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Visão de Mundo entre estudantes de graduação das Humanidades e das áreas Exatas
1 – INTRODUÇÃO
*Observação Metodológica
Sendo nosso objetivo comparar sobretudo essas duas categorias, e considerando as
limitações do levantamento de dados, as trataremos como igualmente representativas de cada grupo.
Também devido a essa diferença na distribuição, alguns cruzamentos de variáveis, visando
compreender as relações entre determinados posicionamentos de visão de mundo dos estudantes e
seu perfil sócio-econômico, terminavam por ter uma influência dessa distribuição desigual da
amostra. Por exemplo, demonstraremos adiante que a principal variável que influencia na visão de
mundo é, de fato, o curso e que a variável religião tem influencia importante nos posicionamentos
dos estudantes de Matemática, mas não nos de Ciências Sociais. Devido a essa conjunção, os
cruzamentos de religião com os posicionamentos sobre a visão de mundo apresentaram sempre uma
tendência a resposta de religiosos e não-religiosos se alinharem às respostas dos estudantes de
Ciências Sociais, porque a proporção destes é maior na amostra. Para efeito do que desejávamos
neste trabalho seria interessante ponderar os dados, de modo ao conjunto da amostra ser igualmente
representativo de ambos os cursos. Devido ao tempo, isso não foi possível. O que fizemos, então,
em termos da descrição dos dados foi analisar as demais variáveis do perfil, sobretudo religião, a
que nos pareceu mais representativa, com a intermitência da variável curso, tendo assim a
distribuição das posições de religiosos e não-religiosos de cada curso.
Para caracterizar os estudantes segundo sua religião perguntamos de forma aberta “Qual
é a sua religião ou culto” e categorizamos as respostas observadas na seguinte frequência: “Ateu ou
Agnóstico” – 16,7%; “Budista” – 2,8%; “Candomblé” – 5,6%; “Católico” – 11,1%; “Cristão” –
5,6%; “Evangélico” – 5,6%; “Protestante” – 8,3%; “Não tem” – 36,1%; e “Outras” – 8,3%.
Devido a dispersão dos dados e para uma maior precisão na análise, reagrupamos essas
categorias em apenas duas, sendo elas “não-religiosos”, que inclui os que declararam ser ateus ou
agnósticos e os que disseram não ter religião, e “religiosos”, que inclui todas as outras categorias,
todas elas referindo-se a alguma religião. Para esta nova variável temos os percentuais das
frequências muito próximos, sendo 52,8% da amostra os “não religiosos/as” e 47,2% os
religiosos/as.
Média 6,29
Matemática Lic e Bach Mediana 7,00
Desvio padrão 2,26
Média 7,95
Ciências Sociais Lic e Bach Mediana 8,00
Desvio padrão 1,29
3 3 21,4 21,4
4 1 7,1 28,6
6 2 14,3 42,9
7 4 28,6 71,4
Matemática Lic e Bach
8 2 14,3 85,7
9 1 7,1 92,9
10 1 7,1 100,0
Total 14 100,0
4 1 4,5 4,5
7 6 27,3 31,8
8 8 36,4 68,2
Ciências Sociais Lic e Bach
9 5 22,7 90,9
10 2 9,1 100,0
Total 22 100,0
1 Este critério para progressista e conservador, bem como os demais apresentados daqui para frente, foi estabelecido
para toda turma, considerando uma hipotética investigação prévia que nos apontaria sobre o que considerar
conservador e o que considerar progressista. Aqui, para os objetivos deste relatório, não será avaliado o mérito
dessas considerações, já tomando-as como pressupostos. Outrossim, devido aos resultados do levantamento,
poderemos fazer comentários sobre a formulação das questões, o que já é um resultado da pesquisa, como no caso
das variáveis do bloco segurança.
A média de aprovação entre os estudantes de Ciências Sociais é maior, “7,95”. Mais as duas
médias são próximas, sendo a de Matemática “6,29”.O mesmo ocorre com a mediana – “8” nos
cursos de Ciências Sociais e “7” nos cursos de Matemática. Se observamos, entretanto, a dispersão
dos dados, vemos que em Matemática ela maior, como podemos observar pelo desvio padrão de
“2,26” neste curso, em comparação com o desvio padrão de “1,29” entre as respostas dos estudantes
de Ciências Sociais. Para matemática, isto ocorre devido a uma porcentagem maior de estudantes
que desaprovam esta política pública, com frequências consideráveis para as notas 3 (21,4%), que
“puxa” a média para baixo e é uma nota distante da média. Daí que em Matemática, mesmo com a
mediana relativamente elevada e próxima a média de Ciência Sociais, tenha média
consideravelmente mais baixa.
Compreendendo que o voto nas eleições presidenciais apontam visões de mundo mais ou
menos progressistas/conservadoras, perguntamos em quem os entrevistados haviam votado no
segundo turno das últimas eleições. Consideramos o voto na candidata Dilma Roussef mais à
esquerda e, portanto, mais progressista, e o voto no candidato Aécio Neves mais à direita e,
portanto, mais conservador.
Observando os totais dos votos por curso, percebemos que a maior votação em ambos os
cursos foi na candidata Dilma Roussef, portanto uma posição mais progressista. Entretanto, no
curso de Ciências Sociais essa foi uma posição com maioria absoluta e bastante expressiva, com
77,3% das respostas, sendo as demais respostas 13,1% em Aécio Neves e 9,1% não votou/não
votaria. Em Matemática, vemos 42,9% das respostas indicarem o voto na candidata Dilma, 28,6%
em Aécio, 21,4% em branco e 7,1% em nulo.
Observando os votos por curso com a variável interveniente religião, percebemos que o fator
religião tem maior peso em matemática. Os religiosos do curso de Ciências Sociais seguem a
tendência geral do curso e votam em Dilma Roussef – 88,9%, com os 11,1% restantes votando em
Aécio Neves – em porcentagem maior até do que os não-religiosos de Ciências Sociais que
seguiram esse caminho, 69,2%, com os demais não-religiosos igualmente divididos entre o voto em
Aécio (15,4%) e a ausência (15,4%).
Nos casos de Matemática, quando cruzamos essa informação com a religiosidade dos
respondentes, temos que os religiosos de Matemática optaram em maior número pelo voto em
Aécio (50% das respostas), seguido de 25% dos votos nulo, tendo Dilma Roussef e os votos em
branco o percentual de 12,5% cada.Isso confirma o peso da religião em Matemática, onde os
religiosos tomam, para este quesito, uma postura mais conservadora do que os não-religiosos.
Há aqui a questão de como interpretar os votos nulo, branco e não votou/não votaria,
conjunto de categorias que chamaremos de “não-voto”. Poderia-se considerá-los conservadores,
progressistas ou neutros. Como a construção da pesquisa, até onde compreendi, não apontava esse
critério, e como o questionário não fornece dados que esclareçam os motivos do “não-voto”, este
relatório leva em conta apenas os posicionamentos dos que votaram em candidatos.
Essas duas primeiras descrições, sobre o bolsa família e o voto do segundo turno das
eleições presidenciais, nos mostram, em resumo, que os cursos de Ciências Sociais adotam em geral
uma postura progressita, enquanto o curso de Matemática também assume uma postura progressista,
porém em menor grau. Na segunda dessas duas variáveis, vemos que, em matemática, os religiosos
tendem a se posicionar mais conservadores, e os não-religiosos mais progressistas, enquanto em
Ciências Sociais a religião não tem tanta influência. Veremos adiante que, em outros temas, alguns
deles mais polêmicos, a polarização entre os cursos é maior, com os estudantes de Matemática
apresentando um posicionamento mais conservador.
% dentro de CURSO
Para este quesito, não houve ninguém, em todos os casos da amostra, que discordasse
parcialmente ou que declarasse que “não sabe”/ “não quis responder”. Em Matemática uma maioria
absoluta, e expressiva, discorda totalmente, sendo 64,3% dos casos. Os demais 35,7% dos casos –
número que, embora minoritário, não indica a predominância completa de um posicionamento
conservador – se dividem em 7,1% que concordam parcialmente e 28,6% que concordam
totalmente.
Em Ciências Sociais o posicionamento é inverso. Para 77,3% dos casos os entrevistados
concordam totalmente, polarização mais expressiva do que a ocorrida em Matemática, ainda mais
considerando que em 9,1% dos casos estes/as estudantes concordam parcialmente. Os que
discordam, e aí discordam totalmente, são apenas 13,6% dos casos.
Para esta variável, verifica-se, então, a predominância de diferentes posições em cada curso,
havendo uma polarização dos posicionamentos no interior de cada curso, de forma mais acentuada
em Ciências Sociais para uma posição progressista, e de forma menos acentuada em Matemática
para uma posição mais conservadora.
E qual a influência da religião? Para Ciências Sociais, mais uma vez, nota-se que a religião
não é decisiva para o posicionamento das/os estudantes. Embora as pessoas deste curso que
declaram ter algum religião apresentem um percentual de posicionamentos conservadores maior do
que entre os não-religiosos, em ambos os casos há maioria de posicionamentos progressitas. No
grupo religiosos de Ciências Sociais, 66,7% concordam totalmente com o aborto em caso de
escolha da mulher, 11,1% concordam parcialmente e 22,2% discordam totalmente. Entre os não-
religiosos deste curso, 84,6% concordam totalmente, 7,7% concordam parcialmente e 7,7%
discordam totalmente.
Para Matemática, religiosos e não-religioso tem o maior percentual em discorda totalmente.
Porém esse número é maior entre os religiosos, 75%, sendo os outros 25% de religiosos que
concordam totalmente. Entre os não-religiosos a distribuição é equilibrada, com metade das
respostas indicando discordância e a outra metade indicando concordância, dos quais 50%
discordam totalmente, 33,3% concordam totalmente e 16,7% os que concordam parcialmente.
Assim, entre os não-religiosos vemos uma ligeira predominância na posição mais conservadora,
dada a ênfase na discordância "total", mais com igual número de resposta no da concordância, total
ou parcial. Entre os religiosos, não vemos essa aproximação entre as respostas, com a
predominância clara das respostas conservadoras.
Essa comparação, da influência da religião sobre os posicionamentos em cada curso, para a
variável em questão reforça o observado nas variáveis anteriores, ou seja, a influência da religião
nos respondentes do curso de matemática, enquanto uma influência, quando há, pequena nos
respondentes de Ciências Sociais.
Considerando as percepções sobre criminalidade, o levantamento considerou a associação
de determinadas medidas legais à redução da criminalidade como uma postura conservadora, e seu
oposto, a não associação entre as duas coisas, como uma postura progressista. Também utilizando
uma Escala Likert as entrevistas pediram para os respondentes declararem sua
concordância/discordância da adoção das seguintes medidas para redução da criminalidade: redução
da maioridade penal, prisão perpétua e pena de morte. Neste caso, “concorda totalmente” representa
o polo mais conservador das respostas e “discorda totalmente” o polo mais progressista (sentido
oposto ao da variável apresentada acima). Observemos a variável dentre estas que, em Matemática,
apresentou maior concordância, a relação com a redução da maioridade penal. A afirmação em
questão foi a seguinte “Para a diminuição da criminalidade, a redução da maioridade penal seria
uma das soluções”.
% dentro de CURSO
Matemática Lic e
37,5% 37,5% 12,5% 12,5%
Bach
CURSO
Ciências Sociais Lic e
Religiosos 11,1% 88,9%
Bach
Matemática Lic e
16,7% 33,3% 33,3% 16,7%
Bach
CURSO
Não Ciências Sociais Lic e
7,7% 92,3%
Religiosos Bach
Matemática Lic e
28,6% 35,7% 21,4% 14,3%
REC_CURS Bach
O Ciências Sociais Lic e
Total 4,5% 4,5% 90,9%
Bach
Em matemática, mais de sessenta por cento das respostas indicam concordância com a
afirmativa, sendo 28,6% o número de casos que assinalaram para concorda totalmente e 35,7% para
concorda parcialmente. Os demais casos se distribuíram entre discorda parcialmente, 21,4% e
discorda totalmente, 14,3%. Em Ciências Sociais, o posicionamento contrário, com 90,9% de casos
em que os estudantes deste curso discondam totalmente, com 4,5% de casos em que há
concordância parcial e outros 4,5% com concordância total. Das variáveis apresentadas é a que
apresenta maior percentual de respostas no polo mais progressista dentre as/os estudantes de
Ciências Sociais. Entretanto isso não significa que a questão seja passível de consenso num espectro
mais amplo, uma vez que a maior parte das respostas de Matemática estão no lado oposto.
Quanto a influência da religião, repete-se a tendência anterior. Em Ciências Sociais, pouca
influência, com 88,9% dos religiosos discordando totalmente, número muito próximo ao que se
refere a totalidade do grupo deste curso. Os não-religiosos discordam totalmente em 92,3% dos
casos. Entre os religioso deste curso, 11,1% concordam parcialmente. Entre os não-religiosos há
concordância total e parcial com 4,5% das respostas cada.
Em Matemática, influência da religião, porém mais discreta do que na variável anterior.
Entre os religiosos deste grupo, dois terços concordam com a afirmação, e entre os não-religiosos,
metade em cada lado dos posicionamentos, com a maior parte dos casos concentrado no
"parcialmente". A distribuição entre os religiosos foi igualmente 37,5% para concorda totalmente e
concorda parcialmente, e igualmente 12,5% para discorda parcialmente e discorda totalmente. Entre
os não-religiosos, uma distribuição simétrica, 16,7% é o percentual dos que concorda totalmente e
dos que discordam totalmente, e 33,3% é o percentual tanto dos que concordam parcialmente,
quanto dos discordam parcialmente.
Uma outra variável que parece ter relação com a visão de mundo dos estudantes é a raça/cor.
Chamou a atenção os posicionamentos das pessoas que se declararam de raça/cor preta, sugerindo a
relação entre esta categoria e posicionamentos progressistas. Vejamos para as quatro variáveis
comparadas acima as frequências dessa categoria (foi utilizado o filtro dessa variável).
Tabela 9 - Estatísticas
NOTA BOLSA FAMÍLIA
Válido 6
N
Ausente 0
Média 8,67
Mediana 8,50
Desvio padrão 1,21
Tabela 10 – Visão de Mundo Raça/Cor Preta
Percebe-se que para todas as variáveis escolhidas as pessoas que se declararam de raça/cor
preta deram as respostas dos posicionamentos considerados progressistas. 100% dessas votaram em
Dilma Roussef no segundo turno, 100% discordam totalmente que a redução da maioridade penal
ajuda na diminuição da criminalidade e 100% concorda de alguma maneira que o aborto deve ser
permitido em caso de escolha da mulher, sendo que 66,7% destes concordam totalmente e 33,3%
concordam parcialmente. Quanto as notas do Bolsa Família, todas situam-se entre 7 e 10, com sua
média, 8,67, bem superior a média das respostas de Ciências Sociais, com a mediana em 8,50 e um
desvio padrão que demonstra a pouca dispersão dos dados, 1,21.
5 – CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi o de situar e comparar as visões de mundo entre estudantes de
Ciências Sociais e Matemática dentro de um espectro de posicionamento mais conservador a mais
progressista, percebendo também quais variáveis poderiam exercer influência nos posicionamentos.
Diante dos resultados acima expostos, que apresentaram algumas das variáveis de maior diferencial
nas respostas entre os grupos, chegamos as seguintes considerações principais:
• Como esperado, o curso é a principal variável com influência sobre os
posicionamentos estudados. Sobretudo nas variáveis de Direitos Civis, as respostas variavam
fortemente a depender do curso ao qual o/a estudantes estivesse vinculado.
• Como se imaginava, na comparação entre os grupos dos cursos, Ciências Sociais
apresenta um posicionamento nitidamente mais progressista do que Matemática.. Em todas as
variáveis observadas os estudantes dos cursos de Ciências Sociais tiveram um posicionamento mais
progressista do que os estudantes dos cursos de Matemática. Nas variáveis apresentadas do bloco
Direitos Civis, sobre o Aborto e a percepção sobre a Criminalidade, vimos mesmo uma oposição
entre os posicionamentos, com uma predominância nas Ciências Sociais às respostas progressistas,
em oposição aos posicionamentos conservadores no curso de Matemática.
• O curso de Matemática não apresentou sempre um posicionamento
conservador, podendo ser considerado de posicionamento neutro, enquanto Ciências Sociais
pode ser considerado progressista. Em alguns casos, o posicionamento predominante no curso de
Matemática era progressista, embora não na mesma proporção que o curso de humanas. Foi o que
observamos nas variáveis sobre o Bolsa Família e sobre o Voto no Segundo Turno. Também
observa-se essa tendência em muitas das variáveis não apresentadas, justamente porque não
possuíam maior variação entre os grupos. Dito de outra maneira, o curso de Matemática apresenta
uma visão de mundo conservadora, em relação ao curso de Ciências Sociais e uma visão de centro,
considerando as possibilidades do espectro conservador—progressista.
• Ter ou não ter uma religião tem forte influencia sobre o posicionamento dos
estudantes de Matemática, mas pouca ou nenhuma influência sobre os estudantes de Ciências
Sociais. Foi o que observamos para três das quatro variáveis de visão de mundo observadas, a partir
da intervenção da variável religião. Vimos que, no interior do grupo matemática o grupo de
religiosos tendia sempre a posicionamentos conservadores, enquanto os não-religiosos eram
relativamente mais progressistas. Em Ciências Sociais essa diferença, quando ocorria, era em grau
muito pequeno, podendo ser desconsiderada.
• Para esta amostra, declarar-se de raça/cor preta indica posicionamentos
progressistas. As/os estudantes que se declararam de raça/cor preta apresentaram posicionamentos
progressistas em sua totalidade nas variáveis descritas neste relatório, com números bastante
expressivos.
Para finalizar, podemos sugerir duas perguntas, oriundas deste levantamento, mas que não
encontrariam respostas nos dados levantados, podendo ser indicativos para outras pesquisas.
Considerando o posicionamento do conjunto de estudantes de ambos os cursos como não sendo
majoritariamente conservadores, podemos atribuir isso ao perfil universitário da amostra? Em
outras palavras, ser estudante universitário apontaria uma tendência a não ser conservador?
Tendo observado as respostas das/os estudantes de raça/cor preta, todas indicando
posicionamentos progressistas, somos levados a pergunta: as pessoas que se declaram de raça/cor
preta tendem a ter uma visão de mundo progressista? Ou, de forma mais específica, as/os estudantes
universitárias que se declaram de raça/cor preta tendem a ter uma visão de mundo progressista?
Embora sabendo que isso é verdade para os dados desse levantamento, nos parece que para uma
generalização da afirmação é necessário um conjunto de dados mais representativo no conjunto
raça/cor.
• Parte 2
INTRODUÇÃO
2 Esta e outras definições sobre desenvolvimento social, IDH e IDHM estão baseadas no sítio do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de onde também foram tirados os índices prontos,
http://www.pnud.org.br/.
Bezerros é um município situado no agreste pernambucano, que contava com uma
população de 58.668 habitantes, dos quais 8.928 morando na zona rural e 49.740 morando em zona
urbana, segundo os dados do Censo de 2010. Distribuído numa área de 490,817 km², faz limites,
dentre outros, com os municípios de Caruaru, cidade referência na região, e Gravatá, município que
cresceu bastante nas últimas décadas, superando Bezerros, por exemplo, no tamanho da população,
tendo como uma de suas forças o turismo.
Em relação ao desenvolvimento humano, o Bezerros apresentava, em 2010, o IDHM de
0,606, ocupando, empatado com outros 30 municípios, a 3999º colocação no Ranking IDHM
Municípios 2010 elaborado pelo PNUD – o ranking conta com 5565 municípios de todo o país. Um
número considerado razoável, considerado um IDHM médio, na escala apresentada no Atlas do
Desenvolvimento Humano, faixa na qual também se encontravam, no mesmo ano, 40,1% dos
municípios brasileiros, sendo um número interessante para a região se pensarmos que 61% dos
municípios do Nordeste ocupam a faixa anterior, de IDHM considerado baixo. (ÍNDICE, 2013,
pág.27, 47, 48) Está na mesma faixa do IDHM do estado de Pernambuco, que em 2010 tinha a
marca de 0,673, também considerado médio. (PNUD, Ranking) Ambos, estão abaixo do IDHM
encontrado para o Brasil em 2010, de 0,727, considerado de Alto desenvolvimento humano, que
alcança esse valor devido aos índices mais altos do centro-sul do país. (idem, p.40)
Tabela 2 – Evolução do IDHM por componente para Bezerros e Pernambuco, entre 2000 e
2010
Componentes do IDHM
Evolução dos IDHM
IDHM Renda IDHM Longevidade IDHM Educação
Observando o crescimento relativo dos índices no período estudado, vemos que tanto
em Bezerros quanto no estado de Pernambuco todo, os índices que mais cresceram foram os
mesmos. A maior evolução foi do índice referente à educação, sendo ele o maior responsável pelo
crescimento do IDHM nos dois casos. Em termos de crescimento no período, a educação é seguida
da longevidade e só depois vem a renda. Os três indicadores apresentam crescimento.
No caso de Bezerros, o IDHM Educação era de 0,278 em 2000 e chegou a 0,487, um
crescimento muito substancial, de 75,18%. O IDHM Longevidade apresenta uma evolução
percentualmente muito menor, de 19,18%, saindo de 0,631 em 2000 para 0,752 em 2010. O IDHM
Renda, com um crescimento ligeiramente mais discreto, pulo de 0,546 para 0,608. O gráfico 2
ilustra a evolução dos índices em comparação uns com os outros.
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Bezerros 2000 Bezerros 2010
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Pernambuco 2000 Pernambuco 2010
Conhecendo a variação dos índices cabe agora observar as estatísticas mais de perto.
A – Educação
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010
Tabela 3 – Distribuição percentual da população adulta de Bezerros e Pernambuco por nível de instrução – 2000 e 2010
Distribuição percentual da população adulta residente por
localidade e ano (%)
Nível de Instrução Bezerros 2000 Bezerros 2010 Pernambuco 2000 Pernambuco 2010
Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem
válida acumulativa válida acumulativa válida acumulativa válida acumulativa
Sem Instrução e 83,5 83,5 69,4 69,4 66,8 66,8 53,2 53,2
Fundamental
Incompleto
Fundamental 7,8 91,3 12,7 82,1 12,5 79,4 14,6 67,8
Completo e Médio
Incompleto
Médio Completo e 7,2 98,5 14,6 96,7 16,2 95,5 25,3 93,0
Superior Incompleto
Superior Completo 1,5 100,0 3,3 100,0 4,5 100,0 7,0 100,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Microdados do Censos 2000 e 2010
100
90
com Ensino Fundamental (%)
80
Porcentagem da População
70
Bezerros
60
Pernambuco
50
40
30
20
10
0
Ano 2000 Ano 2010
B – Renda
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010
600
508,17
400
343,21
200
183,73
116,15
0
2000 2010
3 Foi utilizada a calculadora de inflação online da UOL. Ela oferece o cálculo da inflação acumulada para oito
diferentes índices de inflação. O período pode ser selecionado de jan/2000 a jan/2015. Escolhemos o IPCA por ser
um dos mais usados. Disponível em http://economia.uol.com.br/financas-pessoais/calculadoras/2013/01/01/indices-
de-inflacao.htm, acessado às 19h40, de 25/01/2015.
Um dos motivos que tem relação com esse crescimento é a valorização dos programas
sociais no período. Observamos a variável do Censo 2010 que perguntou aos respondentes sobre
rendimento mensal do Programa Bolsa Família e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI) – resposta sim/não; e a variável do Censo 2000 que perguntou o valor de rendimentos de
renda mínima, bolsa-escola e seguro-desemprego. Para a primeira, consideramos o percentual dos
casos válidos das respostas “sim”; para a segunda, consideramos o percentual dos casos válidos
para as respostas com valores diferentes de zero.
Unidade Territorial
Renda mínima, bolsa-escola e seguro- Bolsa Família e PETI, ano 2010
desemprego, ano 2000
Bezerros 0,7 14,2
Pernambuco 0,9 11
Fonte: IBGE, Microdados dos Censos 2000 e 2010
dispersão Mínimo 0 0 0 0
Em primeiro lugar, vale destacar a média dos rendimentos por trabalho. Em Bezerros
subiu de R$250,85 em 2000, para R$554,23 em 2010. Em Pernambuco, a média era R$398,74 em
2000, e passou a R$900,85 em 2010. Os valores de Bezerros são consideravelmente menores do que
os do estado. O crescimento de ambos é interessante, mas o valor foi próximo ao da inflação, tendo
a renda média de Bezerros crescido 120,94%, e a de Pernambuco crescido 125,92%. Além de o
crescimento percentual de Pernambuco ter sido maior, o crescimento em valor absoluto também é
muito mais expressivo, indicando um aumento nas diferenças entre as regiões do estado.
Observando as medianas, vemos que para Bezerros elas tem um aumento significativo,
de R151 em 2000 para R$480, em 2010. Diferente de outros números, estes são bem próximos aos
do estado, que era de R$160,00 em 2000, passando para R$510,00 em 2010. O valor próximo das
medianas nos indica que o valor mais elevado da média em Pernambuco se deve aos valores bem
acima da média. Não por acaso as medianas se encontram nesse valores e estão próximas. Elas tem
correspondência com o salário mínimo do período, que era R$151,00 em 2000 e de R$510,00 em
2010. A moda também aparece na tabela, justamente para percebermos a influência do salário no
conjunto da renda. Apenas para o estado de Pernambuco, em 2000, a moda não correspondeu ao
salário mínimo, sendo 0 seu valor, o que se deve aos trabalhadores que não recebem rendimentos.
A desigualdade de renda em Pernambuco se confirma quando observamos o desvio
padrão. Em 2000, ele era de 1641,7 e passou para 2721,9. Este número pode ser considerado
elevado, dada a sua distância da média, o que indica uma grande dispersão dos dados. Significa
dizer que a metade dos rendimentos que estão abaixo da mediana são muito menos expressivos, em
termos de valores, do que os que estão acima da mediana. O intervalo dos dados, ou seja a renda
mínima e a renda máxima apresentadas também apontou para uma grande distância entre os dados.
Em 2000 a renda máxima no estado foi de R$250.000,00; em 2010 foi R$600.000,00.
Comparando-se ao estado como um todo, Bezerros não apresenta os dados tão
dispersos, apresentando uma menor diferença entre as rendas. O desvio padrão em 2000 era de
553,7, que podemos considerar, comparando-se ao número de Pernambuco, como razoavelmente
pequeno. Em 2010, este desvio padrão chegou a 1084,6, indicando que o crescimento da renda não
ocorreu apenas para os menores rendimentos, provocando um maior distanciamento entre os
rendimentos das/os trabalhadores. Pode-se dizer que se for mantida a tendência de crescimento,
também há a tendência de aumentar a desigualdade de renda. Apesar dessa tendência, a amplitude
dos dados permaneceu consideravelmente menor em Bezerros do que em Pernambuco como um
todo, indo ao limite de R$15.000,00 em 2000 para o limite de R$30.000,00 em 2010.
Para entender melhor a distribuição da renda, podemos levar em conta as diferenças
entre população rural e urbana. Para isso observemos os dados de rendimento mensal por pessoa,
apenas para a população rural, na Tabela 6. Esta tabela foi elabora aplicando-se um filtro no banco
de dados para selecionar apenas a população rural. Nela, além de algumas das estatísticas
apresentadas para o conjunto das populações, realçamos dois valores retirados da frequência: a
porcentagem de trabalhadores que recebiam R$0,00, ou seja, sem renda dos trabalhos, e a
porcentagem dos trabalhadores/as que recebiam somente um salário.
Tabela 6 – Estatísticas do rendimento mensal por pessoa em todos os trabalhos para população rural de Bezerros e
Pernambuco – 2000 e 2010
Trabalhadores/as Estatísticas
Trabalhadores/as sem
Unidade Territorial recebendo 1 salário Média Mediana Moda Desvio
renda (%)
mínimo (%) padrão
Bezerros 2000 13,1 9,1 109,85 100,00 100 122,461
Bezerros 2010 35,1 11,9 228,30 150,00 0 253,036
Pernambuco 2000 40,5 9,1 112,27 60,00 0 376,031
Pernambuco 2010 36,2 14,7 282,56 150,00 0 671,215
Fonte: IBGE, Microdados dos Censos 2000 e 2010
Percebemos que para a população rural os números são bem menores, a começar pelas
médias. Em 2000, ela era de R$109,85 e em 2010 chegou a R$228,30. Percentualmente pode ser
um aumento significativo, mas permanece muito distante da renda média, distância que só aumenta
conforme cresce a renda. Em Pernambuco a média de rendimento para a população rural era de
R$112,27 em 2000, passando a R$282,56 em 2010. A mediana dos dados mostra que em geral os
rendimentos para a população rural permaneceram muito baixos e que cresceram pouco. A mediana
desses rendimentos para Bezerros passou de R$100,00 para R$150,00 e para Pernambuco passou de
R$60,00 para os mesmos R$150,00.
Até aqui havíamos observado que, com maior ou menor distância, os dados de
desenvolvimento humano de Bezerros estavam aquém dos dados para o conjunto do estado, mesmo
quando a variação no período 2000 para 2010 tivesse sido mais expressiva para Bezerros. Agora,
fazendo o recorte para a população rural, vemos as duas realidades – uma mais local e outra mais
geral – aproximarem-se mais. Vemos um maior nível de pobreza na região rural.
Uma das causas a que se pode atribuir o baixo nível de renda é a baixa formalização do
trabalho – há outras, claro. Podemos observar na tabela 6 que a maior frequência dos rendimentos
em 2010 era de trabalhadores sem rendimento. Em Bezerros, esse número tem um aumentou
significativo de 13,1% em 2000 e passou para 35,1% em 2010; o número de trabalhadores/as
recebendo 1 salário mínimo também aumenta, mas numa proporção muito tímida para um período
de dez anos, saindo de 9,1% para 11,9%. Comparando com a população rural de Pernambuco como
um todo, imaginamos que o avanço na melhoria das condições de vida da população rural de
Bezerros poderia ter sido melhor, uma vez que o estado diminuiu o percentual de sua população
rural trabalhadora que não recebia rendimentos, saindo de 40,5% para 36,2%,, e aumentou o
número de pessoas dessa categoria recebendo 1 salário mínimo, número que era de 9,1%, assim
como Bezerros, passou a ser de 14,7%.
A moda também nos diz que o rendimento do salário mínimo não é a principal fonte dos
trabalhadores rurais; para a população como um todo, apenas em um momento o salário mínimo
não era o rendimento com maior frequência. Para a população rural de Pernambuco, não ter
rendimentos era a resposta de maior frequência em 2000 e permaneceu assim em 2010. Em
Bezerros, no ano de 2000 possuir o rendimento de R$100,00 ainda era a resposta mais frequente,
mas em 2010 passou a ser não ter rendimentos.
C – Longevidade
1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Ano 2000 Ano 2010
ÍNDICE de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro. – Brasília: PNUD, Ipea, FJP, 2013.
JANNUZZI, Paulo de Martino. Conceitos Básicos. In Indicadores Sociais no Brasil. Campinas, SP:
Editora Alínea, 2001.
PNUD, Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Conceitos: O que é Desenvolvimento
Humano. Disponível em http://www.pnud.org.br/IDH/DesenvolvimentoHumano.aspx?
indiceAccordion=0&li=li_DH, acessado às 14h40 de 23/01/2015.