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Margarida Segurado

Investigação em Ciências Sociais


— Muitas vezes fala-se de investigação e de ciência com
pouco rigor. Atribui-se a classificação de investigação
cientifica para qualificar as sondagens de opinião, os
estudos de mercado e os diagnósticos banais por terem
sido realizados por centros de investigação universitária
p. ex.

• Quivy Raymond 1992


Investigação em Ciências Sociais

— Existe a ilusão de que as aulas sobre métodos e técnicas de


investigação social tornarão os alunos aptos a adotar um
procedimento cientifico e desde logo a produzir
conhecimento cientifico. Tal não é verdade.

• Quivy Raymond 1992


Investigação em Ciências Sociais
— A produção de conhecimento cientifico é muito difícil
mesmo para o investigador profissional e com
experiencia. Referimo-nos à produção de
conhecimento cientifico verdadeiramente novo que
faça progredir a disciplina.
• Quivy Raymond 1992
O que se aprende em metodologias de
investigação em ciências sociais?

— A compreender melhor os significados de um dado


acontecimento ou de um comportamento,
— A fazer o ponto de situação,
— A perceber com maior perspicácia as logicas de
funcionamento de uma organização,
— A refletir sobre as implicações de uma decisão politica,
— A compreender com maior nitidez como é que
determinadas pessoas apreendem um problema e a tornar
visíveis alguns dos fundamentos das suas representações.
• Quivy Raymond 1992
Método
— significa caminho ou processo racional para atingir um
dado fim. Agir com um dado método supõe uma prévia
análise dos objetivos que se pretendem atingir, as
situações a enfrentar, assim como dos recursos e o
tempo disponíveis, e por último das várias alternativas
possíveis. Trata-se pois, de uma ação planeada,
baseada num quadro de procedimentos sistematizados
e previamente conhecidos.
Técnica
— É o procedimento ou o conjunto de procedimentos que
têm como objetivo obter um determinado resultado.
— Conjunto de processos e normas específicas que
utilizamos para a obtenção de dados e construção do
conhecimento. É a parte prática por meio da qual
desenvolvemos a habilidade de desvendar os fatos da
realidade.
Etapas do procedimento de
investigação
— Pergunta de Partida
— Exploração
— Leituras
— Entrevistas exploratórias

— Problemática
— O quadro geral / enquadramento e suporte teórico
— Construção do modelo de análise
— Modelo e hipóteses
— Observação
— Instrumentos de recolha de dados
— Análise dos dados
— Medição
— Descrição dos resultados
— Conclusões
— Relação entre os resultados obtidos e a problemática
— Extrapolação para situações semelhantes
1ª Etapa - Pergunta de partida
— O que é ?

— Ponto de partida provisório

— Inicio de um fio condutor que pode não ser ainda


suficientemente claro e estar devidamente amadurecido
mas que abre um caminho que vai sendo aperfeiçoado e
estruturado ao longo da caminhada.
1ª Etapa - Pergunta de partida
— Critérios de Qualidade
— Clareza
— Exequibilidade
— Pertinência
1ª Etapa - Pergunta de partida
— Clareza

— Precisa, isto é, formulada de modo a que diferentes pessoas


tenham um entendimento semelhante e de acordo com o
entendimento do seu autor.

Uma pergunta de partida bem formulada é aquela cujo sentido


não se presta a confusões
1ª Etapa - Pergunta de partida
— Exequibilidade

— O trabalho que o autor propõem é possível de ser feito?

— A pergunta de partida deve ser realista, isto é, adequada às


possibilidades técnicas, aos recursos e materiais bem como
possibilidades pessoais do seu autor
1ª Etapa - Pergunta de partida
— Pertinência

A pertinência diz respeito ao registo explicativo, normativo e


preditivo da pergunta (Quivy, 1992)

As perguntas não devem ter um caracter moralizador ou


filosófico. - A investigação social pode tornar os valores e as
normas sociais como objeto de estudo mas não deve proceder
a um julgamento moral.

Devem ser abordados os estudos que já existem

Ter uma intenção explicativa ou compreensiva


Critérios para uma pergunta de partida
Clareza
• Precisa
• Concisa
• Unívoca

Exequibilidade
• Realista
• Possível

Pertinência
• Basear-se no que já existe
• Ter uma intenção compreensiva ou explicativa
2ª Etapa – A Exploração
— As leituras

— Tomar conhecimento de um conjunto mínimo de trabalhos de


referencia sobre o tema e sobre as questões que lhe estão
associadas.

— Não podemos ler tudo


— Escolher um nº mínimo de documentos para ler
2ª Etapa – A Exploração
— As leituras – critérios de escolha

— O objetivo nesta fase é “fazer o ponto da situação sobre os


conhecimentos que estão relacionados com a pergunta de
partida “ ( Quivy, 1992)
2ª Etapa – A Exploração
Começar pela pergunta de partida

Selecionar as obras: obras com reflexões de síntese e


artigos, em vez de grandes manuais

Documentos que para além de dados apresentem


interpretação e análise de resultados

Confrontar as diferentes perspetivas: procurar textos


que apresentem abordagens diversificadas do aspeto
em estudo. Evitar as repetições.

Períodos alternados entre reflexão individual e trocas


de pontos de vista com outras pessoas significativas
para o tema
2ª Etapa – A Exploração
— O que consultar:

— Artigos de revistas;
— Entrevistas a especialistas publicadas na imprensa;
— Publicações de organismos especializados;
— Dossiers;
— Relatórios
— Bibliografias compiladas no final das obras, dos artigos;
2ª Etapa – A Exploração
— Os livros muito grandes não devem ser lidos integralmente

— O que ler?
Índice
sumários
as primeiras e as ultimas linhas de cada capítulo
Resumos/ sinteses

Utilize palavras chave nas pesquisas em bibliotecas


2ª Etapa – A Exploração
— Como ler?
Utilizar uma grelha de leitura
Para ler em profundidade e com ordem

Redigir um resumo
para destacar as ideias principais
Entrevistas
exploratórias
Identificar aspetos
— Entrevista não diretiva
relacionados com o — Reduzido numero de questões
fenómeno estudado — Ambiente informal e natural
— Questões amplas e pouco
Encontrar pistas de
precisas
reflexão, ideias e
hipóteses de trabalho — Escuta ativa por parte do
entrevistador
Entrevistas exploratórias
Quem ouvir?
— Docentes, investigadores especializados e peritos no
domínio da investigação que estão implicados com a
pergunta de partida
— Testemunhas privilegiadas, isto é , pessoas que pela
sua ação, posição ou responsabilidades, tem um
conhecimento sobre o tema.
— Os que constituem o publico a que o estudo diz
respeito
Para construir a problemática da
investigação

Entrevistas
Leituras
exploratórias
Problemática
— Pesquisa e análise das diferentes abordagens teóricas
do problema
— Resultados das reflexões suscitadas pelas entrevistas
exploratórias
— Convergências e divergências entre o que se apurou nas
leituras e nas entrevistas exploratórias
— Quais os conceitos fundamentais a incluir no quadro
teórico e como foram tratados em estudos anteriores
— Quais os conceitos e a estrutura conceptual que dá
forma ao modelo de análise
Exemplo: ideias chave resultantes da
Problemática

— Verifica-se que a incorporação dos jovens no mercado de


trabalho nem sempre corresponde a um emprego efetivo. Os
autores que o afirmam referem que esta situação conduz a que os
jovens aceitem, dependendo das suas necessidades financeiras ,
pessoais e familiares , um qualquer trabalho independentemente
das possibilidades de realização profissional que vão sendo
adiadas.
— A complexa realidade que os jovens enfrentam no mercado de
trabalho terá certamente influencia ao nível da formação de
atitudes e representações perante o trabalho, o emprego e o lazer.
— Como se articulam estas dimensões?
— Qual a importância que assumem nos jovens?
— Qual a relação com o nível de instrução, o sexo, a origem social a
situação face ao emprego e a idade dos jovens?
Modelo de análise
Instrução
Situação
Trabalho face ao
emprego

Origem Emprego
social

Lazer
Idade

Sexo
Modelo de análise
— Composto por conceitos e hipóteses estritamente
articulados entre si para em conjunto formarem um
quadro de análise coerente

— Trata-se de uma construção abstrata que visa dar conta


do real. É uma construção - seleção na medida em que
integra os elementos que na perspetiva do investigador
podem traduzir a realidade do conceito que está a ser
estudado
CLASSIFICAÇÃO DE VARIÁVEIS : Variável dependente vs
Variável independente

As variáveis podem-se diferenciar entre si de acordo


com a utilização que fazemos delas em investigação
— A variável sobre a qual recai a atenção do investigador e cuja
variação se pretende explicar é designada de variável
dependente. É assim chamada porque se supor que os
valores que ela toma dependem dos valores assumidos
por outras variáveis.

— As variáveis que se supõe influenciarem a variável


dependente nos seus valores são as variáveis
independentes, explicativas ou também chamadas
exógenas
Exemplo adaptado ao modelo de
análise
— H1: A conceptualização dos conceitos trabalho e
emprego varia de acordo com o nível de instrução dos
jovens

— V Independentes – nível de instrução


— Variáveis dependentes : trabalho e emprego
Exemplo adaptado ao modelo de
análise
— H3: os jovens valorizam no emprego a segurança e a
estabilidade

— V. Independentes – segurança e estabilidade


— Variáveis dependentes : emprego
Exemplo adaptado ao modelo de
análise
— H4: O lazer nos jovens baseiam-se em valores do tipo
hedonista

— V. Independentes – valores de tipo hedonista


— Variáveis dependentes : lazer
Variável dependente vs Variável independente

Exemplos:
“Qual a influencia da crise na emigração dos jovens para o estrangeiro".

Variável independente : influencia da crise


Variável dependente : a emigração dos jovens

"Efeito da educação sobre a riqueza" isto é , medir o efeito do nível de


escolaridade sobre o rendimento anual.
Variável independente : o nível de escolaridade
Variável dependente : o rendimento anual.

Assim poderemos depois estabelecer outro tipo de relações do tipo


maior rendimento anual está relacionado com maior escolaridade e/ou
maior escolaridade está relacionado com maior rendimento
Variável dependente vs Variável independente

Exemplos:

Na pesquisa "Eficiência da avaliação do desempenho nos indicadores de


produtividade dos trabalhadores “
Variável independente: avaliação do desempenho
Variáveis dependentes : os indicadores de produtividade

Quais os motivos que levam os alunos do ISPO a não frequentar as


aulas de estatística
Variável dependente : motivos
Variável independente: alunos do ISPO que não frequentam
estatistica
Classificação das variáveis
— Nominais
— Ordinais
— De Intervalo
— De Rácio
Classificação das variáveis
— Quantitativas ( permitem a aplicação de mais
instrumentos estatísticos pois para além da ordenação
e da nomeação das modalidades ou categorias permite
efetuar operações matemáticas )
— Qualitativas (não permitem saber nada sobre a
magnitude das diferenças entre as modalidades)
— Nominais
— Ordinais
Classificação de variáveis
— Discretas ( variáveis que só podem tomar um numero
finito ou uma infinidade numerável de valores
inteiros)
— Continuas ( varáveis que podem tomar qualquer tipo
de valor dentro de um determinado intervalo)
Classificação de variáveis
— Discretas
— nº de elementos do agregado familiar
— Nº de anos de escolaridade
— Nº de assoalhadas
— Continuas
— Idade
— Salários
— Antiguidade na empresa
— Rendimento
— Produção
— Tempo de vida de uma máquina
— Preços
Variável continua

— Idade

_____________________________________
15 16 17 18 19 20 21
Construção do Modelo de Análise : Decomposição
de um conceito
Indicador
Dimensão 1.1
1 Indicador
1.2
Conceito Indicador
2.1
Dimensão Indicador
2 2.2
Indicador
2.3
A construção dos conceitos
— Consiste em determinar as dimensões que o
constituem
— Precisar os indicadores graças aos quais as dimensões
podem ser medidas
— Os indicadores são manifestações diretamente
observáveis e mensuráveis das dimensões do conceito
A construção dos conceitos
— Dois tipos fundamentais
— Operatórios isolados:
— construídos empiricamente a partir de observações
diretas ou de informações.
— Método de construção indutivo: feito a partir das
observações parciais que vamos fazendo empiricamente
. Está sujeito a influencias mais ou menos conscientes de
preconceitos e esquemas mentais preconcebidos.
— Para construir este tipo de conceito partimos dos
indicadores que o real nos oferece selecionamo-los e
combinamo-los de modo coerente para nós.
A construção dos conceitos
— Dois tipos fundamentais
— Conceitos sistémicos: construídos por raciocínio
abstrato.
— Método de construção dedutivo : A partir de paradigmas
já desenvolvidos por autores e testados empiricamente
iniciamos o raciocínio
5ª Etapa: A observação
— O quê? Determinados pelos indicadores

— Quem? Quais as características da população ou da


amostra que vai ser utilizada

— Como? Quais são os instrumentos que vou utilizar para a


observação ? Conceber – testar - aplicar
A observação : instrumentos
— Inquéritos

— Incluem todas as formas de interrogar pessoas tendo em vista


uma generalização

— Questionários
— Entrevistas
— Observação direta
— Recolha dos dados pré existentes: documentais e secundários
A observação : instrumentos
Observação Direta

Entrevista não
diretiva

Entrevista semi
diretiva ou
estruturada

Questionário
aberto

Questionário
fechado
A observação direta
Técnica que consiste em recolher dados no momento em
que estão a acontecer sendo por isso reais e fidedignos.

Devem ser tidas em conta algumas regras para uma


observação eficaz:
qInventariar o que vamos observar
qObservar discretamente sem perturbar
qCriar no grupo um ambiente propício à observação –
espontâneo e natural
qCriar instrumentos adequados à observação
Aspetos que podem ser observados
Domínios das competências Dados
Afetivo Motivação
Empenho
Cumprimento das nomas sociais ( horários de
trabalho e das reuniões…)
Capacidade critica
Capacidade de organização
Capacidade de relacionamento do colegas superiores
e utentes
Autonomia …
Psicomotor Capacidade motora
Habilidade manual
Resistência à fadiga …
Cognitivos Conhecimentos
Compreensão
Aplicação
Capacidade de análise
Capacidade de síntese
Capacidade de auto avaliação
Instrumentos de observação direta

Fichas de observação

Listas de ocorrência

Escalas de classificação
Listas de Ocorrências
Comportamento
A B C D
Trabalhadores
1
2
3
Escalas de Classificação

— Trabalhador A demonstrou:

Nenhuma pouca Bastante


Autonomia autonomia autonomia

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