Você está na página 1de 35

THIAGO CESAR MATSUDA

Resposta católica ao movimento pentecostal

Monografia apresentada à Faculdade


Teológica Batista do Paraná como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Teologia.

Orientador: Jaziel Martins

CURITIBA, 2009
1

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DO PARANÁ

Thiago Cesar Matsuda

Resposta católica ao movimento pentecostal

Monografia aprovada em ____/____/____ para obtenção do título de Bacharel em


Teologia.

Banca Examinadora:

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________
2

Indice

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
1 O MOMENTO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA ............................ 6
1.1 Panorama geral ................................................................................................6
1.2 Panorama histórico ...........................................................................................7
1.3 Panorama atual brasileiro ...............................................................................10
2 MOTIVO PRINCIPAL DO DECLÍNIO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL: AS
RELIGIÕES PENTECOSTAIS ..................................................................................... 15
2.1 O pentecostalismo no Brasil ...........................................................................16
2.2 O neopentecostalismo ....................................................................................17
2.3 O fenômeno neopentescotal ...........................................................................17
2.3.1 O fenômeno em números .........................................................................18
2.3.2 A divulgação .............................................................................................19
3 O CONTRA ATAQUE DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA .............. 22
3.1 Pensamento Católico ......................................................................................22
3.2 Comunicação Católica ....................................................................................23
3.3 Renovação Carismática ..................................................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA E OBRAS CONSULTADAS .............................................................. 33
3

INTRODUÇÃO

Declínio nunca foi um assunto fácil de ser discutido, principalmente por parte de
quem o sofreu. Perdas sempre trouxeram dificuldades de aceitação, pelo contrário,
perdas causaram motivação para um contra ataque, um momento para um revide e
conseqüentes controvérsias e repúdio contra quem houve a perda. Infelizmente a
história da humanidade está recheada de momentos que mostram tal situação, a
perda e o contra ataque. O vencedor e o vencido.
Aqueles que jamais aceitam a derrota de forma pacífica tendem a conseguir
meios para atrapalhar o surgimento e o avanço do novo, do improvável, daquilo que
acabou de nascer com uma nova forma de opção. Esta idéia traz em si mesma o
fato da concorrência e por consequência pode trazer perda, danos que podem ser
irreparáveis.
A presente pesquisa tem por objetivo mostrar um destes momentos na
história, especificamente dentro de uma instituição muito influente desde o início de
sua fundação. Esta instituição é a Igreja Católica Apostólica Romana que ao longo
de sua existência vem sofrendo alguns declínios que tem acarretado vários prejuízos
para esta organização milenar.
Vários fatores contribuíram para que isto pudesse acontecer, além de fatos
que continuam a ocorrer indistintamente. Não existe limites para tais ocorrrências,
podendo acontecer, por exemplo, numa localidade muito retirada dos grandes
centros urbanos, como também num local que não levanta qualquer tipo de suspeita.
A abordagem desta pesquisa focalizará principalmente o contexto da Igreja
Católica Apostólica Romana no Brasil e o que a levou a perder muitos dos seus
seguidores, que até então se diziam fiéis, irredutíveis em sua doutrina de fé no que
se refere a mudanças.
De modo sucinto será visto também de que maneira a referida Igreja se
posicionou, e como ela reagiu a este fato, como foi o seu comportamento diante de
tantas situações constrangedoras as quais tiveram início primeiramente, dentro de
seu interior.
A pesquisa surgiu da inquietação do pesquisador em querer saber como que
uma igreja com tamanha estrutura, e dimensões religiosas, físicas e políticas pode
4

entrar em tamanho declínio, contabilizando inúmeras e sérias perdas ao longo de


sua história. Isto trouxe alguns agravantes para o decorrer de sua jornada, como por
exemplo, a sua credibilidade que ficou questionada, algo essencial para uma
instituição tão relevante dentro da sociedade na qual ela está inserida.
E é dentro desta perspectiva que alguns fatos serão abordados para uma
tentativa de melhor visualização da questão em pauta, ou pelo menos, parte dela.
No primeiro capítulo será observado um panorama geral da Igreja Católica
Apostólica Romana. Um panorama histórico, como a sua controvertida fundação,
sendo considerado por muitos como tendo sua origem com o apóstolo Pedro. Um
assunto que ainda está longe de se chegar a um comum acordo, ou pelo menos
próximo dele. Por isto será apresentada apenas alguma opinião sobre o fato, pois de
concreto não se tem nada.
Ainda no primeiro capitulo será mostrada a situação da Igreja Católica
Apostólica Romana no Brasil. Considerado o país com o maior número de católicos
do mundo, a observância dos fatos fica mais nítida em face da questão aboradada.
Através de números colhidos pelo Censo 2000, poderá ser observado como está
acontecendo este problema do declínio. O Censo vai mostrar alguns detalhes disto,
fatores motivadores para o episódio do momento atual pelo qual atravessa a Igreja.
No segundo capítulo serão focados então os problemas, os motivos do
declínio. Ainda que possa haver outros problemas, a pesquisa ficará restrita
somente no campo religioso, que ao que tudo indica, é o que a Igreja Católica
Apostólica Romana considera muito prejudicial.
Este problema religioso chama-se pentecostalismo e neopentecostalismo.
Com estes dois novos movimentos religiosos, muitos fiéis da Igreja Católica
acabaram por aderirem ao novo movimento. Uma migração em larga escala. Serão
vistos a origem destes novos conceitos religiosos e também sua divulgação no Brasil
e o que eles fizeram para atrair tantas pessoas. Alguns métodos utilizados por estes
novos grupos que chamaram a atenção das pessoas, serão mostrados para que se
observe a maneira sútil e ágil nesta atração.
No terceiro capítulo desta presente pesquisa será verificado o contra ataque
da Igreja Católica Apostólica Romana. O que esta Igreja fez diante de seu constante
decréscimo de fiéis. Poderá ser observado que muitas das estratégias usadas pelos
movimentos já citados também foram utilizados pelos oficiantes católicos.
5

Meios de comunicação e até mudanças em suas missas, foram modificados com a


finalidade de não deixar que os fiéis abandonem a Igreja em busca de novidades.
A renovação carismática foi uma desta inovações que aconteceu, e num
momento muito propício, como poderá ser constatado. Este fato demonstra uma das
formas da reação católica diante do que vem ocorrendo com esta instituição
religiosa tão influente há muito tempo. E que por conta dos acontecimentos tomou
atiitudes para conter as perdas que poderão ser observadas ao longo desta
pesquisa.
6

1 O MOMENTO DA IGREJA CATÓLICA


APOSTÓLICA ROMANA

1.1 Panorama geral

A Igreja Católica Apostólica Romana vem ao longo de sua história sofrendo perdas
significativas e constantes. Motivos vários podem ser observados, entre os quais se
destacam religiosos, políticos, comportamentais além de interesses próprios de seus
administradores.
Suas convicções dogmáticas, ao longo do tempo, têm sofrido muitas
interpretações, auxiliando e acelerando o processo de enfraquecimento de sua
estrutura organizacional. Tais dificuldades trouxeram inúmeros problemas para a
Igreja Católica, ou também chamada Igreja Romana1.
ELWELL (1988, p. 282) citando Calvino, mostra porque nas suas Institutas da
Religião Cristã2, ele vai “argumentar que a Igreja Romana não era uma igreja
verdadeira, visto que era defeituosa na pregação real do evangelho e na
administração dos sacramentos”. Calvino foi apenas mais um, dentre tantos, dos
que conseguiam perceber os erros que estavam acontecendo dentro da igreja.
Desta forma então se posicionavam contrários a todo tipo de erro com a finalidade
de que se voltasse na origem de seus propósitos. Mas a situação era gritante do
ponto de vista dos erros, sendo impossível não perceber os graves problemas
existentes e suas possíveis conseqüências para o bom andamento da chamada
igreja “una, santa, católica e apostólica”, segundo LOSSKY (2005, p. 177).

1
Ela assim era chamada porque até o ano de 1054 era apenas uma única igreja comandada pelo
bispo de Roma. Neste ano houve o chamado Grande Cisma entre a Igreja Oriental e a Igreja
Ocidental, motivado pelo grande crescimento do poder de Roma em comparação com o de
Constantinopla. O papa Leão IX irritou-se com uma encíclica do patriarca de Constantinopla e este
por sua vez recusou-se a submeter-se as ordens do papa, sendo determinada uma sentença de
anátema.
2
As Institutas do Cristianismo, ou simplesmente As Institutas é a obra principal da teologia de João
Calvino. A primeira edição foi publicada em 1536 em latim. A última edição, totalmente revisada, foi
de 1559. As Institutas são a referência primária para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas
Reformadas, influenciando também outras surgidas na Reforma ou em período próximo. As idéias de
Calvino são as bases para o conjunto de doutrinas usualmente chamado de Calvinismo.
7

Junto a estas qualificações acrescenta-se também o termo “romano” que era


tido como um sinônimo para “católico”, desde o século XII, de acordo com o cardeal
Belarmino (1542-1621) 3. Até mesmo o termo católico que segundo HOUAISS,
significa “que tem vocação de universalidade, que é universal”, trouxe algumas
dificuldades de aceitação, pois também é designado para descrever “os crentes em
Cristo que reconhecem no bispo de Roma a autoridade suprema”, bem como “a
doutrina e os ritos usados pela Igreja de Roma para distingui-los dos das outras
comunidades cristãs”, segundo BERARDINO (2002, p. 275).
LOSSKY (2005, p. 177) afirma que “Lutero queria substituir o termo “católico”
por “cristão”, nas traduções dos credos cristãos clássicos, como se a palavra
estivesse deturpada pelo afastamento de Roma com relação à catolicidade4 clássica
ao introduzir inovações não legitimadas pelas Escrituras”. Dadas estas observações
é possível verificar que até para uma definição do termo católico há controvérsias.
Isto talvez se deva ao fato de crer ela, Igreja Católica Romana, em sua primazia,
assim como aconteceu ao longo dos tempos quando tinha poderes quase que
absolutos sobre as nações, representada por sua autoridade máxima o papa.
De acordo com LOPES (2007, p. 26) os papas “não se contentaram com os
Céus. Acabaram se tornando donos das chaves de muitos reinos da Terra”.
Essencialmente, a Igreja mandava em todas as questões, não importando se era na
esfera religiosa ou no campo dos assuntos políticos. Verificando esta situação,
percebe-se que nada e ninguém poderia se opor as suas determinações, pois caso
contrário sofreria as devidas punições compatível com o descumprimento da ordem.
Um exemplo clássico deste fato foi a criação da Inquisição5.

1.2 Panorama histórico

Um problema que surge quando se fala sobre Igreja Católica Romana é o fato de
sua origem não ser algo tão certo como possa parecer. Muitas teorias estão

3
Um doutor da igreja que chegou ao fim de sua vida como cardeal a serviço da Cúria Romana,
profundamente envolvido em numerosas e importantes missões políticas e eclesiásticas. Insistia na
igreja hierárquica visível, culminando no papado romano, como a única igreja verdadeira, excluindo
assim tanto os protestantes quanto os ortodoxos.
4
O termo, segundo alguns estudiosos, ainda é essencialmente contestado.
5
Tribunal eclesiástico instituído pela Igreja católica no começo do século XIII com a finalidade de
investigar e julgar sumariamente pretensos hereges e feiticeiros, acusados de crimes contra a fé
católica. Os condenados eram enviados ao Estado, para serem sentenciados.
8

embutidas na história da origem desta igreja, se confundindo com a própria história


da Igreja Cristã.
Conforme afirma LOSSKY

Onde começa a história da Igreja Católica Romana, por si mesmo, já é um assunto de


julgamento teológico, carregado de sérias implicações ecumênicas. Seria o catolicismo
romano um fenômeno pós-Reforma ou é a forma original da igreja? Seria o “catolicismo
primitivo” encontrado já no Novo Testamento ou é um acontecimento totalmente pós-
6
bíblico? Estudiosos católicos, até mesmo os de perfil liberal como Hans Küng , insistem em
que o catolicismo está presente desde o início e que a história da Igreja Católica tem seu
ponto de partida mais dentro do Novo Testamento do que no período pós-Reforma.
(LOSSKY, 2005, p. 613)

Diante desta afirmação citada, percebe-se o grau de dificuldade quanto se


determinar à origem da Igreja Católica Romana.
Entretanto, faz-se necessário uma abordagem, ainda que resumida, da
tradição quanto a sua origem, dando base para um entendimento de sua
subseqüente história até o presente momento.
Segundo a tradição a Igreja Católica Romana têm sua origem no Novo
Testamento. Textos como o do evangelho de Mateus 16. 13-19, Lucas 22. 31-32 e
João 21. 15-19 são considerados como base para o nascimento do catolicismo
romano. Nos textos citados, há o relato de Jesus entregando a Pedro as chaves do
reino dos céus, o que para muitos é tido como um sinal de autoridade. Esta
autoridade ficou acentuada com as figuras bíblicas a ele atribuídas, sendo que a
Igreja realçou ainda mais através de outros predicados como afirma LOSSKY (2005,
p. 613), onde diz que Pedro foi chamado de “pregador missionário. grande

6
É um teólogo suíço, nascido em 19/03/1928, filósofo, professor de teologia, escritor e sacerdote
católico romano. Küng estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roi. Foi
ordenado sacerdote em 1954. Continuou a sua educação em várias cidades européias, incluindo
Sorbonne, em Paris. Sua tese doutoral foi "Justificação: A doutrina de Karl Barth e uma reflexão
católica". Em 1960, Küng foi nomeado professor de teologia na Universidade Eberhard Karls em
Tübingen, Alemanha. Juntamente com o seu colega Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI), foi
apontado como perito pelo Papa João XXIII como consultor teológico para o Concílio Vaticano II. No
final da década de 1960, Küng iniciou uma reflexão rejeitando o dogma da Infalibilidade Papal,
publicada no livro Infallible? An Inquiry ("Infalibilidade? Um inquérito") em 18 de janeiro de 1970. Em
consequência disso, em 18 de Dezembro de 1979, foi revogada a sua licensa pela Igreja Católica
Apostólica Romana de oficialmente ensinar teologia em nome dela, mas permaneceu como sacerdote
e professor em Tübingen até a sua aposentadoria em 1996. Em 26 de setembro de 2005, ele e o
Papa Bento XVI surpreenderam ao encontrar-se para jantar e discutir teologia. Küng defende o fim da
obrigatoriedade do celibato clerical, maior participação laica e feminina na Igreja Católica, retorno da
teologia baseada na mensagem da Bíblia.
9

visionário, destruidor de heresias, receptor da nova lei, porteiro do céu, timoneiro do


barco da igreja, mestre e mártir juntamente com Paulo”.
Mas foi com o papa Leão I7 que a analogia foi realçada, pois foi em seu
pontificado que se começou a requerer que o bispo de Roma era a autoridade
máxima sobre os demais bispos. De acordo com CAIRNS (1995, p. 128), abordando
esta questão sobre Pedro afirma que ele “recebeu a “primogenitura eclesiástica”
sobre seus companheiros de apostolado, sendo que sua posição superior passou
dele aos seus sucessores, os bispos de Roma, por sucessão apostólica”. Há que se
dizer que para muitos a confirmação desta história da sucessão petrina aconteceu
quando o imperador Constantino assumiu o trono do ocidente e juntamente como
imperador Licinio, do oriente promulgaram o que ficou conhecido como “Edito de
Milão”. Neste edito, promulgado em 312 d.C., para a Igreja estava sendo concedida
liberdade religiosa, juntamente com outras formas de religiosidade vigente. Seus
locais de reuniões seriam devolvidos, pois estes haviam sido tomados anteriormente
em conseqüência de perseguições sofridas.
CHAPA comenta sobre este episódio

Longe de atribuir ao cristianismo um posto proeminente, parece que o edito pretende


conseguir a benevolência divina sem importar qual fosse o culto, dado o sincretismo que
naquela época praticava Constantino, que a pesar de favorecer a Igreja, durante um tempo
continuou dando culto ao Sol Invicto. Graças a este edito, o paganismo deixou de ser a
religião oficial do Império e o edito permitiu que os cristãos gozassem dos mesmos direitos
que os demais cidadãos. A partir desse momento, a Igreja passou a ser uma religião lícita e
foi reconhecida juridicamente pelo Império. Isso permitiu um rápido crescimento.

De acordo com o que foi citado, observam-se as teorias nas quais a Igreja
Católica Romana fundamenta a sua origem e que também está envolta em
controvérsias e dúvidas. Entretanto, serve de apoio para que se tenha um
conhecimento geral de sua história para que se consiga uma percepção do
momento atual.

7
Assumiu o trono episcopal em 440 d.C. deixando em 461 d.C. Foi considerado como sendo de
grande habilidade, pois em duas questões de ocupação dos territórios romanos, conseguiu convencer
os líderes, Átila e Genserico a deixar a cidade de Roma. Posteriormente foi-lhe atribuído o título de
“grande”.
10

1.3 Panorama atual brasileiro

Diante do que já foi exposto, percebe-se então conseqüências no momento atual o


qual passa a Igreja Católica Romana. Estas conseqüências podem ser observadas
através de números obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) 8. O último Censo revelou, através dos dados de religião, mudanças que
afetaram profundamente a maioria católica, e indicou um crescimento nas igrejas
Neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus.
O censo de 1980 registrou, pela primeira vez na história do Brasil, uma
porcentagem de católicos inferior a 90%. Tal porcentagem diminuiu nos Censos
seguintes: 83,3% em 1991 e 73,9% em 2000 (ANTONIAZZI, 2004, p. 10). Ao mesmo
tempo, notou-se a caracterização das duas últimas décadas como um amplo
movimento de diversificação religiosa. As porcentagens citadas referem-se à
população brasileira em sua totalidade. Todavia, significativas diferenças de estado
para estado foram evidenciadas. A porcentagem dos católicos é mais alta em
determinadas regiões como o Nordeste e mais baixa em outras como o Rio de
Janeiro, enquanto que a porcentagem dos evangélicos tem tido crescente aumento
em outras regiões como: Goiás, Espírito Santo, Roraima, Acre e outras.
A expansão pentecostal desenvolveu-se vastamente, mas a Igreja Católica
ainda se mantém predominante, posto que grande maioria da população brasileira
declarou-se católica. Os católicos são a grande maioria com 73,57% e os
evangélicos são 15,41% e são as duas religiões que passam à barreira dos 10% da
população brasileira. Já os sem religião, espiritismo, budismo, judaísmo, islamismo e
o hinduísmo têm sua presença fraca juntamente com outras religiões.
É expressiva a presença de ex-católicos nas igrejas evangélicas, sobretudo
pentecostais, embora, até recentemente a Igreja Católica Romana não parecia ter
tomado consciência do desafio que lhe trazia o pentecostalismo e o
neopentecostalismo.
Após o resultado do Censo de 2000, percebeu-se que a Igreja Católica
Romana refletiu sobre a sua significativa perda de fiéis para outras Igrejas e que
este quadro vinha se agravando ao longo do tempo. Pesquisas por amostragem
revelaram dados que o Censo 2000 comprovou. Ao final da década de 1980 ficou

8
Disponível em: http://www.ibge.org.br/censo .
11

constatado 65% de católicos, 19% de outras religiões e 19% sem religião; a


pesquisa de 1990, feita com a pergunta “qual é sua religião?”, encontrou 76,2% de
católicos, 14,6% de outras religiões, 9,2% sem religião. (CARNEIRO & SOARES,
1992, p. 13-16). Diante destas pesquisas, o Censo 2000 mostrou que estas
informações seriam inferiores à realidade do crescimento das outras religiões. O que
se percebe é que os entrevistados continuaram a se declarar católicos, mesmo
freqüentando cultos de outras religiões.
A Igreja Católica Romana também esta atenta à sua diversidade e está
freqüentemente fazendo pesquisas para ver o perfil de seus membros e quais são
as regiões que tiveram perda significativa ou que se não há uma boa ação da Igreja.
ANTONIAZZI comenta sobre o fato afirmando que

as diferenças são atualmente muito expressivas. Mas um estudo mais detalhado dá


indicações preciosas. Por exemplo, o Nordeste que apresenta o índice mais alto de
católicos, na realidade apresenta porcentagens altíssimas no interior, no sertão, e
apresenta porcentagens fracas no litoral, do Recife e ao Sul da Bahia. Isto sugere que
estamos diante de duas ou mais situações religioso-culturais bem diferentes: o catolicismo
do interior tem um caráter mais penitencial e foi marcado pelas missões populares de
capuchinhos e outros religiosos desde o século XVII; o litoral conserva um catolicismo mais
festivo ligado à devoção aos santos, mas menos austero e até bastante liberal em matéria
de costumes. E nas cidades do litoral, tendências pouco dispostas e aceitar a hierarquia
eclesiástica se manifestaram desde o século XVIII, revelando um senso crítico próprio de
que vive em ambientes onde há mais possibilidades de escolhas. Neste caso, as raízes da
situação atual afundam num contexto histórico bastante antigo, anterior ao esforço
modernizador e romanizante da Igreja Católica da segunda metade do século XIX e boa
parte do século XX. Foi observado que o catolicismo do interior nordestino está inserido
numa população pobre e de baixa escolaridade. Mas certamente não se reduz a estes
fatores a explicação da persistência e do vigor do catolicismo pelo sul de Santa Catarina e
o norte do Rio Grande do Sul (áreas de bom nível de escolaridade e de renda). É aqui que
se encontram muito poucas perdas de fiéis e até áreas onde os católicos não diminuíram
em nada entre 1991 e 2000. (ANTONIAZZI, 2004, p. 14).

Compreende-se, portanto que, a Igreja Católica Romana está com um desafio muito
grande para ser suprido, por conta das diferenças de etnias e culturas dentro do
Brasil, um país imenso geograficamente, sendo cada lugar, cada povo com a sua
descendência e sua maneira de viver e também com suas religiosidades.
A Igreja Católica Romana dá a entender que o fator de diminuição de seus
membros em alguns lugares não pode ser usado como comparativo com os outros
lugares do Brasil o que demonstra ser uma difícil tarefa.
A Igreja Católica Romana hoje conta com os seguintes dados por região:
12

As porcentagens por estado revelaram três situações graves: Rio de Janeiro, Rondônia e
Espírito Santo. Elas são uma pista mais geral: indicam áreas de imigração e ocupação
recente (como Rondônia e várias áreas do Norte e Centro Oeste) e metrópoles (como Rio
de Janeiro, mas também São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife...) como as mais
problemáticas para os católicos. No caso das metrópoles, não basta considerar os números
das capitais. É preciso olhar principalmente para os municípios do entorno metropolitano,
que nos últimos 10-20 anos cresceram enormemente em população, enquanto as Capitais
tinham um crescimento abaixo da média nacional. Começando pelo norte, pode-se
observar que a capital de Rondônia, Porto Velho, mesmo tendo uma porcentagem baixa de
católicos 63,08 está em situação melhor que o Estado 57,5%, o que significa porcentagens
ainda mais fracas no interior. Manaus com 68,16% de católicos, esta levemente abaixo do
interior do estado do Amazonas. As capitais nordestinas têm todas uma porcentagem de
católicos inferior à dos respectivos estados, confirmando que no Nordeste o catolicismo é
mais forte no interior. Quando estudamos de perto uma grande Região Metropolitana, como
Recife, aparecem as diferenças entre a Capital e os municípios do entorno, que receberam
uma forte migração nos últimos anos. Não consideramos outros municípios da Região, com
menos de 100.000 habitantes. Eles também apresentam (com exceção de Itamaracá)
baixas porcentagens de católicos, entre 45,92%, e 64,39%. É claro que os municípios do
entorno tem menos católicos que na capital. Nesta Região metropolitana é muito alta a
porcentagem dos que se declaram “sem religião”, quase o dobro da média nacional (que é
de 7,4%). Considerando que as “outras religiões” são cerca de 3% da população, pode se
calcular que os evangélicos são cerca de 20% no Recife e 21-27% nos outros municípios.
Em Minas Gerais, onde o número dos católicos é bastante alto 78,8%, os pontos fracos
estão nas áreas metropolitanas. Em Belo Horizonte, por exemplo, a porcentagem dos
católicos é de 68,84%, mas municípios vizinhos, da “grande BH”, apresentam índices
inferiores: Ibirité, 61,48%; Ribeirão das Neves 62,9%; Mário Campos, 62,99%; Vespasiano,
64,35%; Betim, 64,46%; Santa Luzia, 64,6%; Sabará, 65,44%; Contagem, 66,73%. Outra
área em que o catolicismo está enfraquecido, ao menos numericamente, é o Vale do Aço:
Ipatinga tem 53,56% de católicos e 10,58% de sem religião; Coronel Fabriciano, 57,82% de
católicos e 8,25% de sem religião. Outra cidade com forte presença evangélica, desde o
início, é Governador Valadares 60,05% de católicos. A Região Metropolitana reúne 4
municípios com 300 ou 350 mil habitantes cada um. O Espírito Santo é um dos estados
com menos presença de católicos 60,9%, mas os municípios da região metropolitana
apresentam índices ainda inferiores exceto Vitória 63,36% de católicos. Os outros são: Vila
Velha 57,82%; Cariacica, 52,51%; Serra, 51,04%. É elevado o número dos “sem religião”,
que chega a 13,71% em Cariacica e 14,88% em Serra. Uma presença ainda menos
numerosa de Católicos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Enquanto a cidade do
Rio de Janeiro tem 60,71% de católicos, os municípios vizinhos têm: Belford Roxo, 38,22
%; Duque de Caxias, 45,42%; Itaboraí 43,49%, Magé 49,43% Nilópolis, 51,33%; Nova
Iguaçu, 43,14%; Queimados, 38,35%, São Gonçalo, 49,3%; São João do Meriti, 45,68%.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro é muito elevada a porcentagem dos “sem
religião”. Embora na cidade do Rio seja alta 13,33%, quase o dobro da médica nacional, há
municípios com valores muitos maiores: Belford Roxo, 27,02%; Japeri, 26,6%; Itaboraí,
24,45%; Itaguaí, 22,9%; Nova Iguaçu, 21,88%; Duque de Caxias, 21,74%; São João do
Meriti, 20,36%. Praticamente todos os municípios do entorno superam em número de “sem
religião” a cidade do Rio de Janeiro. Menos acentuadas são as diferenças na região
Metropolitana de São Paulo. A Capital tem 68,11% de católicos. O ABC (Santo André, São
Bernardo e São Caetano), têm uma porcentagem um pouco mais alta. Os pontos fracos
estão em Poá, 54,12%; Ferraz de Vasconcelos, 57,33%; Suzano, 57,96%;
Itaquequecetuba, 58,2%; Francisco Morato, 63,19%; Franco da Rocha 63,43%; Barueri,
63,56%; Carapicuíba, 63,76%; Guarulhos, 65,09%. A região de São Paulo apresenta
também uma presença menos numerosa de “sem religião” (de 7% - 9% em São Paulo e
municípios com mais católicos), ou seja, a porcentagem é superior à média nacional 7,4%,
mas sensivelmente inferior à da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. No sul,
encontramos Curitiba, com 70,64% de católicos. Os municípios vizinhos tem valores bem
próximos, Aqui os “sem religião” estão na faixa de 6%. Porto Alegre 73,15% de católicos e
8,16% de “sem religião”. Os municípios vizinhos têm uma porcentagem mais alta de
católicos e mais baixa de “sem religião”. Finalmente, no Centro-Oeste temos Goiânia, com
60,28% de católicos e 10,12% de “sem religião”. O município vizinho de Aparecida tem
13

57,17% de católicos e 11,25% de “sem religião”. O Distrito Federal (Brasília) te 66,16% de


católicos e 8,04% de “sem religião”. (ANTONIAZZI, 2004, p. 15-19).

Compreende-se, que grande parte das pessoas que vivem nas regiões
metropolitanas é de pessoas que migraram do interior buscando uma vida melhor na
capital onde se têm mais empregos e onde a região é mais industrializada. O que se
percebe é que provavelmente esta mudança de vida faz com que a pessoa conheça
outras religiões, o que acarretaria em uma possível troca de religião. Diferente de
quando o indivíduo morava em sua terra e que não tinha escolha por decidir qual
seria sua religião. Também se nota que as pessoas hoje não têm mais medo de
publicar a qual religião eles freqüentam.
A Igreja Católica tenta em cada região montar seus ícones de fé, como por
exemplo, no nordeste o Santo Padre Cícero que é um destes ícones onde sua
gigantesca estátua atrai a milhares de devotos. No interior de São Paulo está a
cidade de Aparecida que em 2007 contou com a presença do Papa Bento XVI9 não
somente para visitar o país, mas para dar um impulso na imagem do catolicismo no
território brasileiro. A Igreja Católica Romana tenta com certa freqüência canonizar
alguns padres e freiras como santos para fortalecer sua imagem e a devoção de
seus fiéis. Isto pode ser observado quando o referido papa esteve no Brasil e
canonizou Frei Galvão10.
Através destes dados do Censo 2000, nota-se que a igreja Católica Romana
se encontra numa posição de maior destaque em quase todo o país, mas percebe-
se que os números estão caindo a cada Censo, índices esses que tem preocupado
a sua liderança. Muitos dos fatores da grande perda de membros da Igreja Católica
Romana se referem ao grande número de Igrejas e religiões que são abertas a cada
dia.
Na prática grande parte da perda de fiéis se iniciou na década de oitenta e
segue até hoje, e que é em grande parte atribuído ao crescente número de
inaugurações das Igrejas Pentecostais e Neopentecostais como é o caso da Igreja
Universal do Reino de Deus. Juntando-se a isto muitos outros fatores contribuíram

9
É o atual papa da Igreja Católica Romana desde 19 de abril de 2005. Seu nome original é Joseph
Alois Ratzinger, nascido em 16 de abril de 1927, na Alemanha. É o 265º papa, sucedendo a João
Paulo II.
10
Antonio de Galvão de França, nasceu em 1739 em Guaratinguetá, vindo a falecer em 23 de
dezembro de 1822. Foi um frade católico e sendo o primeiro santo brasileiro, canonizado em 11 de
maio de 2007 pelo papa Bento XVI.
14

para este decréscimo de fiéis da Igreja Católica Romana. Muitas questões internas
que de uma maneira ou de outra foram decisivas neste processo.
15

2 MOTIVO PRINCIPAL DO DECLÍNIO DA IGREJA CATÓLICA NO


BRASIL: AS RELIGIÕES PENTECOSTAIS

Dentre os muitos problemas que a Igreja Católica Apostólica Romana vem


enfrentando, motivando assim sua constante queda, e isto pode se verificar
especificamente no Brasil pode-se observar o surgimento dos movimentos
pentecostais e neopentecostais, concebidos no início do século XX e na década de
70 respectivamente.
Estes seguimentos foram decisivos no declínio da Igreja Católica Apostólica
Romana no Brasil, onde esta perdeu muito de seus seguidores, ainda que
NASCIMENTO (2002, p. 83) diga que “alguns estudiosos da religião afirmam que o
declínio do catolicismo no Brasil está associado ao pontificado de João Paulo II11,
que limitou a ala progressista da igreja, deixou num estado moribundo a esquerda
católica e asfixiou a igreja popular dos anos 70”. Tais movimentos contribuem para o
que disse SILVA (1996, p. 43) sobre a Igreja Católica “que foi se amancebando
mundo afora, como um camaleão, tomando as formas e as cores necessárias para
sua sobrevivência, e isso às custas do nome do Cristianismo, mas que dele não tem
absolutamente nada, nem mesmo a Bíblia”. O que se percebe é que chegou um
momento no qual a Igreja Católica não atendia mais os anseios de seus fiéis. Com
isto começou uma migração para outras religiões que ofereciam algo diferente e
mais atraente. Isto contribuiu para que a hegemonia da Igreja Católica se
enfraquecesse, permitindo que houvesse uma pluralidade religiosa12. E conforme
comenta ORO (1996, p.89) sobre esta questão que “este fato não passa
despercebido pela Igreja Católica”13. Esta pluralidade contribuiu significativamente
para que os novos movimentos religiosos se expandissem, tornando-se expressivos

11
O papa João Paulo II teve o terceiro papado mais longo da história do catolicismo, com 26 anos de
pontificado. Iniciou seu pontificado em 16 de outubro de 1978 e terminado em 02 de abril de 2005
com seu falecimento.
12
A pluralidade religiosa brasileira não é algo novo. É uma característica marcante no país. Já na
colônia e no Império encontramos formas de relacionamento entre diferentes manifestações
religiosas com o próprio catolicismo, que deteve o monopólio religioso a te a constituição de 1891.
13
A pluralidade religiosa brasileira não é algo novo. É uma característica marcante no país. Já na
colônia e no Império encontramos formas de relacionamento entre diferentes manifestações
religiosas com o próprio catolicismo, que deteve o monopólio religioso a te a constituição de 1891.
16

dentro deste contexto religioso. Com isto a Igreja Católica Apostólica Romana foi
perdendo sua força dentro deste cenário14.

2.1 O pentecostalismo no Brasil

O movimento pentecostal teve sua origem nos Estados Unidos da América, na


cidade de Topeka, Kansas. Isto aconteceu numa escola bíblica. Tal movimento
surgiu do movimento de “santidade”, idéia absorvida do conceito wesleyano da
perfeição cristã, como uma segunda obra da graça, distinta da justificação.
Charles Pahram defendia a idéia de que o falar em línguas demonstrava o
recebimento do batismo com o Espírito Santo. W. J. Seymour foi quem deu
continuidade a este conceito, pois era discípulo de Pahram. Segundo CAIRNS
(1995, p. 432) Seymou era “um aluno negro, tornou-se mais tarde o líder de uma
missão no número 312 da rua Azuza em Los Angeles, no ano de 1906.
O pentecostalismo no Brasil surgiu com a vinda de Daniel Berg e Gunnar
Vingren. Estes eram discípulos de W. H. Durham, pastor de uma igreja batista em
Chicago, que teve algumas divergências doutrinárias com Seymour. Berg e Vingren
depois de provocarem uma cisão na Igreja Batista em Belém, Pará, fundaram a
Igreja Assembléia de Deus, em 1911.
Luigi Francescon, também discípulo de Durham, depois de ter recebido uma
revelação viajou para a América do Sul, chegando posteriormente ao estado do
Paraná, e depois a São Paulo, onde fundou a Congregação Cristã no Brasil, em
1910.
Até 1950, o pentecostalismo era representado por estas duas Igrejas. Após
esta data surgem outras igrejas pentecostais: Igreja do Evangelho Quadrangular
(1951), O Brasil para Cristo (1956), Igreja Deus é Amor,
Para ROCHA (2003, p. 77) “o movimento pentecostal floresce exatamente
onde as denominações históricas falham. A negação da dimensão emocional, a
incompetência no trato com as diferenças e o afastamento dos pobres gerou o
ambiente perfeito para o crescimento do pentecostalismo”.

14
Com relação a esta pluralidade religiosa, podem-se citar também as inúmeras religiões que
entraram no Brasil. Religiões orientais, africanas e asiáticas foram alvos desta migração de fiéis
católicos a estes novos conceitos religiosos. Pode-se ser abordadas as religiões evangélicas
históricas que já se fixavam no país há muito tempo.
17

2.2 O neopentecostalismo

O neopentecostalismo tem sua origem na metade da década de 70. Os fundadores


deste movimento foram Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares e Miguel Ângelo.
Todos estes saíram da Igreja Nova Vida e fundaram as primeiras igrejas
neopentecostais no Brasil, a saber: Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Igreja
Internacional da Graça de Deus (1980) e Cristo Vive (1986). Junto a estas encontra-
se também: as Comunidades Evangélicas, Igreja Renascer em Cristo, Sara Nossa
Terra e muitas outras. O neopentecostalismo se diferencia do pentecostalismo por
sua ênfase na batalha espiritual, teologia da prosperidade e doutrina da
determinação.

2.3 O fenômeno neopentescotal

O maior expositor deste movimento neopentescotal na atualidade tem sido a Igreja


Universal do Reino de Deus (IURD). Isto porque é a igreja que mais cresce no Brasil
e também em alguns países.
BONFATTI percebe este fato comentando o seguinte

A IURD cresce, instiga, assusta e não comporta análises. Atualmente, é a maior igreja
neopentecostal do Brasil e não se encontra nenhum paralelo histórico de qualquer outra
denominação protestante brasileira. Seu estigma tem-se mostrado tão forte, que hoje,
quando se conversa com leigos sobre evangélicos, pentecostalismo ou
neopentecostalismo, sempre se tende associa-los a IURD, que virou quase que uma marca
registrada. O seu pouco tempo de existência não impediu sua crescente visibilidade,
representando um papel que já faz sua parte do cenário brasileiro. É difícil nunca se ter
ouvido falar nela, tenha sido contra ou a favor. Muito mais significativo do que isso, é o fato
de muitas pessoas estarem buscando e construindo um sentido para suas vidas em seus
cultos e na suas formas de ver o mundo. Ou seja, a IURD cresce porque a multidão vem
encontrando dentro dela algo que não tem encontrado em outros lugares. (BONFATTI,
2000, p. 23)

Seu fundador, Edir Macedo15, chamado de bispo, conseguiu observar o momento


para que isto pudesse acontecer.

15
Um dos principais responsáveis pela constituição desse verdadeiro império religioso, o fluminense
Edir Bezerra Macedo, seu líder e fundador, tornou-se crente evangélico aos dezoito anos, ingressando
na Igreja de Nova Vida por meio da influência de uma irmã. Antes era católico e freqüentava a
Umbanda. Permaneceu na Nova Vida de 1963 até 1975, quando, contrariado com seu elitismo de
18

Nas palavras de ORO, o que acontece é que

O contexto socioeconômico, cultural, político e religioso no qual a Universal surgiu, e


prosperou lhe foi assaz favorável. Basta atentar, no decorrer desse período, para: a
agudização das crises social e econômica brasileiras; o elevado aumento do desemprego;
o recrudescimento da violência e da criminalidade; a “destradicionalização” e a
modernização sociocultural; a vigência de plena liberdade religiosa e de um mercado
religioso pluralista; a baixa regulação estatal da religião; o enfraquecimento religioso, a
secularização e o declínio numérico da Igreja Católica; a larga e contínua expansão
pentecostal em todo o território brasileiro desde de 1950; a extensa difusão a vasta
dimensão numérica e geográfica obtida pela denominação no Brasil e no exterior, a cúpula
eclesiástica consagrou dezenas de novos bispos, que assumiram cargos de dirigentes
denominacionais em níveis nacionais, estadual e regional. (ORO, CORTEN & DOZON,
2003, p.53).

Tais fatores fizeram da IURD uma igreja muito lembrada e requisitada quando se
trata de migração de religião, principalmente da Igreja Católica Apostólica Romana.
Num país como o Brasil onde a miséria está presente em todas as partes deste país
e a carência por uma vida melhor é desejada por todos, fica claro que quem pode
alimentar a esperança de um povo nestas condições, vai ter a prerrogativa de obter
adeptos de suas idéias. Com estes dados da realidade brasileira, a IURD consegue
utilizar isto em seu favor.
Sendo assim a IURD consegue alcançar este perfil, de igreja acolhedora, no
cenário religioso brasileiro, sendo vista com bons olhos principalmente entre as
camadas mais humildes da sociedade.

2.3.1 O fenômeno em números

Os dados a seguir mostram o quanto a IURD cresceu. Estes números também


podem demonstrar uma realidade que está por vir ainda, para esta que é
considerada a maior Igreja no Brasil. Com estes dados pode-se imaginar que esta
Igreja tem grandes possibilidades de aumentar ainda mais o seu giro de negócios.
Visto que em tão pouco tempo ela chegou a este patamar, não será nenhuma
surpresa se dominar muito mais.
ORO mostra estes números assim

classe média, deixou-a para fundar a Cruzada do Caminho Eterno. Dois anos depois, nova cisão: saiu
para formar, junto com outros crentes, a Universal do Reino de Deus
19

O crescimento institucional da Universal desde o princípio, foi dos mais acelerados. Com
apenas três anos, já contava com 21 templos em cnco estados brasileiros. Em 1985,
avançou para 195 templos em catorze estados e no Distrito Federal. Passados mais dois
anos, com 365 templos em dezoito estados, reunia multidão suficiente para lotar, ao
mesmo tempo, o enorme estádio do Maracanã e o Maracanâzinho, no Rio de Janeiro. No
ano seguinte, pulou para 437 templos em 21 estados. E abril de 1989, somava 571 locais
de culto. Entre 1980 e 1989, o número de templos atingiu a impressionante cifra de
crescimento de 2.600%. No início da década passada, já alcançava todos os estados do
território brasileiro, marcando presença estrategicamente nas capitais e nas médias e
grandes cidades e concentrando-se, sobretudo, no Rio de Janeiro, em São Paulo – os
estados mãos importantes da região sudeste, a mais rica, urbanizada e industrializada
deste país – e na Bahia, berço do candomblé. O site oficial da denominação informa que a
Universal possui cerca de 4000 templos no Brasil. Já o Censo demográfico de 2000 revela
que ela dispões de 2000 milhões de adeptos, o que, no campo pentecostal, a deixa atrás
apenas da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã no Brasil. Importa destacar que a
expansão Universal, além de, por si só, beirar o extraordinário, tal sua magnitude, ampliou
e aprofundou as transformações palas quais tem passado o campo religioso brasileiro nas
ultimas décadas. Não obstante todo esse sucesso institucional, cumpre observar que o
crescimento da Universal apresenta limitações. A principal delas consiste na dificuldade de
se expandir uniformemente pelas diferentes classes sociais. Centrado na oferta de serviços
mágico-religiosos que prometem sanar os problemas materiais e espirituais que acometem
fiéis e virtuais adeptos, seu proselitismo, tanto midiático quanto o interpessoal, mostra-se
mais eficaz principalmente, embora não exclusivamente, na base da pirâmide social
brasileira. Até o momento, suas tentativas de expandir-se nos outros estratos sociais
falharam. A realização, por exemplo, de cultos de prosperidade para atrair clientela formada
especificamente por pequenos e médios empresários em nada alterou a composição social
de seus membros. Em vez de aliciar empresários, tais cultos restringiram-se sobretudo a
atrair fiéis desejosos de prosperar e, em parte, interessados em montar um negócio próprio
. Seja para escapar das agruras do desemprego, seja para livrar-se dos perversos efeitos
da crescente precarização do mercado de trabalho no país. A pesquisa Novo Nascimento,
realizada pelo Instituto Superior de Estudos da religião (ISER) em meados da década de
1990 na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, comprova seu insucesso na
conquista de fiéis nas classes média e alta. Ela revela que 63% dos adeptos da Universal
recebiam menos de dois salários mínimos, ao passo que só 9% ganhavam acima de cinco
salários mínimos; do total 50% tinha menos de quatro anos de escolaridade. Distribuindo as
igrejas evangélicas num gradiente, a pesquisa posiciona a Universal no extremo em que se
concentram os estratos mais pobres e menos escolarizados da população. Além das baixas
renda e escolaridade dos seguidores da Universal, o ISER mostra que 60% deles eram
negros 24% e pardos 36% reiterando os dados do Censo demográfico de 1991. Com base
neste Censo, observa-se, comparando-a às maiores igrejas pentecostais do País, que ela
possui a menos proporção de brancos 40,5%, a maior de pardos 47,6% e o dobro da taxa
de negros 11,2% da média pentecostal. Isso não decorre apenas do fato de ela encerrar
alta concentração de fiéis nos estados do Rio de Janeiro e Bahia, ambos com elevada
proporção de negros e o último com altíssima taxa de pardos. Com efeito, a Universal
recruta negros e pardos numa proporção superior à media existente no conjunto da
população. Como negros e pardos constam entre as camadas mais pobres e menos
escolarizadas, em razão do fardo de sua herança escravista e da discriminação racial de
que continuam a padecer em todos os quadrantes da sociedade brasileira, esse constitui
outro indicados de que essa denominação cresce ainda mais que as outras igrejas
pentecostais, majoritariamente, nos estratos desprevilegiados. (ORO, CORTEN & DOZON,
2003, p.60).

2.3.2 A divulgação

A Igreja Universal conta com um sofisticado meio de divulgar aquilo que possui, com
o intuito de atrair o maior contingente possível. Assim como um tele-atendimento de
20

uma grande loja de diversos produtos, na IURD encontram-se diversos “produtos”,


disponíveis nos seus vários templos.
O uso do markenting é muito explorado para divulgar a imagem da Igreja da
melhor maneira, deixando assim o seu “cliente” muito satisfeito. Desta forma a
probabilidade de uma pessoa voltar é grande, tendo este ido à Igreja apenas por
motivações variadas.
ORO faz um destaque deste ponto ao dizer que

A efetivação de tal habilidade religiosa e mercadológica resultou igualmente na opção


denominacional pelo emprego da fórmula evangelística que consiste em unir o que há de
mais moderno nas áreas de propaganda e comunicação, uso de técnicas de marketing e de
rádio, tevê, música, jornais, revistas, literatura e internet, a crenças e práticas religiosas pré-
modernas ou em tensão com saberes e valores da modernidade, tais como os ritos
exorcistas, as curas divinas, as promessas de milagre e de prosperidade material. Em
suma: na busca de eficácia proselitista, a Universal optou por dilatar e sistematizar a oferta
de magia e por investir maciçamente no evangelismo eletrônico. (ORO, CORTEN &
DOZON, 2003, p.58).

Ao que se percebe a Igreja Universal tem muito preparo e habilidade com


estas novas técnicas de atração de pessoas. O que a torna muito popular e atrativa.
Dentro da Igreja tudo tem um objetivo. Nada está por acaso, inclusive os pastores
que usam roupas brancas.
O bispo Edir Macedo e a liderança da Igreja Universal do Reino de Deus
parecem gerenciar da mesma maneira como se conduz uma empresa de outro
ramo. Técnicas diversas são utilizadas, como por exemplo, o sal grosso que pode
tirar o “encosto”. Com isto, ela se assemelha em muito com outras religiões atraindo
assim o público que as freqüentam. Com esta prática a Igreja torna-se um ambiente
livre e de fácil acesso a qualquer pessoa, indistintamente.

Segundo ANTONIAZZI

A expansão da Igreja Universal do Reino de Deus veio reforçar ainda mais a interpretação
que enfatiza a continuidade entre o pentecostalismo e religiosidade popular. Pois, para tirar
proveito evangelístico da mentalidade e do simbolismo religiosos brasileiros, a liderança
desta igreja rearticula sincreticamente crenças, ritos, e práticas das religiões concorrentes.
Basta ver que a Igreja Universal do Reino de Deus realiza a “Sessão espiritual do
descarrego”, fechamento de corpo”, “corrente da mesa branca”, retira “encostos”, desfaz
“mau-olhado”, asperge nos fiéis galhos de arruda molhados em bacias com água benta e
sal grosso, substitui fitas do Senhor do Bonfim por fitas com dizeres bíblicos, evangeliza em
cemitérios durante o dia de finados, oferece balas e doces aos adeptos no dia de Cosme
Damião. Importante frisar, que no caso da Igreja Universal do Reino de Deus, a adoção
21

desses expedientes não é irrefletida nem configura sincretismo involuntário. Pelo contrário.
Constitui estratégia evangelística deliberada, bem pensada e que tem sido mantida,
intensificada e até diversificada em razão de sua elevada eficácia”. O caráter empresarial e
as técnicas de marketing estão contribuindo para a expansão dos “neopentecostais”. Em
geral, parece valer o princípio: “as igrejas que mais investem recursos materiais e humanos
na implantação de novas congregações tendem a crescer mais do que as que priorizam
empreendimentos sem fins proselitistas imediatos, como a construção de escolas e de
faculdades e seminários teológicos, como fazem as igrejas do protestantismo histórico.
Quanto maiores os incentivos para que pastores e lideranças locais, mesmo leigas, criem
pontos de pregação e novas congregações, mais ágil, acelerado e acentuado será o
crescimento denominacional”. (ANTONIAZZI, 2004, p. 41-42).

Tudo isto contrinui para que a pessoa sinta-se bastante à vontade naquele
ambiente novo e desconhecido, porém de uma atração sem precedentes. Todos os
atrativos fazem parte do esquema para que se consiga mais seguidores para a
Igreja, tornando-os bons “clientes”. Satisfazendo os mais variados gostos e
necessidades pelos quais os freqüentadores possam ter. Sem dúvida nenhuma o
apelo ao marketing é muito forte, com resultados altamente satisfatórios e também
lucrativos.
E muito deste sucesso se deve a ao canal de televisão que a IURD possui,
onde além dos programas diários para o público em geral, são transmitidos em
diversos horários, cultos que a Igreja promove. E diga-se de passagem que não são
poucos. Sendo alguns deles durante a madrugada.
Segundo MARTHE (2007) “em agosto, a emissora tornou-se a segunda rede
brasileira em ibope”. Isto demonstra o quanto o líder da Igreja está investindo em
suas programações. Outro fato que MARTHE comenta é sobre o lançamento do
“Record News, o primeiro canal inteiramente noticioso da TV aberta brasileira”16.
Com tudo isto, é possível observar porque a Igreja Universal do Reino de Deus tem
crescido tão assustadoramente e de maneira avassaladora.
Os números e os fatos comprovam isto, causando desta forma um grande
temor para a Igreja Católica Apostólica Romana que vem ao longo destas décadas
de surgimento da IURD, perdendo terreno no campo religioso.
A bem da verdade, deve-se levar em consideração o fato de que outras
igrejas também arrebanharam fiéis da Igreja Católica, porém devido a tão pouco
tempo de existência, a IURD é talvez a que traga muito mais preocupação para os
líderes do clero romano, em especial o brasileiro.
22

3 O CONTRA ATAQUE DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA


ROMANA

3.1 Pensamento Católico

A Igreja Católica pareceu perceber que precisa fazer algo para impedir a perda de
mais fiéis para as Igrejas pentecostais e neopentecostais, já que segundo
MORBIDELLI (2008) “clérigos e leigos, católicos batizados estão abandonando as
fileiras a Igreja Romana para aderir às denominações evangélicas”. Não é de hoje
que a Igreja Católica Apostólica Romana tem problemas com o protestantismo,
vindo este a causar danos para a primeira. O fato pode ser observado na história da
reforma protestante17 e da contra-reforma18 no século XVI. Com isto pode-se
observar as reações que hoje se vê em relação a todas as igrejas evangélicas,
especialmente sobre aquelas consideradas seitas, e que são um enorme problema
na atualidade para a Igreja Católica Apostólica Romana.
Veja o que ORO diz acerca de algo muito pertinente

Embora em seus documentos a igreja católica reconheça formalmente a existência de um


pluralismo religioso e a necessidade da prática ecumênica e da abertura ao diálogo com
outras religiões, cristãs e não cristãs, seguindo as orientações do Vaticano II, parece que
alguns dos seus representantes da hierarquia têm dificuldade em perceber o pentecostalismo
– especialmente o autônomo ou neopentecostal, ou pentecostalismo de segunda e terceira
ondas – como um movimento religioso positivo que se expande por seus próprios méritos e
que possui direito à existência. Movimento fundamentalista Religioso Autônomo e
especialmente Seita, são termos recorrentes nos documentos e nos pronunciamentos dos
membros do clero e do episcopado quando se referem àqueles grupos religiosos. Aliás, o
próprio João Paulo II rotula-os de “seitas perigosas para os fiéis católicos [...] “O êxito das
chamadas seitas é visto como um grave problema escreveu Dom José Maria Pires em
Estudos da CNBB, N 68:105. “As seitas disse Dom Luciano Mendes de Almeida, ex
presidente da CNBB, são um fenômeno da crise”. Para o atual presidente da CNBB, eleito em
maio de 1995, Dom Lucas Moreira Neves, “as seitas são mais movimentos do que igrejas e
praticam o aliciamento por todos os meios” A Igreja sofre hoje o “protestantismo fanático e
interesseiro de algumas seitas”, escreveu Padre Mario Miranda, em Estudos da CNBB, N

16
A inauguração do Record News aconteceu no dia 28 de setembro de 2007, tendo como convidados
várias personalidades, entre as quais se destacaram o presidente da república, Luiz Inácio Lula da
Silva e o governador de São Paulo, José Serra.
17
Existem algumas interpretações de historiadores acerca da Reforma protestante, porém o que
chama a atenção é a interpretação dos historiadores católicos que interpretam a Reforma como uma
heresia inspirada por Martinho Lutero por causa de várias razões, entre as quais o desejo de se
casar. O protestantismo é visto como um cisma herético que destruiu a unidade teológica e
eclesiástica da Igreja medieval. A partir desta perspectiva romanista, Lutero foi, sem dúvida nenhuma,
um herege que se tornou cismático. Entretanto, esquecem-se estes historiadores que a Igreja
medieval tinha se afastado do Idea do Novo Testamento.
18
Nome dado ao reavivamento católico romano do século XVI, enfatizando o fato de que a reação ao
desafio protestante era o tema dominante do catolicismo daqueles tempos.
23

62:64. Numa de suas primeiras declarações como novo presidente da CNBB, Dom Lucas
afirmou que lhe inquieta a expansão das seitas fundamentalistas, tipo Igreja Universal, que
considera a mais nociva pois”utiliza a exploração da mensagem religiosa para obter
benefícios financeiros”. Aliás, cinco dias após o incidente do chute na imagem de Nossa
Senhora Aparecida, em 12 de outubro de 1995, Dom Lucas exortou os católicos a não se
calarem e afirmou que “A Igreja Universal nasceu do ódio, da mesquinhez, do despeito e da
pequenez”. Ainda, a propósito das seitas (pentecostais), o mesmo prelado afirmou que elas
irão constituir o principal adversário da CNBB para os próximos quatro anos. E disse mais:
que a CNBB até pensa em se unir aos protestantes históricos numa verdadeira “guerra santa”
contra as seitas fundamentalistas. Estas seriam a CNBB admitir e aceitar oficialmente o
sincretismo religioso com as religiões afro-brasileiras para manter os fiéis, de alguma forma,
vinculados ao catolicismo. Esta afirmação parece sugerir uma maior inclinação ecumênica
para com as religiões afro-brasileiras do que para com o neopentecostalismo, apesar do
carismatismo católico. Os discursos explicativos mais recorrentes no meio eclesiástico
brasileiro sobre a “expansão das seitas” apontam para causa sociais, culturais e religiosas,
entre elas as seguintes: a) interesses de governos estrangeiros, notadamente norte-
americanos (“teoria da conspiração”, “obra da CIA”); b) o sistema social excludente que
vigora no país; c) o pluralismo cultural dos templos modernos; d) o impacto da modernidade
sobre o indivíduo; e) o processo migratório e a acelerada urbanização; f) o proselitismo das
seitas. (ORO,1996, p.93).

Percebe-se que a Igreja Católica se preocupa com a freqüente perda de fiéis


para as Igrejas Neopentecostais e principalmente para a Igreja Universal do Reino
19
de Deus. Também se notou que para a Igreja Católica, estas “seitas” são piores
para os seus adeptos do que as religiões afro-brasileiras.
A Igreja Católica não recomenda em nenhuma hipótese aceitar que seus fiéis
participem da Igreja Universal do Reino de Deus ou até mesmo para fazer alguma
campanha de oração. Mas ela aceita que a seus fiéis participem com freqüência ou
não das religiões afro-brasileiras, pois mesmo freqüentando estas religiões, elas
nunca vão parar de declararem-se católicos ou de freqüentar a Igreja Católica. Já se
a Igreja Católica aceitar isto em relação à Igreja Universal do Reino de Deus, o que
é pregado contraria totalmente o catolicismo o que faz a pessoa procurar uma
escolha. Mesmo sendo duas denominações cristãs, a Igreja Católica não aceita que
seus membros participem e recomendam a não participar, o que para eles é uma
seita.

3.2 Comunicação Católica

A Igreja Católica juntamente com a CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do


Brasil) sempre esteve presente na imprensa brasileira e também rádio e redes de
televisão. A Igreja Universal do Reino de Deus usa rádios e também muito as redes
24

de televisão para atender seus fiéis. Percebe-se que ao entrar nesta era da
telecomunicação a Igreja Universal do Reino de Deus e outros evangélicos,
modernizaram a forma de evangelizar e também como atender aos seus fiéis o que
na prática com êxito. A Igreja Católica despertou-se para isto e investem
maciçamente nisto.

“Foram os carismáticos os que, por qualquer critério que se possa adotar para medir
seu empreendimento, lançaram o mais ambicioso projeto de telecomunicações da
história da Igreja. Seu principal objetivo não é apenas o de promover os pontos de
vista do próprio movimento, e talvez garantir para si mesmos, como fizeram, séculos
atrás, Dominicanos e Jesuítas, um lugar central na configuração do perfil do
catolicismo mundial, mas consiste sobretudo em ajudar a devolver tanto ao Papado,
quanto ao seu magisterium, a proeminência dentro e fora da Igreja.” (LACERDA,
2006)

A Igreja Católica possui vários movimentos que estão ligados a Igreja. A


UCIP (União Católica Internacional de Imprensa) foi presidida por um brasileiro O
jornalista Ismar de Oliveira Soares e questionado em uma entrevista ele deu a
seguinte declaração:

Como a UCIP pretende integrar outras associações ou outras entidades não católicas. Você
disse que há uma abertura para isso, agora, mas de que forma você pretende agregar tais
entidades, pois, no Brasil temos hoje um movimento grande fora da igreja católica e uma
imprensa razoável. É intenção que isso aconteça também no Brasil? O caminho é difícil, pois
o que se tem notado nos últimos anos é o crescimento da opção por uma comunicação mais
intimista no âmbito da Igreja Católica. E isso se deve à necessidade que alguns setores da
Igreja sentem de firmar uma certa identidade “católica” frente tanto a um muito pluralista e
secularizado quanto à expansão das denominações pentecostais evangélicas, e isso tem
criado problemas, porque outras instituições também estão no mesmo processo de
reafirmação de suas identidade, o que muitas vezes leva ao confronto, aprofundando o
desconhecimento mútuo. E, com isso, qualquer esforço de integração fica prejudicado.
Porque, na verdade, o conceito de marketing que está sendo adotado e incorporado pelas
várias igrejas tem como base um certo sentido de competição entre as religiões. Existe, até,
uma frase colocada nos vidros dos carros e que diz: “Sou feliz por ser católico”. E, aí, o outro
lado vem e diz: “Sou feliz porque sou evangélico”, ou, ainda: “Sou feliz porque não sou nada”.
Essa “guerra de felicidades” revela a uma profunda intolerância e a um perigoso
fundamentalismo. Nesse sentido, minha política na UCIP deverá privilegiar os órgãos da
imprensa mais abertos ao ecumenismo e às questões que interessam a toda a sociedade.
Com relação à grande imprensa, a UCIP manterá sua política de respeito, ampliando, por
outro lado, o reconhecimento ao esforço que tais órgãos fazem para preservar a liberdade de
expressão no mundo e para defender os interesses dos menos favorecidos. Isso será
possível, por exemplo, através dos prêmios que a entidade oferece por ocasião de seus
congressos mundiais, ou com a ampliação do relacionamento com a grande imprensa e os
jornalistas interessados em dialogar com a entidade. É o que pretendemos promover, por
exemplo, em São Leopoldo, RS, em abril próximo, por ocasião da reunião anual do Conselho
da UCIP, a ser realizada no campus da UNSINOS. Nesta ocasião estaremos levando aos
representantes da entidade provenientes dos cinco continentes os resultados da reflexão

19
Em visita ao Brasil o papa Bento XVI classificou as igrejas pentecostais de seitas.
25

brasileira sobre o fenômeno da globalização, com a presença por exemplo de jornalistas da


imprensa brasileira que cobriram o Fórum Social Mundial. (PCLA, 2002)

Percebe-se que a grande dificuldade da Igreja Católica é de unir estes


grupos em prol do objetivo de unindo-se manterão uma identidade católica. Os
movimentos dentro da Igreja Católica estão cada vez mais buscando sua identidade
e tentando manter se vinculado a Igreja, porém com sua autonomia. A Igreja
Católica junto com estes movimentos possui hoje várias Rádios espalhadas pelo
país e também algumas redes de televisão como a Rede Vida, Rede Canção Nova
e a Século XXI.
A Igreja Católica e os movimentos Católicos parecem querer copiar o
marketing que as Igrejas Neopentecostais e especialmente a Igreja Universal do
Reino de Deus tem. Porém parece encontrar-se com críticas dentro da própria
Igreja de grupos que são contrários a esta imitação dos neopentecostais.
A Comunicação através da televisão e de Rádio atrai bastante o público, mas
parece afastar o perfil do verdadeiro líder religioso no sentido de atender as
pessoas. Torna-se mais cômodo apenas falar sem ter que ouvir uma replica da
situação em que realmente a pessoa se encontra.
KIVITZ dá sua opinião acerca do assunto dizendo que

Sim é mais fácil ministrar por atacado, em auditórios superlotados, gerando a falsa
impressão de êxito e eficácia. É mais fácil administrar coisas, programas, projetos,
atividades, agendas, orçamentos. É mais fácil falar ao telefone com o ouvinte do outro lado
do país e orar de uma vez só com óleo sobre as cartas de remetentes anônimos. Difícil
mesmo é colocar o pé na lama, ir ao encontro das pessoas, uma de cada vez, para ouvir
suas histórias singulares, discernir seus mundos interiores trancados em chaves de defesa,
trilhar o caminho desconhecido em busca de resposta que não estão prontas nos manuais
de aconselhamento. (KIVITZ, 2006 p.84)

A Igreja Católica parece não ter uma posição firme em relação às seitas, no
mesmo tempo que ela critica duramente os Neopentecostais e a Igreja Universal do
Reino de Deus, parece que ela imita os líderes da Universal.
A comunicação da Igreja Católica nos últimos anos parece ter dado um salto
na vida dos seus fiéis. Não é difícil encontrarmos hoje um padre com um copo com
água para orar pelas pessoas pela televisão. O que se percebe é que estes
movimentos católicos estão cada vez mais buscando o seu espaço na mídia e
conquistando católicos para os seus movimentos. Buscando a sua identidade, estes
26

movimentos têm crescido, mesmo que pouco, os grupos parecem terem conseguido
animar os católicos em relação a sua denominação, com suas práticas mais
carismáticas e também com músicas que lembram muito os evangélicos.
Porém a Igreja Católica não tem o mesmo nível de cuidado de suas ovelhas
que as Igrejas Evangélicas têm e principalmente aos de Igrejas Pentecostais e
Neopentecostais e em especial os da Igreja Universal do Reino de Deus possui; a
qualquer hora uma pessoa que esta passando por dificuldades e que esta
procurando apoio pode ser atendida por um obreiro ou por um pastor ou até mesmo
pelo Bispo da Igreja, e não é o que acontece na Igreja Católica, pois existe um
número pouquíssimo de padres para muitos fiéis, principalmente nas regiões
metropolitanas o que impossibilita de dar uma atenção e um cuidado maior aos fiéis.
Este quadro parece se agravar cada vez mais, pois o número de habitantes cresce
a cada dia e o número de seminaristas católicos não acompanha este crescimento.

3.3 Renovação Carismática

A Renovação Carismática Católica é o movimento que mais tem alcançado


destaque por sua organização e seus métodos bem parecidos com as igrejas
neopentecostais.

Entre os vários movimentos e/ou pastorais realizados pela igreja católica no Brasil visando
alcançar, direta ou indiretamente, o duplo objetivo de reter os seus fiéis e de barrar o avanço
pentecostal, destaca-se a Renovação Carismática Católica, que se inscreve na linha da nova
Evangelização da Igreja, apregoada por João Paulo II. Padre Eduardo Dougherty, um dos
introdutores e grande animador da RCC no Brasil, disse em Porto Alegre, em outubro de
1994, que um dos objetivos da RCC é “conquistar pessoas não cristãs ou que estão
afastadas da Igreja. A RCC tem uma intenção missionária”. É difícil saber se os objetivos de
recuperar o terreno perdido pela igreja e de definir as “seitas” foram buscados desde o início
da instalação da RCC no Brasil, no final da década de 60 pelos padres jesuítas Eduardo
Dougherty e Haroldo Rahm. É possível que não o sejam nem nos dias atuais para muitos
dirigentes, animadores e participantes. Mesmo assim, a RCC tem agido naquela direção, seja
intencionalmente seja como um “efeito não procurado” da prática carismática, uma prática
que visa “renovar um certo tipo de religiosidade”. No seu conjunto, a RCC constitui hoje um
movimento nacional de leigos (não anti-clerical), cujo desenvolvimento nacional foi tranqüilo.
Enquanto alguns párocos e bispos assumiram posições favoráveis, outros impediram a sua
implantação em suas paróquias e dioceses. Até recentemente, a CNBB relutou em adotar
uma posição oficial sobre a RCC, mesmo porque não sabia exatamente qual era a posição do
Vaticano sobre esse movimento nascido nos Estados Unidos que se tornou internacional,
incentivado inclusive por renomados e teólogos da igreja. Ou seja, a CNBB sentia que estava
pisando em um terreno escorregadio. Foi somente após muita insistência de alguns bispos,
párocos e leigos, que a CNBB enviou um questionário a todas as dioceses do Brasil. Após a
análise das respostas redigiu um primeiro documento, reescrito mais duas vezes, até que
finalmente veio a público Estudos da CNBB N 53 com as orientações Pastorais sobre a
27

Renovação Carismática Católica, documento aprovado na 34ª Reunião ordinária do Conselho


Permanente da CNBB, reunido em Brasília, de 22 a 25 de novembro de 1994. A divulgação
desse documento aconteceu cerca de um ano após a RCC ter desencadeado uma “ofensiva
nacional” visando colocar a Renovação em marcha, na unidade, uma vez que as avaliações
feitas “mostravam a Renovação caminhando como uma máquina com engrenagens
separadas. Lançada em 1993, a ofensiva nacional adotou o lema: “com renovado ardor
missionário”; possui a meta de fundar nos próximos cinco anos ao menos um grupo de
oração em cada paróquia do Brasil; criou 12 secretarias e montou uma estrutura da
Renovação a nível nacional. (ORO, 1996, p.108-109)

A Renovação Carismática parece ser o motor da Igreja Católica, é um


movimento que possui críticas de conservadores, mas por outro lado consegue
conquistar fiéis e conseqüentemente aquietar os críticos. A RCC tem crescido nos
últimos anos e tem sido analisado de perto por parte da CNBB que parece estar sem
saída, por um lado este movimento para alguns comete muitas heresias e para
outros é a salvação da Igreja Católica no Brasil. Este dilema tem se arrastado ao
longo de muitos anos e o que se percebe é que a cada ano o movimento ganha
cada vez mais adeptos e assim consegue deixar que as críticas não abalem tanto
suas estruturas.
O movimento possui muita semelhança com as Igrejas pentecostais e
neopentecostais

As fronteiras que separam a RCC e pentecostalismo não são tão nítidas quanto aquela que
historicamente separava o catolicismo do protestantismo. De fato, a RCC repete o mesmo
princípio pentecostal da atualização dos dons particulares do Espírito Santo , inclusive a
glossolalia e a cura. Por isso, seus membros reconhecem que há muitos pontos de
aproximação com o pentecostalismo. Ou, como disse o coordenador estadual no RGS da
RCC, Sergio Dieder, “Há muita afinidade entre a RCC e o pentecostalismo; mas, na essência,
são diferentes”. Alguns pontos de convergência dos dois movimentos: a experiência
subjetiva da conversão; auto-atribuição de uma missão; identidade religiosa adquirida e não
herdada; ênfase na escolha religiosa individual atribuição de poder ao leigo relegando para o
segundo plano a mediação eclesiástica; prática religiosa emocional; compromisso e
comportamento ascético; uso de termos comuns como orar e louvar, e construção de uma
“demonização” do espiritismo e das religiões afro-brasileiras. O discurso sobre a
denomização e o moralismo individual aumenta nos grupos de oração das camadas menos
favorecidas aproximando ainda mais a RCC dos pentecostais. As divergências situam-se,
inicialmente, na ênfase posta na Teologia d Prosperidade nas agremiações pentecostais,
especialmente as neopentecostais e que está ausente na RCC e, por parte desta última,
obediência ao papa e na devoção à Virgem Maria. Esta devoção constitui “o divisor de águas,
a fronteira, e se esta não for reforçada não há por que ficar no universo católico. De fato, de
uma forma geral, os rituais carismáticos católicos são semelhantes aos pentecostais
evangélicos. Alem disso, como estes últimos, a RCC também dá uma atenção especial ao
uso dos meios de comunicação de massa. Há inclusive um projeto (Lúmen) dedicado
exclusivamente para dinamizar esta área. Aliás, os doze projetos da RCC constituem, até
certo ponto, um programa de pentecostalização da igreja católica. A devoção à Virgem Maria
é o elemento que faz doutrinariamente a grande diferença entre os carismáticos e os
pentecostais. Os coordenadores da RCC estão sempre muito vigilantes sobre este ponto.
Para concluir, pode-se dizer que a igreja católica do Brasil não sustenta uma posição unívoca
28

e não realiza uma ação homogênea frente à evasão de fiéis e à expansão do que domina
seitas. Enquanto para muitos padres e bispos este fato não constitui um problema, outros,
sobretudo da ala moderada, assim o consideram há muito tempo. A CNBB, por sua vez,
enquanto instituição maior do catolicismo no Brasil, a partir de 1991 passou a encarar como
preocupante e como um desafio a dupla realidade mencionada, revelando assim, ao menos
no que tange às igrejas neopentecostais, seus limites ecumênicos, o que precisa ser
relevado, segundo Dom José Maria Pires, porque “ a uma Igreja que sempre se considerou a
única verdadeira. Fora da qual não há salvação, não é fácil a prática do ecumenismo” Isto
mostra, que a Igreja católica “não aprendeu ainda a conviver no Brasil com uma pluralidade
acerta”. Esta afirmação se aplica também para a Igreja em geral, ao menos agora sob o
pontificado de João Paulo II. Mas, precisamos reconhecer que no Brasil a resposta católica
ao repto pentecostal não se situa no registro da condenação pura e simples a partir de um
poder soberano e sim da reconsideração da própria pastoral. Hoje, o caminho é mais o da
compreensão e menos o da condenação fácil. Entre as atitudes tomadas pela igreja católica
brasileira por iniciativa dos seus membros mas também pela própria CNBB, para enfrentar o
desafio pentecostal, figuram o retorno a devoção, a ênfase das práticas pastorais, a
ocupação de maior espaço na mídia eletrônica e o incentivo ao desenvolvimento da RCC.
Talvez as primeiras medidas sejam mais endereçadas às camadas ´populares enquanto que
a última ás camadas médias. Relativamente à RCC, ela parece ser dinamizada
especialmente pelos leigos e supervisionada e apoiada pelo clero e episcopado de tendência
moderada. Posto que as práticas religiosas e ritualísticas da RCC valorizam a emoção, as
bênçãos, as curas, os dons do Espírito Santo, trata-se de um movimento que adora, até certo
ponto, as mesmas dinâmicas mesmas “armas” do pentecostalismo para competir fiéis. Por
isso mesmo, a RCC é um movimento religioso que possui duas dimensões: uma voltada para
fora do catolicismo, afrontando os setores mais progressistas. Seja como for, e mesmo em
disputa, RCC e o Pentecostalismo ampliam e reforçam as zonas místicas do campo cristão
constituindo-se em respostas alternativas ao processo de secularização das igrejas
C9cristãs) em -seu compromisso com a modernidade. (ORO, 1996, p.119).

Percebe-se que a Renovação Carismática Católica tem buscado a verdadeira


conversão do fiel católico. Ela apresenta para ele praticamente as mesmas doutrinas
e liturgia de um culto neopentecostal.
A RCC tem procurado buscar ao divino de uma forma diferente, o que dá a
entender de uma forma mais da cultura brasileira assim como os neopentecostais e
pentecostais fizeram, mas também este propósito está ligado à perda de fiéis e para
segurarem esta perda, começaram a abrir os seus olhos e deixar com que as
pessoas se sentissem melhor e que não precisassem buscar nas Igrejas
neopentecostais aquilo que falta a elas.
A RCC tem desempenhado um fato significativo para a Igreja Católica, que é
de manter os fiéis na Igreja Católica, mas também ligado a este movimento. Embora
com algumas discórdias a RCC parece ter sido a salvação para os interesses
católicos em todo o mundo. No país mais católico do mundo a perda de fiéis parece
29

amedrontar a todos os católicos e também ao Vaticano que junto com a CNBB estão
sempre monitorando a Igreja Católica no Brasil20.
O Movimento da Renovação Carismático Católico apesar de suas
semelhanças tem conseguido com destaque os seus interesses. A Renovação
Carismática Católica tem suprido a necessidade dos católicos, pode se notar em
cultos realizados pelo movimento que o falar em línguas e outros dons estão
acontecendo com freqüência.
Apesar da CNBB ter emitido o documento alertando sobre os cuidados,
percebe-se que a Renovação Carismática Católica não está atendendo a este
pedido, pois as pessoas gostam e tem atraído um número grande de
freqüentadores.
Assim sendo parece que a quantidade de pessoas tem um grande significado
para o Vaticano e para muitos dos padres católicos adeptos da Renovação
Carismática Católica, pois de fato este movimento tem muitas doutrinas idênticas as
das Igrejas pentecostais e neopentecostais, mas percebe-se que neste caso é
irrelevante.

Esta monitoração pelo Vaticano se deve ao fato do Brasil ser considerado o pais mais católico do
20

mundo, com um número muito elevado de fiéis.


30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pode ser observada na pesquisa realizada, a questão do declínio da Igreja


Católica Apostólica Romana é algo um tanto quanto complexo, mas que dá margem
para que o assunto seja ainda mais explorado. Tendo em vista a sua magnitude,
uma potência gigantesca e que teve e ainda tem muita influência em todo mundo,
fica claro que perder adeptos não tem sido algo fácil de aceitar-se. A sua própria
auto-intitulação de “única igreja” faz com que haja um desconforto em relação a toda
esta situação. Algo constrangedor para uma instituição que já existe há séculos e
que certamente ainda muito se falará sobre a mesma, porque a sua atuação nas
esferas mundiais possui grande relevância, além de se perceber que existem
inúmeras pessoas atentas ao que esta instituição proclama.
Em face ao que foi pesquisado, dentro da proposta inicial, pode-se chegar à
algumas conclusões, considerações plausíveis para uma boa apreciação dos
epsódios em questão.
Uma das conclusões a que se chega é a falta de renovação dos seus
padrões, da sua maneira de condução. Esta falta de renovação fez com que a Igreja
Católica Apostólica Romana continuasse com o seu jeito peculiar de ser desde os
tempos iniciais de sua história. A impressão que ela passa é a de um estado de
estagnação, parada no tempo. Com isto esta Igreja não conseguiu administrar a sua
força, gerenciar a enorme estrutura física e pessoal e também a sua grande
influência no cenário mundial. Praticamente ficou estagnada em sua forma de
pensar e talvez isto se deva ao fato de acreditar que nunca surgiria outra igreja ou
instituição que pudesse ser uma concorrente que fizesse frente ao seu poderio.
Desejo de mudanças certamente houveram por parte de muitos que já
observavam um declínio dentro da Igreja e que a renovação se fazia necessária.
Pode-se imaginar que se já havia um certo descontentamento por alguns dentro do
clero, este descontentamento também já poderia estar no meio povo. A Reforma
Protestante comprova um pouco deste descontentamento. O desejo por uma
organização melhor que pudesse ser na prática tudo o que ela ensivava, já
dominava o anseio de muitos que estvam na linha de frente da igreja. No entanto, ao
invés de uma mudança, houve perseguição.
31

Verificando-se através da pesquisa todos estes fatos, todos estes episódios


na história da Igreja Católica Apostólica Romana, os novos movimentos religiosos
surgidos, principalmente no Brasil, foram uma resposta pela falta de renovação e
inovação que acontecia dentro da Igreja Católica Apostólica Romana. O algo novo, o
diferente não havia. Tudo continuava da mesma forma como há séculos. O fato de
o mundo ter mudanças constantes, talvez tenha trazido este mesmo sentimento para
muitos nesta igreja, mas que infelizmente não foram ouvidos.
Com isto as chamadas Igrejas pentecostais e neopentecostais surgem
trazendo uma nova maneira de ser e agir. Esta nova maneira fez com que muitos,
até então católicos, fossem atraídos por estas diferenças inovadoras que estavam
sendo mostradas. Tudo aquilo que a Igreja Católica Apostólica Romana não tinha
respondido, não havia conseguido satisfazer as novas igrejas o fizeram, trazendo
assim um prejuízo enorme para a Igreja Católica. Como foi visto pelo Censo 2000,
as Igrejas pentecostais e neopentecostais cresceram assustadoramente, cresceram
de uma maneira avassaladora.
Diante deste fato, muitas investidas aconteceram por parte da Igreja Católica,
com o intuito de conter esta debandada de seus fiéis. O que se percebe é que tais
investimentos não surtiram muitos efeitos, pois além das Igrejas referidas no estudo,
têm que se mencionar também muitas outras Igrejas evangélicas que também tem
acolhido muitos seguidores da Igreja Católica. Possivelmente a questão mais
pertinente que pode ser observado é o fato de que em pouco tempo de existência no
Brasil, estas novas igrejas tenham alcançado números exorbitantes de adeptos
advindos da Igreja Católica.
Conclui-se que tais igrejas souberam aproveitar o declínio que já vinha
acontecendo na Igreja Católica Apostólica Romana, concedendo uma resposta
favorável às suas necessidades que, diga-se de passagem, não eram poucas. Estas
Igrejas continuam investindo para aumentar ainda mais o número de seus fiéis, com
todo tipo de recursos disponíveis e existentes.
Este estudo realizado mostrou que mudanças são necessárias, diante de um
mundo que vive novas realidades de tempos em tempos. Num mundo onde pessoas
estão constantemente vivenciando novos conceitos e novas maneiras de enxergar
as situações, a Igreja não se atualizou frente a estas novas transformações vigentes.
32

A Igreja Católica Apostólica Romana não soube observar isto e mais ainda,
quando observada tal questão não se empenhou por efetivar este atendimento desta
necessidade. Como conseqüência, seu declínio vem ocorrendo ao longo dos anos,
em especial no Brasil, o que tem levado o Vaticano a se preocupar muito com a
questão.
Esta é uma pesquisa de estrema importância sobre uma reflexão de que
mudanças são necessárias, pertinentes, visando manter a estrutura fundamentada
e mesmo para instituições relativamente poderosas, esta máxima é pertinente.
33

BIBLIOGRAFIA E OBRAS CONSULTADAS

ANTONIAZZI, A. Por que o panorama religioso no Brasil mudou tanto? São Paulo:
Paullus, 2006.

AZEVEDO, M. C. Viver a fé cristã nas diferentes culturas. São Paulo: Loyola, 2001.
70p

BERARDINO, A. D. Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs. Petrópolis:


Vozes, 2002.

BONFATTI, P. A expressão popular do sagrado: uma análise psico-antropológica da


Igreja Universal do Reino de Deus. São Paulo: Paulus, 2002.

CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São
Paulo: Vida, 1995.

CHAPA, J. Disponível em :http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16352. Acesso em


12/09/08.

CNBB. A graça Católica diante do pluralismo religioso no Brasil (III). São Paulo:
Paulus,1994.

CNBB. Diretrizes gerais da ação pastoral da igreja no Brasil. São Paulo: Paulinas,
1991.

CNBB. Orientações pastorais sobre a renovação carismática Católica. São Paulo:


Paulinas,1992.

ELWELL, W. A. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. V.1. São Paulo:


Vida Nova, 1988.

KUNG, H. Religiões no mundo: em busca dos pontos comuns. Campinas: Verus


Editora, 2004.

KIVITZ, E. R. Outra espiritualidade: fé, graça e resistência. São Paulo: Mundo


Cristão, 2006.

LACERDA, L. Disponível em:


http://www.espacoacademico.com.br/058esp_lacerda.htm. Acesso em 30/09/08.

LANE, T. Pensamento cristão: da reforma a modernidade. V. 2. São Paulo: Abba


Press,1999.

LATOURETTE, K. S. Uma história do cristianismo. V. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.


34

LOPES, R. J. Disponível em : http://história.abril/religião/império-


vaticano_435295.shtml. Acesso em 20/03/09.

LOSSKY, N. Dicionário do movimento ecumênico. Petrópolis: Vozes, 2005.

MCLAREN, B. Uma ortodoxia generosa: uma igreja em tempos de modernidade.


Brasília: Ed. Palavra, 2007.

MARIANO, R. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São


Paulo: Loyola, 1999.

MARTHE, M. Disponível em: http://veja.abril.com.br/101007/p_084.shtml. Acesso em


10/08/09.

MENDONÇA, A G. Um panorama do protestantismo brasileiro atual. Rio de Janeiro:


ISER,1989.

NAVARRO, J. B. Dicionário de ecumenismo. Aparecida: Editora santuário, 2002.

ORO, A. P.; CORTEN, A.; DOZON, JP. Os novos conquistadores da fé. São Paulo:
Paulinas, 2003.

ORO, A. P. Avanço pentecostal e reação católica. Petrópolis: Vozes, 1996.

PAIVA, A. R. Católico, protestante, cidadão: uma comparação entre Brasil e Estados


Unidos. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.

PIERUCCI, A. F.; PRANDI, R. A realidade social das religiões no Brasil: religião,


sociedade e política. São Paulo: Hucitec, 1996.

SILVA, D. O. O comércio do sagrado: aspectos e implicações para a espiritualidade


da experiência religiosa. Londrina: Descoberta, 2004.

TEIXEIRA, F.; MENEZES, R. As religiões no Brasil: continuidades e rupturas.


Petrópolis, 2006.

WALDENFELS, H. Léxico das religiões. Petrópolis: Vozes, 1995.

Você também pode gostar