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A Liberdade Humana PDF
A Liberdade Humana PDF
O poema não escrito de Ivan Karamazov dá-se na inquisição espanhola do século XVI.
Nele, Cristo aparece em Sevilha na mesma forma humana em que andou por Jerusalém
quinze séculos antes. O retorno de Cristo, contudo, não é aquele profetizado por seus
discípulos na “Segunda Vinda”; ao contrário, Cristo está de volta na ficção de Ivan para
trazer alento às almas pecadoras que estão sendo queimadas pelo fogo da dominação. O
grande inquisidor, que reconhece a presença de Cristo em meio à multidão de Sevilha,
condena-o por ter enganado o homem, mil e quinhentos anos antes, com a promessa de
liberdade. Nesse encontro, entre o Cristo e o inquisidor, Dostoiévski nos apresenta uma
dialética fascinante entre a dominação e a liberdade. Nesta dialética, o “Grande
Inquisidor” apresenta a tese de que a felicidade na Terra só pode ser alcançada pela
dominação, ou seja, somente quando todos os homens entregarem sua liberdade para
um poder superior é que poderá haver a tão sonhada felicidade. Para fundamentar esta
tese, o inquisidor, num lance de retórica sem igual, apela para a autoridade do diabo no
que se refere às três tentações de Cristo e suas respectivas respostas para a humanidade.
Na primeira tentação, quando Cristo recusa transformar pedras em pão, o inquisidor
chama a atenção para o primeiro grande erro de Cristo ao não compreender que a
verdadeira preocupação dos humanos é com o pão, isto é, com a satisfação de suas
necessidades animalescas tais como a fome, o frio e a manutenção da vida. Para o
inquisidor, o ser humano é, antes de tudo, um ser animal, e como tal, é essencialmente
determinado por seus desejos materiais. O “pão celestial”, portanto, ou, a liberdade
prometida por Cristo, não tem, de longe, o mesmo valor do “pão terreno”, ou, do bem-
estar material. Mas, até mesmo o inquisidor reconhece que o homem não vive só de
pão, que não é uma mera matéria à mercê das leis naturais, e que carrega em si, uma
necessidade “ideal”. É esse “ideal”, afinal, que faz com que os seres humanos
transcendam as limitações de sua materialidade incorporando em si mesmos uma
dimensão de moralidade.
Na segunda tentação, o inquisidor acusa Cristo de ter negado à humanidade a prova de
sua divindade por meio de um milagre. O milagre de salvar a própria vida pela fé em
Deus quando o diabo o colocou no pináculo do templo. Ao se recusar este milagre,
Cristo ensinou os homens a decidirem por si mesmos sobre o que é bom e o que é mau.
De acordo com o inquisidor, contudo, este ato de Cristo impôs à igreja o “mistério” do
bem e do mal, porque, para os homens, não é o livre arbítrio que fascina, e sim, o
conhecimento do bem e do mal. Uma vez que o conhecimento do bem e do mal não é
acessível ao ser humano, consequentemente, o ser humano, que “não busca tanto Deus,
mas um milagre”, trocou sua liberdade pelo “pão material”, pelo “mistério” da
moralidade e pela dominação.
Na terceira tentação, o diabo oferece a Cristo todos os reinos deste mundo em troca de
que Cristo o idolatre, ao que Cristo recusa. Para o inquisidor, todavia, a negação de
Cristo afirma para os homens que seu reino não é deste mundo, que não se deve se
curvar à idolatria, e que, não havendo um único ídolo, não há também, por extensão,
uma unidade seguida de harmonia. Mas, de novo, o que o inquisidor defende é que haja
uma unidade entre os homens através de uma autoridade única, espiritual e secular: a
igreja ocidental.
Para Dostoiévski, a liberdade não é premissa para a felicidade. Ao contrário, ela é
trágica e sofrida. Ser livre não é sinônimo de ser feliz. Embora haja uma relação divino-
humana acerca do tema da liberdade, não se pode afirmar que o "encontro" com Deus
ou a Transcendência seja também um encontro que gere felicidade.
Bem, sobre a liberdade humana, o texto me deixou de fato "perturbado" no sentido do
personagem "Ivan" comentar que o preço da harmonia, do equilíbrio é muito alto, e por
isso, queria devolver o bilhete, talvez em concordância com (JOHN MILTON- "É
melhor reinar no inferno do que servir no céu.)
O capítulo/filme "o grande inquisidor" também, inquieta, afinal, se Jesus aceitasse as
ofertas do tentador, de fato, o mundo seria outro, não sei se melhor ou pior, mas haveria
decidido, não haveria a dúvida, ou melhor dizendo, estaria respondida talvez, uma das
fundamentais e centrais questões filosóficas (a do sentido à existência).
O homem detentor do livre arbítrio, pode ser bom e fazer o bem, ou pode ser mal e fazer
o mal, a liberdade neste sentido não levanta bandeira, como diz o texto da professora
("..A liberdade é irracional.."). Agora na medida que há uma definição bem ou mal,
necessariamente um caminho exclui o outro.
De fato penso que o indivíduo foi criado ,com diz Sartre, criado para a liberdade.
Contudo, o próprio ser humano criou suas próprias formas de se aprisionar e aprisionar
o próximo. Os mecanismos de se tolher a liberdade humana são diversos. Um deles
seria o fundamentalismo religioso e outro bem parecido seria o anti intelectualismo,
enfim , existem outros,,,,,
Dostoievski, sugere aos seus leitores uma reflexão acerca dos conceitos de liberdade e
necessidade. Se, por um lado, existem homens que defendem a ideia de liberdade de
escolhas, por outro lado tem aqueles que negam tal liberdade quando defendem a ideia
de determinismo. Sobre este aspecto, cabe aqui, levantarmos o seguinte
questionamento: Afinal de contas, de que modo o homem pode experienciar a
liberdade?
Desde os primórdios da existência humana podemos vislumbrar os aspectos
constitutivos da liberdade, pois na relação do homem com a natureza emergiu os seus
primeiros passos rumo ao encontro da libertação de seus instintos que geram uma
padronização de suas ações sobre o meio ambiente: de tal maneira, que será possível
adaptar-se ao meio em que vive mediante o processo de aprendizagem compartilhado
por seus semelhantes, ao invés de agir apenas em conformidade com aquilo que é
determinado por seus impulsos instintivos. Neste sentido, o homem em toda a sua
capacidade inventiva é um sujeito consciente de si mesmo; ou seja, um ser que se
tornou parte integrante da natureza, mas que também é dotado da capacidade de
dominar e transformar o meio natural.
Isto posto, identificamos que o processo de aquisição da liberdade reside numa abertura
opcional, ou seja, a possibilidade de efetuar escolhas (assumindo a responsabilidade por
seus atos), enquanto algo que será propício para crescimento do homem que rompe com
os vínculos tutelares que causam a obstrução do pleno desenvolvimento de sua
capacidade autônoma de agir e pensar sobre o mundo. Seria uma espécie de corte do
cordão umbilical que causa uma prisão do indivíduo com a exterioridade opressora que
reflete um estado de imanência com o mundo.
Nesta perspectiva, tornar-se-á imprescindível problematizar a seguinte questão: Por que
existe o medo humano de assumir a liberdade?
Ora, esse vínculo com o meio social em que está inserido representa para o homem uma
fonte de segurança e, por conseguinte, causa-lhe conforto saber que faz parte de uma
comunidade. É a noção de pertencimento a fonte constitutiva de segurança para o
homem no fluxo de sua existência, todavia, os seus anseios, pensamentos, ideias e
vontades podem entrar em conflito com padrões sociais pré-estabelecidos. Com isso
existência surge a sensação de insatisfação, o medo, a depressão e até mesmo um estado
de angústia por não conseguir projetar uma superação dos condicionamentos que regem
a vida humana na sociedade. As experiências da vida fática que geram
condicionamentos relacionados ao cumprimento das necessidades primárias para
garantir melhores condições matérias de existência no contexto da cotidianeidade.
Contudo, o homem é dotado da capacidade de auto-reflexão, problematizando suas
experiências ao fazer um balanço crítico de sua vida. E assim, podem surgir
questionamentos fundamentais: O que é a vida? Qual é a finalidade da vida? Existe vida
após a morte? O que é o Divino? Se Deus existe, por que permite que aconteçam coisas
ruins com os homens bons?
Deste modo, poder-se-ia dizer que, as obras de Dostoievski contribuem sobremaneira
com a filosofia da religião, quando fomenta reflexões acerca da problemática da
liberdade, sugerindo que para o homem se libertar dos grilhões de aprisionamento, é
imprescindível romper com o “cenário montado da existência”, em que simplesmente é
condicionado a sobreviver de acordo com os ditames de normas e regras que lhe são
impostas de forma autoritária pelo conjunto da sociedade. Assim, portanto, caberá ao
homem assumir as dores do parto existencial, efetuando suas próprias escolhas para que
seja possível lidar com os sofrimentos que são inerentes ao movimento agônico
da existência mundana; entretanto, existe a condição de possibilidade transcende através
da (re)ligação com Deus, pois na relação de proximidade com o divino reside a fonte
suprema de redenção.
O tema abordado por Dostoiévski em "O grande Inquisidor" é a liberdade nas suas mais
impossíveis condições de existência, não em um sentido físico, mas esta transcendendo
os limites de uma liberdade arrazoada no senso comum, da particularidade, mas sim ele
trata como algo superior, - uma liberdade para além deste mundo físico, pois assim as
questões mentais aparecem e é uma constante em seus personagens que sofrem em
cativeiros interiores.