento que
será chamada de multiplicador.
No caso de aumento(diminuição) da renda, o consumo aumenta (diminui), mas
não na mesma proporção. Isso pode se traduzir nas proposições de que ∆Cω e ∆Yω t
êm o mesmo sinal, mas ∆Yω > ∆Cω
A propensão marginal a consumir é igual a (1-1/k), onde k é o multiplicador de
investimento. Ele nos indica que, quando se produz um acréscimo no investimento
agregado, a renda sobre num montante igual a k vezes o acréscimo do investimento.
Define-se a propensão marginal a consumir como dCω/dYω. Em que:
∆Yω = ∆Cω + ∆Iω
∆Yω = k * ∆Iω
dCω/dYω = 1-(1/k)

Desse modo, em casos em que a renda agregada estiver aumentando, o esforço


por consumir uma parte dessa renda suplementar estimulará a produção até que o
novo nível das rendas proporcione uma margem de poupança suficiente para
corresponder ao maior investimento. O multiplicador diz em que proporção terá de
aumentar o emprego para provocar um acréscimo na renda real suficiente para induzir
o público a realizar uma poupança adicional, e é função de suas propensões
psicológicas. Então: o multiplicador depende tanto da propensão a consumir como da
propensão a poupar.
Assim, um aumento no investimento só pode ocorrer se as pessoas estiverem
dispostas a aumentar sua poupança. Mas é sabido que as pessoas não farão isso a não
ser que sua renda esteja aumentando.
Se a pmg a consumir for alta, pequenas flutuações no investimento provocarão
grandes variações no emprego e, ao contrário, se a Pmgc for muito baixa, pequenas
flutuações no investimento ocasionarão pequenas flutuações no emprego.
A pmgc não é constante para todos os níveis de emprego e é provável que em
geral tenda a diminuir quando o emprego aumenta, ou seja, quando a renda real
cresce, a comunidade só desejará consumir uma parte gradualmente decrescente da
mesma.
O multiplicador será provavelmente maior para um pequeno incremento
líquido do investimento do que para uma grade, de modo que, quando se tem em vista
mudanças substanciais, devemos guiar-nos pelo valor médio do multiplicador,
tomando como base o valor médio da propensão marginal a consumir na amplitude de
variação em causa.
Portanto, quanto maior for a pmgc, maior será o multiplicador e, por
consequência, maior distúrbio causará sobre o emprego uma variação do
investimento.
Outro ponto relevante é a diferenciação entre propensão marginal a consumir
e propensão média a consumir: “enquanto uma alta propensão marginal a consumir
implica um efeito proporcionalmente maior, como resultado de certa percentagem de
variação no investimento, o efeito absoluto será, todavia, menor se a propensão média
a consumir for, também, alta.”

A teoria geral do emprego (1935d)


Keynes inicia o texto fazendo alguns comentários sobre críticas recebidas por
ele, de outros autores, a respeito da teoria geral. Diz a respeito de Robertson que
concorda “inteiramente com o ponto fundamental que ele estabelece, de que a
procura crescente de dinheiro, resultante do aumento das atividades econômicas,
tenha uma repercussão capaz de elevar a taxa de juros”.

O autor faz também algumas digressões filosóficas a respeito da probabilidade


e da incerteza. Mas o que nos interessa aqui é a reflexão que ele faz sobre dinheiro.
Keynes diz que o dinheiro tem duas funções; uma como meio de trocas e outra como
reserva de valor. Afirma, então, que se utiliza o dinheiro na sua forma de reserva de
valor ‘em parte por motivos razoáveis e em parte por razões instintivas, nosso desejo
de manter o dinheiro como reserva de valor constitui um barômetro do grau de nossa
desconfiança de nossos cálculos e convenções quanto ao futuro [...] a posse do
dinheiro real tranquiliza nossa inquietação; e o prêmio que exigimos para nos separar
dele é a medida do grau de nossa inquietação”. Diz também que “a quantidade de
entesouramento só pode ser alterada se se modificar a quantidade total do dinheiro
ou se for alterado o montante de renda nominal corrente”.

Keynes caracteriza, então, a sua teoria da taxa de juros. Diz inicialmente que a
“taxa de juros mede o prêmio a ser oferecido para induzir as pessoas a manter sua
riqueza sob alguma forma diversa do dinheiro entesourado. A quantidade de moeda
requerida pela circulação ativa para as transações correntes (consumo) determina o
montante disponível para saldos inativos, isto é, para o entesouramento. A taxa de
juros é o fator que ajusta na margem a procura de dinheiro para entesouramento à
oferta de numerário para o mesmo fim”. O indivíduo, caso não queria entesourar,
pode ainda emprestar seu dinheiro a taxa corrente de juro nominal, ou pode comprar
alguma espécie de ativo de capital.

Keynes fala também do volume de investimento. Segundo ele, este é definido


por dois elementos: a propensão a entesourar e a futura rentabilidade dos ativos de
capital.

A Eficiência Marginal do Capital

Quando um indivíduo obtém um investimento ou um bem de capital, adquire o


direito ao fluxo de rendas futuras que espera obter da venda de seus produtos
enquanto durar esse capital, feita a dedução das despesas correntes necessárias à
obtenção dos ditos produtos. Essa série de anuidades é chamada de renda esperada de
investimento (q1,q2,...,qn).
Em contrapartida tem-se o preço de oferta do bem de capital, que é o preço
mínimo para induzir um fabricante a produzir uma nova unidade suplementar desse
capital, o que às vezes chamamos de custo de reposição.
A relação entre a renda esperada de uma unidade adicional daquele tipo de
capital e seu custo de produção nos dá a EFICIÊNCIA MARGINAL DO CAPITAL (que é
uma taxa de desconto que tornaria o valor presente de fluxo de anuidades das rendas
esperadas desse capital, durante toda sua existência, exatamente igual ao seu preço de
oferta).
A EMGK é definida em termos da expectativa do rendimento e do preço
corrente do bem de capital. Depende da taxa de retorno que se espera obter do
dinheiro investido em um bem recentemente produzido e não no resultado histórico,
assim, depende das expectativas de longo prazo.
Quando um investimento, em dado tipo de k, aumenta durante certo período,
a eficiência marginal desse capital diminui à medida que o investimento aumenta, em
parte, porque a renda perspectiva baixará conforme suba a oferta desse tipo de capital
e, em parte, porque a pressão sobre as fábricas produtoras daquele dado tipo de
capital causará, normalmente, uma elevação em seu preço de oferta.
A escala que relaciona a taxa de investimento agregado com a correspondente
eficiência marginal do capital chama-se de curva da demanda por investimento ou
curva da eficiência marginal do capital. E, o investimento vai variar até o ponto da
curva da Efmgk em que a Efmgk = taxa de juros do mercado.
O preço de procura do capital e o preço de oferta do capital vão se confrontar
no mercado. Quanto menor for a taxa de juros maior o preço de procura do capital,
isso induz o empresário procurar bens de capital e faz com que o investimento seja
maior. Para que o empresário tenha incentivo a investir, a Emgk tem que ser maior
que a taxa de juros.
No Brasil, a taxa de juros está baixa mas a EMGK está mais baixa ainda, assim,
não há incentivo.
“Fala-se de renda esperada pois: a expectativa de uma baixa no valor da moeda
estimula o investimento e, em consequência, o emprego em geral, pq eleva a curva da
eficiência marginal do k, isto é, a escala da demanda de investimentos; a expectativa
de uma alta no valor da moeda produz, ao contrário, efeito depressivo, pq reduz a
escala da eficiência mg do k. (para Pigou, a variação da moeda é prevista para um
grupo e não para outro).
A expectativa de elevação dos preços tem um efeito estimulante pq eleva a
Efmgk. O estímulo à produção, portanto, depende do aumento da Efmgk
relativamente à taxa de juros, uma taxa real de juros que é definida como sendo uma i
que, subsequente a uma variação no estado da expectativa quanto ao valor futuro da
moeda.
O volume do investimento pode ser afetado por dois tipos de riscos (que
podem ser distinguidos, não diferenciados). O primeiro é o risco do empresário e
surge das dúvidas que o tomador de empréstimo tem quanto á probabilidade de
conseguir, realmente, a retribuição esperada (é um custo real). Mas, quando há
concessões de empréstimos, há tb o risco do emprestador, que se deve a uma
contingência moral, um não-cumprimento involuntário causado por uma expectativa
malograda (é uma pura adição ao custo do investimento). Pode-se acrescentar tbm um
terceiro tipo que está ligado à possibilidade de uma variação desfavorável no valor do
padrão monetário, tornando o empréstimo em dinheiro menos seguro.
Então, a escala de Efmgk é de fundamental importância, de maneira que a
expectativa do futuro influi sobre o presente. O erro de considerar a Efmgk
principalmente em termos correntes do equipamento de k, o que só seria correto
numa economia estática onde nenhuma mudança futura pudesse influir no presente,
teve como resultado a ruptura entre hj e amanhã. Mesmo a tx de juros é,
virtualmente, um fenômeno corrente, se reduz a Efmgk á mesma condição,
renunciamos a levar em consideração, diretamente, a influência do futuro na análise
do equilíbrio presente.”
O Estado da expectativa de longo prazo
Viu-se, no capítulo anterior, que o volume de investimento depende da relação
entre a taxa de juros e a curva da Efmgk correspondente aos diferentes volumes de
investimento corrente, ao passo que a Efmgk depende da relação entre o preço da
oferta de um ativo de k e a sua renda esperada. Nesse capitulo examinaremos alguns
fatores que determinar a renda esperada
As considerações em que se baseiam as expectativas das rendas esperadas são,
em parte fatos existentes que podemos supor que sejam mais ou menos conhecidos e,
em parte, eventos futuros que só podem ser previstos com maior ou menor grau de
confiança. Podemos resumir o estado de expectativa psicológica resultante dos
segundos fatores pela expressão estado da expectativa de longo prazo.
O estado de expectativa de longo prazo, que serve de base para nossas
decisões, não depende, portanto, exclusivamente do prognóstico mais provável que
possamos formular. Depende, também, da confiança com a qual fazemos esse
prognóstico. O estado de confiança, como é chamado, constitui uma matéria a qual os
homens práticos dedicam a mais cuidadosa e desvelada atenção. E é relevante pelo
fato de ser um dos principais fatores que determinam essa escala, a qual é idêntica á
curva da demanda de investimento.
Na prática, concordamos, geralmente, em recorrer a um método que é, na
verdade, uma convenção, uma opinião geral, uma média das preferências de tds em
conjunto (a psicologia das massas). A sabedoria universal indica ser melhor para a
reputação fracassar junto com o mercado do que vencer contra ele.
Para a análise que se segue, considera que não há a alteração na taxa de juros. Assim,
afirma que o cálculo das rendas esperadas é fundamentado sob extrema precariedade,
isso dado que “nosso conhecimento dos fatores que regularão a renda de um
investimento alguns anos mais tarde é, em geral, muito limitado e, com frequência,
desprezível.” Surge, então, no que tange a isso um elemento importante que é a bolsa
de valores: “as reavaliações diárias da bolsa de valores, embora se destinem,
principalmente, a facilitar a transferência de investimentos já realizados entre
indivíduos, exercem, inevitavelmente, uma influência decisiva sobre o montante do
investimento corrente”.

Nesse momento, Keynes específica dois conceitos: especulação e


empreendimento. Especulação como a “atividade que consiste em prever a psicologia
do mercado” e empreendimento como “prever a renda provável dos bens durante
toda sua existência, de modo algum se pode dizer que a especulação sempre prevaleça
sobre o empreendimento”.

Diz também que a medida que a medida que os mercados de investimento se


organizam, o risco de um predomínio da especulação aumenta. Podemos dizer que
muitos investem colocando “suas esperanças não tanto em sua renda provável, mas
em sua mudança favorável nas bases convencionais de avaliação, ou seja, que ele é, o
sentido dado acima, um especulador”.

Keynes também destaca que se “as operações de compra de investimento


fossem tornadas definitivas e irrevogáveis [...] isso obrigaria os investidores a dirigir
sua atenção apenas para as perspectivas a longo prazo”.

“Na medida em que um indivíduo possa empregar sua riqueza entesourando ou


emprestando dinheiro, a alternativa de adquirir bens reais de capital não seria
bastante atraente (sobretudo para a pessoa que não maneja esses bens e pouco sabe
a respeito deles), exceto organizando mercados onde esses bens possam converter-se
facilmente em dinheiro”.

Outro ponto que Keynes evidencia é que “além da causa devida à especulação,
a instabilidade econômica encontra outra causa, inerente à natureza humana, no fato
de que grande parte das nossas atividades positivas depende mais do otimismo
espontâneo do que de uma expectativa matemática, seja moral, hedonista ou
econômica”. “ As decisões humanas que envolvem o futuro, sejam elas pessoais,
políticas ou econômicas, não podem depender da estrita expectativa matemática, uma
vez que as bases para realizar semelhantes cálculos não existem e que o nosso impulso
inato para a atividade é que faz girar as engrenagens, sendo que a nossa inteligência
faz o melhor possível para escolher o melhor que pode haver entre as diversas
alternativas, calculando sempre que se pode, mas retraindo-se, muitas vezes, diante
do capricho, do sentimento ou do azar. (caderno ajuda a entender) Mercado
Financeiro

A teoria geral da taxa de juro


É importante lembrar que, embora certas forças façam subir ou descer a taxa
de investimento de modo que iguale a Efmgk à taxa de juros, a Efmgk, em si, é um
conceito diferente da taxa de juros corrente. Sabe-se que a curva de Efmgk governa as
condições em que se procuram fundos disponíveis para novos investimentos,
enquanto a taxa de juros governa os termos em que esses fundos são corretamente
oferecidos.
A tx de juros é o fator de equilíbrio que estabelece a igualdade entre, de um lado, a
demanda de poupança resultante do investimento novo que pode ser realizado a
determinada tx de juros e, de outro lado, a oferta de poupança, suprida essa tx pela
propensão psicológica da comunidade a poupar.
Para efetivar suas preferências psicológicas temporais, um indivíduo depara-se
com dois conjuntos de decisões a serem tomadas: a propensão consumir (que, sob
influencia de vários motivos, ele determina qual parte da sua renda será consumida e
qual parte reservará sob alguma forma de comando sobre o consumo futuro) e a outra
é em que forma conservará o poder de comando sobre o consumo futuro (de forma
líquida imediata -dinheiro- ou seu equivalente?), ou seja, qual o grau de sua
preferência pela liquidez, representada por uma escala do volume de seus recurso
medidos em termos monetários ou em unidades de salário, que deseja conservar em
forma de moeda em diferentes circunstâncias.
A definição de taxa de juros diz que ela é a “recompensa da renúncia à liquidez por
um período determinado, pois a taxa de juros não é, em si, outra coisa senão o inverso
da relação existente entre uma soma de dinheiro e o que se pode obter desistindo, por
um período determinado, do poder de comando da moeda em troca de uma dívida”.
Segundo a Keynes, a taxa de juros é “o preço mediante o qual o desejo de manter
riqueza em forma líquida concilia com a quantidade de moeda disponível”.
Disso conclui-se que:

- “se a taxa de juros fosse menor, isto é, se a recompensa pela renúncia à liquidez e
reduzisse, o montante agregado de moeda que o público desejaria conservar excederia
a oferta disponível”;

- “se a taxa de juros se elevasse, haveria um excedente de moeda que ninguém estaria
disposto a reter”;

Assim, podemos dizer que a quantidade de moeda, além da preferência pela


liquidez, que determina a taxa de juros. “A preferência pela liquidez é uma
potencialidade ou tendência funcional que fixa a quantidade de moeda que o público
reterá quando a taxa de juros for dada; daí resulta que i é a taxa de juros, M a
quantidade de moeda e L a função da preferência pela liquidez, teremos M = L (r).

Sabe-se que a moeda pode ser meio de troca, unidade de conta e tbm reserva
de valor. No que tange essa segunda função, há, porém, uma condição necessária sem
a qual não poderia existir a preferência de liquidez pela moeda como meio de
conservação de riqueza. Essa condição necessária é a existência da incerteza quanto ao
futuro da taxa de juros, isto é, quanto ao complexo de taxas para vencimentos
variáveis a prevalecer em datas futuras.
Tem tbm outro motivo para a PPL quanto ao futuro das taxas de juros, desde
que haja um mercado organizado em débito. Este fenômeno está ligado, a tx de juros
pode ser determinada pela avaliação do mercado tal como ela resulta da psicologia das
massas, de maneira que têm seus reflexos na preferência pela liquidez. O indivíduo
para quem as futuras taxas de juros estarão acimas daquelas previstas pelo mercado,
tem motivos para conservar em caixa dinheiro líquido, ao passo de que quem diverge
do mercado em sentido oposto terá motivos para pedir dinheiro emprestado a curto
prazo, a fim de adquirir débitos a prazo mais longo. O preço do mercado se fixará no
nível em que a venda dos “baixistas” se equilibrar com as compras dos “altistas”.
Existem 3 motivos que governam a PPL: (i) o motivo transação: a necessidade
da moeda para as operações correntes de trocas pessoais e comerciais; (ii) o motivo
precaução: o desejo de segurança com relação ao equivalente do valor monetário
futuro de certa parte dos recursos totais e o (iii) motivo especulação: o propósito de
obter lucros por saber melhor que o mercado o que trará o futuro.

OBSERVAÇÃO: A taxa de juros e o preço das obrigações devem, então, fixar-se ao nível
em que a soma global, que certos indivíduos desejam conservar líquida (porque nesse
nível se sentem “baixistas” relativamente ao futuro das obrigações), seja exatamente
igual à quantidade de moeda disponível para atender às atividades do motivo de
especulação. Destarte, cada aumento na quantidade de dinheiro deve aumentar o
preço das obrigações o suficiente para exceder as previsões de alguns “altistas” e
influir sobre eles para que as vendam e venham juntar-se ao grupo dos “baixistas”.
Não obstante, se houver uma procura insignificante de moeda para satisfazer o motivo
de especulação, exceto para um curto período de transição, um aumento da
quantidade de moeda deve fazer baixar, quase imediatamente, a taxa de juros e no
grau necessário para elevar o nível de emprego e a unidade de salários na medida
suficiente para que a moeda adicional seja absorvida pelos motivos de transação e de
precaução. Via de regra, podemos admitir que a curva da preferência pela liquidez que
relaciona a quantidade de moeda à taxa de juros é dada por uma curva regular, a qual
mostra que essa taxa vai decrescendo à medida que a quantidade de moeda aumenta.
Há diversas causas que levam a esse resultado. Em primeiro lugar, à medida que a taxa
de juros baixa, é provável, coeteris paribus, que a preferência pela liquidez, em virtude
do motivo de transação, absorva mais moeda. Se a queda da taxa de juros aumenta a
renda nacional, o volume de moeda que convém reservar para as transações crescerá
mais ou menos proporcionalmente com o aumento da renda, enquanto, ao mesmo
tempo, diminuirá o custo da conveniência de manter abundante a moeda, em termos
dos juros perdidos. Resultados análogos serão produzidos se o aumento de emprego
que segue a uma baixa da taxa de juros determina uma alta dos salários, isto é, uma
alta no valor monetário da unidade de salários, a não ser que a preferência pela
liquidez seja medida em unidades de salário em vez de unidades de moeda (que é
conveniente em certos contextos). Em segundo lugar, cada queda na taxa de juros
pode, como acabamos de ver, aumentar a quantidade de moeda que certos indivíduos
desejam conservar, porque seus pontos de vista quanto à futura taxa de juros diferem
dos do mercado. No entanto, podem ocorrer determinadas circunstâncias em que
mesmo um acréscimo considerável da quantidade de moeda exercerá uma influência
comparativamente pequena sobre a taxa de juros. Esse grande acréscimo pode
ocasionar tal incerteza quanto ao futuro que a preferência pela liquidez decorrente do
motivo precaução pode ser fortalecida; por outro lado, é possível que haja uma
opinião tão unânime sobre a futura taxa de juros que uma ligeira variação nas taxas
atuais determine um movimento maciço em direção à busca da liquidez. É interessante
observar como a estabilidade do sistema e sua sensibilidade diante das variações na
quantidade de moeda dependem a tal ponto da existência de uma diversidade de
opiniões sobre o que é incerto.

Sabemos que a moeda pode varia a economia, mas para que um aumento na
quantidade de moeda reduza a taxa de juros, a PPL do público deve aumentar mais
que a quantidade de moeda, e, uma baixa na tx de juros estimulo o fluxo de
investimentos se a escala da Efmgk cair mais rapidamente que a tx de juros. Além
disso, um aumento do fluxo de investimento aumentará o emprego se a propensão a
consumir estiver em declínio. Se, assim, o emprego aumentar, os preços subirão numa
proporção que depende da forma das funções da oferta e da tendência da tx de
salários subir em termos monetários. Quando a produção tiver aumentando e os
preços subindo o efeito que daí resultará sobre a PPL será o de aumentar a qntd de
moeda necessária para aumentar dada taxa de juros.
O volume de entesouramento tem de ser igual à quantidade de moeda e a qntd
de moeda não é determinada pelo público a entesourar pode conseguir é fixar a tx de
juros de iguale o desejo global de entesourar ao encaixe disponível.

Os incentivos psicológicos e empresariais para a liquidez

Cabe agora estudar os motivos da preferência pela liquidez. Segundo Keynes,


podemos considerar “a demanda agregada de moeda do indivíduo, em determinadas
circunstâncias, como uma divisão única, para a qual concorrem vários motivos
diferentes”.

Esses motivos podem ser classificados como motivo-renda e motivos negócios,


subdivisão do motivo transação; motivo precaução e motivo-especulação.

Motivo-renda: “Uma das razões para conservar recursos líquidos é garantir a transição
entre o recebimento e o desembolso da renda. A força deste motivo para induzir uma
decisão de conservar um montante agregado de moeda dependerá, principalmente,
do montante da renda e da duração normal do intervalo entre o seu recebimento e o
seu desembolso. O conceito de velocidade-renda da moeda é estritamente apropriado
apenas a este contexto”.

Motivo-negócios: “Da mesma maneira, os recursos líquidos são conservados para


assegurar o intervalo entre o momento em que começam as despesas e o do
recebimento do produto das vendas, incluindo-se sob este título os recursos líquidos
que conservam os empresários para garantir o intervalo entre a compra e a realização.
A intensidade desta demanda dependerá, principalmente, do valor da produção
corrente (e, portanto, do rendimento corrente) e do número de mãos através das
quais passa essa produção.”

Motivo-precaução: “Entre outros motivos para conservar recursos líquidos, destacam-


se os de atender às contingências inesperadas e às oportunidades imprevistas de
realizar compras vantajosas e os de conservar um ativo de valor fixo em termos
monetários para honrar uma obrigação estipulada em dinheiro”.

Motivo especulação: demanda uma análise mais detalhada.

Em situações normais, “o volume de moeda necessário para satisfazer os dois


motivos, transação e precaução, é principalmente o resultado da atividade geral do
sistema econômico e do nível da renda nacional em termos monetários”.
O sistema bancário opera de forma “a comprar (ou vender) títulos e obrigações
em troca de moeda, oferecendo por eles um preço de mercado modestamente maior
(ou menor); e quanto maior for a quantidade de recursos líquidos que os bancos
desejam criar (ou cancelar) pela compra (ou venda) de títulos e dívidas, maior deverá
ser a baixa (ou alta) na taxa de juros”.

No que tange ao motivo especulação convém diferenciar as variações da taxa


de juros que advém de mudanças na oferta de moeda disponível para satisfazer esse
motivo, sem mudanças na função de liquidez, e a ligadas a esse motivo.

As propriedades essenciais dos juros e do dinheiro

Inicialmente Keynes destaca: “a taxa monetária de juros — queremos chamar a


atenção do leitor — outra coisa não é que a percentagem de excedentes de uma soma
de dinheiro contratada para entrega futura. [...]. Parece, portanto, que para cada
categoria de bens de capital deveria existir uma taxa análoga à do juro sobre o
dinheiro.”

Segundo Keynes, os ativos podem ter três atributos: alguns bens dão um
rendimento, alguns sofrem desgaste(exceto o dinheiro) e o prêmio pela
liquidez(“montante (medido em termos de si mesmo) que as pessoas estão dispostas a
pagar pela conveniência ou segurança potenciais proporcionadas pelo poder de dispor
dele (excluindo o rendimento ou os custos de manutenção que lhe são próprios”).

Assim, “Deduz-se que a retribuição total que se espera da propriedade de um


bem, durante certo período, é igual ao seu rendimento menos o seu custo de
manutenção mais o seu prêmio de liquidez, ou seja, a q – c + l. Por outras palavras, q –
c + l é a taxa de juros específica de qualquer bem, onde q, c e l se medem em unidades
de si mesmos como padrão.”

“A característica fundamental do capital instrumental (por exemplo, uma


máquina) ou do capital de consumo (por exemplo, uma casa) é o fato de que seus
rendimentos excedem, em geral, seu custo de manutenção e de que seu prêmio de
liquidez é, provavelmente, desprezível; a característica de um estoque de bens líquidos
ou ainda de um excedente de capital instrumental ou de consumo é ser gravada por
um custo de manutenção, expressa em unidades de si mesmo, que nenhum
rendimento compensa, sendo nesse caso geralmente desprezível também o prêmio de
liquidez, sempre que os estoques ultrapassam um nível moderado, embora suscetível
de tornar-se apreciável em circunstâncias especiais; a característica da moeda, enfim,
é ter um rendimento nulo, um custo de manutenção insignificante, porém um prêmio
de liquidez substancial”.
Alguns elementos/características da moeda levam a conclusão apresentada acima:

- “a moeda, tanto a logo como a curto prazo, uma elasticidade de produção igual a
zero, ou pelo menos muito pequena, no que respeita o poder da empresa privada
como coisa distinta da autoridade monetária — querendo dizer por elasticidade de
produção neste sentido a resposta do volume de mão-de-obra dedicado a produzi-la
diante de um aumento na quantidade de trabalho que se pode obter com uma
unidade da mesma”; não se pode produzir mais moeda, por exemplo, porque há
aumento da demanda

- “ela tem uma elasticidade de substituição igual, ou quase igual, a zero, o que significa
que, quando o seu valor de troca sobe, não aparece nenhuma tendência para
substituí-la por algum outro fator, a não ser talvez em proporção ínfima, quando a
moeda-mercadoria é também usada na manufatura ou nas artes”; decorre da moeda
tendo utilidade apenas como valor de troca

“O significado da taxa de juros monetária surge, portanto, da combinação de


características que, sob a influência do motivo de liquidez, faz com que a taxa possa
ser mais ou menos insensível a uma mudança na proporção que a quantidade de
moeda guarda com outras formas de riqueza medidas em dinheiro e que este tem (ou
pode ter) elasticidades nulas (ou insignificantes) de produção, e que a moeda tem (ou
pode ter) elasticidades nulas ou insignificantes de substituição. A primeira condição
significa que a demanda pode concentrar-se na moeda, a seguinte que, quando isto
ocorre, não se pode empregar trabalho para produzir mais moeda, e a terceira, que é
esta situação, seja qual for a sua gravidade, não pode ser atenuada pela intervenção
de outro fator capaz, se suficientemente barato, de prestar os mesmos serviços que a
moeda. A única solução — fora das variações da eficiência marginal do capital —
provém (enquanto a preferência pela liquidez se mantenha constante) do aumento da
quantidade da moeda ou — o que vem a dar exatamente na mesma — de uma alta do
valor da moeda que permita a uma quantidade determinada prestar maiores serviços
monetários”.

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