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1) Jerome Baschet e Hilário Franco Jr.

fazem uma excelente e precisa análise


sobre os conceitos e preconceitos criados em torno do período da Idade Média.
Jerome Baschet expressa um ponto de vista de um demasiado período que se
sobrepõem a ideia de que a Idade Média foi um período de confusas trevas,
apontando os erros e enganos comuns que a população geral tem sobre a época.

Partindo do início, até mesmo seu nome tem uma origem no pré-conceito
formado por ideias errôneas a respeito do período. O nome Idade Média vem da ideia
de um período de barbárie, ignorância e superstição. A partir daí o autor preza por
uma análise minuciosa a respeito da civilização feudal, observando todas suas
contribuições e desmistificando essa ideia de idade das trevas. Mostrando Além disso,
como a “Idade Média” não se restringiu apenas a Europa, e sim até mesmo a América,
desembocando assim, em uma influência geral não só na região europeia onde
costumamos pensar quando falamos em Idade Média, mas sim em todo o mundo,
pois influenciando as conquistas hispânicas na América, todas as próximas gerações
carregariam essa herança de valores descendentes dos costumes da Idade Média.

Como o próprio autor nos diz, essa construção do passado acaba afetando
diretamente o presente, pois esse olhar preconceituoso sobre a época, carregada por
ideias defasadas de veracidade se torna em uma espécie de repudio para novos
historiadores. Isso justifica o porquê de entre todas as matérias e épocas de estudo,
o estudo sobre História Medieval é o mais difícil e com menos fontes confiáveis, devido
ao fato de que com o decorrer dos anos e dos séculos, essa ideia de repúdio a Idade
Média, foi sendo levada cercada com pré-conceitos como que essa seria uma época
negra, que deveria ser apagada da História. O que acaba apenas atrasando os
estudos e diminuindo os espaços dos historiadores para avançar em seus campos
atualmente. Essa ideia começou a ser deixada de lado apenas no século XX, onde o
período começou a ser estudado como ele realmente foi, e não com uma visão a
posteriori da época. Mas como nada é perfeito, após os historiadores começarem a
observar a época dessa forma, eles caíram em outra questão, pois os próprios
cidadãos medievos não sabiam como eles eram, e com isso, tiramos outra conclusão
de como o estudo sobre a época medieval foi importante, pois conseguimos ver que
quem está vivendo na época, seja lá qual época for, não consegue definir o momento
histórico em que vive, apenas após a época é que conseguimos fazer uma “análise
precisa do que se passou, por exemplo. Depois de vermos tudo isso, concluímos que
por mais que as ideias preconceituosas criadas com o passar dos anos sobre a Idade
Média tinham fundamentos, elas já vinham de outros anos, e essa passagem de um
século para o outro, acabou virando nessa bola de neve de ideias errôneas sobre o
período, que na verdade foi um período com muita importância que deixou diversas
influências para as próximas “idades”.

2) Le Goff nos mostra através de seu livro, como o período da Idade Média não
é o que pensamos, ou o que a ideia do senso comum nos diz sobre. Ele passa por
vários pontos diferentes, porém seu foco é desfazer muitos preconceitos que temos
em relação à Idade Média, tema também já abordado por Jerome Baschet e Hilário
Franco Jr. E Le Goff mostra como não existe uma ruptura temporal exata, pois existem
uma mescla de fatores que desembocam na Idade Média e não é de uma hora para
a outra. É feita de vários "pequenos renascimentos", não sendo um período de forma
algum estático e que permanece até hoje na cultura europeia e também em culturas
influenciadas diretamente pelo período. Essa baliza temporal que limita tanto o início
quanto o fim da Idade Média é desconstruída pelos autores, pois falam que não houve
uma data especifica e sim, que houve uma Longe Idade Média, que durou pelo menos
mil anos, começando já no século IV, onde haviam iniciado as grandes invasões dos
povos que os romanos chamavam de 'bárbaros'. Termo esse também que foi
reconstruído, pois a ideia de bárbaros vinha de brutalidade, de que eles eram rudes,
sem cultura própria, porém na verdade, eles também tinham sua cultura, mas eram
chamados assim por não falaram a língua nativa do país e serem estrangeiros. Eles
vieram, primeiramente, do Norte (germânicos e outros povos nórdicos da Europa), do
Oeste (celtas), e tardiamente, do Leste (húngaros e eslavos). Na verdade, mais do
que invasões ao pé da letra, estavam mais para deslocamentos, na maioria das vezes
pacíficos, de populações que iam se abrigar mais ao sul. Mesmo os vikings, diversas
vezes, ao invés de desembarcar nas costas da Normandia (norte da França) para
depredar e roubar, eram na verdade, muitas vezes, mercadores que vinham do Norte
e acabaram por se instalar onde hoje é a França.

As dificuldades em obter essas balizas temporais também estão ligadas a


falta de documentos escritos que comprovem esses fatos, criando assim, diversas
versões diferentes, cheias de subjetivismo.

Le Goff não acredita que o período da Idade Média tenha acabado no fim do
século XV, mas sim, tenha se estendido, criando a Longa Idade Média, que seria até
o século XVI. Devido a uma série de fatores que não haviam mudado, e sim
permanecido da mesma forma que quando no período do Século XV. “A mesma
dependência de uma economia rural à mercê das fomes, a mesma fragilidade das
máquinas, a mesma vida urbana em que a burguesia não chegava a conquistar o
poder, a mesma forte presença da Igreja, as mesmas mentalidades “feudais”, e o
impacto sempre forte de crença no milagre, os métodos sempre escolásticos de
ensino universitário, os mesmos ritos monárquicos. ” (LE GOFF, Jacques. Uma longa
Idade Média. In: Em busca da Idade Média. 6a ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2014, pág. 14).

Diferentemente do que os livros didáticos falam, Le Goff não acredita que a


Idade Média tenha acabado com a “ruptura do renascimento” e sim com a Revolução
Industrial na Inglaterra e com a Revolução Francesa. Porém, os fragmentos e
influências da Idade Média ainda deixam seus resquícios até mesmo no Século XIX.

E nos estudos mais recentes, essa ideia vem se mostrando cada vez mais
verídica, pois mostra exatamente o que ele falava, essa desmistificação de que a
Idade Média foi apenas de atraso e de coisas ruins ou inúteis. Ele cita e comenta em
seu livro, vários acontecimentos que foram deixados de lado nos estudos dos
historiadores que se dedicaram a estudar essa fase de transição, e não de ruptura.
Mostrando que o Trabalho do Historiador é analisar todas as diferentes épocas sem
julgar, pois, quando faz isso, acaba interferindo no processo natural progressivo
relacionado a história. E além disso, mostra a importância de como faz diferença, fazer
essa análise de forma completa, pois analisando os detalhes da época e não apenas
os fatos que serviam de baliza para marcar a ruptura das Idades, ele conseguiu chegar
a conclusões que ajudaram a História como um todo a evoluir e progredir. Mudando
assim não apenas a ideia sobre a época, mas toda uma futura série de pesquisas
sobre o tema, principalmente em áreas como a História Medieval, onde o número de
fontes escritas sobre a época é reduzido, e todo estudo pode ter total influência sobre
outros.

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