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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 18(1): 103-110, 2004 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO E PREVENÇÃO DO CRIME: A VISÃO ...

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO E
PREVENÇÃO DO CRIME
a visão dos coronéis da Polícia Militar

PAULO DE MESQUITA NETO

Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a visão dos coronéis da Polícia Militar do Estado de São Paulo que
participaram da direção da Comissão Estadual de Polícia Comunitária acerca do policiamento comunitário e
da sua importância para a prevenção do crime.
Palavras-chave: polícia; crime; São Paulo.

Resumo: The aim of this article is to analyze the point of view of the colonels of the Military Police of São
Paulo who participated in the State Commission on Community Policing with regard to the importance of
preventive community policing.
Key words: police; crime; São Paulo.

O
objetivo deste artigo é analisar a visão dos coro- POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
néis da Polícia Militar do Estado de São Paulo
que participaram da direção da Comissão Esta- O policiamento comunitário é uma filosofia de poli-
dual de Polícia Comunitária acerca do policiamento co- ciamento que ganhou força nas décadas de 70 e 80, quando
munitário e da importância do policiamento comunitário as organizações policiais em diversos países da América
para a prevenção do crime. Espera-se que a análise con- do Norte e da Europa Ocidental começaram a promover
tribua para a compreensão do processo de implantação do uma série de inovações na sua estrutura e funcionamento
policiamento comunitário e estimule o debate sobre o po- e na forma de lidar com o problema da criminalidade. Em
liciamento comunitário e a prevenção do crime no Estado países diferentes, as organizações policiais promoveram
de São Paulo. experiências e inovações com características diferentes.
A literatura sobre o policiamento comunitário mostra Mas, algumas destas experiências e inovações são
que a liderança exercida pelos chefes de polícia é um geralmente reconhecidas como a base de um novo modelo
fator fundamental para a implantação e consolidação de polícia, orientada para um novo tipo de policiamento,
deste tipo de policiamento. Neste sentido, analisar a vi- mais voltado para a comunidade, que ficou conhecido
são dos coronéis da Polícia Militar que participaram da como policiamento comunitário (Bayley; Skolnick, 2001;
direção da Comissão Estadual de Polícia Comunitária a Skolnick; Bayley, 2002).2
respeito do policiamento comunitário e da prevenção do Quatro inovações são consideradas essenciais para o
crime pode ajudar a compreensão do processo de implan- desenvolvimento do policiamento comunitário (Bayley;
tação do policiamento comunitário, incluindo as dificul- Skolnick, 2001:224-232; Skolnick; Bayley, 2002:15-39):
dades encontradas e os resultados alcançados, e das pos- - organização da prevenção do crime tendo como base a
sibilidades de consolidação deste tipo de policiamento comunidade;
no Estado de São Paulo. Este artigo é um esforço inicial - reorientação das atividades de policiamento para enfati-
nesta direção.1 zar os serviços não emergenciais e para organizar e mobi-

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lizar a comunidade para participar da prevenção do cri- - a centralização da autoridade na direção das polícias, e
me; a falta de capacidade da direção de monitorar e avaliar o
- descentralização do comando da polícia por áreas; trabalho das unidades policiais e profissionais de polícia;
- participação de pessoas civis, não-policiais, no planeja- - as divisões e conflitos entre os policiais da direção e os
mento, execução, monitoramento e/ou avaliação das ati- da ponta da linha, entre policiais experientes e os poli-
vidades de policiamento. ciais novos – e, no caso do Brasil, uma dificuldade adi-
cional seria a divisão e conflito entre os policiais respon-
Estudos de processos de implantação do policiamento
comunitário em diversos países apontam quatro fatores sáveis pelo policiamento ostensivo na polícia militar e
cruciais para a implantação e consolidação deste tipo de aqueles responsáveis pela investigação criminal na polí-
policiamento (Bayley; Skolnick, 2001:233-236): cia civil;
- envolvimento enérgico e permanente do chefe com os - as divisões e conflitos entre a polícia e outros setores da
valores e implicações de uma polícia voltada para a pre- administração pública;
venção do crime; - as divisões e conflitos entre grupos e classes sociais no
- motivação dos profissionais de polícia por parte do che- interior da comunidade.
fe de polícia; Diante destas dificuldades, há sempre o risco da opo-
- defesa e consolidação das inovações realizadas; sição e da resistência a experiências e inovações visando
- apoio público, da sociedade, do governo e da mídia. a implementação do policiamento comunitário, dentro e
Estes estudos apontam também as principais dificulda- fora da polícia. Mas há também um risco de que o policia-
des para a implantação e consolidação do policiamento mento comunitário venha a ser implantado como mais uma
comunitário (Bayley; Skolnick, 2001:237-241; Skolnick; atividade especializada, atribuída a unidades e a profis-
Bayley, 2002:71-92): sionais especializados, pouco integrados às unidades res-
ponsáveis pelo patrulhamento, atendimento a ocorrências
- a cultura tradicional da polícia, centrada na pronta
e investigação criminal. Ou mesmo o risco de que as uni-
resposta diante do crime e da desordem e no uso da força
dades policiais, quando passam a ter a responsabilidade
para manter a lei e a ordem e garantir a segurança pública;
de fazer o policiamento comunitário, dêem menos valor
- a expectativa ou a demanda da sociedade pela pronta às atividades de policiamento comunitário do que às ati-
resposta diante do crime e da desordem e pelo uso da força vidades tradicionais de polícia. Por exemplo, designando
para manter a lei e a ordem e garantir a segurança pública; para estas atividades menos tempo, menos recursos e/ou
- o corporativismo dos policiais, expresso principalmente profissionais menos qualificados.
através das suas associações profissionais, que temem a O papel das lideranças da polícia é, portanto, funda-
erosão do monopólio da polícia na área da segurança pú- mental para iniciar e sustentar experiências e inovações
blica, e conseqüentemente a redução do emprego, do sa- visando à introdução do policiamento comunitário.
lário e dos benefícios dos policiais, além daquele decor- Freqüentemente as dificuldades são apresentadas como
rente do crescimento da segurança privada, e também o uma explicação ou justificativa para a não implantação
aumento de responsabilização dos profissionais de polí- do policiamento comunitário ou para as limitações e
cia perante a sociedade; deficiências no processo de implantação do policiamento
- a limitação de recursos que a polícia dispõe para se de- comunitário. Há muitos casos em que a explicação ou justi-
dicar ao atendimento de ocorrências, a investigação cri- ficativa é válida. Mas há também muitos casos em que a
minal e a organização e mobilização da comunidade, es- explicação ou justificativa simplesmente mascara a falta
pecialmente se a demanda pelo atendimento de ocorrências de visão, vontade e/ou capacidade de ação das lideranças
e investigação criminal é grande (seja em virtude do nú- da polícia.
mero de ocorrências e crimes e/ou pela pressão do gover-
no e da sociedade); BRASIL – SÃO PAULO
- a falta de capacidade das organizações policiais de mo-
nitorar e avaliar o próprio trabalho e fazer escolhas entre No Brasil, as organizações policiais começaram a pro-
tipos diferentes de policiamento, levando em considera- mover experiências e inovações visando transformar sua
ção sua eficácia, eficiência e legitimidade; estrutura e funcionamento, bem como sua relação com a

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sociedade durante a transição para a democracia, particu- comando-geral da Polícia, com o objetivo de aperfeiçoar
larmente após a eleição direta dos governadores de esta- e intensificar o processo de implantação do policiamento
do em 1982. Em São Paulo, em 1985, durante o governo comunitário no Estado.
Franco Montoro, o governo do Estado começou a criar Ao lado das experiências locais e de outros estados
conselhos comunitários de segurança, existentes até hoje, brasileiros, as experiências de policiamento em outros
que se reúnem regularmente e contam com a participação países, particularmente nos Estados Unidos, no Canadá e
do delegado responsável pela Polícia Civil, do oficial res- no Japão foram analisadas e serviram como referência
ponsável pela Polícia Militar, e representantes da comu- importante para os oficiais da Polícia Militar e para os
nidade. membros da Comissão Estadual de Polícia Comunitária
No Rio de Janeiro, as idéias do policiamento comuni- no processo de implantação do policiamento comunitário
tário começaram a ser introduzidas na polícia militar pelo em São Paulo a partir de 1997.3
Cel. PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, comandante- Os coronéis que participam, ou participaram no
geral da Polícia Militar em 1983-84 e 1991-94, durante o passado, da direção da Comissão Estadual de Polícia
governo Leonel Brizola. Neste período, a Polícia Militar Comunitária, são também comandantes de área e têm sob
do Rio de Janeiro produziu um caderno sobre o policia- seu comando unidades operacionais da Polícia Militar.
mento comunitário em 1993 (PMRJ 1993) e traduziu para Estão, portanto, em uma posição privilegiada para
o português o livro Policiamento Comunitário: Como promover a implantação do policiamento comunitário no
Começar (Trojanowicz; Bucqueroux, 1994). Em 1993-94, Estado, influenciando a natureza das experiências e
a Polícia Militar, em parceria com a organização da so- inovações promovidas pela Polícia Militar nesta área.
ciedade civil Viva Rio, promoveu uma experiência de Além disso, devido à sua experiência à frente da Comissão
policiamento comunitário em Copacabana (Muniz et al., Estadual, estão em uma posição privilegiada para conhecer
1997). as possibilidades e as dificuldades para implantação deste
No Estado de São Paulo, desde o início da década de tipo de policiamento, bem como os resultados alcançados
90, a Polícia Militar começou a promover iniciativas lo- pela Polícia Militar através da implantação deste tipo de
cais de mudanças organizacionais que apontavam na di- policiamento.
reção do policiamento comunitário, sendo freqüentemen-
te citadas as experiências de Ribeirão Preto e Bauru. METODOLOGIA
Mediante um conselho geral da comunidade que funciona
junto ao comando-geral, a Polícia Militar chegou a ela- As fontes de dados para ao artigo foram as respostas
borar um projeto para implantação do policiamento co- de um grupo de sete coronéis a um questionário de 12
munitário em 1993 (PMSP, 1993). perguntas, aberto, preparado pelo autor. Foram inicialmen-
Em setembro de 1997, na seqüência do escândalo te escolhidos para responder o questionário 14 coronéis,
provocado por um caso de corrupção e violência policial incluindo os 13 coronéis que já participaram ou ainda par-
na Favela Naval em Diadema, município da Região Metro- ticipam da direção da Comissão Estadual de Polícia Co-
politana de São Paulo, e da eclosão de greves de policiais munitária, e um coronel, recentemente promovido a este
militares e civis em diversos estados do país, a Polícia posto, que participou intensamente das atividades da Co-
Militar, sob a liderança do Cel. PM Carlos Alberto de missão Estadual e do Departamento de Polícia Comunitá-
Camargo, adotou o policiamento comunitário como ria e Direitos Humanos da Polícia Militar.
filosofia e estratégia organizacional e criou, junto ao O Departamento de Polícia Comunitária e Direitos
comando-geral, uma Comissão de Assessoramento para Humanos auxiliou o levantamento de informações forne-
Implantação do Policiamento Comunitário, dirigida por cendo os telefones de contato de 12 dos 13 coronéis que
coronéis da Polícia Militar e integrada por representantes já participaram ou ainda participam da direção da Comis-
de unidades da Polícia Militar e entidades da sociedade são Estadual de Polícia Comunitária. Dos 14 coronéis pro-
civil (Mesquita Neto, 1999; Mesquita Neto; Affonso, curados pelo autor, nove já estavam na reserva, um esta-
1998). No ano 2000, a Polícia Militar reestruturou esta va passando da ativa para a reserva e quatro ainda estavam
comissão, que passou a chamar-se Comissão Estadual de na ativa.
Polícia Comunitária, e criou o Departamento de Polícia Dez dos 14 coronéis foram efetivamente contatados e
Comunitária e Direitos Humanos, também vinculado ao concordaram em responder o questionário. Três coronéis

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foram procurados, mas não retornaram ligações telefôni- é superior ao número de ocorrências dos crimes praticados
cas e/ou não responderam os e-mails. O autor não pôde com violência mencionados acima, atingindo, portanto, um
contatar, porque não teve acesso ao telefone ou e-mail, número maior de pessoas, foi citado como uma das
de um dos coronéis. principais fontes de insegurança por apenas um dos sete
O autor enviou o questionário por escrito aos dez co- coronéis.
ronéis contatados, incluindo coronéis que atuavam na ci- Questionados sobre as causas destes crimes, os coro-
dade de São Paulo e em cidades da Região Metropolita- néis apontam, em primeiro lugar, problemas econômicos,
na de São Paulo e do interior do Estado. Um deles, após sociais, culturais, particularmente deficit na área da edu-
receber o questionário, disse não dispor das informações cação e na área do emprego e renda, que por sua vez são
necessárias para respondê-lo. Dois outros não enviaram associados à ausência ou à fragilidade de políticas públi-
as respostas. Sete coronéis enviaram as respostas por es- cas nestas áreas. Dois coronéis apontam problemas de
crito ao autor. A análise apresentada a seguir, portanto, desestruturação familiar e, na esfera das atitudes e com-
reflete a visão de apenas um grupo de coronéis, não a portamentos individuais, o egoísmo e o consumismo, per-
visão do conjunto dos coronéis da Polícia Militar. Mas cebidos como atitudes e comportamentos estimulados pela
este é um grupo de coronéis que estiveram ou ainda es- mídia e associados à fragilização das leis e normas que
tão diretamente envolvidos no processo de implantação regulam a vida em sociedade.
do policiamento comunitário e têm conhecimento direto Os coronéis apontam também a impunidade, associa-
dos sucessos e fracassos, possibilidades e limites do po- da a problemas na aplicação da lei em decorrência de
liciamento comunitário no Estado. falhas na legislação e de deficiências nos sistemas de
O questionário e as respostas apresentadas pelos coro- segurança pública e justiça criminal. Quatro coronéis fa-
néis focalizaram os seguintes tópicos: zem referências explícitas a problemas relacionados à
- os crimes que mais contribuem para a insegurança da atuação da polícia: um refere-se ao distanciamento entre
população e suas causas; a Polícia e a comunidade; outro à subnotificação de cri-
- as ações para prevenção dos crimes relacionados; mes; outro ao desaparelhamento da polícia; e outro ao
crescimento da corrupção nas organizações dos sistemas
- a eficácia do policiamento comunitário para prevenção
de segurança pública e justiça criminal, associando este
dos crimes relacionados;
problema em parte ao crescimento do crime organizado
- a implantação e os resultados do policiamento comuni- e em parte a deficiências nos sistemas de controle inter-
tário em São Paulo; no e externo destas organizações.
- a consolidação e aperfeiçoamento do policiamento co- Dois coronéis, atentos aos fatores situacionais que au-
munitário em São Paulo. mentam o risco de mortes violentas, apontam a dissemi-
nação das drogas e do álcool e das armas de fogo, associa-
CRIME E INSEGURANÇA dos ao crescimento do crime organizado, particularmente
do tráfico de drogas, como fatores importantes para o au-
Na visão dos sete coronéis da Polícia Militar que mento da criminalidade e da insegurança da população.
responderam o questionário, os crimes que mais con- Um coronel aponta a procura de recursos para compra de
tribuem para a insegurança da população no Estado de drogas como um fator importante para explicar o aumen-
São Paulo são os crimes violentos, que atingem ou to de roubos e furtos, e a insegurança dos criminosos na
ameaçam atingir a vida e a integridade física das pessoas. prática de roubos e furtos, principalmente diante de uma
Os crimes mais citados são o homicídio e o roubo, reação da vítima, como fator responsável pela ocorrência
havendo referências explícitas ao roubo praticado com de mortes violentas, registradas como homicídios ou la-
arma de fogo e ao roubo seguido de morte (latrocínio). trocínios.
Também são mencionados crimes cuja prática fre- Um coronel aponta a falta de integração entre o gover-
qüentemente envolve grupos organizados, como o tráfico no federal, os governos estaduais e os governos munici-
de drogas, contrabando, receptação, e prostituição pais, e também a demagogia ou ideologia, na sociedade e
infanto-juvenil. no governo, como obstáculos ao desenvolvimento de po-
O furto, crime praticado sem violência, mas cujo líticas públicas para redução da criminalidade e melhoria
número de ocorrências registradas pela Polícia no Estado da segurança pública.

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PREVENÇÃO DO CRIME INTEGRAÇÃO DA POLÍCIA COM A


COMUNIDADE
Para a prevenção dos crimes mencionados acima, os
coronéis enfatizam a importância do fortalecimento das Na visão dos coronéis, o policiamento é uma das ativi-
políticas públicas nas áreas econômica, social e cultural, dades necessárias para a prevenção criminal, mas, isola-
particularmente na área da educação e na geração de damente, tem efeitos limitados sobre a situação da segu-
emprego e renda, e também da redução da impunidade rança pública no Estado. Apesar destas limitações, o
através de mudanças na legislação e do aperfeiçoamento policiamento comunitário é considerado um tipo de poli-
da atuação das organizações dos sistemas de segurança ciamento capaz de contribuir para a melhoria da seguran-
pública e justiça criminal. Um coronel enfatiza a impor- ça pública, principalmente quando promover a integração
tância do desenvolvimento de políticas econômicas, sociais de esforços da polícia e da comunidade no desenvolvi-
e culturais direcionadas a crianças, adolescentes e jovens mento de programas de prevenção do crime e gestão lo-
como medida fundamental para evitar o recrutamento cal da segurança pública.
destes grupos pelo grupo crime organizado. Um coronel As razões pelas quais o policiamento comunitário é
enfatiza a importância de políticas penitenciárias capazes considerado eficaz na prevenção do crime são variadas
de recuperar e promover a reinserção social dos cri- na visão dos coronéis. Primeiro, o policiamento comuni-
minosos. tário é um tipo de policiamento voltado para a prevenção
Dois coronéis fazem referência explícita ao policiamen- criminal, e não apenas para o atendimento de ocorrências
to comunitário, em resposta à pergunta sobre o que pode- e investigação criminal. Segundo, o policiamento comu-
ria ser feito para a prevenção dos crimes que geram inse- nitário promove a integração dos esforços da polícia e da
gurança da população no Estado de São Paulo. Um coronel comunidade na tentativa de eliminar as causas da violência.
enfatiza a importância de estudos e análises visando iden- Terceiro, o policiamento comunitário integra a polícia e a
tificar a natureza e as causas específicas da incidência de comunidade na definição de prioridades em relação à
crimes em cada local, bairro ou cidade, a fim de que seja prevenção criminal e permite a adequação da atuação da
possível identificar a melhor estratégia de ação policial polícia às necessidades da comunidade. Quarto, o
para cada caso. policiamento comunitário, pela aproximação entre a polícia
Na visão do conjunto dos coronéis, deve haver maior e a comunidade, é um tipo de policiamento que permite a
integração das ações governamentais entre a União, os melhor administração e resolução de conflitos e problemas
estados e os municípios, tanto na área das políticas eco- na sua origem. Quinto, o policiamento comunitário,
nômicas, sociais e culturais quanto na área das políticas também pela aproximação entre a polícia e a comunidade,
de segurança pública e das políticas criminais e peniten- é um tipo de policiamento que a aumenta a segurança e a
ciárias. Um coronel enfatiza a importância da constitui- motivação dos policiais e dos membros da comunidade
ção de forças-tarefas para prevenção de crimes, a partir no enfretamento da criminalidade.
do município, com a participação de organizações poli- Os coronéis apontam a redução da criminalidade e
ciais federais, estaduais e municipais, e acompanhamento também o aumento da confiança da comunidade na polícia
de lideranças comunitárias. Outro coronel destaca a im- como as principais evidências da eficácia do policiamento
portância da integração das ações de organizações poli- comunitário, e acreditam que a efetiva implantação do
ciais, outras organizações governamentais e organizações policiamento comunitário contribui para a prevenção do
da sociedade num mesmo Estado, bem como de intercâm- crime e o aumento da sensação de segurança da população.
bio de experiências entre organizações policiais em esta- Fazem referência a experiências internacionais, parti-
dos diferentes. cularmente nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Japão,
Um coronel faz referência à necessidade de valoriza- para mostrar que a efetiva implantação do policiamento
ção dos profissionais de polícia e outro faz referência à comunitário contribui para a redução da criminalidade.
necessidade de aperfeiçoamento da formação e qualifica- Em relação a experiências no Brasil, os coronéis men-
ção profissional dos policiais e da gestão das organiza- cionam avanços e retrocessos na tentativa de implantação
ções policiais, visando diminuir a corrupção e a violência do policiamento comunitário, mas apontam como exem-
na polícia, aumentar a sua eficácia e eficiência e princi- plo de experiência bem-sucedida o policiamento comuni-
palmente a sua legitimidade perante a sociedade. tário implantado em algumas regiões da cidade de São

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Paulo (Jardim Ângela, Belém, Centro, Brás, Santana, ce, mais do que uma nova filosofia e estratégia organiza-
Brooklin, Higienópolis, Favela Pantanal e Favela Alba), cional da Polícia Militar.
Santo André (Sacadura Cabral), Ribeirão Preto (Oeste), Na visão dos coronéis, o policiamento comunitário pode
Bauru, Presidente Prudente, Andradina, Araraquara, São ser considerado implantado no Estado, mas precisa de
José dos Campos, Jundiaí e Santos (Campo Grande). ajustes e aperfeiçoamentos e ainda não está consolidado.
Os coronéis enfatizam a importância da difusão de infor-
IMPLANTAÇÃO E RESULTADOS mações sobre a filosofia de policiamento comunitário na
Polícia Militar através de normas internas e cursos de for-
Em relação à adoção do policiamento comunitário como mação e aperfeiçoamento profissional. Enfatizam também
filosofia e estratégia organizacional pela Polícia Militar em o estabelecimento de bases de polícia comunitária, e a
1997, os coronéis fazem referência à influência de três fa- formação de parcerias entre a Polícia Militar e a comuni-
tores, que podem ser considerados complementares. dade para a melhoria da segurança pública em áreas de
O primeiro diz respeito à busca da excelência por par- maior incidência de crimes.
te da Polícia Militar, a partir da incorporação de lições de Por outro lado, alguns coronéis registram dúvidas sobre
experiências locais e de experiências internacionais de o enraizamento dos princípios de polícia comunitária. Na
policiamento comunitário. Outro exemplo desta busca da opinião de um coronel, o modelo tradicional de policia-
excelência, paralelo e complementar à adoção do policia- mento ainda se encontra fortemente arraigado na prática
mento comunitário, seria a adoção do programa da quali- policial. Outro coronel diz que o modelo de tradicional
dade pela Polícia Militar. de policiamento muitas vezes se mantém sob a roupagem
O segundo diz respeito à busca de uma nova filosofia e do policiamento comunitário. Dois coronéis dizem que o
estratégia organizacional por parte da Polícia Militar, mais policiamento comunitário ainda é muito dependente das
centrada em ações de natureza preventiva, que valorizas- iniciativas individuais de profissionais de polícia.
se o policiamento ostensivo. Esta busca aconteceria após Os coronéis apontam algumas dificuldades para a im-
o fracasso de um projeto denominado “rádio patrulhamento plantação e consolidação do policiamento comunitário.
padrão”, devido a não participação da comunidade no Estas dificuldades incluem a falta de apoio por parte de
projeto e à pressa em desenvolvê-lo por razões políticas, setores do governo, da sociedade e mesmo da polícia,
e, especialmente, após o escândalo e a cobrança de mu- muitas vezes atribuído ao desconhecimento das caracte-
danças na estrutura e no funcionamento da polícia na se- rísticas do policiamento comunitário, e especialmente à
qüência da denúncia de um caso de corrupção e violência idéia de que o policiamento comunitário implica o
policial na Favela Naval, em Diadema, cidade da Região favorecimento ou tratamento especial dos setores da co-
Metropolitana de São Paulo. munidade que colaboram com a polícia e/ou de que o po-
Um terceiro fator mencionado pelos coronéis diz liciamento comunitário reduz a capacidade de ação repres-
respeito ao processo de organização e mobilização da siva da polícia. Incluem também a resistência de oficiais
sociedade e à busca pela Polícia Militar de mudanças e/ou praças da Polícia Militar, e também dos policiais ci-
organizacionais e operacionais, particularmente no seu vis, decorrentes da cultura tradicional da polícia, e da cren-
relacionamento com a sociedade, visando dar respostas a ça de que o policiamento comunitário é um fenômeno
novas expectativas da sociedade e integrar esforços da passageiro. Estes fatores contribuiriam para a insuficiên-
polícia e da sociedade na direção de objetivos comuns. cia dos recursos humanos e materiais direcionados para o
Há, entretanto, visões diferentes sobre a natureza do policiamento comunitário.
policiamento comunitário. Na visão de um dos coronéis, Os coronéis apontam ainda dificuldades de gestão, in-
o policiamento comunitário seria um tipo de policiamen- cluindo planejamento, execução, monitoramento e ava-
to que reforça idéias e práticas que sempre existiram na liação do processo de implantação do policiamento co-
polícia, através de uma maior aproximação entre a polí- munitário, que deixam o processo de implantação, em
cia e a comunidade. Na opinião de outro coronel, entre- grande parte, na dependência das idéias e interesses dos
tanto, o policiamento comunitário seria uma solução emer- responsáveis por cada unidade policial e, assim, aumen-
gencial, diante da situação de abandono de muitas tam o risco de desvios na implantação deste tipo de po-
comunidades, até que seja possível a implementação de liciamento. Um problema específico nesta área, citado
políticas econômicas, sociais e culturais de maior alcan- por dois coronéis, é a rotatividade dos policiais e a difi-

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culdade de fixar os policiais em uma função ou área, em humanos e materiais destinados ao policiamento comu-
todos os níveis da organização. Outro problema é a pressa nitário, e no monitoramento e avaliação dos resultados das
na implantação do policiamento comunitário, devido a experiências de policiamento comunitário. Um coronel
razões políticas, sendo que, na visão de quase todos, a enfatizou a importância do fortalecimento do papel do
implantação do policiamento comunitário é um proces- comandante de companhia como gestor local da segurança
so lento e de longo prazo. Outra dificuldade menciona- pública. Nesta visão, os comandantes de companhia seriam
da ainda é a diversidade de situações locais e as particu- responsáveis pela resolução dos problemas e melhoria da
laridades de cada comunidade, que exigem estilos segurança pública, a partir da adequada utilização dos
diferentes e estratégias diferentes de implantação do poli- recursos policiais e comunitários disponíveis na área, e
ciamento comunitário. os resultados obtidos seriam constantemente monitorados
Na esfera local, uma dificuldade seria a adequada com- e avaliados pelo comando da polícia.
preensão das necessidades da comunidade em matéria de Outro fator é o engajamento efetivo da polícia e da co-
segurança pública, por parte da polícia e da comunidade, munidade no policiamento comunitário, na discussão e
a partir da troca de informações, do conhecimento dos desenvolvimento de práticas de policiamento comunitá-
fatos, para definição consensual, não unilateral, dos pro- rio e programas de prevenção do crime e da violência.
cedimentos a serem adotados pela polícia e pela comuni- Neste sentido, foi também ressaltada a importância da
dade para prevenção do crime. sensibilização da mídia e de lideranças da polícia e da co-
Apesar destas dificuldades, os coronéis consideram munidade, e de campanhas para difusão de informação
bem-sucedido o processo de implantação do policiamen- sobre as características do policiamento comunitário e
to comunitário no Estado e apontam, como principais re- divulgação de experiências bem-sucedidas de policiamento
sultados da implantação deste tipo de policiamento, a apro- comunitário. Um coronel mencionou a necessidade de
ximação entre a Polícia Militar e a comunidade e a implantação de bases comunitárias em todo o Estado, res-
formação de parcerias entre as mesmas para o desenvol- saltando, entretanto, que a implantação não deve imobili-
vimento de programas de prevenção do crime. Os coro- zar os policiais, uma vez que os policiais devem se apro-
néis apontam também a redução da criminalidade e o au- ximar da comunidade para desenvolver projetos voltados
mento da sensação de segurança da população nos locais para a prevenção do crime.
em que o policiamento comunitário foi implantado como Um terceiro fator é um engajamento do governo esta-
um resultado deste tipo de policiamento. Um coronel che- dual, do governo federal e dos governos municipais, in-
gou a relacionar a implantação do policiamento comuni- cluindo um maior envolvimento na implantação da polí-
tário à estabilização e até redução das taxas de diversos cia comunitária da polícia civil, polícia técnico-científica
crimes no Estado a partir do ano 2000. Ao mesmo tempo, e outras agências do governo estadual, e parcerias com as
um coronel observa que, nos locais onde o policiamento guardas municipais.
comunitário é implantado, a polícia passa a ser mais pro-
curada pela população e há um aumento do número de re- CONCLUSÃO
gistros de ocorrências de alguns crimes que antes deixa-
vam de ser registrados. O objetivo deste artigo é principalmente apresentar a
visão de um grupo de coronéis da Polícia Militar sobre o
CONSOLIDAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO policiamento comunitário e a prevenção do crime no Es-
tado de São Paulo. O artigo não teve por objetivo expli-
Para os coronéis que responderam o questionário, a car ou interpretar, e muito menos comentar, criticar ou
consolidação e o aperfeiçoamento do policiamento comu- elogiar, a visão dos coronéis. Mas pretendeu estabelecer
nitário constituem objetivo desejável, mas dependente de relações entre a visão dos coronéis e as idéias presentes
uma série de fatores, alguns deles dentro e outros fora do na literatura sobre o policiamento comunitário, e contri-
alcance da Polícia Militar. buir para a compreensão do processo de implantação des-
Um fator é a ação constante e determinada das lideran- te tipo de policiamento no Estado de São Paulo.
ças da polícia no fortalecimento do policiamento comu- Esta breve apresentação da visão dos coronéis mostra
nitário, particularmente na formação e aperfeiçoamento a complexidade do processo de implantação e consolida-
profissional dos policiais, na ampliação dos recursos ção do policiamento comunitário, bem como a diversida-

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de de pontos de vistas existente na Polícia Militar em re- cipam ou participaram da direção da Comissão Estadual de Polícia
Comunitária, que foram contatados, mas por razões diversas não pu-
lação a este processo. Mostra também que, na visão dos deram responder o questionário dentro do prazo solicitado.
coronéis, apresentada no artigo, o policiamento comuni- 2. Um estilo de policiamento comunitário centrado no estabelecimento
tário foi implantado no Estado de São Paulo devido ao de postos de polícia denominados Koban foi implantado no Japão após
a 2a Guerra Mundial, resultado da combinação de um modelo tradicional
empenho de lideranças e grupos situados no interior da de polícia desenvolvido no Japão no século XIX e ideais democráticos
Polícia Militar, com apoio de organizações e grupos da norte-americanos (Bayley; Skolnick, 2002:52). Entretanto, foi apenas
nas décadas de 70 e 80, com o desenvolvimento de experiências de
sociedade civil, mas sem muito apoio da Polícia Civil e policiamento na América do Norte e Europa Ocidental que esse tipo
de outras organizações do governo estadual, das prefeitu- de policiamento tornou-se mais conhecido internacionalmente.
ras municipais e do governo federal. De acordo com esta 3. O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e
visão, o maior envolvimento do governo estadual e das o Centro de Pesquisa e Educação em Direitos Humanos da Universi-
dade Ottawa desenvolveram um programa de intercâmbio internacio-
prefeituras municipais, com apoio do governo federal, é nal através do qual policiais civis e militares e líderes comunitários
percebido como fator importante para a consolidação e o paulistas realizaram visitas ao Canadá e policiais e líderes comunitá-
rios canadenses realizaram visitas ao Brasil, para trocar informações e
aperfeiçoamento do policiamento comunitário e a preven- experiências na área do policiamento comunitário e do controle exter-
ção do crime no Estado. no da polícia. A Polícia Militar do Estado de São Paulo desenvolveu
um programa de intercâmbio com a Polícia Nacional do Japão, atra-
Entretanto, na visão dos coronéis, as dificuldades na vés do qual policiais japoneses realizam visitas ao Brasil e policiais
implantação do policiamento comunitário derivam não militares brasileiros realizam visitas ao Japão para trocar informações
e experiências na área do policiamento comunitário. A experiência dos
apenas de fatores externos, mas também de fatores inter- Estados Unidos ficou conhecida principalmente através do livro Poli-
nos à Polícia Militar, que estão freqüentemente relacio- ciamento Comunitário: Como Começar (Trojanowicz; Bucqueroux,
nados aos externos, sendo que muitas dificuldades apon- 1994), traduzido para o português pela Polícia Militar do Rio de Ja-
neiro e reeditado pela Polícia Militar de São Paulo em 1999.
tadas pelos coronéis coincidem com as dificuldades
apontadas pela literatura sobre o policiamento comunitá-
rio. Entre as dificuldades de natureza interna à polícia ci-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tadas pelos coronéis, chama atenção a dificuldade de ges-
tão da organização, particularmente para planejar, BAYLEY, D.H.; SKOLNICK, J.H. Nova Polícia: inovações nas polí-
cias de seis cidades norte-americanas. Tradução de Geraldo Ger-
implementar, monitorar e avaliar uma mudança organiza- son de Souza. São Paulo: Editora da USP, 2001.
cional, que implica uma certo grau de descentralização MESQUITA NETO, P. de. Policiamento Comunitário: a experiência
do comando, com a participação de policiais de todos os em São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo,
setores da organização e lideranças da comunidade. Nes- Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, ano 7, n.25, p.281-292,
jan./mar. 1999.
te sentido, parece importante procurar compreender as
MESQUITA NETO, P. de.; AFFONSO, B. Policiamento Comunitá-
razões pelas quais a Polícia Militar implementa de forma rio: a experiência em São Paulo. São Paulo: Núcleo de Estudos da
paralela e quase segregada os processos de implantação Violência da Universidade de São Paulo, 1998. Manuscrito.
do policiamento comunitário e da gestão pela qualidade, MUNIZ, J. et al. Resistências e dificuldades de um programa de poli-
ciamento comunitário. Tempo Social, São Paulo, Departamento
apresentados como exemplo da busca de excelência por de Sociologia da Universidade de São Paulo, v.9, n.1, p. 197-213,
um dos coronéis, e, eventualmente, verificar a possibili- maio 1997.
dade de integrar os dois processos em benefício do aper- PMRJ. Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Cadernos de Po-
lícia – Policiamento Comunitário. Rio de Janeiro: PMRJ, 1993.
feiçoamento da atuação da polícia na prevenção do crime
PMSP. Polícia Militar do Estado de São Paulo. Projeto Polícia Co-
e da melhoria da segurança pública. munitária: implantação de modelo e ação educativa. São Paulo:
PMSP, Conselho Geral da Comunidade, 1993.
SKOLNICK, J.H.; BAYLEY, D.H. Policiamento Comunitário. Tra-
dução de Ana Luísa Amêndola Pinheiro. São Paulo: Editora da
NOTAS USP, 2002.
TROJANOWICZ, R.; BUCQUEROUX, B. Policiamento Comunitá-
1. O autor agradece a colaboração do Departamento de Polícia Comu- rio: como começar. Tradução Mina Seinfeld de Carakushansky.
nitária e Direitos Humanos da Polícia Militar do Estado de São Paulo Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1994.
e dos sete coronéis que contribuíram para a realização deste estudo, Reeditado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, 1999.
respondendo a perguntas de um questionário sobre policiamento co-
munitário e prevenção do crime: Cel. Res. PM Carlos Adelmar Ferreira,
Cel. Res. PM Cid Monteiro de Barros, Cel. Res. PM Luis Francisco
Coscione, Cel. Res. PM Rui César Melo, Cel. PM Noel Miranda de PAULO DE MESQUITA NETO: Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violên-
Castro, Cel. PM Renato Penteado Perrenoud e Cel. PM Rubens Casa- cia da Universidade de São Paulo, Secretário-Executivo do Instituto São
do. O autor agradece também a atenção dos outros coronéis que parti- Paulo Contra a Violência (pmesquit@usp.br).

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