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DDA 06

TÍTULO: Ciclo de vida familiar – Parte II


DATA: Quarta-feira, 14 de março de 2018
AUTOR: Joaquim Cesário de Mello

Como dizíamos antes (texto próximo acima) os filhos crescem. Crescendo


chegam à adolescência e depois se tornam eles mesmo adultos. Como adultos é
esperado que eles também queiram fazer suas carreiras profissionais, buscarem sua
independência financeira e formar sua própria família nuclear. Chamamos esta
importante etapa do ciclo de vida familiar de “saída dos filhos de casa”. Carter e
McGoldrick (obra citada no post anterior), por sua vez, denominam de “lançando os
filhos e seguindo em frente”.

A saída dos filhos de casa representa a célebre crise chamada de "ninho


vazio". O casal encontra-se, assim, de novo a sós, tal como no início da formação
familiar. Podemos, inclusive, afirmar que é uma etapa de vida caracterizada por novas
descobertas, conflitos e definições ou redefinições. É como se fosse um novo
casamento, só que agora fincado na elaboração do luto da “perda” dos filhos. Dentro
da crise do ninho vazio temos os confrontos com a finitude da vida. Novos valores e
prioridades podem surgir. Sugerimos aprofundar em: (TEXTO 01)

O casal agora sem filhos coabitando é um casal que se reencontra, livre das
obrigações e tarefas parentais. Sentimentos e afetos ambivalentes podem
predominar, tais como liberdade e vazio da perda. Uma nova realidade se faz presente
ao casal.

Destaque há de se dar a esta etapa na maneira como os filhos afetivamente


saem de casa. Sair de casa aqui não é mudar de endereço, é se desligar
psicologicamente dos pais infantis. Como descreve Carter e McGoldrick, ao adulto
jovem inicia-se um novo ciclo pessoal e familiar de vida “cujo encerramento da tarefa
primária de chegar a um acordo com sua família de origem influencia profundamente
quem, quando, como e se eles vão casar, e como executarão todos os outros estágios
seguintes do ciclo de vida familiar”. Sobre isto e sua fundamental importância
retornarei logo abaixo.

Chegamos, então, a última etapa de vida do ciclo familiar que está relacionada
ao estágio tardio da vida. Os pais envelheceram, os pais destes já não mais existe,
aliás não há mais uma geração anterior a morrer. É momento, pois, de aceitar as
mudanças nos papéis geracionais, entre eles manter os interesses próprios e/ou do
casal em face ao declínio físico e as limitações da idade avançada. Os filhos precisam
abrir espaços em suas vidas para apoiar à geração mais idosa. É um período de
perdas (amigos, parentes, cônjuge), mais também de revisão de vida e integração de
ego. Vide: "Ciclo vital da família e envelhecimento: contextos e desafios", de Maria
Henriqueta de Jesus Silva Figueiredo e outros, (TEXTO 02).

Após a morte do último cônjuge, acaba-se aquela família nuclear que começou
lá atrás na união do casal. E a vida continua, assim como as outras famílias nucleares
e seus novos ciclos de vida familiar.

Cabe aqui um esclarecimento. O ciclo de vida familiar compreendendo desde


a formação do casal, passando pelo nascimento do(s) filho(s), crescimento dos
mesmo, adolescência, saída dos filhos de casa, velhice dos cônjuges e morte do
último cônjuge, representa a evolução da família nuclear do ponto de vista social. Do
ponto de vista psicológico, ou mais precisamente do ponto de vista psicoafetivo, temos
uma complexidade peculiar.

Psicológica e afetivamente falando a família nuclear não se inicia com a união


conjugal, mas sim com a saída dos filhos de casa. Como assim? Vejamos. A forma e
maneira como os filhos vão se desapegando dos pais (lembremos que inicialmente a
ligação do bebê com a mãe tem forte caráter fusional e simbiótico), isto é, vão
diminuindo sua idealização dos mesmos, bem como sua dependência psicológica,
muito influenciará ou até mesmo determinará os futuros apegos afetivos. A formação
de um novo casal pode ter significativas marcas dessa passagem da endogamia para
a exogamia. Muito do como amamos e queremos ser amados tem resquícios de
nossos primeiros vínculos amorosos (pais). E é neste sentido que o lançamento dos
filhos para o mundo extrafamiliar inaugura, psicologicamente, o começar da futura
família nuclear que este irá criar conjugadamente a seu parceiro(a) e este(a) com ele
também. Afinal, não é tão difícil assim observarmos algumas pessoas que mesmo
crescidas, trabalhando, com independência financeira, casadas e até com filhos,
mantendo um laço muito estreito com sua família de origem a ponto de continuarem
emocionalmente dependente dos pais. Ou até pessoas que transferem sua
dependência filial para os atuais cônjuges, a ponto de estes poderem chegar a dizer
algo do tipo “eu não sou sua mãe”.
A fase do jovem adulto é um marco , pois requer que o jovem adulto se separe
da família de origem sem romper relações ou fugir reativamente dela para uma
espécie de refúgio emocional substituto.

Quanto mais satisfatoriamente se diferenciarem emocionalmente da família de


origem , melhores serão as chances de enfrentarem os ciclos de vida em sua nova
família de maneira autônoma. Um filho que sai de casa emocionalmente mais maduro
pode melhor escolher o que levará emocionalmente de sua família de origem, o que
não levará e aquilo que ele construirá sozinho com seus novos parceiros afetivos.

Joaquim Cesário de Mello

Link para o presente texto:


http://literalmente-literalmente.blogspot.com.br/2018/03/diario-de-aula-ciclo-de-vida-
ii.html

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