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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

Ênio de Lima Arimateia

Trabalho final para a disciplina


de Métodos Quantitativos em
Pesquisa Social, ministrada
pelo professor Dr. Wilson
Fusco.

Recife, janeiro de 2015


• Parte 1

Visão de Mundo entre estudantes de graduação das Humanidades e das áreas Exatas

1 – INTRODUÇÃO

O presente relatório apresenta os resultados e conclusões de um levantamento de dados


realizado como exercício prático, da disciplina Métodos Quantitativos em Pesquisa Social,
ministrada pelo prof. Dr. Wilson Fusco. Nele, toda turma em conjunto escolheu um tema para
investigação, fez o desenho da pesquisa, montou, testou e aplicou os questionários, dos quais este
relatório apresenta e analisa os resultados.
O tema escolhido foi a visão de mundo entre estudantes de graduação de diferentes áreas
de conhecimento, partindo do pressuposto de que a inclinação e interesse por determinada área de
estudo, bem como a vivência nos espaços sociais acadêmicos dessas áreas tem forte relação com as
opiniões e atitudes acerca de diversos temas sociais. Mais especificamente, o levantamento partiu
de um questionamento sobre o quão progressistas ou conservadores são os estudantes das áreas
humanas e das áreas exatas. Acreditava-se existir uma tendência dos estudantes das áreas exatas a
posicionamentos mais conservadores, em oposição a posicionamentos progressistas dos estudantes
das áreas humanas. O levantamento buscou, dentro de seus limites, verificar empiricamente esta
questão para uma amostra de estudantes de quatro cursos, um em cada referida área de
conhecimento, sendo eles Ciências Sociais – Licenciatura, Ciências Sociais – Bacharelado,
Matemática – Licenciatura e Matemática – Bacharelado.
Foram feitas entrevistas com um formulário de questões quase todas fechadas, aplicados
pelos estudantes da disciplina. Através da lista de matrícula dos cursos, foi sorteada uma amostra
probabilística e os questionários aplicados com as pessoas sorteadas. Por limitações de tempo, fez-
se necessário aplicar questionários com estudantes fora da amostra e, ainda assim, o número de
questionários desejado não foi atingido. De todo modo, os resultados são úteis para a finalidade
deste trabalho e serão apresentados como representativos do universo das/os estudantes pesquisado.
Por esse motivo, as tabelas a seguir apresentam os resultados em percentuais, fazendo pouca alusão
aos números absolutos. Também por isso, houve dificuldade para averiguação em algumas
variáveis, como discutido mais a frente.
Para o questionário foram formulados quesitos que pudessem situar o posicionamento
dos estudantes num espectro de mais conservador a mais progressista em relação a uma série de
questões agrupadas em blocos temáticos, sendo eles “política”, “segurança”, “direitos civis” e
“gênero e sexualidade”, além de um bloco inicial de caracterização socioeconômica e de uma
última questão isolada, mais direta em que a/o entrevistado se situava no espectro político
“esquerda”, “centro”, “direita”. Tais temáticas foram escolhidas por serem representativas da visão
de mundo das pessoas. Desse modo, as posições indicadas ao conjunto desses blocos nos permitem
situar as visões de mundo das/dos estudantes como mais conservadoras ou mais progressistas.
Como, também por questões de tempo, não foi possível construir um índice que
resumisse o posicionamento averiguado no conjunto das variáveis, apresentaremos a seguir as
variáveis com maior diferencial entre os cursos, em dois blocos temáticos. Antes disso, esboçamos
o perfil sócio-econômico da amostra com indicações de variáveis desta parte que tem influência no
posicionamento conservador/progressista adotado. Partimos do pressuposto que, além da área de
estudo, o sexo e a religião teriam relação com os posicionamentos, o que de fato pudemos observar
em alguma medida para a religião.

2- DISTRIBUIÇÃO E PERFIL DAS/DOS RESPONDENTES

2.1 – A amostra em relação a distribuição por CURSOS

Gráfico 1 – Distribuição dos Casos por Curso

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Devido ao tamanho da amostra e para efeitos da comparação que nos interessa, os


cursos de Matemática – bacharelado e licenciatura – foram agrupados numa única categoria e os de
Ciência Sociais – igualmente licenciatura e bacharelado – numa outra categoria. Deste modo, nossa
comparação em relação aos cursos será feita simplesmente entre Ciências Sociais e Matemática. A
amostra de estudantes nos cursos de Ciências Sociais foi maior do que nos cursos de Matemática,
22 questionários naqueles, contabilizando 61,1%, e 14 questionários nesses, 38,9% do total de 36
questionários.

*Observação Metodológica
Sendo nosso objetivo comparar sobretudo essas duas categorias, e considerando as
limitações do levantamento de dados, as trataremos como igualmente representativas de cada grupo.
Também devido a essa diferença na distribuição, alguns cruzamentos de variáveis, visando
compreender as relações entre determinados posicionamentos de visão de mundo dos estudantes e
seu perfil sócio-econômico, terminavam por ter uma influência dessa distribuição desigual da
amostra. Por exemplo, demonstraremos adiante que a principal variável que influencia na visão de
mundo é, de fato, o curso e que a variável religião tem influencia importante nos posicionamentos
dos estudantes de Matemática, mas não nos de Ciências Sociais. Devido a essa conjunção, os
cruzamentos de religião com os posicionamentos sobre a visão de mundo apresentaram sempre uma
tendência a resposta de religiosos e não-religiosos se alinharem às respostas dos estudantes de
Ciências Sociais, porque a proporção destes é maior na amostra. Para efeito do que desejávamos
neste trabalho seria interessante ponderar os dados, de modo ao conjunto da amostra ser igualmente
representativo de ambos os cursos. Devido ao tempo, isso não foi possível. O que fizemos, então,
em termos da descrição dos dados foi analisar as demais variáveis do perfil, sobretudo religião, a
que nos pareceu mais representativa, com a intermitência da variável curso, tendo assim a
distribuição das posições de religiosos e não-religiosos de cada curso.

2.2 – Perfil das/dos e das Respondentes

Gráfico 2 – Perfil das/os Respondentes segundo Sexo

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014


Tabela 1 – Distribuição do Sexo por Curso
REC_CURSO * SEXO Tabulação cruzada
% dentro de REC_CURSO
SEXO Total
Masculino Feminino
Matemática Lic e Bach 85,7% 14,3% 100,0%
REC_CURSO
Ciências Sociais Lic e Bach 36,4% 63,6% 100,0%
Total 55,6% 44,4% 100,0%

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Na distribuição da amostra segundo o sexo, há uma ligeira predominância do sexo


masculino, sendo 55,6% do total, em relação as 44,4% pessoas do sexo feminino. Porém,
comparando-se essa variável com a variável curso, percebe-se uma forte relação, indicando a
predominância do sexo masculino nos cursos de matemática num percentual de 85,7%; e a
predominância do sexo feminino nos cursos de Ciências Sociais, num percentual de 63,65. Deste
modo, as comparações das variáveis relacionadas a visão de mundo com a variável curso, em
relação a comparação com a variável sexo apresentam pouca variação. Por este motivo, na
apresentação dos resultados nas seções seguintes, não fizemos comparações entre os grupos da
variável sexo.
Gráfico 3 – Frequência da Religião
Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Para caracterizar os estudantes segundo sua religião perguntamos de forma aberta “Qual
é a sua religião ou culto” e categorizamos as respostas observadas na seguinte frequência: “Ateu ou
Agnóstico” – 16,7%; “Budista” – 2,8%; “Candomblé” – 5,6%; “Católico” – 11,1%; “Cristão” –
5,6%; “Evangélico” – 5,6%; “Protestante” – 8,3%; “Não tem” – 36,1%; e “Outras” – 8,3%.

Gráfico 4 – Perfil das/dos respondenre segundo a religiosidade

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Devido a dispersão dos dados e para uma maior precisão na análise, reagrupamos essas
categorias em apenas duas, sendo elas “não-religiosos”, que inclui os que declararam ser ateus ou
agnósticos e os que disseram não ter religião, e “religiosos”, que inclui todas as outras categorias,
todas elas referindo-se a alguma religião. Para esta nova variável temos os percentuais das
frequências muito próximos, sendo 52,8% da amostra os “não religiosos/as” e 47,2% os
religiosos/as.

Tabela 2 - CURSO * RELIGIÃO Tabulação cruzada


% dentro de REC_CURSO
REC_RELIGIÃO Total
Religiosos Não Religiosos
Matemática Lic e Bach 57,1% 42,9% 100,0%
REC_CURSO
Ciências Sociais Lic e Bach 40,9% 59,1% 100,0%
Total 47,2% 52,8% 100,0%

Fonte: Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Essa pequena diferença tem correspondência com os cursos frequentados, possível de


ser afirmada quando observamos que 57,1% das/dos respondentes de Matemática são religiosos, em
relação aos 42,9% não-religiosos. Nos cursos de Ciências Sociais a relação se inverte, com 59,1%
da amostra composta por não-religiosos, comparados aos 40,9% religiosos.

Tabela 3 - Distribuição da COR/RAÇA Preta por CURSO

Frequência Porcentual Porcentagem Porcentagem


válida acumulativa

Matemática Lic e Bach 1 16,7 16,7 16,7

Válido Ciências Sociais Lic e Bach 5 83,3 83,3 100,0

Total 6 100,0 100,0

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Uma característica do perfil que apresentou um diferencial significativo entre suas


categorias foi raça/cor. Mesmo que metade das/os respondentes tenham se declarado ser de raça/cor
parda, há um número significativo dos que se declararam de raça/cor preta e branca. Chama a
atenção que as respostas das pessoas que se autodeclararam de raça/cor preta – 6 casos, que
correspondem a 16,7% do total de 36 casos – apontaram posicionamentos progressistas na quase
totalidade das variáveis analisadas. Entretanto, temos de levar em conta a relação entre esta
categoria e a variável curso, uma vez que 83,3% das respostas dessa categoria correspondem a
pessoas de Ciências Sociais. Devido a essa configuração, achamos mais conveniente apresentar os
resultados com o recorte nessa categoria numa sessão a parte do relatório.
As demais características do perfil não tiveram grande diferencial no conjunto da
amostra – em sua grande maioria os estudantes estão na faixa de 20 a 30 anos, nasceram e residem
em Recife e Região Metropolitana, nunca foram unidos conjugalmente, não tem filhas/os, são
heterossexuais e se declararam de classe média ou média baixa.
A seguir, a apresentação dos resultados dos posicionamentos de visão do mundo dos
estudantes pesquisados. Na seção seguinte, apresentamos os resultados de quatro variáveis, duas em
do bloco política e duas do bloco direitos civis, comparando os cursos, e a posição devido a religião,
dentro dos cursos. Na sessão seguinte, observamos as frequências dos posicionamentos com o filtro
a partir da raça/cor preta.

3 – VISÃO DE MUNDO ENTRE OS ESTUDANTES

3.1 – Bloco Política – Bolsa Família e Eleições


Perguntamos às/aos entrevistadas/os que nota dariam, de 0 a 10, ao programa Bolsa
Família, do governo federal. Consideramos para a pesquisa que maiores notas representariam uma
visão mais progressista, enquanto menores notas uma visão mais conservadora1.

Tabela 4 - NOTA BOLSA FAMÍLIA

Média 6,29
Matemática Lic e Bach Mediana 7,00
Desvio padrão 2,26

Média 7,95
Ciências Sociais Lic e Bach Mediana 8,00
Desvio padrão 1,29

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Tabela 5 – Frequência das notas do Bolsa Família


REC_CURSO Frequência Porcentagem válida Porcentagem
acumulativa

3 3 21,4 21,4

4 1 7,1 28,6

6 2 14,3 42,9

7 4 28,6 71,4
Matemática Lic e Bach
8 2 14,3 85,7

9 1 7,1 92,9

10 1 7,1 100,0

Total 14 100,0

4 1 4,5 4,5

7 6 27,3 31,8

8 8 36,4 68,2
Ciências Sociais Lic e Bach
9 5 22,7 90,9

10 2 9,1 100,0

Total 22 100,0

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

1 Este critério para progressista e conservador, bem como os demais apresentados daqui para frente, foi estabelecido
para toda turma, considerando uma hipotética investigação prévia que nos apontaria sobre o que considerar
conservador e o que considerar progressista. Aqui, para os objetivos deste relatório, não será avaliado o mérito
dessas considerações, já tomando-as como pressupostos. Outrossim, devido aos resultados do levantamento,
poderemos fazer comentários sobre a formulação das questões, o que já é um resultado da pesquisa, como no caso
das variáveis do bloco segurança.
A média de aprovação entre os estudantes de Ciências Sociais é maior, “7,95”. Mais as duas
médias são próximas, sendo a de Matemática “6,29”.O mesmo ocorre com a mediana – “8” nos
cursos de Ciências Sociais e “7” nos cursos de Matemática. Se observamos, entretanto, a dispersão
dos dados, vemos que em Matemática ela maior, como podemos observar pelo desvio padrão de
“2,26” neste curso, em comparação com o desvio padrão de “1,29” entre as respostas dos estudantes
de Ciências Sociais. Para matemática, isto ocorre devido a uma porcentagem maior de estudantes
que desaprovam esta política pública, com frequências consideráveis para as notas 3 (21,4%), que
“puxa” a média para baixo e é uma nota distante da média. Daí que em Matemática, mesmo com a
mediana relativamente elevada e próxima a média de Ciência Sociais, tenha média
consideravelmente mais baixa.
Compreendendo que o voto nas eleições presidenciais apontam visões de mundo mais ou
menos progressistas/conservadoras, perguntamos em quem os entrevistados haviam votado no
segundo turno das últimas eleições. Consideramos o voto na candidata Dilma Roussef mais à
esquerda e, portanto, mais progressista, e o voto no candidato Aécio Neves mais à direita e,
portanto, mais conservador.

Tabela 6 – Voto no Segundo Voto por Curso, com a intervenção da Religião


REC_RELIGIÃO EM QUEM VOTOU SEGUNDO TURNO
Dilma Aécio Nulo Branco Não votou
Roussef Neves /Não
votaria

Matemática Lic e Bach 12,5% 50,0% 25,0% 12,5%


CURSO
Religiosos Ciências Sociais Lic e Bach 88,9% 11,1%

Total 52,9% 29,4% 11,8% 5,9%


Matemática Lic e Bach 83,3% 16,7%
Não CURSO
Ciências Sociais Lic e Bach 69,2% 15,4% 15,4%
Religiosos
Total 73,7% 10,5% 5,3% 10,5%
Matemática Lic e Bach 42,9% 28,6% 21,4% 7,1%
CURSO
Total Ciências Sociais Lic e Bach 77,3% 13,6% 9,1%

Total 63,9% 19,4% 8,3% 2,8% 5,6%

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Observando os totais dos votos por curso, percebemos que a maior votação em ambos os
cursos foi na candidata Dilma Roussef, portanto uma posição mais progressista. Entretanto, no
curso de Ciências Sociais essa foi uma posição com maioria absoluta e bastante expressiva, com
77,3% das respostas, sendo as demais respostas 13,1% em Aécio Neves e 9,1% não votou/não
votaria. Em Matemática, vemos 42,9% das respostas indicarem o voto na candidata Dilma, 28,6%
em Aécio, 21,4% em branco e 7,1% em nulo.
Observando os votos por curso com a variável interveniente religião, percebemos que o fator
religião tem maior peso em matemática. Os religiosos do curso de Ciências Sociais seguem a
tendência geral do curso e votam em Dilma Roussef – 88,9%, com os 11,1% restantes votando em
Aécio Neves – em porcentagem maior até do que os não-religiosos de Ciências Sociais que
seguiram esse caminho, 69,2%, com os demais não-religiosos igualmente divididos entre o voto em
Aécio (15,4%) e a ausência (15,4%).
Nos casos de Matemática, quando cruzamos essa informação com a religiosidade dos
respondentes, temos que os religiosos de Matemática optaram em maior número pelo voto em
Aécio (50% das respostas), seguido de 25% dos votos nulo, tendo Dilma Roussef e os votos em
branco o percentual de 12,5% cada.Isso confirma o peso da religião em Matemática, onde os
religiosos tomam, para este quesito, uma postura mais conservadora do que os não-religiosos.
Há aqui a questão de como interpretar os votos nulo, branco e não votou/não votaria,
conjunto de categorias que chamaremos de “não-voto”. Poderia-se considerá-los conservadores,
progressistas ou neutros. Como a construção da pesquisa, até onde compreendi, não apontava esse
critério, e como o questionário não fornece dados que esclareçam os motivos do “não-voto”, este
relatório leva em conta apenas os posicionamentos dos que votaram em candidatos.
Essas duas primeiras descrições, sobre o bolsa família e o voto do segundo turno das
eleições presidenciais, nos mostram, em resumo, que os cursos de Ciências Sociais adotam em geral
uma postura progressita, enquanto o curso de Matemática também assume uma postura progressista,
porém em menor grau. Na segunda dessas duas variáveis, vemos que, em matemática, os religiosos
tendem a se posicionar mais conservadores, e os não-religiosos mais progressistas, enquanto em
Ciências Sociais a religião não tem tanta influência. Veremos adiante que, em outros temas, alguns
deles mais polêmicos, a polarização entre os cursos é maior, com os estudantes de Matemática
apresentando um posicionamento mais conservador.

3.2 – Bloco Direitos Civis – Aborto e Criminalidade

Considerando os direitos sexuais e reprodutivos como uma pauta progressista, o


levantamento averiguou as opiniões acerca da permissão do Estado sobre o aborto. Foi perguntado
se os/as estudantes concordam totalmente, concordam parcialmente, discordam parcialmente ou
discordam totalmente (Escala Likert) de que a prática do aborto deva ser permitida em cinco
diferentes casos: estupro, má formação fetal, risco de morte materna, escolha da mulher e gravidez
na adolescência. Neste caso, consideramos que “concorda totalmente” representa o polo mais
progressista da escala e “discorda totalmente” representa o polo mais conservador. Nos três
primeiros casos observamos uma tendência parecida com as variáveis anteriormente apresentadas
em relação aos cursos, ou seja, ambos tem uma postura predominantemente progressista, mais
destacadamente em Ciências Sociais do que em Matemática. As respostas para os dois últimos
casos, porém, apresentam uma polarização entre as respostas dos dois cursos, com as/os estudantes
de Matemática assumindo uma postura mais conservadora. Observemos mais detidamente as
respostas para a permissão do aborto em caso de “escolha da mulher”, comparando os dois cursos
com a intervenção da variável religião. A afirmação em questão foi a seguinte: “A prática do aborto
deve ser permitida em caso de escolha da mulher.”

Tabela 7 – Opinião sobre a permissão do Aborto em caso de Escolha da Mulher, por


curso, com a intervenção da Religião

% dentro de CURSO

REC_RELIGIÃO ESCOLHA DA MULHER

Concorda Concorda Discorda


Totalmente Parcialmente totalmente

Matemática Lic e Bach 25,0% 75,0%


CURSO
Ciências Sociais Lic e
Religiosos 66,7% 11,1% 22,2%
Bach

Total 47,1% 5,9% 47,1%

Matemática Lic e Bach 33,3% 16,7% 50,0%


CURSO
Não Ciências Sociais Lic e
84,6% 7,7% 7,7%
Religiosos Bach

Total 68,4% 10,5% 21,1%

Matemática Lic e Bach 28,6% 7,1% 64,3%


CURSO
Ciências Sociais Lic e
Total 77,3% 9,1% 13,6%
Bach

Total 58,3% 8,3% 33,3%

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Para este quesito, não houve ninguém, em todos os casos da amostra, que discordasse
parcialmente ou que declarasse que “não sabe”/ “não quis responder”. Em Matemática uma maioria
absoluta, e expressiva, discorda totalmente, sendo 64,3% dos casos. Os demais 35,7% dos casos –
número que, embora minoritário, não indica a predominância completa de um posicionamento
conservador – se dividem em 7,1% que concordam parcialmente e 28,6% que concordam
totalmente.
Em Ciências Sociais o posicionamento é inverso. Para 77,3% dos casos os entrevistados
concordam totalmente, polarização mais expressiva do que a ocorrida em Matemática, ainda mais
considerando que em 9,1% dos casos estes/as estudantes concordam parcialmente. Os que
discordam, e aí discordam totalmente, são apenas 13,6% dos casos.
Para esta variável, verifica-se, então, a predominância de diferentes posições em cada curso,
havendo uma polarização dos posicionamentos no interior de cada curso, de forma mais acentuada
em Ciências Sociais para uma posição progressista, e de forma menos acentuada em Matemática
para uma posição mais conservadora.
E qual a influência da religião? Para Ciências Sociais, mais uma vez, nota-se que a religião
não é decisiva para o posicionamento das/os estudantes. Embora as pessoas deste curso que
declaram ter algum religião apresentem um percentual de posicionamentos conservadores maior do
que entre os não-religiosos, em ambos os casos há maioria de posicionamentos progressitas. No
grupo religiosos de Ciências Sociais, 66,7% concordam totalmente com o aborto em caso de
escolha da mulher, 11,1% concordam parcialmente e 22,2% discordam totalmente. Entre os não-
religiosos deste curso, 84,6% concordam totalmente, 7,7% concordam parcialmente e 7,7%
discordam totalmente.
Para Matemática, religiosos e não-religioso tem o maior percentual em discorda totalmente.
Porém esse número é maior entre os religiosos, 75%, sendo os outros 25% de religiosos que
concordam totalmente. Entre os não-religiosos a distribuição é equilibrada, com metade das
respostas indicando discordância e a outra metade indicando concordância, dos quais 50%
discordam totalmente, 33,3% concordam totalmente e 16,7% os que concordam parcialmente.
Assim, entre os não-religiosos vemos uma ligeira predominância na posição mais conservadora,
dada a ênfase na discordância "total", mais com igual número de resposta no da concordância, total
ou parcial. Entre os religiosos, não vemos essa aproximação entre as respostas, com a
predominância clara das respostas conservadoras.
Essa comparação, da influência da religião sobre os posicionamentos em cada curso, para a
variável em questão reforça o observado nas variáveis anteriores, ou seja, a influência da religião
nos respondentes do curso de matemática, enquanto uma influência, quando há, pequena nos
respondentes de Ciências Sociais.
Considerando as percepções sobre criminalidade, o levantamento considerou a associação
de determinadas medidas legais à redução da criminalidade como uma postura conservadora, e seu
oposto, a não associação entre as duas coisas, como uma postura progressista. Também utilizando
uma Escala Likert as entrevistas pediram para os respondentes declararem sua
concordância/discordância da adoção das seguintes medidas para redução da criminalidade: redução
da maioridade penal, prisão perpétua e pena de morte. Neste caso, “concorda totalmente” representa
o polo mais conservador das respostas e “discorda totalmente” o polo mais progressista (sentido
oposto ao da variável apresentada acima). Observemos a variável dentre estas que, em Matemática,
apresentou maior concordância, a relação com a redução da maioridade penal. A afirmação em
questão foi a seguinte “Para a diminuição da criminalidade, a redução da maioridade penal seria
uma das soluções”.

Tabela 8 - CURSO * REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL * REC_RELIGIÃO Tabulação cruzada

% dentro de CURSO

REC_RELIGIÃO REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Concorda Concorda Discorda Discorda


Totalmente Parcialmente Parcialmente totalmente

Matemática Lic e
37,5% 37,5% 12,5% 12,5%
Bach
CURSO
Ciências Sociais Lic e
Religiosos 11,1% 88,9%
Bach

Total 17,6% 23,5% 5,9% 52,9%

Matemática Lic e
16,7% 33,3% 33,3% 16,7%
Bach
CURSO
Não Ciências Sociais Lic e
7,7% 92,3%
Religiosos Bach

Total 10,5% 10,5% 10,5% 68,4%

Matemática Lic e
28,6% 35,7% 21,4% 14,3%
REC_CURS Bach
O Ciências Sociais Lic e
Total 4,5% 4,5% 90,9%
Bach

Total 13,9% 16,7% 8,3% 61,1%

Fonte: Levantamento Visão de Mundo, PPGS-UFPE, 2014

Em matemática, mais de sessenta por cento das respostas indicam concordância com a
afirmativa, sendo 28,6% o número de casos que assinalaram para concorda totalmente e 35,7% para
concorda parcialmente. Os demais casos se distribuíram entre discorda parcialmente, 21,4% e
discorda totalmente, 14,3%. Em Ciências Sociais, o posicionamento contrário, com 90,9% de casos
em que os estudantes deste curso discondam totalmente, com 4,5% de casos em que há
concordância parcial e outros 4,5% com concordância total. Das variáveis apresentadas é a que
apresenta maior percentual de respostas no polo mais progressista dentre as/os estudantes de
Ciências Sociais. Entretanto isso não significa que a questão seja passível de consenso num espectro
mais amplo, uma vez que a maior parte das respostas de Matemática estão no lado oposto.
Quanto a influência da religião, repete-se a tendência anterior. Em Ciências Sociais, pouca
influência, com 88,9% dos religiosos discordando totalmente, número muito próximo ao que se
refere a totalidade do grupo deste curso. Os não-religiosos discordam totalmente em 92,3% dos
casos. Entre os religioso deste curso, 11,1% concordam parcialmente. Entre os não-religiosos há
concordância total e parcial com 4,5% das respostas cada.
Em Matemática, influência da religião, porém mais discreta do que na variável anterior.
Entre os religiosos deste grupo, dois terços concordam com a afirmação, e entre os não-religiosos,
metade em cada lado dos posicionamentos, com a maior parte dos casos concentrado no
"parcialmente". A distribuição entre os religiosos foi igualmente 37,5% para concorda totalmente e
concorda parcialmente, e igualmente 12,5% para discorda parcialmente e discorda totalmente. Entre
os não-religiosos, uma distribuição simétrica, 16,7% é o percentual dos que concorda totalmente e
dos que discordam totalmente, e 33,3% é o percentual tanto dos que concordam parcialmente,
quanto dos discordam parcialmente.

4 – FILTRO RAÇA/COR PRETA

Uma outra variável que parece ter relação com a visão de mundo dos estudantes é a raça/cor.
Chamou a atenção os posicionamentos das pessoas que se declararam de raça/cor preta, sugerindo a
relação entre esta categoria e posicionamentos progressistas. Vejamos para as quatro variáveis
comparadas acima as frequências dessa categoria (foi utilizado o filtro dessa variável).

Tabela 9 - Estatísticas
NOTA BOLSA FAMÍLIA

Válido 6
N
Ausente 0
Média 8,67
Mediana 8,50
Desvio padrão 1,21
Tabela 10 – Visão de Mundo Raça/Cor Preta

FREQUÊNCIAS DAS PRINCIPAIS VARIÁVEIS VISÃO DE MUNDO PARA A RAÇA/COR PRETA

NOTA BOLSA FAMÍLIA ESCOLHA DA MULHER


Frequência Porcentual Frequência Porcentual
7 1 16,7 Concorda 4 66,7
Totalmente
8 2 33,3 Concorda 2 33,3
Parcialmente
9 1 16,7 Total 6 100,0
10 2 33,3
Total 6 100,0

EM QUEM VOTOU SEGUNDO TURNO REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL


Frequência Porcentual Frequência Porcentual
Dilma 6 100,0 Discorda 6 100,0
Roussef totalmente

Percebe-se que para todas as variáveis escolhidas as pessoas que se declararam de raça/cor
preta deram as respostas dos posicionamentos considerados progressistas. 100% dessas votaram em
Dilma Roussef no segundo turno, 100% discordam totalmente que a redução da maioridade penal
ajuda na diminuição da criminalidade e 100% concorda de alguma maneira que o aborto deve ser
permitido em caso de escolha da mulher, sendo que 66,7% destes concordam totalmente e 33,3%
concordam parcialmente. Quanto as notas do Bolsa Família, todas situam-se entre 7 e 10, com sua
média, 8,67, bem superior a média das respostas de Ciências Sociais, com a mediana em 8,50 e um
desvio padrão que demonstra a pouca dispersão dos dados, 1,21.

5 – CONCLUSÕES

O objetivo deste trabalho foi o de situar e comparar as visões de mundo entre estudantes de
Ciências Sociais e Matemática dentro de um espectro de posicionamento mais conservador a mais
progressista, percebendo também quais variáveis poderiam exercer influência nos posicionamentos.
Diante dos resultados acima expostos, que apresentaram algumas das variáveis de maior diferencial
nas respostas entre os grupos, chegamos as seguintes considerações principais:
• Como esperado, o curso é a principal variável com influência sobre os
posicionamentos estudados. Sobretudo nas variáveis de Direitos Civis, as respostas variavam
fortemente a depender do curso ao qual o/a estudantes estivesse vinculado.
• Como se imaginava, na comparação entre os grupos dos cursos, Ciências Sociais
apresenta um posicionamento nitidamente mais progressista do que Matemática.. Em todas as
variáveis observadas os estudantes dos cursos de Ciências Sociais tiveram um posicionamento mais
progressista do que os estudantes dos cursos de Matemática. Nas variáveis apresentadas do bloco
Direitos Civis, sobre o Aborto e a percepção sobre a Criminalidade, vimos mesmo uma oposição
entre os posicionamentos, com uma predominância nas Ciências Sociais às respostas progressistas,
em oposição aos posicionamentos conservadores no curso de Matemática.
• O curso de Matemática não apresentou sempre um posicionamento
conservador, podendo ser considerado de posicionamento neutro, enquanto Ciências Sociais
pode ser considerado progressista. Em alguns casos, o posicionamento predominante no curso de
Matemática era progressista, embora não na mesma proporção que o curso de humanas. Foi o que
observamos nas variáveis sobre o Bolsa Família e sobre o Voto no Segundo Turno. Também
observa-se essa tendência em muitas das variáveis não apresentadas, justamente porque não
possuíam maior variação entre os grupos. Dito de outra maneira, o curso de Matemática apresenta
uma visão de mundo conservadora, em relação ao curso de Ciências Sociais e uma visão de centro,
considerando as possibilidades do espectro conservador—progressista.
• Ter ou não ter uma religião tem forte influencia sobre o posicionamento dos
estudantes de Matemática, mas pouca ou nenhuma influência sobre os estudantes de Ciências
Sociais. Foi o que observamos para três das quatro variáveis de visão de mundo observadas, a partir
da intervenção da variável religião. Vimos que, no interior do grupo matemática o grupo de
religiosos tendia sempre a posicionamentos conservadores, enquanto os não-religiosos eram
relativamente mais progressistas. Em Ciências Sociais essa diferença, quando ocorria, era em grau
muito pequeno, podendo ser desconsiderada.
• Para esta amostra, declarar-se de raça/cor preta indica posicionamentos
progressistas. As/os estudantes que se declararam de raça/cor preta apresentaram posicionamentos
progressistas em sua totalidade nas variáveis descritas neste relatório, com números bastante
expressivos.
Para finalizar, podemos sugerir duas perguntas, oriundas deste levantamento, mas que não
encontrariam respostas nos dados levantados, podendo ser indicativos para outras pesquisas.
Considerando o posicionamento do conjunto de estudantes de ambos os cursos como não sendo
majoritariamente conservadores, podemos atribuir isso ao perfil universitário da amostra? Em
outras palavras, ser estudante universitário apontaria uma tendência a não ser conservador?
Tendo observado as respostas das/os estudantes de raça/cor preta, todas indicando
posicionamentos progressistas, somos levados a pergunta: as pessoas que se declaram de raça/cor
preta tendem a ter uma visão de mundo progressista? Ou, de forma mais específica, as/os estudantes
universitárias que se declaram de raça/cor preta tendem a ter uma visão de mundo progressista?
Embora sabendo que isso é verdade para os dados desse levantamento, nos parece que para uma
generalização da afirmação é necessário um conjunto de dados mais representativo no conjunto
raça/cor.
• Parte 2

Descrição e Análise de dados do município de Bezerros em comparação com Pernambuco,


entre 2000 e 2010, a partir dos dados dos censos demográficos.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa apresentar dados socioeconômicos do município de Bezerros a


partir dos censos demográficos do IBGE e de dados secundários, comparando-os no tempo, em dois
momentos, e territorialmente, com a unidade federativa no qual ele está inserido, o estado de
Pernambuco. Este foi um dos 12 municípios escolhidos para serem analisados na disciplina
Métodos Quantitativos da Pesquisa Social, ministrada pelo professor Wilson Fusco, para a qual este
relatório/exercício foi produzido. Aqui, pretende-se observar características que indicam as
condições de vida da população, analisando relações importantes entre os dados e sua evolução,
com referência no conceito de desenvolvimento humano utilizado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que é referência mundialmente.
Para apresentar e conseguir olhar de maneira objetiva uma dimensão social são
indicadas a produção de sínteses dos dados, das quais uma das mais utilizadas é a construção de
índices. Por definição, os índices são medidas quantitativas usadas para “substituir, quantificar ou
operacionalizar um conceito social abstrato” (JANUZZI, 2001, p. 15), ou seja, uma representação,
em geral um número, para o qual podemos olhar e compreender uma determinada situação que
remete a um conceito social. Ainda segundo Januzzi, eles servem como elo entre modelos
explicativos e evidência empírica, no caso da pesquisa acadêmica, e como forma de monitoramento
da realidade social. Este último caso nos interessa mais de perto neste trabalho: indicadores
produzidos a partir dos dados do censo nos permitem acompanhar as mudanças na realidade social
de municípios brasileiros como Bezerros.
Os índicadores são produzidos a partir do trabalho feito com os dados brutos e
representam uma síntese deles. Aqui, faremos o caminho inverso, olhando a síntese, interpretando
suas variações no tempo (2000 e 2010) e regionalmente (município e unidade federativa), e depois
“descendo” um pouco mais ao nível dos dados, para compreender e descrever as variações destas
sínteses, o que na prática significa compreender e descrever as próprias dimensões sociais que nos
interessam. Levamos em consideração, neste “descer” mais próximo aos dados, que não os olhamos
na forma bruta, mas em diferentes formas de sínteses, geralmente sínteses das frequências
encontradas nas categorias agrupadas de diferentes variáveis, em cruzamento ou não umas com as
outras. Quais os conceitos sociais e indicadores utilizados neste trabalho? O desenvolvimento
humano e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).
Antes do IDHM, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), foi construído a partir do
conceito de Desenvolvimento Humano e é um dos índices mais conhecidos e utilizados no mundo.
Foi elaborado para servir de parâmetro ao desenvolvimento das nações, levando em conta aspectos
que não são considerados quando observado apenas o Produto Interno Bruto (PIB), medida ainda
hoje muito utilizada para considerar desenvolvimento (PNUD, O que é o IDH). Segundo o PNUD,
“o conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de ampliação das
escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que
desejam ser” (PNUD, O que é Desenvolvimento Humano)2.
A mudança de parâmetro é uma alteração não apenas de medidas, mas também de
conceito, ou seja da consideração do que é importante observar. A partir da mudança na direção do
olhar, sabemos o que buscar nos dados, e mesmo quais dados são importantes de serem levantados.
Fazemos este destaque para realçar a importância, no conceito de indicador social, do significado
social ao qual ele se remete.
O IDHM, por sua vez, é um índice de desenvolvimento humano elaborado a partir do
IDH e expressa também o desenvolvimento humano, adaptado à realidade brasileira e aos dados
disponíveis no país, utilizado para comparar e acompanhar o desenvolvimento entre municípios. Ele
é expresso por um número entre 0 e 1 e quanto mais perto de 1, maior o desenvolvimento do
município. Assim como o IDH, leva em conta três dimensões sociais em sua composição –
longevidade, educação e renda – e é calculado a partir da média geométrica de seus componentes.
Em outras palavras, seguindo uma das classificações dos indicadores apresentadas por Januzzi, ele é
um indicador composto, indicador sintético, ou, simplesmente, um índice, calculado a partir de
outros indicadores, mais simples, que remetem, cada qual, a uma dimensão social que interessa ao
conceito mais geral: o IDHM Longevidade, o IDHM Educação e o IDHM Renda. (JANUZZI, p.
22) (PNUD, O que é o IDHM).
Com tudo isso posto, a fim de compreender o desenvolvimento humano em Bezerros, o
presente trabalho: (I) situa o município de Bezerros e apresenta seu IDHM para os anos de 2000 e
2010 e em comparação ao IDHM de Pernambuco para os mesmos anos; (II) analisa seus
componentes no mesmo recorte temporal e territorial, apresentando para cada um descrições e
análises das estatísticas públicas que o compõem; e (III) tece considerações finais sobre os dados.

I – DESENVOLVIMENTO HUMANO NO MUNICÍPIO DE BEZERROS (PE)

2 Esta e outras definições sobre desenvolvimento social, IDH e IDHM estão baseadas no sítio do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de onde também foram tirados os índices prontos,
http://www.pnud.org.br/.
Bezerros é um município situado no agreste pernambucano, que contava com uma
população de 58.668 habitantes, dos quais 8.928 morando na zona rural e 49.740 morando em zona
urbana, segundo os dados do Censo de 2010. Distribuído numa área de 490,817 km², faz limites,
dentre outros, com os municípios de Caruaru, cidade referência na região, e Gravatá, município que
cresceu bastante nas últimas décadas, superando Bezerros, por exemplo, no tamanho da população,
tendo como uma de suas forças o turismo.
Em relação ao desenvolvimento humano, o Bezerros apresentava, em 2010, o IDHM de
0,606, ocupando, empatado com outros 30 municípios, a 3999º colocação no Ranking IDHM
Municípios 2010 elaborado pelo PNUD – o ranking conta com 5565 municípios de todo o país. Um
número considerado razoável, considerado um IDHM médio, na escala apresentada no Atlas do
Desenvolvimento Humano, faixa na qual também se encontravam, no mesmo ano, 40,1% dos
municípios brasileiros, sendo um número interessante para a região se pensarmos que 61% dos
municípios do Nordeste ocupam a faixa anterior, de IDHM considerado baixo. (ÍNDICE, 2013,
pág.27, 47, 48) Está na mesma faixa do IDHM do estado de Pernambuco, que em 2010 tinha a
marca de 0,673, também considerado médio. (PNUD, Ranking) Ambos, estão abaixo do IDHM
encontrado para o Brasil em 2010, de 0,727, considerado de Alto desenvolvimento humano, que
alcança esse valor devido aos índices mais altos do centro-sul do país. (idem, p.40)

Tabela 1 – Crescimento do IDHM Brasil, Pernambuco e Bezerros

IDHM Brasil IDHM Pernambuco IDHM Bezerros


Ano 2000 0,612 0,544 0,458
Ano 2010 0,727 0,673 0,606

Crescimento Relativo 18,79% 23,71% 32,31%


Fonte: PNUD, 2013

Tanto o estado, quanto o município em questão, acompanharam a tendência geral no


país e tiveram um aumento considerável em seu IDHM no intervalo entre 2000 e 2010. Em 2000, o
Brasil apresentava o IDHM de 0,612; Pernambuco, 0,544; e Bezerros 0,458. Portanto, o IDHM no
Brasil nesse período teve crescimento relativo de 18,8% (idem, p. 40), enquanto o estado de
Pernambuco teve crescimento de 23,71% e o município de Bezerros 32,31%. Observamos que a
ordem dos números se invertem, uma vez que a unidade de menor IDHM apresenta a maior
evolução, e vice-versa. O gráfico 1 ilustra visualmente esta evolução.
Fonte: PNUD, 2013

Para uma melhor compreensão desse crescimento, podemos observar a dinâmica da


renda, da educação e da longevidade em Bezerros e em Pernambuco. Comecemos com uma visão
geral dos índices que compõem o IDHM e representam estas três dimensões.

Tabela 2 – Evolução do IDHM por componente para Bezerros e Pernambuco, entre 2000 e
2010

Componentes do IDHM
Evolução dos IDHM
IDHM Renda IDHM Longevidade IDHM Educação

2000 0,546 0,631 0,278


Bezerros
2010 0,608 0,752 0,487
Crescimento
Relativo 11,36% 19,18% 75,18%

2000 0,615 0,705 0,372


Pernambuco
2010 0,673 0,789 0,574
Crescimento
Relativo 9,43% 11,91% 54,30%
Fonte: PNUD, 2013

Observando o crescimento relativo dos índices no período estudado, vemos que tanto
em Bezerros quanto no estado de Pernambuco todo, os índices que mais cresceram foram os
mesmos. A maior evolução foi do índice referente à educação, sendo ele o maior responsável pelo
crescimento do IDHM nos dois casos. Em termos de crescimento no período, a educação é seguida
da longevidade e só depois vem a renda. Os três indicadores apresentam crescimento.
No caso de Bezerros, o IDHM Educação era de 0,278 em 2000 e chegou a 0,487, um
crescimento muito substancial, de 75,18%. O IDHM Longevidade apresenta uma evolução
percentualmente muito menor, de 19,18%, saindo de 0,631 em 2000 para 0,752 em 2010. O IDHM
Renda, com um crescimento ligeiramente mais discreto, pulo de 0,546 para 0,608. O gráfico 2
ilustra a evolução dos índices em comparação uns com os outros.

Gráfico 2 - Evolução dos Componentes do IDHM


do município de Bezerros, de 2000 a 2010

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Bezerros 2000 Bezerros 2010

IDHM IDHM Renda IDHM Longevidade IDHM Educação


Fonte: PNUD, 2013

Em Pernambuco, o IDHM Educação era de 0,372 no ano 2000, chegando a 0,574 em


2010, um aumento, embora mais discreto do que Bezerros, significativo, de 54,30%. O IDHM
Longevidade aumentou em 11,91%, saindo de 0,705 para 0,789, e o IDHM Renda saiu de 0,615
para 0,673, o único que cresceu menos de dez por cento, atingindo 9,43% de crescimento. O gráfico
3 ilustra essa dinâmica. Observando os dois gráficos, percebemos, em ambos os casos, que o IDHM
Renda tendeu a se aproximar do valor do IDHM completo, sendo a dimensão de desenvolvimento
com um índice intermediário entre as demais. O IDHM Educação, o menor tem dos três
componentes, por ter apresentado maior crescimento, aproximou seu valor absoluto do índice geral.
Gráfico 3 - Evolução dos Componentes do IDHM
do estado de Pernambuco, de 2000 a 2010

0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Pernambuco 2000 Pernambuco 2010

IDHM IDHM Renda IDHM Longevidade IDHM Educação


Fonte: PNUD, 2013

Conhecendo a variação dos índices cabe agora observar as estatísticas mais de perto.

II – ANÁLISE COMPARATIVA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE BEZERROS


(PE)

A – Educação

Gráfico 4 - Comparação da Evolução do IDHM Educação


em Bezerros e Pernambuco entre 2000 e 2010

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010

IDHM Educação Bezerros IDHM Educação Pernambuco


Fonte: PNUD, 2013

O gráfico 4 ilustra a evolução dos IDHM Educação de Bezerros e Pernambuco em


comparação um com o outro. Mesmo com um crescimento relativo do índice do município tendo
sido consideravelmente maior do que o do estado, como vimos, esta visualização ilustra que a
distância entre eles não teve grande alteração, uma vez que em termos absolutos o crescimento foi
muito parecido. A tabela 3 apresenta os dados do nível de instrução das populações adultas das duas
unidades territoriais. Por população adulta compreende-se pessoas com 18 anos completos ou mais,
seguindo a definição do PNUD para o cálculo do IDHM Educação. Para gerar os dados a partir das
informações do censo, foi aplicado um filtro usando as variáveis de “idade calculada em anos”, para
considerar apenas a população com 18 anos ou mais e, após, pedida as frequências do nível de
instrução para cada população.

Tabela 3 – Distribuição percentual da população adulta de Bezerros e Pernambuco por nível de instrução – 2000 e 2010
Distribuição percentual da população adulta residente por
localidade e ano (%)
Nível de Instrução Bezerros 2000 Bezerros 2010 Pernambuco 2000 Pernambuco 2010
Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem
válida acumulativa válida acumulativa válida acumulativa válida acumulativa
Sem Instrução e 83,5 83,5 69,4 69,4 66,8 66,8 53,2 53,2
Fundamental
Incompleto
Fundamental 7,8 91,3 12,7 82,1 12,5 79,4 14,6 67,8
Completo e Médio
Incompleto
Médio Completo e 7,2 98,5 14,6 96,7 16,2 95,5 25,3 93,0
Superior Incompleto
Superior Completo 1,5 100,0 3,3 100,0 4,5 100,0 7,0 100,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Microdados do Censos 2000 e 2010

Um primeiro olhar já nos mostra a concentração da maior parte da população adulta no


primeiro nível de instrução, ou seja, sem completar o Ensino Fundamental. Apesar do aumento na
escolarização percebido quando se compara a evolução nos anos, em 2010 a maioria das pessoas
ainda permanecia nesse estrato. De qualquer modo, o aumento no nível de instrução é significativo.
Em 2000, 83,5% da população adulta de Bezerros não tinha instrução ou tinha até o Fundamental
Incompleto; em 2010 esse número diminui para 69,4%. Em Pernambuco, as porcentagens são
consideravelmente menores, e passaram de 66,8% em 2000, para 53,2% em 2010. Em termos
absolutos, a diminuição foi maior em Bezerros.
Estes números merecem atenção especial, uma vez que o IDHM Educação leva em
conta a população adulta com Fundamental Completo. Para chegar a este número, somamos os
valores das linhas correspondentes aos níveis superiores de instrução. O gráfico 5 ilustra o aumento
no nível de escolaridade para esse nível. De 2000 para 2010, a porcentagem da população adulta
com ensino fundamental completo passou de 16,5% para 30,6%, em Bezerros; e de 33,2% para
46,8%, em Pernambuco. Não por acaso, as linhas do gráfico abaixo se assemelham ao gráfico
anterior. Porém a inclinação no gráfico 4 é maior e as linhas estão mais próximas. Sendo o IDHM
Educação medido por dois conjuntos de dados, um da população adulta e outro da população jovem
(a primeira calculada com peso 1 e a segunda com peso2), e estando o gráfico 5 representando a
população adulta, concluímos que o crescimento das porcentagens de frequência escolar da
população jovem foram ainda maiores, e que Bezerros tem estes números mais próximos aos do
conjunto do estado (PNUD, O que é o IDHM).

Gráfico 5 - População Adulta com Ensino Fundamental


Completo para Bezerros e Pernambuco em 2000 e 2010

100
90
com Ensino Fundamental (%)

80
Porcentagem da População

70
Bezerros
60
Pernambuco
50
40
30
20
10
0
Ano 2000 Ano 2010

Fonte: PNUD, 2013

É interessante notar, quanto ao índice, que ele dá um peso considerável à frequência


escolar da população jovem, dimensão muito mais sensível, a médio prazo, à ação de políticas
públicas, do que o nível de instrução da população adulta. Na sessão seguinte, sobre a renda,
apresentamos o impacto de programas sociais como o Bolsa Família na renda apropriada, que teve
efeito também na frequência escolar, uma vez que o programa vincula o recebimento do benefício a
ela.
Para além dessa faixa de instrução, observemos os outros dados da tabela 3. Em 2010,
há mais pessoas adultas que concluíram o ensino médio do que concluíram o ensino fundamental. A
maioria da população não conclui o ensino fundamental, mas a parcela que o faz, em sua maioria,
conclui também a etapa seguinte, o ensino fundamental. No ano 2000, em Bezerros, esta proporção
era diferente, quando 7,8% da população adulta havia concluído apenas o ensino fundamental e
7,2% havia concluído o ensino médio. Já em Pernambuco, a proporção era similar a encontrada
hoje, com 12,5% da população adulta tendo concluído apenas o ensino fundamental e 16,2%
concluído o ensino médio. Em 2010, a parcela de pessoas que concluíram as duas etapas passa a ser
maior do que das que concluíram apenas a primeira; para esta, 12,7% foi a porcentagem dos que a
concluíram, e a para a seguinte, 14,6%. Em Pernambuco, a distância entre os números ampliou,
tendo 14,6% da população concluído apenas o Fundamental e 25,3% tendo concluído o Médio. Isso
indica uma tendência à conclusão da educação básica (aquela que vai da educação infantil ao ensino
médio).
Chama a atenção nesses números, mais uma vez, o menor nível de instrução de Bezerros
em relação ao estado. Mas também o considerável crescimento em ambas unidades territoriais: em
Bezerros aumentou em mais de 7% a proporção da população com Ensino Médio concluído, e em
Pernambuco 9,1%. Olhemos para o ensino superior, configuração semelhante. Em 2000, apenas
1,5% da população adulta do município havia concluído o Ensino Superior; em 2010, essa parcela
mais do que dobra, e passa a ser de 3,3%. Em Pernambuco, no ano 2000, 4,5% da população
possuía ensino superior completo, ao passo que em 2010 essa porcentagem aumenta para 7%.

B – Renda

Gráfico 6 - Comparação da Evolução do IDHM Renda


em Bezerros e Pernambuco entre 2000 e 2010

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010

IDHM Renda Bezerros IDHM Renda Pernambuco


Fonte: PNUD, 2013

O Gráfico 6 apresenta, comparativamente, a evolução do IDHM Renda para Bezerros e


Pernambuco entre 2000 e 2010. Percebe-se, em relação aos gráficos 3 e 4, que suas linhas
apresentam uma menor inclinação, sendo ele o componente do IDHM que teve a menor variação ao
longo do intervalo de tempo considerado. Para este quesito, os números de Bezerros estão mais
próximos dos números de Pernambuco, e as unidades territoriais apresentaram um crescimento
semelhante. O principal elemento para a composição do IDHM Renda é o rendimento total de toda
a população. Aqui, calculamos a “renda apropriada” para o município e o estado, ou seja, a soma de
todos os rendimentos da população – incluindo aluguel, benefícios, aposentadorias, dentre outros –
dividida pelo total de residentes em cada unidade territorial. Os números para 2000 e 2010 estão
expressos em reais, no gráfico 7.

Gráfico 7 - Comparação da Evolução da Renda Apropriada


per capita de Bezerros e Pernambuco entre 2000 e 2010

600

508,17
400

343,21
200
183,73
116,15
0
2000 2010

Renda Apropriada Bezerros (R$) Renda Apropriada Pernambuco (R$)

Fonte: PNUD, 2013

Em 2000, o município de Bezerros tinha uma renda apropriada de R$116,15 e


Pernambuco R$183,73, relativamente próximas, portanto, uma da outra. No período de 10 anos,
ambas tiveram grande crescimento em termos absolutos, mas o crescimento foi maior em
Pernambuco, fazendo com que em 2010 os dois números se distanciassem ainda mais, chegando
Bezerros à renda apropriada de R$343,21 e Pernambuco à renda apropriada de R$508,17. Embora
em termos relativos o município de Bezerros tenha crescido mais do que a unidade federativa, seria
necessário um crescimento relativamente ainda maior para uma aproximação entre os rendimentos.
Em termos relativos, Pernambuco teve um crescimento de 176,59% e Bezerros de
195,49%. A variação da inflação para o mesmo período, calculada a partir do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 93,1% 3. Na visão geral que é possível a partir destes
dados, isto significa dizer que houve um aumento real nos rendimentos.

3 Foi utilizada a calculadora de inflação online da UOL. Ela oferece o cálculo da inflação acumulada para oito
diferentes índices de inflação. O período pode ser selecionado de jan/2000 a jan/2015. Escolhemos o IPCA por ser
um dos mais usados. Disponível em http://economia.uol.com.br/financas-pessoais/calculadoras/2013/01/01/indices-
de-inflacao.htm, acessado às 19h40, de 25/01/2015.
Um dos motivos que tem relação com esse crescimento é a valorização dos programas
sociais no período. Observamos a variável do Censo 2010 que perguntou aos respondentes sobre
rendimento mensal do Programa Bolsa Família e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI) – resposta sim/não; e a variável do Censo 2000 que perguntou o valor de rendimentos de
renda mínima, bolsa-escola e seguro-desemprego. Para a primeira, consideramos o percentual dos
casos válidos das respostas “sim”; para a segunda, consideramos o percentual dos casos válidos
para as respostas com valores diferentes de zero.

Tabela 4 – Porcentagem dos residentes que recebiam benefício de programas sociais


em Bezerros e Pernambuco – 2000 e 2010

Programas Sociais destacados para o período

Unidade Territorial
Renda mínima, bolsa-escola e seguro- Bolsa Família e PETI, ano 2010
desemprego, ano 2000
Bezerros 0,7 14,2
Pernambuco 0,9 11
Fonte: IBGE, Microdados dos Censos 2000 e 2010

A variação é muitíssimo grande. Bezerros e Pernambuco saem de valores abaixo de um


por cento em 2000, 0,7% e 0,9% respectivamente, para 14,2% e 11% em 2010. Interessante notar o
aumento maior no município em questão, em comparação à unidade federativa, dando a entender
que áreas com menor renda foram mais contempladas. Esses números mostram o peso que os
programas sociais tiveram na renda da população nessa década. Mesmo que estes dados não
apresentem os valores dos benefícios, a ampliação do número de beneficiários já é suficiente para a
afirmação. Interessante notar a diferença das variáveis consideradas. A variável usada para o ano
2000 inclui o seguro-desemprego, que preferimos não incluir para 2010, uma vez que neste censo
este programa foi computado em outra variável; o censo 2010 também perguntou sim/não para
outros benefícios, que preferimos não incluir nesta análise, visando enfocar os programas de
transferência direta de renda.
Uma outra maneira de observar a renda é através do recorte para o total de rendimentos
de trabalho recebidos pelo conjunto da população em um mês. Diferente do rendimento total, este
número não leva em conta rendimentos recebidos de outras formas que não por trabalho. Outra
diferença é que não iremos observá-lo para o conjunto da população, mas apenas para a população
que trabalhava, através de observações típicas que descrevem a centralidade dos dados, e de
medidas que mensuram a dispersão destes mesmos dados.
Tabela 5 – Estatísticas do rendimento mensal por pessoa em todos os trabalhos para Bezerros e
Pernambuco – 2000 e 2010

Rendimento mensal em todos os trabalhos (R$)


Estatísticas
Pernambuco Pernambuco
Bezerros 2000 Bezerros 2010 2000 2010
Média 250,85 554,23 398,74 900,85

centralidade Mediana 151,00 480,00 160,00 510,00

Moda 151 510 0 510

Desvio Padrão 553,737 1084,604 1641,678 2721,993

dispersão Mínimo 0 0 0 0

Máximo 15000 30000 250000 600000

Fonte: IBGE, Microdados dos Censos 2000 e 2010

Em primeiro lugar, vale destacar a média dos rendimentos por trabalho. Em Bezerros
subiu de R$250,85 em 2000, para R$554,23 em 2010. Em Pernambuco, a média era R$398,74 em
2000, e passou a R$900,85 em 2010. Os valores de Bezerros são consideravelmente menores do que
os do estado. O crescimento de ambos é interessante, mas o valor foi próximo ao da inflação, tendo
a renda média de Bezerros crescido 120,94%, e a de Pernambuco crescido 125,92%. Além de o
crescimento percentual de Pernambuco ter sido maior, o crescimento em valor absoluto também é
muito mais expressivo, indicando um aumento nas diferenças entre as regiões do estado.
Observando as medianas, vemos que para Bezerros elas tem um aumento significativo,
de R151 em 2000 para R$480, em 2010. Diferente de outros números, estes são bem próximos aos
do estado, que era de R$160,00 em 2000, passando para R$510,00 em 2010. O valor próximo das
medianas nos indica que o valor mais elevado da média em Pernambuco se deve aos valores bem
acima da média. Não por acaso as medianas se encontram nesse valores e estão próximas. Elas tem
correspondência com o salário mínimo do período, que era R$151,00 em 2000 e de R$510,00 em
2010. A moda também aparece na tabela, justamente para percebermos a influência do salário no
conjunto da renda. Apenas para o estado de Pernambuco, em 2000, a moda não correspondeu ao
salário mínimo, sendo 0 seu valor, o que se deve aos trabalhadores que não recebem rendimentos.
A desigualdade de renda em Pernambuco se confirma quando observamos o desvio
padrão. Em 2000, ele era de 1641,7 e passou para 2721,9. Este número pode ser considerado
elevado, dada a sua distância da média, o que indica uma grande dispersão dos dados. Significa
dizer que a metade dos rendimentos que estão abaixo da mediana são muito menos expressivos, em
termos de valores, do que os que estão acima da mediana. O intervalo dos dados, ou seja a renda
mínima e a renda máxima apresentadas também apontou para uma grande distância entre os dados.
Em 2000 a renda máxima no estado foi de R$250.000,00; em 2010 foi R$600.000,00.
Comparando-se ao estado como um todo, Bezerros não apresenta os dados tão
dispersos, apresentando uma menor diferença entre as rendas. O desvio padrão em 2000 era de
553,7, que podemos considerar, comparando-se ao número de Pernambuco, como razoavelmente
pequeno. Em 2010, este desvio padrão chegou a 1084,6, indicando que o crescimento da renda não
ocorreu apenas para os menores rendimentos, provocando um maior distanciamento entre os
rendimentos das/os trabalhadores. Pode-se dizer que se for mantida a tendência de crescimento,
também há a tendência de aumentar a desigualdade de renda. Apesar dessa tendência, a amplitude
dos dados permaneceu consideravelmente menor em Bezerros do que em Pernambuco como um
todo, indo ao limite de R$15.000,00 em 2000 para o limite de R$30.000,00 em 2010.
Para entender melhor a distribuição da renda, podemos levar em conta as diferenças
entre população rural e urbana. Para isso observemos os dados de rendimento mensal por pessoa,
apenas para a população rural, na Tabela 6. Esta tabela foi elabora aplicando-se um filtro no banco
de dados para selecionar apenas a população rural. Nela, além de algumas das estatísticas
apresentadas para o conjunto das populações, realçamos dois valores retirados da frequência: a
porcentagem de trabalhadores que recebiam R$0,00, ou seja, sem renda dos trabalhos, e a
porcentagem dos trabalhadores/as que recebiam somente um salário.

Tabela 6 – Estatísticas do rendimento mensal por pessoa em todos os trabalhos para população rural de Bezerros e
Pernambuco – 2000 e 2010
Trabalhadores/as Estatísticas
Trabalhadores/as sem
Unidade Territorial recebendo 1 salário Média Mediana Moda Desvio
renda (%)
mínimo (%) padrão
Bezerros 2000 13,1 9,1 109,85 100,00 100 122,461
Bezerros 2010 35,1 11,9 228,30 150,00 0 253,036
Pernambuco 2000 40,5 9,1 112,27 60,00 0 376,031
Pernambuco 2010 36,2 14,7 282,56 150,00 0 671,215
Fonte: IBGE, Microdados dos Censos 2000 e 2010

Percebemos que para a população rural os números são bem menores, a começar pelas
médias. Em 2000, ela era de R$109,85 e em 2010 chegou a R$228,30. Percentualmente pode ser
um aumento significativo, mas permanece muito distante da renda média, distância que só aumenta
conforme cresce a renda. Em Pernambuco a média de rendimento para a população rural era de
R$112,27 em 2000, passando a R$282,56 em 2010. A mediana dos dados mostra que em geral os
rendimentos para a população rural permaneceram muito baixos e que cresceram pouco. A mediana
desses rendimentos para Bezerros passou de R$100,00 para R$150,00 e para Pernambuco passou de
R$60,00 para os mesmos R$150,00.
Até aqui havíamos observado que, com maior ou menor distância, os dados de
desenvolvimento humano de Bezerros estavam aquém dos dados para o conjunto do estado, mesmo
quando a variação no período 2000 para 2010 tivesse sido mais expressiva para Bezerros. Agora,
fazendo o recorte para a população rural, vemos as duas realidades – uma mais local e outra mais
geral – aproximarem-se mais. Vemos um maior nível de pobreza na região rural.
Uma das causas a que se pode atribuir o baixo nível de renda é a baixa formalização do
trabalho – há outras, claro. Podemos observar na tabela 6 que a maior frequência dos rendimentos
em 2010 era de trabalhadores sem rendimento. Em Bezerros, esse número tem um aumentou
significativo de 13,1% em 2000 e passou para 35,1% em 2010; o número de trabalhadores/as
recebendo 1 salário mínimo também aumenta, mas numa proporção muito tímida para um período
de dez anos, saindo de 9,1% para 11,9%. Comparando com a população rural de Pernambuco como
um todo, imaginamos que o avanço na melhoria das condições de vida da população rural de
Bezerros poderia ter sido melhor, uma vez que o estado diminuiu o percentual de sua população
rural trabalhadora que não recebia rendimentos, saindo de 40,5% para 36,2%,, e aumentou o
número de pessoas dessa categoria recebendo 1 salário mínimo, número que era de 9,1%, assim
como Bezerros, passou a ser de 14,7%.
A moda também nos diz que o rendimento do salário mínimo não é a principal fonte dos
trabalhadores rurais; para a população como um todo, apenas em um momento o salário mínimo
não era o rendimento com maior frequência. Para a população rural de Pernambuco, não ter
rendimentos era a resposta de maior frequência em 2000 e permaneceu assim em 2010. Em
Bezerros, no ano de 2000 possuir o rendimento de R$100,00 ainda era a resposta mais frequente,
mas em 2010 passou a ser não ter rendimentos.

C – Longevidade

O Gráfico 8 compara a evolução do IDHM Longevidade de Bezerros e Pernambuco


entre 2000 e 2010. Ao observá-lo percebemos que se trata do componente do IDHM de maior valor
e que ainda assim teve uma variação maior do que IDHM Renda. As duas linhas iniciam próximas e
se aproximam ainda mais, devido ao maior crescimento do índice no município de Bezerros; em
2010, as duas linhas praticamente se tocam.
Gráfico 8 - Comparação da Evolução do IDHM Longevidade
em Bezerros e Pernambuco entre 2000 e 2010

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010

IDHM Longevidade Bezerros IDHM Longevidade Pernambuco

Uma das medidas fundamentais para considerar longevidade é a taxa de mortalidade


infantil, calculada pela razão entre o número de óbitos infantis – recém-nascidos que foram a óbito
até 1 ano de idade – pelo número de nascidos vivos no mesmo período, multiplicada por 1.000, para
indicar o número de óbitos infantis para cada mil habitantes nascidos vivos. A partir do banco de
dados do datasus4, acessamos esse dados chegando às taxas. Em 2000, a taxa de mortalidade infantil
no município de Bezerros era de 34,4 óbitos infantis por mil nascidos vivos, valor considerado alto,
que teve considerável diminuição chegando a 17,9 em 2000. O estado como um todo também
apresentava números altos, apenas um pouco abaixo dos números do município, tendo em 2000
uma taxa 29,9, que caiu para 15,2 em 2010. Além de muito expressivo, a redução da mortalidade
infantil em Bezerros deixou o município mais próximo às taxas do conjunto do estado.

III – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos que o desenvolvimento humano no município de Bezerros aumentou


consideravelmente no período de dez anos e em 2010 se encontrava num patamar razoável para a
região nordeste, mas ainda abaixo do conjunto da população de Pernambuco. O índice que expressa
esse conceito, o IDHM, saiu de um nível considerado muito baixo para um nível considerado
médio, um salto importante, mesmo em se considerando dez anos um período de tempo longo. Em
geral, Bezerros tem números para o desenvolvimento humano inferiores aos de Pernambuco, mas

4 Foram consultadas as estatísticas vitais, a partir do tabnet, disponível em


http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?
sim/cnv/inf10, acesso às 18h47 de 25/01/2015.
avançou mais do que o estado. Por outro lado, tanto Bezerros, quanto Pernambuco em geral ainda
permanecem um pouco distantes do IDHM do conjunto da população do Brasil, que é impulsionado
para cima pelos índices mais altos dos municípios do centro-sul do país.
A área que teve maior avanço tanto em Bezerros quanto em Pernambuco foi a educação,
sobretudo devido ao aumento da frequência escolar da população com 17 anos ou menos em idade
de estudar, mas também apoiado pela maior escolarização da população adulta que, embora
permaneça em sua maior sem concluir o Ensino Fundamental, teve melhoras neste quesito. Um dos
fatores fundamentais para o aumento da frequência escolar pode ter sido os programas sociais de
transferência de renda, que vinculam o recebimento de um benefício a permanência das crianças e
adolescentes na escola. Esse indício está apoiado no grande aumento na porcentagem de pessoas
atendidas por estes programas sociais, sobretudo o Programa Bolsa Família e o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil – PETI.
Esses programas foram fundamentais também para o aumento no rendimento total per
capita no município e no estado, que teve uma evolução considerável, acima da inflação para o
mesmo período. Nesta dimensão, Bezerros teve um avanço considerável, mas ainda avançou menos
do que o conjunto do estado de Pernambuco, diferente do que aconteceu nas outras áreas. Além dos
programas sociais, outro fator que contribuiu para o aumento da renda foi a valorização do salário
mínimo e o aumento do número de pessoas que o recebiam. Apesar disso, a distribuição dos
rendimentos entre a população urbana e a população rural ainda é bastante desigual, tanto em
Bezerros quanto em Pernambuco como um todo. Para este recorte, os números do município são
bastante próximos dos números do estado, com ambas as unidades territoriais apresentando uma
população rural com baixa renda.
Entre 2000 e 2010, Bezerros teve uma considerável diminuição em sua taxa de
mortalidade infantil, maior do que a diminuição no estado de Pernambuco, que também foi
significativa. A dimensão da longevidade, em geral, foi a que Bezerros mais se aproximou das
condições do conjunto de Pernambuco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÍNDICE de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro. – Brasília: PNUD, Ipea, FJP, 2013.

JANNUZZI, Paulo de Martino. Conceitos Básicos. In Indicadores Sociais no Brasil. Campinas, SP:
Editora Alínea, 2001.

PNUD, Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Conceitos: O que é Desenvolvimento
Humano. Disponível em http://www.pnud.org.br/IDH/DesenvolvimentoHumano.aspx?
indiceAccordion=0&li=li_DH, acessado às 14h40 de 23/01/2015.

___________. Conceitos: O que é o IDH. Disponível em http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?


indiceAccordion=0&li=li_IDH, acessado às 14h32 de 23/01/2015.

___________. Conceitos: O que é o IDHM. Disponível em


http://www.pnud.org.br/IDH/IDHM.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDHM, acessado às 11h15 de
23/01/2015.

___________. Rankings. Disponível em Disponível em http://www.pnud.org.br/IDH/IDHM.aspx?


indiceAccordion=0&li=li_IDHM, acessado às 17h39 de 23/01/2015., acessado às 11h15 de
23/01/2015.

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