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CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL APLICADA À COBERTURA DO SOLO DE UMA

BACIA HIDROGRÁFICA USANDO SENSORIAMENTO REMOTO

Rita de Cássia dos Santos

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS


PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

________________________________________________
Prof. Otto Corrêa Rotunno Filho, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Alessandra Magrini, D.Sc

________________________________________________
Prof. Carla Bernadete Madureira Cruz, D.Sc

________________________________________________
Prof. Gutemberg Borges França, Ph.D

________________________________________________
Prof. Isimar de Azevedo Santos, D.Sc

________________________________________________
Prof. Jorge Antônio Martins, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


ABRIL DE 2002
SANTOS, RITA DE CASSIA DOS
Classificação Textural Aplicada à
Cobertura do Solo de uma Bacia
Hidrográfica Usando Sensoriamento
Remoto [Rio de Janeiro] 2002
X, 153 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,
M.Sc. Engenharia Civil, 2002)
Tese - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE
1. Bacia hidrográfica
2. Modelagem Hidrológica
3. Sensoriamento remoto
4. Classificação de imagem
5. Textura
I.COPPE /UFRJ II.Título (série)

ii
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para obtenção do grau de Mestre em Ciênciais (M.Sc.)

CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL APLICADA À COBERTURA DO SOLO DE UMA


BACIA HIDROGRÁFICA USANDO SENSORIAMENTO REMOTO.

Rita de Cássia dos Santos


Abril/2002

Orientador: Otto Corrêa Rotunno Filho


Programa: Engenharia Civil
É fundamental a compreensão da ocupação do uso do solo para um melhor
direcionamento do planejamento urbano no contexto da modelagem hidrológica em
bacias hidrográficas . Este trabalho tem como objetivo analisar dados de classificação
da cobertura e uso do solo através de sensoriamento remoto, incluindo imagens do tipo
Landsat5-TM e do tipo Radarsat.
A metodologia incluiu a avaliação de diferentes técnicas de análise digital de
imagens. Foram utilizadas técnicas de classificação não supervisionada e supervisionada
para mapear a cobertura do uso do solo de uma bacia hidrográfica .O estudo de caso foi
a bacia hidrográfica dos rios Iguaçu e Sarapuí. Nesse contexto, procedeu-se a uma
investigação sobre a presença de uma estrutura de correlação espacial nas imagens de
satélite Landasat5-TM e Radarsat. Feita essa análise, avaliou-se dois algoritmos de
textura, GLCM (“Gray Level Coocurrence Matrix”) e NGLDM ("Neighboring Gray
Level Dependence Matrix"), tanto para a faixa do espectro eletromagnético
correspondente ao visível e ao infravermelho (Landsat5-TM) quanto para a faixa de
microondas (Radarsat). A pesquisa incluiu uma comparação entre as classificações de
cobertura do solo obtidas através do método de máxima verossimilhança e dos métodos
de textura GLCM E NGLDM.
Os resultados envolvendo classificação textural, embora não tenham apontado
uma melhora significativa no nível de classificação da cobertura do solo, indicam que a
abordagem de métodos de classificação por textura necessita ser melhor explorada.
Finalmente, é importante destacar que a imagem de radar, em complemento à
imagem Landsat, pode desempenhar um papel importante nos estudos de classificação e
avaliação da evolução da cobertura e uso do solo de uma bacia hidrográfica.

iii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for degree of Master of Science (M.Sc.)

TEXTURAL CLASSIFICATION APPLIED TO WATERSHED SOIL COVER


CLASSIFICATION USING REMOTE SENSING

Rita de Cássia dos Santos


April/2002

Advisor: Otto Corrêa Rotunno Filho

Department: Civil Engineering

The understanding of soil cover occupation is essential for improving the


guidelines with respect to the urban planning in the context of watershed hydrological
modeling. This work focuses on the analysis of soil cover classification using remote
sensing, including Landsat5-TM e Radarsat images.
The methodology included the evaluation of different techniques for digital image
analysis. Unsupervised and supervised classification techniques were used for
watershed soil cover mapping. The study case was the Iguaçu-Sarapuí watershed.
Under this framework, an investigation was conducted about the presence of spatial
correlation structure in satellite images such as Landsat5-TM and Radarsat.
Following this analysis, two texture algorithms named GLCM (Gray Level
Coocurrence Matrix) and NGLDM ( Neighboring Gray Level Dependence Matrix) were
applied to the visible and infrared part (Landsat5-TM) and to the microwave part
(Radarsat) of the eletromagnetic spectrum. The research work included a comparison
between the maximum likelihood method and the textural classification methods GLCM
and NGLM.
The results involving textural classification, although they have not shown
significative improvements, indicated that the classification approach using textural
methods should be better explored. Finally, it is important to emphasize that the radar
image, in addition to the Landsat image, can play an important role in watershed soil
cover classification studies.

iv
À Tia Nena e à Zoé

v
AGRADECIMENTOS

Este trabalho só foi possível graças ao apoio de algumas pessoas e instituições


que menciono a seguir:

à COPPE e ao Laboratório de Hidrologia e Meio Ambiente do Programa de


Engenharia Civil;

ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),


que tornou possível meus estudos em parte do período desta pesquisa;

à empresa THREETEK, na pessoa do diretor- presidente João Carlos Vassalo, e


à RADARSAT Internacional pela cessão da imagem do dia 23 de julho de 1997
utilizada nesta dissertação;

à paciente orientação amiga e solidária do professor Otto Corrêa Rotunno Filho


que acreditou nesta pesquisa, sugerindo caminhos e apontando direções para a
conclusão deste trabalho; com esta convivência, entendi finalmente o que Hegel queria
dizer com o pensamento “se nos preocupamos muito com uma árvore, perdemos a
dimensão da floresta”;

às minhas melhores amigas, Zoé e tia Nena, pelo exemplo de vida que
representam e pelo apoio incondicional que dedicaram a mim nos momentos mais
difíceis nesta e em outras caminhadas.

vi
"Toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das
coisas coincidissem imediatamente.(...) A verdade científica é sempre um
paradoxo, se julgada pela experiência da vida cotidiana, que apenas agarra
a aparência efêmera das coisas".

Karl Marx

vii
ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÂO .................................................................................................. 1


CAPÍTULO 2 - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ....................................................................... 6
2.1 Gestão de recursos hídricos..................................................................................................... 6
2.2 A cidadania plena como pré-condição para a participação popular ................................... 134
2.3 Sensoriamento remoto e modelagem hidrológica.................................................................10
2.4 Sensoriamento remoto e geoprocessamento......................................................................... 15
2.4.1 Leis da radiação ......................................................................................................... 18
2.5 Satélites Ambientais............................................................................................................. 20
2.5.1 Sistema Landsat5-TM................................................................................................ 21
2.5.2 Sistema RADARSAT ................................................................................................ 25
2.6 Classificação de Imagens.................................................................................................... ..28
2.7 Análise de textura................................................................................................................. 36
2.7.1 Geoestatística aplicada em sensoriamento remoto......................................................39

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA.............................................................................................45
3.1 Processamento digital da imagem..........................................................................................44
3.2 Classificação de imagem........................................................................................................47
3.2.1 Método Isodata............................................................................................................48
3.2.2 Método da máxima verossimilhança...........................................................................49
3.3 Análise geoestatística.............................................................................................................54
3.3.1 Teoria das variáveis regionalizadas.............................................................................54
3.3.2 Função variograma............................................................................................................. 58
3.3.3 Análise estrutural.........................................................................................................56
3.4 Método NGLDM de análise de textura..................................................................................57
3.5 Método GLCM de análise de textura .................................................................................... 63
CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO: BACIA HIDROGRÁFICA DOS RIOS IGUAÇU E
SARAPUÍ.................................................................................................................................... 65
4.1 Descrição da região .............................................................................................................. 65
4.2 Tendências sócio-econômicas da Baixada Fluminense......................................................... 65
4.3. Localização da região de estudo e algumas características .................................................. 70
4.3.1 Dados orbitais..............................................................................................................65
4.3.2 Dados auxiliares...........................................................................................................65
4.3.3 Tratamento Preliminar da imagem..............................................................................66
4..4 Processo histórico da ocupação e a cobertura vegetal.......................................................... 70
4.4.1 Trabalho de Campo.....................................................................................................70
CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................76
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 112
APÊNDICE A - Participação Comunitária ..............................................................................106
APÊNDICE B - Programa de Despoluíção da Baía de Guanabara ..........................................118
APÊNDICE C - Estimativa de Parâmetros................................................................................126

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Espectro eletromagnético...................................................................................... 13


Figura 2.2 - Sistema de imageamento por meio de sensoriamento remoto .............................. 16
Figura 2.3 - Satélite Landsat5-TM.............................................................................................21
Figura 2.4 - Esquema básico de funcionamento de um radar convencional............................. 26
Figura 2.5 - Gráfico de espaço de atributos para o caso de uma imagem com apenas duas
bandas espectro. ................................................................................................... 29
Figura 2.6 - As curvas de probabilidade das classes A, B e C ................................................. 33
Figura 2.7 - Limites de decisão ................................................................................................ 34
Figura 2.8 - Distribuições normais representando os dados de duas áreas de treinamento ...... 34
Figura 3.1 - Fluxograma Metodológico.....................................................................................43
Figura 3.2 - Decisão por funções discriminadas........................................................................53
Figura 5.1 - Histograma das bandas 1/2/3/4/5/6/7.................................................................... 76
Figura 5.2 - Representação do conjunto de cartas topográgicas............................................... 73
Figura 5.3 - Composição colorida das bandas 3/4/5 nas cores vermelho ................................. 73
Figura 5.4 - Pontos de controle utilizados para o registro da imagem Landsat5-TM de 27/06/94
(composição colorida das bandas 4, 5 e 3)........................................................... 76
Figura 5.5 - Classificação pelo método da verossimilhança..................................................... 78
Figura 5.6 - Variogramas adimensionais empíricos para as bandas 1, 4, 5 e 8.........................87
Figura 5.7 - Variogramas adimensionais empíricos para as bandas 1, 4, e 5............................87
Figura 5.8 - Variogramas adimensionais empíricos para as bandas 1, 4, 5 e 8.........................88
Figura 5.9 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança...............97
Figura 5.10 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança.............98
Figura 5.11 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança.............99
Figura 5.12 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança...........100

ix
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Histórico do sistema Landsat e algumas características dos instrumentos .............22
Tabela 2.2 - Características espectrais e aplicações do Landsat5-TM........................................23
Tabela 2.3 - Bandas de freqüência mais utilizadas em radares....................................................26
Tabela 2.4 - Características dos satélites Landsat e Radarsat Radarsat versus Landsat...............28
Tabela 5.1- Pontos de controle terrestre para georreferenciar .................................................... 74
Tabela 5.2 - Matriz de correlação entre as bandas 1/2/3/4/5/6/7/8.............................................. 79
Tabela 5.3a - Resultados obtidos a partir da imagem Landsat – Calibração............................... 82
Tabela 5.3b - Resultados obtidos a partir da imagem Landsat – Validação................................ 82
Tabela 5.4a - Resultados obtidos a partir da imagem de radar - Calibração ............................... 83
Tabela 5.4b - Resultados obtidos a partir da imagem de radar - Calibração................................83
Tabela 5.5a - Resultados obtidos a partir da imagem Landsat - Calibração ............................... 84
Tabela 5.5b - Resultados obtidos a partir da imagem Landsat - Validação.................................84
Tabela 5.6a - Resultados obtidos a partir da imagem de radar - Calibração ............................... 85
Tabela 5.6b - Resultados obtidos a partir da imagem de radar - Validação ................................ 85
Tabela 5.7 - Análise estatística das áreas de treinamento - Calibração....................................... 90
Tabela 5.8 - Análise estatística das áreas de treinamento - Validação.........................................91
Tabela 5.9 - Análise estatística das áreas de treinamento - Calibração....................................... 92
Tabela 5.10 - Análise estatística das áreas de treinamento - Calibração..................................... 93

x
Capítulo 1 - Introdução

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÂO

É de fundamental importância o estudo dos recursos hídricos disponíveis nas


bacias hidrográficas. A partir desse referencial, o mapeamento produzido através de
imagens de satélites possibilita, cada vez mais, conhecer as características da cobertura
do solo e apontar para políticas públicas de planejamento urbano que viabilizem a
efetiva participação comunitária na tomada de decisões relativas à gestão das cidades.
A ciência e a tecnologia, por sua vez, devem atender aos interesses e aos
projetos que contemplem todas as camadas sociais. Faz-se necessário, portanto,
repensar a forma de gestão imposta pelo modelo liberal ou neoliberal, que atende,
prioritariamente, aos interesses do capital, ficando a população à mercê de uma política
econômica que fortalece as desigualdades sem uma contrapartida cultural que estimule a
solidariedade.
A busca constante de um equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente deve
ser uma meta permanente a ser atingida pela sociedade. Uma bacia hidrográfica, apesar
de suas variadas características topográficas, geológicas, climáticas e diversidade de sua
utilização, representa um clássico exemplo de ecossistema, onde as relações entre o
homem e a natureza merecem ser estudadas e entendidas.
Atualmente, não é mais aplicável a ação empírica e isolada na resolução e
tomada de decisão acerca dos problemas que provocam direta ou indiretamente
impactos, conflitos e depredações ao meio ambiente, sendo essencial o desenvolvimento
de uma visão holística na identificação e abordagem das variáveis pertinentes a um
estudo ambiental e, mais especificamente, sob a ótica do gerenciamento de recursos
hídricos em uma bacia hidrográfica. A preservação da qualidade ambiental em uma
bacia hidrográfica é altamente desejável, não só ao bem estar e segurança do homem
como de todos os seres vivos que vivem em parceria naquela área.
O planejamento urbano e regional no contexto de bacias hidrográficas constitui
um desafio, pois a ocupação não ordenada dessas áreas, principalmente em regiões
metropolitanas, acarreta inúmeras alterações ambientais que, em última análise, afetam
milhões de habitantes. Dentre tais alterações, destaca-se a modificação do regime

1
Capítulo 1 - Introdução

hídrico de microbacias e macrobacias com conseqüente agravamento do problema de


enchentes (Marin et al.,1999).
Uma das formas de estabelecer o planejamento urbano e regional de uma bacia
hidrográfica é o conhecimento da ocupação do solo dessa área através de mapas de uso
do solo. As técnicas tradicionais para elaboração desses mapas exigem detalhada coleta
de dados, quase sempre onerosa pela logística necessária aos levantamentos de campo.
Esses mapas ficam, muitas vezes, defasados no tempo, dada a forma intensa, rápida e
desordenada de ocupação de uma bacia. Os avanços observados nas técnicas de análise
de imagens digitais e na tecnologia de sua aquisição (sensores a bordo de plataformas
orbitais) possibilita a geração de mapas quase em tempo real e uma otimização dos
levantamentos de campo. Dessa forma, uma imagem pode ser usada nos modelos de
determinação e monitoramento da ocupação do solo. Os modelos hidrológicos do tipo
chuva-vazão, por sua vez, procuram representar os fenômenos físicos em uma bacia
hidrográfica com o objetivo de melhor entender o ciclo hidrológico. O progresso nessa
área tem sido atingido através do desenvolvimento e uso de duas grandes classes de
modelos: concentrados e distribuídos. Contudo, muitos tópicos permanecem em aberto
para discussão tais como a melhora nas fontes de dados, calibração, validação,
parametrização e escalas de alimentação e operação desses modelos.
Modelos de simulação hidrológica têm se tornado uma parte fundamental de
quase todos os aspectos de hidrologia. Por exemplo, condições do tempo existentes e
previsíveis são fornecidas aos modelos para estimar futuras vazões de enchente para
operações de emergência, combate a inundações e regularização de reservatórios.
Modelos são utilizados em estudos de planejamento para avaliar os benefícios e
impactos de planos alternativos de uso da terra ou medidas de controle de enchentes.
Em estudos de projetos, modelos são utilizados para ajudar no desenvolvimento de
especificações para as estruturas de engenharia de forma a resolver problemas de
controle de enchentes, navegação e abastecimento de água.
O presente trabalho insere-se, pois, no contexto do desenvolvimento de modelos
hidrológicos distribuídos do tipo chuva-vazão e planejamento de ocupação do solo,
onde o mapeamento da cobertura do solo por sensoriamento remoto foi enfatizado.
Tendo em vista a amplitude espacial e temporal que ocorre na ocupação de uma bacia
2
Capítulo 1 - Introdução

hidrográfica, definiu-se como uma das prioridades a pesquisa das técnicas de


mapeamento automáticos. Assim, estabeleceu-se, como meta desse trabalho, o estudo
do procedimento de classificação de uma imagem de satélite, fazendo uma abordagem
mais detalhada do método de classificação supervisionada denominado de máxima
verossimilhança e de um método de classificação por textura. Entre os objetivos
específicos dessa pesquisa, destacam-se:
• avaliação de diferentes estratégias e técnicas de análise digital de imagens;
• utilização das técnicas de classificação não supervisionada e supervisionada
para mapeamento do cobertura do solo, tendo como base uma imagem
Landsat5-TM e uma imagem do Radarsat;
• aplicação de técnicas de classificação em uma bacia hidrográfica, incluindo
os algoritmos de textura GLCM (método matriz de co-ocorrência de tons de
cinza) e NGLDM ( método matriz de tons de cinza vizinhos dependentes), à
bacia dos rios Iguaçu e Sarapuí.
Ressalte-se que a bacia dos rios Iguaçu e Sarapuí abrangem boa parte da Baixada
Fluminense, incluindo os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Nilópolis,
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e São João do Meriti. Baixo nível sócio-econômico,
serviços precários de saúde e educação, extrema concentração de pobreza e
marginalidade social são problemas da Baixada Fluminense e de seus quase três milhões
de habitantes, que, secundarizados pelo poder público, são obrigados a reinventar
diariamente novas formas de sobrevivência. A saturação do espaço urbano e o
crescimento desordenado das cidades sem qualquer planejamento agravam ainda mais
os problemas da região, que exigem enfrentamento político dos governantes. Lembre-se
ainda que a bacia em estudo é área contribuinte da baía de Guanabara e que, portanto,
discussões relacionadas com o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara são
pertinentes.
Cabe destacar que, quando da introdução de qualquer tecnologia, pode-se inferir
a existência de benefícios potenciais trazidos pelo sensoriamento remoto para a
população como um todo, a partir da possibilidade de, por exemplo, obtenção de maior
precisão nos dados relativos à cobertura do solo e infra-estrutura de uma determinada
região. Supondo a adoção de uma política de uso racional do solo com base nos dados
3
Capítulo 1 - Introdução

obtidos a partir do sensoriamento remoto, uma de suas conseqüências será a maior


facilidade na adoção de programas de prevenção dos riscos ambientais na execução de
um planejamento. Muitos empreendimentos, como rodovias, aeroportos e conjuntos
habitacionais, poderão ser construídos em locais mais adequados à preservação
ambiental se, antes de sua execução, forem considerados os dados obtidos através da
tecnologia de sensoriamento remoto. Da mesma forma, o controle efetivo do
desmatamento e uma real avaliação da extensão e potencial de regiões florestais pode
ser melhor executada a partir de imagens de satélite.
Em que pesem tais possibilidades da adoção de um planejamento mais eficiente
a partir dos instrumentos de trabalho oferecidos pelo sensoriamento remoto, é preciso
lembrar que, na sociedade, não há relação automática entre a mera existência de uma
determinada tecnologia e sua aplicação prática em benefício da maioria da população. É
que as injunções de ordem política econômica e cultural são, quase sempre,
determinantes da forma de sua aplicação, ou mesmo de sua não aplicação, a depender de
um contexto específico. Assim como o real aproveitamento de todas as potencialidades
contidas na tecnologia de sensoriamento remoto é algo que dependerá das concepções
de mundo e sociedade manifestas pelos agentes encarregados de sua execução, o mesmo
pode ser dito quando se discute a necessidade de fazer com que os benefícios dessa
mesma tecnologia cheguem à população.
Feito esse registro sobre a área de estudo e o uso do sensoriamento remoto como
instrumento para que os avanços técnicos científicos beneficiem o conjunto da
sociedade, apresenta-se, no Capítulo II, uma revisão da literatura pertinente ao tema da
pesquisa de forma contextualizada. Em primeiro lugar, são destacados alguns aspectos
da gestão de recursos hídricos, incluindo a ênfase na integração entre sensoriamento
remoto e modelagem hidrológica sob o enfoque da representação espacial dos
fenômenos físicos. Em seguida, são apresentados conceitos básicos sobre a base de
dados relativamente recente gerada por imagens de satélite, especialmente sobre as
imagens Landsat5-TM (região do espectro eletromagnético correspondente ao visível e
ao infravermelho e Radarsat (faixa de microondas do espectro eletromagnético).
Posteriormente, é feita uma breve revisão sobre mapeamento da cobertura do solo e,
finalmente, é discutido o procedimento de classificação digital de imagens de satélite,
4
Capítulo 1 - Introdução

com destaque especial para a abordagem geoestatística e para aplicações dos métodos
de textura GLCM e NGLDM, utilizados nesta dissertação. No Capítulo III, apresenta-
se a metodologia adotada na presente pesquisa, incluindo o procedimento de
classificação digital de imagens por métodos como isodata e máxima verossimilhança e
a discussão dos métodos de classificação GLCM e NGLDM envolvendo textura. O
Capítulo IV apresenta uma descrição da área de estudo referente a bacia hidrográfica
dos rios Sarapuí e Iguaçu, enquanto o Capítulo V mostra os resultados obtidos no
processo de caracterização da cobertura do solo através de imagem de satélite Landsat5-
TM e Radarsat. Finalmente, o Capítulo VI apresenta as conclusões da pesquisa e
recomendações para futuros trabalhos, com apreciação do papel de algoritmos de
textura em classificação digital bem como do uso de imagens de radar com fins de
classificação da cobertura e uso do solo.

5
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

CAPÍTULO 2 - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

2.1 Gestão de recursos hídricos

A lei federal 9.433 de 8 de janeiro de 1997 ou aqui chamada Lei das Águas
ainda não é conhecida pela maior parte da população brasileira. A sua regulamentação
tem sido feita aos poucos, incluindo a criação da Agência Nacional de Águas (ANA)
através da lei 9.984 de 17 de julho de 2000, autarquia federal vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente, Amazônia Legal e Recursos Hídricos com vistas a implementar a
política nacional de recursos hídricos. O princípio fundamental reside em uma gestão de
recursos hídricos por bacia hidrográfica, descentralizada, com a participação do poder
público, dos usuários e da comunidade. A Lei das Águas estabelece a criação da figura
do comitê de bacia (dimensão política) e da agência de bacia (dimensão técnica com
vistas a fornecer subsídios para as decisões do comitê).
Pode-se estabelecer essa questão em relação ao Programa de Despoluição da
Baía de Guanabara (PDBG), uma vez que a região de estudo desta dissertação, a bacia
dos rios Iguaçu e Sarapuí, é área contribuinte da baía de Guanabara. PDBG é um
programa criado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, resultante da ECO/92 e
implementado a partir de 1994 (Potsch e Rotunno, 1998 - Apêndice A). Esse programa
foi elaborado a fim de melhorar as condições das águas que compõem a baía de
Guanabara e recebeu ajuda de órgãos na esfera municipal, estadual e federal, mas
mesmo assim está bem longe de cumprir seu objetivo principal. Os modelos
hidrológicos e hidrodinâmicos foram criados com o objetivo de tentar modelar a
natureza na intenção de estudar soluções para diversos problemas que afligem a nossa
população. Nesse contexto, abrigam-se ainda questões que passam pelo gerenciamento
de recursos hídricos, até a forma como as organizações surgem, desenvolvem-se e
estruturam-se de acordo com seus objetivos e relacionamentos com o ambiente, seja na
esfera pública ou privada. Mas antes deve-se estabelecer e esclarecer o núcleo da
discussão, de forma que se possa, aos poucos, chegar a um entendimento sistêmico do
PDBG.

6
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

O prisma adotado na condução deste trabalho e sob o qual estar-se-á abordando


e analisando, nesta breve discussão, o tópico gestão de recursos hídricos contempla um
referencial com os eixos político, econômico e cultural, significativamente diferente dos
eixos político e econômico, comumente empregado pelos atuais responsáveis pela
política nacional de recursos hídricos e reproduzidos insistentemente na mídia oral e
impressa. Chama-se atenção para esse aspecto, pois essa orientação muda o enfoque da
discussão que tem sido colocado em pauta pela ANA sobre a cobrança pelo uso da água.
Atualmente, paga-se pelo armazenamento, tratamento e distribuição da água.
Alguns estados começam a estabelecer adicionalmente a cobrança pelo seu uso, em que
estudos têm sido financiados pelos governos federal e estaduais com o objetivo de
desenvolver métodos e modelos de cobrança da água. A justificativa para tal é a
possibilidade de haver recursos no sentido de investir na própria bacia hidrográfica onde
o dinheiro foi arrecadado, permitindo preservar ao longo do tempo, em princípio, a
disponibilidade de água tanto em quantidade como em qualidade. Segundo Rotunno
(2001), a justificativa é nobre, mas a visão é incorreta e a condução do processo de
implementação é obscura. A visão é incorreta, pois trabalha somente com os eixos
político e econômico, referencial precário. É obscura, pois não consegue desvelar e
trabalhar com o eixo cultural, aspecto fundamental de uma verdadeira gestão de
recursos hídricos. Alguns movimentos realizados no sentido de resgatar de fato a
relação entre cidadania e água têm sido enfatizados e estimulados, como, por exemplo,
a criação de vários centros de referência da água e encontros anuais apoiados pelo
CREA-RJ (Petrópolis, 2002).
No caso do PDBG, essa discussão é pertinente, na medida em que a qualidade da
água da baía de Guanabara está intrinsecamente ligada à ocupação das bacias
hidrográficas contribuintes e, portanto, ligada à Lei das Águas.
Um estuário é uma interface complexa de corpos de água distintos, onde ocorre
a transição entre um sistema eminentemente fluvial e um sistema puramente marinho.
Uma definição precisa para estuário é difícil, mas aceita-se que, em geral, tal definição
compreenda as seguintes características: corpo de água costeiro; semi-fechado; ligação
direta com o mar; afluxo de água do mar; afluxo de água doce.

7
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

A baía de Guanabara é um estuário governado por processos hidrográficos com


origens tanto fluvial quanto marinha, como, por exemplo, enchentes e marés,
respectivamente. Estuários tendem a ser sistemas amplos com boa circulação. Há
usualmente uma clara distinção com respeito à morfologia e habitats à medida que se
distancia do mar em direção aos trechos superiores de rio, com variação de
profundidade, salinidade e aeração. Em essência, as principais características de um
estuário são: (1) morfologia e batimetria; (2) hidrologia; (3) marés; (4) meteorologia; (5)
correntes de densidade.
Nesse contexto, o gerenciamento de estuários requer a capacidade de se
determinar o efeito sobre a circulação estuarina ou sobre as concentrações de
constituintes que resulta de um evento específico ou controle externo. Para alguns
desses eventos, especialmente aqueles causados por eventos naturais, a determinação
dos efeitos pode se basear completamente na coleta e análise dos dados. Muitos desses
eventos, contudo, levam a situações de gerenciamento nas quais a atividade humana
precisa ser avaliada antes que seja implementada, requerendo, pois, alguma capacidade
de realizar previsões.
Adicionalmente, é importante destacar, nesse texto inicial de contextualização
do uso de satélites, que o entendimento do sistema estuarino da Baía de Guanabara
passa por um planejamento urbano e regional com enfoque nas bacias hidrográficas
contribuintes, pois a ocupação não ordenada dessas áreas, principamente em regiões
metropolitanas, acarreta inúmeras alterações ambientais que, em última análise, afetam
milhões de habitantes.
Saliente-se ainda que os problemas do Programa de Despoluição da Baía de
Guanabara passam pela falta de uma visão sistêmica, levando a inserções fragmentadas
de diversos órgãos ambientais. Destaque-se ainda que os planos de recursos hídricos e
gerenciamento de bacias hidrográficas são essenciais no planejamento urbano e
regional. Devemos, pois, caminhar no sentido de revisar e atualizar os atuais planos
diretores de nossas cidades com vistas a integrar, de fato, a perspectiva de recursos
hídricos no desenvolvimento de nossas comunidades, aspecto que deveria ser
fortemente incentivado em próximas etapas do Programa de Despoluição da Baía de
Guanabara. Nesse sentido, entendeu-se ser relevante apresentar uma discussão
8
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

comunitária, uma vez que, no juízo da autora, este tópico é fundamental para a
realização de uma verdadeira gestão de recursos hídricos (Apêndice B).

2.2 Sensoriamento remoto e modelagem hidrológica

Talvez a propriedade mais importante de um modelo hidrológico é o grau de


representação dado às variações espaciais e temporais nos parâmetros de entrada e
saída. Pode-se, então, diferenciar entre um modelo concentrado e um modelo
distribuído. Enquanto, nos modelos concentrados, assume-se que os parâmetros e
variáveis variam somente com o tempo, define-se modelos distribuídos como aqueles
em que os parâmetros e variáveis variam tanto no espaço quanto no tempo.
No passado, seguindo Beven e O’Connell (1982), modelos concentrados de uma
natureza física e semi-empírica têm se constituído no tipo mais comum. Esses modelos
não tem necessariamente permitido aumentar a compreensão dos sistemas sob análise,
nem os parâmetros desses modelos tem obrigatoriamente uma base física sólida.
Contudo, esses modelos ainda têm um importante papel nas aplicações de engenharia.
Mais recentemente, o foco tem sido alterado em direção ao desenvolvimento de
modelos hidrológicos espacialmente distribuídos. Beven e O’Connell (1982) propuseram
algumas áreas nas quais modelos distribuídos fisicamente embasados poderiam ser
aplicados, tais como mudanças na bacia hidrográfica, entradas e saídas espacialmente
variáveis, movimento de poluentes e sedimentação através da bacia e previsão da resposta
hidrológica de bacias hidrográficas não monitoradas.
A aplicação de modelos hidrológicos distribuídos com base física requer a
avaliação de um número relativamente grande de parâmetros relacionados ao solo, à
vegetação e aos aspectos topográficos em uma dimensão espacial. Dois particulares
problemas dizem respeito ao número de medidas e à obtenção de valores efetivos dos
parâmetros, representativos na escala da malha empregada no modelo. Esforços no sentido
de se resolver esses problemas estão estimulando desenvolvimentos nas estratégias de
coletas de dados em campo e o uso da tecnologia de sensoriamento remoto.
Sensoriamento remoto significa obter informação sobre um objeto sem tocá-lo. Há
dois aspectos envolvidos: a tecnologia de adquirir os dados através de um instrumento que
9
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

está afastado do objeto e a análise dos dados para interpretar os atributos físicos do objeto.
Essa é uma definição bem ampla. Convencionalmente, contudo, o termo sensoriamento
remoto implica uma distância bastante significativa entre sensor e objeto, da ordem de
quilômetros ou centenas de quilômetros. Em tal situação, o espaço interveniente é
preenchido de ar (plataforma aérea) ou até mesmo parcialmente constituído do vácuo
(plataforma espacial), onde somente as ondas eletromagnéticas são capazes de servir de
ligação eficiente entre o sensor e o objeto. Sensoriamento remoto, como Gupta (1991)
afirma, tem, por essa razão, significado a aquisição de dados de radiação eletromagnética
(comumente situada na faixa de comprimentos de onda entre 0,4 µm and 30 cm) a partir
de sensores colocados em plataformas aéreas ou espaciais e interpretação das
características dos objetos terrestres.
O princípio básico envolvido nos métodos de sensoriamento remoto é que, em
diferentes faixas de comprimentos de ondas/freqüências, cada tipo de objeto reflete ou
emite uma certa intensidade de luz, que é dependente dos atributos físicos ou da
composição do objeto em estudo. Assim,utilizando essa informação de uma ou mais
faixas de comprimentos de ondas, há possibilidade de se diferenciar diferentes tipos de
objetos e mapear a sua distribuição, seja no solo seja na água.
O espectro eletromagnético é a ordenação das radiações eletromagnéticas de
acordo com os comprimentos de onda ou, em outras palavras, freqüência ou energia. O
espectro é usualmente apresentado entre raios cósmicos e ondas de rádio, com as partes
intermediárias constituindo os raios gama, raios X, ultravioleta, visível (VIS),
infravermelho próximo (NIR), infravermelho intermediário (MIR), infravermelho afastado
(FIR) e microondas (Figura 2.1). O espectro eletromagnético entre comprimentos de onda
de 0.02 µm a 1 m pode ser dividido em duas partes principais: faixa ótica e faixa de
microondas. A faixa ótica refere-se àquela parte do espectro eletromagnético em que
fenômenos óticos de reflexão e refração podem ser utilizados para análise da radiação.
Essa faixa estende-se dos raios X (0.02 µm de comprimento de onda) passando pelo
visível e incluindo o infravermelho afastado (1 mm de comprimento de onda). A região de
microondas compreende a faixa de comprimentos de onda de 1 mm a 0.8 m.
A seguir, apresenta-se, com mais detalhes, as principais faixas do espectro
eletromagnético representadas na Figura 2.1:
10
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

• raios gama são produzidos no núcleo dos átomos, possuem pequenos


comprimentos de ondas e são bastante utilizados para identificar minerais
radioativos; não existe, em princípio, limite superior para freqüência das
radiações gama, embora ainda seja encontrada uma faixa superior de
freqüências para radiação conhecida como raios cósmicos;
• raios X - é a radiação na faixa de comprimentos de onda de 10-6µm a 10-
2
µm; são gerados, predominantemente, pela parada ou diminuição da
velocidade de elétrons de alta energia; por se constituir de fótons de alta
energia, os raios-X são altamente penetrantes, sendo uma poderosa
ferramenta em pesquisa sobre a estrutura da matéria;
• ultravioleta (UV) - radiação de extensa faixa do espectro, desde 0,1 µm a
0,38 µm; possui um relativo potencial de aplicações em sensoriamento
remoto, principalmente no campo da pesquisa mineral e de análise que
exijam luminescência;
• visível (VIS) - possui uma pequena variação no comprimento de onda, que
vai de aproximadamente 0,38µm a 0,72µm; é definida como capaz de
produzir a sensação de visão para o olho humano normal, sendo decomposta
nas cores violeta, azul, verde, amarela, laranja e vermelho; possui grande
importância para o sensoriamento remoto, pois imagens obtidas, nessa faixa,
apresentam excelente correlação com a experiência visual do intérprete;
• infravermelho (IV) - possui comprimento de onda de 0,72µm a 105µm; é
dividido em próximo, médio e afastado, sendo facilmente absorvida pela
maioria das substâncias (efeito de aquecimento);
• microondas - suas radiações situam-se na faixa entre 105µm a 108µm;
amplamente utilizadas pelo sensoriamento remoto em radares, sendo pouco
atenuadas pela atmosfera ou por nuvens; permitem o uso de sensores em
qualquer condição de tempo; podem ser utilizadas na detecção de óleo no
mar e estimativa de perfil atmosférico (temperatura, umidade);
• ondas de rádio - possuem grandes comprimentos de onda, utilizados para
comunicações a longa distância, pois são pouco atenuadas pela atmosfera.

11
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

O conhecimento dessa base teórica conduz a uma melhor compreensão da


tecnologia do sensoriamento remoto, visto que os vários sensores atualmente
disponíveis podem ser classificados de acordo com a faixa de comprimentos de onda
que eles captam.

Figura 2.1 - Espectro eletromagnético (fonte: Collier, 1989)

Conforme Mulders (1987), a pesquisa na área de sensoriamento remoto procura


incorporar observações sob os seguintes aspectos:
- multi-espectral, que é a observação em diferentes comprimentos de ondas,
possibilitando a definição da assinatura espectral dos objetos;
- múltiplas estações, que é a observação de diferentes estações na mesma
altitude (estereoscopia) ou em diferentes altitudes, com diferentes escalas;
- multi-polarização,usada para o estudo de propriedades de polarização dos
objetos;
- multi-temporal, que é a observação da mesma área ou objeto em diferentes
tempos; dessa maneira, características dinâmicas como qualidade da água,
umidade do solo e crescimento de planta, entre outras, podem ser monitoradas;
- tratamento visual da imagem derivada de processamento digital ou
proveniente de registro de fotografias.
Em hidrologia, o sensoriamento remoto é avaliado como uma abordagem viável
para o estudo da variabilidade espacial de propriedades físicas da bacia hidrográfica,
uma vez que os dados básicos são espaciais por natureza.
O estado da arte em pesquisa na área de sensoriamento remoto correspondente à
alimentação de modelos hidrológicos distribuídos pode ser resumido como segue:

12
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

- aplicações na determinação da cobertura do uso do solo de uma bacia


hidrográfica baseada na porção do visível e do infravermelho do espectro
eletromagnéticos;
- medidas na faixa de microondas do espectro eletromagnético aplicadas na
identificação de água.
Link(1983) relaciona um resumo dos avanços na área de sensoriamento remoto
aplicada à modelagem hidrológica.
Apesar do progresso realizado através de estudos que envolvem dados de
sensoriamento remoto, há um número limitado de modelos hidrológicos que têm sido
usados, com sucesso, acoplados a essa nova base de dados.
Jackson et al. (1977) utilizou informação de cobertura do uso do solo, adquirida
a partir de imagem Landsat, para estimar coeficientes de escoamento superficial para o
modelo STORM (U.S. Army Corps of Engineers, 1976). Os autores concluíram que,
exceto para bacias muito pequenas, a concordância entre simulações hidrológicas feitas
com base em formas convencionais de definição do modelo e simulações feitas com
base em modelos alimentados por imagens Landsat é bastante boa e aceitável para
estudos de planejamento em bacias hidrográficas. Adicionalmente, os autores revelam
que reduções significativas em custo, associadas com o desenvolvimento de
mapeamento da cobertura de uso do solo e estimativa de parâmetros para modelos
hidrológicos de planejamento, podem ser obtidas através do uso de imagens Landsat.
Tanto Ragan e Jackson (1980) quanto Harvey e Solomon (1984) utilizaram cobertura e
uso do solo obtida por sensoriamento remoto para estimar a curva número relacionada a
escoamentos superficiais como entrada para o modelo do “Soil Conservation
Service”(SCS). Em ambos estudos, imagens Landsat foram utilizadas para estimar a
cobertura e uso do solo. Em ambos os casos, os resultados obtidos através do
sensoriamento remoto foram aceitáveis com valores de curva número definidos com
base em cartografia convencional (SCS, 1972).
Em um outro estudo, Webb et al (1980) mostraram que os percentuais de
classificação de cobertura do uso do solo derivados com base em imagens Landsat eram
bastante aceitáveis para os propósitos de modelagem hidrológica. Na pesquisa realizada
por Rango et al (1983), cobertura do uso do solo obtida através de dados convencionais
13
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

e imagem Landsat foram fornecidas ao modelo HEC-1 (U.S. Army Corps of Engineers,
1981) para gerar curvas de freqüência de descarga. As diferenças nos resultados foram
consideradas insignificantes. Também chegaram à conclusão de que, para bacias
maiores do que 26 km2, a abordagem envolvendo imagem Landsat era mais eficiente em
termos de custo.
Fortin et al. (1986) forneceu um exemplo da aplicação da cobertura do uso do
solo para previsões de enchentes no modelo CEQUEAU.. Simulações feitas com
imagem Landsat deram resultados similares ou melhores do que dados cartográficos
convencionais. Mais recentemente, Tao e Kouwen (1989) compararam duas
alternativas, com e sem imagem Landsat, usando o modelo WATFLOOD (Kouwen,
1988) em bacia hidrográfica discretizada por uma malha de 10 km X 10 km. Dados
horários de chuva forma empregados. O modelo foi utilizado em dois modos:
concentrado, sem imagem Landsat, e distribuído, com imagem Landsat. Os resultados
indicam um melhora na estimativa do hidrograma de cheia.
Estudos realizados por Abreu (2000) e Ribeiro et al. (2000) abordam o
problema do mapeamento da cobertura do solo e o problema da detecção de mudanças
nessa cobertura através do uso de imagens Landsat obtidas para a bacia hidrográfica dos
rios Iguaçu e Sarapuí, Rio de Janeiro, Brasil.
Com respeito à detecção de água, um grande esforço de pesquisa tem sido feito
para a análise de dados de radar meteorológico (Brandes, 1975; Creutin e Obled, 1982;
Collier, 1989; Messaoud e Pointin, 1990; Bhargava e Danard, 1994; Barbosa, 2000).
Aplicações de dados de radar à previsão de vazões podem ser encontradas em
publicações como Dalezius (1982), Garland (1986), Collinge e Kirkby (1987), Collier
(1989), Kouwen e Soulis (1993) e Pereira Filho e Crawford (1999).
Trabalhos relacionados ao mapeamento de neve (área, profundidade e conteúdo
de água) estão em andamento. Rango (1993) apresentou uma revisão dos estudos
desenvolvidos nessa área. Exemplos de aplicações desse tipo de mapeamento em
modelos hidrológicos podem ser encontrados em Martinec e Rango (1986), Leavesley e
Stannard (1990) e Donald et al. (1995), entre outros.
Finalmente, na área de detecção de umidade do solo, a faixa de microondas do
espectro eletromagnético tem sido explorada com vistas à aplicação em modelos
14
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

hidrológicos (Schmugge et al., 1980; Jackson et al., 1981, Engman, 1990; Pietroniro,
1993; Rotunno, 1995). Há dois modos importantes de utilizar a umidade do solo em
modelos hidrológicos. É reconhecido que a umidade inicial tem um importante papel na
definição do hidrograma (vazão ao longo do tempo) para eventos chuvosos. A segunda
forma consiste em se empregar a umidade do solo em diferentes tempos para controlar e
corrigir o desempenho do modelo (Kuczera (1983a, 1983b)).
Verifica-se, pois, que a grande variabilidade espacial das características físicas
de uma bacia hidrográfica coloca, em evidência, o uso do sensoriamento remoto como
provedor de uma nova base de dados. Essa nova base de dados é um dos elementos
essenciais no desenvolvimento dos novos modelos hidrológicos distribuídos com base
física.

2.3 Sensoriamento remoto e geoprocessamento

Conforme já destacado no item anterior, sensoriamento remoto, segundo


Lillesand e Kiefer (1994), é a ciência e a arte de obter informações sobre o objeto, área,
ou fenômeno através de análise de dados adquiridos por um dispositivo que não está em
contato com o objeto, a área ou o fenômeno (Figura 2.2).

Figura 2.2 - Sistema de imageamento por meio de sensoriamento remoto


15
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Sensoriamento remoto e o processamento digital de imagens representam


atualmente uma grande fonte de dados, obtidos de maneira rápida e precisa, permitindo
assim uma atualização permanente dessas informações. Com a introdução da
informática na pesquisa ambiental, a reunião desses dados foi bastante facilitada,
permitindo a otimização da tomada de decisão no gerenciamento e monitoramento do
espaço geográfico, ficando a cargo do monitoramento a função de acompanhar as
alterações espaço-temporais dessas informações (Novo, 1988). As informações de
sensoriamento remoto podem ser incorporadas em sistemas de informações geográficas
(SIG), parte do campo do conhecimento denominado de geoprocessamento.
Segundo Rodrigues (1990), o geoprocessamento pode ter diferentes sistemas
computacionais (sistemas aplicativos, sistemas especialistas, sistemas de satélite,
levantamento de campo e cadastros), podendo estar aliado à cartografia digital, ao
sensoriamento remoto, à modelagem numérica de terreno e à inteligência artificial.
Dentro deste contexto, o geoprocessamento possui a perspectiva de análise
interdisciplinar e interinstitucional, integrando especialistas de diferentes ramos a
participarem do desenvolvimento dos estudos ambientais, sendo o mapeamento
temático o seu principal modelo operacional.
Segundo Aronoff (1989), o advento dos sistema de informações geográficas
(SIG’s) pode ser comparado ao advento da imprensa na Idade Média. Do mesmo modo
que a imprensa não somente tornou a informação mais rápida e financeiramente
acessível, como também revolucionou a maneira pela qual o conhecimento passou a
fluir na sociedade, os sistemas de informações geográfica mudaram drasticamente a
possibilidade de a informação ser gerada, atualizada e disseminada de forma segura,
rápida e eficiente, tendo o sensoriamento remoto como um grande provedor de
informações ambientais a serem manipuladas.
Segundo Simpson (1992), os países desenvolvidos usam de forma rotineira os
dados orbitais juntamente com um SIG. A integração do sistema de informações
geográfica e o sensoriamento remoto se dá a partir do momento em que se transferem os
resultados obtidos dos tratamento de imagens de sensoriamento remoto para o sistema

16
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

de informação geográfica e a partir daí, integradas a este, com dados cartográficos,


passa a gerar informações temáticas derivadas. Conforme Bhering (1995), a integração
entre o sistema de informação geográfica e o sensoriamento remoto tem a vantagem de
adequar as imagens orbitais para elaboração de mapas (bases e revisão e atualização dos
mapas existentes), além da visualização do terreno. Imagens orbitais, combinadas com
modelos digitais do terreno, podem ser utilizadas para produzir perspectivas realistas do
terreno, auxiliando no planejamento das mais diversas atividades que atuam sobre o
meio físico. Esse avanço foi possível devido ao grande desenvolvimento proporcionado
às técnicas de modelagem digital pela integração dessas tecnologias.

17
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

2.3.1 Leis da radiação

O movimento vibratório e rotacional das partículas atômicas das moléculas que


compõem um corpo emitem energia. Essa energia é transferida através de ondas
eletromagnéticas em diversos comprimentos de onda que formam o espectro
eletromagnético. O mecanismo de transferência denomina-se radiação eletromagnética.
A radiação eletromagnética é de fundamental importância na transferência de
energia na atmosfera. O espectro eletromagnético é composto de várias formas de
energia, como luz visível, ondas de rádio, térmicas, raios x, raios ultravioleta, entre
outras. Segundo Shanda (1986), todas essas energias são similares, baseadas na teoria
de ondas.
As ondas eletromagnéticas propagam-se na velocidade de 3 x 108 m/s
(velocidade da luz no vácuo) e diferem apenas em freqüência e, portanto, em
comprimento de onda. O número de ondas que passa por um ponto do espaço num
determinado tempo define a freqüência (f) da radiação. A onda eletromagnética pode
também ser caracterizada pelo comprimento da onda (λ).
A radiação eletromagnética é tratada modernamente segundo uma visão dualista,
ou seja, ora como onda, ora como partícula ou fóton (Ramalho et al., 1977). Assim, a
propagação de energia, reflexão e refração são fenômenos abordados considerando-se a
energia radiante com uma onda. Por outro lado, absorção e emissão de energia são
analisados sob o enfoque corpuscular. Nesse sentido, Einstein, ao explicar o efeito
fotoelétrico, estabeleceu que a radiação eletromagnética comporta-se como se
consistisse de uma coleção de fótons. Em outras palavras, a energia radiante transfere-se
de um corpo para outro em quantidades fixas, por meio de pulsos (Novo, 1992). A
energia W de cada fóton é denominada quantum. O quantum W de energia radiante de
freqüência f é dado pela Equação 2.1.
W = hf ( Equação de Planck) (2.1)
onde:
h - é constante de Planck (6,626 x 10-34 Joule x segundo );
f - é freqüência (Hertz).

18
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Cabe ressaltar que todo objeto com uma temperatura acima do zero absoluto
emite energia eletromagnética. Com o objetivo de melhor descrever as características
radiativas dos objetos, introduziu-se o conceito de corpo negro. Corpo negro é definido
como um objeto que irradia energia a uma taxa máxima, por unidade de área e
comprimento de onda, em uma dada temperatura. Assim, emite toda energia que possui,
com emissividade igual a 1 para todos os comprimentos de onda, e absorve toda energia
incidente.
Entre as leis da radiação, cabe destacar as leis de Planck, Stefan-Boltzmann,
Wien, Kirchhoff, Lambert, Beer-Bouguer-Lambert, sinteticamente apresentadas a
seguir.
A intensidade de radiação monocromática é relacionada com o comprimento de
onda e a temperatura do emissor através da lei de Planck como (Kidder et al., 1995):

Mλ = 2hc2
λ5 (ehc/kλT – 1) (2.2)

onde
Mλ - energia radiante espectral emitida em W m-2 sr-1 µm-1;
h - constante de Planck = 6.6262 x 10-34 Ws2 ;
c -velocidade da luz = 3 x 108 ms-1 ;
k - constante de Boltzman =1,38054 x 10-23 J °K-1;
T - temperatura absoluta do corpo negro (ºK);
λ - comprimento de onda em metros.
Já a lei de Stefan-Boltzmann é obtida através da integração da função de Plank
sobre todos os comprimentos de onda. Conforme Kidder et al.(1995), a emitância por
um corpo negro é dada por

F= ∫ Fλdλ = σT 4 (2.3)
0

onde
σ- é a constante de Stefan-Boltzmann;
Fλ- densidade de escoamento monocromática (W m-2 µm-1)=
5,67x10-12W.cm-2.ºK-4;

19
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

λ- comprimento de onda (µm);


T- temperatura absoluta (ºK).

Igualando a zero, o resultado da diferenciação da função de Planck em relação


ao comprimento de onda, obtém-se a lei de Wien. Assim, tem-se (Kidder et al., 1995):
λmáx = C/T (2.4)
onde
λmáx: comprimento de onda de máxima emissão (µm);
C :2898 (ºKµm);
T :temperatura (ºK).
Essa lei determina o comprimento de onda de maior emissão de radiação por um
corpo negro. O pico da radiação emitida por um corpo desloca-se na direção dos
menores comprimentos de onda com o aumento da temperatura desse corpo. Essa lei
mostra que o comprimento de onda da máxima emissão de um corpo negro é
inversamente proporcional a temperatura (Kidder et al., 1995).
Com relação à lei de Kirchhoff, para um dado comprimento de onda, a
emissividade monocromática de um meio é igual a absortividade monocromática desse
meio no caso de um equilíbrio termodinâmico. Emissividade é a razão entre a
emitância desse corpo e a correspondente emitância de um corpo negro, enquanto
absortividade é a razão entre a quantidade de energia radiante absorvida e o total
incidente. No caso de um corpo negro a emissividade e a absortividade são máximas
(igual a 1), enquanto, em superfícies reais, esses valores são inferiores a 1.
A lei de Lambert diz que a radiação incidente sobre uma determinada superfície
é função do produto da radiação na superfície normal aos raios incidentes e o cosseno
do ângulo de incidência desses raios.
Finalmente, a lei de Beer-Bouguer-Lambert descreve um processo de atenuação
exponencial sofrido por um feixe monocromático de radiação ao atravessar um meio
homogêneo.

2.4 Satélites Ambientais

20
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

A palavra satélite, em um dos seus significados básicos, é definida como um


pequeno corpo girando em torno de um corpo maior. As aplicações de técnicas espaciais
no estudo da Terra, juntamente com o avanço teórico e da tecnologia computacional,
têm conduzido a um maior conhecimento dos três principais componentes do globo
terrestre, terra, atmosfera e oceanos, assim como as áreas interdisciplinares do clima, de
ciclos biogeoquímicos e ciclos hidrológicos. Existe, por parte da comunidade científica,
uma crescente ênfase na necessidade de se estudar a terra como um sistema global e a
interação entre seus três principais componentes.
Hoje, o estudo de nosso planeta, que inclui estudos da terra, oceanos, atmosfera
e suas interações, está avançando através das contínuas observações regionais e globais,
provenientes do sensoriamento remoto por satélites.
Atualmente, estão disponíveis dados ambientais de diversos sistemas de
satélites, tais como o SPOT (satélite francês), ERS (satélite europeu), Landsat (série
americano) e Radarsat (satélite canadense), entre outros. Neste capítulo, face ao objetivo
deste trabalho, são descritas as principais características dos satélites ambientais
utilizados, que são os sistemas Landsat e Radarsat.

2.4.1 Sistema Landsat5-TM

A série de satélites dedicada ao sensoriamento remoto dos recursos terrestres


teve início a partir de maio de 1972 e tem, como missão, controlar e conservar os
recursos naturais da Terra (Figura 2.3). A Tabela 2.1 apresenta o histórico do sistema
Landsat.

21
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Figura 2.3 - Satélite Landsat5-TM (fonte: anônima)

O sistema Landsat5-TM compõe-se de uma série de satélites lançados em


intervalos médios de 3 a 4 anos. Esse sistema foi desenvolvido pela Agência Espacial
Americana (NASA), objetivando adquirir dados espaciais, espectrais e temporais sobre
a superfície terrestre de forma repetitiva a cada 16 dias.
Inicialmente, os satélites da série Landsat 1, 2 e 3 foram denominados de “Earths
Resources Technology Satellites” (ERTS), operando com dois tipos de imageadores:
câmeras de vídeo (“Return Beam Vidicon Cameras”- RBVC), similar a uma câmera de
TV e que permitia o registro instantâneo de uma cena; dispositivo matricial
multiespectral (“Multiple Spectral Scanner” - MSS) contendo 5 bandas espectrais,
sendo 2 (duas) no espectro visível, 2 (duas no espectro infravermelho próximo e 1
(uma) no termal, isto é, 0.5-0.6µm; 0.6-0.7µm; 0.7-0.8µm; 0.8-1.1µm; 10.4-12.6µm,
respectivamente. Esses sensores cobriam 161 milhões de quilômetros quadrados de
terreno a cada semana, imageando linhas do terreno numa faixa de 185 Km,
perpendicular à orbita do satélite. Em particular cada cena do MSS cobre uma área de
aproximadamente 34.000 km² da superfície terrestre. A sua resolução espacial, isto é,
sua capacidade de distinguir ou captar objetos na superfície terrestre, ou ainda, o
tamanho do píxel era de aproximadamente 80m x 80m.
A partir do Landsat 4, o instrumento RBV foi substituído pelo sensor de
mapeamento temático (“Thematic Mapper” -TM). Os satélites Landsat 4 e 5 passaram a
operar com imagedores TM, atuando em sete bandas espectrais. Além dessa vantagem,
22
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

com número superior de bandas espectrais, a resolução espacial obtida pelo sensor TM é
superior de 30 m x 30 m (Campbell 1987; Novo, 1988). A Tabela 2.2 apresenta as
características espectrais do TM a bordo do Landsat-5, satélite este que forneceu dados
utilizados neste estudo.

Tabela 2.1 - Histórico do sistema Landsat e algumas características dos instrumentos


(fonte: Novo, 1988)
Satélite Lançamento Instrumentos Resolução Altitude Repetição
(Inoperância) (metros2) (dias)
LANDSAT 1 23/07/72 RBV/MSS 80/80 917 18
(06/01/78)
LANDSAT 2 22/01/75 RBV/MSS 80/80 917 18
(25/02/82)
LANDSAT 3 05/03/78 RBV/MSS 30/80 917 18
(31/03/83)
LANDSAT 4 16/07/82 MSS/TM 80/30 705 16
(09/93)
LANDSAT 5 01/03/84 MSS/TM 80/30 705 16
LANDSAT 6 05/10/93 ETM 15 (pan*) 705 16
(05/10/93) 30 (ms**)
LANDSAT 7 12/98 ETM 15 (pan*) 705 16
30 (ms**)
* pancromática; ** multiespectral
O Landsat5-TM foi lançado em uma órbita de 705 km de altitude, buscando
suprir as deficiências do Landsat4 -TM, que apresentou defeitos na transmissão dos
dados do sensor TM. O Landsat5-TM representou um maior avanço no
desenvolvimento de sistemas orbitais de coletas e processamento de dados, altamente
automatizados da superfície terrestre. Todo o sistema é mais complexo que os lançados
anteriormente, considerando-se as mudanças ocorridas na configuração externa do
satélite, incluindo as formas de retransmissão de dados, comunicação e controle de
órbita (Campbell, 1987). O sensor TM passa sobre o mesmo ponto da superfície
terrestre a cada 16 dias, registrando sete imagens (cada uma correspondendo a uma
banda espectral diferente: três na faixa do visível, duas no infravermelho próximo e
duas na faixa do infravermelho médio.
Tabela 2.2 - Características espectrais e aplicações do Landsat5-TM (fonte: Inpe, 1997)
Intervalo espectral Principais características e aplicações das bandas TM do satélite
Banda
(µm) LANDSAT-5
Apresenta grande penetração em corpos de água, com elevada
1 (0,45 – 0,52)
transparência, permitindo estudos batimétricos. Sofre absorção pela

23
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Intervalo espectral Principais características e aplicações das bandas TM do satélite


Banda
(µm) LANDSAT-5
clorofila e pigmentos fotossintéticos auxiliares (carotenóides). Apresenta
sensibilidade a plumas de fumaça oriundas de queimadas ou atividade
industrial. Pode apresentar atenuação pela atmosfera.
Apresenta grande sensibilidade à presença de sedimentos em suspensão,
2 (0,52 – 0,60) possibilitando sua análise em termos de quantidade e qualidade. Boa
penetração em corpos de água.
A vegetação verde, densa e uniforme, apresenta grande absorção, ficando
escura, permitindo bom contraste entre as áreas ocupadas com vegetação
(ex.: solo exposto, estradas e áreas urbanas). Apresenta bom contraste
entre diferentes tipos de cobertura vegetal (ex.: campo, cerrado e
floresta). Permite análise da vanação litológica em regiões com pouca
3 (0,63 – 0,69)
cobertura vegetal. Permite o mapeamento da drenagem através da
visualização da mata galeria e entalhe dos cursos dos rios em regiões com
pouca cobertura vegetal. É a banda mais utilizada para delimitar a
mancha urbana, incluindo identificação de novos loteamentos. Permite a
identificação de áreas agrícolas.
Os corpos de água absorvem muita energia nesta banda e ficam escuros,
permitindo o mapeamento da rede de drenagem e delineamento de corpos
de água. A vegetação verde, densa e uniforme, reflete muita energia nesta
banda, aparecendo bem clara nas imagens. Apresenta sensibilidade à
rugosidade da copa das florestas (dossel florestal). Apresenta
sensibilidade à morfologia do terreno, permitindo a obtenção de
4 (0,76 – 0,90)
informações sobre Geomorfologia, Solos e Geologia. Serve para análise e
mapeamento de feições geológicas e estruturais. Serve para separar e
mapear áreas ocupadas com pinus e eucalipto. Serve para mapear áreas
ocupadas com vegetação que foram queimadas. Permite a visualização de
áreas ocupadas com macrófitas aquáticas (ex.: aguapé). Permite a
identificação de áreas agrícolas.
Apresenta sensibilidade ao teor de umidade das plantas, servindo para
observar estresse na vegetação, causado por desequilíbrio hídrico. Esta
5 (1,55 – 1,75)
banda sofre perturbações em caso de ocorrer excesso de chuva antes da
obtenção da cena pelo satélite.
Apresenta sensibilidade aos fenômenos relativos aos contrastes térmicos,
6 (10,4 – 12,5) servindo para detectar propriedades termais de rochas, solos, vegetação e
água.
Apresenta sensibilidade à morfologia do terreno, permitindo obter
informações sobre Geomorfologia, Solos e Geologia. Esta banda serve
7 (2,08 – 2,35)
para identificar minerais com íons hidroxilas. Potencialmente favorável à
discriminação de produtos de alteração hidrotermal.

Os intervalos de comprimentos de onda de cada banda e suas aplicações


potenciais cobrem uma faixa no terreno de 185 km. Em seis dessas imagens (bandas 1,
2, 3, 4, 5 e 7), o píxel corresponde a 30 m x 30 m. A resposta espectral de cada elemento
do terreno é registrada a bordo pelos detectores em valores de cinza que variam de zero
(equivalente ao preto ou refletividade mínima) a 255 (branco ou refletividade máxima).

24
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

O Landsat6-TM foi lançado em 1993 sem sucesso, pois apresentou problemas


operacionais. No sentido de solucionar a falta de dados confiáveis, a NASA lançou, em
1998, o Landsat7-ETM+.
Por ser o Landsat7 o mais recente satélite em operação, ressalta-se aqui algumas
características resumidas. Lançado em abril de 1999, com um novo sensor a bordo
denominado ETM+ ("Enhanced Thematic Mapper Plus"). Sua vida útil está prevista
para ser superior a 5 anos em órbita.
Uma imagem Landsat7-ETM+ é composta por 8 bandas espectrais, onde a oitava
banda refere-se à banda pancromática com resolução espacial de 15 m.Cabe ainda
destacar que a banda termal (banda 6) é gerada com ganho baixo (canal 6L) e ganho alto
(canal 6 H). Isso permite várias opções de análise e aplicações, tais como a medição
relativa de temperatura radiante ou o cálculo de temperatura absoluta.

2.5.2 Sistema RADARSAT

O radar é um sistema de medição com princípio eletromagnético para detecção e


localização de objetos (Battan, 1993). Teve seu desenvolvimento durante a Segunda
Guerra Mundial com o objetivo de detectar aviões. Com o passar do tempo, o
aperfeiçoamento do seu sistema vem tornando possível, cada vez mais, a sua aplicação
em outras áreas da ciência.
Entre as vantagens de se utilizar imageadores de radar (Radarsat),
complementarmente às imagens do tipo Landsat, destaca-se, sob o aspecto operacional,
a capacidade das microondas penetrarem as nuvens e a chuva. Radares operando em
comprimentos de onda maiores do que 2 cm não são significativamente afetados por
nuvens, enquanto a chuva torna-se um fator importante em sistemas de imageamento
que trabalhem em comprimentos de ondas menores do que 4 cm (Ulaby et al., 1986).
Microondas têm também a habilidade de penetrar a superfície terrestre, como,
por exemplo, as copas das árvores, mais profundamente do que ondas na faixa do
visível e do infravermelho. Contudo, há alguns fatores limitantes a considerar como a
umidade e a densidade da vegetação.

25
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Antes do desenvolvimento do imageamento por satélites, nos anos 60, o radar


meteorológico (Figura 2.4) era a principal fonte de detalhamento dos dados de estrutura
e comportamento de sistemas meteorológicos de meso-escala (Fattorelli et al., 1995). A
maior vantagem do uso do radar para a medida de precipitação é a cobertura que ele
proporciona numa grande área com alta resolução espacial e temporal. Atualmente, o
radar pode oferecer estimativas de chuva em intervalos de 5 minutos e com resolução
espacial de até 500 m (Fattorelli et al, 1995). A cobertura espacial dos índices de chuva
implica uma melhor definição das previsões e dos alertas específicos de vazão e
também permite a ampliação do prazo de previsão de fluxos de água em bacias
hidrográficas sob a região de abrangência do radar onde se aproximem ou sejam
detectadas potenciais tempestades (Browning e Collier, 1989). Isso também significa
alertas com maior antecedência, já que os dados de chuva estão disponíveis para uma
grande área, de modo que, em muitos casos, são mais eficientes do que dados referentes
à rede de telepluviômetros em operação (Collier et al. 1983).
Existem, no entanto, problemas com a correta medida da refletividade do radar e
com os procedimentos de calibração que são necessários para transformar as medidas de
ecos de chuva do radar em índices de chuva. A combinação dessas e várias outras
fontes de erros (Austin, 1987) leva a problemas bastante complexos, que envolvem
inúmeras situações operacionais.
A obtenção de dados de toda a extensão de um país ou continente requer uma
rede de radares, além de capacidade de intercomunicação e processamento dos dados,
para se analisar em conjunto os dados de diferentes locais. Entretanto, há algumas
aplicações hidrológicas e meteorológicas que requerem medidas de precipitação de
grandes áreas que somente poderiam ser perfeitamente cobertas com a associação de
imagens de satélite aos dados dos radares.
Observações de satélites são disponíveis em escalas continentais e até hemisféricas.
Possuem uma resolução temporal de 30 min e resolução espacial de 4 a 8 km no
espectro infravermelho e de até 1 km na faixa do visível (Clark,1983). Como essas
medições são freqüentes, é possível obter informações como características das nuvens
potencialmente precipitáveis e mudanças ocorridas na área e formato das nuvens. Com
isso, a estimativa da chuva pode ser realizada relacionando essas características com
26
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

índices reais de chuva ou com sua acumulação em um certo período (Fattorelli et al.,
1995). A Tabela 2.3 apresenta as bandas de radar mais utilizadas em meteorologia, onde
a nomenclatura de diferentes faixas do espectro através de letras funcionavam como
códigos para evitar que se soubesse os comprimentos de onda efetivamente utilizados.

Fonte: Pessoa,1993

Figura 2.4 - Esquema básico de funcionamento de um radar convencional

Tabela 2.3 - Bandas de freqüência mais utilizadas em radares (Ulaby et al., 1986).
Banda Freqüência Comp. de onda (cm)
(GHz)
K 30,0 1,0
X 10,0 3,0
C 6,0 5,0
S 3,0 10,0
L 1,5 20,0

Diferentemente do radar meteorológico, os satélites de sensoriamento remoto em


órbita sobre a Terra usam diferentes caminhos e diferentes altitudes, dependendo do
objetivo. De forma geral, o caminho de órbita pode ser do tipo equatorial e polar. A
órbita polar são ideais para observação da Terra, porque permite a quase completa
observação do globo terrestre em 24 horas. A órbita do Radarsat é de aproximadamente
27
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

800 km e quase-polar (inclinada de 98,6°) heliossincronizada. Esta última característica


faz com que o satélite raramente esteja em situação de eclipse e, assim, o mesmo possui
a capacidade de imageamento de 28 minutos a cada órbita. Uma revolução em torno da
terra é cerca de 100,7 minutos repetido o ciclo para um dado ponto do Equador a cada
24 dias.
Distintamente dos sensores passivos (por exemplo, o sensor TM a bordo dos
satélites da série Landsat) em que a energia solar é a fonte de radiação eletromagnética,
o radar é um sistema ativo, isto é, pode gerar sua própria energia e portanto pode operar
continuamente durante o dia ou a noite.
O radar usa a região de microondas do espectro eletromagnético. A energia
microonda possui um comprimento de onda maior que as porções visível e
infravermelho do espectro eletromagnético. Essa característica da energia microonda
permite a penetração da onda na atmosfera sem atenuação, isto é, sem espalhamento e
absorção significativa da energia por parte dos constituintes da atmosfera e até mesmo
por cobertura de nuvens, névoa (seca ou úmida) e chuva (dependendo da intensidade).
Os principais sistema de radar operam com comprimento de entre 0,5 cm e 50,0 cm.
Quanto maior é o comprimento de onda, maior é capacidade de penetração na atmosfera
ou precipitação (chuva). Com o propósito de evitar tais problemas, o Radarsat foi
configurado para operar com comprimento de onda de 5,6 cm, que é denominado banda
C, com polarização do campo elétrico HH (polarização horizontal na emissão e na
recepção).
O projeto Radarsat foi implementado pela Agência Espacial Canadense, com o
objetivo de obter imagens de radar de todo o planeta e fornecê-las aos usuários em
geral. Para isso, lançou-se o Radarsat-1, em dezembro de 1995, com o auxílio da
NASA. Esse satélite é munido de um radar de abertura sintética (SAR) operando na
banda C, mas apto a operar numa grande variedade de configurações em termo de
resolução espacial.
Devido a um sofisticado sistema de captação de energia solar (órbita
heliossincronizada), o satélite consegue imagear até 28 minutos por órbita. Os dados são
enviados às estações terrestres em tempo real ou, estando o satélite Radarsat em posição
desfavorável, armazenados em dois gravadores de bordo. De uma ou de outra forma, há
28
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

a possibilidade dos usuários obterem a imagem apenas algumas horas depois de


captadas. O Radarsat descreve uma órbita heliossincrônica a uma altitude de 792 km,
com um período de revista de 28 dias. A largura da faixa varia de 50 km a 500km, com
resoluções de 10 metros a 100metros. A Tabela 2.4 apresenta as características de
imageamento do Radarsat em contraste com as características do sistema Landsat.
Tabela 2.4 - Características dos satélites Landsat e Radarsat
Radarsat versus Landsat (fonte: Inpe, 1998)
LANDSAT RADARSAT
Resolução espacial: Resolução Espacial:
30m2 – multiespectral Entre 10m2 e 100m2 de acordo com modo de
15m2 – pancromático imageamento
Sensores passivos que captam o reflexo da Sensor ativo (SAR) que capta o
energia emitida pelo sol (bandas visível) e retroespalhamento (ou retorno) da energia
energia emitida (bandas infravermelho) pelo (bandaC, polarização HH, comprimento de
sistema terra-atmosfera onda de 5.6 cm) sobre o alvo.
Incapaz de imageamento com cobertura de Capacidade de imageamento com cobertura
nuvens de nuvens
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1998).

2.5 Classificação de imagens

Classificar é o processo de extração de informação em imagens para reconhecer


padrões e objetos homogêneos e são utilizados em sensoriamento remoto para mapear
áreas da superfície terrestre que correspondem aos temas de interesse. A essência dessa
metodologia consiste de (Swain e Davis, 1978):
• as classes de interesse são caracterizadas através dos dados que são
representativos das classes;
• o restante da imagem é classificado por meio de regras estatísticas que
utilizam a caracterização das classes.
A informação espectral de uma cena pode ser representada por uma imagem
espectral, na qual cada píxel tem coordenadas espaciais x, y, com uma assinatura
espectral L, que representa a radiância do alvo em todas as bandas espectrais. Para uma
29
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

imagem de K bandas, há K níveis de cinza associados a cada píxel, sendo um para cada
banda espectral. As características do píxel são denominadas atributos espectrais.
O conceito de espaço de atributos é essencial para se entender como funciona a
classificação de imagens multiespectrais. A Figura 2.5 mostra um gráfico de espaço de
atributos, para o caso de uma imagem com apenas duas bandas espectrais. Nesse
espaço, encontram-se plotados 1 píxel de três diferentes tipos de materiais superficiais,
denominados A, B e C. Se apenas a banda 1 for considerada, é fácil notar que os
materiais B e C não poderiam ser separados, pois ambos apresentam um número digital
DN de aproximadamente 200. Porém, ao se considerar as bandas 1 e 2, esses três
materiais superficiais teriam posições distintas no espaço de atributos, que seriam
características, servindo, portanto, para distingui-los e identificá-los dos demais
(Crósta, 1992).

DN 25
BANDA 2
20 C
15 B
10 A
50 BANDA 1
0
0 50 10 15 20 25
TONS DE CINZA (DN)

Figura 2.5- Gráfico de espaço de atributos para o caso de uma imagem com apenas duas
bandas espectrais (fonte: Duda e Hart, 1973).

Os classificadores podem ser divididos em classificadores píxel a píxel e


classificadores por regiões:
• classificadores píxel a píxel utilizam apenas a informação espectral da cada
píxel para achar regiões homogêneas; esses classificadores podem ser
separados em métodos estatísticos (utilizando regras de teoria da
probabilidade) e determinísticos (não utilizam probabilidade);
• classificadores por regiões utilizam, além da informação espectral de cada
píxel, a informação espacial que caracteriza a relação com seus vizinhos;
procuram simular o comportamento de um foto-intérprete, reconhecendo

30
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

áreas homogêneas de imagens, baseados nas propriedades espectrais e


espaciais de imagens; a informação de borda é utilizada inicialmente para
separar regiões e as propriedades espaciais e espectrais para unir áreas com
mesma textura.
O resultado da classificação digital é apresentado por meio de classes espectrais
(áreas que possuem características espectrais semelhantes), uma vez que um alvo
dificilmente é caracterizado por uma única assinatura espectral. É constituído por um
mapa de píxeis classificados, representados por símbolos gráficos ou cores, ou seja, o
processo de classificação digital transforma um grande número de níveis de cinza em
cada banda espectral em um pequeno número de classes definidas em uma única
imagem (Richards, 1986; Crósta, 1992).

Métodos de classificação de imagens.

Pode-se enquadrar os métodos de classificação em dois grandes grupos:


classificação não supervisionada e supervisionada. A seguir, faz-se a distinção entre
esses grupos.

Classificação não supervisionada

É um processo onde operações numéricas são conduzidas para procurar


grupamentos naturais de propriedades espectrais dos píxeis (classes). A classificação
não supervisionada parte do princípio de que o código computacional empregado é
capaz de identificar, através de uma função de classificação, as classes dentro de um
conjunto de dados.
O primeiro passo na análise não-supervisionada é a realização de uma análise de
agrupamento. Através dessa análise, as nuvens de dados são identificadas no espaço de
atributos. Feita essa análise, é possível estabelecer, através de uma função de
classificação, quais concentrações (nuvens) devem ser tratadas com grupos separados,
ou seja, o possível número de classes que podem ser identificados na imagem.

31
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Classificação Supervisionada

A classificação é dita supervisionada quando a identidade e a localização dos


alvos/tipos da cobertura terrestre são conhecidos a priori, através de trabalhos de
campo, análise de fotografias áreas, mapas, entre outros. As áreas da imagem na qual o
usuário conhece a verdade terrestre são identificadas como áreas de treinamento, tendo
em vista que o uso das características espectrais dessas áreas servem para treinar
diferentes algoritmos classificatórios, que envolvem cálculos de estatísticas
multivariadas com parâmetros como média, desvio padrão, matriz de covariância,
matriz de correlação, entre outros.
O procedimento de classificação supervisionada em imagens é freqüentemente
utilizado no tratamento de imagens orbitais obtidas por sensores multiespectrais. Esse
procedimento consiste basicamente em dividir os vários pontos da imagem em grupos
ou classes, de forma que os pontos de uma dada classe tenham características espectrais
similares. O critério de similaridade a ser adotado definirá o tipo de classificador a ser
empregado.
Os vários métodos de classificação podem ser, de forma geral, separados em
dois grandes grupos: aqueles que utilizam critérios geométricos e aqueles que utilizam
critérios estatísticos. No primeiro grupo, cada ponto da imagem é classificado segundo
sua distância dos demais pontos no espaço de atributos. Apesar de eficientes sob o
ponto de vista computacional, tais métodos produzem erros tanto de excesso como de
omissão. Por outro lado, os métodos estatísticos, apesar de mais custosos
computacionalmente, produzem resultados mais confiáveis (Richards, 1986; Crósta,
1992).
Na maioria das situações reais detectadas em imagens de sensoriamento remoto,
o número digital (DN) dos píxeis representará, na verdade, uma mistura de mais de um
tipo de superfície. Isso ocorre porque, em uma área de 30 m x 30 m ou de 80 m x 80 m,
equivalentes aos píxeis do TM e do MSS respectivamente, é bastante provável que mais
de um tipo ocorra. Nesse caso, como um píxel contendo 40% de pastagem e 60% de
mata deveria ser classificado? O número digital de um píxel desse tipo representará, de
fato, uma mistura da resposta espectral da pastagem com a mata. Uma solução é atribuir
32
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

cada píxel a uma ou outra classe dependendo de qual classe ele está mais próximo. Essa
questão da proximidade ou similaridade permeará a discussão dos métodos de
classificação supervisionada. Através do procedimento de classificação supervisionada,
o usuário identifica alguns dos píxeis pertencentes às classes desejadas e submete ao
algoritmo computacional, definido segundo alguma regra estatística pré-estabelecida, a
tarefa de classificar todos os demais píxeis.
Pode-se considerar a questão da proximidade entre classes com base em
estatísticas dos dados. Uma forma de definir cada classe é calcular a média estatística
para cada classe em cada banda espectral. Um método de classificar que considera,
como métrica para o cálculo das distâncias de um píxel às diferentes classes, médias
espectrais por banda e matriz de covariância espectral das bandas selecionadas é o
método da máxima verossimilhança.
Para que a classificação por máxima verossimilhança seja precisa, é necessário
um número razoavelmente elevado de píxeis para cada conjunto de áreas de treinamento
ou interesse, número esse preferencialmente acima de uma centena (Campbell, 1987).
Esse número permite uma base segura para tratamento estatístico. Devido a esse número
alto de píxeis, não é possível representá-los graficamente de maneira individualizada.
Utiliza-se, nesse caso, isolinhas ou curvas de contorno no espaço de atributos,
representando a função densidade de probabilidade de píxeis correspondentes às áreas
de treinamento para cada classe. Na realidade, os contornos representam um ajuste
baseado em distribuições normais ou gaussianas dos píxeis das áreas de treinamento. Do
contrário, os contornos seriam totalmente irregulares, o que não seria desejável devido à
dificuldade de computá-los. Ressalta-se que, devido a esse ajuste, os contornos são
simétricos ao redor da média e sua forma será circular se os desvios-padrão nas duas
bandas forem os mesmos, ou elíptica se os desvios-padrão forem diferentes. Esses
mesmo conceitos podem ser estendidos para mais do que duas dimensões, o que é
freqüente em imagens de sensoriamento remoto, sendo que, nesse caso, os contornos
tornam-se elipsóides em três dimensões.
Essas probabilidades representam uma ferramenta de classificação poderosa e
flexível, através da qual pode-se escolher, por exemplo, classificar apenas os píxeis
desconhecidos que estão bastante próximos à média de uma classe. Por outro lado,
33
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

pode-se julgar necessário classificar os píxeis desconhecidos que se situam a qualquer


distância da média, dentro da área definida pelo conjunto de treinamento. Nesse caso,
escolher-se-ia , como limite de decisão, o contorno que engloba, por exemplo, 99% dos
píxeis da área de treinamento. Descartando-se os restantes 1%, pode-se compensar, por
exemplo, a possibilidade de que alguns dos píxeis da área de treinamento sejam
incluídos por engano, podendo representar ruído ou píxel situado no limite entre dois
tipos de cobertura. Usando esses conceitos, pode-se classificar todos os píxeis de uma
imagem como pertencentes às classes pré-definidas. A Figura 2.6 exemplifica como os
contornos de probabilidade podem ser estendidos de forma a cobrir todos os píxeis da
imagem.

BANDA 2

BANDA 1

Figura 2.6 - As curvas de probabilidade das classes A, B e C são estendidas para


probabilidades menores; os números atribuídos a cada contorno representam a
probabilidade, em porcentagem, de um píxel desconhecido pertencer a uma dada classe,
com base nos parâmetros estatísticos das áreas de treinamento (fonte: Duda e Hart,
1973).
Na Figura 2.6, observa-se que os píxeis graficamente localizados nos pontos 1 e
2 são ambos atribuídos à classe A. O píxel 2 situa-se mais próximo, em distância
absoluta, da classe B. Pelo método da máxima verossimilhança, ao se ponderar essa
distância pelo desvio-padrão das classes A e B, esse píxel possui 0,1% de probabilidade
de pertencer à classe A e 0% de pertencer à classe B. Quanto ao píxel 3, ele situa-se

34
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

dentro das classes B e C, mas com uma probabilidade de 10% de pertencer à classe C
contra 0,1% de pertencer à classe B, sendo portanto atribuído à classe C.
A decisão de atribuir o píxel 3 à classe C exemplifica um outro conceito
importante na classificação pelo método da máxima verossimilhança, que é a definição
dos limites de decisão entre classes contíguas. Esses limites são traçados a partir dos
pontos onde contornos de igual probabilidade entre duas classes contíguas se cruzam,
como mostrado na Figura 2.7.
BANDA 2

BANDA

Figura 2.7 - Limites de decisão (representados pelas linhas espessas)


superpostos; esses limites são traçados a partir dos pontos de igual probabilidade para
duas ou mais classes (fonte: Duda e Hart, 1973).
Nesta dissertação, trabalhou-se com 10 classes, de tal forma que o espaço de
atributos encontrado estava repleto de nuvens de píxel, lembrando que, mesmo as áreas
de treinamentos, apresentem, muitas vezes, recobrimento. A Figura 2.8 mostra como é
traçado o limite de decisão no método da máxima verossimilhança.

Porcentagem de píxeis

limite de decisão

Classe 1 Classe 2

Tons de cinza (DN)

35
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Figura 2.8 - Duas distribuições normais representando os dados de duas áreas de


treinamento contendo píxeis com intervalos de variação dos números digitais
superpostos; o limite de decisão é colocado no ponto em que as duas distribuições se
cruzam, de tal forma que um píxel desconhecido, nessa posição, teria a mesma
probabilidade de pertencer a ambas as classes (fonte: Duda e Hart, 1973).
É importante ressaltar que mesmo o método de máxima verossimilhança é
passível de imprecisões. A metodologia da máxima verossimilhança procura manter a
porcentagem dos píxeis classificados erroneamente a mais baixa possível (Richards,
1986; Crósta, 1992).

Interpretação e Seleção de Medidas de Classificação

Uma avaliação detalhada e precisa da cobertura terrestre construída a partir dos


dados de sensoriamento remoto oferece uma melhor qualidade na utilização dos mapas.
A avaliação e abordagem mais precisas geralmente são executadas através de uma
seleção de amostras de referências locais ou áreas de treinamento para validação,
comparando-se a classificação dessas referências locais com as classificações obtidas a
partir dos mapas de cobertura terrestre. A amostra de referência deve ser selecionada
independentemente dos dados utilizados ou áreas de treinamento de calibração do
procedimento de classificação. Os dados relativos a áreas de treinamento de calibração e
validação são resumidos na matriz de erros (Stehman e Czaplewsky, 1998; Edwards et
al., 1998).
Não se tem chegado a um consenso sobre que medidas seriam mais apropriadas
para uma avaliação precisa e detalhada, apesar de a estatística kappa ser a mais indicada
(Rosenfield e Fitzpatrick-Lins, 1986). O coeficiente kappa é uma medida de
concordância entre as amostras da cena e aquelas derivadas através da classificação da
imagem de sensoriamento remoto. Essa medida leva em conta todos os elementos da
matriz de erros e exclui a concordância que ocorre por acaso.

2.6 Análise de textura

36
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Feições espectrais, texturais, temporais e contextuais são os quatro elementos


importantes de padrões usados na interpretação visual de imagens de radar. Feições
espectrais descrevem as variações tonais médias banda a banda em uma imagem
multiespectral, enquanto que feições texturais descrevem a distribuição espacial dos
valores tonais em uma banda. Feições contextuais contêm informações sobre o arranjo
relativo de segmentos pertencentes a diferentes categorias e feições temporais
descrevem mudanças nos atributos da imagem em função do tempo (Ulaby et al., 1986).
No processo de classificação, o conteúdo de informação em uma imagem digital
é expresso através da intensidade ou número digital de cada píxel e pelo arranjo espacial
dos píxeis (textura, forma e contexto) na imagem (Lee e Philpot, 1991).
Tradicionalmente, o nível de cinza (intensidade espectral) tem sido o elemento mais
enfocado na análise de imagens e na extração de informações em estudos de
sensoriamento remoto.
Nesta dissertação, no entanto, a análise de textura será também avaliada em sua
contribuição na área de extração de informações a partir de imagens de sensoriamento
remoto. A presente pesquisa trata do mapeamento da cobertura e uso do solo de uma
bacia hidrográfica através da classificação de imagens Landsat e Radarsat. Explora-se
especialmente o potencial promissor de aplicação da textura em diferentes faixas do
espectro eletromagnético, como é caso da imagem Landsat5-TM (visível e
infravermelho) e Radarsat adquirida na faixa de microondas (banda C, polarização HH).
A textura é definida como uma combinação entre magnitude e freqüência da
variação tonal em uma imagem, sendo esta produzida pelo efeito conjunto de todas as
pequenas feições que compõem uma área particular na imagem Embora possam ser
consideradas como propriedades independentes, tonalidade e textura, na realidade,
possuem relações íntimas. Sem variações em tonalidade, nenhuma mudança em textura
pode ser percebida (Crosta, 1993). A textura está, pois, intrinsecamente ligada a
tonalidade e, em determinadas circunstâncias, uma pode dominar a outra. Esta relação
pode ser entendida da seguinte forma: quando uma área pequena de uma imagem tem
pouca variação dos níveis de cinza, a propriedade dominante é a textura (Haralich et al.,
1973; Haralich, 1979).

37
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

A textura constitui uma característica importante em análises de diversos tipos


de imagens, desde aquelas obtidas de equipamentes matriciais multiespectrais através de
aeronaves ou satélites até imagens de culturas de células ou amostras de tecidos com
aplicação na área de biomédica. Embora os métodos de análise de textura sejam muito
utilizados, não há uma apresentação formal e nem uma definição precisa do termo. As
técnicas de discriminação de textura encontradas na literatura são baseadas na intuição e
percepção de cada autor (Haralich, 1979).
Na área de sensoriamento remoto, a textura é considerada um elemento
importante usado em interpretação visual de imagens. Em análises visuais, a textura
refere-se ao padrão aparente de uma determinada área, descrita pelas características lisa,
rugosa e grossa. Em análises digitais, a textura reflete o padrão espacial ou freqüência
de variação de tons em uma determinada área, produzida por uma associação de feições
pequenas demais para serem identificadas individualmente, mas que permitem a
identificação e a delimitação de áreas com propriedades superficiais (Simonett e Davis,
1983). Além disso, a textura contém informações importantes sobre o arranjo estrutural
das superfícies e o ambiente que as circunda, ou seja, a informação contextual da área
analisada (Haralich et al., 1973).
Em sendo a textura uma característica importante na interpretação visual de
imagens, sua utilização pode melhorar o desempenho de classificadores digitais,
principalmente em imagens com alta resolução espacial. No entanto, a textura de uma
imagem é difícil de ser quantificada, uma vez que não há consenso na definição desse
termo nem tampouco uma formulação matemática precisa. Ao contrário da informação
espectral, que descreve a variação do nível de cinza de um píxel, a textura contém
informação sobre a distribuição espectral dos níveis de cinza de uma região da imagem
(Ulaby et al., 1986; Ulaby et al., 1989).
Campbell (1987) refere-se à textura da imagem como a aparente aspereza ou
suavidade de uma região da imagem, usualmente resultado de uma superfície irregular
sendo iluminada a partir de um ângulo oblíquo. Essa iluminação origina regiões mais
claras e regiões mais escuras. Ainda que a textura seja reconhecida como um importante
elemento auxiliar em aerofotogrametria, o processo convencional automatizado ainda
não explorou adequadamente esse tipo de informação.
38
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Variações na topografia, rugosidade da superfície, propriedades dielétricas dos


materiais da superfície e processamento de imagens originam diferentes padrões de
textura. É bastante conhecido que as paisagens reais consistem de um conjunto de
características espectralmente diversas, tornando-se extremamente complexas na
medida que a resolução espacial aumenta. De fato, o uso de textura implica
explicitamente que as células de resolução são menores do que os elementos na cena,
uma vez que numerosas medidas são requeridas para cada elemento ou classe de forma
a se detectar mudanças texturais (Woodcock e Strahler, 1987). Quando a resolução
espacial do sensor é menor que os alvos de interesse contidos na cena, a maioria das
medidas (números digitais) da imagem são altamente correlacionadas com as de sua
vizinhança. No entanto, se o tamanho dos objetos se aproxima da resolução espacial do
sensor, há uma diminuição da semelhança entre medidas vizinhas. Quando a resolução
espacial do sensor diminui, vários objetos podem ser encontrados em um único píxel,
tornando as medidas uniformes (Woodcock e Strahler, 1987).
De forma a se extrair mais informações de imagens de sensoriamento remoto, a
classificação dessas imagens deve incluir dados que caracterizam o padrão de
comportamento espacial para cada categoria. Contudo, a maioria dos procedimentos de
classificação, particularmente em uso operacional, baseiam-se exclusivamente em
características espectrais de intensidade e são, portanto, indiferentes ao conteúdo
espacial presente na imagem. Esses tipos de classificadores por pontos não tem um bom
desempenho em ambientes onde haja um excesso de píxeis de fronteira ou onde haja
substancial superposição entre classes (Martin et al., 1988).
Martin et al. (1988) consideram que a menor área da imagem digital que compõe
uma textura distinta pode ser definida como elemento de textura. Segundo esses autores,
a textura pode ser caracterizada por três componentes: contraste local, escala e
orientação. O contraste é a diferença de tom entre áreas vizinhas escuras e claras. Áreas
com alto contraste local possuem textura rugosa, enquanto que áreas com baixo
contraste possuem textura lisa. A escala é definida pelas dimensões das áreas escuras e
claras. Quando os níveis de cinza dos píxeis variam nas proximidades, a textura é tida
como fina. Por outro lado, se os tamanhos das áreas escuras ou claras são de vários
píxeis, o contraste característico dessa área é observado somente em píxeis mais
39
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

distantes, resultando em uma textura grossa. A orientação está relacionada à disposição


da direção das áreas claras e escuras. Se essas áreas não tem uma orientação
preferencial e são equidimensionais, a textura é isotrópica. Ao contrário, se as áreas
dispõem-se de forma alongada em uma direção preferencial, a textura é anisotrópica. A
geometria da anisotropia dos elementos de uma imagem pode variar de acordo com o
arranjo da orientação. Regiões de cultivo, por exemplo, apresentam anisotropia paralela;
formações rochosas diaclasadas mostram anisotropia curvilínea.
Lira e Frulla (1998) estudaram, de forma cuidadosa, a redução de manchas nas
imagens obtidas com o uso de radar, aplicando primeiramente filtros especiais à
imagem original. Os resultados dessa filtragem foram avaliados de forma qualitativa em
toda a imagem e estimados quantitativamente nas áreas de textura e relevo.
Algoritmos texturais procuram medir a textura da imagem através da
quantificação das distintas relações espectrais e espaciais entre píxeis vizinhos. Por
exemplo, em ambientes florestais, onde a variância local é alta, medidas de textura
seriam mais válidas do que métodos do tipo ponto-a-ponto, já que incorporam a
variabilidade espacial para diferentes classes (Woodcock e Strahler, 1987). Em resposta
à necessidade de se extrair informações a partir do arranjo espacial dos dados da
imagem, vários algoritmos têm sido desenvolvidos baseados em abordagem estrutural
(Connors e Harlow, 1980 a), em padrões de freqüência espaciais (Bajcsy e Liebermann,
1976), em estatísticas de segunda-ordem (Haralick et al., 1973; Galloway, 1975;
Haralick, 1979; Sun e Wee, 1983), em espectro de texturas (Wang e He, 1990) e em
combinações de padrões de textura espectral (Lee e Philpot, 1991).
Em estudos comparando várias medidas de textura, técnicas estatísticas de
segunda ordem têm desempenho superior em relação a outros métodos em função de
melhor captar a variabilidade espacial da imagem (Haralick, 1979; Conners e Harlow,
1980b; Marceau, 1989; Gong et al., 1992; Barber et al., 1993). As abordagens
estatísticas de Haralick, Shanmugam e Dinstein (1973) e Sun e Wee (1983) fazem uso
das funções densidade de probabilidade de tons de cinza, que geralmente são calculadas
como distribuições conjuntas de probabilidade condicionada dos tons de cinza de pares
de píxeis em uma dada área da imagem.

40
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Mais especificamente, sob o aspecto metodológico, este trabalho abordará o


procedimento originalmente desenvolvido por Sun e Wee (1983), denominado método
matriz de tons de cinza vizinhos dependentes que será denominado, a partir de agora,
por simplicidade, NGLDM. O algoritmo foi implementado computacionalmente em
FORTRAN. Similarmente, será utilizado o método matriz de co-ocorrência de tons de
cinza, aqui denominado de GLCM (Envi, 2000), adotado em Haralick et al. (1973) e em
Haralick (1979).

2.6.1 Geoestatística aplicada em sensoriamento remoto

A geoestatística foi utilizada inicialmente na solução de problemas de geologia e


mineração. Trata-se da utilização de técnicas específicas, desenvolvidas na Escola de
Minas de Paris (Matheron, 1962-1963). Para tanto, o autor foi bastante auxiliado pelos
trabalhos estatísticos da escola sul-africana realizados em minas de ouro e urânio, que
forneceram uma extensa gama de conhecimentos experimentais.
A geoestatística está baseada na teoria das variáveis regionalizadas (Journel e
Huijbregts, 1978) que constituem uma função definida em um domínio do espaço. São
variáveis em que os valores estão relacionados, de alguma maneira, com a posição que
ocupam no espaço.
Mesmo tendo sua origem ligada a problemas específicos encontrados na
mineração, a geoestatística, pela generalidade de seu desenvolvimento e por lidar com
dados distribuídos espacialmente, pode ser utilizada criteriosamente na interpretação e
estudo de grande parte dos fenômenos que aparecem nos domínios das ciências da
natureza, como, por exemplo, na geologia, na geofísica, na engenharia florestal, na
cartografia e também na hidrologia.
Curran (1988) forneceu uma introdução sobre o uso de variogramas em
sensoriamento remoto e Jupp et al. (1988) consideraram as propriedades da covariância
e os efeitos da regularização em imagens modeladas pela regionalização das variáveis,
que são variáveis aleatórias em que as posições no espaço são conhecidas. Eles também
introduziram uma série de ferramentas que permitem a construção das funções de
covariância para elementos discretos. Jupp et al. (1989) aplicaram os primeiros
41
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

resultados em modelos simples de imagens e em imagens digitais deles obtidas, para


mostrar como a estrutura espacial de uma imagem depende da estrutura espacial
previamente obtida de uma cena. Woodcock et al. (1988 a, 1988 b), discutiram o uso de
variogramas para modelos simples de imagens do solo consistindo de áreas alocadas
aleatoriamente em uma área contínua. Eles também analisaram o processo de
regularização e seu efeito nos variogramas. Seus resultados indicaram relações diretas
entre diversos parâmetros da imagem e o comportamento dos variogramas. Webster et
al. (1989) discutiram diferentes estratégias de amostragem para minimizar a variância
de krigagem. Os autores queriam reduzir o número de amostras coletadas usando
imagens previamente obtidas da área a ser amostrada. Eles também discutiram o
mapeamento da radiometria do solo usando krigagem.
Atkinson et al. (1992) usaram uma abordagem de cokrigagem com a radiação do
solo (como segunda variável) para prever as seguintes variáveis primárias: GLAI
(índice de área folicular) da cevada, biomassa seca e percentagem de cobertura de trevos
na pastagem. A variável secundária usada nos três experimentos foi o índice de
vegetação normalizado NDVI [(infravermelho próximo – vermelho) / (infravermelho +
vermelho)]. O objetivo foi estabelecer uma estratégia ótima de amostragem para
alcançar a precisão desejada. De seus experimentos, os autorers concluíram que, com o
mesmo desempenho, a cokrigagem resultou em uma precisão em torno de três vezes
maior que aquela alcançada com a krigagem univariada. Além disso, os autores
sustentam que cokrigagem oferece uma técnica econômica e operacional para utilizar a
reflectância para estimar propriedades da superfície da terra. Finalmente, Atkinson et al.
(1992) estudaram o tamanho ótimo da região para pesquisas com sensoriamento remoto
considerando imagens nas faixas do visível e do infravermelho.
Muñoz Muñiz (1991), por sua vez, trata da simulação de campos aleatórios de
precipitação, empregando estruturas de correlação espacial.
Barbosa (2000) avalia a distribuição espaço-temporal da chuva através de um
referencial geoestatístico. Dados de chuva acumulada em uma hora, medidos pelo radar
meteorológico de São Paulo e pela rede telemétrica localizada na bacia do Alto Tietê,
foram submetidos a uma análise geoestatística. Foram determinados variogramas de
alguns eventos para serem investigadas as variações espaciais dos sistemas
42
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

precipitantes. Da função variograma, foram obtidos elementos que, juntamente com os


dados de chuva dos postos e do radar, foram inseridos no modelo de krigagem
bayesiana. Esse modelo geoestatístico permitiu melhores estimativas e minimização da
variância dos dados de chuva previstos inicialmente pelo radar através da relação Z-R.
Pecly (2000) adotou o referencial geoestatístico para análise de dados ambientais
referentes ao monitoramento do emissário submarino de esgotos de Ipanema, Rio de
Janeiro.
Teixeira (2001) analisou a importância de variáveis sócio-econômicas na
definição de áreas prioritárias de investimento de saneamento. O município de Niterói
foi escolhido para estudo de caso. Sob o ponto de vista metodológico, Teixeira (2001)
analisou a estrutura espacial das diversas variáveis, utilizando técnicas de geoestatística,
tais como o variograma e o covariograma. As análises indicaram a presença de
estruturas de correlação espacial.
Nasser (2001) conduziu um estudo de qualidade de água na baía de Guanabara
utilizando técnicas de sensoriamento remoto e geoestatística. Foram avaliadas as
variações espaciais de parâmetros de qualidade de água e de imagem Landsat5-TM,
destacando uma abordagem geoestatística através da construção de variogramas e
covariogramas. Foi feita a modelagem da estrutura de correlação espacial presente nos
dados através do método de krigagem bayesiana.
Miranda et al. (1998) trataram o problema da classificação de imagem de radar
do tipo JERS-1 SAR através de uma abordagem textural com o uso de
semivariogramas. Os autores aplicaram o algoritmo textural desenvolvido para a região
do rio Uaupés (Brasil), conseguindo caracterizar as diferentes classes presentes na
região de estudo por meio de semivariogramas.
Carr e Miranda (1998) estabecem uma comparação entre o método de co-
ocorrência de tons de cinza (GLCM) e um método de classificação utilizando
semivariogramas. O estudo foi conduzido para diferentes tipos de imagens. Os autores
concluíram que medidas texturais obtidas através de semivariogramas forneceram uma
precisão maior do que um classificador baseado no GLCM para imagens na faixa de
microondas, enquanto, para imagens na faixa do visível e infravermelho, os resultados
foram inferiores.
43
Capítulo 2 – Considerações Teóricas

Em Abreu (2000), incorporou-se de forma preliminar o estudo de correlação


espacial na classificação de uma imagem de satélite Landsat5-TM através da construção
de alguns variogramas para algumas classes de cobertura e uso do solo. A presente
dissertação dá continuidade a esse estudo e explora, de forma ampliada, o problema da
estrutura de correlação espacial dos dados, incluindo análise de textura, tanto para uma
imagem Landsat5-TM quanto para uma imagem Radarsat.

44
Capítulo 3 – Metodologia

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA
O presente capítulo aborda o processo desenvolvido para obtenção da
classificação da cobertura do solo de uma bacia hidrográfica utilizando imagem
Landsat5-TM e imagem Radarsat. O fluxograma apresentado na Figura 3.1 fornece
inicialmente uma visão simplificada da metodologia adotada.
Imagem Landsat5-TM Imagem Radarsat
27/06/1994 23/07/1997

Georreferenciamento

Classificação

Não Supervisionada Supervisionada

Método Isodata Método Máxima


Verossimilhança

Matriz de erros Matriz de erros

Análise Geoestatística

Textura

GLCM- método matriz NGLDM - método matriz


de co-ocorrência de de tons de cinza vizinhos
tons de cinza dependentes

45
Análise comparativa entre as diversas classificações obtidas.
Figura 3.1 – Fluxograma metodológico
Capítulo 3 – Metodologia

O procedimento de classificação adotado consistiu, de forma sucinta, numa


classificação não supervisionada seguida de uma classificação supervisionada. Para a
classificação não supervisionada, foi utilizado o método denominado de isodata,
enquanto o método de máxima verossimilhança, foi empregado para a classificação
supervisionada. Esse procedimento está melhor explicitado no decorrer desse capítulo.
Adicionalmente, investigou-se o uso de um método de classificação que
explorasse, além dos tons de cinza de uma imagem de sensoriamento remoto, a estrutura
de correlação espacial presente nessa imagem. De forma a caracterizar essa estrutura de
correlação espacial, não considerada em métodos como isodata e máxima
verossimilhança, lançou-se mão de uma análise geoestatística preliminar. Mais
especificamente, alguns variogramas foram construídos para demonstrar a presença
dessa estrutura de correlação nas imagens estudadas.
Em sensoriamento remoto, o desenvolvimento de métodos que incorporem a
correlação espacial é um desafio, especialmente, na identificação da textura de imagens.
A textura, complementarmente aos tons de cinza, pode tornar o processo de
classificação digital de imagens bem mais robusto e poderoso (Li et al., 1998; Lira e
Frulla, 1998; Hudak e Wessman, 1998).
Em particular, nessa pesquisa, adotou-se, para cálculo de textura, o método
matriz de co-ocorrência de tons de cinza (GLCM) e o método matriz de tons de cinza
vizinhos dependentes que será denominado, a partir de agora, por simplicidade, de
NGLDM (Sun e Wee, 1983). Esse método é similar ao método matriz de co-ocorrência
de tons de cinza (GLCM), adotado em Haralick et al.(1973) e Haralick (1979). Contudo,
o método NGLDM considera a relação entre um píxel e seus vizinhos em um único
passo, em lugar de se considerar uma direção por vez. Essa nova abordagem elimina a
dependência angular e simplifica a implementação, além de reduzir o tempo
computacional e armazenamento necessários para o cálculo das texturas.

3.1 Processamento digital da imagem

46
Capítulo 3 – Metodologia

Nessa fase, operações como visualização de bandas individuais, composição


colorida, correção atmosférica, recorte, realce de contraste, registro da imagem e
classificações supervisionadas ou não, são utilizadas, procurando-se extrair o máximo
de informações da imagem digital. Tendo como objetivo produzir um mapa temático,
com legenda envolvendo a cobertura vegetal/uso da terra e delimitação da área urbana
de uma bacia hidrográfica, utilizou-se o sistema de tratamento de imagens ENVI-3.2
(2000).
No caso particular dessa pesquisa, não foi feita a correção atmosférica da
imagem. Os histogramas para as diferentes bandas foram elaborados e indicaram a
possibilidade de condução do presente estudo sem tal correção, exceto para a banda 6
(Landsat5-TM), que foi eliminada para efeito de classificação. Registre-se, no entanto, a
necessidade de avaliação da relevância da correção atmosférica em estudos
multitemporais como, por exemplo, detecção de mudanças na cobertura do solo de uma
bacia hidrográfica.
A metodologia adotada parte da leitura das oito bandas de uma imagem digital
(no formato do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE) dos satélites
Landsat5-TM e Radarsat, que abrangem a área de interesse. As imagens, nesse formato,
são gravadas em bandas espectrais separadamente, sendo que, nessa dissertação, foram
utilizadas as bandas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 e radar. Para otimizar o trabalho, é gerado um
único arquivo contendo todas as bandas. Nesse arquivo, são aplicadas algumas técnicas
de processamento digital da imagem. Para a leitura de cada uma das bandas originais da
imagem, são informados o número de linhas, o número de colunas e o modo de
armazenamento dos píxeis (acesso seqüencial de bandas - BSQ). Cabe salientar que a
resolução radiométrica para a imagem Landsat-TM é de 1 byte (256 níveis de cinza),
enquanto a imagem Radarsat é de 2 bytes (216 -1 níveis de cinza). A resolução espacial
para a imagem Landsat-TM é de 30 m X 30 m para as bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7, de 120 m
X 120 m para a banda 6 e de 6,25 m X 6,25 m para a imagem de radar Radarsat. A
seguir, descreve-se o procedimento utilizado para classificação levando-se em conta a
imagem Landsat5-TM. O uso e inclusão da imagem de radar no mesmo arquivo foi feito
a posteriori, levando-se em conta as características diferenciadas de resolução
radiométrica e espacial.
47
Capítulo 3 – Metodologia

O passo seguinte consiste em identificar e localizar a área específica do estudo.


Nessa etapa, estudam-se várias formas de composições, que se baseiam, essencialmente,
na associação das cores primárias - vermelho , verde e azul à combinação de três bandas
espectrais. No caso da imagem Landsat5-TM, bandas 1, 2, 3 combinação das bandas 3,
4 e 5, associadas às cores vermelha, verde e azul respectivamente, apresenta um
colorido, equivalente às cores percebidas pelo olho humano, servindo como ponto de
partida para uma primeira análise visual das diversas formas de ocupação do solo.
Várias composições são analisadas, até chegarmos a que melhor realce visualmente as
variadas formas de cobertura do solo da bacia hidrográfica.
Aplica-se, então, um recorte na imagem, abrangendo o espaço geográfico a ser
analisado, gerando assim uma nova imagem.
De posse da imagem da área de estudo, é feito o realce. Para tanto, são gerados
os histogramas referentes a cada banda da imagem. Note-se que a presença de grande
parte dos píxeis da imagem ocupando uma faixa restrita de níveis de cinza explicita a
pouca variabilidade de reflectância dos alvos contidos na cena, aspecto muito comum
em imagens desse satélite. Esse fato ressalta a necessidade de se testar, a nível
metodológico, os diferentes realces, no sentido de se optar por aquele que melhor se
adapte à cena.
Assim, faz-se o realce de forma a aumentar o contraste para cada banda,
abrangendo todo o domínio dos níveis de cinza (0-255). Esse tipo de aumento de
contraste não-linear obedece às leis gaussianas de distribuição estatística, produzindo
um histograma em que a média e o desvio padrão da distribuição são especificados e
que apresenta a forma aproximada de um sino. Sua vantagem é que a informação
contida nas extremidades do histograma é realçada. Ao se produzir composições
coloridas de 3 bandas, o uso da normalização é desejável, pois as 3 bandas poderão ter
seus histogramas com as mesmas médias e desvios-padrão, obedecendo assim um
balanceamento de cores na composição.
Procede-se, então, à correção geométrica da imagem. Esse procedimento
consiste em posicionar cada píxel da imagem em suas respectivas coordenadas UTM.
Desenvolve-se essa etapa a partir da imagem realçada, o que facilita em muito a
identificação dos pontos de controle. Esses pontos de controle são alvos de fácil
48
Capítulo 3 – Metodologia

reconhecimento, tanto na carta planimétrica quanto na imagem, representados por


cruzamento de estradas, pontes, junção de canais de rios, entre outros. A posição
geográfica desses pontos de controle identificados nas folhas topográficas e na imagem
permite que se relacione as coordenadas de cada ponto no sistema de projeção da carta
com as respectivas coluna e linha desse ponto na imagem. Esse procedimento gera um
banco de dados que servirá de base no processo de transformação das coordenadas
dessa imagem (coluna, linha) em coordenadas geográficas.
A transformação de coordenadas pode, então, ser modelada usando-se
polinômios lineares, obtidos através de um ajuste pelo método dos mínimos quadrados.
Essa transformação é chamada de transformação afim e corrigirá distorções de escala e
rotação existentes entre a imagem e o mapa.
O processo de corrigir as distorções de uma imagem através de pontos de
controle resulta na produção de uma nova imagem em que os píxeis, são reamostrados.
Nessa pesquisa, o valor do número digital de cada um dos píxeis é determinado com
base no processo de reamostragem pelo vizinho mais próximo. A escolha desse
algoritmo no procedimento de reamostragem está baseada no fato de que não há
alteração no tom de cinza, preservando as características de variabilidade espectral da
imagem original, o que é importante no processo de classificação das imagens.
Cabe ressaltar que, na metodologia de georeferenciamento da imagem, além da
definição e implementação dos pontos de controles, devem ser informados o sistema de
coordenadas adotado, o fuso, a latitude média da área, o hemisfério e o elipsóide de
referência.

3.2 Classificação da imagem

Como mencionado anteriormente, optou-se, no desenvolvimento desse trabalho,


por um procedimento que envolvesse uma classificação não-supervisionada seguida de
uma classificação supervisionada. Na classificação digital da imagem, pode-se utilizar
ou elaborar um programa de tratamento de imagens que disponha de algoritmos para
reconhecimento de padrões que permitam aplicar os princípios das classificações não
supervisionada e supervisionada.
49
Capítulo 3 – Metodologia

O primeiro passo é uma análise visual detalhada da imagem a fim de identificar


as várias formas de ocupação do solo e estabelecer uma primeira legenda. Nessa etapa
do processo, essa legenda deverá representar o possível número de classes que podem
ser identificados na imagem, ou seja, os agrupamentos distintos de píxeis. No processo
de classificação não-supervisionada, essas nuvens de pontos são automaticamente
identificadas e utilizadas como áreas de treinamento ou interesse para a classificação.
Utilizou-se, neste trabalho, o sistema de classificação não-supervisionada isodata
para uma primeira identificação dessas classes, tornando necessária uma análise visual
criteriosa para estabelecer quais dessas classes, efetivamente, representavam as várias
formas de cobertura do solo.

3.2.1 Método isodata

A classificação pelo algoritmo isodata pode ser vista como uma variação do
método da distância mínima. Entretanto, o método isodata produz resultados que são,
muitas vezes, superiores ao derivados pelo cálculo da distância mínima. Alguns autores
(Richards, 1986; Velasco, 1989) identificam o procedimento isodata como uma técnica
de classificação híbrida, com características dos métodos de classificação não
supervisionada e supervisionada.

Procedimento de cálculo

O algoritmo escolhe, inicialmente, os agrupamentos a partir de uma partição da amostra


de dados da imagem e desenvolve um processo iterativo que atualiza o conjunto de padrões
característicos dos agrupamentos até obter um mínimo da função J dada por
M
J = ∑ ∑ x − mi 2
(3.1)
i =1 x∈S i

onde:
M - é o número de classes;

50
Capítulo 3 – Metodologia

(x ∈ Si ) – indica os dados pertencentes à partição Si e mi é a média amostral da partição


Si.
Em geral, obtém-se um mínimo local de J, não havendo garantia de que será atingido o
mínimo global. Diferentes escolhas da partição inicial podem levar a diferentes mínimos locais.
Um procedimento iterativo básico para obter a minimização de J é o chamado algoritmo de K
médias, descrito a seguir:
1. selecione o número de agrupamentos K;
2. escolha uma partição da amostra de dados com K agrupamentos; calcule as
médias amostrais mi , i=1,2,...,K de cada agrupamento;
3. calcule a distância do vetor de padrões característicos x a cada um dos
agrupamentos;
4. atribua x ao agrupamento com média mais próxima de x;
5. se nenhuma atualização de amostras a agrupamentos ocorrer (ou se o número
máximo permitido de iterações for ultrapassado), pare;
6. caso contrário, calcule as novas médias amostrais dos agrupamentos e vá para 3.
As propriedades de convergência do algoritmo de K médias foram estudadas por
MacQuee (1967). A isodata (Ball and Hall, 1965) representa, na verdade, um
desenvolvimento do método de K médias, incorporando procedimentos heurísticos para
subdividir ou agrupar.
Feita essa análise, são estabelecidas as regiões de treinamento, ou seja, adota-se
o critério de que essas classes representam a verdade terrestre. Essas regiões de
treinamento, construídas a partir dessas classes, já apresentam alguma similaridade
espectral, o que é importante no processo de classificação supervisionada, tendo em
vista que o uso das características espectrais dessas áreas servem para treinar o
algoritmo de classificação.
Definidas as regiões de treinamento da imagem, submete-se a imagem ao
processo de classificação supervisionada. Nessa pesquisa, adotou-se o método da
máxima verossimilhança, para análise da classificação de imagens de sensoriamento
remoto com o intuito de mapear a cobertura do solo de uma bacia hidrográfica. Por essa
razão, o próximo item aborda especificamente essa metodologia, enquadrada no
conjunto dos classificadores do tipo píxel a píxel. Nesse método, cada classe é

51
Capítulo 3 – Metodologia

modelada segundo uma distribuição gaussiana. O critério de classificação utilizado é a


regra de decisão bayesiana.

3.2.2 Método da máxima verossimilhança.

O método máxima verossimilhança, desenvolvido por Horwitz et al.(1971),


gerou um modelo para relacionar a assinatura espectral da combinação de um número
de classes presentes em um elemento de resolução da imagem às assinaturas de cada
classe. Para estimar o vetor de proporções de cada classe no elemento da cena,
propuseram a utilização do procedimento de máxima verossimilhança (Apêndice C).
Supondo m canais espectrais, as assinaturas espectrais das classes i, 1 ≤ i ≤ n,
são dadas por distribuição gaussianas m-dimensionais, onde Ai.é a média e Mi é a
matriz covariância de classe i.
Sendo p= ( p1.,..., pn )t o vetor de proporções, onde pi representa a proporção da
classe i no elemento de resolução e Ap e Mp representando a assinatura espectral dessa
combinação de classes, a expressão para Ap é dada por:

52
Capítulo 3 – Metodologia

n
Ap = ∑ pi Ai (3.2)
i=1
Supondo que as variáveis aleatórias associadas a elementos de classes diferentes
são estatisticamente independentes, os autores propõem uma expressão simplificada
para a matriz de covariância da combinação das classes, dada por:
n
M p = ∑ pi M i (3.3)
i=1
A seguir, é descrito o método proposto por Horwitz et al. (1971) para estimar as
proporções.

Método para estimar as proporções

Sendo y = (y1, ..., ym) o vetor de observações multiespectrais com distribuição


gaussiana para estimar p, tomamos a função densidade conjunta, também denominada
função de verossimilhança, dada por
1

Mp −1 2 1
F (y) = L = exp - ( y - A p ) T M -p1 ( y - A p ) (3.4)
(2π) m
2

onde:
Mp- é o determinante da matriz de covariância Mp ;
Mp – 1- é a inversa da matriz de covariância Mp ;
y e Ap - são vetores coluna.

Estimar por máxima verossimilhança significa escolher os parâmetros para os


quais a Equação (3.4) é maximizada. Como a função lne (L) é uma função crescente de
L, o resultado é obtido se maximizarmos o logaritmo natural de L. Então, G = lne L.
Maximizar G é o mesmo que minimizar F = - G; desprezando os termos constantes, a
solução é dada pelo vetor p que minimize

−1
F = ln Mp + y - A p , M p (y - Ap ) (3.5)

53
Capítulo 3 – Metodologia

onde
u, v é o produto interno dos vetores u e v ,

sendo
u = (u1, u2, ..., un);
v = (v1, v2, ..., vn);
u, v = u1 v1 + u2 v2 + ...+ un vn.

Como p é um vetor de proporções da área de um elemento de cena, está sujeito


às restrições
Σ pi = 1 e
pi ≥ 0
onde
i = 1,..., n ( número de componentes).

Nesse modelo, o número de classes (n) deve ser menor ou igual ao número de
canais espectrais (m) mais uma unidade, isto é:

n ≤ m+1

Em geral, minimizar a Equação (3.5), sujeita às restrições impostas, é um tanto


difícil. Para resolver esse problema, uma simplificação é proposta
n
1
Mp = M = ∑ M i, (3.6)
n
i=1
isto é, M é tomada como a média das matrizes de covariância das classes i. Testes
realizados pelos autores mostram que essa aproximação é razoável. Dessa forma, M
torna-se constante, reduzindo a Equação (3.6) a

φ (p) = y - A p , M -1 ( y - A p )

tornando-se um problema de programação quadrática, sujeito às restrições lineares:


54
Capítulo 3 – Metodologia

n
∑ pi = 1;
i=1
pi ≥ 0,
onde:
i = 1,..., n (número de componentes).

Classificação pelo Método da Máxima Verossimilhança.

A teoria estatística de decisão é base para a classificação estatística de imagens.


O critério estabelecido para a partição do espaço de atributos é a probabilidade de erro
ou um risco médio, dependendo dos custos apropriadamente escolhidos.

Teoria estatística de decisão (teoria bayesiana da decisão)

Os atributos xj, j = 1,..,M, são variáveis aleatórias, que constituem o vetor


aleatório de observação x.

Sejam conhecidas:

f (x wi) - função densidade de probabilidade à classe wi, i = 1,..., N;


P (wi ) - probabilidade a priori de cada classe wi, i = 1,...,N.
A chamada formulação bayesiana envolve também custos:

C(wkwi ) - custo de tomar por uma classe wk quando a verdadeira classe é wi,
com i, k = 1,..,N.

Desse modo, sendo observado o vetor x, o erro decorrente de tomar a decisão wk


é:
n
Lx (wk) = ∑ C (wk | wi) P (wi | x) (3.7)
i=1

55
Capítulo 3 – Metodologia

Deve-se tomar a decisão wk que minimize o erro médio sobre a distribuição de x,


ou seja,
L(wk) = ∫ L x ( w x ) f (x) dx (3.8)
x

L (wk) é minimizado se, para cada valor de x, Lx (wk) é minimizado.

Considerando os custos C (wk | wi) da forma


C (wk | wi) = o se i = k (3.9)

C (wk | wi) = 1 se i ≠ k, onde i, k = 1,...,N,

a Equação (3.8) torna-se:


Lx (wk) = 1 – P (wkx) (3.10)

Logo, a minimização de Lx (wk) é obtida se, para cada vetor x de atributos


observados, decidir-se pela classe wk que maximize a probabilidade a posteriori
P(wk x).
Utilizando a regra de Bayes, temos:

f (x w k P(w k )
P( w k x) = (3.11)
f (x)

Como o denominador é independente de k, pode-se atribuir o vetor x à classe


que maximize a expressão f(xwi) P (wk).
Dessa maneira, o processo de classificação pode ser encarado como o cálculo de
funções discriminantes

gi (x) = f (xwi) P (wi), i = 1,..., N, (3.12)

para cada vetor de atributos x observados, de forma que o vetor x seja classificado como
pertencente a classe wk que fornece a máxima função discriminante. A Figura 3.2 ilustra
tal esquema.
56
Capítulo 3 – Metodologia

g1(δ)

g2(x)

MAX DECISÃO
X
 x1 
 
x 
x= 2
. gM(x)
 
x 
 n
Figura 3.2 - Decisão por funções discriminadas (fonte: Mascarenhas e Velasco, 1984).
Adicionalmente, cabe ainda uma breve referência sobre a identificação e a
correlação das informações presentes nas áreas de treinamento segundo as diversas
bandas espectrais da imagem fornecida pelo satélite Landsat5-TM. Neste trabalho,
também procedeu-se a análise dessa informação espectral através da matriz de
correlação das bandas. As informações contidas nessa matriz permitem fazer uma
previsão sobre o potencial sucesso comparativo do uso de uma determinada combinação
de bandas em relação a outra composição no processo de classificação.
Com relação à avaliação da precisão do procedimento de classificação, as áreas
de treinamento ou interesse foram utilizadas como amostras de calibração para
definição da precisão de calibração. A precisão de calibração é um indicador da
adequabilidade de um esquema de classificação e da separabilidade espectral das
classes. Todavia, esses resultados não podem ser estendidos para o restante da área de
estudo, uma vez que as áreas de treinamento foram utilizadas para definir as regras de
decisão estatísticas no algoritmo de classificação supervisionada empregado. Portanto, o
indicador de precisão na calibração representa uma estimativa inflada e tendenciosa da
precisão do processo de classificação. Por essa razão, em adição às amostras de
calibração, foram selecionadas aleatoriamente amostras para validar o processo de
classificação.
O indicador utilizado para avaliar a precisão do processo de classificação tanto
na calibração quanto na validação foi o coeficiente kappa. O coeficiente kappa é uma
medida da concordância entre as amostras da cena e aquelas derivadas através da
57
Capítulo 3 – Metodologia

classificação da imagem de sensoriamento remoto. Essa medida leva em conta todos os


elementos da matriz de erros e exclui a concordância que ocorre por acaso (Rosenfield e
Fitzpatrick-Lins, 1986).

3.3. Análise geoestatística

3.3.1 Teoria das variáveis regionalizadas

Um fenômeno natural pode ser freqüentemente caracterizado pela distribuição


espacial de uma ou mais variáveis, chamadas variáveis regionalizadas. A teoria
geoestatística é baseada no fato de que a variabilidade de todas as variáveis
regionalizadas têm uma estrutura particular. Se z(x) é o valor da variável z no ponto x,
o problema é representar a variabilidade da função z(x) no espaço (quando x varia).
Essa representação será usada para resolver alguns problemas como a estimação do
valor z(xo) no ponto xo onde não há dados disponíveis, ou estimar a proporção de
valores z(x), numa dada área, que são maiores que um determinado limite.
A solução geoestatística consiste em interpretar cada valor z(xi) como uma
realização particular da variável aleatória Z(xi) no ponto xi. O conjunto dessas variáveis
aleatórias auto-correlacionadas em um domínio D constitui uma função aleatória. O
problema de caracterizar a variabilidade espacial de z(x) é, então, reduzido a
caracterizar as correlações entre as várias variáveis aleatórias Z(xi), Z(xj) que
constituem a função aleatória {Z(xi), x ∈ D}.

3.3.2 Função variograma

Sejam dois valores z(x) e z(x+h), nos pontos x e x+h separados pelo vetor h. A
variabilidade entre esses dois valores é caracterizada pela função variograma 2γ(x,h),
que é definida como a esperança da variável aleatória [Z(x)-Z(x+h)]2, isto é,

2γ(x,h) = E { [Z(x) - Z(x+h)]2 } (3.13)

58
Capítulo 3 – Metodologia

O variograma 2γ (x,h) é função do ponto x e do vetor h. Assim, a estimação


desse variograma requer muitas realizações, [zk(x) e zk(x+h)], [zk'(x) e zk'(x+h)],...,
[zk''(x) e zk''(x+h)], do par de variáveis aleatórias [Z(x), Z(x+h)]. Na prática, apenas uma
única realização [z(x) e z(x+h)] é possível, e essa realização é construída pelo par de
valores realmente medidos nos pontos x e x+h. Para superar esse problema, é
introduzida a hipótese intrínseca de que a função variograma 2γ (x,h) depende somente
do vetor distância h (módulo e direção) e não do local x. Essa hipótese é simplesmente
uma hipótese de estacionariedade de segunda ordem das diferenças [Z(x)-Z(x+h)].
Se a hipótese intrínseca é assumida, o semivariograma γ(h) e a função de
covariância C(h) são relacionados pela seguinte expressão:

γ(h) = C(0) – C(h) (3.14)

onde C(0) é a covariância para o vetor de separação zero, ou seja, C(0) é igual à
variância σ2 da variável aleatória em estudo.
Outra maneira de representar a estrutura espacial de uma função estocástica é
através do cálculo de um correlograma, que relaciona a covariância à variância como
uma função de h :

C ( h) γ ( h)
ρ ( h) = = 1− (3.15)
σ 2
σ2

O estimador clássico do semivariograma baseado em dados amostrais é (Journel


e Huijbregts, 1978):
1 N ( h)
γ * (h) = − ∑
2 N (h) i =1
[z(x i ) - z(x i + h)]2 (3.16)

onde N(h) é o número de pares experimentais [z(xi) e z(xi+h)] de dados


separados pelo vetor h.

59
Capítulo 3 – Metodologia

No texto deste trabalho, será adotado, por simplicidade, a nomenclatura de


variograma para designar a função δ(h), embora, na literatura, essa função seja
apresentada sob a denominação de semivariograma.

3.3.3 Análise estrutural

O variograma é uma ferramenta fundamental para a análise estrutural de um


fenômeno. Análise estrutural é o nome dado ao procedimento de caracterização das
estruturas de distribuição espacial das variáveis consideradas. Esse é o primeiro e
indispensável passo para qualquer estudo geoestatístico. O modelo do variograma age
como um sumário quantificado de toda a informação estrutural disponível, que será
então utilizada em vários procedimentos durante a investigação.
Na definição do variograma 2λ (h), o h representa um vetor de módulo |h| e
direção α. Considera-se uma direção particular α. Iniciando na origem, γ(0) = 0, o
variograma geralmente cresce com o módulo |h|. Isso significa que, em média, a
diferença entre dois valores em dois pontos diferentes cresce à medida que a distância
|h| aumenta. A maneira como o variograma cresce para pequenos valores de |h|
caracteriza o grau de descontinuidade espacial da variável em estudo.
É preciso também conhecer a zona de influência e anisotropia da variável. Em
uma dada direção α, o variograma pode se tornar estável em torno de uma distância |h|
= a. A partir dessa distância o desvio médio quadrático entre os dois valores z(x) e
z(x+h) não mais depende da distância |h| entre eles e esses dois valores não mais são
correlacionados. A distância dá significado ao conceito intuitivo de zona de influência
de uma amostra z(x). No entanto, essa distância não é necessariamente igual em todas as
direções α do espaço.

3.4 Método NGLDM de análise de textura

A distribuição de entradas na matriz montada através do método de análise de


textura NGLDM (Sun e Wee, 1983) procura captar a variabilidade espacial presente na
imagem. Cada entrada na matriz do NGLDM é calculada usando uma janela móvel ao
60
Capítulo 3 – Metodologia

longo da imagem, avaliando a relação do tom de cinza do píxel central com os tons de
cinza dos píxeis vizinhos. Estatísticas de textura podem ser definidas como, por
exemplo, número não-uniforme (NNU), ênfase nos números pequenos (SNE), ênfase
nos números grandes (LNE), segundo momento (SMT) e entropia (ENT). As texturas
caracterizam e quantificam a distribuição de entradas na matriz do NGLDM.
Para uma dada imagem M(i,j), com i=1,2,..,n e j=1,2,...,m, o domínio espacial
horizontal pode ser representado por Zr= (1,2,..,n), e o domínio espacial vertical por
Zc=(1,2,..,m). Por essa razão Zr X Zc representa o conjunto dos elementos de resolução
da imagem M. Adicionalmente, seja k=1,2,...,Ng, de forma que represente a possível
amplitude de tons de cinza na imagem (M), e seja G a relação binária no espaço Zr X Zc
de tal modo que sejam agrupados, aos pares, os elementos de resolução na relação
espacial desejada.
A matriz de tons de cinza vizinhos dependentes da imagem M, referida aqui
como Q, é definida, então, por

Q(k, s) = # {(i,j)  M (i,j) = k e

# [(q,r)  ρ ((i,j,) , (q,r)) ≤β (3.17)


e M(k,s) - M(q,r) ≤ α ] = s }

onde:
(i,j), (q,r) ∈ G;
# - identifica o número de elementos no conjunto;
ρ ((i,j,),(q,r)) - é a distância entre os elementos (i,j) e (q,r);
α- define a similaridade de tons de cinza;
β - é a máxima distância entre elementos;
k - é o tom cinza;
s - é o número de píxeis similares presentes na vizinhaça definida por β.
Para calcular as texturas pelo NGLDM, há dois parâmentros a serem definidos: o
intervalo de tom de cinza ou amplitude de similaridade (α) e a distância em relação ao
píxel central (β ). Cada entrada na matriz Q para uma classe Q(k,s) é gerada pelo
número de ocorrências em que a diferença no nível de cinza entre cada píxel na classe
61
Capítulo 3 – Metodologia

com um dado tom de cinza k e s dos seus vizinhos seja igual ou menor do que α para
um valor específico de β. O valor máximo para s, Ns, dependerá de β.
Nesta dissertação explorou-se, para efeito de classificação da imagem, as
estatísticas de textura com ênfase nos números pequenos (SNE), ênfase nos números
grandes (LNE), número não-uniforme (NNU), segundo momento (SMT) e entropia
(ENT), dadas por Sun e Wee (1983):

∑ [Q (k, s ) / s ] / ∑ ∑
Ng Ns Ng Ns
SNE = ∑ 2
Q (k , s ) (3.18)
k =1 s =1 k =1 s =1

∑ [s ]
Ng Ns Ng Ns
LNE = ∑ 2
Q (k, s ) / ∑ ∑ Q (k, s ) (3.19)
k =1 s =1 k =1 s =1

2
 Ng
Ns
 Ng Ns
NNU = ∑ ∑ Q(k, s) / ∑
s =1  k =1
∑ Q (k, s ) (3.20)
 k =1 s =1

Ng Ns Ng Ns
SMT = ∑ ∑ [ Q (k, s )] / ∑ ∑ Q (k , s )
2
(3.21)
k =1 s =1 k =1 s =1

Ng Ns Ng Ns
ENT = ∑ ∑ Q (k, s) log [Q (k, s )] / ∑ ∑ Q (k, s ) (3.22)
k =1 s =1 k =1 s =1

A SNE fornece uma medida de rugosidade. Para uma textura rugosa, as entradas
na matriz Q serão feitas especialmente nas colunas mais à esquerda. Valores maiores de
SNE estão associados com texturas mais rugosas. A LNE fornece uma medida de
suavidade. Entradas na matriz Q do método NGLDM tenderão a ser feitas nas colunas
mais à direita para um campo com textura suave. Valores altos de LNE indicam textura
suave. Por outro lado, as estatística do número não uniforme (NNU), segundo momento
(SMT) e entropia (ENT) indicam medidas de homogeneidade com respeito às entradas
na matriz Q.
Finalmente, cabe salientar que os parâmetros do método NGLDM utilizados
nesta dissertação foram β=1 e α=16,32,64. O tamanho da janela para o qual foi
definida a matriz Q foi 11 píxeis X 11 píxeis, levando-se em conta os variogramas

62
Capítulo 3 – Metodologia

elaborados para as diferentes classes de cobertura do solo. Esses variogramas estão


mostrados no Capítulo 5.

3.5 Método GLCM de análise de textura

O método GLCM fornece as probabilidades condicionais conjuntas de todas as


possíveis combinações de pares de píxeis para uma dada janela computacional Wnm
(Haralick et al., 1973). A co-ocorrência dos tons de cinza representa a probabilidade de
que quaisquer dois pares de tons de cinza ocorram, condicionada à distância entre píxeis
β e à orientação δ utilizadas no cálculo computacional. Algebricamente, pode-se
expressar por

Pr(x) = {Cij | β,α} (3.23)

com
n
C ij = Pij / ∑ Pij (3.24)
ij=1

onde P é a freqüência de ocorrência dos tons de cinza i e j. A soma sobre índice


n refere-se ao número total de pares de píxeis, que é dependente do parâmetro β e dos
subscritos n e m de Wnm.
As texturas examinadas, neste trabalho, foram homogeneidade ou uniformidade
(HOM), dissimilaridade (DIS) e contraste (CON ), apresentadas a seguir:
n n
HOM = ∑ ∑ Cij 2
(3.25)
i =1 j=1

n n
DIS = ∑ ∑ Cij /(i − j) / (3.26)
i =1 j=1

n n
CON = ∑ ∑ Cij (i − j) 2
(3.27)
i =1 j=1

Quando os elementos de Cij crescem, a estatística homogeneidade ou


uniformidade (HOM) cresce. As probabilidades conjuntas serão maiores onde houver

63
Capítulo 3 – Metodologia

menor variação local na textura. Quanto mais dissimilares os níveis de cinza, maiores
serão as estatísticas de dissimilaridade (DIS) e contraste (CON).
Finalmente, cabe salientar que os parâmetros do método GLCM utilizados nesta
dissertação foram β=1 e α= 900. O tamanho da janela para o qual foi definida a matriz
de co-ocorrências C foi 11 píxeis X 11 píxeis, levando-se em conta os variogramas
elaborados para as diferentes classes de cobertura do solo. Esses variogramas estão
mostrados no Capítulo 5.

64
Capítulo 4 – Estudo de Caso

CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO: BACIA HIDROGRÁFICA DOS RIOS


IGUAÇU E SARAPUÍ

4.1 Descrição da região

O espaço geográfico, que hoje é chamado de Baixada Fluminense, refere-se à


ampla área limite com a cidade do Rio de Janeiro, que se estende seguindo o contorno
da baía de Guanabara até a chamada serra do Mar, que costeia, ao norte, o Atlântico.
Ficou historicamente conhecida como Baixada, por suas terras baixas, que contrastam e
abarcam aproximadamente 140 Km2 de terras cultiváveis.
Os resultados preliminares da contagem de população em IBGE, (1996) indicam
para a Baixada Fluminense uma população de quase três milhões de habitantes do total
de aproximadamente 13.500.000 do estado do Rio.
A Baixada Fluminense faz parte da região metropolitana do Rio de Janeiro e
hoje abrange as áreas dos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de
Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Japeri e Queimados. Os três últimos foram
recentemente desmembrados de Nova Iguaçu, sendo que algumas análises incorporam,
ainda em sua divisão político-geográfica, os municípios de Itaguaí, Paracambi e Magé.
Esses, porém, não constam como tais nas fontes pesquisadas. É, nessa região, que se
insere a bacia hidrográfica dos rios Iguaçu e Sarapuí.

4.2 Tendências sócio-econômicas da Baixada Fluminense

Historicamente, essa região é considerada como cidade satélite ou cidade


dormitório, por servir, durante o período de desenvolvimento do capital industrial, como
alternativa de existência urbana migrante, quando a necessidade de terras na periferia da
cidade tornou-se desesperadora (Perlman, 1977). Uma imensa população marginalizada
que abandonava o interior do país em busca das luzes da cidade maravilhosa e de
sobrevivência, passa a servir de mão-de-obra para o processo de montagem e expansão
industrial, num período em que apenas duas opções se abrem para os migrantes que
chegam: as favelas ou os subúrbios, cidades-dormitório que circundam o Rio.

65
Capítulo 4 – Estudo de Caso

Localizada próximo ao município do Rio de Janeiro, é cortada pelas principais


rodovias que ligam Rio a São Paulo e a Belo Horizonte, que atendem aos interesses
econômicos da industrialização, além de uma grandiosa rede ferroviária, facilitando o
transporte da massa trabalhadora à cidade do Rio de Janeiro. Ao longo dessas rodovias
que cortam sua região, se instalaram indústrias, no curso dos anos de 1950, período
caracterizado pelo novo surto industrial no país e de fortalecimento do processo de
expansão das periferias, que passam a se utilizar de parte da sua mão-de-obra.
Com a saturação do espaço urbano do Rio de Janeiro na década de 1950 e com
novas linhas de ônibus que passaram a servir o lugar, o Governo Federal decidiu
localizar alguns de seus empreendimentos industriais no estado do Rio de Janeiro. A
refinaria de petróleo da Petrobrás foi inaugurada em 1969, seguida do investimento
privado. Nesse período, destaca-se a cidade de Duque de Caxias.

“É a posição de Duque de Caxias como um centro industrial para o Rio,


sendo como é atravessada pela estrada de ferro Leopoldina, e por duas das
mais importantes rodovias da região, Rio- São Paulo e Rio- Petrópolis.
Conta com a maior refinaria de petróleo e a maior fábrica de borracha
sintética do Brasil; a fábrica nacional de motores; e várias outras
indústrias: farmacêutica, química, metalúrgica e de motores elétricos. Mais
de 22% da produção industrial provém de 300 estabelecimentos industriais
localizados no parque industrial de Caxias. (...) apenas uma pequena
porção da força de trabalho se emprega no comércio ou na indústria local.”
(Folha de São Paulo, 18/01/98, p.13

A ocupação progressiva da Baixada Fluminense, potencializada a partir desse


período, vai redesenhando seu espaço urbano, transformando antigas áreas rurais em
pequenos loteamentos cada vez mais afastados do centro da metrópole, propiciando um
sistema de transporte não planejado, voltado aos interesses do grande capital, que se
tornou hoje um dos principais problemas da região, principalmente por não atender aos
interesses da população.
O mesmo processo ocorre com os loteamentos que se desenvolvem nas áreas
mais afastadas dos centros dos municípios, sem qualquer planejamento e condições
66
Capítulo 4 – Estudo de Caso

mínimas de infra- estrutura. O crescimento rápido da população na Baixada Fluminense,


a partir da década de 1950, vinda do interior do estado do Rio e de outros estados, em
busca de trabalho e atraídas pelas condições de transportes e expansão habitacional,
determinam as construções populares loteadas junto aos rios Sarapuí, Iguaçu e Meriti,
principais cursos de água da região e hoje transformados em grandes esgotos que
agravam a poluição da baía de Guanabara, tema bastante debatido atualmente, e que já
tiveram importância fundamental na vida econômica da região. Esse fato, entre outros,
concorre para o agravamento da atual situação de insalubridade com a qual convive a
população mais afetada pelas condições de saneamento e moradia precária, acarretando
sofrimento e miséria, à vida de milhões de trabalhadores da Baixada Fluminense.
O baixo nível de condição sócio-econômica da maioria da sua população é
agravado pela falta ou insuficiência de recursos urbanos e comunitários fundamentais,
imposta, em grande medida, pelo poder público que não consegue garantir direitos
básicos. Isso dificulta o acesso da população aos serviços públicos e bens necessários à
satisfação de suas necessidades, sobretudo após ter sido completado o período do ciclo
industrial, em que cessam os investimentos públicos que visam, fundamentalmente, a
reprodução da força de trabalho necessária aos interesses do capital.
Paradoxalmente, apesar de sua importância econômica, a Baixada compõe um
quadro pleno de contradições, onde convive com uma realidade de crescimento
econômico ao lado de um dos maiores índices de concentração de pobreza e
marginalidade social. Em termos municipais, Duque de Caxias é exemplo representativo
dessa contradição. Em uma microregião de 442 quilômetros quadrados e quase um
milhão de habitantes, cercada por oito grandes favelas, encontra-se a maior refinaria de
petróleo da América Latina, pertencente à empresa estatal Petrobrás e, também, o maior
aterro sanitário do país, em uma área totalmente descoberta que compreende toda a
extensão de um bairro (Jardim Gramacho), onde é descarregado, por grande parte dos
habitantes da cidade do Rio de Janeiro e também pelos municípios da Baixada
Fluminense, todo o lixo doméstico, hospitalar e industrial produzido e sem qualquer
tratamento.
Em um quadro de contradições econômicas acirradas, com brutal concentração
de renda e monopólio fundiário, degradação das condições de vida da população na
67
Capítulo 4 – Estudo de Caso

Baixada Fluminense, fica em evidência uma história marcada pela violência e


expropriação de riquezas materiais e culturais. Nesse cenário de pobreza, onde uma
massa de cidadãos desconhece qualquer direito, e encontra pouca força para resistir, é
retratada a situação trágica de exclusão de mais de um terço da população brasileira.
Milhares de seres humanos convivem diariamente com a fome, a miséria e a violência.
Grande parte deles alimenta-se muitas vezes do lixo e das sobras alimentares. O
assassinato de trabalhadores no campo e na cidade, o extermínio de crianças,
adolescentes, e povos indígenas, a segregação racial e o descompromisso com o
homem e o meio ambiente em nome do lucro e da implantação de grandes projetos
econômicos demonstram o total desrespeito com os direitos do cidadão e marcam, mais
uma vez, o estigma do nome Baixada Fluminense, que, lamentavelmente, se disseminou
em todo o mundo como expressão da violência carimbada, sobretudo por sua história de
esquadrões da morte e extermínio de meninos.
Diante dessa realidade, e longe de alcançarem direitos constitucionalmente
estabelecidos que, de fato, não se concretizam, essa grande maioria da população da
Baixada Fluminense enfrenta toda sorte de dificuldades no seu cotidiano, e sente na pele
o preço social que é pago por um projeto excludente de desenvolvimento econômico
que intensifica ainda mais o descuido produzido na sociedade pelo sistema capitalista,
que marcam e determinam o seu contexto sócio- histórico.
Alguns indicadores sócio-econômicos sobre a região, permitiram caracterizar as
atuais condições de desigualdade social nas quais se inscrevem os setores mais pobres
da classe trabalhadora. Segundo IPEA(1992), a ampliação das desigualdades de renda
no país, a precariedade das condições ocupacionais determinada pelas alterações
econômicas ocorridas após 1990, especialmente pelos seus impactos sobre o mercado de
trabalho, foi acompanhada por um aumento brutal da pobreza na região, agravando
ainda mais o seu já conhecido quadro social.
A distribuição da população indigente da região metropolitana do Rio de
Janeiro, traçada pelo mapa da fome no início da década (IPEA, 1992), demonstra que,
apesar da Baixada Fluminense concentrar um número menor de indigentes (33,48%)
que o município do Rio (43,88%), quando comparados esses números, relativos ao total
de indigentes de cada área, e aos tamanhos diferenciados dos municípios, com o número
68
Capítulo 4 – Estudo de Caso

de casas existentes nas áreas da capital e da Baixada Fluminense, pode-se estimar um


número gritante (22,95% na Baixada, contra 12,6% na capital) de famílias moradoras na
Baixada Fluminense que vive em condições de indigência.
São vários os segmentos que, dadas as condições estruturais, agravadas em
determinadas conjunturas, enfrentam essa realidade social, principalmente uma
significativa parcela da classe trabalhadora que é o setor que fortalece mais ainda esse
contexto. Com certeza, refletem as conseqüências agravadas pela solução liberal
encontrada para a crise do capital na atual fase histórica (IPPUR, 1995).
Reflexo desse processo, observa-se, também, uma diminuição na renda das
famílias moradoras da Baixada Fluminense no início da década de 90, que expressa
claramente um aumento da parcela da população que recebe até meio salário mínimo.
Esses dados mostram uma realidade crescente de pauperização do trabalhador,
morador da Baixada Fluminense, que, a cada dia, se distancia mais ainda da
possibilidade de moradia, direito a saúde, e acesso à educação e à cultura. Diante dessa
realidade histórica de carência e frente aos problemas trazidos com a mais violenta crise
de desemprego, que piora mais ainda a situação, tem-se encontrado, cada vez mais, o
aumento da economia informal.
A saturação demográfica de uma imensa população de quase 3 milhões de
habitantes, cerca de 30% da população do estado, retrata o grande índice de densidade
demográfica em uma área de 1.262 quilômetros quadrados, em que a tendência de
crescimento acelerado e desorganizado atribui ao seu perfil sócio-histórico a marca da
periferia. As condições de vida da grande maioria dos habitantes dessa região marcada
pela violência e pelo abandono da população pelos poderes públicos, bem como pelos
aspectos de suas atividades econômicas, permitem descrever a Baixada Fluminense
como o referencial das contradições inerentes à formação social brasileira que se inclui,
por sua vez, na lógica do sistema capitalista mundial. A Baixada Fluminense é
expressão desse paradoxo.

69
Capítulo 4 – Estudo de Caso

4.3 Localização da região de estudo e algumas características

A bacia dos rios Iguaçu e Sarapuí abrange uma área de drenagem de 726 km2,
sendo que 168 km2 representam a sub-bacia do Sarapuí, contém parte dos municípios
do Rio de Janeiro, Nilópolis, São João de Meriti ,Nova Iguaçu, Belford Roxo e Duque
de Caxias. Todos esses municípios estão dentro da área metropolitana do Rio de
Janeiro.
A bacia está limitada ao norte com a bacia do rio Paraíba do Sul; ao sul, com a
bacia dos rios Pavuna e Meriti; a leste, com as bacias dos rios Inhomirim e Estrela; a
oeste, com a bacia do rio Guandu e afluentes da bacia de Sepetiba.
O rio Iguaçu tem nascentes na serra do Tinguá a uma altitude de cerca de 1000
m. Seu curso vai no sentido sudoeste, com uma extensão total de cerca de 43 km,
desaguando na baía de Guanabara, tendo como afluentes principais os rios Tinguá, Pati,
e Capivara pela margem esquerda e Bota e Sarapuí pela margem direita. A bacia do rio
Iguaçu apresenta duas características morfológicas distintas: a serra do Mar e a Baixada
Fluminense.
O clima da bacia é quente e úmido com estação chuvosa no verão e uma
temperatura média anual em torno dos 22º C e precipitação média variando em torno de
1700mm.
A cobertura vegetal do solo da bacia, ainda remanescente, ocorre com
predominância ao norte e nordeste, na região do Tinguá, e algumas áreas na serra de
Madureira. Na serra do Tinguá, está localizada a reserva biológica do Tinguá, onde um
trecho da Mata Atlântica é área de proteção ambiental.

4..4 Processo histórico da ocupação e a cobertura vegetal

A dificuldade de se visualizar a cobertura vegetal anterior à ocupação da bacia


dos rios Iguaçu e Sarapuí está relacionada à destruição da maior parte dessa cobertura,
logo após o descobrimento do Brasil. Mendes, (1940) comenta que o povoamento da
planície que se estende do Meriti ao Estrela ou Inhomirim e da baía à orla das serras foi
contemporâneo da época em que se principiou a povoar a cidade que Estácio de Sá

70
Capítulo 4 – Estudo de Caso

fundara e que o cuidado de Mem de Sá assegurava definitivamente para a coroa de


Portugal, arrebatando sua posse às aventuras dos franceses.

“A colonização foi, mais ou menos, simultânea nos vales dos rios que
cortam toda a Baixada Fluminense. A partir de 1566, os colonizadores
foram se estabelecendo pelos vales dos demais rios iguassuanos, sendo,
entretanto, mais procurado o do Rio Iguaçu, em cujas margens avultaram as
doações de terras, em grandes e pequenas áreas. Mas os vales do Meriti, do
Sarapuí ,do Saracuruna ,do Jaguaré, do Pilar e as zonas de Marapicú,
Jacutinga e do rio do Ramos, que corre da Mantiqueira, muito próximo à
encosta, hoje percorrida, na Serra da Estrela pela estrada Rio-Petrópolis,
foram igualmente disputados, como também o do Inhomirim, já para o lado
de Magé, cuja importância se destacou nos primeiros tempos do Brasil-
Colônia, nesta região, o primeiro ciclo econômico que deu início à
destruição das matas na costa brasileira foi o pau-brasil (Celsalpinease
echinata). No entanto, Pereira (1977) destaca que:” embora o ciclo
econômico do pau-brasil tenha sido puramente predatório e, por isso
mesmo, fadado à curta duração, a cana de açúcar foi a base da colonização
que estaria dentro do contexto histórico da evolução brasileira .O início do
ciclo econômico da cana data realmente de 1532, quando Martim Afonso de
Souza trouxe mudas de “cana doce” da Ilha de madeira para sua capitania
de São Vicente”.

Segundo Pereira (1977), a cana de açúcar começou a ser cultivada por volta de
1611, quando o mosteiro de São Bento recebeu uma sesmaria nas imediações do rio
Iguaçu, (no atual município de Belford Roxo). Pereira (1977) relata:

”... logo após ter conseguido do Capitão-Mor Afonso Albuquerque,


por Sesmaria dada aos 7 de junho de 1611, às voltas, pontas e sobejos
do rio Iguaçu, com muita lenha para o serviço do engenho,
estabeleceu o mesmo, deixando todas as madeiras necessárias
prontas para a sua fábrica”.

71
Capítulo 4 – Estudo de Caso

A história da ocupação na bacia Iguaçu-Sarapuí está basicamente relacionada à


história do município de Nova Iguaçu, que, desde a sua criação em 1833, continha as
terras hoje pertencentes aos municípios de Duque de Caxias, Nilópolis, São João de
Meriti e Belford Roxo. Somente em 1943 houve a primeira divisão, com a criação do
município de Duque de Caxias , compreendendo os até então distritos de Nova Iguaçu-
Imbariê, Caxias e Meriti.
A ocupação basicamente açucareira da região foi desenvolvendo-se num
processo concomitante de corte da floresta para madeira e lenha e instalação da
monocultura canavieira principalmente, e outras culturas secundariamente, como arroz,
feijão, milho e mandioca.
“O município de Iguaçu teve a sua flora devastada em quase todo seu
território. Suas lavouras, nos tempos coloniais, exigiram a devastação
das matas próximas para cultura de cana, e os engenhos, consumindo
grande quantidade de lenha, concorreram para que ela fosse maior.
Possuindo excelente zona florestal, nas zonas montanhosas, ao fundo,
com os caminhos abertos para o sertão, era dali que se tiravam ,pela
proximidade do mercado consumidor, as madeiras de
construção.”(Mendes,1940).

Os agrupamentos populacionais foram se formando através das freguesias,


povoados em torno de paróquias. A mais antiga foi a de N. S. do Pilar, criada em 1637,
às margens do Rio Pilar, afluente do Rio Iguaçu.
Segundo Mendes (1940), entre 1779 e 1789, as cinco freguesias existentes no
corpo interior da capitania do Rio de Janeiro e pertencentes à região do posterior
município de Iguaçu eram as seguintes:
• N. S. do Marapicu: 902 habitantes livres e 919 escravos;
• Santo Antonio de Jacutinga: 1402 livres e 919 escravos;
• S. João de Meriti: 638 livres e 978 escravos;
• N. S. da Piedade de Iguaçu: 963 livres e 1219 escravos;
• N. S. do Pilar: 2027 livres e 1868 escravos;

72
Capítulo 4 – Estudo de Caso

As cinco freguesias apresentavam, portanto, naquele período um total de 13.054


habitantes, 5932 livres e 7122 escravos. E, denotando o incremento ocupacional em
1821, esse total passa para 18.705 habitantes. Das cinco freguesias, apenas a de
Marapicú não pertencia à bacia Iguaçu/Sarapuí , fazendo parte da região ocidental do
município de Iguaçu, na bacia do rio Guandu. As mais importantes freguesias daquele
período colonial ,até meados do século XIX, quando começa a decadência econômica
da Baixada do Iguaçu , foram as freguesias do Pilar e de N.S. de Piedade de Iguaçu,
que, juntamente com o porto da Estrela no rio Inhomirim, eram importantes portos de
escoamento dos produtos vindos de Minas Gerais (principalmente o ouro e o café) e da
própria região (cana, banana, arroz, milho, mandioca).
A bacia dos rios Iguaçu e Sarapuí abrange diferentes regiões e bases
fitogeográficas, em função basicamente do relevo, da pluviosidade e da hidrografia. Os
rios citados nascem em grandes altitudes (entre 800 e 1000 m) da serra do Mar.
Particularmente, o rio Iguaçu nasce na serra do Tinguá e o rio Sarapuí nasce na serra de
Madureira, na região de domínio da Mata Atlântica, que originalmente se estendia pelas
planícies aluviais formadas pelo Iguaçu, Sarapuí e seus tributários, até o encontro com
manguezais nas regiões sob influência das marés da baía de Guanabara.
Atualmente, com mais de 400 anos de ocupação, desde a chegada dos
colonizadores europeus, no século XVI, apenas as serras, em suas partes mais altas,
ainda apresentam razoável grau de preservação dos ambientes primitivos, com florestas
altas e densas, ainda que destruídas em alguns pontos. Nas planícies, colinas e meias
encostas das serras, sobrevivem apenas umas poucas áreas de vegetação secundária
(capoeira e capoeirinhas) e várzeas arbustivas nas planícies temporárias encharcadas.
Dos manguezais, restam apenas franjas na foz do Iguaçu, que sofrem impactos dos altos
níveis de poluição da baía de Guanabara, sob influência direta da refinaria de petróleo
de Duque de Caxias (Reduc) e do aterro de lixo Gramacho.
As planícies existentes na bacia Iguaçu-Sarapuí apresentam colinas que, segundo
Ruellan (1944), eram antigas ilhas anteriores ao processo de sedimentação flúvio-
marinha da Baía de Guanabara; essas colinas, chamadas de meias-laranjas, apresentam
cobertura florestal densa, com um porte arbóreo mais desenvolvido do que as florestas
das encostas montanhosas, com árvores emergentes podendo atingir até 50 metros de
73
Capítulo 4 – Estudo de Caso

altura. São formados principalmente por gnaisses e também por granitos, geralmente
recobertos por uma camada espessa aluvial resultante do intemperismo das rochas.
As florestas das encostas montanhosas existentes nos Maciços de Madureira e
Tinguá, encontram-se ainda bem preservadas, não se podendo dizer o mesmo das
florestas das planícies costeiras que, tanto nas pequenas colinas, como nas várzeas,
foram praticamente dizimadas, uma vez que a exploração dessas planícies se deu
intensamente já no início da colonização (séculos XVI e XVII).
Finalmente, segundo Teixeira (1994), na atualidade, aproximadamente 430 km2 de
uma área total de 726 km2 da bacia Iguaçu-Sarapuí correspondem a áreas sem ocupação
urbana, resultando, portanto, em uma área urbanizada correpondente a cerca de 40% da
bacia.

4.5 Informações utilizadas na pesquisa

Para a realização desta pesquisa, foram utilizadas duas imagens, sendo uma
Landsat5-TM com data de 27 de junho de 1994 e outra Radarsat com data de 23 de
julho de 1997, polarização HH. Ambas foram trabalhadas no sistema de tratamento de
imagens Envi-3.2 (2000).

4.5.1 Dados auxiliares

Foram utilizados alguns dados auxiliares na definição das áreas de treinamento


nas classificações supervisionadas realizadas neste trabalho.Estes dados são:

- relatório da JICA (1994), que contêm dados de classificação, sobre o uso do


solo de toda a região adjacente à baia de Guanabara definidos, a apartir de
uma imagem Landasat5-TM de 1991, compreendendo a área da bacia dos rios
Iguaçu-Sarapuí.
- fotografias aéreas provenientes do levantamento aerofogamétrico realizado
pela fundação Centro de Informações e dados do Rio de Janeiro (Fundação
CIDE), em 1998, compreendendo a área da bacia dos rios Iguaçu- Sarapuí;
74
Capítulo 4 – Estudo de Caso

- imagem Landsat5-TM classificada, de 1998, da área da bacia fornecida pelo


Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro (IEF);

Adicionalmente, foram realizados reconhecimentos de campo na área da bacia,


previamente planejados, utilizando cartas na escala 1:50000 e imagens digitais
impressas da área da bacia, além GPS (model Garmin II Plus Hand Held ), instrumento
de posicionamento para auxiliar a verificação local da cobertura do solo e definição das
áreas de treinamento utilizadas no processo de classificação supervisionada.

75
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desenvolvimento da pesquisa baseou-se na imagem Landsat5-TM (órbita 217,


ponto 76), datada de 27 de junho de 1994, abrangendo a bacia hidrográfica dos rios
Iguaçu e Sarapuí, contando com 7 bandas espectrais. Cabe enfatizar que, em seis dessas
imagens (bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7), o píxel corresponde, no terreno, a uma área 30m x
30m, enquanto, na banda 6, o píxel refere-se a uma área de 120m x 120m.
Adicionalmente, enfatizou-se o uso de uma imagem de radar (Radarsat – banda C –
polarização HH), adquirida em 23 de julho de 1997.
Embora as imagens posuam datas diferenciadas em função dos estudo feito nesta
região, é comprovada que não houve mudança nas áreas de treinamento utilizadas aqui.
Inicialmente, são apresentados, a título de ilustratção, os histogramas das bandas
espectrais que compõem a imagem Landsat5-TM (Figura 5.1). Nota-se que as bandas
espectrais com maiores comprimentos de onda apresentam histogramas com menor
deslocamento em relação à origem, exceto a banda 6 que apresenta-se deslocado de
forma atípica. A banda 6, embora tenha sido empregada na análise visual, não foi
utilizada no processo de classificação.

Nº DE PÍXEIS
250000
Banda 1
Banda 2
Banda 3
200000 Banda 4
Banda 5
Banda 6

150000 Banda 7

100000

50000

0
0 50 100 150 200 250

TONS DE CINZA (DN)

Figura 5.1 – Histogramas das bandas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, imagem Landsat5-TM


obtida em 27 de junho de 1994.

76
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

A análise univariada permite uma identificação da grau de variabilidade dos tons


de cinza. Observa-se, por exemplo, que as bandas 4 e 5 apresentam uma variância mais
acentuada, o que pode se revelar importante no processo de discriminação de classes.
Ainda que a análise univariada forneça elementos importantes para a análise estatística,
ela é insuficiente para o adequado tratamento espacial necessário no processo de
mapeamento da cobertura do solo.
Nesse sentido, composições coloridas das diversas bandas foram analisadas.
Feito o exame visual inicial e identificada a área de estudo, recortaram-se as imagens
Landsat e Radarsat abrangendo o espaço geográfico a ser analisado. Várias
combinações foram experimentadas, até que se chegasse àquela que melhor realçasse
visualmente as variadas formas de cobertura do solo da bacia hidrográfica dos rios
Iguaçu e Sarapuí. A melhor combinação resultou na composição colorida das bandas 4,
5 e 3 (Landsat) nas cores vermelho, verde e azul respectivamente, o que facilitou a
caracterização da área de interesse. A distinção entre área urbana e diferentes tipos de
vegetação fica mais evidente. Adicionalmente, as diferenças de altitude no relevo
tornam-se mais pronunciadas.
No passo seguinte, as imagens Landsat e Radarsat foram georeferenciadas,
convertendo o sistema de coordenadas linha e coluna em um sistema de coordenadas
UTM, baseado no SAD 69, hemisfério sul, fuso 23o. O conjunto de cartas topográficas
(escala 1:50000, projeção UTM) utilizado para o procedimento de georeferenciamento
das imagens é discriminado a seguir (Figura 5.2):
• Miguel Pereira produzida pela diretoria de geodésia e cartografia do IBGE,
assim articulada SF-23-Z-B-I-3;
• Petrópolis produzida pela Diretoria de geodésia e cartografia do IBGE, assim
articulada SF-23-Z-B-IV-2;
• Cava produzida pelo Ministério do Exército, departamento de engenharia e
comunicação da diretoria de serviço geográfico (DSG), assim articulada SF-
23-Z-Q-IV-2;
• Paracambi produzida pelo Ministério do Exército, departamento de
engenharia e comunicação da diretoria de serviço geográfico (DSG), assim
articulada SF-23-Z-A-II-1;
77
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

• Baía de Guanabara produzida pelo Ministério do Exército, departamento de


engenharia e comunicação da diretoria de serviço geográfico (DSG), assim
articulada SF-23-Z-IV-4 e SF-23-Z-D-I-2;
• Vila Militar produzida pelo Ministério do Exército, departamento de
engenharia e comunicação da diretoria de serviço geográfico (DSG), assim
articulada SF-23-B- -IV-3;
• Santa Cruz produzida pelo Ministério do Exército, departamento de
engenharia e comunicação da diretoria de serviço geográfico (DSG), assim
articulada SF-23-Z-A-IV-4 e SF-23-Z-C-III-2.

Miguel Pereira

Paracambí Cava Petrópolis

Santa Cruz Vila Militar Baía de Guanabara

Metros

1:5000

Figura 5.2 – Representação do conjunto de cartas topográficas utilizadas para registro


das imagens e para digitalização de contorno e delimitação da bacia hidrográfica dos
rios Iguaçu e Sarapuí.

Para condução do processo de georeferenciamento, feito inicialmente para a


imagem Landsat, pontos de controle foram escolhidos de forma a serem identificados
78
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

tanto nas cartas plani-altimétricas quanto na imagem. Nesse sentido, foram utilizadas
feições características e notáveis como cruzamento de estradas, pontes, junção de canais
de rios, entre outras. A partir das coordenadas UTM de cada ponto e suas respectivas
coordenadas coluna e linha na imagem, juntamente com o método de reamostragem do
vizinho mais próximo e uso de um polinômio de primeira ordem, foi possível fazer a
retificação da imagem. O erro no procedimento de georeferenciamento da imagem
Landsat foi da ordem de 1 píxel. A Tabela 5.1 apresenta as coordenadas dos pontos de
controle utilizados no processo de georeferenciamento, enquanto a Figura 5.3 ilustra a
disposição desses pontos na imagem Landsat5-TM. Note-se a distribuição uniforme dos
pontos de controle na área de estudo, que é um dos requisitos para assegurar a qualidade
do trabalho de retificação. A Figura 5.4 mostra a imagem georeferenciada com o
sistema de coordenadas UTM e o limite da bacia dos rios Iguaçu e Sarapuí com seus
cursos de água através da composição colorida 4, 5 e 3 nas cores vermelho, verde e azul
respectivamente.

79
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.1 – Pontos de controle terrestre para georeferenciar a imagem Landsat5-TM.


Erro médio quadrático (EMQ) – total = 0.727 píxel
ID# (Mapa x,y) (Imagem x,y): (x,y estimado) (Erro x,y) (EMQ)
#1 (670206.37,7489178.04) (1650.00,1519.00): (1649.85,1518.05) (-0.15,-0.95) (0.96)
#2 (679700.00,7493150.00) (1938.00,1340.00): (1937.70,1339.59) (-0.30,-0.41) (0.51)
#3 (675715.00,7485870.00) (1847.00,1593.64): (1847.23,1594.72) (0.23,1.08) (1.10)
#4 (681575.50,7465150.00) (2150.00,2228.00): (2150.05,2228.51) (0.05,0.51) (0.51)
#5 (681850.50,7468150.00) (2141.80,2130.60): (2142.80,2130.71) (1.00,0.11) (1.00)
#6 (679198.33,7486831.02) (1956.25,1544.50): (1955.51,1545.17) (-0.74,0.67) (1.00)
#7 (676200.00,7501925.00) (1776.00,1077.00): (1776.17,1076.60) (0.17,-0.40) (0.43)
#8 (671037.18,7468900.00) (1787.00,2165.00): (1786.79,2164.75) (-0.21,-0.25) (0.32)
#9 (653145.00,7471230.00) (1192.00,2185.00): (1191.74,2186.08) (-0.26,1.08) (1.12)
#10 (643475.00,7471475.00) (875.75,2230.75): (875.62,2230.18) (-0.13,-0.57) (0.58)
#11 (665750.00,7481450.00) (1547.00,1791.00): (1546.59,1790.14) (-0.41,-.86) (0.95)
I#12 (661770.00,7478630.00) (1432.20,1902.40): (1432.29,1902.08) (0.09,-.32) (0.34)
#13 (644580.00,7485625.00) (833.80,1769.00): (834.31,1769.68) (0.51,0.68) (0.85)
#14 (646740.00,7487775.00) (892.00,1689.25): (892.94,1689.02) (0.94,-0.23) (0.97)
#15 (652035.00,7510235.00) (943.20,939.20): (943.06,939.17) (-0.14,-0.03) (0.15)
#16 (666250.00,7496400.00) (1482.00,1307.67): (1481.76,1307.35) (-0.24,-0.32) (0.40)
#17 (650000.00,7490800.00) (983.00,1574.00): (982.65,1574.36) (-0.35,0.36) (0.50)
#18 (647100.00,7499025.00) (843.50,1325.50): (843.27,1325.70) (-0.23,0.20) (0.30)
#19 (686750.00,7501120.00) (2123.75,1045.75): (2124.46,1045.91) (0.71,0.16) (0.73)
#20 (674400.00,7476050.00) (1858.33,1918.00): (1857.54,1917.09) (-0.79,-0.91) (1.20)
#21 (663450.00,7494000.00) (1403.67,1399.33): (1403.53,1399.44) (-0.14,0.11) (0.18)
#22 (661200.00,7488400.00) (1360.25,1591.50): (1360.64,1591.36) (0.39,-0.14) (0.41)
#23 (687000.00,7509750.00) (2086.09,767.09): (2086.08,767.51) (-0.01,0.42) (0.42)

80
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Figura 5.3 - Composição colorida das bandas 4, 5 e 3, nas cores vermelho, verde e
azul respectivamente, com os pontos de controle que foram utilizados para o registro da
imagem Landsat5-TM obtida em 27 de junho de 1994.
81
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Figura 5.4 – Composição colorida das bandas 4, 5 e 3, nas cores vermelho, verde e azul
respectivamente, georeferenciada com sistema de coordenadas UTM e o limite da bacia dos rios
Iguaçu e Sarapuí com seus cursos de água
82
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

A imagem de radar foi, então, georeferenciada no mesmo arquivo que continha


a imagem Landsat. Dispondo das imagens georeferenciadas, foi simulada a primeira
tentativa de classificar a imagem. Nesta dissertação, optou-se, seguindo Abreu (2000),
primeiramente, por um procedimento não supervisionado, com a finalidade de
identificar as várias formas de ocupação da bacia, a partir da imagem Landsat. Como
descrito na metodologia, espera-se que os píxeis disponham-se em grupos no espaço de
atributos correspondentes às várias classes ou formas de ocupação do solo. Para
caracterização dos píxeis em classes, foi empregado o algoritmo isodata. Após algumas
simulações com diferentes números de classes, adotou-se 10 classes por apresentar uma
melhor discriminação e identificação das várias formas de ocupação do solo da bacia do
Iguaçu-Sarapuí. Os grupos de píxeis identificados pela classificação não supervisionada
serviram de base para estabelecer as regiões de treinamento fornecidas, então, no
processo de classificação supervisionada. A Figura 5.5 ilustra a imagem classificada
com a legenda resultante desse processo classificatório, utilizando as bandas 1, 2 ,3 ,4, 5
e 7. Na Figura 5.5, pode-se associar, a partir de uma análise visual, a classe 2 com
água/nuvem, a classe 3 com mangue/sombra, a classe 4 com várzea, a classe 5 com
floresta, a classe 6 com vegetação, a classe 7 com vegetação, a classe 8 com região
urbana, a classe 9 com vegetação e a classe 10 com região urbana.

83
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Legenda:
• Densidade Urbana Alta • Várzea • Várzea
• Cultura • Densidade Urbana Média • Floresta
• Água • Mangue

Figura 5.5 - Classificação pelo método não supervisionado, utilizando o algoritmo


isodata e legenda resultante do processo classificatório, bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7.
84
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tomando-se como base a imagem classificada pelo método isodata, passou-se à


definição das regiões de treinamento. Uma análise visual e estatística foi necessária para
identificação das áreas de treinamento. O tratamento foi visual na medida em que
diferenciava-se uma classe da outra e estatístico em função da análise de parâmetros
como média e desvio-padrão para cada região de treinamento, tendo como objetivo
gerar regiões de treinamento com o maior grau de similaridade e representatividade
espectral possível. As áreas de treinamento para o procedimento de classificação
supervisionada foram, então, finalmente definidas a partir de visitas a bacia
hidrográfica, a saber: nuvem, água, mangue, floresta, capoeira, cultura, várzea, sombra,
densidade urbana alta e densidade urbana média. Cabe ressaltar que o conjunto de áreas
de treinamento inicialmente definidas tendo como base a imagem Landsat (áreas de
treinamento A1) foram ajustadas quando introduziu-se no estudo a imagem de radar
(áreas de treinamento A2), uma vez que algumas áreas não eram cobertas por essa
imagem. Essa observação é importante na medida em que serão apresentados mais
adiante quadros comparativos para diferentes classificações incluindo as bandas
originais Landsat e Radarsat bem como bandas sintéticas derivadas envolvendo textura.
Estabelecidas as regiões de treinamento para as 8 classes de cobertura do solo,
procedeu-se a análise de correlação entre as bandas espectrais das imagens Landsat
(bandas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) e Radarsat (banda 8) através da matriz de correlação,
conforme mostra a Tabela 5.2.

Tabela 5.2- Matriz de correlação entre as bandas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8.


Bandas Banda 1 Banda 2 Banda 3 Banda 4 Banda 5 Banda 6 Banda 7 Banda 8
1 1,000 0,975 0,903 0,792 0,889 0,953 0,817 0,261
2 0,975 1,000 0,961 0,772 0,925 0,889 0,885 0,250
3 0,903 0,961 1,000 0,621 0,884 0,757 0,934 0,248
4 0,792 0,772 0,621 1,000 0,845 0,844 0,572 0,155
5 0,889 0,925 0,884 0,845 1,000 0,820 0,893 0,210
6 0,953 0,889 0,757 0,844 0,820 1,000 0,663 0,239
7 0,817 0,885 0,934 0,572 0,893 0,663 1,000 0,229
8 0,261 0,250 0,248 0,155 0,210 0,239 0,229 1,000

85
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Duas bandas são ditas correlacionadas quando, dada a reflectância de um


determinado píxel em uma delas, pode-se deduzir com razoável aproximação a
reflectância do píxel correspondente na outra. Se duas bandas são absolutamente
idênticas, as imagens dessas bandas são ditas correlacionadas em 100%. A correlação
entre bandas multiespectrais obscurece diferenças entre reflectâncias dos alvos
superficiais, dificultando a sua identificação e, conseqüentemente, a sua separabilidade
espectral. O grau de correlação indica o quanto uma imagem pode ser explicada a partir
de outra. Valores altos de correlação implicam uma certa redundância de informações,
ou, visto sob outra perspectiva, podem implicar em um esforço desnecessário na
manipulação, processamento e armazenamento de dados.
Observa-se uma alta correlação entre as bandas 1/2 (0,975), 1/7 (0,817) e 2/7
(0,885). Por outro lado, o grau de correlação é menor para as bandas 3/4 (0,621), 3/5
(0,884) e 4/5 (0,845). Nota-se ainda que a banda 4, excetuando-se a banda 8 de radar, é
a que apresenta a menor correlação com as demais bandas. Apresentam ainda altas
correlações as bandas 2/3 (0,961), 1/3 (0,903), 3/7 (0,934) e 5/7 (0,893). Em princípio,
há um forte indicativo de que a composição 3/4/5 ofereça um melhor resultado no
processo de classificação, tendo em vista uma menor correlação entre as bandas. Além
disso, a adição das bandas 1/2/7 às bandas 3/4/5 não deverá apresentar sensível melhora
nos resultados do processo de classificação, já que são altas as correlações das bandas
1/2/7 com as bandas 3/4/5. Finalmente, a banda de radar (banda 8) apresentou baixa
correlação com as demais bandas, o que indica que pode vir a complementar a
informação fornecida pela imagem Landsat em um procedimento de classificação.
A análise feita a partir da matriz de correlação das bandas foi demonstrada nos
resultados obtidos para o procedimento de classificação. Nesta dissertação, foram
elaboradas algumas composições envolvendo as bandas da imagem Landsat e a banda
da imagem Radarsat. A título de ilustração, apresenta-se, inicialmente, as classificações
que incluem composições das bandas 1/2/7 e 3/4/5 (áreas de treinamento A1) e
composições 3/4/5 e 3/4/8 (áreas de treinamento A2). Os resultados foram derivados
para as áreas de treinamento utilizadas como amostras de calibração e como amostras de
validação. As Tabela 5.3 (a,b) (1/2/7-calibração/validação/A1), 5.4 (a,b) (3/4/5-
calibração/validação/A1), 5.5 (a,b) (3/4/5- calibração/validação/A2) e 5.6 (a,b) (3/4/8 -
86
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

calibração/validação/A2) apresentam as matrizes de erros correspondentes a essas


composições, incluindo o índice kappa relativo à precisão do procedimento de
classificação.
Como mencionado anteriormente, o coeficiente kappa é uma medida da
concordância entre as amostras da cena e aquelas derivadas através da classificação da
imagem de sensoriamento remoto, sendo calculado pela expressão
p0 − pl
k= (5.1)
1 − pl
onde:
p0 - percentual total de acertos observado;
pl- percentual total de acertos esperado ao acaso.

87
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.3 a - Análise estatística das áreas de treinamento A1 (calibração), bandas 1/2/7 (kappa=0,87)
Matriz de erros
Classe nuvem água mangue floresta Capoeira Cultura Varzea sombra urbmedio urbalta Total
Não 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Classificado
nuvem 1356 16 04 0 0 3 4 0 0 37 1552
água 0 5610 0 0 0 0 0 22 0 0 5801
mangue 2 109 673 0 5 0 86 0 0 0 724
floresta 18 0 1 2633 47 0 7 208 0 0 2855
capoeira 5 0 2 87 1536 102 348 0 0 0 1923
cultura 20 0 0 0 137 1888 180 0 0 0 2114
varzea 7 03 37 35 195 97 2202 0 16 0 2876
sombra 0 5 0 190 0 0 0 1960 0 0 2258
urbmedio 42 0 0 0 0 5 4 0 2253 176 2294
urbalta 208 0 0 0 0 3 0 0 0 985 1252
Total 1658 5823 717 2945 1920 2098 2831 2190 2269 1198 23649

Tabela 5.3 b - Análise estatística das áreas de treinamento A1 (validação), bandas 1/2/7 (kappa=0,66)

Classe água mangue floresta Capoeira Urbalt várzea Total


Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0
Água 2743 48 0 0 0 0 2791
mangue 0 65 0 3 0 0 68
floresta 0 102 674 149 0 0 925
capoeira 0 0 338 578 8 51 980
urbalta 0 0 0 2 190 0 192
varzea 26 755 0 249 71 996 2097
Total 2769 975 1012 981 269 1047 7053
88
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.4 a - Análise estatística das áreas de treinamento A1 (calibração), bandas 3/4/5(kappa= 0,97)
Matriz de erros
Classe nuvem água mangue floresta capoeira cultura Várzea sombra Urbmedio urbalta Total
Não 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Classificado
nuvem 1504 14 0 0 0 8 3 0 0 23 1552
água 0 5801 0 0 0 0 0 0 0 0 5801
mangue 0 6 717 0 0 0 1 0 0 0 724
floresta 18 0 0 2787 0 0 8 42 0 0 2855
capoeira 9 0 0 0 1899 15 0 0 0 0 1923
cultura 18 0 0 0 21 2075 0 0 0 0 2114
varzea 15 0 0 43 0 0 2795 7 16 0 2876
sombra 0 2 0 115 0 0 0 2141 0 0 2258
urbmedio 17 0 0 0 0 0 24 0 2253 0 2294
urbalta 77 0 0 0 0 0 0 0 0 1175 1252
Total 1658 5823 717 2945 1920 2098 2831 2190 2269 1198 23649

Tabela 5.4 b - Análise estatística das áreas de treinamento A1 (validação), bandas 3/4/5 (kappa=0,73)
Classe água mangue floresta Capoeira urbalt várzea Total
Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0
água 2789 2 0 0 0 0 2815
mangue 0 66 0 0 2 0 68
floresta 0 118 770 217 0 0 1105
capoeira 0 0 213 698 17 1 929
urbalta 0 0 0 5 204 2 211
varzea 0 728 1 67 63 1175 2034
Total 2789 938 984 987 286 1178 7162
89
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.5 a- Análise estatística das áreas de treinamento A2(calibração), bandas 3/4/5 (kappa=0,95)

Classe água mangue floresta cultura Capoeira várzea sombra Urbmedio Urbalta Total
Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
água 5371 4 0 0 0 0 0 0 0 5375
mangue 0 732 0 0 0 98 0 0 0 830
floresta 0 0 869 4 0 4 66 0 0 943
cultura 0 1 0 1520 17 24 0 1 2 1565
Capoeira 0 1 0 135 427 7 0 0 0 570
Várzea 0 36 8 23 1 2426 0 78 2 2574
Sombra 0 0 57 0 0 0 1092 0 0 1149
Urbmedio 0 0 0 0 0 58 0 2228 14 2300
urbalta 0 0 1 3 0 7 0 36 758 805
Total 5371 774 935 1685 445 2624 1158 2343 776 16111

Tabela 5.5 b- Análise estatística das áreas de treinamento A2(validação), bandas 3/4/5 (kappa=0,72)

Classe água mangue floresta Capoeira urbalt várzea Total


Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0
água 2791 8 0 0 0 0 2739
mangue 15 143 0 0 0 0 143
floresta 0 52 862 381 0 0 1295
capoeira 0 0 0 193 6 0 199
urbalta 0 0 1 17 290 5 2194
varzea 1 774 5 108 113 1198 317
Total 2791 977 868 699 409 1203 6947

90
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.6 a- Análise estatística das áreas de treinamento 2(calibração), bandas 3/4/8 (kappa=0,92).

Classe Água mangue floresta cultura Capoeira várzea Sombra urbmedio Urbalta Total
Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
água 5366 2 0 0 0 0 0 0 0 5368
mangue 3 712 0 0 0 180 0 5 0 900
floresta 0 0 865 2 0 26 66 0 0 959
cultura 0 2 0 1440 31 35 0 3 5 1516
capoeira 0 1 0 210 412 23 0 0 0 646
várzea 1 57 9 28 2 2294 1 64 2 2458
sombra 1 0 61 0 0 0 1091 0 0 1153
urbmedio 0 0 0 0 0 55 0 2185 19 2259
urbalta 0 0 0 5 0 11 0 86 750 852
Total 5371 774 935 1685 445 2624 1158 2343 776 16111

Tabela 5.6 b- Análise estatística das áreas de treinamento 2 (validação), bandas 3/4/8 (kappa=0,71).

Classe água mangue Floresta Capoeira urbalt várzea Total


Não Classificado 0 0 0 0 0 0 0
água 2775 6 0 0 0 0 2781
mangue 1 122 0 0 9 0 141
floresta 0 518 838 376 0 0 1732
capoeira 0 0 1 217 2 0 220
urbalta 0 331 2 134 52 1179 1699
varzea 1 0 16 35 308 7 366
Total 2786 977 857 762 371 1186 6939

91
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Os resultados obtidos confirmam as afirmativas feitas com base na matriz de


correlação, onde o uso das bandas 3/4/5 (k= 97%) apresentou um resultado superior do
que a combinação 1/2/7 (k=86%) no caso da imagem Landsat. No caso da análise
comparativa dos resultados de calibração, envolvendo as composições 3/4/5 (k=97%) e
3/4/8 (k=92%), percebe-se que a imagem de radar, com baixa correlação com as demais
bandas, contribui para que o resultado do processo de classificação seja equivalente ao
uso estrito de bandas do sensor Landsat5-TM. O uso de todas bandas, embora tenha
levado a que se obtivesse o maior índice de precisão na classificação (k=97%), não
melhorou sensivelmente os resultados quando feita a comparação com as bandas 3/4/5
(k=97%), uma vez que as bandas 1/2/7 introduzidas apresentam correlação elevada com
as bandas 3/4/5. Cabe ainda comentar que o índice kappa obtido para o processo de
validação foi inferior para todas as composições realizadas.
Lembre-se, nesse momento, que o método de máxima verossimilhança é um
classificador do tipo píxel a píxel, não levando em conta a estrutura de correlação
espacial da imagem. Assim, investigou-se a possibilidade de se considerar, de alguma
forma, essa correlação espacial em algoritmos de classificação. Inicialmente, foi feita a
verificação da estrutura de correlação espacial presente em uma imagem através da
construção de variogramas. As Figuras 5.6, 5.7 e 5.8 mostram alguns variogramas
empíricos obtidos para as imagens Landsat5-TM (bandas 1, 2, 3, 4, 5, 7) para água,
floresta e mangue, respectivamente. Esses variogramas foram adimensionalizados pela
variância dos tons de cinza.
Os variogramas são caracterizados pelos seguintes parâmetros:
• alcance (zona de influência) – distância a partir da qual dois valores não
estão mais correlacionados;
• efeito pepita – descontinuidade verificada próximo à origem, que caracteriza
a influência residual de todas as variabilidades que têm zonas de influências
menores que as distâncias das observações disponíveis;
• patamar – valor onde o variograma atinge a zona de influência, descontado
o valor do efeito pepita.
As formas dos variogramas apresentados caracterizam melhor a efetiva
existência de correlação espacial em áreas como floresta (Figura 5.7) e mangue (Figura
92
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

5.8) presentes na imagem, enquanto, na água, esse efeito foi menos pronunciado (Figura
5.6). Note-se que esses variogramas apresentam o patamar em torno de 1, uma vez que
foram adimensionalizados pela variância dos tons de cinza. O efeito pepita existe em
função de que o suporte de amostragem é o píxel (30 m X 30 m), onde variabilidades
que ocorrem em escalas inferiores ao tamanho do píxel são contabilizadas na origem.
No entanto, há diferenças no que diz respeito, por exemplo, ao alcance ou zona de
influência, medido em píxeis, para os diferentes tipos de cobertura examinados nas
Figuras 5.6, 5.7 e 5.8. Por exemplo, a área de mangue apresentou alcance da ordem de
50 píxeis. As áreas de floresta apresentaram alcances variando de 20 a 40 píxeis
conforme a banda utilizada. Esse tipo de informação é essencial em algoritmos que
pretendam fazer estimativas de atributos em processo de interpolação e
extrapolação.
1,8

1,6

s
e 1,4
m
i
1,2
v
a
r 1 banda1
i banda4
â banda5
n 0,8
c banda8
i
a 0,6

0,4

0,2

0
0 10 20 30 40 50 60
distância(píxel)

Figura 5.6 - Variogramas adimensionais empíricos das bandas 1, 4, 5 e 8 (água).

93
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

2,5

s
e 2
m
i
v
a
r
i 1,5
â
banda1
n
c banda4
i banda5
a 1

0,5

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Distância(píxel)

Figura 5.7-Variogramas adimensionais empíricos das bandas 1, 4 e 5 (floresta)


4

3,5
s
e
m
i 3
v
a
r 2,5
i
â banda1
n banda8
c 2
i banda4
a banda5
1,5

0,5

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Distância(píxel)

Figura 5.8 - Variogramas adimensionais empíricos para as bandas 1, 4, 5 e 8


(mangue)

Tendo em vista a presença de uma estrutura de correlação espacial bem definida,


julgou-se interessante explorar algoritmos de classificação por textura. Nesta pesquisa,
optou-se pela escolha dos métodos NGLDM (Sun e Wee, 1983), com desenvolvimento
do código computacional em Fortran, e GLCM (Haralick et al., 1973). Cinco estatísticas
de textura, SNE (ênfase nos números pequenos), LNE (ênfase nos números grandes),
94
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

NNU (número não uniforme), segundo momento (SMT) e entropia (ENT), foram
preliminarmente analisadas para as bandas 5 e 7 da imagem Landsat5-TM e banda 8
(Radarsat). Os parâmetros definidos para o algoritmos NGLDM foram β= 1, α=16, 32 e
64 e janela com tamanho 11 X 11. Esses parâmetros devem ser melhor explorados em
futuros trabalhos, especialmente no que diz respeito aos parâmetros α e tamanho da
janela. O tamanho da janela 11 X 11, por exemplo, foi definido arbitrariamente. Um
maior investigação com base nos variogramas construídos pode dar margem inclusive
ao desenvolvimento de algoritmos mais poderosos de classificação. A título de
ilustração, estão apresentados nas Figuras 5.9 e 5.10 os resultados correspondentes às
texturas NNU e LNE aplicadas na banda 5 do sensor Landsat5-TM.
No caso do método GLCM, três estatísticas, HOM (homogeneidade ou
uniformidade), DIS (dissimilaridade) e CON (contraste), foram aplicadas às bandas 5 e
7 da imagem Landsat e à banda 8 (Radarsat). O ângulo para a análise foi arbitrado como

95
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Figura 5.9 - Textura NNU (método NGLDM) aplicada à banda 5 da imagem do


sensor Landsat5-TM.

96
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Figura 5.10 - Textura LNE (método NGLDM) aplicada à banda 5 da imagem do


sensor Landsat5-TM.

900. Essa é uma devantagem desse método, mais utilizado na literatura e disponível em
códigos computacionais comerciais como, por exemplo, o ENVI(2000).

97
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Com base no exposto, apresenta-se, a seguir, algumas das composições testadas


(Tabelas 5.7, 5.8, 5.9 e 5.10). Foram elaborados dois conjuntos de composições. O
primeiro grupo (Tabelas 5.7 e 5.8) envolveu as bandas originais da imagem Landsat e
bandas sintéticas (textura) derivadas pelos métodos NGLDM (notação NG, o número
que segue diz respeito ao valor de α) e GLCM (notação GL), enquanto o segundo grupo
(Tabelas 5.9 e 5.10) destaca-se pela incorporação da imagem de radar e respectivas
bandas sintéticas (textura) derivadas pelos métodos NGLDM e GLCM.

98
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.7 - Resultados relativos à precisão do processo de classificação obtidos a partir da imagem Landsat – Calibração

Combinação das bandas Calibração


Água Mangue Floresta Capoeira Cultura Várzea Urbmédia Urbalta Kappa
1/2/7 96,34 93,86 89,41 80,00 89,99 77,78 93,12 82,22 0,87
3/4/5 99,62 100,00 94,63 98,91 98,90 98,73 99,29 98,08 0,97
1/2/3/4/5/7 99,62 100,00 94,94 98,13 98,95 99,22 99,82 98,25 0,97
1/2/7-NNU-NG16 93,63 83,26 78,85 46,35 89,04 68,92 87,62 79,88 0,78
1/2/7-LNE-NG16 63,42 82,43 92,84 45,00 81,03 38,40 91,10 86,23 0,65
3/4/5-NNU-NG16 97,60 99,58 93,28 95,47 95,42 97,32 97,93 96,58 0,95
3/4/5-CON-GL 98,39 99,30 94,53 95,36 94,52 97,35 98,10 95,33 0,96
3/4/5-HOM-GL 99,67 99,86 93,45 95,52 96,00 97,74 98,72 98,33 0,96
3/4/5-DIS-GL 98,08 99,86 93,45 95,26 96,38 97,63 98,28 94,99 0,96
1/2/7-DIS-GL 94,57 84,66 90,56 52,60 87,08 67,47 93,79 86,14 0,81
3/4/5-SMT-NG32 99,57 99,86 93,89 95,31 96,81 97,95 98,33 98,91 0,96
3/4/5-SMT-NG64 99,66 99,86 93,89 95,26 96,66 97,85 98,15 99,17 0,96
3/4-NNU-NG16/5 98,80 99,86 94,36 92,24 94,47 95,05 97,93 93,57 0,95

99
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.8 - Resultados relativos à precisão do processo de classificação obtidos a partir da imagem Landsat - Validação

Combinação das bandas Validação


Água Mangue Floresta Capoeira Várzea Urbalta Kappa
1/2/7 99,06 6,67 66,6 58,92 95,13 70,63 0,66
3/4/5 100,00 7,04 78,25 70,72 99,75 71,33 0,73
1/2/3/4/5/7 100,00 7,27 78,62 71,17 99,59 82,46 0,74
1/2/7-NNU-NG16 99,25 5,60 70,37 55,66 78,31 84,47 0,65
1/2/7-LNE-NG16 73,09 2,46 93,29 38,16 36,90 99,31 0,46
3/4/5-NNU-NG16 100,00 12,64 75,46 78,85 98,44 99,01 0,75
3/4/5-CON -GL 100,00 5,53 75,42 73,04 99,91 92,68 0,74
3/4/5-HOM-GL 100,00 9,25 76,74 76,85 98,34 98,04 0,73
3/4/5-DIS-GL 100,00 8,00 75,86 76,87 98,31 99,37 0,74
1/2/7-DIS-GL 100,00 2,77 81,94 57,48 69,60 100,00 0,67
3/4/5-SMT-NG32 100,00 8,10 75,23 73,13 99,49 97,09 0,75
3/4/5-SMT-NG64 100,00 9,38 74,20 76,02 99,39 99,70 0,72
3/4-NNU-NG16/5 100,00 10,44 55,99 82,02 98,44 91,45 0,71

100
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.9 - Resultados relativos à precisão do processo de classificação envolvendo a imagem de radar - Calibração

Combinação das bandas Calibração


Água Mangue Floresta Capoeira Cultura Várzea Urbmédia Urbalta Kappa
3/4/5 100,00 94,57 92,94 90,21 95,96 92,45 95,09 97,68 0,95
1/2/7 98,44 89,92 95,29 81,12 81,07 70,66 92,70 75,26 0,86
1/2/3/4/5/7/R 99,93 95,22 95,51 95,73 93,06 94,21 97,14 97,81 0,96
3/4/R 99,91 91,99 92,51 92,58 85,46 87,42 93,26 96,65 0,92
2/7/R 98,19 88,50 93,05 82,02 64,33 54,92 88,13 69,46 0,80
4/5/R 99,89 68,35 89,09 95,06 86,59 62,42 91,51 97,81 0,85
3/4/R- DIS-GL 100,00 94,06 92,41 91,91 88,07 89,25 96,80 96,39 0,94
3/4/R-HOM-GL 100,00 91,60 99,57 97,30 71,99 78,54 92,79 92,01 0,86
3/4/R-MED-GL 100,00 85,40 70,70 80,90 61,54 72,03 90,44 89,43 0,81
R/R-HOM-GL/ R-MED-GL 100,00 16,15 12,73 24,27 8,55 13,83 54,63 38,02 0,39
R/R-VAR-GL/R-MED-GL 98,55 66,15 13,90 56,63 13,00 57,36 51,22 19,33 0,49
R/R-NNU-NG16/R-CON-NG16 96,46 5,68 68,66 92,36 5,52 0,00 36,66 2,96 0,37
R/R-LNE-NG16/R-NNU-NG16 99,18 61,24 11,98 57,98 19,76 33,46 61,80 24,61 0,48
R/R-SNE-NG16/R-SMT-NG16 99,85 95,35 91,55 91,24 87,89 89,10 96,07 95,75 0,94

101
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Tabela 5.10 - Resultados relativos`a precisão do processo de classificação envolvendo a imagem de radar - Validação

Combinação das bandas Validação


Água Mangue Floresta Capoeira Várzea Urbalta Kappa
3/4/5 100,00 14,64 99,31 27,61 99,58 70,90 0,72
1/2/7 98,28 10,66 97,24 5,28 87,30 65,75 0,62
1/2/3/4/5//7/R 99,39 15,25 99,46 16,62 99,27 76,50 0,72
3/4/R 99,61 12,49 97,78 28,48 99,41 83,02 0,71
2/7/R 98,16 32,34 89,84 5,50 80,54 81,37 0,61
4/5/R 99,96 8,12 68,94 59,34 99,56 45,74 0,68
3/4/R-DIS-GL 99,10 21,19 0,00 16,30 97,98 93,09 0,57
3/4/R-HOM-GL 98,91 12,49 0,00 37,11 94,88 82,68 0,66
3/4/R-MED-GL 100,00 7,74 0,00 76,53 91,54 44,39 0,58
R/R-HOM-GL/ R-MED-GL 100,00 25,75 0,00 18,23 30,05 5,90 0,45
R/R-VAR-GL/ R-MED-GL 82,47 70,40 0,00 9,91 81,11 2,83 0,47
R/R-NNU-NG16/R-CON-NG16 84,59 1,89 0,00 45,78 0,00 27,87 0,31
R/R-LNE-NG16/R-NNU-NG16 80,43 81,21 0,00 26,16 25,21 2,48 0,37
R/R-SNE-NG16/R-SMT-NG16 91,91 20,90 83,28 14,35 97,33 96,57 0,67

102
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

De forma a facilitar a exposição da análise dos resultados, apresentam-se as


seguintes comparações possíveis de serem estabelecidas, ainda que de uma forma
preliminar: 1) Landsat original (análise das bandas originais); 2) Landsat original X
textura; 3) textura NGLDM X textura GLCM (imagem Landsat); 4) Landsat original X
Radarsat original; 5) Radarsat original X textura; 6) textura NGLDM X textura GLCM
(imagem Radarsat). As Tabelas 5.7 e 5.8 contemplam os itens 1, 2 e 3, enquanto as
Tabelas 5.9 e 5.10 tratam dos itens 4, 5 e 6.
O maior valor de kappa obtido nas combinações de bandas testadas foi quando
incluímos todas as bandas Landsat com tons de cinza originais (k=97%). Atente-se, no
entanto, para o comportamento bastante bom da combinação 3/4/5 (k=97%),
praticamente equivalente ao uso das bandas 1/2/3/4/5/7. Atente-se para o bom
desempenho das combinações que levaram em conta as bandas 5-NNU-NG16 (k=95%)
e 4-NNU-NG16 (k=95%), embora a adição das bandas de textura não tenha elevado a
precisão do processo de classificação no tocante às amostras de calibração. É
interessante notar que o desempenho das combinações envolvendo as bandas 7-NNU-
NG16 (k=78%) e 7-LNE-NG16 (k=65%) foi mais modesto, mas evidencia a vantagem,
nesse caso, da estatística NNU em relação a estatística LNE.. Uma possível explicação
está ligada ao fato de que as bandas 4 e 5 apresentam maior variabilidade nos tons de
cinza, o que permitiu melhor definir as estatísticas de textura. Por outro lado, os
métodos de textura NGLDM e GLCM apresentaram desempenhos semelhantes. No
caso do método NGLDM, os resultados não foram sensíveis ao parâmetro α, que
assumiu valores de 32 e 64, para a estatística SMT. Para outras estatísticas, no caso da
imagem Landsat, valores elevados de α (32,64) distorceram a classificação, o que pode
ser entendido em função da discretização de apenas 256 níveis de cinza (resolução
radiométrica de 1 byte). A estatística SMT (segundo momento) através das bandas 5-
SMT-NG32 e 5-SMT-NG64 apresentou um bom desempenho. Os resultados
envolvendo a estatística entropia (ENT) não foram bons e não estão apresentados neste
texto. No caso do método GLCM, as estatísticas de contraste, dissimilaridade e
homogeneidade apresentaram comportamentos semelhantes. O papel da textura na
produção de bandas sintéticas a partir de imagens Landsat não se mostrou essencial em
um processo de classificação.
103
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Por outro lado, quando se passa para a análise das Tabelas 5.9 e 5.10, constata-se
que a textura pode contribuir em procedimentos de classificação envolvendo imagem de
radar. Deve-se destacar novamente, neste ponto, que o presente trabalho contribui para a
utilização da imagem de radar em aplicações hidrológicas. No caso, o enfoque está
direcionado para o procedimento de classificação da cobertura e uso do solo. Uma vez
que a imagem de radar não é afetada por nuvens, como é o caso da imagem Landsat (em
muitas regiões, são poucas as imagens Landsat disponíveis em função da cobertura
constante de nuvens), pode-se antever o uso desse tipo de informação também em
aplicações agrícolas, como é o caso de previsão de safras. Nesse caso, é necessário um
acompanhamento mais dinâmico e sistemático, que os sensores na faixa de microondas,
como é caso do Radarsat, podem proporcionar.
Mais especificamente, com relação aos resultados, pode-se observar que a
combinação 3/4/5 do Landsat (k=95%)t apresentou desempenho ligeiramente superior
que a combinação 3/4/R (k=92%), lembrando-se que a banda R diz respeito à imagem
de radar. Quando se subtitui a banda R (3/4/R) por uma banda sintética como, por
exemplo, R-DIS-GL, formando 3/4/R-DIS-GL (k=94%), há melhora no desempenho do
algoritmo de classificação. No método GLCM, a estatística dissimilaridade (DIS)
forneceu resultados superiores (3/4/R-DIS/GL, k=94%) quando comparada com as
estatísticas média (MED) (3/4/R-MED-GL, k=81%) e homogeneidade (HOM) (3/4/R-
HOM-GL, k=86%). Quando, no entanto, fazemos uso apenas de imagem de radar e
bandas sintéticas derivadas a partir desse tipo de imagem, os resultados pioram, como
mostram as combinações R/R-HOM-GL/R-MED-GL( k=39%), R/R-VAR-GL/R-MED-
GL (k=49%), R/R-NNU-NG16/R-CON -NG16 (k=37%) e R/R-LNE-NG16/R-NNU-
NG16 (k=48%). Mas há um resultado surpreendente (R/R-SNE-NG16/R-SMT-NG16,
k=94%), em que a performance foi equivantente a composição 3/4/5 do Landsat
(k=95%), o que incentiva que esforços sejam empreendidos na incorporação da imagem
de radar e de textura em estudos de classificação da cobertura e uso do solo.
Um último comentário pode ainda ser feito com relação às diferentes classes de
cobertura do solo quando se analisam os índices de acerto para algumas classes nas
combinações envolvendo textura. Classes com maior homogeneidade espectral como
água, por exemplo, apresentaram baixos valores para os índices de acerto. Por outro
104
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

lado, as áreas urbanas e de floresta tendem a ser melhor identificadas em combinações


envolvendo textura.
Ressalte-se que os índices de precisão das classificações avaliadas foram
inferiores para as amostras de validação quando comparadas com as amostras de
calibração. No entanto, os resultados para a validação confirmam, em linhas gerais, as
análises feitas para as amostras de calibração. Cabe ainda observar que, em adição ao
estudo de sensibilidade dos parâmetros do algoritmo NGLDM e GLCM na obtenção das
bandas sintéticas, novas estatísticas de textura devem ser avaliadas para que se possa ter
um quadro mais completo sobre o desempenho dessa abordagem em processos de
classificação de imagens de sensoriamento remoto. Devem ainda ser dedicados esforços
no desenvolvimento de algoritmos que levem em consideração a abordagem
geoestatística.
Finalmente, cabe destacar que os mapas resultantes do processo de classificação
de imagens de sensoriamento remoto podem ser inseridos em modelos hidrológicos
distribuídos. Esses modelos procuram levar em conta a variabilidade espacial da
informação. A concepção de modelos que incorporem esse tipo de informação e
permitam um entendimento mais profundo dos processos físicos envolvidos no estudo
do ciclo hidrológico constitui um desafio na área de recursos hídricos. A título de
ilustração, mostram-se nas Figuras 5.11 e 5.12 os mapas classificados resultantes da
composições 3/4/5 do Landsat e 3/4/R, envolvendo bandas Landsat e a imagem de radar
utilizadas nesta dissertação.

105
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Legenda:

• Densidade Urbana Alta • Várzea • Várzea


• Cultura • Densidade Urbana Média • Floresta
• Água •
Mangue
Figura 5.9 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança
envolvendo as bandas 3, 4 e 5 da imagem Landsat
106
Capítulo 5 – Resultados e Discussão

Legenda:
• Densidade Urbana Alta • Várzea • Várzea
• Cultura • Densidade Urbana Média • Floresta
• Água Mangue•
Figura 5.10 - Classificação supervisionada pelo método da máxima verossimilhança
envolvendo as bandas 3, 4 da imagem Landsat e a banda de radar (Radarsat).

107
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A meta mais ampla dessa pesquisa constitui-se em contribuir para a integração


entre o mapeamento da cobertura do solo de uma bacia hidrográfica derivado a partir do
sensoriamento remoto e o uso de modelos hidrológicos do tipo chuva-vazão, no
contexto do planejamento de ocupação do solo. Mais especificamente, foi investigado o
procedimento de classificação digital de uma imagem de satélite através do método de
máxima verossimilhança e dos métodos NGLDM e GLCM de classificação por textura.
Os tópicos abordados envolveram a avaliação de diferentes estratégias e técnicas
de análise digital de imagens e utilização das técnicas de classificação não
supervisionada e supervisionada para mapeamento da cobertura do solo de uma bacia
hidrográfica com base em uma imagem Landsat5-TM e em uma imagem de radar. No
presente trabalho, o estudo foi conduzido para a bacia hidrográfica dos rios Sarapuí e
Iguaçu a partir de imagem do Landsat5-TM com data de 27 de junho de 1994 e de
imagem do Radarsat (banda C) com data de 23 de julho de 1997.
O referencial metodológico envolveu o procedimento de classificação da
imagem Landsat5-TM através de uma classificação não supervisionada seguida de uma
classificação supervisionada. Para a classificação não supervisionada, foi empregado o
método isodata, enquanto o método de máxima verossimilhança foi utilizado para a
classificação supervisionada.
O método isodata foi empregado essencialmente na melhor definição das áreas
de treinamento. Essas áreas assim definidas serviram como balizamento do processo de
classificação supervisionada. Para a definição das áreas de treinamento do processo de
classificação das imagens foram utilizados dados de reconhecimento de campo,
composições coloridas da imagem Landsat5-TM. Método de classificação não
Supervisionada Isodada e as bandas 3, 4 e 5 foram escolhidas a composição espectral do
processo de classificação, por apresentarem uma menor correlação entre si.
Feita a classificação, as imagens foram submetidas à avaliações de precisão,
através do coeficiente Kappa. Foram empragadas áreas de treinamento calibração e
validação.

108
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações

A matriz de correlação entre as bandas espectrais da imagem Landsat e Radarsat


foi, então, calculada. A análise da matriz de correlação permitiu identificar a priori o
potencial sucesso ou insucesso de algumas combinações de bandas no processo de
classificação da imagem Landsat, conforme foi efetivamente demonstrado pelos
resultados obtidos. Assim o uso das bandas 3/4/5 apresentou um resultado superior em
relação à composição 1/2/7. O uso de todas as bandas (1/2/3/4/5/7), embora tenha
levado a que se obtivesse o maior índice de precisão na classificação (calibração), não
melhorou sensivelmente os resultados quando comparados com os oriundas da
combinação 3/4/5.
Além disso, investigou-se o uso de dois métodos de classificação que
explorassem, além dos tons de cinza de uma imagem de sensoriamento remoto, a
estrutura de correlação espacial, não considerada em métodos como isodata e máxima
verossimilhança. Para tanto, procedeu-se a uma análise geoestatística preliminar.
Alguns variogramas foram construídos para demonstrar a presença dessa estrutura de
correlação espacial na imagem estudada. Adicionalmente, a análise serviu para definir
o tamanho da janela utilizado nos algoritmos de textura avaliados.
Dentro dessa perspectiva, explorou-se o uso de um método de classificação que
incorporasse de alguma forma essa correlação espacial. Optou-se pelos métodos
NGLDM e GLCM, que estão situados no conjunto dos métodos de classificação por
textura. No método NGLDM, independente quanto à orientação no espaço, cinco
estatísticas de textura foram analisadas a saber: ênfase nos números pequenos (SNE),
ênfase nos números grandes (LNE), número não uniforme (NNU), segundo momento
(SMT) e entropia (ENT). O parâmetro α do método (relação entre os tons de cinza do
píxel central da janela e os píxeis vizinhos) foi avaliado para valores 16, 32, 64. No
método GLCM, três estatísticas foram avaliadas: homogeneidade ou uniformidade
(HOM), dissimilaridade (DIS) e contraste (CON). O ângulo de análise foi de 900 .
Os resultados indicaram o bom desempenho das combinações que levaram em
conta as bandas 5-NNU-NG16 (k=95%) e 4-NNU-NG16 (k=95%), embora a adição
das bandas de textura não tenha elevado a precisão do processo de classificação no
tocante às amostras de calibração. Por outro lado, os métodos de textura NGLDM e
GLCM apresentaram desempenhos semelhantes. O papel da textura na produção de
109
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações

bandas sintéticas a partir de imagens Landsat não se mostrou essencial em um processo


de classificação
Para as amostra de validação, os índices de precisão no processo de classificação
foram inferiores aos resultados obtidos para as áreas de treinamento (calibração), o que
era, de certa forma, esperado. As análises feitas com relação aos resultados obtidos com
as amostras de calibração, para as combinações de bandas avaliadas nessa dissertação,
continuam válidas.
Conduzida a análise de classificação para a imagem Landsat, incluindo os
algoritmos de textura NGLDM e GLCM, passou-se a avaliar a incorporação da imagem
de radar (Radarsat) no procedimento de mapeamento da cobertura e uso do solo. Para
tanto, combinações envolvendo bandas espectrais do Landsat com o radar foram
elaboradas. Os métodos de textura NGLDM e GLCM também foram aplicados à banda
de radar.
Por outro lado, quando se passou para a análise das Tabelas 5.9 e 5.10,
constatou-se que a textura pode contribuir em procedimentos de classificação
envolvendo imagem de radar. Com relação aos resultados, pode-se observar que a
combinação 3/4/5 do Landsat (k=95%) apresentou desempenho ligeiramente superior
que a combinação 3/4/R (k=92%), lembrando-se que a banda R diz respeito à imagem
de radar. Quando se subtitui a banda R (3/4/R) por uma banda sintética, há
possibilidades de melhora no desempenho do algoritmo de classificação. Quando, no
entanto, fazemos uso apenas de imagem de radar e bandas sintéticas derivadas a partir
desse tipo de imagem, os resultados pioram. Mas houve um resultado surpreendente em
que apenas a banda de radar e bandas sintéticas derivadas a partir dessa imagem
forneceram índice de classificação equivantente a composição 3/4/5 do Landsat, o que
incentiva que esforços sejam empreendidos na incorporação da imagem de radar e de
textura em estudos de classificação da cobertura e uso do solo.
Cabe ressaltar que o estudo de textura conduzido nesta pesquisa permite
visualizar o potencial de aplicação, em termos espaciais e temporais, em situações que
se dispõe, por exemplo, de uma única banda. Bandas sintéticas podem, então, ser
geradas para promover melhorias no processo de classificação. Destaque-se ainda o
potencial de complementariedade entre imagem Landsat e imagem de radar em
110
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações

procedimentos de classificação. Lembre-se que a imagem de radar não é afetada por


nuvens e a apresenta uma freqüência de imageamento maior do que a imagem Landsat.
Como recomendações para futuros trabalhos, sugere-se:
• definição de modelos hidrológicos que incorporem o mapeamento da
cobertura solo;
• estudos que verifiquem a sensibilidade da informação de mapeamento da
cobertura do solo nos hidrogramas produzidos em uma bacia hidrográfica;
• abordagem geoestatística no desenvolvimento de algoritmos para
classificação digital de imagens de satélite;
• estudo mais aprofundado do método NGLDM e GLCM de classificação
por textura, incluindo o uso de estatísticas de textura no processo de
classificação digital de imagem Landsat e de radar com vistas ao
mapeamento de culturas agrícolas e previsão de safras agrícolas;
• avaliar o potencial do método NGLDM e GLCM em outros tipos de
imagens, como, por exemplo, em imagens de radar, obtidas na faixa de
microondas do espectro eletromagnético, com diferentes polarizações (por
exemplo HH e VV), explorando o uso de filtros e relações entre bandas;
• visar a tecnologia de sensoriamento remoto como instrumento de gestão
hidrológica, no sentido de ampliar a riqueza social de nossa sociedade
através de maior participação comunitária.
Finalmente, espera-se que a pesquisa desenvolvida traga novas perspectivas para
o uso do sensoriamento remoto em recursos hídricos e, em especial, no
desenvolvimento de modelos hidrológicos distribuídos do tipo chuva-vazão sob o
enfoque do planejamento da ocupação do solo de uma bacia hidrográfica.

111
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123
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

APÊNDICE A

PROGRAMA DE DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA

A.1 Descrição Básica do Programa

1ª Etapa: Programa de Saneamento Básico da Baía de Guanabara


Objetivo Final: descontaminação/Saneamento Completo da Baía de Guanabara
Melhoramento da Qualidade de vida/Grande parte da comunidade
fortalecimento institucional/Entidades envolvidas na execução do programa

A.2 Componentes (Entidades Executora; Objetivos;Custos estimados; área de atuação;


população beneficiada; descrição das atividades)
• saneamento básico: abastecimento de água/saneamento (CEDAE)
• macrodrenagem (SERLA)/reassentamento (rio-Urbe)
• resíduos sólidos domésticos (COMLURB/municípios)
• projetos ambientais complementares: controle da contaminação ambiental /
industrial (FEEMA); monitoramento ambiental (FEEMA; SERLA; IEF,
SEMAM; GEDEG); recadastramento rtibutário/mapeamento digital
(municípios).

Detalhamento:
• saneamento básico (CEDAE - Companhia Estadual de Água e Esgoto).
• esgotamento sanitário (município RJ/baixada fluminense/Niterói/São
Gonçalo) Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Nilópolis, São João de Meriti,
Nova Iguaçu, São Gonçalo, Niterói, Ilha do Governador, Ilha de Paquetá
• construção de plantas de tratamento primário de esgotos:
3
5/capacidade:7,1m /s;
• planta de tratamento secundário/Ilha de Paquetá/emissário submarino-
extensão: 2.500m/diâmentro: 300mm.
• coletores troncos - extensão: 108,4 km
• redes coletoras - extensão: 1.005 km/estações de bombeamento: 35
124
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

• melhoria da planta de Icaraí - tratamento secundário - capacidade: 0,63 m3/s;


emissário submarino: extensão: 4,7 km/diâmentro:900 a 1000 mm.
• esgotamento sanitário/favelas (oeste/leste - baía de Guanabara)
• 23 favelas/oeste da baía de Guanabara/redes de decantação: 23,7 km;
conexoões domiciliares: 18.400;
• 8 favelas/Leste da baía de Guanabara/Redes de decantação: 15,0 km;
conexões domiciliares: 10.000;
• integração das redes de decantação aos sistemas de tratamento
(existentes/novos).
• terreno sanitário / Xerém / Duque de Caxias - capacidade: 763 mil m3 (até
2005); lodos: 720m3/dia (55% sólidos); processo de pré-
acondicionamento/secado; equipamentos de transporte dos lodos (plantas
terreno sanitário
• abastecimento de água - municípios da baixada Fluminense/área
metropolitana do RJ e São Gonçalo; rede de distribuição: 267 km; adutoras:
5,6 km; sub-adutoras: 11,6 km; tronco de distribuição: 85,5 km;
reservatórios: 12/capacidade de armazenamento: 107.000 m3; hidrômetros
(aquisição/instalação):525.000; macromedidores/sistemas de tele-controle
(estação de tratamento de água do Guandu/sistema de distribuição/RJ;
• abastecimento de água - 11 favelas/ lado oeste; conexões domiciliares 6000;
redes de distribuição: 11,5 km; reservatórios: 5; estações de bombeamento:5
• abastecimento de água - 8 favelas/ lado este; conexões domiciliares: 5800;
rede de distribuição: 12,8 km; reservatórios; 8; estações de bombeamento:8;
• Macrodrenagem (SERLA - Superintendência de rios e lagoas)/ reassentamento (rio -
Urbe - Empresa Municipal de Urbanização)
• municípios baixada fluminense/bacias dos rios: Acari; Farias; Timbó;
• recuperação dos muros de contenção: 1270 m;
• execução de galerias/canalizações: 3.900 m;
• remoção de material: 400.000 m3;
• aquisição de equipamentos de manutenção;

125
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

• reassentamento: ± 1700 famílias;


• resíduos sólidos domésticos (SOSP - Secretaria de Obras e Serviços públicos do
Governo do Estado do RJ; COMLURB - (Companhia municipal de limpeza
urbana/prefeitura do RJ);
• municípios: Duque de Caxias; Niterói; Nilópolis; São João de Meriti; Magé;
São Gonçalo;
• construção - postos de coleta: 7; postos de limpeza de caminhões: 14; plantas
de compactação: 3 (capacidade total: 800 ton/dia); incineradores/resíduos
hospitalares: 5; recuperação/terreno sanitário/Gramacho ( 5000 ton/dia;
tratamento/líquidos percolados: 800m3/dia);
• melhoramento no serviço de coleta de lixo/áreas críticas/bacias dos rios
Acari/Faria/Timbó/apoio institucional às municipalidades

A.3 Projetos ambientais complementares (FEEMA - Fundação Estadual de Engenharia


do Meio Ambiente; IEF - Instituto Estadual de Florestas; SEMAM - Secretaria
Estadual de Meio Ambiente; SERLA - Superintendência Estadual de Rios e
Lagoas; GEDEG - Grupo Executivo de Descontaminação da Baía de Guanabara)

A.4 Projeto de controle da contaminação ambiental (FEEMA - Fundação Estadual de


Engenharia do Meio Ambiente)
• aperfeiçoar controle/indústrias críticas:53;
• implantar controle/novas indústrias:402;
• concluir controle básico (4anos): 455 indústrias (90% material orgânico);
• melhorar atenção/acidentes tecnológicos/metodologia de gerenciamento de
riscos;
• redução da carga de óleo nos rios/empresas distribuidoras de
combustível/resíduos perigosos;
• elementos de controle industrial: caracterização da indústria; atividades de
controle das fontes de contaminação/padrões de qualidade dos
efluentes/legislação vigente; negociação de plano de ação; análise das

126
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

medidas de controle propostas; comportamento da implementação de


medidas; análise/acompanhamento de programa de auto-controle;
• cronograma de controle indústrial/número de indústrias - 1º ano: 50; 2º ano:
150; 3º ano: 300; 4º ano: 455;
• ordem de prioridades: 1º: indústrias que já tenham sistemas de tratamento;
2º: indústrias que necessitam construção; 3º: indústrias sem informação
precisas.

A.5 Projeto de monitoração ambiental (FEEMA - Fundação Estadual de Engenharia do


Meio Ambiente/IEF - Instituto Estadual de Florestas)
• controle da qualidade do rios/mar/praias/emissários
submarinos/manguesais;
• PDBG: avaliação da 1ª fase/subsídios elaboração da 2ª fase;
• obtenção de dados/calibração do modelo de qualidade de águas/projeto de
cooperação técnica/governo japonês.

A.6 Projeto de educação ambiental integrado


• objetivos: participação da comunidade; estimular coleta/deposição final
de resíduos sólidos ; suspensão de descarga de lixo nos rios/escoamento e
contaminação da baía de Guanabara;
• atividades: ações educativas integradas aos projetos de saneamento;
• público alvo: escolas de 1º/2º graus; comunidade; ONGS - Organizações
Não Governamentais; dirigentes públicos e privados.

A.7 Educação ambiental e comunicação participativa


A.7.1 Desenvolvimento de modelos de gestão ambiental;
A.7.2 Estudos/implantação de unidades de conservação ambiental.

A.8 Projetos de reforço institucional


• treinamento; melhorias de laboratórios; processamento de dados;
estudos/pesquisa;

127
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

• prioridades: FEEMA; outras: SERLA; IEF; SEMA, GEDEG;


• SLAP (Sistema de Licenciamento de atividades contaminadoras):
agilização de ações punitivas/controle de contaminação industrial;
• SEMAN (Secretaria Estadual de Meio Ambiente): maior
participação/processo decisório/CONEMA - Conselho Nacional de Meio
Ambiente).

A.9 Recadastramento tributário e mapeamento digital


• sistema de mapeamento digital/atualização do cadastro imobiliário/área
urbanizada: 640 km2;
• municípios: Belford Roxo; Cachoeiras de Macacu; Duque de Caxias;
Guapimirim; Itaboraí; Magé; Nilópolis; Rio Branco: Niterói; Nova Iguaçu;
São Gonçalo; São João de Meriti;
• apoiar planejamento urbano municipal.

Prazo de execução
• 5 anos (1994/1998).

Custo/financiamento
• custo total: US$ 760 milhões (BID: US$ 405 milhões; US$ 355 milhões).

Organismo executor
• CEDEG - Grupo executivo de descontaminação da baía de Guanabara.
• Entidades participantes: CEDAE; SERLA; RIO-URBE; SOSP;
COMLURB; FEEMA; IEF; SEMAN; SERLA;
• ADEG/CEDAE (Unidade Gerencial/principal entidade executora do
programa).

Informação à comunidade
• UERJ - Universidade do estado do Rio de Janeiro: Apresentação/Debates
com ONGs (26/03/93);

128
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

• CONEMA - Conselho Estadual de Meio Ambiente - Apresentação


(27/01/93);
• reuniões da equipe do projeto com ONGs: APEDEMA - Assembléia
permanente de entidades de defesa do meio ambiente; movimento baía
viva; os verdes - movimento de ecologia social; SEARJ - Sociedade de
Engenheiros e Arquitetos do Estado do RJ; ABES - Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental; Club de engenharia do RJ;
• papel das ONGs: Colaboração na execução do programa; ênfase na
educação ambiental; supervisão/controle dos manguezais (APEDEMA;
BAÍA VIVA; OS VERDES).

129
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

Figura A.1 - Movimento sedimentar da bacia hidrográfica do Rio Iguaçu (fonte:


PNUD/BRA/93/22, 1995)

130
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

Figura A.2 - Valão da Serra, formador do rio Botas, Nova Iguaçu


(fonte:PNUD/BRA/93/22, 1995)

131
Apêndice A – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

Figura A.3- Valão do bairro Comendador Soares, curso de água receptor de esgoto e
lixo do bairro, Nova Iguaçu (fonte:PNUD/BRA/93/22, 1995)

132
Apêndice B – Participação Comunitária

APÊNDICE B

Participação Comunitária

Conceituar representatividade não mostra, atualmente, a mesma solidez que se


conheceu em tempos passados. Particularmente, no século XIX, após a revolução norte-
americana e a revolução francesa, a representação foi aceita entre os direitos que
fundamentam a condição do homem. Ficou institucionalizada, embora críticas de
diversos matizes ideológicos questionassem a essência da representação, e que
possibilidades eram ofertadas às classes exploradas ou subalternas para acrescentar sua
participação na informação e no poder .
É importante ressaltar que Pitkin (1969) comenta o redescobrimento de uma
antiga tradição de pensamento, onde se considera a participação política como um valor
positivo em si mesmo. Sendo assim, a teoria da representação contradiz-se com a
equivalência e com a democracia, já que um valor positivo em si mesmo não se pode
ceder a um representante, uma vez que corre-se o risco de renúncia própria.
Considerando objetivos da democracia a garantia e o cuidado dos interesses dos
cidadãos, a representação submetida a correções e ajustes poderá vir a ser um sistema
eficiente. Mas se o problema é possibilitar a todos uma participação significativa na
vida pública coletiva, que perpetue suas realizações e alargue a visão e a percepção de si
mesmo, então a resposta é bem menos clara. Algumas atividades somente têm
significado se cada homem as realiza por si mesmo. Apenas recentemente, recolocou-se
a questão sobre a ação política ser ou não uma dessas atividades, e o que isso implicaria.
Vários modelos alternativos de desenvolvimento estão em teste, buscando, cada
vez mais, tecnologias avançadas para se cercar de todas as informações antes das
decisões. Elliot e Emerson (1980) falam de democracia direta com instituições
centralizadas e utilização de tecnologia avançada (computadores). A idéia de
participação comunitária aparece de diversas formas. Portanto, ela pode ser entendida
como experiências pioneiras de administração municipal participativa ou atuação de
orgãos governamentais no sentido de estimular e normatizar o envolvimento da
população em programas específicos de administração pública. Costa (1988) afirma
que, às avaliações práticas e teóricas de tais experiências, somam-se estudos críticos nos
133
Apêndice B – Participação Comunitária

quais o empenho de organizar conceitos sistematicamente e explicitar claramente os


enfoques pressupostos corre em paralelo com o registro detalhado e rigoroso de
diversos casos de participação comunitária.
Um desses estudos aponta a distinção básica entre participação que é, quase por
definição, um atributo da sociedade organizada e a participação que é realmente
testada nos momentos de contestação em que se estabelece um conflito entre setores
que decidem no conjunto da sociedade. É nesse sentido que a questão da participação
social vem à tona. Sendo assim, seria o papel da participação comunitária absorver as
pressões e os conflitos, conferir e legitimar a ação do estado? Ou seria contribuir para a
educação de massa?
Segundo Cornely (1977), boa parte dos insucessos de desenvolvimento da
comunidade se devem à falta de habilidade, à insuficiência ou má composição da equipe
técnica. Cornely (1977) cita ainda que, entre os papéis dessa assessoria técnica, o de
colaborador e planejador é fundamental para a decisão entre alternativas. A questão dos
especialistas como agentes responsáveis pelo controle social e sua formulação é
analisada por outros autores como crítica.
O fato é que, a depender de um determinado contexto político-econômico-
cultural, é possível a articulação das diversas formas de participação comunitária em
diferentes instâncias de decisão do poder público (federal, estadual, municipal) visando
contribuir para uma gestão dos recursos públicos mais adequada. Em formações sociais
onde a tradição associativa e a participação popular e comunitária são uma realidade de
sua cultura, maiores serão as possibilidades da ocorrência de tal articulação.

B.1 A cidadania plena como pré-condição para a participação popular

Segundo Nunes e Jacobi (1980), as demandas por participação popular na


gestão e administração públicas devem ser pensadas, no caso brasileiro, dentro de um
contexto de desenvolvimento urbano desigual e excludente, no qual a urbanização tem
ocorrido através do crescimento das periferias das regiões metropolitanas. Em outras
palavras, as principais demandas, formas de atuação política e reivindicações dos
movimentos populares urbanos devem ser pensados como o produto de um modelo de
134
Apêndice B – Participação Comunitária

desenvolvimento econômico capitalista periférico, concentrador de renda e gerador de


distorções na aplicação dos recursos públicos. Nesse sentido, os movimentos populares
urbanos são concebidos como um fator diferenciador da sociedade capitalista atual,
tendo, como característica essencial, um questionamento da ação estatal na distribuição
das benfeitorias urbanas e nos equipamentos de consumo coletivo.
Nesse contexto, cabe analisar como os movimentos populares urbanos deverão
lidar com suas próprias limitações, sendo a primeira delas o fato de que, em geral, as
experiências democráticas de tais movimentos começam e terminam nas fronteiras do
município, tendo, a partir daí, que enfrentar a estrutura econômica e de poder político
que não se rege por seus princípios nem por seus critérios de participação comunitária
na tomada de decisões em todos os níveis. No entanto, nos municípios, também
refletem-se as contradições políticas e econômicas de toda a estrutura social. Por essa
razão, e independentemente da escala de participação social (se municipal, estadual ou
federal), urge pensar quais são os fatores, na estrutura social brasileira, a impedir uma
real democratização das gestões do poder público no sentido do atendimento das
demandas das classes populares. Fatores que passam pelo fraco desempenho de nosso
sistema educacional, pelas desigualdades na distribuição de renda, pela ligação de
movimentos sociais a governos e/ou partidos políticos e pela ausência de uma tradição
associativa em larga escala, entre outros.
Isso posto, cabe indagar em que medida é possível garantir, aos movimentos
populares urbanos, organizados ou não em associações de moradores, uma real e
efetiva participação na gestão das políticas públicas? É possível tal participação em um
modelo de sociedade excludente e concentrador de renda e prestígio? Como, nesse
contexto, os benefícios do progresso científico-tecnológico, bem como as prioridades
de sua aplicação e execução, poderão ser amplamente discutidos com a população de
forma transparente e levando em consideração os interesses de todos os atores sociais
envolvidos? A resposta é, sem dúvida, complexa e nos remete, em linhas gerais, à
discussão sobre que tipo de cidadania está em gestação no modelo político-econômico
vigente. Em que pesem as conquistas obtidas por alguns dos movimentos populares
urbanos no Brasil, o fato é que, como corolário dos modelos de exclusão social
historicamente adotados, a outorga da cidadania no Brasil sempre foi confundida no
135
Apêndice B – Participação Comunitária

cabedal de práticas populistas e corporativistas que, em certa medida, sempre


contribuíram para minar a participação popular. Um exemplo é a chamada cidadania
regulada, em que as raízes se encontram não em um código de valores políticos, mas
em um sistema de estratificação ocupacional definido por norma legal (Nunes e Jacobi,
1980). Assim, seriam cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se
encontram localizados em qualquer uma das ocupações reconhecidas e definidas em lei,
sendo a regulamentação das profissões feita através da carteira profissional e da
organização no trabalho formal. O problema é como apostar em tal cidadania, se
atualmente o chamado mundo do trabalho passa por acelerado processo de
reestruturação produtiva e flexibilização, com resultados que se materializam na
diminuição exponencial do número de trabalhadores da chamada economia formal,
organizada em sindicatos e associações profissionais. E como fazer isso em uma
sociedade onde a maioria da população está privada até mesmo do elementar direito ao
trabalho?
Outra visão sobre a participação popular é a expressa por Silva e Ziccardi
(1979). Para os referidos autores, é necessário primeiro conceituarmos melhor o que se
entende por movimentos sociais urbanos na medida em que tal denominação é genérica
demais, podendo agrupar desde a organização e luta de setores populares por transporte
e moradia quanto movimentos ecológicos e de defesa de certos direitos de propriedade
e uso do solo. Em razão disso, os autores propõem dois eixos para reflexão sobre o
tema. Um é o que considera que a emergência de movimentos sociais urbanos se funda
em contradições urbanas, onde esses movimentos são aqueles que se referem à
produção, distribuição e gestão dos meios de consumo, em particular coletivo. O outro
eixo é o que considera que, nos países dependentes, surge uma nova contradição básica
entre a concentração de seres humanos sem recurso algum nas grandes cidades e a
inexistência de mecanismos econômicos e sociais para sua reprodução e controle. Essas
perspectivas são apontadas como o ponto de partida para qualquer investigação. Da
mesma forma, novamente a ausência, na formação social brasileira, de uma tradição
associativa em larga escala, é também outro fator a ser levado em consideração quando
do estudo desses movimentos.

136
Apêndice B – Participação Comunitária

Na prática, importa-nos perceber que o tema da participação política das


classes populares não pode considerar apenas as pressões exercidas pelas pessoas que
estão na base da pirâmide social a fim de fazer valer seus interesses. Ou mesmo a
conveniência de empresas, partidos ou governos. O fundamental, em se tratando dessa
temática, é a identificação das mediações existentes entre as classes sociais e o poder
político, e em que grau tais mediações contribuem ou não para uma maior participação
comunitária na gestão pública. Sobre esse aspecto, vale lembrar que tais reflexões
devem considerar como superadas historicamente as experiências populistas nesse
campo. É preciso, portanto, renovar o conceito de cidadania, entendendo-o não apenas
como o ato de votar, a cada 4 anos, em uma eleição. É preciso, isso sim, pensar a
cidadania como um conjunto de atributos muito mais amplo. Cidadania que signifique
desenvolver e estimular uma consciência política e uma tradição associativa em larga
escala para que a população, de forma autônoma, lute pela melhoria de suas condições
de vida e, ao mesmo tempo, possa interferir diretamente nas políticas de gestão
pública. Em síntese, a cidadania é aqui entendida como pré-condição para a existência
de uma real, ampla e democrática participação popular.

137
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

APÊNDICE C

Estimativa de Parâmetros pelo Método da Máxima Verossimilhança (MAXVER)

Seja x = (x1, ... , xn) uma amostra aleatória de alguma distribuição de

probabilidades caracterizada por um parâmetro desconhecido (mas não aleatório). Esse

parâmetro pode ser a média da distribuição, a variância ou outro parâmetro qualquer.

Sendo f(x/θ) a função densidade de probabilidade e supondo a independência

das amostras, a função densidade quando avaliada para os valores da amostra é

f(x1/θ) . f(xi/θ) ... f(xn/θ) (C.1)

Essa função pode ser interpretada como a densidade de probabilidade de se obter

a amostra dado θ que é o valor do parâmetro, ou como função de dada a amostra.

Podemos reescrever (B.1) como

L (x1, ...xn; θ) (C.2)

que é conhecida como função de verossimilhança. O método MAXVER propõe a

^
utilização de θ como estimador de θ, de forma que maximize a função de

^
verossimilhança. Intuitivamente, corresponde a escolher o valor θ que implique numa

maior densidade de probabilidade da amostra. Quando a distribuição é caracterizada por

diversos parâmetros desconhecidos, a maximização da função de verossimilhança é

feita com respeito a cada parâmetro; então, supomos

θ = ( θ1, ... ,θm)

138
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

um vetor de parâmetros.

Em termos analíticos, normalmente é mais fácil trabalhar com o logaritmo da

função (C.2) do que com a função propriamente. Como a função logaritmo é

monotonicamente crescente, o valor que maximiza (C.2) também maximizará seu

logaritmo. O vetor de parâmetros θ pode ser encontrado pelos métodos padrões de

cálculo diferencial.

Assim, sejam ∆θ o operador gradiente, isto é,

 ∂ 
 ∂ θ1 
 
M 
∆θ =  
 ∂ 
 ∂θm 
 
 

n
F (θ) = log L (x1, ... ,xn; θ) = ∑ log f ( x i / θ ). (C.3)
i =1

Então, o conjunto de condições necessárias para se obter o estimador máxima

verossimilhança é obtido pelas m equações

n
∇ θi F = ∑ ∇ θi log f (x k / θ i ) = 0 com i=1, ..., m. (C.4)
k =1

139
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

A seguir, é mostrado, a título de exemplo, a equivalência na obtenção dos

parâmetros do modelo linear padrão, seja pelo método dos mínimos quadrados,

usualmente utilizado, seja pelo método da máxima verossimilhança.

O Modelo Linear Padrão (ou Modelo de Regressão Linear Clássico)

Seja o modo linear

^ ^
b = Ax + ε (C.5)

onde:

x - vetor n-dimensional

^
b - vetor m-dimensional

A - matriz m x n de elementos constantes conhecidos

^
ε - vetor m-dimensional estocástico dos erros observados, que satisfaz.

^
E( ε ) = 0 e (C.6)

E (εε t ) = S (C.7)

em que,

S - matriz m x n positiva definida de covariância do vetor observado dada por

^ ^ ^ ^ ^
S = ∑ b = E [ ( b - E( b )) ( b - E( b ))T] (C.8)

140
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

^
Se todos os b j são não correlatos, então S torna-se uma matriz diagonal. Se,

adicionalmente, todos têm a mesma variância σ 2 , então

S = σ2 I (C.9)

Dessa forma, a Equação (B.8) pode ser reescrita da seguinte forma:

^
E (b) = Ax (C.10)

^ ^ ^
∑ b = E[(b− Ax).(b − Ax)T = S (C.11)

O modelo de regressão linear clássico assume que m ≥ n e que a matriz A tem

colunas lineares independentes, isto é, posto (A) = n.

Método dos Mínimos Quadrados

O procedimento dos mínimos quadrados procura o estimador x que minimize a

forma quadrática:

^ ^ ^ ^
θ( x ) = (b− A x ) T S−1 (b − A x ) (C.12)

O mínimo é dado por

dθ ^ ^

^
= −2A TS−1 b + 2A TS−1A x = 0 (C.13)
dx

ou

^ ^
A TS−1A x = A TS−1 b (C.14)

141
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

Essas equações são chamadas de equações normais e sua solução é dada por:

^ ^
x = (A TS−1A) −1 A TS−1 b (C.15)

^
E( x ) = x (C.16)

^
cov(x ) = (A TS−1A) −1 (C.17)

Em muitos casos, não se tem conhecimento sobre a matriz de covariância S. O

procedimento, nesses casos, é utilizar o método dos mínimos quadrados ponderado

^ ^
x = (A T W −1A) −1 A T W −1 b (C.18)

que minimiza a forma quadrática

^ ^ ^ ^ ^
θ( x ) MQ = (b − A x ) T W −1 (b − A x ) (C.19)

onde W é matriz positiva definida.

A Estimativa de Parâmetros MAXVER no Modelo Linear Padrão

Supondo que o vetor de resíduos ∈ tem distribuição normal e uma vez que o

modelo linear padrão garante que eles são não correlatos (S é diagonal) conforme

Equação (C.8), com média zero e variâncias iguais, assume-se que os erros são

independentemente distribuídos de acordo com a distribuição normal.

A função densidade de probabilidade conjunta dos ε1 ,...,ε m é

142
Apêndice C – Estimativa de Parâmetros

 
 
^ 1  1 T −1 
L( x ) = exp − (b − A x ) S (b − A x ) (C.20)
2

m/2
S
1/ 2
 
 
 

^ m 1 1 ^ ^ ^ ^
log e L( x ) = − log e 2π − log e S − (b− A x ) T S −1 (b− A x ) (C.21)
2 2 2

A estimativa MAXVER é obtida selecionando o valor em que a Equação (C.21)

obtenha seu maior valor. Como o terceiro termo da expressão (C.23) é o único que

depende do valor de x, maximizar (C.21) é o mesmo que minimizar

^ ^ ^ ^ ^
θMV ( x ) = (b − A x )S−1 (b− A x )T (C.22)

^ ^ ^ ^ ^
θ MV ( x ) = (b − A x ) T S −1 (b − A x ) (C.23)

Nota-se que, sob a suposição de distribuição normal de [ ε ], a estimativa

MAXVER é equivalente à estimativa por mínimos quadrados.

143

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