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Meomtvees MESZAROS A EDUCACAO _ PARA ALEM oo CAPITAL Borremre EDITORIAL A educagao para além do capital € um pequeno livro no qual Istvan Mésziros nos oferece uma reflexao densa e critica sobre os limites e os equivocos das vi- sdes liberais e utdpico-liberais da educa- io. Com base em obras anteriores, es- pecialmente o livro Para além do capital (Boitempo, 2002), ele demonstra enfati- camente que “os processos educacionais € 0 processos sociais mais abrangentes de reproducio estado intimamente liga- dos”. Ou seja, sem rupturas nas relacdes saciais que estao sob © controle do sis- tema do capital nio podera haver mu- dangas profundas no sistema educacio- nal. Sob as relacdes sociais capitalistas a educacao funciona, dominantemente, como sistema de internalizagao dos co- nhecimentos, valores e cultura funcionais & reprodugio da (des)ordem do meta- bolismo social do capital. Esta idéia central é apresentada, por um lado, median- te as concepgdes de Adam Smith e John Locke, que naturalizam a sociedade capitalista e o dualismo na educa¢io e, por outro, pela fragilidade do socialismo utépico de Robert Owen e do reformismo de Edward Bernstein. Cada uma dessas concep¢des, a seu modo, conduz a visGes moralizantes do dever-ser da edu- cacao, separando o insepardvel: a materialidade da A EDUCACAO PARA ALEM DO CAPITAL CcOLECAO Mundo do Trabalho Coordenagao Ricardo Antunes TITULOS PUBLICADOS ALEM DA FABRICA. Marco Aurélio Santana ¢ José Ricardo Ramalho (orgs. A CAMARA ESCURA Alienacao e estranhamento em Marx Jesus Ranieri CRITICA A RAZAO INFORMAL A imaterialidade do salariado Manoel Malaguti DA GRANDE NOITE A ALTERNATIVA O movimeto operdrie europew em crite Alain Bibe A DECADA NEOLIBERAL £ A CRISE DOS SINDICATOS NO BRASIL Adalberto Moreira Cardoso DO CORPORATIVISMO AO NEOLIBERALISMO Estado ¢ trabalhadores no Brasil ¢ na Inglaterra Angela Araiijo (org.) © EMPREGO NA GLOBALIZAGAO Marcio Pochmanna FORDISMO E TOYOTISMO NA CIVILIZAGAO DOAUTOMOVEL Thomas Gounet HOMENS PARTIDOS. Comunistas ¢ sindicatos no Brasil Marco Aurélio Santana LINHAS DE MONTAGEM Oindustrialismo nacional-desenvolvimentisia ¢ a sindicalizagao dos trabalbadores (1945-1978) Antonio Luigi Negro OMISTER DE FAZER DINHEIRO Ausomatizacio e subjetividade no trabalho bancirio Nise Jinkings NEOLIBERALISMO, TRABALHO E SINDICATOS Reestruturagio produtiva na Inglaterra e no Brasil Haw Beynon, José Ricardo Ramalho, John ‘Mellroy ¢ Ricardo Antunes (orgs.) NOVA DIVISAO SEXUAL DO TRABALHO? Um olbar voltado pare a empresa ea sociedade Helena Hirata © NOVO (E PRECARIO) MUNDO DO TRABALHO Reestruturacdo produtiva e crise do sindicalismo Giovanni Alves PARA ALEM DO CAPITAL Rumo a uma teoria da tranigio Istvin Mészaros POBREZA E EXPLORAGAO DO TRABALH( NAAMERICA LATINA Pierre Salama O PODER DA IDEOLOGIA Istvin Mésziros O ROUBO DA FALA Origens da ideologia do trabalhismo no Brasil Adalberto Paranhos OSECULO XXI Socialismo ou barbdrie? Istvan Mészaros OSSENTIDOS DO TRABALHO Ensaios sobre aafirmasaio e « negagao do trabalhe Ricardo Antunes TERCEIRIZAGAO: (DES)FORDIZANDO AFABRICA Maria da Graga Druck ‘TRANSNACIONALIZACAO DO CAPITAL E fragmentacio dos trabathadares Joo Bernardo Istvan Mészdros A EDUCACAO PARA ALEM DO CAPITAL EDITORIAL © Istvan Meszaros Copyright desta edicio © Boitempo Editorial, 2005 Titulo original: Education Beyond Capital Copyris Coordenagio editorial Ivana Jinkings e Aluizio Leite Assisténcia ‘Ana Paula Castellani Tradugiéo Isa Tavares Rewisio da traducao Sergio Luiz Mansur ¢ Luis Gonzaga Fragoso Revisiio técnica Maria Orlanda Pinassi Capa Antonio Kehl sobre foro de Sebastiio Salgado (Terra, Sao Paulo, Companhia das Letras, 1997) © Sebastiso § Editoragao cletr Gap Design Produsito Marcel Iha Maringoni igado/Amazonas | Impressita © acabamento Bartira CIP-BRASIL. CATALOGAGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Rj, M55e Mésziros, Istvin, 1930- A educagio para além do capital / Istvin Mésziros ; radugio de Isa ‘Tavares, - Sao Paulo : Boitempo, 2005 “Tradugio de: Education beyond capital ISBN 85-7559-068-5 1, Educagio - Aspectos econdmicos, 2. Capitalismo, 3, Democracia, 4. Educagio e Estado. 1. Titulo. 05-2005, CDD 370.19 CDU 37.0154 ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a expressa aucorizagio da edivora, 1 edigio: julho de 2005 1" reimpressio: novembro de 2005 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Edivores Associados Ltda Rua Euclides de Andrade, 27 Perdizes 5030-030 Sio Paulo SP Tel./Fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869 e-mail; editora@boitempo.com site: www.boitempo.com do para além do capital autor 15 19 APRESENTACAO O ensaio que da titulo a este volume foi escrito por Istvan MészAros para a conferéncia de abertura do Forum Mundial de Educacio, realizado em Porto Alegre, no dia 28 de julho de 2004. Nesse texto, o professor emérito da Universidade de Sussex afirma que a educagio nao é um negécio, é cria- g40. Que educagio nao deve qualificar para o mercado, mas para a vida. Na sessdo inaugural no gindsio Giganti- nho, enfatizou o sentido mais enraizado da frase “a educa- ¢ao nao € uma mercadoria”. ~ Em A educacdo para além do capital, Mészdros ensina que pensar a sociedade tendo como parametro o ser huma- no exige a superacao da Idgica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na competigao seus fundamentos. Que educar é — citando Gramsci — colocar fim 4 separac4o entre Homo faber e Homo sapiens; é resgatar o sentido estruturante da educagao e de sua relagio com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatérias. E recorda que transformar essas idéias e princfpios em pra- ticas concretas é uma tarefa a exigir agdes que vao muito além dos espacos das salas de aula, dos gabinetes e dos féruns académicos. Que a educag¢ao nao pode ser encerrada no ter- 10 A educac&o para além do capital reno estrito da pedagogia, mas tem de sair as ruas, para os espacos ptiblicos, e se abrir para o mundo. Pensando na construgao da ruptura com a ldgica do capital, Mészéros reflete nas paginas deste livro sobre al- gumas quest6es de primeira ordem, tais como: Qual o papel da educagao na construgao de um outro mundo possivel? Como construir uma educagao cuja principal referéncia seja o ser humano? Como se constitui uma educagao que realize as transformag6es politicas, econémicas, culturais € sociais necessdrias? Istvan Meszaros nasceu em 1930, em Budapeste, onde completou os estudos fundamentais na escola publica. Pro- veniente de uma familia modesta, foi criado pela mie, ope- rdria, e por forca da necessidade tornou-se ele também — mal entrava na adolescéncia — trabalhador numa industria de avides de carga. Com apenas doze anos, o jovem Istvan alterou seu registro de nascimento para alcangar a idade minima de dezesseis anos ¢ ser aceito na fabrica, Passava, assim — como homem “adulto” —, a receber maior remu- nera¢do que a de sua mae, operdria qualificada da Standard Radio Company (uma corporagio transnacional estadu- nidense). A diferenga consideravel entre suas remunera- g6es semanais foi a primeira experiéncia marcante e a mais tangfvel em seu aprendizado sobre a natureza dos conglo- merados estrangeiros e da exploragao particularmente se- vera das mulheres pelo capital. Somente apds o final da Segunda Guerra, em 1945, péde se dedicar melhor aos estudos. Comecou a trabalhar como assistente de Georg Lukdcs no Instituto de Estética da Universidade de Budapeste em 1951 ¢ defendeu sua tese de doutorado em 1954/ Mészaros seria o sucessor de Lukacs Apresentagao 11 na Universidade, porém, apés o levante hiingaro de outu- bro de 1956, com a entrada das tropas sovi¢ticas no pais, exilou-se na Irdlia — onde lecionou na Universidade de Tu- rim —, indo posteriormente trabalhar nas universidades de St. Andrews (Escécia), York (Canada), ¢ finalmente em Sussex (Inglaterra), onde em 1991 recebeu o titulo de Pro- fessor Emérito. Autor de obra vasta e significativa, ganhador de pré- mios como o Attila Jézsef', em 1951, e 0 Isaac Deutscher Memorial, em 1970, Mészéros é considerado um dos mais importantes pensadores da atualidade. Sua experiéncia como operdrio que teve acesso ao estudo na Hungria socialista, em meio 4s grandes tragédias do século XX, foi possivel- mente determinante para a compreensao da educagao como forma de superar os obstdculos da realidade: Istv4n — assim como Donatella, sua companheira desde 1955 ¢ também professora na rede publica de ensino ~ sempre militou em defesa da escola das maiorias, das periferias, aquela que ofe- rece possibilidades concretas de libertagao para todos. Ele alerta, porém, que o simples acesso 2 escola é con- digao necessdria mas nao suficiente para tirar das sombras do esquecimento social milhdes de pessoas cuja existéncia sé € reconhecida nos quadros estat{sticos. E que o desloca- mento do processo de exclusao educacional nao se dé mais principalmente na questao do acesso 4 escola, mas sim den- tro dela, por meio das instituicées da educagio formal. O que est4 em jogo nao é apenas a modificagao politica dos Processos educacionais — que praticam e agravam o apartheid "Attila Jézsef (1905-1937), poeta htingaro por quem Mészdros nu- tre verdadeira paixdo, e a respeito de quem publicou o livro Attila Jozsef ¢ Varte moderna [Attila Jozsef ¢ a arte moderna], em 1964.

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