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(notas)
Camilo Michalka Jr.
Paradigmas
Paradigmas Científicos
1. Ênfase nas partes: conhecido como mecanicista, reducionista ou atomística.
Paradigma que está retrocedendo, que consiste em várias idéias e valores
entrincheirados entre os quais:
- visão do universo como um sistema mecânico
- visão do corpo humano como uma máquina
- visão da sociedade como uma luta competitiva pela existência
- crença no progresso material ilimitado pelo crescimento econômico e tecnológico
- como sendo uma lei da natureza a mulher colocada em posição inferior à do homem
.
2. Ênfase no todo: conhecido como holístico2, organísmico3 ou ecológico4.
Visão que concebe o mundo como um todo integrado.
Capra diz que os termos holístico e ecológico diferem ligeiramente em seus
significados, e considera que ecológico é mais apropriado para o novo paradigma.
A palavra ecologia vem muitas vezes acompanhada de um adjetivo. Entre outros,
Capra distingue ecologia rasa e ecologia profunda.
1
O presente texto, que serve como base para as anotações para apresentação, está baseado no livro “A TEIA DA
VIDA, uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos”, de Fritjof Capra, Editora Cultrix 2004.
2
Holismo (Dicionário Aurélio):1. Filos. Tendência, que se supõe seja própria do Universo, a sintetizar unidades em
totalidades organizadas. 2. Teoria segundo a qual o homem é um todo indivisível, e que não pode ser explicado
pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente; holística.
3
Organísmico: organização complexa em constante mudança.
4
Ecologia (Dicionário Aurélio):1.Parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ou ambiente
em que vivem, bem como as suas recíprocas influências; mesologia. 2.Ramo das ciências humanas que estuda a
estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações com o meio ambiente e sua
conseqüente adaptação a ele, assim como novos aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de
organização social possam acarretar para as condições de vida do homem
- Ecologia rasa – antropocêntrica, ou seja, centralizada no ser humano.
- Ecologia profunda – não separa seres humanos – ou qualquer coisa – do meio ambiente
natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de
fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.
Daqui para frente, o termo ecologia estará sendo empregado com a concepção da
ecologia profunda.
Pensamento Sistêmico
Na ciência do século XX, a perspectiva holística tornou-se conhecida
com “sistêmica” e a maneira de pensar que ela implica passou a ser
conhecida com “pensamento sistêmico”.
O termo sistêmico é, segundo Capra, apenas um termo científico mais técnico do que
ecológico.
Com isto, o paradigma holístico passou a ser também conhecido como “paradigma
sistêmico”.
O Movimento Romântico
A primeira forte oposição ao paradigma cartesiano mecanicista veio do movimento
romântico na arte, na literatura e na filosofia, no final do século XVII e no século XIX. William
Blake, o grande poeta e pintor místico, que exerceu forte influência sobre o romantismo inglês,
era um crítico apaixonado em sua oposição a Newton. Ele resumiu sua crítica nestas célebres
linhas: “Possa Deus nos proteger da visão única e do sono de Newton”.
Os poetas e filósofos românticos alemães retornaram à tradição aristotélica
concentrando-se na natureza da forma orgânica. Figura central desse movimento, Goethe foi
um dos primeiros a usar o termo “morfologia” para o estudo da forma biológica a partir de um
ponto de vista dinâmico, desenvolvente. Ele admirava a “ordem móvel” (bewegliche Ordnung)
da natureza e concebia a forma como um padrão de relações dentro do todo organizado –
concepção que está na linha de frente do pensamento sistêmico contemporâneo. “Cada
criatura”, escreveu Goethe, “é apenas uma gradação padronizada (Schattierung) de um grande
todo harmonioso”. Goethe, em particular, sentia que a percepção visual era a porta para o
entendimento da forma orgânica.
Frequentemente considerado o maior dos filósofos modernos, Immanuel Kant
argumentou que os organismos, ao contrário das máquinas, são totalidades auto-reprodutoras
e auto-organizadoras. Numa máquina, as partes existem uma para a outra, no sentido de
suportar a outra no âmbito de um todo funcional, enquanto que num organismo, as partes
também existem por meio de cada outra, no sentido de produzirem uma outra. Com essa
afirmação tornou-se o primeiro a utilizar o termo “auto-organização”.
A idéia da Terra como um ser vivo, espiritual, continuou a florescer ao longo de toda a
Idade Média e a Renascença, até que toda a perspectiva medieval foi substituída pela imagem
cartesiana do mundo como uma máquina. Portanto, quando os cientistas do século XVIII
começaram a visualizar a Terra como um ser vivo, eles reviveram uma antiga tradição, que
esteve adormecida por um período relativamente breve.
Mais recentemente, a idéia de um planeta vivo foi reformulada em linguagem científica
moderna com a chamada hipótese de Gaia, e é interessante que as concepções da Terra
viva, desenvolvidas por cientistas do século XVIII, contenham alguns elementos-chave da
nossa teoria contemporânea.
O geólogo escocês James Hutton sustentava que os processos biológicos e geológicos
estão todos interligados e comparava as águas da terra ao sistema circulatório de um animal.
O naturalista e explorador alemão Alexander von Humbold, um dos maiores pensadores
unificadores dos séculos XVIII e XIX, levou essa idéia ainda mais longe. Seu “hábito de ver o
Globo como um grande todo” levou Humbold a identificar o clima como uma força global
unificadora e a reconhecer a co-evolução dos sistemas vivos, do clima e da crosta terrestre, o
que quase resume a contemporânea hipótese de Gaia.
Os triunfos da biologia do século XIX na teoria das células, embriologia e microbiologia
estabeleceram a concepção mecanicista da vida como um firme dogma entre biólogos. Mas
mesmo assim, as escolas da época opõem-se à redução da biologia à física e à química.
Afirmam que embora a química e a física sejam aplicáveis aos organismos, elas são
insuficientes para uma plena compreensão do fenômeno da vida. O comportamento de um
organismo vivo como um todo integrado não pode ser entendido somente a partir do estudo de
suas partes.
Como os teóricos sistêmicos enunciariam várias décadas mais tarde:
Pensamento Sistêmico
Na visão mecanicista, o mundo é uma coleção de objetos. É fundamental no paradigma
cartesiano a crença segundo a qual em todo sistema complexo, o todo, ou o comportamento do
todo, pode ser entendido inteiramente a partir das propriedades das partes. Nela, acredita-se
fundamentalmente.
De acordo com a visão sistêmica, as propriedades essenciais de um organismo, ou
sistema vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das
interações e das relações entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o
sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos
discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza
do todo é sempre diferente da mera soma das partes. As propriedades das partes não são
propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo mais
amplo. Desse modo, a relação entre as partes e o todo foi revertida. Na abordagem
sistêmica, as propriedades das partes podem ser entendidas apenas a partir da
organização do todo.
A física quântica, na década de 20 forçou a aceitar o fato de que os objetos materiais
sólidos da física clássica se dissolvem, no nível subatômico, em padrões de probabilidades
semelhantes a ondas. As partículas subatômicas não têm significado enquanto entidades
isoladas, mas podem ser entendidas somente como interconexões, ou correlações, entre
vários processos de observação e medida. Em outras palavras, as partículas subatômicas não
são “coisas”, mas interconexões de coisas, e estas, por sua vez, são interconexões entre
outras coisas, e assim por diante. Na teoria quântica, nunca acabamos chegando a alguma
“coisa”; sempre lidamos com interconexões.
A física quântica mostra que não podemos decompor o mundo em unidades
elementares que existem de maneira independente.
As novas concepções da física têm gerado uma mudança em nossas visões do mundo;
da visão do mundo mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão holística, ecológica
Critérios do Pensamento Sistêmico
Se tudo está conectado com tudo o mais, como podemos esperar entender alguma?
Uma vez que todos os fenômenos naturais estão, em última análise, interconectados, para
explicar qualquer um deles precisamos entender todos os outros, o que é obviamente
impossível.
O que torna possível converter a abordagem sistêmica numa ciência é a descoberta de
que há um conhecimento aproximado.
O velho conhecimento baseia-se na crença cartesiana na certeza do conhecimento
científico.
No novo paradigma, é reconhecido que todas as concepções e todas as teorias
científicas são limitadas e aproximadas. A ciência nunca pode fornecer uma compreensão
completa e definitiva. Não importa quantas conexões levamos em conta em nossa descrição
científica de um fenômeno, seremos sempre forçados a deixar outras de fora.
Na ciência, sempre lidamos com descrições limitadas e aproximadas da realidade.
A ciência avança por meio de respostas provisórias até uma série de questões, cada
vez mais sutis, que se aprofundam mais na essência dos fenômenos naturais.