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Autoria: Maria Laura Ferranty Mac Lennan, Viviane Eiko Ito Yamasaki, Juliana Bittar de Souza,
Fabio Lotti Oliva
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Introdução:
O mercado de LED no Brasil e no mundo está em crescimento. McKinsey (2012) calcula que,
dentro de oito anos, a tecnologia LED passará dos atuais 7% de participação no mercado
mundial de iluminação para 50%. As novas lâmpadas seguiriam padrão de redução de preços
de produtos com tecnologia de ponta já observada em outros casos. Na década de 50, com o
início da popularização das TVs, as famílias americanas gastavam 10% de sua renda anual
para comprar um aparelho. Hoje, o preço de um produto comparável equivale a 0,8% da
renda. O mesmo ocorreria com a tecnologia LED (Ferrari, 2012).
O principal argumento que dá sustentação à ideia de que as lâmpadas mais eficientes vão se
difundir pelo mundo é o incentivo financeiro. Segundo Pinto (2008), a adoção do LED
apresenta vantagens como o seu baixo consumo energético, aumento da vida útil da
iluminação e diminuição do descarte de elementos químicos nocivos ao meio ambiente. Ao
aderir ao LED, os consumidores gastam menos com energia elétrica e com a reposição de
lâmpadas queimadas, por seu maior potencial de durabilidade (Muniz, 2014).
Contudo, o mercado brasileiro de LED não vem acompanhando outros mercados na mesma
velocidade. Estima-se que a tecnologia de iluminação LED represente na Europa 15% do
mercado de iluminação. Nos Estados Unidos seria 14% e na Ásia o LED conquistou 17% de
participação de mercado. No Brasil este número está estimado em 9% (McKinsey, 2012). A
partir desta realidade emerge a questão de pesquisa a ser abordada no artigo: Por que, dados
os benefícios econômicos, o Brasil não segue o crescimento e desenvolvimento do setor de
LED observado em outros mercados no mundo? Especificamente se busca compreender que
fatores do ambiente institucional local, normas e regulamentos dificultariam a adoção do LED
como forma de iluminação energeticamente mais eficiente.
De acordo com alguns autores, a perspectiva institucional, junto com a visão baseada na
indústria e a visão baseada em recursos é importante arcabouço teórico para explicar
estratégia e desempenho de empresas em mercados emergentes (Peng, Sun, Pinkham, &
Chen, 2009; Peng, Wang, & Jiang, 2008). Os mercados desenvolvidos e os emergentes
diferem muito sobre a forma como as estruturas de mercado estabelecem a competição entre
as empresas (Khanna & Palepu, 2011; Peng et al., 2008), por isso a compreensão do contexto
nacional é relevante no caso brasileiro. Já se estabeleceu na literatura que instituições, sejam
formais ou informais, são relevantes nos estudo em estratégia. O que importa estudar é o
“como” as características institucionais e regulatórias são determinantes da competitividade
das empresas em mercados emergentes (Peng et al., 2009; Peng et al., 2008). Nesse sentido, o
estudo contribui para a literatura acadêmica ao abordar, no mercado de iluminação por LED,
aspectos ligados às instituições, suas normas e regulamentos e relacionando-os com as
organizações e suas opções estratégicas. Especificamente o estudo discute o impacto da
presença de vazios institucionais na definição de padrões de normatização e fiscalização na
competitividade das empresas de atuação no mercado nacional de LED.
Pesquisas que relacionam aspectos institucionais ligados a normas e especificações técnicas
são escassas no Brasil (Vasconcelos & Oliveira, 2012) e este trabalho se propõe a contribuir
para preencher essa lacuna. No caso da iluminação por LED, por se tratar de um mercado
novo (McKinsey, 2012) e com norma em processo de construção, a pesquisa se justifica, pois
se pode verificar o posicionamento competitivo das empresas nacionais e multinacionais,
importadoras ou fabricantes, aos vazios regulatórios presentes no mercado brasileiro. Logo, o
artigo aborda desafios e oportunidades estratégicos no mercado de iluminação em LED,
ambiente em que as “regras do jogo” estão em alteração e não são completamente conhecidas
(Peng et al., 2008).
Como contribuição gerencial o estudo identifica e elenca elementos institucionais que
prejudicam a competitividade nacional no setor. Dado que a normatização e a metrologia
tornam-se assuntos estratégicos no contexto dos países emergentes (Gallina & Fleury, 2013),
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Essa associação é regida por estatuto, sendo entidade delegada pelo CONMETRO para
estabelecer fórum de debate e execução de normas técnicas. O COBEI dessa forma suporta a
gestão do processo de elaboração de normas brasileiras, que posteriormente são publicadas
pela ABNT.
Outra entidade sem fins lucrativos que atua no setor é o Instituto Nacional de Eficiência
Energética (INEE). O objetivo do INEE é promover o aumento da eficiência na transformação
e na utilização de todas as modalidades de energia em benefício da economia, do meio
ambiente e da maior segurança quanto ao acesso à energia e bem estar da sociedade (INEE,
2013). A instituição visa auxiliar a reduzir as imperfeições do mercado energético, melhorar o
grau de informação sobre a eficiência e apoiar a criação de legislação, normas e regulamentos
através da promoção de programas, projetos e eventos.
Como se pode ver, não faltam agencias governamentais e entidades especializadas na
regulação e normalização do setor elétrico e de iluminação. Neste mercado as instituições e
órgãos que desempenham papel regulatório são ANEEL, INMETRO e ABNT. Todavia, ainda
é possível identificar “vazios institucionais” no setor (Khanna et al., 2010). Isto porque ainda
não se definiram normas para comercialização das lâmpadas de LED no Brasil. Contudo já há
iniciativas voltadas à resolução desta situação. As portarias do INMETRO RTP-477/2013 e
RTP-478/2013, em fase de audiência pública, estabelecem os parâmetros técnicos mínimos
referentes ao fluxo luminoso, potência, eficiência energética, dentre outros. As portarias
citadas também indicam os procedimentos de amostragem a ser conduzidos nos testes das
lâmpadas, de fabricação nacional ou importados, além de regular a qualidade das lâmpadas e
luminárias de LED de uso geral ou para iluminação pública viária (MDIC, 2013a, 2013b). A
audiência pública permite que cidadãos e sociedade civil participem dos processos de
normatização e regulamentação em andamento (Castro, 2013). Por estarem em audiência
pública, as portarias RTP-477/2013 e RTP-478/2013 ainda não estão aprovadas, ou se
conhece seu modo de fiscalização e cronograma de implantação. Importante lembrar que,
diferente da ABNT, cujas regras são de adoção voluntária, as normas do INMETRO devem
ser adotadas de modo compulsório pelas empresas do setor.
c. Tecnologias de lâmpadas utilizadas no mercado de iluminação
Uma vez apresentado o panorama normativo e regulatório do setor, convém detalhar as
tecnologias em lâmpadas disponíveis no mercado brasileiro. Estas podem ser classificadas
como lâmpadas incandescentes, halógenas, fluorescente compacta e LED (Muniz, 2014;
Pinto, 2008).
As lâmpadas incandescentes atualmente apresentam maior volume de vendas (versão de 60W)
e menor preço unitário (R$ 2,50) no mercado brasileiro (Muniz, 2014). Esta tecnologia
apresenta a possibilidade de dimerização, característica difícil de ser identificada entre as
tecnologias concorrentes. O fluxo luminoso ocorre instantaneamente, ou seja, ao ser acesa a
lâmpada já dá sua luminosidade máxima. Seu tom amarelado é confortável aos olhos
(temperatura de cor de 3000 k). Possui máximo índice de reprodução de cor (IRC): 100%.
Esta tecnologia apresenta vida útil curta: cerca de mil horas (Muniz, 2014). O maior problema
das lâmpadas incandescentes é o alto consumo de energia, o que torna a tecnologia pouco
eficaz. Apenas 8% da energia consumida é transformada em fluxo luminoso (INEE, 2013).
Um produto alternativo é a lâmpada halógena (lâmpada incandescente com adição de
halogenatos) que apresenta maior eficiência (lumen por watt) e vida útil superior a 2000
horas. O consumo de energia elétrica de uma lâmpada halógena de 42W equivale ao de uma
lâmpada incandescente de 60W, o que representa uma economia de energia no patamar de
30%. Assim como as incandescentes, essa aceita dimer com facilidade e seu fluxo luminoso
também é imediato. A lâmpada halógena oferece luz de suave tom amarelado (temperatura de
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cor de 2.700k). Seu IRC é de 100%, entretanto sua durabilidade é baixa, equivalente à
encontrada no modelo incandescente (Muniz, 2014).
A lâmpada fluorescente compacta (ou lâmpada de vapor de mercúrio) é a tecnologia que
sucedeu a lâmpada incandescente. Esta contém mercúrio em seu processo de fabricação, o que
acarreta na necessidade de procedimentos de reciclagem e descarte para não poluir o meio
ambiente (INEE, 2013). As lâmpadas do tipo fluorescente compacta oferecem melhor
aproveitamento energético se comparada às incandescentes ou halógenas. Para obter o mesmo
resultado de uma incandescente de 60W, basta utilizar a versão fluorescente compacta de 15w
(80% de economia no consumo elétrico). Contudo, no Brasil é raro encontrar as opções desta
variedade que aceitam dimer. Para atingir seu máximo de iluminação as lâmpadas do tipo
fluorescente compacta necessitam entre um e dois minutos. Acender e apagar seguidamente
reduz sua durabilidade. Há mais opções de cores – desde as brancas até as amareladas. Esta
tecnologia apresenta bom IRC, em patamar de 80%. A durabilidade é estimada em por volta
de 8 mil horas (INEE, 2013; Muniz, 2014).
Finalmente se apresentam as lâmpadas de LED. Com o uso desta tecnologia são necessários
12W para iluminar o mesmo que a incandescente de 60W (economia de 80%). As versões
dimerizáveis custam quase o dobro das comuns. Assim que o LED acende, este alcança sua
capacidade total de clarear. Conta com opções de cor que vão das brancas até as amarelas. A
tecnologia LED apresenta bom IRC, em patamar de 80%. Dentre as variedades apresentadas,
o LED é a que oferece a maior vida útil: aproximadamente 25 mil horas (Muniz, 2014).
A tabela 1, a seguir, apresenta uma comparação entre os preços praticados no varejo para cada
uma das tecnologias apresentadas. Na tabela existe também uma estimativa do custo
financeiro de cada tipo de lâmpada, considerando o consumo de energia elétrica e a
durabilidade da tecnologia. Nota-se que a tecnologia LED apresenta ticket médio
consideravelmente maior se comparado a opção incandescente (preço 20 vezes maior).
Contudo, após 25 mil horas de utilização, o LED oferece ao consumidor economia da ordem
de 310% (Muniz, 2014). Todas as lâmpadas indicadas na tabela 1 proporcionam benefício
financeiro para o consumidor final derivado da sua melhor eficiência energética, em
comparação à lâmpada incandescente. Por isso, apesar do maior ticket médio, o investimento
do consumidor em tecnologia de iluminação mais eficiente é recuperado por meio da redução
do valor de sua conta de luz.
2 Metodollogia:
2.
Para responder o problem ma de pesquuisa, ou sejja, a identificação doss fatores do o ambientee
regullatório e noormativo loocal que difficultam a adoção
a do LED comoo forma de iluminaçãoo
energgeticamentee mais eficciente, realizou-se um estudo de caso de natureza exp ploratória e
aborddagem quallitativa (Coollis & Husssey, 2006). Optou-se pelo p estudo exploratório uma vezz
que se buscou a literaturaa que relaciiona as varriáveis em estudo – aambiente reegulatório e
instittucional e mercado
m de iluminaçãoo – porém, pouca
p literaatura foi enccontrada, nãão havendoo
arcabbouço teóriico robusto para se reealizar um estudo quaantitativo e descritivo o. O estudoo
buscou analisaar e interppretar inforrmações com diferenntes graus de profu undidade e
compplexidade.
A peesquisa, de natureza qualitativa
q ória adotouu a estratéggia de estud
e explorató do de casoo
múltiiplo. De accordo com YinY (1994),, o estudo ded caso é uma u metodoologia de peesquisa quee
invesstiga um evvento contem mporâneo, com
c base na
n experiênccia real. Essse método de d pesquisaa
possiibilita a annálise em profundidad
p de de umaa situação particular e a identifficação dass
variááveis e suuas inter-reelações quee, de outrra forma, poderiam passar desspercebidass
(Eiseenhardt, 19989). Os dados
d levanntados foramm obtidos a partir dde fontes primárias
p e
secunndárias (Yinn, 1994).
Para o levantam mento de daados primárrios foram realizadas
r e
entrevistas em profund didade comm
oito empresas business to business
b (B2B) que comercializam m o produtoo LED no Brasil.
B Estess
são empresas
e quue executam
m a montaggem dos LE EDs, importtam os proddutos para revenda ouu
operaam de form ma híbrida. As emprresas foram m divididas pelos autoores em do ois grupos::
fabricantes ou importadorres. São considerado
c os fabricanttes empressas responssáveis pelaa
coorddenação da montagem m de produtoos em LED, no Brasil ou no exterrior, mesmo o que a suaa
operaação seja terceirizada
t a (parcial ouo totalmen nte). Já os importadorres são em mpresas quee
adquuirem produutos no exteerior para seer revendidoo no Brasil. Na pesquiisa foram seelecionadass
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quatro empresas de cada tipo, ou seja, quatro empresas importadoras (A) e quatro empresas
fabricantes (F). A seleção dos casos buscou balancear a amostra entre fabricantes e
importadores, de modo que se observasse replicação dos achados de pesquisa dentre os casos
(Eisenhardt, 1989; Langley & Abdallah, 2011). O recorte se justifica por que os autores
entendem que empresas fabricantes e importadores podem ter visões diferentes do impacto de
aspectos normativos e regulatórios abordados no estudo.
A tabela 2 apresenta o perfil das empresas utilizadas na pesquisa, além da posição dos
entrevistados:
Tabela 2: Perfil das empresas e entrevistados
Origem do Local de fabricação e Mercados
Cargo do Tipo de operação
Empresa capital montagem das LED e
entrevistado produtiva
societário lâmpadas LED aplicações
Desenvolvimento Iluminação
Diretor de Monta a lâmpada e a de produto e design profissional
F1 Nacional
Tecnologia luminária no Brasil. próprio, produção (industrial e
terceirizada. projetos).
Importa insumos de
fornecedores Desenvolvimento
Multinacional
Engenheiro de homologados na de produto, Iluminação
F2 de origem
Produto China, Bélgica e montagem e design automotiva.
francesa
Romênia, monta no próprio.
Brasil.
Desenvolvimento Iluminação
Monta a lâmpada no
Gerente de de produto, profissional
F3 Nacional Brasil, os insumos são
Negócios montagem e design (industrial e
importados da China.
próprio. projetos).
Importa produto Desenvolvimento Iluminação
acabado desde outras de produto, design automotiva,
Multinacional subsidiárias ou joint e produção profissional
CEO, Diretor
F4 de origem ventures do grupo na próprios, alocados (industrial e
de Marketing
norte-americana China, Hungria, em subsidiárias projetos) e
México, Estados especializadas por para consumo
Unidos e Canadá. aplicação. doméstico.
Importa produtos Lâmpadas de
Diretor de Controle de
A1 Nacional acabados e embalados consumo
Tecnologia qualidade próprio.
da China. doméstico.
Importa produtos Lâmpadas de
Analista de Controle de
A2 Nacional acabados e embalados consumo
Produto qualidade próprio.
da China. doméstico.
Importa produtos Lâmpadas de
Gerente Controle de
A3 Nacional acabados e embalados consumo
Comercial qualidade próprio.
da China doméstico.
Controle de
Importa de China e
qualidade próprio, Lâmpadas de
Gerente de Taiwam. Monta parte
A4 Nacional montagem de consumo
Produto de suas luminárias no
algumas doméstico.
Brasil.
luminárias.
Fonte: Autores
Além das empresas pesquisadas, dois diretores da ABILUX foram entrevistados em duas
ocasiões com o objetivo de se obter uma visão panorâmica do setor (Diretor Administrativo e
Diretor de Relacionamento com o Mercado). Dentre as empresas, F1, F3 e F4 participam da
ABILUX. Também se utilizou dados secundários, relacionados ao setor como acesso a
noticias, encartes e relatórios fornecidos pelas empresas e informações setoriais. Assim,
utilizaram-se diferentes fontes de evidências para respeitar os princípios de integridade na
triangulação de dados (Eisenhardt, 1989; Yin, 1994).
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(F4). De acordo com McKinsey (2012), países da União Europeia, China, Japão e Estados
Unidos também apresentam cronograma de descontinuação de lâmpadas incandescentes e
estão em estágios mais avançados.
De acordo com o entendimento de A3, ao analisar o mercado de lâmpadas LED de uso
doméstico, não há uma marca forte estabelecida na mente dos consumidores. Na opinião de
A3 e A4, a definição de normas e padrões de qualidade pode representar uma futura
oportunidade de negócios. Isso porque parâmetros claros poderiam nortear as ações de
marketing sobre como informar o consumidor sobre os atributos do produto. Para A4 e F4, o
consumidor ainda não sabe como avaliar produtos em LED, há dificuldades no entendimento
especificações técnicas descritas nos rótulos de diversas marcas, que por sua vez não são
padronizados. Por isso se apresenta a necessidade de explicar para o consumidor como se
avaliam características de qualidade e durabilidade em lâmpadas de LED. Conforme citado
anteriormente, o mercado de produtos, e seus consumidores e vendedores, podem se
beneficiar de normas e padrões que definam e comuniquem o que é qualidade no setor e
garantam sua conformidade (Khanna & Palepu, 2011).
Uma vez estabelecidas às normas no mercado de LED (MDIC, 2013a, 2013b), as empresas
importadoras, teriam que, em diferentes graus, adequar as especificações de seus produtos. A4
entende que seus produtos já estão no patamar de excelência recomendado pela
regulamentação proposta. A1 também acredita que os produtos de sua empresa atendem todos
os requisitos técnicos necessários. Já A2 visualiza a necessidade de adequações as novas
demandas, pois percebe que nem todos os produtos atuais estariam em conformidade com os
padrões de qualidade indicados nos regulamentos propostos. A1, A3, A4 e A4 valorizaram a
normatização do mercado, ao indicar que esta pode representar oportunidade comercial para
as empresas. No caso de A2, a normatização é vista como um possível risco futuro, pois seus
produtos não seriam viáveis no mercado interno.
A assimetria de informações presente no mercado consumidor de lâmpadas LED de uso
doméstico não se observa no segmento automotivo. F2 afirma que as demandas do mercado
automotivo atualmente são mais exigentes com relação à tecnologia nos seus produtos do que
as normas de segurança que regulam o setor. A empresa vende no Brasil produtos mais
simples que os vendidos no exterior, pois comercializar itens com intensidade tecnológica no
padrão mundial reduziria a competitividade da empresa. Isso só ocorre, segundo F2, porque
os princípios locais de segurança são menos rígidos que as normas dos países desenvolvidos.
Brunson e Jacobson (2000) ressaltam que estabelecer padrões internacionais pode afetar a
vantagem competitiva da empresa no mercado externo e interno.
b. Aspectos regulatórios e normativos e seu impacto no setor.
Atualmente as lâmpadas de LED, diferente do que ocorre com os outros tipos de lâmpadas,
não possuem selo do INMETRO comprovando suas características técnicas (A2, A3, F1, F4).
Uma lâmpada fluorescente compacta, por exemplo, deve exibir no rótulo informações
relativas à eficiência energética, fluxo luminoso (lumen), potência (watt) e eficiência
luminosa (lumen por watt). A falta de alinhamento entre as informações no rótulo dos
produtos de diferentes marcas causam uma série de impactos para o consumidor final e o
mercado em geral. Como não há alinhamento dos indicadores de desempenho dos produtos
que devem constar nos rótulos, os entrevistados afirmam que produtos de baixa durabilidade
invadem o mercado doméstico, com preços muito convidativos, coerentes com a baixa
qualidade oferecida (F1, F4, A2 e A4). O “vazio institucional” ocasionado pela falta de
normas, ausência do INMETRO e fiscalização na avaliação deste produto, fortalece a atuação
de fabricantes de produtos com baixa qualidade e menor preço ou até mesmo a atuação de
oportunistas que vendem produtos de má qualidade alegando qualidade superior (Khanna &
Palepu, 2011). A2 questiona até mesmo se algumas informações técnicas que hoje constam
nos rótulos são verdadeiras. Ao se estabelecer as regras oficiais tal duvida, de acordo com ele,
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seria eliminada. F2 cita outro fenômeno que ocorre dada a ausência de regras e normatização
que é o surgimento de produtos piratas. Tais produtos não apresentam o desempenho
esperado, mas por não ser fiscalizados são vendidos normalmente. Percebe-se aqui que
estabelecer parâmetros para fabricação dos produtos, ou seja, atuar no pilar normativo do
ambiente institucional do setor (Scott, 2008) é fundamental. No entanto, as mudanças
normativas devem vir acompanhadas de mudanças regulatórias e de instrumentos de
fiscalização do atendimento às novas regras (Gallina & Fleury, 2013; Scott, 2008).
Os fabricantes F1 e F4 confiam que normas do INMETRO entrem em vigor ainda em 2014.
Tal regulamentação deve impulsionar uma série de ajustes técnicos no setor. A2 estima que
70% das fabricas chinesas hoje não estão preparadas tecnicamente para atender a
regulamentação proposta pelo INMETRO, o que vai desafiar os importadores que atuam
nesse mercado. F4 também entende que a maioria dos provedores chineses não estão
capacitados para atender as novas regras. Com estes novos regulamentos, A1, A2, A4, F1 e
F4 imaginam que o mercado vai ser radicalmente alterado. Eles imaginam que as normas irão
eliminar do mercado produtos de baixo desempenho e qualidade inferior. Isso causaria,
segundo estas empresas, também a eliminação de produtos de menor preço. Entretanto A1
indica que aumento no volume de vendas de produtos de qualidade pode ocasionar ganhos de
escala e reduções de preço para o mercado interno. O entrevistado A1 estima que crescimento
de 5 vezes no volume vendido no mercado local permitiria queda de 15% nos preços
praticados ao consumidor. Desta maneira, percebe-se que uma melhora das instituições de
LED podem diminuir os custos de transação dos fabricantes de produtos de melhor qualidade,
uma vez que inibiria a concorrência dos produtos de má qualidade e preço baixo, acarretando
em uma gestão de margens e de preços mais compatível com a realidade (North, 1990).
No mercado de varejo em materiais de construção, a venda de soluções de iluminação por
LED ainda está orientado a preço. Isto porque os consumidores possuem dificuldades na
avaliação de outros atributos do produto, como segurança ou eficiência energética (A1, A3,
F2, F4). O problema ressaltado por F4 é que não é fácil para o consumidor final diferenciar
produtos de diferente qualidade, dada falta de padronização dos rótulos dentre as empresas e
de suas informações. Por isto, na competição por preço baixo vencem produtos de qualidade
duvidosa. F2 entende que as falta de regulamentação permite o livre ingresso de novos
entrantes no mercado, mesmo sem qualidade. Esses, sem possuir capacidade tecnológica
desenvolvida competem por preço com oferta de produtos mais simples e, consequentemente,
forçam a sua empresa a reduzir sua margem de lucro. Os entrevistados concordam que a
formalização de normas pelo INMETRO criaria importante barreira de entrada de produtos de
qualidade insuficiente no mercado brasileiro (A1, A2, A3, A4, F1 e F4). Peng et al. (2008)
entendem que aspectos institucionais também podem constituir barreira de entrada em
mercados emergentes, sendo estes menos comuns que os de natureza mercadológica ou
produtiva. Dado que a regulamentação padronizaria as informações nos rótulos dos produtos
das várias marcas e, assim se garantiria a qualidade dos produtos ofertados no mercado
nacional, os entrevistados entendem que o consumidor final seria o principal beneficiário da
adoção de normas e padrões (A1, A2, A3, A4, F1, F3, F4).
Finalmente, os entrevistados opinaram sobre a abrangência das normas propostas para o setor.
Os importadores (A1, A2, A3 e A4) não demonstram amplo conhecimento do conteúdo das
portarias do INMETRO RTP-477/2013 e RTP-478/2013. Já F1, F3 e F4 afirmam que
participaram das discussões sobre essas portarias na ABILUX. Para F2, as regras propostas
atualmente não são suficientes, por não abranger todos os tipos de aplicações de iluminação
em LED, principalmente no mercado automotivo. Já F3 e F4 entendem que as normas
propostas pelo INMETRO são adequadas. F4 defende ainda a necessidade de se estabelecer
critérios de verificação dos parâmetros informados nos produtos, pois dessa forma os
produtos teriam suas especificações fiscalizadas por órgão independente. Segundo o
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segurança para o cliente. Isto porque se a empresa possui fábrica estabelecida no país, essa dá
maior segurança ao cliente sobre o cumprimento de garantias de manutenção dos produtos,
comuns às lâmpadas LED por sua alta durabilidade. O produto importado apresentaria maior
risco nesse sentido. A fabricação local é importante meio de expansão internacional
superando o modelo exportador na busca por mercados (Ernst & Kim, 2002). Portanto, a
proximidade com o consumidor e a segurança dada ao cliente pela reputação da empresa,
relacionados à imagem de marca e garantias nos produtos justificariam o investimento em
planta produtiva no Brasil (F1, F2, F3 e F4), assim que o mercado estivesse regulamentado
(F2, F4).
Conclusão:
comercializar itens de melhor qualidade (Khanna & Palepu, 2011). Com as regras
estabelecidas, as condições competitivas seriam igualadas (Khanna & Palepu, 2011; North,
1990), permitindo a diferenciação dos produtos, o que eliminaria a assimetria de informações
existentes hoje nesse mercado, beneficiando principalmente os consumidores.
Ainda, a pesquisa revela que alguns dos fabricantes aguardam a definição de normas e
especificações para realizar investimentos produtivos no Brasil. Os fabricantes desejam a
segurança de que será possível diferenciar seus produtos e de que eles permanecerão
competitivos, em ambiente onde se inibem atitudes oportunistas resultantes de “vazios”
normativos e regulatórios. Logo, aspectos da infraestrutura hard como os estímulos do
BNDES à produção local serão efetivos na medida em que “vazios” da infraestrutura soft
forem resolvidos (Khanna & Palepu, 2011).
Devemos considerar esses resultados com algumas ressalvas. A primeira limitação é sobre o
viés dos pesquisadores e seus pré-conceitos que podem impactar os resultados, que foi
reduzido por meio de intensa pesquisa documental e revisão da literatura. A pesquisa foi
conduzida no setor de iluminação por LED. Como o setor e o sistema técnico de produção
importam como variáveis determinantes da capacidade competitiva das empresas (Kupfer &
Rocha, 2005), generalizações para outros setores e mercados devem ser feitas com cautela.
Como oportunidade de novos estudos, seria interessante abordar as opções estratégicas das
empresas que operam no mercado de iluminação por LED, dada a instabilidade do ambiente
institucional e normativo aqui já discutida. De acordo com Peng et al. (2009), estudos sobre
ambiente institucional não tem focado em compreender como o processo estratégico da
empresa é impactado pelos limites estabelecidos pelo ambiente competitivo, o que abre uma
interessante oportunidade de pesquisas futuras. Outro tema de interesse seria acompanhar o
mercado de LED após a regulamentação e verificar os seus efeitos. Dada a natureza
evolucionária das instituições e seus efeitos na estratégia empresarial (Peng et al., 2009), tal
pesquisa pode revelar aspectos interessantes sobre as respostas estratégicas das organizações
em ambiente de mudanças. Além disso, pode-se pesquisar se há e de que modo ocorre a
influência política das empresas sobre normas e regras e instituições nesse mercado.
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