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TECNOLOGIA DE VEDAÇÕES VERTICAIS

CAPÍTULO 4: O PROJETO DA ALVENARIA

4.1 INTRODUÇÃO
O projeto das paredes de vedação em alvenaria objetiva especificar os
materiais e técnicas a serem adotadas e conceber os detalhes construtivos
capazes de conferir à parede as características e propriedades necessárias ao
cumprimento satisfatório das funções que lhe forem atribuídas na edificação,
respeitados os prazos e custos previstos no planejamento global da obra para a
execução do serviço.
Ao responsável pelo projeto será necessário conhecer e compatibilizar as
características da estrutura de concreto, da alvenaria e dos revestimentos de
maneira a assegurar o seu adequado desempenho como parede de vedação
externa ou interna, face às condições do meio ambiente.

4.2 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS CONDICIONANTES DE PROJETO


Inicialmente, deve-se proceder ao levantamento e análise dos fatores
determinantes do projeto de alvenaria, observando-se:
• exigências e limitações dos projetos arquitetônico, estrutural, instalações
hidro-sanitárias, elétricas, impermeabilização, esquadrias;
• condições ambientais determinantes das exigências de contato
higrotérmico e acústico no interior das edificações.
• grau de exposição e solicitação a que estarão submetidas tanto as
fachadas quanto as divisórias internas.
• insumos disponíveis: materiais, equipamentos e qualidade da mão-de-obra.
• planejamento global da obra: prazos e custos.
Com base neste levantamento e analisadas as inter-relações entre os diversos
fatores determinantes, o projetista possuirá subsídios para a elaboração do
projeto para produção de alvenaria que deverá conter basicamente:
• especificação dos materiais e técnicas executivas;
• plantas e elevações de definição da alvenaria;
• detalhamento construtivo;
• especificação do padrão de qualidade, tolerâncias.
Deve-se ainda prever durante a elaboração do projeto, como uma etapa do
cronograma de obra, o momento de revisão do projeto das paredes. Esta etapa,
anterior à marcação da alvenaria, objetiva identificar eventuais alterações
ocorridas durante a execução da estrutura, além de verificar se a disponibilidade
e qualidade da mão-de-obra, materiais e equipamentos condiz com as
determinações anteriormente feitas.
4.3 EXIGÊNCIAS E LIMITAÇÕES CONTIDAS NOS PROJETOS

4.3.1. Projeto Arquitetônico


Deverão ser obtidas, a partir do projeto arquitetônico, informações referentes a:
• dimensões das paredes (comprimentos, largura e espessura das paredes
acabadas);
• dimensões internas dos ambientes;
• localização das aberturas de portas, janelas e instalações especiais,
dimensões dos vãos;
• características dos revestimentos;
• detalhes construtivos de fixação das esquadrias, peças suspensas, etc.
• tratamento de juntas nas interfaces dos vãos e paredes e também nas
ligações das paredes com os componentes estruturais;
• previsão de juntas de controle;
• detalhes arquitetônicos que interfiram nas características e na execução da
alvenaria, tais como sacadas, beirais, platibandas, peitoris, ressaltos e
reentrâncias para proteção da fachada.
Estas informações básicas deverão ser identificadas no projeto arquitetônico e
comparadas com os projetos estruturais e de instalações. Os itens não previstos
no projeto arquitetônico e que possam vir a comprometer o desempenho da
alvenaria deverão merecer maiores cuidados, especialmente no que se refere ao
detalhamento construtivo das ligações das paredes com os demais componentes
da edificação.

4.3.2 Projeto Estrutural


Além das informações referentes ao tipo e dimensões dos componentes
estruturais, é essencial verificar se na concepção estrutural a alvenaria funciona
como travamento da estrutura. Neste caso é necessário que exista um elevado
grau de ligação entre ambas, obtido através do encunhamento da alvenaria com
a estrutura na sua parte superior (fixação com vigas e lajes) e através da efetiva
ligação nas laterais (pilares). Mesmo se tratando apenas de alvenaria de
vedação, algumas particularidades referentes às técnicas de fixação da
alvenarias à estrutura devem ser consideradas.

4.3.3 Projeto de Instalações Hidro-Sanitárias, Elétricas e Outras


As informações básicas se referem a:
• disposição e localização dos ramais hidráulicos, previsão de kits hidráulicos
• utilização de “shafts” verticais
• instalação de peças sanitárias
• passagem de tubulação elétrica
• pontos de luz, tomadas e interruptores
• instalação de incêndio
• instalação de gás
• instalações telefônicas
• equipamentos especiais
De posse destes dados, é fundamental verificar dentro da programação geral da
obra, o planejamento das atividades de instalações. Normalmente, estas
atividades quando não planejadas devidamente são responsáveis por
danificações e abalos posteriores a execução da alvenaria, comprometendo a
integridade e homogeneidade do pano da parede, além do desperdício de mão
de obra e materiais para sua reconstituição.
Ao se projetar a alvenaria deve-se privilegiar as alternativas que possam
incorporar as instalações em grandes quebras ou cortes na parede como:
previsão de “shafts” verticais, seccionamento de trechos de parede para
tubulação de maior diâmetro, construção de paredes hidráulicas, etc.

4.3.4 Condições ambientais


O conhecimento das condições ambientais é necessário principalmente para o
dimensionamento da capacidade de isolamento térmico e acústico da parede e
de sua resistência e penetração de água. Ressalta-se que, além das
características da parede, o desempenho global do sistema de vedação vertical e
do edifício frente a estas exigências é influenciado por uma série de outros
fatores.
Entretanto, ao se considerar o comportamento individual das paredes, é
importante a determinação das características que devem ter os blocos e a
escolha das argamassas adequadas – tanto para o assentamento quanto para o
revestimento – capazes de responder bem às solicitações mais severas do clima.
Dessa forma deve-se levar em conta os seguintes parâmetros:

4.3.4.1 Umidade do Ar e Índice Pluviométrico

Para os climas muito úmidos e chuvosos, os principais aspectos a se observar


são a retração na secagem apresentada pelos componentes de alvenaria e as
proteções previstas para os panos de parede.
As movimentações higroscópicas produzidas na alvenaria pela variação
volumétrica de seus componentes (ao absorverem ou liberarem água) podem
induzir a formação de fissuras indesejáveis que, dependendo da amplitude,
podem favorecer a penetração de água através da fachada, além de
comprometer o conforto higrotérmico da edificação. Nestas condições, a retração
na secagem pode ser considerada crítica para as alvenarias externas de blocos
de concreto que representam elevada amplitude de variação dos movimentos
devido à umidade. Portanto, sua utilização deverá ser condicionada à previsão de
proteções como a aplicação de revestimentos que apresentem boa resistência à
penetração de água ou dispositivos de proteção dos panos de alvenaria contra a
incidência direta das águas de chuvas ou escorrimento. Deve-se ainda garantir a
estanqueidade das juntas.
Para os climas quentes e secos, devem-se dispensar maiores cuidados à fase de
execução das paredes a fim de evitar problemas advindos da cura acelerada no
componente de alvenaria.
4.3.4.2 Temperatura

As recomendações quanto a este parâmetro envolvem além dos aspectos já


descritos no item anterior, o comportamento da parede de alvenaria frente às
variações térmicas e a contribuição das mesmas na capacidade de isolamento
térmico do sistema da vedação vertical.
Sob o efeito das variações térmicas, os blocos podem apresentar expansões ou
contrações que irão provocar movimentações na alvenaria e, dependendo da
amplitude, favorecer o aparecimento e/ou desenvolvimento de fissuras. Para
minimizar os efeitos destas movimentações é necessário limitar o comprimento
das paredes através da previsão de juntas de controle, cuja função é permitir o
movimento relativo de uma parte da parede em relação à outra.
Ao projetista das paredes de vedação caberá avaliar a compatibilidade das
características técnicas dos materiais disponíveis com o clima e a especificação
das técnicas executivas apropriadas aos materiais selecionados, de maneira a
atender às exigências técnicas, de custos e de prazos estabelecidos.

4.3.4.3 Sons e Ruídos

Este parâmetro deverá ser especialmente observado para os locais com elevados
níveis de poluição sonora, quando a capacidade de isolamento acústico das
fachadas será determinante para o conforto dos usuários. No entanto,
dependendo da área proporcional de abertura das fachadas, as alvenarias de
vedação desempenharão papel secundário no cumprimento destas exigências.
Nestes casos o isolamento acústico será garantido através da utilização de
materiais adequados para o fechamento dos vãos e da estanqueidade ao som
obtida com o tratamento das juntas.
Para as divisórias internas as exigências se referem à preservação da privacidade
entre ambientes, sendo importante as características de densidade superficial e
rigidez apresentadas pelas paredes; a primeira determinada pelas características
dos blocos e revestimento especificados e a segunda através da fixação das
paredes internas, evitando-se a passagem do som por efeito de membrana
elástica.

4.3.5 Condições de Implantação e Orientação da Edificação


Além das solicitações climáticas já expostas, as paredes estarão submetidas à
condições mais ou menos agressivas dependendo da posição relativa que
ocupam na edificação. É importante observar, segundo a implantação do edifício,
a orientação das paredes externas, principalmente no que se refere à intensidade
de insolação recebida ao longo do dia e à direção preferencial dos ventos que
poderá favorecer a incidência direta das águas das chuvas. Estes dados
indicarão os cuidados necessários durante a execução das paredes e
posteriormente, a proteção exigida por cada uma segundo sua relação mais ou
menos favorável ao sol e aos ventos.
As paredes internas estão normalmente protegidas dos agentes mais agressivos
tais como: variações térmicas, incidência de águas de chuva, ação do vento, etc.
Estes agentes têm ação direta sobre as paredes externas sujeitas portanto a um
nível de solicitações muito mais intenso, introduzindo a necessidade de um
projeto específico que contemple as particularidades de cada uma. Os
dispositivos de proteção das paredes externas que estão colocados em condição
de orientação desfavorável devem estar previstos no projeto arquitetônico. Ao
projetista de paredes caberá verificar os materiais especificados para o
revestimento, visando conferir às paredes de alvenaria as características
favoráveis à sua aplicação posterior como forma de garantir seu desempenho
com proteção efetiva dos componentes da alvenaria.

4.3.6 Insumos disponíveis

4.3.6.1 Materiais

Deverão ser selecionados entre os materiais disponíveis, aqueles capazes de


conferir à parede as características dela exigidas pelo projeto, respeitados os
determinantes econômicos.
Conhecendo as características dos materiais disponíveis para a alvenaria, o
projetista deverá especificar os materiais segundo seu potencial de atendimento
ao maior número de requisitos para as paredes externas e internas, obedecendo
às prioridades determinadas pelo padrão de qualidade e compatível com o nível
de exigências dos futuros usuários.

4.3.6.2 Mão-de-Obra

Os fatores relacionados com a qualidade da mão-de-obra que mais afetam o


desempenho das paredes de alvenaria podem ser resumidos como se segue:
• falta de controle na produção e utilização da argamassa de assentamento;
inobservância da dosagem e tempo máximo para aplicação após a mistura
recomendadas pelo projetista
• assentamento incorreto das unidades de alvenaria; desvios no prumo,
alinhamento e nível das fiadas
• perturbações das unidades após o assentamento
Para manutenção das características projetadas para as paredes faz-se
necessário, portanto, o controle efetivo da execução tanto em relação à produção
das argamassas, quanto a elevação e fixação das paredes de alvenaria.

4.3.6.3 Equipamentos

Diz respeito à correta utilização dos equipamentos para transporte horizontal e


vertical dos materiais em obra. A racionalização destes serviços permite a rápida
utilização das argamassas após a mistura e a manutenção do estoque de blocos
suficiente nos locais de execução das paredes, fatores que interferem na
produtividade da mão de obra, na economia e o uso correto dos materiais.
A previsão de uso dos equipamentos deve se inserir no planejamento global da
obra, de modo a garantir a disponibilidade destes para os serviços de alvenaria,
evitando-se atrasos no cronograma e alterações significativas na programação da
atividade.

4.3.7 Planejamento Global da Obra; Prazos e Custos:


Ao se projetar as paredes de alvenaria é necessário considerar-se o momento
mais propício para seu início e os prazos possíveis para a sua execução dentro
do cronograma geral da obra. Os prazos são condicionados principalmente pelas
características de deformação da estrutura e visam impedir que estas
deformações ao serem transmitidas para alvenaria prejudiquem seu
desempenho.
Como determinantes a se considerar para o projeto das paredes, estes fatores –
prazos e custos – funcionam como diretrizes para a especificação dos materiais
e das técnicas, além do dimensionamento das equipes de trabalho. Ressalta-se
que após a eleição das características imprescindíveis às paredes de vedação
da obra em questão, esses fatores não devem se apresentar como limitantes da
qualidade prevista.
Para os casos em que não ocorra a compatibilidade entre as características
consideradas imprescindíveis e os prazos e custos previstos deve-se proceder a
uma revisão criteriosa de todo o projeto e do planejamento da atividade a fim de
que se efetuem as alterações necessárias.

4.4 ELABORAÇÃO DO PROJETO EXECUTIVO

4.4.1 Especificação dos Materiais e Técnicas Executivas


Efetuado o levantamento das condicionantes, é necessário que se compatibilize
as diversas exigências e limitações que nortearão o projeto das paredes a fim de
que se definam os materiais e técnicas a serem empregadas. Na sistematização
dos dados obtidos, deverão ser identificadas as seguintes compatibilidades:
• determinações contidas no projeto estrutural e no projeto arquitetônico;
• determinações do projeto arquitetônico e as dos projetos de instalações;
• características da alvenaria e dos revestimentos a serem a sobre ela
aplicados;
• características da estrutura e da alvenaria;
• características da alvenaria e o grau de solicitação a que estará submetida (
ambientais, mecânicos, etc. )
A partir daí, o projetista deverá eleger as características prioritárias às paredes
para a obra em questão, estabelecendo o nível de importância relativo entre elas.
A especificação dos componentes de alvenaria deve refletir esta priorização, ou
seja: os blocos devem apresentar características potencialmente capazes de
conferir às paredes de vedação as características eleitas, Além disso, a
composição e dosagem da argamassa de assentamento e as técnicas executivas
a serem especificadas deverão ser adequadas aos blocos especificados.
4.4.2 Plantas e Elevações de Definição das Paredes de Alvenaria
O projeto das paredes, além da especificação dos blocos e das argamassas de
assentamento, deverá apresentar plantas, elevações e detalhes construtivos que
orientarão a execução das alvenarias devendo portanto conter informações
referentes a:
• locação, dimensões e posição relativa de todas as paredes;
• modulação: embora absolutamente desejável, coordenação modular entre os
blocos e os vãos deixados pela estrutura é dificilmente obtida devido a
ausência de coordenação entre os projetos arquitetônicos e estrutural e a
diversidade de componentes disponíveis no mercado sem padronização de
dimensões. Esta proposição só será viável a partir da implantação do controle
de qualidade dos projetos, dos componentes, da execução da estrutura e da
coordenação efetiva dos projetos;
• definição do aparelho e travamento de paredes ortogonais: deve-se
sempre especificar a junta amarrada. A junta a prumo não é recomendada por
não permitir a redistribuição uniforme dos esforços na alvenaria, possibilitando
a ocorrência de cisalhamento vertical do conjunto. O travamento entre
paredes deve-se dar, sempre que possível, utilizando-se os mesmos
componentes conforme a técnica recomendada.
• espessura e tratamento das juntas: as juntas de amarração não devem
ultrapassar 15 mm de espessura;
• posicionamento e dimensão das juntas de controle;
• posicionamento e dimensões das vergas e contravergas;
• fixação do topo e laterais da parede à estrutura;
• paredes contendo instalações hidro-sanitárias.

4.4.3. Detalhamento Construtivo

4.4.3.1 Fixação das Paredes de Vedação

Na consulta ao projeto estrutural, deve-se observar quais os vínculos previstos


entre a parede de alvenaria e os componentes estruturais afim de definirem-se os
materiais e técnicas a serem adotadas para a fixação como resposta às
imposições inicialmente projetadas. A intensidade da ligação é função do partido
estrutural adotado, dos componentes utilizados, das funções especificas da
parede, etc.
Quanto a concepção estrutural, são registradas três possibilidades:
• a alvenaria funciona como travamento da estrutura;
• a alvenaria não funciona como travamento e a estrutura que a envolve é
altamente deformável;
• a alvenaria não funciona como travamento e está envolta por estrutura pouco
deformável.
Para cada uma das situações, as paredes estarão submetidas a um determinado
grau de solicitação, o que exigirá o emprego de materiais e técnicas diferenciados
apropriados a cada caso.
Quando previsto o funcionamento da alvenaria como contraventamento da
estrutura, é necessário que exista uma ligação efetiva e rígida entre elas. As
paredes estarão submetidas a um estado elevado de tensões que lhe serão
transmitidas pelos componentes estruturais que as envolvem. Devem, portanto,
apresentar resistência mecânica compatível com as solicitações e a forma de
fixação deve garantir o grau de ligação previsto no projeto estrutural. As
alternativas técnicas para se efetuar a fixação da alvenaria à estrutura
recomendam o emprego de cunhas pré-fabricados de concreto (comum ou leve),
tijolos cerâmicos inclinados ou argamassa expansiva. Para fixação lateral devem
ser previstas barras ou telas de aço previamente fixadas nos pilares e a
solidarização é feita durante a elevação da alvenaria.
Nos casos da alvenaria de vedação estar envolta por uma estrutura altamente
deformável (pórticos de grande vão, lajes tipo cogumelo, etc.) os procedimentos
adotados para a fixação são bem diferentes. Apesar da haver algumas
recomendações genéricas, cada caso deverá ser estudado separadamente,
resultando normalmente em soluções particulares. De modo geral, procura-se
executar as juntas com material bastante deformável (argamassa de cal, por
exemplo, etc.) que permita a movimentação da estrutura sem introduzir esforços
de grande amplitude na alvenaria.
Nos casos de estruturas corriqueiras (panos pouco extensos, pórticos rígidos), o
ponto mais importante da fixação, desde que a junta seja frágil, é o tempo correto
para sua execução. Esta não deve se dar imediatamente após o término a
elevação da alvenaria. Existem condições prévias a serem cumpridas relativas às
características de deformabilidade dos componentes estruturais e das paredes de
alvenaria.
Quanto ao tipo de ligação, para as alvenarias de vedação, torna-se necessário
que seu funcionamento seja compatibilizado com o da estrutura devido
principalmente às diferenças de comportamento dos materiais de que são
constituídas. O encunhamento rígido aplicado a uma alvenaria de vedação pode
submetê-la a um estado excessivo de tensões e provocar fissuras indesejáveis.
Assim, a fixação da alvenaria à estrutura deverá ser inicialmente fraca. A
alvenaria não será muito solicitada pela estrutura e apresentará boa capacidade
de absorver as deformações provocadas por seus componentes (blocos e juntas).
Para fixação lateral das alvenarias deve-se ressaltar, mais uma vez, o
comportamento distinto dos materiais em contato frente às variações de
temperatura e umidade. Além disso, os pilares sofrem deformações, decorrentes
do seu carregamento que tendem a cisalhar a interface alvenaria-concreto.
No encontro vertical destes componentes normalmente ocorrem juntas
“autoformadas” que, provavelmente, se manifestarão também no revestimento.
Como solução pode-se especificar o acabamento frisado para as juntas,
“assumindo-as” nestes locais. Esta alternativa, no entanto, apesar de eficaz, pode
ser rejeitada pelos futuros usuários. Outra alternativa é especificar a aplicação de
telas do tipo “deployée” na região da junta, evitando-se que esta se manifeste no
revestimento.

4.4.3.2. Posicionamento e Execução das Juntas de Controle


Como anteriormente discutido, as alvenarias estão sujeitas a movimentações
decorrente das variações de temperatura e umidade e da retração na secagem
dos componentes e/ou argamassas de assentamento. Tais movimentações
podem induzir à formação de fissuras em panos muito extensos, que deverão ser
limitados principalmente nas fachadas através da inserção de juntas de controle
na alvenaria. A função das juntas será permitir o movimento relativo de uma parte
da parede em relação a outra, evitando assim a formação de fissuras. Com as
juntas corretamente dispostas, os movimentos serão por elas absorvidas. Caso
contrário, as juntas serão naturalmente conformadas sob a forma de fissuras ou
trincas.
O comprimento máximo recomendado para os panos contínuos de alvenaria,
logicamente varia em função das características de seus componentes, de suas
condições de contorno e do meio ambiente. Para as situações corriqueiras, ou
seja, paredes sem encunhamento rígido em climas não severos, os limite
recomendados para alvenarias de blocos cerâmicos e de concreto são (em
metros):

Largura do Paredes cegas Paredes com


bloco aberturas
Blocos Concreto 9 8,00 6,00
14 12,00 9,00
Blocos 9 10,00 7,50
Cerâmicos
14 14,00 10,50

Quando o comprimento dos panos de paredes ultrapassar estes limites, estes


deverão ser divididos mediante a previsão e execução de juntas de controle. Para
alvenarias que funcionem como travamento da estrutura ou envolvidas por
estruturas muito deformáveis ou ainda, constituídas por componentes muito
suscetíveis às variações ambientais, os limites para panos contínuos de parede
devem ser revistos e adaptados a estas solicitações.
Além da necessidade de juntas de controle que absorvam as movimentações por
efeitos higroscópicos, térmicos ou de retração dos componentes, outras situações
que normalmente impões sua existência são a presença de juntas de dilatação na
estrutura (sendo necessário a sua correspondência nas paredes) ou
descontinuidades significativas na altura ou espessura da parede. No primeiro
caso deve-se, apenas, dar continuidade na parede às juntas já posicionadas nos
componentes estruturais. Para as mudanças bruscas de seção, as juntas devem
ser localizadas na transição dos panos, permitindo que, devido as suas
características dimensionais distintas, as partes se movimentem diferente e
independentemente sem provocar efeitos deletérios.
No projeto das paredes, após o posicionamento das juntas, sua eficiência deverá
ser projetada através do detalhamento construtivo, ou seja: dimensionamento e
especificação dos materiais e técnicas para execução e posterior tratamento da
junta que assegurem sua regularidade, deformabilidade e estanqueidade.

4.4.3.3 Vergas e Contravergas


São componentes construtivos incorporados a alvenaria para distribuição das
tensões que tendem a se concentrar nos vértices dos vãos das janelas e portas,
provocando fissuras por efeito de cisalhamento. Além de, no caso das vergas, se
destinarem a absorver tensões de tração na flexão.
O detalhamento construtivo e o dimensionamento das vergas e contravergas
deverá considerar os seguintes fatores:
• cargas atuantes sobre elas
• comprimento das paredes
• dimensões e localizações nas paredes dos vãos
• tipos de componentes de alvenaria
Além disso, a alternativa técnica a ser especificada para a execução dependerá
da disponibilidade de equipamentos e qualidade da mão de obra.
As orientações gerais para projeto se restringem aos vãos de esquadrias
inferiores a 3,0 m. de comprimento, situadas em paredes não muito extensas.
Condições acima dos valores contidos nas tabelas a seguir são consideradas
especificas, dependendo portanto de análise particularizada. Os valores variam
segundo o componente de alvenaria utilizado, devido as suas características de
deformabilidade diferenciada.
Deve-se ainda considerar:
• vão inferiores a 0,90 m. dispensam o emprego de contraverga;
• apoio mínimo nas laterais para vergas e contravergas deve ser de 0,20 m.;
• ocorrendo vãos sucessivos muito próximos (distâncias inferiores a 0,60 m.)
deve-se considerá-los como um único vão, especificando-se verga contínua;
• a seção transversal das vergas e contravergas deve ser no mínimo
correspondente à dos blocos em uso;
• para as portas de largura superiores a 80 cm. (luz do vão) devem ser
respeitados os apoios laterais mínimos ( 0,20 m.) e seção correspondente à
dos blocos (no caso de vergas pré-moldadas este apoio pode ser de 0,10 m.
para vãos até 1,20 m.);
• emprego de barras de aço colocadas na argamassa de assentamento (em
substituição a vergas e contravergas) pode ter eficiência comprometida caso a
aderência entre ambos não seja satisfatória. Esta alternativa implica em
composição e dosagem diferenciadas para a argamassa de assentamento e a
argamassa de fixação das barras de aço. Pode ser admitido nas vergas de
portas com largura inferior ou igual a 0,80 m.;
• comprimento do apoio lateral das contravergas é mais crítico pela sua função
de distribuir as tensões localizadas ao longo da seção da parede de alvenaria
que ultrapassa a dimensão do vão.

Observadas esta condições, as tabelas são as seguintes:


Para blocos de concreto:
• dimensionamento das vergas para vãos até 2,40 m.
Comprimento Até 6m. De 6 a 8 m. Mais de 8m.
máximo paredes
Apoio lateral 0,20 m. 0,30 ou 0,40 m. 0,40 m.
mínimo para vergas
Seção da verga Mesma seção do bloco Dimensionar como
viga
Para os vãos entre 2,40 m. e 3,00 m. e comprimentos de paredes inferiores a
6,00 m. o apoio mínimo das vergas deve ser de 0,30 m. e estas dimensionadas
como vigas.

• dimensionamento de contravergas

Comprimento dos Até 2,40 m. de 2,40 m a 3,00m Mais de 3,00 m.


vãos
Comprimento Até 6 m. de 6 a 8m Até 6 m.
máximo de
Exige solução
paredes
específica
Apoio lateral 0,30 ou 0,40 m. 0,60 m.
mínimo 0,40 m.

Para blocos cerâmicos


• dimensionamento das vergas

Comprimento dos Até 2,40 m. De 2,40 a 3,00 m.


vãos
Comprimento Até 8 m. De 8 a Mais de 12 Até 8 m. Mais de 8 m.
máximo de 12m. m.
paredes
Apoio lateral 0,20 m. 0,30 m. Caso 0,30 m. Caso
mínimo específico específico
Seção da verga Mesma seção do Dimensionar como viga
bloco
Para vãos superiores a 3,00 m. as vergas devem ser dimensionadas como vigas.

• dimensionamento das contravergas

Comprimento dos Até 2,40 m. De 2,40 m. a 3,00 m. Mais de


vãos 3,00 m.
Comprimento Até 6 De 6 Mais de Até 6 De 6 Mais de 8 Exige
máximo de a 12 12 a8 solução
paredes específica
Apoio lateral 0,30 0,40 Solução 0,30 0,40 Solução
mínimo específica específica

4.4.3.4 Paredes Hidráulicas

O detalhamento construtivo das paredes hidráulicas pode evitar os prejuízos


advindos da incorporação de tubulações à alvenaria, sem o planejamento
adequado. As atividades necessárias ao embutimento das tubulações,
principalmente a confecção de rasgos, normalmente danificam a alvenaria
podendo até mesmo comprometer sua estabilidade.
O detalhamento desta paredes consiste basicamente em localizar e dimensionar
os rasgos necessários à incorporação das instalações, especificar o sistema de
fixação das tubulações à parede e especificar os materiais e técnicas apropriadas
à reconstituição da parede.
Para as paredes hidráulicas, especialmente aquelas onde há concentração de
tubulações de diâmetro superior a 75 mm., deverá conter no projeto, plantas e
elevações específicas que indiquem claramente as soluções adotadas pelo
projetista.

4.4.3.5 Platibandas

Quando previstas no projeto arquitetônico, as platibandas deverão se constituir


dos mesmos componentes utilizados na confecção das paredes de alvenaria. Tal
como estas, encontram-se confinadas em uma estrutura de concreto
apresentando como particularidade seu posicionamento no edifício, o que lhe
impõe solicitações distintas, como por exemplo os esforços de vento.
O aspecto mais importante a se observar no detalhamento construtivo das
platibandas refere-se às ligações do pano de alvenaria e os componentes
estruturais que o envolvem: pilares, laje e cinta de amarração.

4.4.4 Padrão de Qualidade e Tolerâncias


São fatores determinantes da qualidade da obra e definidos segundo o tipo de
empreendimento, exigências do mercado consumidor e principalmente pelo grau
de controle tecnológico implantado na obra.
Para as paredes de vedação, o padrão de qualidade pode ser estabelecido em
função de suas características geométricas, exigências de desempenho,
características de seus componentes, condições de acabamento, etc. Qualquer
destas características é passível de avaliação. Entretanto, a definição daqueles
que servirão como indicadores de qualidade deve se basear nas prioridades
estabelecidas pelo projeto das paredes.
Algumas características (como prumo e planeza dos panos de alvenaria,
nivelamento das fiadas e ortogonalidade entre paredes), dado a sua importância,
deverão ser sempre avaliadas podendo-se admitir, para condições específicas,
tolerâncias diferenciadas, dependendo da maior ou menor rigidez nos critérios de
controle de qualidade.
Deve-se ressaltar que o padrão de qualidade não pode ser exigido apenas em
relação às paredes acabadas. A qualidade do produto final é função da qualidade
e adequação do projeto, materiais, mão de obra, etc., ou seja, é resultado da
conjugação de vários fatores que também precisam ser controlados. Deve-se
estabelecer portanto, indicadores de qualidade a serem verificados em
determinados momentos de execução das paredes, evitando-se que eventuais
incorreções determinem paredes cujas características não correspondam ao
padrão de qualidade estabelecido, superando os limites de tolerância
admissíveis.
A tolerância pode ser entendida como a variação admissível em torno do padrão
de qualidade estabelecido para uma dada característica podendo ser expressa
numericamente – resultados de ensaios ou medição direta – ou através de juízo
técnico como, por exemplo, constatação através de avaliação visual de fissuração
excessiva em paredes externas.
As tolerâncias serão estabelecidas considerando-se a necessidade de
implantação de controle de qualidade nas obras, de maneira gradual. São
portanto determinações transitórias que serão progressivamente ajustadas à
medida que evolui o desenvolvimento tecnológico nos canteiros e o controle de
qualidade em todas as etapas de construção seja efetivo.
As tolerâncias são referentes apenas às características geométricas da parede,
por estas se constituírem em indicadores de qualidade básicos, cujo controle faz-
se indispensável a qualquer obra.
A seguir, apresentam-se, como exemplo, algumas medidas de tolerância para o
controle de qualidade de execução e recebimento das paredes de alvenaria:
• a perda de prumo não deve ultrapassar L/200, sendo L a altura total da
parede. Caso ainda não esteja implantado o controle de qualidade da
estrutura, admite-se, em caráter provisório o valor T/3 ( T = espessura )
quando for necessária para correção de defeitos na execução da estrutura.
• a verificação de planeza da superfície deve ser feitacom régua metálica de no
mínimo 2 m. de comprimento não admitindo-se variações superiores a:
0,02 m. em 2m. ( 1% ) para alvenarias de bloco cerâmico
0,01 m. em 2m. ( 0,5% ) para alvenarias de bloco de concreto
• o nivelamento das fiadas não deve apresentar desvios superiores a :
L/300 em superfícies livres ( contravergas )
L/200 nas demais fiadas
• o desvio angular do diedro de 90º (ortogonalidade entre paredes) não deve
ser superior a 1%.
4.4.5 Revisão do Projeto
Após o término da execução da estrutura, deverá ser efetuado levantamento
sobre suas condições reais que deverão ser confrontadas com as previsões de
projeto. O grau de correspondência às determinações dos projetos (arquitetônico
e estrutural) obtido durante a execução dos componentes estruturais é função do
controle de qualidade exercido na obra. Atualmente, a inexistência ou a
precariedade deste controle, tanto na execução quanto no recebimento das
estruturas de concreto, têm determinado condições insatisfatórias para posterior
execução das alvenarias de fechamento, impondo soluções que normalmente
alteram seu posicionamento e dificultam seu alinhamento, prumo, etc.
Esta fase de levantamento das condições reais de execução das estruturas
deverá subsidiar a revisão do projeto das paredes, objetivando minimizar os
efeitos prejudiciais das incorreções identificadas na estrutura.
As alterações a serem incorporadas ao projeto inicial quanto à locação das
paredes devem ser efetuadas buscando garantir a execução da alvenaria dentro
dos limites de precisão toleráveis. Para isto, deve-se analisar, inclusive, a
necessidade de reparos ou reconstrução da estrutura nos pontos mais críticos.
Como orientação geral, deve-se observar:
• o prumo das paredes deverá ser otimizado visando obter as menores
espessuras de revestimento argamassado nas fachadas dado a maior
suscetibilidade dos revestimentos externos às solicitações ambientais.
• o alinhamento da parede deve ser determinado pelo lado externo, garantindo
aí melhor planeza e revestimento menos espesso e mais uniforme.
• a horizontabilidade das fiadas deverá ser progressivamente corrigida quando
houver distorcimento nas vigas e/ou lajes que compreendem a alvenaria, de
maneira a garantir o nível nas superfícies livres (contravergas).
• a locação das paredes internas deve ser revista após a relocação de paredes
externas, observando-se a ortogonalidade resultante entre elas. As alterações
necessárias devem garantir as menores espessuras possíveis para o
revestimento.
• o levantamento das condições de execução da estrutura poderá ser feito por
amostragem e identificados os problemas mais freqüentes, o projetista
formulará orientações gerais à equipe responsável pela demarcação, para que
esta tenha autonomia para efetuar compensações e correções necessárias na
relocação das paredes. As situações críticas (desvios acima dos limite de
tolerância) deverão ser analisadas caso a caso.

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