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SÃO LEOPOLDO
2018
2
São Leopoldo
2018
3
Based on studies in Applied Linguistics on the work of the teacher, this research
aims to investigate the teaching prescriptions in Portuguese Language and Literature
of Secondary Education in two official documents organized by governmental
institutions, one of national level (OCEM), and the other, at the state level (RS
Curricular Reference). The theoretical support for the realization of this research is
found in the studies developed within the framework of Sociodiscursive Interactionism
(ISD), presupposed by Bronckart (1999, 2006, 2008, 2009) and collaborators. To name
ISD as the theoretical basis of this research allows the researcher to identify and
understand the relevance of the texts for the understanding of the action, since it is in
the texts and in which the knowledge about the work of the teacher can be constructed,
since the action is not apprehensible by a mere observation, but it is exposed in texts
that are built socio-historically. In this work, we sought to understand the ways in which
official documents prescribe teachers to work with genres of text, reading and writing,
as well as to identify the teacher's role for the documents analyzed. The study is
inserted in the field of qualitative and interpretive research, focusing on documentary
research, aligned with the theoretical perspective of Sociodiscursive Interactionism
and looking at the analytical model and Bronckart (1999), the analysis of the evaluation
revealed by the use of modalizers in the documents analyzed. Our analysis pointed
out that the teacher should follow the notes of the highest instances, working from texts
of different genres and with a proposal that promotes multiletramentos, which favors
student learning, combining social and daily life. In addition, it was found that the use
of the modalizers, in the documents analyzed, contribute, in a very similar way in both,
to evidence the duties and obligations that affect the teacher of Portuguese Language
and Literature and its action. Finally, the research made it possible to verify that the
role given to the teacher is that of "agent", that is to say, one that has no intentions,
motives and capacities of its own, so that the official documents analyzed are the
"actors" those who are, in fact, the source of teacher action.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................12
2 O QUADRO TEÓRICO DO INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO
(ISD)...........................................................................................................................14
2.1 A arquitetura textual..........................................................................................20
2.2 O Trabalho do Professor no Quadro Interacionismo Sociodiscursivo
(ISD)...........................................................................................................................24
2.3 As Dimensões do Trabalho do Professor.........................................................28
3 LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS DE TEXTO - ALGUMAS DEFINIÇÕES......31
4 OS DOCUMENTOS OFICIAIS E O AGIR DOCENTE........................................34
4.1 Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM)...............................35
4.2 Referencial Curricular Lições do Rio Grande - Caderno do Professor (RC -
LPL/RS)......................................................................................................................36
5 METODOLOGIA DE PESQUISA........................................................................38
5.1 Tipo de Estudo...................................................................................................38
5.2 Pergunta de Pesquisa.......................................................................................39
5.3 Objetivos............................................................................................................39
5.3.1 Objetivo Geral..................................................................................................39
5.3.2 Objetivos Específicos......................................................................................40
5.4 O Método de Análise.........................................................................................40
5.5 O Corpus de Análise.........................................................................................43
6 ANÁLISE DOS DADOS......................................................................................44
6.1 Das Prescrições.................................................................................................44
6.2 Das Modalizações..............................................................................................48
6.3 Do Papel Prescrito ao Professor......................................................................52
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................56
REFERÊNCIAS..........................................................................................................58
APÊNDICE A - ANÁLISE DE DADOS - DOCUMENTO OCEM..................................61
APÊNDICES B - ANÁLISE DE DADOS - DOCUMENTO RC -
LPL/RS.......................................................................................................................84
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1 INTRODUÇÃO
AGIR ACTANTE
Ator:
Ação:
Possui
Mobiliza motivos
capacidades,
e intenções em
motivos e
nível particular.
intenções.
Atividade: Agente:
Mobiliza motivos Não possui essas
e intenções em atribuições.
nível coletivo.
Notamos que essa distribuição de níveis, que aqui emprega, diz a respeito ao
grau de dependência contextual dos fenômenos, esses níveis, conforme a figura, pode
ser mais ou menos “superficiais” ou “profundos”. Em suma, no quadro, podemos
observar que a infraestrutura geral do texto abrange o conteúdo temático e os tipos
de discurso, já a dos mecanismos de textualização destaca a conexão, coerência e
coesão, e as dos mecanismos enunciativos explora as vozes e as modalizações.
A partir disso, a arquitetura textual nos permite observar como textos oficiais,
como os que são analisados nesta pesquisa, prescrevem o trabalho do professor.
Kleiman (2001) afirma que a leitura é considerada uma atividade cognitiva que
envolve percepção, processamento, memória, dedução e inferência. No ensino da
leitura, é necessário que haja coerência entre os pressupostos teóricos e a ação
pedagógica, os quais, em um processo de interação, proporcionam o “reconhecimento
do aluno enquanto sujeito leitor, e não como mero decodificador, o reconhecimento
do professor enquanto adulto modelo desse leitor” (KLEIMAN, 2001, p. 09). De acordo
com Schlatter (2009) ler é (re)agir criticamente de acordo com a expectativa criada
pelo gênero discursivo. Ler envolve decodificar, participar, usar e analisar o texto para
poder inserir-se de modo mais pleno e participativo na sociedade.
Em relação à escrita, esta representa uma das formas complexas de produzir um
discurso, uma vez que envolve planejamento e organização do pensamento, além do
domínio do sistema linguístico a ser utilizado. A possibilidade de usar a língua escrita
implica uma organização entre linguagem e pensamento que, mediados pela escrita,
permitem a conversão das interpretações da realidade em algo material e articulado,
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favorecendo dessa forma a apropriação do conhecimento. Conforme Kleiman (2001),
o ato de produzir textos via escrita representa um instrumento do pensamento reflexivo
e, portanto, condição necessária para as operações intelectuais.
Portanto,
[...] elaborar um texto é uma tarefa cujo sucesso não se completa,
simplesmente, pela codificação das ideias ou das informações, através de
sinais gráficos. Ou seja, produzir um texto não é uma tarefa que implica
apenas o ato de escrever. Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos
papel e lápis. Supõe, ao contrário, várias etapas, interdependentes e
intercomplementares, que vão desde o planejamento, passando pela escrita
propriamente, até o momento posterior da revisão e da escrita. (ANTUNES,
2003, p.54)
Sendo assim, escrever um texto não é uma tarefa fácil, devemos planejar o que
será escrito, logo após deve-se colocar no papel o que foi planejado, e a fase final é
rever o texto, para confirmar se tudo o que foi planejado foi cumprido e até mesmo
fazer uma revisão geral de ortografia e ver se o texto possui coesão e coerência. Fica
compreendido que a leitura e a escrita são necessárias e essenciais para todos, no
final de cada leitura ficamos enriquecidos com novas ideias, experiências e uma nova
forma de opiniões para discutir a realidade do mundo e a tentar entender o ser
humano. Para complementar, salientamos que o convívio e o hábito de práticas
sociais e culturais de leitura e escrita que se fazem presentes na sociedade atual,
compreende-se mais do que letramento, o termo que melhor se embarca para essa
complexidade é o de letramentos múltiplos.
Portanto, a partir da leitura e da escrita, podemos nos tornar aptos a produzir
textos em diferentes gêneros. Bronckart (2007) menciona que os gêneros são
compreendidos como toda unidade de produção verbal, oral ou escrita,
contextualizada, que transmite uma mensagem linguisticamente organizada e que
produz um efeito de coerência no seu destinatário. Já segundo Schneuwly e Dolz
(2004), são instrumentos culturais disponíveis nas interações sociais, que são
considerados historicamente estáveis e emergem em diferentes domínios sócio-
discursivos fazendo parte da situação comunicativa.
Ainda, Marcuschi (2008, p.155) salienta que:
5.3 Objetivos
Nos pequenos excertos acima, fica explícito, por meio das modalizações
deônticas expressas pelo uso do auxiliar “devem”, a necessidade da disciplina de
Língua Portuguesa (LP) no ensino médio trabalhar com as quatro habilidades. O uso
desses modalizadores salienta a construção hierárquica entre o MEC, enquanto
instância superior que tem o poder de apontar aquilo que precisa ser feito, e os
professores, como destinatários do documento, aqueles que devem acatar as suas
prescrições.
Já, no documento RC-LPL, considerado um dos objetos de pesquisa, também
encontramos o uso de modalizadores voltados ao agir do professor, como exemplos
temos as frases abaixo:
Mais além, verificaremos mais dados referente a esta pesquisa. Essa pequena
análise serviu apenas para ilustrar o procedimento analítico que instauramos nesta
seção de metodologia.
43
5.5 O Corpus de Análise
Palavras-
Documento chave Sentenças
A lógica de uma proposta de ensino e de aprendizagem
que busque promover letramentos múltiplos
pressupõe conceber a leitura e a escrita como
ferramentas de empoderamento e inclusão social (p.28).
Tais atividades, principalmente se tomadas em relação
Leitura aos textos privilegiados no ensino fundamental, devem
focalizar, no caso da leitura, não apenas a formação ou
consolidação do gosto pela atividade de ler, mas sim o
desenvolvimento da capacidade de compreensão do
texto escrito, seja aquele oriundo de esferas privadas,
seja aquele que circula em esferas públicas (p.37).
A lógica de uma proposta de ensino e de aprendizagem
que busque promover letramentos múltiplos
pressupõe conceber a leitura e a escrita como
ferramentas de empoderamento e inclusão social (p.28).
O que se prevê, portanto, é que o aluno tome a língua
escrita e oral, bem como outros sistemas semióticos,
como objeto de ensino/estudo/aprendizagem, numa
Escrita abordagem que envolva ora ações metalinguísticas (de
descrição e reflexão sistemática sobre aspectos
linguísticos), ora ações epilinguísticas (de reflexão sobre
o uso de um dado recurso linguístico, no processo
mesmo de enunciação e no interior da prática em que ele
OCEM
se dá), conforme o propósito e a natureza da
investigação empreendida pelo aluno e dos saberes a
serem construídos (p.33).
Na acepção em foco, é pertinente conferir à noção de
conteúdo programático um sentido ligado diretamente à
ideia de que os conteúdos da área de Língua Portuguesa
podem figurar como elementos organizadores de eixos
temáticos em torno dos quais serão definidos, pela
escola, os projetos de intervenção didática que tomarão
como objeto de ensino e de aprendizagem tanto as
questões relativas aos usos da língua e suas formas de
atualização nos eventos de interação (os gêneros do
discurso) como as questões relativas ao trabalho de
Gêneros
análise linguística (os elementos formais da língua) e à
análise do funcionamento sociopragmático dos textos
(tanto os produzidos pelo aluno como os utilizados em
situação de leitura ou práticas afins) (p.36).
• Atividades de produção de textos (palestras, debates,
seminários, teatro, etc.) em eventos da oralidade Por
meio desse tipo de expediente, pode-se não só contribuir
para a construção e a ampliação de conhecimentos dos
alunos sobre como agir nessas práticas, como também
promover um ambiente profícuo à discussão e à
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superação de preconceitos linguísticos e, sobretudo, à
investigação sobre as relações entre os gêneros da
oralidade e da escrita, sobre a variação linguística, sobre
níveis de formalidade no uso da língua, por exemplo
(p.37).
Tipos de
Documento modalização Excertos
Para favorecer o exercício da cidadania, é preciso dar
acesso às diferentes práticas de leitura e de escrita que
fundamentam a vida social nas esferas públicas,
estabelecendo relações significativas entre essas práticas
e a vida cotidiana dos alunos (p.09).
Esses diferentes níveis de representação da realidade se
dão a conhecer pela linguagem, e exigem uma tarefa de
compreensão ao mesmo tempo solidário e solitário para o
qual todos os alunos devem ser preparados, de modo a
poderem fruir a literatura de forma criativa, prazerosa,
realizando a leitura literária como uma das formas de
Deôntica vivência da cultura (p.11).
Professor: A leitura oral pode ser focalizada em gêneros
RC-LPL/RS
discursivos como poemas, peças teatrais, canções,
gêneros nos quais isso é esperado. (p.52)
É muito importante que você promova a publicação e a
Lógica leitura dos textos dos alunos, que poderá ser por meio da:
• organização de um painel de crônicas, ou confecção de
um mural. Você pode colar um envelope no mural e
convidar os leitores a depositarem ali seus comentários
(p.61).
Daí a importância de instrumentalizá-los para inferir
informações ou sentidos, estabelecer relações entre textos,
Apreciativa apropriar-se de diferentes gêneros e utilizá-los de forma
competente nas situações sociais em que eles se fazem
necessários (p.12).
Fonte: Elaborado pela autora.
52
De acordo com os dados acima, e com os apêndices disponíveis neste
trabalho, percebemos que as prescrições se apresentam materializadas nos textos
diluídas por uma grande manifestação de modalizadores. Destacam, no entanto, as
modalizações lógicas e deônticas nos documentos analisadas, podendo assim
concluir que há um nível de certeza referente ao trabalho do professor, que demonstra
que se seguir as “regras” das prescrições o professor estará apto a dar boas aulas, e
notamos também um nível referente a obrigação e dever a ser realizado pelo
professor. Acreditamos que o aparecimento de tais modalizações expressa que o
trabalho do professor é orientado pelas prescrições que lhes são impostas. Deste
modo, a análise destes dados evidenciou que os três tipos de modalizações
presentes, podem interferir diretamente ao trabalho do professor.
Ao analisar os documentos, percebemos que há uma grande semelhança nos
textos, os propósitos que abordam os textos são os mesmos a serem seguidos, já que
estes são documentos vigentes que orientam o currículo escolar brasileiro e estadual
para o Ensino Médio. O texto RC-LPL/RS apresenta mais modalizações do que as
OCEM, mas ambos acabam sempre tendo uma referência bem específica, contendo
os valores de dever, obrigação, possibilidade, estes valores que estão ligadas as
modalizações mais ocorrentes, sendo elas, lógica e deôntica.
Nota-se que o uso de modalizações pragmáticas em documentos relativos a
normas não ocorre, pois elas introduzem um julgamento sobre uma das facetas da
responsabilidade de um personagem em relação ao processo de que é agente, e
atribuem a esse agente intenções, razões, capacidade de ação.
Diante do exposto, e com a ajuda da análise dos modalizadores, podemos
perceber realmente qual é o papel do professor, mais além vamos obter a essa
resposta.
Diante desses excertos, e também como observamos no item 6.2 desta pesquisa,
podemos notar que essas prescrições ocorrem com uma grande incidência de
modalizadores, neste caso, o uso dos modalizadores deônticos, este uso abrange
como uma forma de dever e obrigação a ser seguido diante aos documentos.
Nos quadros 10 e 11, nos excertos referentes ao OCEM (2006) e ao RC-LPL/RS
(2009), nota-se que o enunciador explicita por meios das modalizações deônticas
expressas pelo uso do auxiliar dever que se denuncia o caráter prescritivo do
documento.
Assim, nos quadros acima, que concerne ao trabalho prescrito ao professor
com a leitura, observa-se que a leitura deve ser propiciada conjuntamente com as
quatro habilidades de ensino e ser trazida como algo prazeroso, sempre relacionando
a cultura dos alunos. Ao se tratar de escrita, os documentos salientam o uso correto
da produção de escrita como uma formação de processos de saberes. Por fim,
referente a gêneros, é necessário o trabalho com diferentes gêneros textuais e
discursivos de diferentes gêneros, tudo isso relacionado a uma produção de sentidos.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
AMIGUES, René. Trabalho do professor e trabalho de ensino. In: Machado, A.R. (org).
O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina: EDUEL, 2004.
BRONCKART, J.P. O agir nos discursos: das concepções teóricas às concepções dos
trabalhadores. Campinas, Mercado de Letras, 2008.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. 20. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
SOUZA-E-SILVA, Maria Cecilia Perez. O ensino como trabalho. In: Machado. A.R.
(org.). O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina: EDUEL, 2004.
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APÊNDICE A - ANÁLISE DE DADOS - DOCUMENTO OCEM