Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O diálogo sobre economia solidária tem avançado, principalmente com o surgimento de
diversos empreendimentos de economia solidária - EES que propõem um novo sistema de
organização econômica, trabalho, partilha e qualidade de vida. Um dos principais fatores para
o surgimento desses empreendimentos no Brasil é o posicionamento frente ao capitalismo,
frente a um olhar fragmentando de desenvolvimento e a um planejamento que não atende as
reais necessidades da população. O presente artigo tem por objetivo apresentar as
características dos empreendimentos de economia solidária existentes no Território Rural
Oeste Catarinense. Esse artigo é resultado de estudo desenvolvidos para o projeto
“Fortalecimento da Economia Solidária no Território Oeste de Santa Catarina” do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e executado pela Incubadora
Técnológica de Cooperativas Populares - ITCP da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó - UNOCHAPECÓ. Os resultados apontam que os EES atuam em sua maioria na
área rural, tendo como principal atividade economia a produção e comercialização de seus
produtos e entre as motivações para iniciar o empreendimento estão questões relacionadas ao
aumento ou complemento da renda familiar. Dos sócios e sócias 64% são agricultores
familiares e utilizam-se dos produtos oriundos da agricultura para a comercialização no
empreendimento. Os dados coletados são secundários retirados do atlas digital da economia
solidária que dispõe do mapeamento realizado pela Secretaria Nacional de Economia
Solidária - SENAES, finalizado em 2013. Os 90 empreendimentos de economia solidária,
vem demonstrando um crescimento e uma diversidade de atuação, sendo relevantes para o
território. Entende-se que a economia solidária possibilita o avanço em questões sociais e
econômicas no desenvolvimento regional. Além disso, demonstra a possibilidade de buscar
espaços de autogestão, trabalho justo, valorização humana, comércio junto, consumo
consciente, participação e solidariedade.
Palavras-chave: Economia Solidária, Território Rural, Desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
Particularmente, é importante destacar que, a partir do paradigma “de baixo para cima”, têm sido
concebidos e implementados programas bem-sucedidos de desenvolvimento rural e,
principalmente, industrial, que têm como objetivo principal a mobilização endógena do potencial
latente da capacidade empresarial a nível local, através da assistência técnica e de incentivos
financeiros e fiscais para a organização de pequenos e médios empreendimentos, compatíveis com
a realidade cultural e social de regiões [...] (HADDAD, 2015, p.267).
[...] foi criada, em 2004, a linha "Elaboração de Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável
(PTDRS)" e "Gestão Administrativa do Programa". Em 2006, foi instaurado o "Apoio à Gestão de
PTDRS", buscando qualificar o processo de planejamento dos territórios rurais apoiados pela política. Em
2007, instituiu-se a ação "Fomento aos Empreendimentos Associativos e Cooperativos da Agricultura
7
Familiar e Assentamentos da Reforma Agrária". Por fim, em 2008, foi criada uma linha que procura
fortalecer iniciativas territoriais de conservação e manejo sustentável da agrobiodiversidade
("Fortalecimento e Valorização de Iniciativas Territoriais de Manejo e Uso Sustentável da
Agrobiodiversidade") (LEITE; JUNIOR 2012, p. 02).
METODOLOGIA
O presente estudo possui abordagem qualitativa, uma vez que não se fez uso de técnicas
quantitativas para análise dos dados. Quanto aos fins, pode ser classificado como exploratório,
pois permite ao pesquisador intensificar sua experiência em torno da problemática
(TRIVIÑOS, 2009), e como descritivo, pois descreve características de determinado
fenômeno ou população, estabelecendo relação entre as variáveis (GIL, 2002).
Quanto aos meios a pesquisa pode ser classificada em bibliográfica e documental,
considerando a literatura existente sobre o tema e os documentos formalizados e que estão a
disposição para serem utilizados. Para Gil (2002) uma das principais características desse tipo
de pesquisa é o fato de permitir ao pesquisador uma cobertura ampla dos inúmeros fatos e
dados que não precisam ser pesquisados diretamente.
Área de Estudo
Os imigrantes se apossaram das terras e iniciaram sua produção, sem observar a cultura,
a população que ali estavam. Esse processo de forma desigual causou diversos impactos
sociais e ambientais deixando as comunidades homogêneas. Essa região ao longo dos anos
acumulou problemas como o êxodo rural, a concentração de terras nas mãos de poucos, os
impactos ambientais e até os dias de hoje muitos não foram solucionados (RENK, 2004).
De 1940 a 1960 o processo de colonização foi se consolidando e determinando as
características do Território, sendo que na década de 1970 o processo de agroindustrialização
foi implantado, destacando-se o setor das carnes que mantem até os dias atuais uma relação
horizontal com os agricultores. (SDT, 2010). A busca pela resistência a esse sistema que
defende os interesses privados é impulsionada pelos movimentos sociais dentre esses a
Economia Solidária, buscam alternativas ao modelo de modernização.
A identidade do Território Oeste Catarinense ligada a valorização dos saberes locais e
ao desenvolvimento endógeno ainda é um processo em construção quem vem sendo apoiado
via Politicas Públicas.
RESULTADOS E DICUSSÕES
Conforme tabela 1, a maior parte dos municípios Chapecó obtiveram em dez anos um
aumento da população. Destaca-se Chapecó, Cordilheira Alta e Nova Erechim com um
percentual acima de 20%. Em apenas 03 municípios a população diminuiu, desses o
município de Caxambu do Sul é que apresentam maior índice negativo. Visualiza-se com os
dados da evolução populacional desses municípios, uma região prospera e dinâmica uma vez
que ocorre crescimento significativo na maior parte.
Tabela 01 – Evolução Populacional e População Rural e Urbana
% que representa
Município População 2000 População 2010 Urbana Rural
rural
Águas de Chapecó 5.782 6.109 3.236 2.873 47%
Águas Frias 2.525 2.424 981 1.443 60%
Campo Erê 10.353 9370 6.252 3.118 33%
Caxambu do Sul 5.263 4.406 2.150 2.256 51%
Chapecó 146.967 183.561 168.159 15.402 8%
Cordilheira Alta 3.093 3.767 1.468 2.319 61%
Coronel Freitas 10.535 10.213 6.067 4.146 41%
Formosa do Sul 2.725 2.601 1.084 1.517 58%
Guatambu 4.702 4.675 1.749 2.926 63%
Irati 2.202 2.096 449 1.647 79%
Jardinópolis 1.994 1.766 799 967 55%
Nova Erechim 3.543 4.275 3.211 1.064 25%
10
O Território Oeste Catarinense possui uma população rural muito expressiva em quase
todos os vinte e cinco municípios. Conforme apresenta a tabela 01 em 14 municípios a
população rural representa mais de 50% do total da população. Em apenas 02 municípios,
sendo, Chapecó e Pinhalzinho,a % da população rural ficou abaixo de 20%, o que se justifica
por Chapecó ser uma cidade polo com diversas indústrias e comércio, favorecendo o
crescimento da população urbana. Da mesma forma Pinhalzinho possui um grande número de
empresas atuantes o que gera muitos empregos na área urbana.
Com o objetivo de caracterizar os municípios que fazem parte do Território Rural Oeste
Catarinense, utilizou-se de dados secundários, coletados pela SENAES, que após realizar o
mapeamento disponibilizou em um atlas digital do SIES. O primeiro mapeamento foi
divulgado em 2007 e o segundo finalizado em 2013 e divulgado em 2014 tendo como
objetivo atualizar a base de dados.
No primeiro mapeamento foram identificados 96 empreendimentos que se declararam
como sendo de Economia Solidária no território em estudo. No segundo mapeamento foram
declarados 90, ou seja, ocorreu uma redução de 6,25% no número existente. Em 10
municípios ocorreu redução e em 15 aumento. Com números expressivos destacam-se os
municípios de Chapecó e de Pinhalzinho. O primeiro apresentou uma redução de 10
empreendimentos enquanto que o segundo que em 2007 não possuía nenhum
empreendimento em 2013 apresentou 07, conforme pode ser visto na tabela 2.
11
Com relação a área de atuação dos empreendimentos mapeados, a figura 01 indica que
apenas 24% possuem área de atuação essencialmente urbana. Outros 50% atuam somente nas
áreas rurais e 26% desenvolvem ativivades tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas. Tais
dados reforçam o território como sendo rural e a ligação com a agricultura familiar e os EES.
De acordo com Motta,
Não é exagero propor que a economia solidária seja condição necessária para lidar com os diversos
problemas enfrentados por agricultores(as) familiares. A integração da agricultura familiar com a
economia solidária, mais que soluções de pequena escala, pode ser uma alternativa de
desenvolvimento mais saudável para o país, tanto em termos econômicos como sociais e culturais,
entre campo e cidade (2007, p. 84).
12
A Economia Solidária propicia, para a agricultura familiar, uma nova alternativa tendo
em vista sair da dependência de grandes cadeias produtivas que os fazem subordinados de
decisões e diretrizes as quais não podem opinar.
Em geral os grupos surgem como informais e após algum tempo, consolidam suas
organizações em associações e ou cooperativas. Diversos empreendimentos também
permanecem um período como associação e passam a ser cooperativa, atraídos principalmente
pelo acesso ao crédito.
As atuais formas jurídicas pelas quais os empreendimentos de economia solidária e as
empresas de autogestão se organizam juridicamente, estão previstas no Código Civil, Lei
10.406, de 10 de janeiro de 2002, e em leis especiais. As associações são reguladas pelos
artigos 53 a 61 da Lei 10.406, de 10.01.2002 do Código Civil Brasileiro, e pelos artigos 44 a
52 da mesma lei· As sociedades cooperativas são disciplinadas pelos artigos 1.093 a 1.096 da
lei 10.406 de 10.01.2002, Código Civil Brasileiro; e pela legislação especial, Lei 5.764/71
(IPEA, 2005).
Verificou-se, conforme figura 2 a seguinte forma de organização dos EES: em
associações 43%; em cooperativas 39%; em grupos informais 17%; e na Sociedade Mercantil
1%. A porcentagem de grupos informais é significativa o que nos leva a crer que são grupos
que estão iniciando suas atividades como economia solidária e até o momento não definiram
qual será a melhor opção de formalização.
13
Quanto a questão de gênero, nos municípios em questão, a maior parte dos sócios são
homens, apresentando média de 2.228, enquanto que as mulhres possuem média de 1.306
sócias. O município de Coronel Freitas não possui nenhuma mulher cadastrada e o de Campo
Erê, somente duas.
A maior parte dos EES teve algum tipo de assessoria para iniciar seu trabalho. Entende-
se que a escolha da forma de organização é um caminho também indicado pela instituição que
auxilia no inicio da estruturação do ESS. Quando da realização do mapeamento, ao serem
questionados se tiveram acesso a algum tipo de apoio, assessoria ou capacitação, os EES
citaram que tiveram acesso a dois ou mais apoios, assessorias ou capacitações. O quadro 1
identifica os tipos de apoio que os EES tiveram. Isso reflete que todos sentiram a necessidade
de apoio em alguma área para o fortalecimento do empreeendimento. “Essas assessorias são
conseguidas de modo geral por meio de programas de apoio e por parcerias firmadas com
entidades de origem e natureza institucional bem diversa” (IPEA, 2014, p. 79).
Com relação a categoria social dos sócios e sócias do EES. O questionário apresentava
como alternativa 10 opções:
A – Agricultores familiares; H – Trabalhadores autonomos/ Por conta
B – Artesões; Própria;
C – Artistas; I – Desempregados/ desocupados;
D – Assentados da reforma agrária; J – Não se aplica ou não há predominancia
E – Catadores de material reciclavel;
F – Garimpeiros e mineiros;
G – Tecnicos profissionais de nível
superior;
Nota-se na figura 3 que os empreendimentos existentes no território são em sua maioria,
64%, de agricultores familiares, seguido por 11% de artesões e 11% que se identificaram
como trabalhadores autonomos.
Essa realidade presente nos municípios do território rural Oeste Catariensense não
difere dos dados nacionais. De acordo com o Boletim Informativo dos dados do Sies, dos
2.895 respondentes 47% são agricultores familiares. “Uma constatação interessante que
emerge desses resultados é a de que a grande maioria dos integrantes entrevistados tem seu
trabalho diretamente associado aos recursos naturais, como os agricultores familiares,
assentados da reforma agrária,pescadores e marisqueiros” (SENAES, 2014, p. 04).
Com relação as motivações que levou as pessoas a trabalhar nos princípios da Economia
Solidária, o questionario apresentava 15 opções, abaixo listadas de A até O, sendo que os EES
15
No que tange ao investimento realizados nos ultimos 12 meses, 50% dos EES
responderam que realizaram e 50% que não realizaram. Conforme a figura 06 identifica-se
que 75% dos EES não buscaram, nos ultimos 12 meses acessar nenhuma linha de crédito ou
financiamento enquanto que 25% buscaram. Destes que buscaram 22% obtiveram e 3% não.
como os EES apresentam em sua maioria uma atuação rural, outra característica a
analisar é o acesso a computador e internet. Assim, percebeu-se que 51% dos EES possuem
acesso à internet e 61% possuem computador. Esse fator auxilia no processo de troca de
informações com a Economia Solidária, bem como para a organização de documentos e dados
pertencentes aos EES.
Esses empreendimentos ainda citam como principais um dos desafios com relação à
manutenção economica, encontrar formas de viabilizar economicamente, bem como gerar a
18
renda adequada para os sócios. Como desafio de participação, efetivar a autogestão, alcançar
conscientização e politização e manter a união do coletivo. Outro desafio apontado refere-se a
promoção e articulação com outros empreendimentos e com o movimento de economia
solidária.
Percebe-se que a realidade dos EES na região de abrangência deste estudo, possuem
peculiaridades que são próprias da sua região. Contudo, também tem características que
aparecem em outros empreendimentos do Brasil. No entanto, torna-se importante perceber e
compreender tais características para formulação de políticas públicas que auxiliem e
promovam o desenvolvimento territorial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve por objetivo apresentar o quantitativo bem como as características dos
empreendimentos de economia solidária existentes no Território Rural Oeste Catarinense.
A partir da analise de dados constatou-se que a categoria social mais presente nos
empreendimentos solidários são de agricultores familiares . Esse resultado mostra que está
região aproxima-se da realidade do estado de Santa Catarina, que por sua vez também
apresenta o maior percentual é de agricultores familiare inseridos em EES.
Em relação às questões de gênero, conclui-se que os empreendimentos são compostos,
em sua maior parte, por homens, o que sugere um estudo mais aprofundado, uma vez que
caracteristica os empreendimentos sendo bastante próximos da agricultura familiar, o número
de mulheres e homens deveria manter maior equilibrio.
Os EES possuem em sua maioria acesso a computador e internet o que facilita a
comunicação. No que se refere aos investimento realizados, identifica-se que 50% dos EES
realizaram investimentos nos últimos e 50% não investiram. Identifica-se que o investimento
que foi realizado é oriundo de recursos próprios uma vez que 75% informaram que não
buscaram esse nos ultimos 12 meses acessar nenhuma linha de crédito ou financiamento.
Em relação a motivação para que o EES iniciassem, percebe-se que a economia
solidária é visualizada como uma oportunidade de geração de renda, através da produção e da
comercialização dos produtos. Entende-se que a economia solidária possibilita o avanço em
questões sociais e no desenvolvimento regional. Além disso, demonstra a possibilidade de
buscar espaços de autogestão, trabalho justo,valorização humana, comércio junto, consumo
consciente, participação e solidariedade.
19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL FILHO, J. A endogeneização no desenvolvimento econômico regional e local.
Planejamento e Políticas Públicas. n. 23, p. 261-286, jun. 2001.
BENINI, Édi A.; FARIA, Maurício Sardá de; NOVAES, Henrique T.; DAGNINI, Renato.
Gestão pública e sociedade: fundamentos e políticas públicas de Economia Solidária. São
Paulo, outras expressões, 2012.
GIL, A. Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
20
LEITE, Sergio Pereira; JUNIOR, Valdemar João Wesz. Um estudo sobre o financiamento
da política de desenvolvimento territorial no meio rural brasileiro. Revista de Economia e
Sociologia Rural. Vol.50, nº. 4. Brasilia, oct./dec. 2012.
MORAES, Jorge Luiz Amaral de. Capital social e políticas públicas para o
desenvolvimento regional sustentável. Revista Centro de Ciências Administrativas,
UNIFOR. Fortaleza, v. 9, n. 2, p. 196-204, dez. 2003.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.