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TEOLOGIA DA PARCERIA: O TRABALHO MISSIONÁRIO

EM REDES DE IGREJAS NA PERSPECTIVA DE JOÃO 17

Carlos A. Martinez

Professor: Dr. Alcir de Sousa

Revisão de Literatura apresentada para cumprir as exigências da Unidade


Teologia Bíblica III: Jesus e os Evangelhos do Curso de Master of
Teological Studies

Seminário Teológico Baptista

Queluz, Júnio de 2018


Introdução

A parceria nas missões é parte integrante e importante do projeto de Deus para Sua
igreja. A Missio Dei só é possível quando existe uma relação clara entre a ação sobrenatural de
Deus, através do Espírito Santo no coração dos homens, e a ação natural do homem cristão em
buscar caminhos para seu serviço na obra de Deus.

Nesse sentido, a oração de Jesus em João 17 era em função da unidade dos crentes, da
igreja, provendo propósito, forma e até o alvo a ser alcançado: “para que o mundo creia”.

As redes ou parcerias são necessárias quando as igrejas perseguem uma meta do


tamanho de Deus. É o propósito que as mantém movendo-se na mesma direção, trabalhando
juntas em direção a essa meta compartilhada.

A continuação se expõe o resultado de una revisão narrativa de literatura, conforme a


Proposta de Projeto de Escrita apresentado ao professor.

1. O conceito de unidade na oração de Jesus

A unidade pela que Jesus roga não é simplesmente externa1. Ele põe-se em guarda contra
esta interpretação errónea tão comum. Pede que a unidade de todos os crentes se pareça à que
existe eternamente entre o Pai e o Filho. Em ambos casos a unidade é de uma índole
definitivamente espiritual. Claro está que Pai, Filho e Espírito Santo são um em essência; os
crentes, por outra parte, são um em mente, esforço e propósito. Veja-se também sobre 17:22,
23. Estas duas classes de unidade não são iguais. Mas há uma similitude. Deus é amor. O que
é verdadeiro com respeito à cada um dos atributos divinos o é também com respeito ao amor:
constitui a essência mesma de Deus (1 Jn. 4:8). Agora bem, é justamente no se amar uns a
outros que chega a se expressar a unidade de todos os crentes (cf. 13:34; 15:12, 17). Por isso,
entendemos agora como é que Jesus pode dizer “… para que todos constantemente sejam um;
como tu, ó Pai, em mim, e eu em ti”

Alguma medida de unidade entre os discípulos é presumida, segundo Donald Carson2,


mas Jesus ora para que eles possam ser levados à plena unidade, compartilhando

1
HENDRIKSEN, William. Comentario al Nuevo Testamento. Exposición del Evangelio Según San Juan. Grand
Rapids: Libros Desafio, 1981. p 637
2
CARSON, D.A. O comentário de João. Tradução Daniel de Oliveira & Vivian Nunes do Amaral. — São Paulo:
Shedd Publicações, 2007.
esplendidamente tanto da unidade de propósito quanto da riqueza do amor que vincula o Pai ao
Filho. O propósito, como no versículo 21, é para que o mundo saiba que tu me enviaste, ao que,
nesse momento, acrescenta-se o objetivo adicional, e [que] os amaste como igualmente me
amaste. A ideia é extremamente extravagante. A unidade dos discípulos, à medida que se
aproxima da perfeição, que é seu objetivo (teteleiômenoi cf. o uso desse verbo em 4.34; 5-36;
17.4), serve para convencer muitos no mundo não só de que Cristo é, de fato, o supremo locus
da revelação divina como os cristãos reivindicam (que tu me enviaste), mas também de que os
próprios cristãos foram envolvidos no amor do Pai pelo Filho, seguros, contentes e plenos
porque são amados pelo próprio Todo-Poderoso {cf. Ef 3.17b-19), com o mesmo amor que ele
reserva a seu Filho. Assim, torna-se difícil imaginar um apelo evangelístico mais constrangedor

2. A unidade como característica fundamental dos cristãos

Os discípulos formam o núcleo da comunidade da nova era3. Em resultado do envio


deles ao mundo com a mensagem da vida, outros crerão em Jesus através do testemunho deles.
Por estes outros Jesus ora também, especificamente para que todos sejam unidos.441 A unidade
pela qual ele ora é uma unidade de amor; na verdade trata-se da participação deles na unidade
de amor que existe eternamente entre o Pai e o Filho. “Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos”, Jesus tinha dito aos onze, “se tiverdes amor uns aos outros” (13.35). A sua unidade
em amor manifesta daria confirmação pública do relacionamento deles com Jesus e deste com
o Pai. O mundo, que até então não lhe tinha dado crédito, aprenderá com o testemunho do amor
dos discípulos que de fato, ele é o enviado de Deus; o mundo aceitará o seu testemunho de que
“o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo” (1 João 4.14). Então o domínio do
usurpador será desmantelado e o mundo, por fim reconhecendo seu Senhor de direito,
responderá com fé ao seu amor por ele

Howard Marshall, pela sua parte, opina que mundo achará que Jesus é certamente o
agente de Deus se os discípulos vivem uma vida como a de Jesus e se amam os uns aos outros.
Encontramos aqui, e sem ambiguidades, o encarrego aos discípulos de ser missioneiros no
mundo, bem como o resultado de que alguns crerão pela mensagem deles

3
BRUCE, F.F. João. Introdução e comentário. São Paulo; Sociedade Religiosa Edições Vida Nova E Associação
Religiosa Editora Mundo Cristão, 1987. p 285-286
Qual é a base para a verdadeira unidade entre os cristãos? A pessoa e a obra de Jesus
Cristo e sua glória (João 17:2-5). Ele já nos deu sua glória e promete que experimentaremos
ainda mais dessa glória quando chegarmos ao céu. Qualquer que seja sua aparência exterior,
todos os cristãos sinceros trazem dentro de si a glória de Deus. A harmonia cristã não se baseia
nas coisas externas da carne, mas sim nas coisas eternas do Espírito no ser interior. Devemos
enxergar além dos elementos do primeiro nascimento - raça, cor, aptidões - e construir a
comunhão com base nos elementos essenciais do novo nascimento4.

Já possuímos a glória de Deus dentro de nós (João 17:22, ver também Rm 8:29) e, um
dia, contemplaremos essa glória no céu (João 17:24). À medida que crescemos no Senhor, a
glória interior também começa a crescer e a se revelar naquilo que dizemos e fazemos e na
forma como falamos e agimos. As pessoas não vêem nosso ser e nos glorificam; vêem e
glorificam o ser de Deus (Mt 5:16; 1 Co 6:19, 20).

Uma das coisas que mais impressionam o mundo é a maneira como os cristãos amam
uns aos outros e vivem em harmonia. É esse testemunho que Jesus deseja no mundo: "para que
o mundo creia que tu me enviaste" (João 17:21). O mundo perdido não é capaz de ver Deus,
mas pode ver os cristãos. Aquilo que o mundo enxergar em nós servirá de base para suas
convicções acerca de Deus

3. Os princípios para o trabalho em parceria que se encontram na oração de Jesus

John Piper fala que a adoração é o fim último da Igreja, e que a adoração correta nos
leva à acção missioneira. Na sua oração, Jesus foca-se em Deus como o iniciador, o motivador
e o fim da enorme empresa missioneira que temos por diante e o provedor dos meios dos que
dispomos para levar o Evangelho a “todas as nações”5.

Kingdom Conspiracy6 é um livro que desafia. Gostei muito da visão eclesiocêntrica


do reino que oferece e que reorienta nossa atenção para a igreja como o ponto central do plano
de Deus em nosso mundo de hoje. Deste ponto de vista, há um desejo de que o reino de Deus
não seja apenas uma regra etérea "lá em cima" ou "em algum lugar" que às vezes explode aqui

4
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume I; traduzido por Susana E.
Klassen. - Santo André, SP: Geográfica editora, 2006. p 479
5
PIPER, John. ¡Alégrense las naciones! La Supremacía de Dios en las missiones. Miami: Editorial CLIE, 2007
6
MCKNIGHT, Scot. Kingdom Conspiracy, Returning to the Radical Mission of the Local Church. Grand
Rapids, MI: Brazos Press, 2014
e aí através da salvação pessoal, da ajuda social ou mesmo do milagroso. McKnight coloca
fortemente a igreja como meio da atividade de Deus nesse mundo incentivando a participação
e criticando aqueles que fazem "trabalho de reino" fora da igreja. McKnight, argumenta que o
reino e a igreja são sinônimos, então a missão do reino deve ser missão da igreja. Na igreja é
formada uma comunidade alternativa, uma de amor e boas ações. "Se o reino é um povo e a
igreja é um povo, então segue-se que a igreja é o povo do reino. A igreja, então, é a que está
presente e ocupada na realização do reino agora ". A expansão e o bem-estar da igreja são o
modo como o Reino floresce nesta era. O trabalho que Cristo atribuiu à igreja no Novo
Testamento é um e o mesmo com o trabalho do Reino.

Os termos "teologia" e "missão" tipicamente não aparecem na mesma sentença, exceto


para questionar a possibilidade de existir alguma conexão entre as disciplinas. O primeiro é
geralmente considerado mais teórico e o segundo, mais prático por natureza. O resultado infeliz
desta dicotomia tem sido que os teólogos muitas vezes trabalharam sem a consciência de
questões missiológicas como contextualização e globalização, enquanto os missiólogos
tenderam para um foco pragmático em técnicas e modelos na evangelização dos não-
alcançados7.

4. Investigar a ideia do individualismo perante o chamado a unidade

Para combater o individualismo, Craig Ott e Gene Wilson8 oferecem uma guia
abrangente e atualizada para o plantio de igrejas interculturais. Combinando princípios bíblicos
substantivos e compreensão missiológica com insights práticos, este livro orienta os leitores
através dos vários modelos e fases de desenvolvimento do plantio de igrejas. Eles tomam uma
série de questões especiais não abordadas na maioria dos livros de plantação de igrejas, como
o uso de equipes de curto prazo, parcerias, uso inteligente de recursos e contextualização.

Pela sua vez, Michael Goheen9 brinda uma definição sobre o conceito “missional”, e
é que a igreja só tem ração de existir quando leva as boas novas a um mundo perdido, que não
percebe a sua situação de desesperança e que vai construindo a sua história, desfazendo tudo

7
WRIGHT, Christopher J. H. The Mission of God’s People: A Biblical Theology of the Church’s Mission.
Grand Rapids: Zondervan
8
OTT, Craig. Plantação global de igrejas: princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação;
tradução Marângela Antonella Chirico França Oliveira. -- 1. ed. -- Curitiba, PR: Editora Esperança, 2013.
9
GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia: Luz para as Nações. São Paulo: Edições Vida Nova,
2011.
aquilo que em outro tempo foram colunas da sua “evolução”. Nesse cenário, a leitura feita pela
igreja muitas vezes, foi de ajustar-se as “mudanças” que a cultura predominante fazia,
misturando-se com ela, sem oferecer uma saída, ou pelo menos, uma alternativa de esperança.
Ou, pelo contrário, fechando portas e janelas, tentando ficar “imune” as mutações culturais,
criando uma sensação de “ghetto” cristão.

Todo isso leva a igreja a desviar-se do seu propósito original, criando um senso de
insatisfação com o que ela é, o que a conduz a adotar quanto programa, plano o método aparece,
tentando encher o seu vazio de identidade. E por outro lado, a missão sofre, o que faz que surjam
organizações paraeclesiásticas, que acabam por competir com a igreja enquanto aos recursos
físicos e económicos, chegando inclusive a terceirizar o trabalho missionário. Goheen destaca
muito sabiamente este problema: “Um problema que continua enfraquecendo o compromisso
missionário da igreja é a separação entre as agências missionárias e as igrejas. Essa separação
levou a uma missão que não tem a pretensão de ser a igreja e a uma igreja que não tem uma
missão para o mundo”. Concordo plenamente com o autor na sua apreciação do problema. As
agências missionarias, em geral, não tem como objetivo primário trabalhar pelo fortalecimento
e crescimento da igreja no seu chamado missional, assumindo o rol dela. Cria-se então grupos
que não assumem um compromisso com as igrejas, focando-se nelas propiás como fim da acção
missionaria. Os missionários assumem que são independentes da igreja, o que produz
confrontos e pelejas inecessárias.
BIBLIOGRAFIA

BRUCE, F.F. João. Introdução e comentário. São Paulo; Sociedade Religiosa Edições Vida
Nova E Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1987. 355 páginas

CARSON, D.A. O comentário de João. Tradução Daniel de Oliveira & Vivian Nunes do
Amaral. — São Paulo: Shedd Publicações, 2007.

GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia: Luz para as Nações. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2011. 288 páginas

HENDRIKSEN, William. Comentario al Nuevo Testamento. Exposición del Evangelio Según


San Juan. Grand Rapids: Libros Desafio, 1981. 782 páginas

MARSHAL, Howard. Teologia del Nuevo Testamento. Muchos testigos, un solo Evangelio.
Miami: Editorial CLIE, 2000. 511 páginas

MCKNIGHT, Scot. Kingdom Conspiracy, Returning to the Radical Mission of the Local
Church. Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2014. 304 páginas

OTT, Craig. Plantação global de igrejas: princípios bíblicos e as melhores estratégias de


multiplicação; tradução Marângela Antonella Chirico França Oliveira. -- 1. ed. -
- Curitiba, PR: Editora Esperança, 2013. 478 páginas

PIPER, John. ¡Alégrense las naciones! La Supremacía de Dios en las missiones. Miami:
Editorial CLIE, 2007. 302 páginas
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume I; traduzido
por Susana E. Klassen. - Santo André, SP: Geográfica editora, 2006.

WRIGHT, Christopher J. H. The Mission of God’s People: A Biblical Theology of the


Church’s Mission. Grand Rapids: Zondervan, 2010. 304 pp.

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