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ANOTAÇÕES DO CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA

Por Jônatas da Silva Oliveira

O QUE É POLÍTICA

- O senso comum define política em dois pontos: Eleição e Gestão do Patrimônio


Público. O problema desse entendimento de política, por ser muito restritivo, tem
consequências outras da simples ignorância do termo, pois quando o indivíduo se
convence de que política é alguma coisa para eleger alguém, para que esse alguém
possa tomar decisões sobre o que fazer com o patrimônio público, o indivíduo tira daí
uma inferência imediata: “isso não tem nada a ver comigo pois eu não vou me
candidatar, nem quero administrar o patrimônio público, esse assunto não me diz
respeito.” Por isso é necessário alargar o entendimento do significado de política.

- Deve-se entender que a vida e a convivência em sociedade poderiam ser diferentes


do que são.

• Princípio da Necessidade: Aquilo que é do único jeito que poderia ser. A vida da
planta, da fruta, do animal, do vento (o resto da natureza). Os fenômenos da natureza
são regidos pelo principio da necessidade. Ex: A pera não delibera sobre cair ou não da
pereira, quando ela tem que cair, ela cai e pronto.

• Princípio de Contingência: O princípio de contingência afirma que aquilo que é pode


ser diferente. A vida pode ser outra. Podemos fazer diferente, interferir no resultado.

- A convivência é regida pelo principio da contingência, ou seja, poderia ser diferente


do que é.

- Para garantir a dominação é preciso que as pessoas acreditem que todas as relações
são do único modo que poderiam ser, não existindo a possibilidade de serem
diferentes.

- Um dos artifícios para convencer que as coisas são necessariamente do jeito que são
é compara-las com a natureza, o que é chamado de “naturalismo”, ou de “biologismo
das relações sociais”. Ex: dominação do gênero masculino sobre o feminino.

- Os papéis sociais que exercemos não são definidos por atributos da nossa biologia, da
nossa constituição física, mas sim por nossa vontade, ou pela vontade de alguns.

• Algumas considerações sobre política:

- A política tem a ver com aquilo que nós pensamos sobre a nossa convivência e que
não é absolutamente regido pela nossa natureza. A política é o que há de contingente

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em nossa convivência. A política é a inteligência a serviço de uma convivência
aperfeiçoada, nos campos e nas atividades que a inteligência pode transformar.

- A política e a ética tem o mesmo fundamento: a contingência da vida e da


convivência humana.

- Existe invariavelmente no estudo da política uma preocupação sistemática com a


escolha. Dentro de uma perspectiva de racionalidade é possível discutir como
empregar um certo dinheiro maximizando os seus efeitos dentro de um certo contexto
de carência que é mais ou menos generalizado.

- Escolher é identificar a alternativa de maior valor. E para que isso seja possível, é
preciso atribuir valor previamente a todas as alternativas.

- Na hora de viver, a atribuição de valor às várias possibilidades de vida que passam


pela cabeça de um indivíduo é uma atividade problemática. Como fazemos para
atribuir valor? Fazemos a comparação com uma referência, assim como um professor
atribui uma nota a um aluno de acordo com um gabarito. Mas na vida não há apenas
um gabarito, há infinitos gabaritos, infinitas respostas certas e contraditórias entre si.
A vida não tem uma resposta certa. Ex do conflito de valores: transparência vs
privacidade (o paparazzi como paladino da transparência – Truco regido pelo principio
da transparência não funciona)

- Como não há uma só verdade, o que temos é a necessidade de escolher sem


referência.

- Só faz sentido pensar em política enquanto possibilidade de deliberação livre,


autônoma e soberana sobre formas de convivência, e organização da convivência, que
não são inexoravelmente definidas por nenhuma instancia a priori.

• Reflexão sobre o desejo:

- Para Platão amor é igual a desejo, e o desejo é a inclinação do homem para o que ele
não tem, não é, etc... Amar é desejar, e desejar é não ter.

- O que caracteriza o homem é a insatisfação, ou a busca da satisfação. Uma


insatisfação desejante.

- Se o homem é por natureza desejante, a polis é por natureza uma guerra de todos
contra todos.

-O desejo é a busca da redução ininterrupta de uma certa falta. O capitalismo é a


consolidação do desejo como motor da história.

- A insatisfação consagrada pela sociedade capitalista, acaba tendo consequências num


certo tipo de filosofia moral, em que todo tipo de contentamento é olhado de forma

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negativa e condenatória. Toda satisfação e contentamento acabam sendo confundidos
com uma destreza de vida laceada e sem tônus.

- Sendo a política a gestão de desejos, desejos que buscam a satisfação de faltas, faltas
que serão preenchidas por mundos escassos, a relação entre as pessoas é
necessariamente de conflito.

- Seguindo esse raciocínio, a política pode ser entendida como a gestão de desejos
contraditórios, logo a política é a gestão da insatisfação. Nesse sentido, a política pode
ser entendida como a gestão de conflito entre entes desejantes.

• Reflexão sobre os discursos:

- Que tipo de interesse os discursos escondem? A quem interessa que as coisas sejam
como elas são?

- O trabalho político consiste em negar o interesse próprio do representante, em


proveito do interesse do representado, dando assim, fundamento ao princípio da
representação.

- Existe em todo o trabalho político o cinismo: o ocultamento das verdadeiras


motivações dos agentes, que são substituídas por outras consideradas mais aceitáveis
no teatro da vida social.

• Reflexão sobre a “potência de agir”:

- Supondo que o homem possui uma determinada energia para viver, e essa energia
será disponibilizada para buscar coisas que supostamente o faça bem, objetos de seu
desejo. Espinosa afirma que os indivíduos possuem uma espécie de essência, e essa
essência é a energia que cada um tem para viver segundo a segundo, esse energia
Espinoza chama de potência de agir.

- Viver é relacionar-se com o mundo, afetar o mundo e ser afetado por ele, o mundo
transforma o homem e o homem é transformo pelo mundo.

- Quando a potência de agir aumenta, Espinoza chama de afeto de alegria, passagem


para um estado mais potente e perfeito do próprio ser.

- A alegria não é um estado, é um afeto, passagem de um estado para outro maior que
o anterior. Alguém com a potência de agir elevada têm mais de si em si mesmo. Mais
do indivíduo nele mesmo, sendo a tristeza a rarefação da essência de um indivíduo
naquele espaço de corpo.

- O que o homem faz é procurar encontrar “mundos” que supostamente o alegrarão, e


fugir de mundos que supostamente o entristecerão.

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- Espinosa denomina como a lógica de conatos: A busca pela alegria e o escape da
tristeza em prol da própria potência de agir.

• Conclusão:

- Além da falta, o que mais caracteriza o desejo? A suposição do encontro alegrador,


ex: A deseja B quando imagina que B determinará a sua alegria.

- Desejo pelo mundo supostamente alegrador, o mundo que supostamente alavancará


a potência de agir.

- Para Espinoza, o amor é a alegria acompanhada da ideia da sua causa.

- Alegria será amor, quando o homem olhando para o mundo, encontrar a causa da
sua alegria. Ex: A encontrou B, B determinou em A um afeto alegre, afeto alegre é
passagem para um estado mais potente do ser de A, A identificou B como causa de sua
alegria, A ama B.

- Nesse sentido a política é a gestão da alegria e da tristeza.

- Como a política pode identificar formas diferentes de organização, qual a forma de


organização social que permite a melhor gestão possível dos afetos de alegria e de
tristeza dentro de um determinado espaço?

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POLÍTICA NA PRÁTICA
• Nietzsche diz: Toda palavra é uma mascara, todo discurso é uma fraude, toda
filosofia é uma pantomima. A palavra e o discurso são máscaras porque cobrem o que
importa conhecer. A verdadeira razão de ser do discurso é o desejo de quem enuncia
(exemplo dos cardeais). A gênese do discurso não está no que é dito, mas no que está
escondido pelo discurso.

• Valores são referências para a vida e para a convivência.

Anotações sobre a ágora:

• Somente temas propostos pelos cidadãos eram debatidos na ágora, ou seja, se um


tema não fosse apresentado por um cidadão, não seria debatido, mesmo que fosse um
tema essencial.

• Na ágora eram debatidos todos os temas que eram levados pelos cidadãos, por mais
absurdos que fossem. A ágora ateniense lembrava um centro acadêmico – a discussão
de festas era o tema mais discutido.

• Quem se dava bem na ágora era quem tinha o maior poder de persuasão nas
discussões. (os sofistas)

• Na ágora, a finalidade do discurso e da argumentação era conseguir a maior adesão


dos ouvintes, não importando a veracidade ou a lógica do que era dito. O que
importava era a eficácia persuasiva do argumento.

• Para convencer os mais idiotas é necessário enunciar o argumento mais idiota, que
vitorioso se converterá em lei. Somos governados por imbecis, e quem se deixa
governar por imbecis está enunciando o naufrágio da própria cidade.

Anotações sobre “A República”:

• Platão não tinha qualquer chance contra os sofistas da ágora, então escreve “A
República” para recriar as condições de discussão da ágora.

• Platão escreve “A República” como uma peça filosófica de crítica à realidade de seu
tempo, Platão estava longe de ser um democrata.

• A cidade deve ser governada por quem pensa, e quem pensa é o filósofo. (analogia
do navio)

Anotações sobre Platão:

• Filósofo Dualista

• Para Platão o mundo é dividido em dois e o homem é dividido em dois

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• Platão é mais elitista do que a própria democracia Ateniense.

Anotações sobre o Mito da Caverna:

• A caverna é o mundo onde nos encontramos e as sombras são as percepções


sensoriais do mundo que temos. Os escravos somos nós que acreditamos que o
mundo é apenas constituído por percepções sensoriais, o escravo que se solta é
Sócrates o filósofo, fora da caverna é onde está a realidade que projeta as sombras, e
essa realidade que projeta as sobras são as ideias, o mundo das ideias. O retorno à
caverna para avisar os escravos sobre a vida pobre é a luta do filosofo contra o senso
comum. A agressão que Sócrates sofre é sua condenação à morte.

Anotações Gerais:

• No mundo das percepções não há igualdade, o que há é a particularidade e a


diferença.

• Por de trás da particularidade está a essência, por de trás da diferença existe uma
essência, que é a Idea da “coisa”, que define a como tal. (ideia de cadeira, ideia de
galinha).

• Ao mundo das ideias, você tem acesso pela razão – Alma

• O homem é constituído por um corpo e suas percepções e pela alma e suas ideias.

• Para Platão a vida boa é a vida daquele que vive segundo os princípios da razão.
Existe no homem a possibilidade de colocar o corpo a serviço do pensamento, mas o
contrário também é real, é possível colocar a alma a serviço do corpo, colocar o
pensamento como lacaio da satisfação dos apetites.

• Platão estabelece um paralelo entre o homem e a cidade: Só pode pretender


governar a cidade quem consegue governar a si mesmo.

Anotações sobre o porta-voz:

• A legitimidade do porta-voz – o que a gente fala só tem valor a partir da posição


social que ocupamos enquanto porta-vozes, o valor do que dizemos tem menos a ver
com o que dizemos e mais a ver com a legitimidade da posição social que ocupamos.

• O valor social dos discursos é indissociável à posição social de quem o enuncia.

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POLÍTICA E TEORIA DOS SISTEMAS
• Referência Finalista ou Funcionalista

Anotações sobre o pensamento Aristotélico:

• Aristóteles é um filósofo Finalista: Estuda a finalidade das coisas. Para que serve, qual
é o papel de algo no todo. As coisas existem para alguma coisa. O fundamento da vida
está no “para” e não no “de”. “A causa final é mais importante do que a causa
eficiente.”

• Ideia Central: para Aristóteles a cidade deve ter como referência uma ordem
cósmica.

• A cidade é boa quando ela está em harmonia com o cosmos.

• Cosmos = Ordem Universal

• A vida do homem encontra o seu sentido na harmonização da mesma com o resto do


cosmos.

• Entre a vida particular e o universo está a cidade.

• Eudaimonia é fazer o que você nasceu para fazer/ser. Encontrar sua Eudaimonia é
estar em alinhamento com a “vontade” do cosmos, ou seja, encontrar a sua finalidade
no cosmos, o seu papel. (exemplo do quebra cabeças)

• Nessa perspectiva de Aristóteles a cidade ideal é aquela onde os cidadãos podem


alcançar a sua Eudaimonia.

• Segundo a perspectiva Aristotélica, o estudo da cidade é importante para saber qual


governo é mais adaptado para que as partes (pessoas) realizem perfeitamente suas
finalidades.

• O estudo das partes do todo tem por verdadeiro objeto a participação delas no todo.
E a participação das partes no todo implica a identificação da sua finalidade para que o
todo funcione. Para que o todo funcione, as partes devem cumprir o seu papel.

• É preciso parar em algum lugar: Ananke Stenai – Se eu quiser justificar a vida, alguma
coisa tem que valer por si mesma. Se não, estaremos sempre correndo atrás de
objetivos que só se justificam no futuro.

• 'DEUS' para a filosofia é aquilo que é causa de si mesmo. (exemplo da história)

• Aristóteles afirma que o homem é um animal político.

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• Estar na cidade não é uma possibilidade entre outras, eu só encontrarei o meu lugar
natural enquanto humano se eu viver em uma cidade, esta é uma condição da
descoberta eudaimonica. Somos animais políticos: Zoon Politikon. A única
possibilidade de encontrar a eudaimonia é a partir da interação, da sociabilidade.

• Sem o cosmos o finalismo aristotélico não se sustenta.

• Há uma mudança de perspectiva do finalismo grego para o finalismo moderno. No


moderno a finalidade das coisas é identificada pelo homem e não pelo cosmos. Haverá
aquilo que alcança finalidade sozinho e aquilo que alcança finalidade em associação.
Ou seja o homem identifica a função, mas isso não significa que ele foi “destinado
àquilo”.

Anotações sobre o sistema:

• Um sistema é um todo cujas partes são funcionalmente interdependentes.

• Tudo na análise sistêmica é relacionado com a sua finalidade. Portanto se enquadra


dentro do pensamento funcionalista (ou finalista)

• E na análise sistêmica a finalidade das coisas está fora delas. Toda a finalidade é
externa a si. (ex do colírio e do olho)

• Um sistema básico é composto por 5 partes: input, output, caixa-preta, feedback,


gatekeeper.

• Exemplo de um sistema básico:

gatekeeper

input output

Caixa-preta

feedback

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• Exemplo de um sistema político:

Cultural gatekeeper: Institutional gatekeeper:


Noção do que deve Sindicatos
se tornar uma Partidos
demanda realmente Etc...
aplicável. Organizam entrada da demanda

Demandas (explícitos)
Decisões
Estado Ações
Apoios (implícitos)

Geração de novas demandas

• O que é interessante notar na análise sistêmica é que todos nós somos culpados pela
ineficiência, ou pelo mau funcionamento do sistema, pois somos partes integrantes do
mesmo.

• Quanto melhores forem os gatekeepers, mais qualificadas serão as demandas


levadas ao governo.

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OPINIÃO PÚBLICA

• Opinião pública para o IBOP, Data Folha, etc... : é a somatória das opiniões
individuais sobre temas por eles mesmos aferidos. (para Bourdieu esse tipo de opinião
pública não existe)

Esclarecimentos:

- Opinião + Pública = substantivo + atributo, ou seja, há opiniões que não são públicas.

- Definição de Opinião: é composta por dois elementos. O primeiro é o objeto (alvo),


toda opinião é uma opinião sobre alguma coisa. O segundo é o valor que atribuímos a
esse objeto. Ex: a aula foi ruim, a comida está apetitosa, etc...

- A especificidade da opinião pública em relação à simples opinião é que, a opinião


pública terá por objeto temas que digam respeito a toda a cidade, toda a “polis”,
temas “políticos” por tanto.

- Requisito para que um objeto seja público hoje: esteja presente nas pautas dos meios
de comunicação. A agenda dos meios determina a agenda pública. A opinião pública,
para ser pública, terá que ter um tema presente nos meios de comunicação de massa.
(Agenda Setting)

- O valor atribuído ao objeto da opinião pública é atribuído por um grupo, ou seja, é


um valor coletivo e compartilhado por um grupo de pessoas.

Para que a opinião pública possa ser entendida como a somatória das opiniões
individuais, o que é preciso?

1ª Premissa - Seria preciso que todos tivessem opiniões individuais sobre os temas da
agenda pública, o que não é o caso, pois nem sempre há opinião individual sobre os
temas próprios da opinião pública.

2ª Premissa - Além disso, seria preciso que houvesse uma referência para que seja
feita a comparação – Um critério a partir do qual julgar.

3ª Premissa - Seria preciso que elas fossem “somáveis”, e só são somáveis unidades da
mesma espécie. Ou seja, as opiniões individuais teriam que ser equivalentes para
poderem ser somadas. O que não pode ser feito, já que cada indivíduo tem suas
características específicas, diferentes legitimidades sobre o assunto, experiências
diferentes, formações diferentes, especialidades diferentes, etc. (Exemplo da opinião
do crítico de cinema e a do professor Clóvis).

4ª Premissa – Os temas objeto de pesquisa teriam que ser os temas mais relevantes,
mais importantes para os indivíduos da sociedade. Perguntar sobre determinados
temas é pressupor um acordo social sobre a importância desses temas, o que está
longe de corresponder à verdade.

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Conclusão: a definição de opinião pública como simples somatória das opiniões
individuais, é uma definição que não convém.

Já que a opinião pública NÃO é a somatória das opiniões individuais, tentaremos


desenvolver as teses de que:

1) A opinião pública é lógica e cronologicamente anterior às opiniões individuais;

2) A opinião pública é condição das opiniões individuais;

3) Fazer acreditar que a opinião pública seja a somatória das opiniões individuais
interessa a “alguém”, pois esconde instancias de poder e protege aqueles que
conseguem interferir nos caminhos da opinião pública. É uma maneira de
esconder, camuflar, aqueles que estão por trás da construção efetiva das
opiniões dominantes sobre os temas políticos.

1) A opinião pública é lógica e cronologicamente anterior às opiniões individuais:

- Segundo Durkheim, “a sociedade é lógica e cronologicamente anterior aos indivíduos


que a compõem”. Quando o homem surge na evolução da espécie, ele já vivia em
sociedade, assim como as etapas anteriores ao homem nesse processo também já
viviam em sociedade. Ou seja, a evolução do homem se deu em sociedade.

- Assim como a sociedade precede o indivíduo, a opinião pública precede a opinião


individual, pois os indivíduos nascem em contextos onde as opiniões públicas já estão
amplamente consolidadas.

2) A opinião pública é condição das opiniões individuais:

Freud propõe sobre as instancias da personalidade:

- O estado psíquico ao nascer é o de uma “pura energia” (ID) e a energia em questão


recebe o nome de “libido”, essa energia funciona segundo o princípio de prazer, a
energia busca o prazer. Como o exemplo do recém-nascido que ao ser privado de
prazer, reage negativamente a essa privação. Porém, quando o indivíduo nasce ele é
inserido em um contexto que funcionam sob certas regras, que condicionam a
obtenção do prazer, esse funcionamento recebe o nome de “princípio de realidade”
(conjunto de pessoas que se articulam segundo regras, e que vão receber, enquanto
coletivo, o nome de civilização.)

- O que acontece é que o indivíduo, que é regido pelo princípio de prazer, é inserido no
contexto civilizado, que é regido pelo princípio de realidade. Essa tensão durará até o
final da vida do indivíduo.

- A civilização define as condições de obtenção de prazer e o ID cobra prazer o tempo


inteiro. Por conta dessa tensão o indivíduo se “dota” de uma instancia de negociação,

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diplomática, de acordo entre o ID e a civilização. Esta instancia é o que Freud vai
chamar de EGO. E EGO é a consciência em todos os seus atributos (tudo o que passa
pela cabeça do indivíduo), o EGO é a inteligência, a articulação dos discursos... O EGO é
uma competência que o indivíduo apresenta e que permite a sobrevivência de um ID
no espaço civilizatório condicionador.

- O EGO surge como instancia avançada de negociação e de acomodação de distensão


entre forças que se opõe, o EGO é lógica e cronologicamente posterior ao encontro do
ID com a civilização.

- No EGO ficam as opiniões individuais, e na civilização existe a opinião pública. Ou


seja, a opinião pública é condição das opiniões individuais.

3) Fazer acreditar que a opinião pública seja a somatória das opiniões individuais
interessa a aqueles que estão por trás da construção efetiva das opiniões
dominantes sobre os temas políticos.

- O que Bakhtin propõe em sua obra “Marxismo e filosofia da linguagem”: a


consciência tem como matéria prima signos. As palavras são um tipo de signo. A
consciência é povoada de palavras. As palavras constituem a consciência, mas a
consciência é dinâmica, e pressupõe a articulação permanente entre essas palavras.
Cada palavra possui um significado.

- Polifonia Discursiva: quando o indivíduo é inserido no mundo sem consciência,


começa a travar contato com as palavras, porque está imerso em uma polifonia
discursiva.

- Ex: As palavras estão para a consciência assim como os ovos estão para uma omelete.
E com meia dúzia de ovos pode-se fazer infinitos tipos de omeletes diferentes.

- Isso significa que um indivíduo não é uma cópia exata daquilo que ouve. Ele está
imerso na polifonia discursiva, e faz a apropriação das palavras por suas vias sensoriais,
mas na hora de enunciar o seu discurso, ele propõe a sua própria articulação
discursiva.

- Os discursos não serão a reprodução mecânica de tudo o que o indivíduo se


apropriou (todas as palavras), nem tão pouco uma criação a partir do nada. Há um
espaço criativo para elaboração dos discursos, mas o discurso parte sempre de algo
que já existe.

- A consciência é construída dentro de um pertencimento na sociedade, de fora pra


dentro. É a sociedade que oferece as condições materiais para articular a matéria
prima semiótica que o indivíduo usa para falar. É a sociedade que propõe o significado
das palavras que os indivíduos utilizam.

- Bakhtin afirma: Todo signo é ideológico – O significado das palavras é resultado da


construção social de agentes em conflito, que querem que as palavras digam coisas

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diferentes do que elas querem dizer para seus adversários. Existe uma luta social pela
definição do que devemos entender sobre as palavras. O significado das palavras é um
troféu em disputa.

- Se a consciência é povoada por signos em articulação, e esses signos em articulação


só se articulam em função de significados em circulação na polifonia social, é evidente
que um indivíduo só consegue propor uma opinião individual se tiver sido
devidamente abastecido por uma matéria prima semiótica que lhe é dada pela
polifonia na qual ele está inserido. A opinião pública é lógica e cronologicamente
anterior às opiniões individuais.

• Modelo da Espiral do Silêncio

- A premissa é que os indivíduos se sentem muito desconfortáveis quando tem que


defender uma opinião que não é dominante em um determinado grupo. E esse
desconforto vem acompanhado de uma estratégia tendencial, a de ficar em silêncio
sobre determinado assunto. O indivíduo tende a não falar sobre temas que supõe ter
opinião contrária em relação à opinião da maioria.

- Todos nós temos uma certa intuição da opinião da maioria, chamamos isso de clima
de opinião.

- Se a opinião é absorvida em função da polifonia, e aqueles que pensam diferente


tendem a ficar quietos, é claro que a opinião que já é minoritária se tronará mais
minoritária ainda, isolando assim os indivíduos que tem a coragem de se expressar,
aumentando a probabilidade de que eles também se calem.

- A teoria da espiral do silêncio procura dar conta do medo de se colocar diante de


uma opinião adversa e dominante, e, portanto, da necessária acomodação a uma
espécie de tirania do maior número.

- Platão usava a palavra Doxa como sendo a opinião dominante na ágora. Essa tinha
duas características principais: Politicamente forte e filosoficamente frágil.

- Uma sociedade que aplaude a sistemática decisão política em distanciamento


progressivo da complexidade da busca da verdade, é uma sociedade que cava a sua
própria sepultura.

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PARTIDOS POLÍTICOS – PARTE 1
• Advertências na hora de definir partidos políticos:

- Os partidos não possuem consistência Ideológica: Um conjunto de propostas que


tenha clareza suficiente para explicar para qualquer um o que é que se pretende para
o país.

- Partidos Fisiológicos: Os partidos sendo desprovidos de uma ideologia, são


constituídos exclusivamente de uma fisiologia, organizações com um corpo, mas sem
ideias.

- Não se deve definir partido político a partir do elemento ideologia. Pois a verdade é
que os partidos políticos não as tem.

- No mundo inteiro assistimos a uma de desideologização dos partidos políticos. O que


antes era uma proposta doutrinária profundamente diferente de seus concorrentes,
hoje se resume em dois ou três detalhes técnicos. (exemplo dos partidos franceses)

• A origem dos partidos políticos:

- Duverger propõe dois tipos de origem de partidos políticos: Eleitoral/Parlamentar e


de Origem Indireta.

1) Eleitoral/Parlamentar: é um partido que surge a partir de um grupo


parlamentar.
2) Origem Indireta: Não surgem no parlamento, partidos que tem origem em
organizações que inicialmente não eram partidárias. Ex: partidos que surgem
de sindicatos, igrejas, organizações ecologistas, etc...

- Historicamente os partidos surgem no parlamento, na Inglaterra no final do sec XVIII.


Surgem principalmente da necessidade de proposição e aprovação de projetos.

- Na Inglaterra surgem dois grupos políticos no início do século XIX: Tories and Whigs.

- O pertencimento a uma instituição é uma credencial de pertencimento ao próprio


jogo. Além disso, a filiação partidária é condição legal para a candidatura na maioria
das democracias ocidentais.

- O partido surge por uma questão funcional, pragmática, para que o sistema pudesse
funcionar. E com o passar do tempo, o pertencimento a um grupo tornou-se uma
espécie de garantia eleitoral.

- A institucionalização dos grupos fez com que a existência dos mesmos transcendesse
as próprias pessoas. O grupo existe independentemente de quem estiver lá.

- O grupo também existe pela eficácia na aprovação dos projetos.

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- Os membros dos grupos parlamentares recebem verba dos partidos que financiam
suas campanhas, fazer parte de um partido também viabiliza financeiramente a
campanha.

- Partidos de Origem Indireta: Partidos de origem sindical, como o PT no Brasil,


partidos que surgem da igreja, etc...

- Os partidos que tem origem indireta e eleitoral/parlamentar, tem funcionamento e


história diferente. O enraizamento social de um partido eleitoral/parlamentar é muito
diferente de um de origem indireta.

- Um partido eleitoral/parlamentar só aparece para a população de 4 em 4 anos, em


tempos de eleição.

- Um partido que tem origem em um sindicato (origem indireta), por exemplo, tem
muito mais proximidade com a classe trabalhadora.

- Historicamente os partidos de origem indireta chegam para “jogar o jogo” criticando


o próprio jogo (Platão e a agora), então esses partidos, muitas vezes, não queriam
chegar ao poder pelas vias já existentes, daí também a nomenclatura de partidos
revolucionários.

- Martin Lipset e Stein Rokkan propõem que os partidos políticos vão se constituir a
partir de clivagens sociais, fissuras sociais (Os partidos se estruturam em função de
forças sociais, em função de interesses sociais):

1ª Clivagem Social – Posicionamento em relação ao estado e sua atuação.


Maior ou menor presença do estado na sociedade.

Algumas forças sociais se identificam com uma atuação importante do estado em


diversos setores, enquanto que outras forças sociais defendem a redução progressiva
da presença do estado na sociedade.

2ª Clivagem Social – Separação das forças sociais a partir da maneira como


elas enxergam a presença da religião nas decisões políticas.

De um lado estão aqueles que aceitam que a religião seja critério para tomadas de
decisão, que a religião forneça um conjunto de valores que permitam uma base para
tomada de decisão. Do outro lado estão aqueles que a acreditam que Deus e religião
não são assuntos públicos, ou políticos, mas são questões privadas, de foro íntimo.

Nessa clivagem podemos perceber que há manifestações que colocam o culto religioso
como parte de uma oferta política. (Exemplo Suplici)

3ª Clivagem Social – Patrão vs Empregado: Clivagem das forças sociais que


fazem coro com o capital (donos da propriedade privada e meios de produção) e a

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clivagem das forças sociais que fazem coro com a venda constrangida do trabalho
explorado.
É preciso observar que de um lado os partidos que se apresentam como defensores da
propriedade privada, nunca vencerão uma eleição se não conseguirem a adesão de
alguns trabalhadores explorados. Por outro lado, um partido que se diz representante
dos trabalhadores explorados, precisará do apoio das grandes empresas.

Essa clivagem é importante, porém se for entendida de maneira isolada ela pode levar
a uma simplificação abusiva do fenômeno partidário e eleitoral.

De um lado o partido patronal precisa dos trabalhadores, do outro lado os partidos


trabalhadores precisam do patrocínio da indústria e das empresas. Podemos então
encontrar vasos comunicantes entre esses dois lados da clivagem.

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PARTIDOS POLÍTICOS – PARTE 2
• Esclarecimentos sobre a definição de Partidos políticos

- Desde que os partidos políticos passaram a ser objeto de estudo das ciências sociais,
a ideologia deixou de ser um critério definidor. Mas é preciso lembrar que os partidos
políticos são anteriores ao surgimento das ciências sociais, e muitos pensadores
tentaram definir partidos políticos antes disso.

- Antes do surgimento das ciências sociais, costumava-se acreditar que os partidos


políticos eram de fato um conjunto de pessoas que professavam as mesmas ideias.

Edmund Burke ofereceu uma definição para partidos políticos: o partido é um


conjunto de homens unidos para promover, por seus esforços comuns, o interesse
nacional com base em alguns princípios em torno dos quais estão todos de acordo.

Benjamin Constant define partido da seguinte maneira: um partido é uma reunião de


homens que professam uma mesma doutrina.

David Hume observa que: a ideologia é extremamente importante para o partido


enquanto o partido não existe ainda. Ou seja, é por conta da perspectiva de uma
unidade ideológica que as pessoas se sentem motivadas a se juntar, porém, tão logo os
partidos entram em funcionamento a ideologia deixa de ser um critério definidor.

- David Hume está bem no meio de uma forma de pensar para outra (antes das
ciências sociais e depois das ciências sociais) o fato é que hoje ninguém mais define
partido político pela ideologia.

• Definição de Lapalombara e Weiner para partidos políticos

Lapalombara e Weiner estabeleceram quatro critérios para a definição de partidos


políticos. Vale lembrar que esses critérios individualmente considerados não definem
nada, pois estão presentes em outras organizações. O que discriminaria os partidos
políticos é a combinação dos quatro.

1º critério – um partido político é uma organização durável, cuja expectativa de vida é


superior a de seus dirigentes.

2º critério - um partido político é uma organização estruturada localmente e


implantada nacionalmente.

3º critério - um partido político é dotado de uma vontade deliberada de seus


dirigentes, nacionais e locais, de tomar e exercer o poder do Estado.

4º critério - o partido político para tomar e exercer o poder do Estado busca o apoio
popular.

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1º critério – um partido político é uma organização durável, cuja expectativa de vida
é superior a de seus dirigentes.

- Não são partidos aquilo que chamamos de facções pessoais. Se uma organização tem
como único objetivo que alguém tome o poder, essa organização é personalista, que
tende a acabar com o desaparecimento do seu líder, e um partido político deve ter
uma expectativa mais ampla do que isso.

- Além disso, os autores dessa definição pretendem distinguir os partidos políticos de


organizações estruturadas em torno de uma causa específica, pois quando essa causa
é alcançada, a organização deixa de existir.

- Esse primeiro critério visa excluir dois tipos de organização: uma organização que se
estrutura atrás da carreira de uma pessoa, e uma organização que se estrutura atrás
de uma causa específica.

Considerações sobre o primeiro critério:

1º Exemplo, PTB: O PTB era o partido de Getúlio Vargas, o principal partido do país.
Getúlio morreu e o PTB continuou, porém, com a morte de Getúlio, o PTB tornou-se
uma sigla sem identidade, sem consistência ideológica e sem pretensão de vitórias
significativas. Posto isso, será mesmo que o PTB sobreviveu ao seu líder? Do ponto de
vista formal Sim. Do ponto de vista da potência partidária, da identidade partidária,
Não.

Percebe-se, portanto, que esse critério só encontra problema quando um partido


conta com um líder que concentra em torno de sua pessoa boa parte do capital
político de seu partido.

2º Exemplo, PT: O que acontecerá com o PT depois do Lula? Pois Lula é maior do que o
PT, e as posições de governo mais importantes do PT, só foram possíveis de alcançar
por causa da credibilidade do Lula junto ao povo.

3º Exemplo, PSDB: Quando o FHC saiu do poder, houve uma relativa distribuição do
capital do partido entre varias pessoas.

4º Exemplo, Nazi: Partido altamente baseado na personalidade de seu líder, que não
sobreviveu à morte de Hitler. É difícil não considera-lo um partido, mesmo que não
tenha sobrevivido à morte de seu líder.

- Embora essa seja a definição mais conhecida, ela é altamente controversa, pois não
da conta da realidade como um todo.

2º critério - um partido político é uma organização estruturada localmente e


implantada nacionalmente

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1º Exemplo, República Velha: Na república velha existiam partidos locais como o PRP
(partido republicano paulista) e o PRM (partido republicano mineiro), que não tinham
implantação nacional, mas que não podem deixar de ser reconhecidos como partidos.

2º Exemplo, UPN (União do Povo Navarro): Um partido local da Espanha que desdenha
da implantação nacional, concorre apenas localmente.

- Esse critério também é questionável, pois ignora o caso da Espanha, por exemplo,
que consegue funcionar muito bem com diversos partidos de implantação
exclusivamente local.

3º critério - um partido político é dotado de uma vontade deliberada de seus


dirigentes, nacionais e locais, de tomar e exercer o poder do Estado.

Com esse critério os autores pretendem excluir toda organização que não quer exercer
o poder do estado, como os sindicatos, igreja, associações, etc...

Essa definição também é controversa, pois existe política partidária sem pretensão de
tomada de poder imediata. Além do mais, uma candidatura pode trazer ganhos
econômicos interessantes em uma candidatura que o candidato sabe que não vai
ganhar.

Ex.: Candidatura do Eimael, Levy Fidelis.

4º critério - o partido político para tomar e exercer o poder do Estado busca o apoio
popular.

Exemplo da Inglaterra, o Parlamentarismo: O apoio popular é buscado para dar o


“start” no processo, mas a sociedade só volta a ser consultada daqui a 4 anos. O 1º
Ministro toma todas as posições contra ou à favor da opinião pública.

- A definição de Laparombara e Weiner é a mais conhecida, no entanto, todos os seus


critérios são discutíveis. E ainda, quando colocamos os quatro critérios juntos,
podemos concluir que é muito difícil encontrar alguma organização que atenda o
tempo inteiro a esses quatro critérios.

• Outras definições dos Partidos Políticos

- Para Max Weber, os partidos políticos são como empresas de representação. Fazem
parte de um mercado, buscam um certo tipo de consumo, o consumo eleitoral,
participam de uma concorrência, oferecem produtos, adotam estratégias de mercado
para conferir valor aos seus produtos.

- Nessa perspectiva, a ideologia é um produto entre outros a ser oferecido pelo


partido em troca do voto. Mas esse produto só deve ser oferecido se você tiver um
público consumidor para ele, se não, esse produto será oferecido sem demanda, e ele
perderá completamente o seu valor.

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- Um partido político possui vários produtos: Ideias, Carisma do Enunciador,
convivência interna, identidade, etc...

- Que tipo de produto uma empresa política deve oferecer? Aqueles compráveis pelo
voto.

- Sendo a sociedade o que ela é, os partidos oferecem o que acham que deve oferecer.

- Empresas políticas de representação, a ideologia é um produto à venda. E o preço


da ideologia é o que estão dispostos apagar por ela em voto.

- As empresas políticas de representação oferecem o que acham que possa ter


demanda.

- Exemplo: Mário Covas e os 100 pontos para mudar de vida.

- Conclusão: segundo essa abordagem baseada na visão de Max Weber, é que não
existe uma oferta política boa em si, não existe um programa bom em si, não existe
uma campanha boa em si, não existe um candidato bom em si, mas existe uma oferta
adequada a uma demanda!

- O partido também é uma empresa por que? Porque o que caracteriza uma empresa é
a complementaridade funcional, o fato de que cada um faz uma coisa diferente para
obter um certo resultado. Porque tem recursos, mobiliza recursos com vistas a um fim,
o que é um certo tipo de lucro, e o lucro é a ocupação de postos eletivos dos estado.
Porque tem processo seletivo para entrar, porque põe para fora quem não da lucro,
porque tem dirigentes que não se confundem com seu produto principal, etc...

• A organização dos partidos políticos

- As empresas políticas de representação não se organizam todas da mesma forma,


sendo as origens dos partidos políticos determinantes das suas estruturações.

- As origens partidárias são Eleitoral/Parlamentar e Indireta.

- Eleitoral/Parlamentar:
A bancada parlamentar do partido é detentora do poder dentro do partido. O líder do
partido será necessariamente alguém que exerce um cargo político.

- Origem Indireta:
Existe uma burocracia para eleger a liderança do partido, não necessariamente o eleito
para liderar o partido precisa exercer um cargo político.

- Partido de Quadros
- Poder descentralizado.
- Fracamente hierarquizado
- Flexível: Cada deputado vota como achar melhor, sem orientação partidária.

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- O funcionamento de um partido de quadros é intermitente, com foco de atuação
próximo às eleições.
- A principal oferta é o carisma do candidato, as características do candidato, e por isso
o partido precisa construir condições de simpatia entre o eleitorado e seu candidato
- Dependente muito dos meios de comunicação de massa
- Não tem militância
- Financiado por poucos financiadores, porém com doações vultosas.

- Partido de Massa
- Altamente centralizado, as decisões são tomadas pelo poder central.
- Fortemente hierarquizado
- Rígido: Partido que tem disciplina e orientação de voto. Os deputados devem votar
segundo a orientação do partido, e quem não o fizer será disciplinado, podendo ser
expulso do partido.
- Funciona 365 dias por ano da mesma forma. Pois o trabalho do partido exige esse
funcionamento permanente.
- Sua principal oferta é o programa, e por isso o partido de massa precisa de
convencimento doutrinário
- Depende menos dos meios de comunicação de massa, pois é mais capilarizado
- Militância engajada
- Financiado por um número expressivo de doadores, porém com doações de pequeno
vulto.

• Diferenciação partidária por Robert Michels

- Segundo Michels, o que realmente diferencia uma organização partidária de outras


organizações, é sua tendência Oligárquica. Num partido político o capital político se
concentra. O partido político é uma instituição cuja principal característica é a
concentração do capital político em torno de seus dirigentes.

- Os partidos são instituições oligárquicas.

- Há um paradoxo: Os partidos são garantidores da democracia, viabilizam os embates


eleitorais, garantem a pluralidade das manifestações, mas internamente são
ambientes autoritários e oligárquicos.

- Não existe nada mais improvável do que uma revolução dentro de um partido.

- A conservação de poder interna aos partidos é condição para uma série de outras
conservações. Ex.: quem vai ser candidato? Quem terá mais tempo de tv, etc...

- A dificuldade de renovação partidária é uma espécie de tampão que impede a


renovação política.

- A dificuldade de ascensão dentro dos partidos é uma espécie de determinante da


dificuldade de renovação dos quadros públicos, o que torna o número de profissionais
da política cada vez mais restrito.

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A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

• Sob o viés Sociológico:

- Um sociólogo diria que: O texto constitucional é o resultado final das manifestações


dos diversos interesses sociais. A consequência ultima da manifestação dos diversos
agentes sociais.

-Há uma série de premissas para esse olhar, e essas premissas são todas discutíveis:

1) 1ª premissa: é a de que sempre haja interesses sociais e vontades pessoais


sobre os temas relativos à constituição. Porém, isso não é verdade, pois quase
nunca os cidadãos tem opiniões formadas sobres os temas relativos à
constituição. Ex: presidencialismo vs parlamentarismo.
2) 2ª premissa: é a de que os parlamentares constituintes são meros porta-vozes
passivos dos interesses do povo soberano e representado por eles. Também
não é verdade, pois o parlamentar usa a sua atividade legislativa para defender
os interesses que são dele, ou quando muito, daqueles poucos que bancam
suas campanhas e suas carreiras políticas.
Vale fazer um destaque de dois conceitos que ajudam a entender essa crítica: o
conceito de “profissionalização da política” (Max Weber) e a ideia de “campo
político” (Bourdieu).

O olhar sociológico destaca a constituição como o resultado final de um processo


social. Cronologicamente 1º vem a sociedade, depois as manifestações dos interesses
sociais, e depois o constituinte que dará conta desses interesses sociais.

O processo de elaboração de uma constituição, apesar de as vezes levar em


consideração o que a sociedade quer, jamais pode ser considerada como um mero
espelho da sociedade. O parlamentar constituinte até pode se servir de um interesse
popular, mas ele o fará se, e somente se, esse interesse popular for coerente com sua
própria estratégia dentro do jogo parlamentar. Ex: Mário Covas e a questão
presidencialista.

• Sob o viés Político

Para entender esse segundo olhar: respeitando a relativa autonomia do campo político
na sua produção legislativa, e respeitando uma certa profissionalização da política que
faz de deputados e senadores constituintes, profissionais apetrechadas de um certo
saber, de um certo “know how”, que é completamente distante das competências do
senso comum e dos não iniciados.

- Sob esse ponto de vista, a constituição não resulta da manifestação ampla dos
interesses sociais, mas sim de interesses muito mais específicos, patrocinados e
abrigados pelos profissionais da política especificamente responsáveis pela redação do
texto constitucional.

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- A constituição seria entendida então como o resultado do embate de interesses entre
profissionais eleitos pelo povo para redigir o texto constitucional.

- É interessante notar também o efeito performativo do discurso: quando o discurso


tem o papel de construção da realidade sobre a qual fala. A ideia de que os interesses
sociais não são a causa do trabalho parlamentar, mas a consequência do trabalho
parlamentar. Ex: do senador que tinha como bandeira a defesa dos direitos dos
aposentados.

- A perspectiva política da constituição aponta para um espaço de barganha e


negociação, mas também de enfrentamento. O parlamento é ao mesmo tempo uma
arena de luta e um espaço de estreitas alianças, com vistas a uma articulação sempre
estratégica de busca de aumento do capital político por parte de todos aqueles que ali
estão jogando.

- Nesse sentido, a redação do texto constitucional fazia o interesse de todo mundo,


pois graças a essa tarefa, todos os que se envolveram nesse trabalho acabaram
acumulando um capital político de notoriedade e reconhecimento que podem gastar
até hoje.

• Sob o viés Jurídico

O jurista se interessa pela dimensão normativa do texto, pela maneira como a lei
regulamenta as relações sociais depois que ela é promulgada. Ele vai se dedicar a
discutir como o texto é aplicável na sociedade. O jurista também vai estudar as
relações desse texto com o resto das leis, partindo da premissa que a constituição é a
mais importante das leis.

- O direito parte da premissa que a norma jurídica é “pura”, pois desconsidera todo o
processo de elaboração das leis.

- Porém, a partir do momento que o direito aceita que tudo começa com o texto,
ignorando as condições de promulgação do mesmo, e aceita o texto como legítimo, e
entende que a letra da lei é necessariamente o que a sociedade quer e acha justo para
ela, e fecha os olhos para o fato de que a letra da lei não foi escrita pela sociedade, e
muitas vezes não tem nada a ver com o que a sociedade acha justo ou injusto, então é
claro, o direito é obrigado a tomar o que é pelo que não é, e toda vez que o direito é
obrigado a tomar o que é pelo que não é, é obrigado a chegar em conclusões bizarras
quando levadas a extremos.

- Muitas vezes, o que os legisladores nos propõem como norma jurídica, sob o
pretexto de que são legítimas porque resultam da vontade popular, acabam
consagrando soluções completamente tortas, e às vezes agressivas ao que aquela
sociedade gostaria que vigorasse. Ex: Feliciano e a comissão dos direitos humanos

• A classificação das constituições

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- Classificação pela forma: o primeiro critério de classificação dos textos
constitucionais tem a ver com a forma de apresentação do texto.

- São duas as categorias: “constituições escritas” e “não escritas”

- Não escrita: A constituição cujas disposições estão dispersas em vários


documentos. Ex: Na Inglaterra não existe um texto constitucional único, e sim um
conjunto de documentos, normas, costumes, jurisprudências, etc... Nesse caso a
constituição resulta de um conjunto muito grande de manifestações jurídicas de
naturezas diversas e que não estão todas reunidas em um mesmo texto.

- Escrita: A constituição cujas disposições estão todas reunidas em um único


texto.

- Quando você tem uma constituição não escrita, fica claro que ela é obra de muita
gente. Porém, no caso da escrita, fica evidente que ela é obra de um tipo único de
gente, o profissional da política.

- Uma constituição que abriga normas costumeiras, práticas recorrentes, abre a porta
para uma aproximação da sociedade como ela é, uma constituição que se serve de
decisões dos juízes, abre portas para o profissional do direito, uma constituição que se
serve de “N” fontes é uma constituição mais plural.

- A nossa constituição foi 100% escrita por um único tipo de gente, o profissional da
política, gente que vive da política e para a política, filiado a partido, que deve favor
para quem lhes deu dinheiro, ou seja, um único tipo de profissional. Tudo parece mais
lógico, mais organizado, mas resta saber o quanto não pagamos caro por entregar a
redação da nossa constituição a um tipo só de profissional.

- Classificação pela origem: pode ser “promulgada” ou “outorgada”.

- Promulgada: Constituição escrita por alguém eleito diretamente pelo povo


para exercer esse trabalho. Ex: constituição de 1988

- Outorgada: Constituição escrita por quem não foi eleito pelo povo para fazer
isso. Ex: constituição de 1937

- Vale lembrar que a aparente perspectiva democrática de escolha dos constituintes,


não garante que o texto constitucional seja o espelho da vontade popular. Portanto,
poderíamos afirmar que, se uma constituição outorgada não tem muito a ver com o
que a sociedade quer, uma constituição promulgada a pesar de ter sido escrita por
representantes do povo, pode também conter muitas normas distantes da vontade
popular.

- Classificação pela extensão: pode ser “sintética” e “analítica”.

- Sintética: Curta

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- Analítica: Comprida

- A constituição de 1988 é super-analítica. Extremamente extensa. Mas por que ela


está entre as mais extensas da história das constituições?

- A nossa constituição é tão extensa porque os nossos parlamentares se serviram da


constituição para marcar simbolicamente suas carreiras. A elaboração do texto
constitucional é uma oportunidade de existir para o país como autor deste ou daquele
projeto.

- 1ª razão: Por se tratar de um texto de grande visibilidade, a constituição confere ao


seu autor uma dose adicional de capital simbólico que se consagra. Escrever algo na
constituição é ter a sensação de entrar para a história do país, então todos queriam
deixar a sua marca.

- 2ª razão: A constituição brasileira foi escrita ao término de um momento histórico


que todos os seguimentos da sociedade queriam apagar (ditadura militar). Por tanto, a
constituição foi o marco simbólico dessa mudança. A prova documentada de que o
Brasil havia mudado.

- O texto constitucional é um texto de ruptura, e esse clima de mudança não existe


mais. O ambiente de 1988 não é o ambiente de 2013. Ex: o caso da comunicação – o
texto prevê a mais ampla liberdade de expressão, ressalvada a privacidade das
pessoas. Mas o que é privacidade? A constituição não explica. Então na verdade o que
a constituição prevê é a mais ampla liberdade de expressão. Podemos perceber então
que essa ampla liberdade de manifestação, só pode ser entendida no contexto de
censura, pois na hora em que a censura desaparece, essa ampla liberdade de
expressão se transforma em um dispositivo temerário, pois graças a essa liberdade,
pode-se dizer coisas horríveis, desmoralizar identidades e produzir efeitos sociais
nefastos.

- Classificação das normas pelo conteúdo: “Materialmente Constitucionais” e


“Formalmente Constitucionais”.

- Normas Materialmente Constitucionais: é uma norma que cuida de assuntos


que costumeiramente são tratadas pelas constituições. O que uma constituição tem
que tratar? Estrutura e funcionamento do estado, do sistema de governo, dos poderes
do estado, da limitação dos poderes do estado, e dos direitos e deveres fundamentais
do cidadão.

- O processo de elaboração do nosso texto constitucional entupiu de normas não


materialmente constitucionais o texto com vistas ao ganho político que esse
entupimento trazia aos seus autores.

- Classificação pela estabilidade das constituições: “Rígidas” e “Flexíveis”

- Toda constituição prevê no seu bojo o procedimento de sua própria transformação.

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- Rígidas: Difícil de mudar – Aquela que deve ser mudada por um procedimento
mais complicado do que o procedimento das leis ordinárias.

- Flexíveis: Fácil de mudar – Quando o mesmo procedimento das leis ordinárias


também muda a constituição.

- A constituição federal brasileira é Rigidíssima, ou super-rígida.

- O procedimento de emenda da constituição brasileira é complicadíssimo: três


quintos, dois turnos, duas casas.

- Duas Casas: Tem que aprovar a emenda nas duas casas, Câmara dos Deputados e
Senado.

- Dois Turnos: A emenda tem que ser aprovada em dois turnos.

- Três Quintos: Três quintos dos membros nas duas casas.

- Três quintos dos membros nas duas casas duas vezes.

- A constituição brasileira tem algumas partes que não podem ser mudadas de
nenhuma maneira. São as chamadas Clausulas Pétreas.

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O PODER CONSTITUINTE
- O poder constituinte é o poder que os indivíduos têm para se reunir com outros,
definir regras, abrir mão de algumas “liberdades” e ter garantia de outras que são
consideradas fundamentais.

- O poder constituinte é o marco zero. O poder de começar uma sociedade do zero. O


que havia antes não interessa.

- O poder constituinte, que é de cada um de nós, é exercido por representação pelo


deputado ou pelo senador eleito para isso, em nome da sociedade que o elegeu, e ele
o faz como se não houvesse nada antes.

• Características do poder constituinte:

1) Ser Originário ou Inaugural: Dar origem ao estado, parte do zero.

2) Autônomo: Só quem o exerce definirá as regras. Aquele que exerce o poder


constituinte em nome do povo é quem saberá o que a constituição do estado
deve conter.

3) Incondicionado: Pode se organizar, enquanto poder constituinte, como ele


quiser. Não há condição prévia para o seu exercício.

4) Ilimitado: O conteúdo da constituição pode ser o que os constituintes


decidirem.

- Também é chamado o poder constituinte o poder de reformar a constituição. E pode


ser denominado constituinte porque ele transforma a norma fundamental, porém ele
não é originário, e pro isso é denominado Poder Constituinte Derivado. Não é
inaugural, não é autônomo, não é incondicionado e nem é ilimitado.

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