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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS ALBERTO DO NASCIMENTO CAMARGO, protocolado em 20/12/2017 às 11:35 , sob o número WPRO17010495785.
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PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1023748-16.2014.8.26.0564 e código 771D19A.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA SEÇÃO DE
DIREITO PÚBLICO DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO.

CORREÇÃO MONETÁRIA. DE
PARCELAS ANTERIORES À DECISÃO
TRANSITADA EM JULGADO DO STF
NO RE nº. 870.947/SE

PROCESSO Nº 1023748-16.2014.8.26.0564
RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
RECORRIDO: EDNALDO BERNARDO DA SILVA

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL-INSS, Autarquia


Federal vinculada ao Ministério da Previdência Social (MPS), instituída com base na Lei nº
8.029, de 12 de abril de 1990, por seu Procurador ex lege que ao final subscreve a presente, nos
autos da ação em epígrafe, vem, respeitosamente, com fundamento na alínea “a” e “b” do
inciso III do art. 102 da Constituição da República, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO,
Requerendo seja admitido e
remetido ao Colendo Supremo Tribunal Federal, com as anexas razões.

Requer, ainda, o deferimento da SUSPENSÃO do processo,


em razão da repercussão geral da matéria já admitida no RE 870.947, vindo a integrar
o Tema 810, já que a decisão recente do STF ainda não foi publicada e não transitou
em julgado.

São Paulo, 19 de dezembro de 2017.

Carlos Alberto do Nascimento Camargo


Procurador Federal
Matrícula nº 1.312.159
OAB/SP nº 172.429

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RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Eméritos Julgadores;

Colenda Turma;

PRELIMINARMENTE,

Percebe-se, quanto a “Correção Monetária”, que o indexador utilizado pela


decisão recorrida mudou-se de TR, prevista em Lei, para IGP-DI, sem o aval do STF, já
que não se tem decisão definitiva no RE 870.947/SE.
Assim o mais prudente é sobrestar o presente processo até a decisão final a
ser prolatada no RE nº. 870.947/SE, o que ora se requer.

O v. acórdão recorrido prevê a utilização do IGP-DI, ao invés da Taxa


Referencial prevista no art. 5º da Lei nº 9494/97 em razão de declaração de
inconstitucionalidade pelo STF do art. 1º-F da Lei nº 9494/97, sem se pronunciar quanto ao
fato de estar pendente ainda no STF o julgamento quanto à modulação da decisão proferida
pela Suprema Corte nas ADI´s 4357/DF e ADI 4425/DF no que tange ao regime de
aplicação de correção monetária quanto aos atrasados.

A condenação imposta, no que tange a correção monetária não está de acordo


com a CF/88 e poderá estar diversa do entendimento a ser fixado pelo STF no RE nº.
870.947/SE (decisão transitada em julgado).

Desta forma, quanto à correção monetária e aos juros de mora devidos nas
ações em que a Fazenda Pública for vencida, até que o Supremo Tribunal Federal – STF
julgue EM DEFINITIVO o RE n.º 870.947/SE – RG (repercussão geral), eles devem
respeitar as seguintes diretrizes:

a) exceto nas ações tributárias, a correção monetária e o juros de mora


deverão ser calculados de acordo com o vencimento das parcelas originalmente devidas,
observando-se os seguintes parâmetros:

a.1) até junho/2009, regramento previsto para correção monetária e juros


de mora no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal; e

a.2) a partir de julho/2009 e até junho/2012, TR – Taxa Referencial


(correção monetária) e 0,5% (meio por cento) ao mês de juros de mora (art. 1º-F da Lei n.º
9.494/97, alterada pela Lei n.º 11.960/2009);
a.3) a partir de julho/2012, TR – Taxa Referencial (correção monetária) e a
taxa de juros aplicada às cadernetas de poupança (art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, alterada pela
Lei n.º 11.960/2009 e Lei n.12.703/2012);

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b) nas ações tributárias, a correção monetária e os juros de mora serão
calculados conjuntamente, através da aplicação unicamente da taxa SELIC, desde o
vencimento da parcela devida.
Como a decisão recorrida é contrária ao entendimento acima exposto e o
STF ainda não julgou em definitivo o RE 870947 RG / SE, que está sujeito a modificações
em face de provável pedido de modulação por conta da AGU quando publicado o acórdão, é
necessária a interposição deste recurso extraordinário para se ter decisão em mesmo sentido
por parte do STF.
Se a decisão recorrida não for modificada corre-se o risco de se ter
decisões conflitantes sobre o tema correção monetária, apesar da determinação do RE
870947 RG / SE em regime de repercussão geral.
Por esta razão é imperioso o conhecimento e provimento do Recurso
Extraordinário.

Percebe-se então que, diante da mesma realidade fática, se tem decisões


que se transitadas em julgado poderão ter posicionamentos diametralmente divergentes, da
decisão definitiva do STF.

Em resumo, se não for suspenso o presente processo se poderá ter decisões


que determinam a correção monetária pelo IGP-DI, ao passo que a decisão definitiva do STF
(RE 870947 RG / SE) poderá ser no sentido de que deve ser utilizada a TR até setembro de
2017, data do julgamento do STF sobre a matéria.

Caracterizada a divergência de decisões sobre o mesmo tema, tal fato deve


ser evitado a todo custo pelo judiciário, tanto é verdade que existe hoje o RE n.º
870.947/SE – RG com repercussão geral, que leva a suspensão do processo até
julgamento definitivo do STF.

Se o objetivo do tribunal a quo o de buscar a pacificação dos


entendimentos sobre a correção monetária é imperioso que a decisão recorrida seja revista
para fins de se suspender o processo até ulterior manifestação do Supremo Tribunal Federal
acerca da matéria, considerando que a constitucionalidade do art. 1°-F da Lei n.9494/97,
com redação dada pela Lei n. 11.960/09, para atualização de débitos da Fazenda Pública
encontra-se afetada ao julgamento do RE 870947 RG / SE, em regime de repercussão geral,
sem julgamento definitivo.

Reafirma-se:

O STF reconheceu a existência de repercussão geral nos autos do RE nº.


870.947/SE na matéria objeto do recurso extraordinário, qual seja, a validade da correção
monetária e dos juros moratórios incidentes sobre as condenações impostas à Fazenda
Pública, conforme previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada pela Lei
11.960/2009. Tendo em vista que o STF já iniciou o julgamento (falta publicação e o

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trânsito em julgado) e a orientação daquela Corte no processo nº 3477-89.2012.4.01.3801 é
no sentido de sobrestar os demais feitos, requer-se seja determinado o sobrestamento deste
processo até a decisão final a ser prolatada no RE nº. 870.947/SE.

Por outra angulação, requer o deferimento da SUSPENSÃO do processo,


em razão da repercussão geral da matéria já admitida no RE 870.947, vindo a integrar o
Tema 810, já que a decisão recente do STF ainda não foi publicada e não transitou em
julgado e deverá ser modificada para fins de modular seus efeitos.

Se ultrapassado o pedido de suspensão postulado, requer o processamento


e encaminhamento do recurso extraordinário ao STF.

A QUAESTIO IURIS E A DECISÃO RECORRIDA

Trata-se de Recurso Extraordinário interposto contra acórdão do


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

A decisão recorrida afastou a incidência das disposições do art. 5º da Lei


nº 11.960/2009, no que tange ao regime de aplicação de correção monetária quanto aos
atrasados.

Assim decidindo, o v. acórdão recorrido contrariou texto expresso da


Constituição (art. 5º, II; art. 22, VI; art. 97; art. 102, §2º), e a jurisprudência do STF (ADI
4357 e ADI 4425), conforme se passa a demonstrar.

DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO

A interpretação do acórdão é contrária ao texto constitucional e ao


entendimento do STF sobre a constitucionalidade do art. 5º da Lei 11.960/2009, no tocante à
correção de parcelas anteriores à inscrição em precatório/RPV, hipótese que autoriza o
Recurso Extraordinário, conforme a CF/1988, art. 102, III, a (contrariedade ao disposto
no art. 102, §2º, CF) e b (declaração de inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 11.960/2009).

Não há que se falar em decisão do STF sobre o tema, já que a decisão


proferida no re 870.947 ainda não foi publicada e quando o for certamente haverá recurso
para fins de do stf estabelecer a modulação de sua decisão.

Por fim, a repercussão geral da matéria já foi analisada – e admitida – no


RE 870.947, vindo a integrar o Tema 810.

Evidencia-se, portanto, a existência de vários fundamentos para o


reconhecimento da repercussão geral da controvérsia veiculada no presente recurso
extraordinário.

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Presentes, pois, todos os requisitos para a admissão do Recurso
Extraordinário.

DOS JUROS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA APÓS A DECISÃO DO STF AINDA


NÃO PUBLICADA E NÃO TRANSITADA EM JULGADO

É importante se destacar que a tese defendida pela AGU e a autarquia com


relação a aplicação da correção monetária e juros de mora, enquanto não transitada a decisão
do STF a ser proferida no RE 870.947 é de que a correção monetária deverá ser aplicada
nos termos do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, na redação dada pela Lei n. 11.960/09.

A situação atual é que o STF não publicou ainda a decisão proferida no


RE 870.947 e não foi publicada qualquer manifestação conclusiva do STF sobre esse
recurso.

Se não foi publicado e, por consequência não transitou em julgado, é


possível à AGU requerer efeito modulador para que o STF determine em sua decisão de
inconstitucionalidade, no que diz respeito apenas a atualização monetária, somente se aplica
a partir de 09/2017, data do julgamento, permitindo a atualização dos débitos, nos termos
das Leis acima declinadas, até essa decisão do STF, transitar em julgado.

DA CONSTITUCIONALIDADE DA APLICAÇÃO DA TR RELATIVAMENTE ÀS


VERBAS PRETÉRITAS, ANTERIORES À REQUISIÇÃO DE PRECATÓRIOS - DA
POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO PELO INSS - NÃO HÁ
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO.

Ressalte-se que, em relação à correção monetária e juros relativos às verbas


pretéritas, anteriores à data da requisição de precatório, permanece plenamente válida a
utilização da TR + 0,5% ao mês.

Não houve nenhuma declaração de inconstitucionalidade nesse ponto, já que


a decisão do STF não foi publicada e muito menos transitou em julgado.

Convenhamos, portanto, que não há decisão definitiva.

Desse modo, até a data da requisição do precatório, é constitucional a aplicação


da TR, ou na pior das hipóteses até decisão definitiva do STF sobre o tema.

Só houve declaração de inconstitucionalidade da correção monetária nos


termos do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, na redação dada pela Lei n. 11.960/09, ao reproduzir
as regras da EC n. 62/09 (que tratam do regime de execução da Fazenda Pública mediante
precatório/RPV), na hipótese de débitos fazendários inscritos em precatório/RPV.

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Diante de toda a celeuma havida até o presente momento, cumpre
esclarecer que, na verdade, o art. 1º-f da lei 9.494 não foi declarado inconstitucional pelo
STF, em relação às parcelas anteriores à data da requisição do precatório.

Mesmo a decisão recente não pode ser considerada ao pé da letra, pois


poderá ser modificada, por questão de ordem para se estabelecer a devida modulação.

Como consequência prática, em relação à correção monetária e juros


relativos às verbas pretéritas, anteriores à data da requisição de precatório, permanece
plenamente válida a utilização da TR + 0,5% ao mês, até decisão definitiva do stf no RE nº.
870.947/SE (o que ainda não ocorreu).

É natural presumir que o ponto gerador de mais polêmica será a aplicação


de índices de correção a parcelas atrasadas. Nesse particular, a Fazenda Pública impugna
especificamente a aplicação de qualquer outro índice que não os índices da poupança,
previstos no art. 1º-F da Lei 9.494, os quais devem ser aplicados desde a entrada em vigor da
Lei nº 11.960/2009.

Na verdade, até a publicação e trânsito em julgado da decisão do STF no


RE nº. 870.947/se, a AGU defende a tese de constitucionalidade do dispositivo, em sua
integralidade ou na pior das hipóteses no que diz respeito a juros de mora.

Realmente, veja-se a decisão do STF (já publicada):

ADI N. 4.425-DF
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE EXECUÇÃO DA
FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL NÃO
CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE INTERSTÍCIO CONSTITUCIONAL
MÍNIMO ENTRE OS DOIS TURNOS DE VOTAÇÃO DE EMENDAS À LEI
MAIOR (CF, ART. 60, §2º). CONSTITUCIONALIDADE DA SISTEMÁTICA DE
“SUPERPREFERÊNCIA” A CREDORES DE VERBAS ALIMENTÍCIAS QUANDO
IDOSOS OU PORTADORES DE DOENÇA GRAVE. RESPEITO À DIGNIDADE
DA PESSOA HUMANA E À PROPORCIONALIDADE. INVALIDADE JURÍDICO-
CONSTITUCIONAL DA LIMITAÇÃO DA PREFERÊNCIA A IDOSOS QUE
COMPLETEM 60 (SESSENTA) ANOS ATÉ A EXPEDIÇÃO DO PRECATÓRIO.
DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA (CF, ART. 5º,
CAPUT). INCONSTITUCIONALIDADE DA SISTEMÁTICA DE COMPENSAÇÃO
DE DÉBITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS EM PROVEITO EXCLUSIVO DA
FAZENDA PÚBLICA. EMBARAÇO À EFETIVIDADE DA JURISDIÇÃO
(CF, ART. 5º, XXXV), DESRESPEITO À COISA JULGADA MATERIAL (CF,
ART. 5º XXXVI), OFENSA À SEPARAÇÃO DOS PODERES (CF, ART. 2º) E
ULTRAJE À ISONOMIA ENTRE O ESTADO E O PARTICULAR (CF, ART. 1º,
CAPUT, C/C ART. 5º, CAPUT). IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO
DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO
CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO
FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CF, ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO

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MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS. INCONSTITUCIONALIDADE DA
UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO
ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS MORATÓRIOS DOS CRÉDITOS INSCRITOS
EM PRECATÓRIOS, QUANDO ORIUNDOS DE RELAÇÕES JURÍDICO-
TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA
ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CF, ART. 5º,
CAPUT). INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME ESPECIAL DE
PAGAMENTO. OFENSA À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO ESTADO DE
DIREITO (CF, ART. 1º, CAPUT), AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES
(CF, ART. 2º), AO POSTULADO DA ISONOMIA (CF, ART. 5º, CAPUT), À
GARANTIA DO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA TUTELA
JURISDICIONAL (CF, ART. 5º, XXXV) E AO DIREITO ADQUIRIDO E À COISA
JULGADA (CF, ART. 5º, XXXVI). PEDIDO JULGADO PROCEDENTE EM
PARTE.
1. A Constituição Federal de 1988 não fixou um intervalo temporal mínimo entre os
dois turnos de votação para fins de aprovação de emendas à Constituição (CF, art. 62,
§2º), de sorte que inexiste parâmetro objetivo que oriente o exame judicial do grau de
solidez da vontade política de reformar a Lei Maior. A interferência judicial no âmago
do processo político, verdadeiro locus da atuação típica dos agentes do Poder
Legislativo, tem de gozar de lastro forte e categórico no que prevê o texto da
Constituição Federal. Inexistência de ofensa formal à Constituição brasileira.
2. O pagamento prioritário, até certo limite, de precatórios devidos a titulares idosos ou
que sejam portadores de doença grave promove, com razoabilidade, a dignidade da
pessoa humana (CF, art. 1º, III) e a proporcionalidade (CF, art. 5º, LIV), situando-se
dentro da margem de conformação do legislador constituinte para operacionalização da
novel preferência subjetiva criada pela Emenda Constitucional nº 62/2009.
3. A expressão “na data de expedição do precatório”, contida no art. 100, §2º, da CF,
com redação dada pela EC nº 62/09, enquanto baliza temporal para a aplicação da
preferência no pagamento de idosos, ultraja a isonomia (CF, art. 5º, caput) entre os
cidadãos credores da Fazenda Pública, na medida em que discrimina, sem qualquer
fundamento, aqueles que venham a alcançar a idade de sessenta anos não na data da
expedição do precatório, mas sim posteriormente, enquanto pendente este e ainda não
ocorrido o pagamento.
4. O regime de compensação dos débitos da Fazenda Pública inscritos em precatórios,
previsto nos §§ 9º e 10 do art. 100 da Constituição Federal, incluídos pela EC nº 62/09,
embaraça a efetividade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV), desrespeita a coisa julgada
material (CF, art. 5º, XXXVI), vulnera a Separação dos Poderes (CF, art. 2º) e ofende a
isonomia entre o Poder Público e o particular (CF, art. 5º, caput), cânone essencial do
Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, caput).
5. A atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança viola o direito fundamental de
propriedade (CF, art. 5º, XXII) na medida em que é manifestamente incapaz de
preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. A inflação, fenômeno
tipicamente econômico-monetário, mostra-se insuscetível de captação apriorística (ex
ante), de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneração da
caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a
inflação do período).
6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários inscritos em
precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança vulnera o
princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre débitos
estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte
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processual privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos
juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art.
161, §1º, CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da
expressão “independentemente de sua natureza”, contida no art. 100, §12, da CF,
incluído pela EC nº 62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de
natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre
todo e qualquer crédito tributário.
7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir
as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios
de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos vícios de juridicidade que
inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se revela inconstitucional por
arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra.
8. O regime “especial” de pagamento de precatórios para Estados e Municípios criado
pela EC nº 62/09, ao veicular nova moratória na quitação dos débitos judiciais da
Fazenda Pública e ao impor o contingenciamento de recursos para esse fim, viola a
cláusula constitucional do Estado de Direito (CF, art. 1º, caput), o princípio da
Separação de Poderes (CF, art. 2º), o postulado da isonomia (CF, art. 5º), a garantia do
acesso à justiça e a efetividade da tutela jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV), o direito
adquirido e à coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI).
9. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente em parte. (G.N.).

Equivale a dizer: só houve declaração de inconstitucionalidade da correção


monetária nos termos do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, na redação dada pela Lei n. 11.960/09,
ao reproduzir as regras da EC n. 62/09 (que tratam do regime de execução da Fazenda
Pública mediante precatório/RPV), na hipótese de débitos fazendários inscritos em
precatório/RPV.

A declaração de inconstitucionalidade por arrastamento ou atração,


consoante a própria decisão do STF acima transcrita, somente se pode dar na mesma
extensão do que foi declarado inconstitucional.

Ora, se não houve declaração de inconstitucionalidade do referido


dispositivo no que toca às condenações da Fazenda Pública, é evidente que o STF o
considerou constitucional, pelo menos até a publicação e o trânsito em julgado da
decisão proferida no RE nº. 870.947/SE

Desde a modulação pode-se inferir que o Pretório Excelso delimitou a


inconstitucionalidade por arrastamento apenas em relação à fase posterior da inscrição do
débito fazendário em precatório, motivo pelo qual permaneceram válidas as regras de
correção monetária incidentes sobre as condenações na fase anterior à inscrição, no modo
disciplinado pela Lei 11.960/2009, até publicação e trânsito em julgado da decisão do STF a
ser proferida no RE nº. 870.947/SE

Por fim, cumpre ressaltar que esse Supremo Tribunal, em decisão de


17/04/2015, reconheceu que:

1) a atualização monetária da condenação imposta à Fazenda Pública


ocorre em dois momentos distintos.

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O primeiro se dá ao final da fase de conhecimento com o trânsito em
julgado da decisão condenatória. (...)
O segundo momento ocorre já na fase executiva, quando o valor devido é
efetivamente entregue ao credor. (...)
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs nº 4.357 e 4.425,
declarou a inconstitucionalidade da correção monetária pela TR apenas quanto ao segundo
período, isto é, quanto ao intervalo de tempo compreendido entre a inscrição do crédito em
precatório e o efetivo pagamento. Isso porque a norma constitucional impugnada nas ADIs
(art. 100, §12, da CRFB, incluído pela EC nº 62/09) referia-se apenas à atualização do
precatório e não à atualização da condenação ao concluir-se a fase de conhecimento;

2) existe repercussão geral da seguinte questão constitucional: A


validade jurídico-constitucional da correção monetária e dos juros moratórios incidentes
sobre condenações impostas à Fazenda Pública segundo os índices oficiais de remuneração
básica da caderneta de poupança (Taxa Referencial - TR), conforme determina o art. 1º-F
da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09 e, por isso, incluiu o RE
870.947 no Tema 810 do rol da referida repercussão geral.

Mais,
A orientação da AGU ao Núcleo de Cálculos e Perícias - NECAP - AGU
(O Necap é uma unidade da Procuradoria Geral da União, órgão da AGU), em todo o País
foi de usar a argumentação que a SGCT - SECRETARIA GERAL DE CONTENCIOSO irá
defender perante o STF, tão logo seja publicado o acórdão no RE 870947 que:

como argumento principal, a necessidade e modulação dos efeitos


da decisão do STF em relação ao RE 870947 (que considerou
incabível a TR como critério de correção monetária), em nome da
segurança jurídica.

a TR deve vigorar como critério de correção monetária até a data


do julgamento do STF, qual seja, setembro de 2017. A partir
desta data é que se deverá aplicar outro índice (que no caso, seria
o IPCA-E)

Frise-se: a decisão do STF não foi publicada e por conseguinte não


transitou em julgado. Assim, impossível saber se os efeitos da decisão do STF serão ex-
tunc ou ex-nunc.

Dessa forma, o NECAP foi orientado a adotar como critério de atualização dos
cálculos a TR até set/2017, sem embargo de ulterior parametrização do Advogado da União,
após decisão do STF.

Pelas razões acima, acaso não se promova o sobrestamento do feito até o


trânsito em julgado da decisão, com suas respectivas modulações, pelo STF DO RE
870947/SE, requer a reforma do acórdão para se aplicar a TR como fator de correção
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fls. 174

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS ALBERTO DO NASCIMENTO CAMARGO, protocolado em 20/12/2017 às 11:35 , sob o número WPRO17010495785.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO 10
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 3ª REGIÃO – SP/MS

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1023748-16.2014.8.26.0564 e código 771D19A.
monetária até 09/2017, data do julgamento pelo STF do RE 870947, e a partir de então o
IPCA-E.

Destarte, observado que na decisão recorrida a autarquia foi condenada ao


pagamento das parcelas em atraso com incidência de critérios diferentes dos elencados no
art. 5º da Lei 11.960/2009, tido por inconstitucional na decisão recorrida, cabe requerer a
reforma do julgado nesse particular.

Ante o exposto, requer o Recorrente a aplicação do art. 1º-F da Lei nº


9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, aos valores das parcelas casualmente
devidas até a data de inscrição do precatório.

REQUERIMENTO

Requer em preliminar ao conhecimento e provimento do recurso, a


suspensão do processo até a decisão definitiva do STF, que reconheceu a existência de
repercussão geral nos autos do RE nº. 870.947/SE na matéria objeto do recurso
extraordinário, qual seja, a validade da correção monetária e dos juros moratórios incidentes
sobre as condenações impostas à Fazenda Pública, conforme previstos no art. 1º-F da Lei
9.494/1997, com a redação dada pela Lei 11.960/2009.

Com base no artigo 102, III, “a” e “b”, da Constituição Federal, a


Autarquia requer seja o presente Recurso Extraordinário conhecido e provido, forte na
contrariedade aos artigos 5º, II; 22, IV; 97; 100, § 12, e 102, inc. I, alínea “l”, e §2º, todos da
Constituição Federal, para afastar a utilização de critérios de correção monetária e
juros de mora para parcelas anteriores à inscrição em precatório/RPV em desacordo
com o estabelecido no art. 5º da Lei 11.960/2009, especialmente considerando que a
decisão proferida nas ADIs 4357 e 4425 considerou inconstitucional a utilização dos índices
mencionados no art. 5º da referida Lei apenas para os valores devidos pela Fazenda Pública
após a inscrição em precatório.

Alternativamente, acaso não se promova o sobrestamento e não se dê


provimento integral ao recurso extraordinário, requer o provimento parcial, requer a reforma
do acórdão para se aplicar a TR como fator de correção monetária até 09/2017, data do
julgamento pelo STF do RE 870947 e, a partir de então, o IPCA-E.

São Paulo, 19 de dezembro de 2017.

Carlos Alberto do Nascimento Camargo


Procurador Federal
Matrícula nº 1.312.159
OAB/SP nº 172.429

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